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3 DE NOVEMBRO DE 20C 1111
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Editorial 2
Agenda 43
VJornada Brasileira de Carteis EBP - ECF
Rumoao Congresso
III Congresso - XII Encontro
XII Encontro Internacional do Camoo Freudiano
Via Internet 53
ENCARTE INFORMATIVO
Heloisa Caldas
Declaração do Comitê de Acão
10 de. setembro de 2001
CARLOS AUCUSTO N I C É A S
' Transcri~ão
da segiinda sessm do xmin0rio do Conselliu da EBP-Rio ciwrdcnado.
;I con\,itc do Comclho, par Cnilos Aiizusto NicCns (EBP-SP). rm srrenibro de 2001.
e discutiremos a experiência qiie 6 a de alguiis desta Seção da
EBP-Rio de ensinar a Psicanálise na Universidade. Discussão que
qiieremos orientar para que pensemos os efeitos desse ensino so-
bre a formação de nossos jovens analistas qiie lá a prociiraiii, e
sobre sua traiisferência a Escola.
Eu dei à minha intervenção de hoje neste seminário, iim tí-
t~ilo:"Um ensino ímpar". E vou abri-la sublinliando em Lacan
algumas de suas posições sobre a relação de seu ensino com a
formação do analista.
Uma primeira e fundametital referêiicia: "Funç-ao e campo
da palavra e da liiiguageni ein psicanálise", relatório de Lacan
para ser disciitido n o Congresso de Ronia em setembro de 1953
(Escritos, Seuil, Paris 1966), eiii cujas linhas iniciais d o prefácio
ele nos diz: "O discurso qiie se encontrará aqui merece ser ititro-
duzido por suas circunstâncias. Porque, delas, ele traz a iiiarca".
As circunstâncias, n6s já nos referimos a elas na sessão de
abertura d o seminário, quando retonianios o momento da crise
eclodida por ocasião da criaçáo d o Instituto de Psicanálise da
SPP com a fuiidação, cni seguida, da SFP. A tarefa à qual se
propóe Lacati nesse discurso de Ronia é a de renovar na Psicaná-
lise os fiindanientos que ela retira da lingiiagem. O que ele faz
rompendo coiii o estilo tradicional que classicamente situa um
relatório "entre a conipilação e a síntese, para lhe dar o estilo ir6-
nico de iim questionamento dos fundamentos desta discipliiia".
Uma denúncia importante sobrc a maneira de se ensinar a
psicanálise em 1953, é introduzida imediataniente por Lacan,
assinalando que as formas iniciáticas e organizadas por Freud ao
criar a IPA, para qiie seiis analistas formados por elas pudesseni
defender a causa da Psicanálise contra a sua prática selvagem,
reduziram-se eiii seus Institutos a um puro formalisnio: "As regras
técnicas, diz Lacan, assiniilarani-se a receitas, fechando à expe-
riência todo o alcaiice de conhecimento e mesmo todo critério
de realidade". Daí. anuncia Lacan, a iirgêricia da "tarefa de res-
gatar nas noç6es que se amortizaram num liso rotiiieiro, O seiitido
qtie elas reencontraiii tanto num retorno à sua história quanto
numa reflexão sobre seus fundamentos sul~jetivos".O que o faz
concluir que operaiido esse retorno e desenvol\~endoessa reflcxão,
ter-se-ia definida a fiinção daquele que ensina, fiinção "da qual
todas as outras dependem".
Laca11 se decide entáo, em 1953. por começar o ensino que
duraiite dez anos o manteve senianalmeiite diante de seu audi-
tório, a promover uni retorno a o sentido de Frei~d.
Foi então o inconsciente freiidiano, enquanto referido a uma
prática, que serviu de indicador a Lacaii para inaugurar o seu
ensino. A hipótese de ser esse inconsciente freiidiano estruturado
como uma linguageni, ele se dedicou a partir de entáo a demons-
trar, formulando em seu nome próprio um ensino.
Com Freud, para quem a Psicanálise. no início, antes da criação
da IPA, se aprendia na experiência niesma da análise d o analista, a
formação conjtigava, tão somente, convencer-se da existência do
inconsciente e beneficiar-se nas análises, em conversas ou em trocas
de cartas, dos ensinamentos do mestre fundador. Uma forma de en-
sino que transmitia, em permanência. na origem da expansão do
círculo de analistas, primeiros alunos de Freud, os conceitos funda-
nientais da doutrina que iam sendo produzidos por ele numa
interdependência necessária à maniitenção da experiência.
Ein 1953, na abertura d o livro I do seu seiiiinário, liç-ao inau-
gural de 18 de novembro, Lacaii evoca tini mestre biidista aplica-
do a imprimir ao seii ensiiio a técnica zen de interromper o silên-
cio "com qualquer coisa, um sarcasmo, uni pontapé". Aos alunos
desse mestre cabia procurar as respostas para siias próprias qiies-
tóes, já que esse mestre "não ensina 'ex-cathedra' uma ciência
acabada", somente trazendo a resposta "qiiando os alunos esta0
no ponto de encontrá-ia".
Essa maneira de ensinar interessa a Lacari precisá-la: "Este
ensino é uma reciisa de todo sisteina. Ele descobre um pensa-
mento em movimeiito - preparado, n o entanto, para o sistema,
porque ele apresenta necessariamente uma face dogmática". O que
lhe permite, desde então, retornar a Freud: "O pensamento de
Freud é o mais perpetuamente aberto à revisáo. É iim erro redu-
zi-lo a palavras gastas. Cada noção, nele, possui sua vida própria.
É o que se chama precisamente a dialética".
Depois, ainda em 1953, e já se introduzindo nos comentários
sobre os escritos técnicos de Freud, Lacan se endereça aos repre-
sentantes d o seu grupo de psicanálise nestes termos: "Se vocês
náo vêni aqui para pôr em caiisa toda a atividade de vocês, eu
não vejo porque vocês estão aqui. Aqueles que não perceberiam
o sentido desta tarefa, por que permaneceriam ligados a nós em
vez de irem se juntar a uma forma qualquer de burocracia?".
Relação estreita e já estabelecida, portanto, entre seu ensino
e a formação do analista que o recebe. É que a Lacan interessa-
va, na abertura mesma do seu ensino, denunciar, antes de tiido,
o primeiro efeito da b u r ~ c r a t i z a ~ ãdao formação do analista. efei-
to de reduçáo das regras técnicas da Psicanálise à condição de
"standards", deixadas de serem tratadas conio as tratou Freud, à
maneira de um instrumento que se tem bem posto na máo, como
ele nos leiiibrava.
Lacan, que em 1946 já se tornara membro da coniissáo de
ensino da SPP, desde 1951 começara a dar um seminário de lei-
tura de textos freiidianos em sua casa. Durante período conipre-
eiidido enrre o primeiro deles consagrado a Dora e o seminário
sobre o Homem dos Lobos, ainda eiii curso no momento da crise
da criaçfio do Instituto, vários analistas em formação constit~iíam
o seu público ouvinte. Foi sobretudo para esses alunos qiie ar6
então recebiam sol) essa forma o seu ensino, que ele endereçou o
seu discurso de Roma.
Em 1953, ano da primeira cisáo na coiiiiinidade psicanalítica
francesa, uni projeto de emenda aos estatutos propostos por Nacht
para o Iiistituto de Psicanálise, foi encaminhado por Lacan, en-
táo seu diretor provisório, à Assenibléia da SPP em janeiro de 53
para discussão. Projeto de emenda siistentado por uma "intençáo
evidente de coiiciliação", conio observoii JAM.
Esse projeto merece ser lembrado ein suas linhas principais,
Lima vez que as idéias nele já sustentadas por Lacan, interessam
a toda discussão eiii torno da natureza e da incidência do erisitio
da Psicanálise sobre a formação do analista. Ele é eiicimado por
um título: "Exposição de motivos - Psicanálise e ensino". E Freiid
é citado em exerglic: "Se a gente tivesse - idéia que hoje parece
fantástica - de fundar uma faculdade analítica, a geiite ensina-
ria nela, claro. matérias que a Escola de medicina ensina tain-
bém: ao lado da 'psicologia das profuiidezas"', a do iiiconscieiite,
que permaneceria sempre a peça de resistência, precisaria lá apren-
der, de uma maneira a mais ampla possível, a ciência da vida
sexual, e Lá familiarizar os alunos com os quadros clínicos da psi-
quiatria. Por outro lado, o ensino analítico abarcaria também ra-
mos muito estrangeiros ao médico e dos qiiais ele não entrevê
sequer a sombra no curso do exercício de sua a história
da civilização, a mitologia, a psicologia das religiões, a história e
a crítica literárias...".
O projeto reconhece a necessidade, na época, de dar ao en-
sino da psicanálise, um órgão onde exercê-lo, uma vez que exis-
tente desde antes da guerra, e fechada desde a sua declaração,
cabia à SPP garantir até então, institucionalmente, o ensino da
Psicanálise na França, respondendo às exigências de formar ana-
listas. E entre as novas exigências que se apresentavam aos res-
ponsáveis pclo ensino da Psicanálise na França, depois da guerra
"a passagem das psicoterapias para a escala dos fenômenos sociais"
impunha já distinguir, segundo Lacan, os princípios da disciplina
desfigurada por sua difusão e as regras que orientavam sua práti-
ca usurpada.
Mas a leitura desse projeto-emenda de Lacan também nos
revela a sua preocupação com a política psicanalítica de direção
d o Instituto. Ele teme, com efeito, um perigo de desfiguração
daquela nova e necessária "organização materialmente diferen-
ciada" a ser criada pela Sociedade dos analistas. Ele insiste para
que haja preservação da autonomia de uma coniissão de ensino
articulada com a direção do Instit~ito.Soniente assim ele achava
possível garantir uma transmissão da experiência, d o analista for-
mador para o analista em formação, transniissão que, para Lacan,
"faz a virtude do gradus psicanalítico". Garanti-la, portanto, sob
a vigilância de uma comissão de ensino aut6noma e livre da inci-
dência de toda política pessoal na direção d o Instituto, era tão
importante para Lacan quanto o era a 1130-formaiização, nele,
dos estudos. Com efeito, estes deveriam ser, no dizer de Lacan,
"tão liberaln~enteconcebidos quanto aqueles que conduzem a
uma ciência q u e merece, e n t r e todas, ser qualificada d e
humanista". O ensino teórico da Psicanálise não poderia, assim,
e sobretudo, para Lacan, "limitar-se a um ciclo de conhecimento
que a gente fecha uma vez por todas". Enfim, para Lacaii e m
1953, a formaçáo do analista deveria participar principalmente
das pesquisas que fundam as categorias de unia experiência ana-
lítica e que ele resLiriie em número de quatro.
A primeira delas, certamente ele a refere à sua própria expe-
riência ensinando a Psicanálise: o comentário dos textos origi-
nais de Freud, "a mais segura via e a mais racional" para se al-
cançar e manejar os conceitos fiindamentais da experiência.
Lacan, desde eiitáo, fazia, n o entanto, valer a exigência de qiie
as noçóes freudianas tivessem sempre o seu valor ressituado n o
contexto em que elas surgiram. isto é, enquanto geradas niiin
momento dado, q ~ i a n d ose fizeram "indispensáveis a Freud por-
que elas traziam uma resposta a uma questão que ele tinha for-
mulado antes noutros termos", como ele diz na abertura do seu
primeiro seminário.
A segunda categoria qiie funda a experiência do analista em
formação, Lacan a vi. n o aprendizado supervisionado da técnica
"onde o estiidante pode reconhecer a funçáo criadora da praxis e
o valor da análise coiiio ciência d o particular, pondo à prova, ria
duração de lima experiência, a relaçáo das regras com seus efeitos
no caso" .
A terceira categoria é a crítica que, subordinada aos dados
analíticos, questiona "tanto as normas da psicopatologia clássica,
quanto o valor efetivo da própria iiiterveiiçáo técnica".
Finalmciite, uma quarta categoria nos fundaineiitos da for-
iiiaçáo analítica: a extensáo do seu campo. A psicanálise com
crianças, de Lima clínica dita ainda, eni 1953, a ser definida,
seguramente se apresentava na época como "a fronteira onde se
oferece à Psicanálise o qiie de mais desconhecido existe a se
conqiiistar".
Por outro lado, a não-formalizaçáo dos estiidos n o Instit~ito
que ocupa e preocupa Lacan e m 1953, ele a concebe conio uma
vantagem essencial: é favorável ao analista em foriiiação o fato
dele "1130 participar das exigências formais de assiduidade e de
exames que, por se exercerem talvez iim pouco em demasia nos
nossos dias nos estiidos superiores, mostram suficieiitemeiite que
elas degradam o cstilu seni elevar o nível".
E quanto ao programa freudiano geral para a formaçáo do
analista, composto de matérias várias e imprecisamente relacio-
nadas, o intento de Lacan não foi o de alinhar apenas a teoria
psicanalítica entre os saberes já reconhecidos mas, desde o início
d e seu ensino, ao contrário, o de reunir e questionar esses sabe-
res visando torná-los afins à psicanálise. Como ele o fazia? Pela
via indicada por ele mesmo como sendo "a única formação que
nós possamos pretender transmitir": um estilo.
Anos depois, nós sabemos, a solidariedade entre a enunciação
de Lacan e a resposta dada ao seu ensino pelos ouvintes do seu
seminário, firmou-se ainda mais coni a produçáo dos niatemas e
com s formalizaçáo dos quatro discursos. Antes porém, ainda em
1964, uma vez já tendo acontecido a segunda cisão na comuni-
dade psicanalítica francesa, também editada e documentada por
IAM num volume iiititulado "A excomunháo", Lacan. no Semi-
nário livro I I do seu seminário Os quatro conceitos fundamentais da
Psicariálise, já tinha reafirmado que seu ensino permanecia, como
antes, tendo a mesma Finalidade: formar analistas. O u seja, per-
severar à frente do seu seminário. ensinar a psicanálise como ele
o fez e do modo como fez, era continuar a oferecer aos seus alu-
nos um ensino produtor em permanência de efeitos de formaçáo.
E porque o seu ensino, em 1964, como em 1953, continuava avan-
çando sem ser movido por um ideal de forinação acabada, o ana-
lista que dele se beneficiava só podia ser dito em formaçáo per-
manente.
Mas a concepçáo de Lacan do modo de ensinar a Psicanálise
náo deixa, n o entanto, a formaçáo do analista sem uma articula-
çáo institiicional precisa. Assim, se ele disse que cada um tia
Escola pode ensinar a seu próprio risco, ele também afirmou que
a siia Escola dispensa unia formaçáo. Por isso, ao fundá-la em
1964 para garantir essa formaçáo, nós o vemos naquele momento
usar de um argumento de autoridade para proclamar que a for-
mação do analista depende do seu ensino.
De fato, no Seminário livro 1 1 , depois de se autorizar a conti-
nuar falando dos fundamentos da psicanálise, pelo fato de du-
rante 10 anos ter cumprido "o que se chaniava um seminário que
se dirigia a psicanalistas", ele estabelece nestes termos a relação
d o seii ensino com a formação d o analista: "Quanto aos funda-
mentos da psicanálise, meu seminário, desde seu início, estava,
se eu puder dizer, implicado neles. Ele era um elemento deles
uma vez que ele contribuía a fi~ndá-Ia"in concreto", já que ele
fazia parte da própria praxis, pois ele estava ein seu interior, pois
ele era dirigido para aquilo que é um elemento dessa praxis, a
saber, a formação de psicanalistas".
Assim, depois da excomunháo, depois da censura que se aba-
teu sobre o seu ensino, proscrito como nulo para a habilitação de
um analista, e exigido ser para sempre banido de sua formaçáo, e
em oposição aos que quiseram manter separados ensino e forma-
ção, Lacaii se pôs lima vez mais, em 1964, na mesma posição de
servir ao discurso analítico para que este vencesse - como ele
dirá nos tempos da Dissolução - na mesma posição de nos rein-
traduzir à mesma questão: "o que é a psicanálise?".
O que se seguiu, a gente sabe, até o final de sua vida ele
ensinou a Psicanálise jamais desfazendo o nó que mantinha soli-
dários ensino e formação d o analista. I'or isso, em outiibro de
1976, quando ele aceitou apresentar a edição de IAM da cisáo
de 1953, ele pôde escrever cinco frases apenas, curtas, das quais
a primeira é esta: "Eu ganhei, sem dúvida. Pois eu fiz escutar o
que eu pensava do inconsciente, princípio da prática".
A questáo quanto ao ensino da Psicanálise na Escola, quan-
d o nos dispomos. reunidos nestes seniinários, a interrogar outra
vez a formação do analista, me aparece assim: seria verdadeiro
afirmar, hoje, que na Escola a forniaçáo do analista guarda ainda
essa dependência essencial d o ensino de Lacan, ensino cuja fi-
nalidade, no mesmo Seminiirio livro I I , ele qualificou conio sendo
transferencial!
Acredito que podemos dizer que sim, que essa mesma solida-
riedade entre ensino e formação d o analista 116s a reeiicontraiiios
mantida na Escola sob a orieiitaçáo lacaniana d o ensino de
Jacqiies-Alaiii Miller. E é de nossa relação com esse ensino que
eu gostaria agora de falar, falar nesta noite da importância de
sua orientação sobre a nossa formaçáo permanente.
Para falar disso eu coiiieço com Lacan, depois da Dissoluçáo,
numa "Segunda carta do Foro", datada de 1 I de maio de 1981,
falando de sua nova Escola ao convocar seus alunos - "aqiieles
qiie ainda me amam" - para, nela, constituírem "o núcleo a par-
tir d o qual é possível que o meu ensino subsista".
Em "Enciclopédia" (Ornicar? 24, 1981), IAM retorna a esse
ensino de para nos lembrar como ele, náo querendo inventar outra
vez a Psicanálise, apenas colocou o começo do seu ensino sob o
signo de um retorno a Freud pois era preciso responder a lima
questão: em que condições a psicanálise é possível! Miller, n o
mesmo "Enciclopédia". nos lembra ainda que Lacan para nos
ensinar isso, obrigoii-se a dar conta de sua prática publicamente
e a cada semana.
A o reler em "Enciclopédia" essas notações de Miller, voltou-
me à lembrança um nioniento do Seminário 11, no qual Lacan,
por sua vez, nos lembra como os pós-freudianos passaram a dirigir
seus tratamentos eiii nome de suas particulares teorias: Abraham,
Ferenczi, Numberg, cada um desvelando por elas o que desejam
que seus pacientes façam deles, mestres, portanto, de teorias in-
conciliáveis mas consagradas como saberes partilhados por uma
mesma comunidade de analistas. Comunidade assini transforma-
da numa Babel, no dizer de Lacan.
Em Julho de 1998 em Barcelona, na quarta parte do seu relató-
rio à Assembléia Geral da AMP, sob a acusação de não querer
separar direção e orientação, IAM retomou os modos de articula-
ção d o UM e d o múltiplo ria IPA e no Campo freudiano. Particu-
larmente, ele concebeu que para a IPA o "standard" é o seu "ci-
mento iinitário", enquanto que no Campo freiidiano o Um se
exprime "no que chamamos, sem ter estabelecido seu conceito,
a orientação". Enfatiza Miller: "A orientação e não o Standard".
É importante ter essa diferença muito claramente estabelecida
entre n6s.
"A Orientaçáo e não o Srandard". Querendo então nos fazer
compreender "porque fomos levados à noção e a prática da ori-
entação", Miller nos reenvia aonde, "para dar-lhe unia definição
apropriada"? A o mo\~inieiitolacaniano em sua origem mesma, isto
é, ao "gesto inaugural de Lacan" ensinando-nos, desde o início,
a restaurar o campo da palavra e a função da linguagem na des-
coberta freudiana.
Eu isolei alguns trechos desta mesma quarta parte d o relató-
rio de Miller. E vou lê-los agora na articulação que eu Ihcs dei.
"Quando se fala de "retorno a Freud", diz Miller, ainda não
se disse nada: foi uni slogan, um significante mestre, ao qual o
sentido só vem do significante do contexto ao qual se articula.
O "retoriio a Freud", ostentando uma significação regressiva, con-
servadora, ortodoxa, era só de fgchada, para proteger a investida
inovadora de Lacaii da acusação de desvio mortal, num campo
onde a referência ao fundador constitui uni shibolet obrigatório
(...). Na realidade, tratava-se bein outra coisa: Lacan voltou a
Freud como à língua comum d:i psicanálise (...). Resumindo, o
significante d o "retorno a Freud" toma seu sentido do significante
"Babel" com o qual Lacan designava o estado da coniuiiicação
n o movimento psicanalítico. (...) "Retorno a Freud" quer dizer:
re-elaboração a partir de Freud de uma Iíngiia comum na psica-
nálise. (...) Desde sempre, desde a origem, a orientação lacaiiiana
é a anti-Babel, é a possibilidade da comunicação dos psicanalis-
tas entre eles e com o público. com a "esfera pública", é a busca
da grande Conversação Analítica (...). A Conversação analítica
começou com Freud. Prosseguiu com Lacaii, e por nossa vez, nós
a continuamos com o Campo freudiano. Começamos a falar jun-
tos em 1980 (...). Assim fazendo. damos seqüência à Grande
Conversação freudiaiia, inscrevendo-nos na aiiti-Babe1 de Lacan".
Essa declaração de Miller reinscrevendo-se, em 1998, depois
de Freud e de Lacan, na tarefa de restabelecer a Conversação
que se opóe à "multiplicação das línguas especiais", eu gostaria
de colocá-la não em paralelo, nias em prolongamento do ensino
de Lacan, porque a orientação, como o próprio Miller nos lem-
bra, "é dita lacaniaiia por ter sido Jacques Lacan o primeiro a
debater com Freud, e por nos ter deixado a única língua comum
existente na Psicanálise". A orientação sustentada, depois de
Lacan, por Miller, seinanalmeiite, em seu seiiiiiiário das quartas-
feiras, é sua resposta permanente à aposta de Lacan de que o seu
ensino subsistiria cni sua nova Escola.
O seu ensino, Miller o desenvolveu, prinieirameiite, sob a
forma de cursos consagrados à coerência sistemática do ensino
de Lacan, durante sete anos, de 1972 a 1979. Depois de uma
interriipçáo de dois anos ele voltou para retomar, sob sua respon-
sabilidade. a orientação lacaniana da Escola; tomando como ponto
de partida uma urgência: a promoção de um outro Lacan (curso
inédito de 1982, "Sintoma, fantasma e retorno") : "Eu parei a
série na junta desta década (...). Aconteceu também que nessa
junta eu me engajei na prática da psicanálise. E sobretudo que
Lacan está morto. Então, isso me levou, no ano passado, a iniciar
uma segunda série do ensino de Lacan".
"Eu me engajei na prática da psicanálise". Unia autorização
que o faz suportar a orientação. agora, não somente para ensinar
a psicanálise como um mestre entre outros mestres, mas para pros-
segui-la sabendo, como analista ensiiiante, quem opera na expe-
riência. Assim, nos anos oitenta, Miller se autoriza a tomar para
si o encargo de re-elaborar permaneiiteniente, depois de Lacan,
a língua comum da Psicanálise. Não seria exagerado supor que, a
partir desse momento, tendo se engajado na prática da psicanáli-
se, o seu ensino tenha se tornado em consequência, para ele,
assim como o foi para Lacaii, a cada semana e publicamente, um
mesmo prestar conta diante do seu auditório de sua prática como
analista.
A orientação, Miller o diz, só lhe interessava se ele não tives-
se de desenvolver o ensino de Lacan como lima dogmática: "Ali-
ás, eu creio que isso não é possível. Isso só pode ser desenvolvido
conio uma orientação, quer dizer, conio um caminho, ou um tra-
çado, pode-se mesmo dizer como um progresso se a gente enten-
de precisamente por aí que isso não permanece imóvel. E assim
que eu me esforço para assumir, adotar o que Lacan pode formu-
lar em siias variaçóes. Porque eu tenho o ponto de vista da orien-
tação, eu posso tratar os ditos de Lacan que, considerados d o
ponto de vista dogmático, seriam puramente e simplesmente con-
traditórios. Esses ditos só encontram sua funçio do ponto de vista
da orientação" (curso inédito "1, 2, 3, 4, ...", lição de 14/11/84).
Vamos nos aproximando d o final desta sessão do seminário
para que possamos ter ainda, algum tempo para conversar.
Ensinar a Psicanálise impôs-se a Lacati porque era preciso abordá-
Ia a partir do seu próprio campo. E esse campo, campo freudiaiio,
encontrou com ele sua definição. A orientação lacaniana, ação
específica de JAM na Escola, é aquela, portanto, que, recusando
todo "magister dixit", recria e reelabora, em permanência, o pró-
prio campo da Psicanálise.
As relaçóes dos analistas na Escola com esse ensino ínipar de
IAM mereceram recentemeiite um testemunho e uni comentário
interessantes de Juan Carlos Indart. membro da EOL. Em Opção
lacaniana, n. 26, de dezembro d e 2000 ele lios fala de um fato
novo acontecido numa experikncia partilhada de estiidos de tex-
tos. Para niuitos, a leitura de Miller reduzira-se, Iiá um certo
tempo já, segundo Indart, a procurar rapidamente em seu texto,
respostas às interrogaçóes qiie eles se punham, quando liam Lacan
ou Freud. Conientar e discutir um curso de IAM duraiite todo
iim ano trouxe novidades à experifiicia de cada um: começar a
interrogá-lo "revelou-se para nós que o pensamento de Jacques-
Alain Miller não é fácil. Não se trata dessa famosa facilidade
para resolver iim ponto complexo em Lacaii. mas sim de que a
própria textura lógica de seus cursos provocou entre nós unia
disparidade grande de pontos de vista, tinia diversidade de leitu-
ras e. inclusive, rerornos a uni modo de ler que acreditávamos
estar superado e que veio à luz intacto" .
N o q u a r t o curso da segiiiida série d e s u a O r i e n t a ç á o
lacaniana, "1, 2, 3, 4, ...", IAM nos lembra que n o dicionário
francês, desde 1834, a palavra orieiiraçáo equivale à arte de re-
conhecer o lugar onde estanios. Mas ele nos faz saber mais algu-
ma coisa sobre o qiie é uma orientação. Ela é lima direçáo, é o
fato de dar um iiiovimento, é o faro de sustentar essa diregáo.
Orientação lacaniaiia foi, por isso, o nonie qiie ele mesmo deu às
suas duas séries de ensino, a primeira, interrompida depois de
sete anos, a seg~inda,a que continua até hoje. A direçáo, é a
direção que Lacan imprimiu à Psicanálise, à prática psicanalí1:ica
e ao mo\~imentopsicanalítico.
Miller representa a orientação por uin vetor, por um segmen-
to munido de unia orientação, para afirmar a orientação como
fator de diferenciaçáo: "Há mais numa figura geométrica orieii-
tada d o que niinia figura que náo o é". E ele desenha, numa de
suas liçóes, para ilustrar essa diferenciação, um círculo rijo ori-
entado e dois outros círculos orieiitados eiii direçóes contrárias.
Eu penso isto: nós náo somos iim círculo náo-orientado, e
nem somos somente aqueles que, embora orientados, só reconhe-
cem o lugar onde estão, ainda que este lugar se chame Escola.
Nós nos representanios enquanto diferenciados por uma orienta-
çáo. Nós tenios. na Escola, o nosso fator de diferenciaçáo. E essa
diferenciaçáo, eu acredito, pode ser testemunhada e reconhecida.
Por hoje, e à guisa de concliisão, eu Ihes deixaria com este
pensamento que me veio agora: pensei naqueles que puderam
fazer a sua análise na Escola e que puderam ter supervisionada,
nela, a sua prática clíiiica. Muitos deles escolheram e puderam
partir, deixar a Escola, decidiram fazer outros agrupamentos.
Certamente, formados como eles o foram, os grupos para os quais
eles se foram, serão eiiriquccidos com o trabalho deles, com a
traiismissáo que, lá, eles fizereiii. O qiie eles 1150 poderáo certa-
mente transportar é esse ensino do qual Lacati fez depender a
própria formaçáo d o analista, e que sob a orientaçáo de J A M
subsistiu na Escola. Q u e tenhamos na Escola esse ensino que
continua, portanto, e em permanência, a fundar "in concreto" a
Psicanálise para a qual ela nos forma, é o que, sem dúvida, nos
mantém, junto aos outros, diferentes na coniunidade iiiternacio-
na1 dos analistas. Náo só com relaçáo à IPA, já dissemos, mas
com relação, também, àqiieles que, mesmo se reclamando do
ensino de Lacan em sua formação, siibtraem-se, hoje, à marca da
direçáo milleriana para os tempos e o destino atuais da Psicanálise.
Vamos conversar?
PSICANÁLISEE MEDICINA
Psicossomática:
uma questão para a psicanálise
Alexander
A investigaç~opsicossomática de Alexander distingue os sinto-
mas de conversão histérica das respostas vegetativas às enioçhes.
O sintoina histérico seria unia expressáo simbólica (deslocada)
de uni coiiteúdo ernocioiial definido, mecanismo restrito ao sis-
tema neuroniuscular voluntário ou ao sistema perceptivo. O sin-
toma neurovegetativo não é uma expressão substitutiva da enio-
çáo, mas, sim, o seu concornitante fisiológico normal. A natureza
patológica da condiçáo ocorre quando, diante de conflitos não
resolvidos, as respostas vcgetativas tornam-se crônicas.
Inspirando-se nos trabalhos fisiológicos de Cannon, Alexaiider
adinite certa especificidade 110s Feiiônieiios psicossoniáticos. Náo
haveria relação simbólica entre coiiflito e lesão, mas a cada esta-
d o emocional corresponderia unia resposta fisiológica caracterís-
tica, que em si mesma iiáo seria patológica, mas integrante d o
estado emocional. Tomando conio base, por exemplo, a conduta
agressiva, Alexander supóe três fases: 1) A fase conceitual, com
a preparação d o ataque na fantasia, siia organização e visuaiização
mental; 2) A preparaçáo vegetativa do corpo com mudanças do
metabolismo e da circulação; 3) A fase neuromuscular, com a
consumação d o ato agressivo. O imp~ilsohostil, contudo, devido
a conflitos pode ser detido ou inibido. Se o processo detém-se na
primeira fase, sobrevem a enxaqueca; na segunda fase, a hiper-
tensáo arterial, e na terceira fase, a artrite reumatóide?
A complac@nciasomática
Uma terceira posiçáo inclui pós-freudianos que rechaçam toda e
qualquer especificidade do fenômeno psicossomático. O u seja: não
haveria nenhuma relação entre a natureza do conflito e a natureza
da lesão. Esta concepção aceita só iim componente do conceito
freudiano de conversão lustérica, a saber, a m n p k & ~ i snmátiui.
a A na-
tureza do distúrbio vegetativo depende inteiramente de fatores cons-
titiicionais ou de uma vulnerabilidade previainente adquirida
pelo órgão afetado. Cada enfermo tem iim ou mais órgãos de choque
nos quais a Icsão se manifesta seiii neiiliuma especificidade.
Lacan
Passarei agora às contribuições da psicanálise de orientação
lacaniana à psicossomática, qiie serão apresentadas sob a forma
de sinopse ou introdução, visando despertar o iiiteresse dos que
têm condição de investigar o tema.
Sintoma FPS
Fala .................:.....................................Escrita
Dialktica ........................................... Inbrcia
Substituição..........................................Identificação
Inconsciente ....................................... Corpo
Cadeia significante ........ . ...................S I Holúfrase
Para decifrar ...................................... a não ser lido
Signo............................ . ............... Assinatura9
Exemplos clínicos
Caso 1
Joana foi-me encaminhada por seu médico, com o qual se trata
de um câncer de mama. Desde o início, ciii sua análise, fala com
motivação de suas questões amorosas e, coin menor assiduidade,
de suas questões profissionais. Suas consultas com seus médicos,
bem como siias sessões de qiiimioterapia, são trazidas como notí-
cias; em nenhum momento se detém nesses temas. que não cons-
tituem, para ela, questáo analítica.
Caso 2
Celina estava há cerca de dois anos em análise, quando me trouxe o
relato qiie se segue. "Hoje, vou falar de assunto sobre o qual nunca
falei: as minhas crises de herpes (e aponta para um herpes labial). É
iim problema por demais incômodo, milito doloroso e muito feio. Lá
em casa, eu tenho herpes, minha imiã teni heqxs e minha mãe tem
herpes. É uma marca registrada das tiiulhercs da família".
Caso 3
Recentemente. um colega gastroenterologista encaminhou-me
urna jovem senhora que, há vários dias, vinha apresentando sin-
toma intenso e rebelde: náusea. Tudo fez para averiguar as possí-
veis causas: anamnese e exaiiie físico, endoscopia, ultra-sonografia,
exames laboratoriais, etc. Entretanto, nada foi identificado e o caso
se agravava. Pensou em hospitalização para alimentação e hidra-
tação parenteral; antes, porém, resolveu insistir para que a pacien-
te consultasse uni psicanalista, e indicou o meu noiiie. Da parte
dela, muita resistência; acreditava firmemente tratar-se de proble-
ma orgânico e, além do niais, não gostava de psicanalistas. Resol-
veu aceitar, relutante, por estar com pouca escolha.
Daniela entrou abatida em miiilia sala, sentou-se e disse: "Eu
estou com náusea". Perguiitou-iiie, em seguida, se eu poderia
fazer alguma coisa por ela. Respoiidi-lhe que poderia tentar es-
clarecer o que se passava, desde que contasse com sua colabora-
ção. Ela concordou, e tivenios cerca de dez entrevistas em duas
semanas de tratamento. Seu relato espontâneo organizou-se em
torno de três temas sucessivos, que assim nomearei: o pai, a expe-
riência americana e o cruzeiro no Caribe.
Sol~reo pai: A figura paterna estava niarcada por dois mo-
mentos radicalmente distintos. Num primeiro momento, um ho-
mem rico e poderoso, qiie lhe proporcionoii uma infância suntu-
osa; lembra-se beni dos passeios de iate, iim iate tão grande que
se destacava dos outros. mais parecia uni iia\.io. Aventuras mar
adentro, sensação de que vi\reu tinia época de sonhos. Num se-
gundo momento, a falência d o pai, as dificuldades financeiras de
toda sorte. E o que foi pior: seu pai faliu taiiil~émcomo sujeito. A
partir daí, nunca iiiais se reergueii.
A experiência americana: na adolescência, fugindo d o anibi-
ente familiar pesado, mudou-se para os Estados Unidos, partici-
pando de progrania de intercâmbio cultiiral. Antes disso, já fala-
va fluentemente o inglês: havia recebido educação I~ilíngue.Nos
EUA, desenvolveu "paixão platônica" por seu "irmão" anierica-
no, e notou, da parte dcle, certa correspondência. Poucos dias
antes de regressar ao Brasil. resolveram se declarar, trocaram beijos,
fizeram promessas, mas coni a viagem houve uni corte, e a distân-
cia silenciou aquela relaçáo.
O cruzeiro no Caribe: anos iiiais tarde, ela se casou com iim
homem que admirava, cie queni gosta\ra. e que Ilie fazia sentir
segura. Mas, paixão e tesão ainda ficavam por conta da lembrança
d o irmão americano, coni seu ar aventureiro de quem sabia viver a
vida. Com o marido resolveu, um dia, fazer um cruzeiro pelo Caribe.
Numa das illias paradisíacas, receberam a visita de seus "pais" e de
seu "irmáo" americano. Foi quando notou que, tambkm da parte
dele, algo niuito forte ainda estava presente. Retomou do passeio,
retomou sua vida, seu trabalho, até que, pouco tempo depois, o
sintoma conieçou de forma implacável. Neste momento. interpre-
tei: -- O seu sintoma é nausea. Podemos separar essa palavra em
duas: NAU e SEA (em inglês. mar). O que você acha disso! As
associaçóes que se seguiram tiveram duas conseqüências: o fim d o
sintoma e o fim d o tratamento. A paciente agradeceu, náo quis
continuar, despediu-se e não mais voltou.
Comentários
Considerenlos, agora, os três fragmentos clínicos. No primeiro caso,
o de Joana, o câncer de mama aparece exclusi\~amentecomo
doença orgânica. No relato da paciente, ele não assumiu Lima
dimetisáo simbólica de maior relevância, entrou exclusivameiite
como notícia, como informação que ela detecta sobre o que se
passa no real do corpo.
No segundo caso, o de Celina, o herpes aparece como fenô-
meno psicossomático: inscrição identificatória no corpo, marca
registrada das mulheres da família. Tal como as marcas que se
inscrevem n o corpo d o gado. para registrar a sua pertença.
No terceiro caso, o de Daniela, a iisusea revelou-se um sin-
toma histérico, embora não hoiivesse. no caso, uma verdadeira
demanda de análise; apenas. uma demanda terapêutica, ou seja,
uma demanda exclusiva de levantamento do sintoma. A coiiclu-
sáo de que se tratava de sintoma histérico pode ser fundamentada
a partir dos seguintes argumentos: 1) A náusea pode ser, retroati-
vamente, caracterizada coiiio mensagem cifrada dirigida ao O u -
tro, e cuja decifração proporcionoii a sua remissão; 2) O sintoma
estava em total consonância com a sua histbria, pleno de sentido,
ao contrário d o feiionieno psicossomático, que náo é para ser lido;
3) O sintoma de Daniela apresenta, claran~ente,um sentido goza-
do (jou~s-sens),do qual ela nada quer saber (não gosta de psicana-
listas) - diferente do herpes de Celina, que fica como um ponto de
gozo no corpo, como um retomo localizado do gozo ao corpo, im-
possível de ser decifrado ou de produzir efeito de sentido.
O corpo na anorexia:
da imagem ao semblante*
NIEVES SORIA
Paris - j u l h o de 2002
Caros colegas,
Anunciamos a realização da V jornada Brasileira de Cartéis
da EBP-ECF, para a qual estão todos convidados.
O tema dessa Jornada será livre e os trabalhos inscritos de-
vem ser produto de cartel. Esses trabalhos podcráo ser reinetidos
até o próximo dia 10 de novembro para o e-mail da EBP-ECF:
Alexandre Stevens
Meiiibr,~do G,nsrlho da AMP
Tredi~$ão:
Sérgio Laia
III Congresso - XII Encontro
Apresentação
Em torno do Encontro! Como o escreve Judith Miller : "sendo o
dia 1' de julho a data liiiiite para (pré-) inscrever-se no 111 Coti-
gresso da AMP, reservado aos seus membros, a Coniissáo de Or-
ganização do XII Encontro pode coineçar, a partir de 2 de julho,
a informar ao público, ao qiial o Eiicoiitro está aberto, suas linhas
de força e as questões qiie ele trabalhará, sob o títiilo: A clínica
da sexiiaçáo".
O Encontro acontecer6 durante dois dias, 20 e 21 de julho de
2002, em Paris; "'renovado', ele deverá fazer corte, c ele o fez res-
pondendo a uni conceito inteiramente diferente dos Encontros
precedentes: unia parte d o produto dos traballios d o Campo
Freudiano tiele será exposta, selecionada segundo critérios cieiití-
ficos, tanto mais exigentes quanto a qualidade das intervenções
que devcráo suscitar a discussão, e ciijo núniero deixará, portanto,
o espaso indispensável para seu desetivolviniento orgrianizado".
Assim, dia 20 de julho se desenvolverão 7 joriiadas simultâ-
neas, atiitnadas pelas diferentes rcdes d o Campo Freudiano. De
agora em diante, as questóes postas ao trabalho e os argumentos
de algumas delas já sáo conhecidos (cf. doc. anexo).
Cereda "Como o sexo chega às crianças"
Responsáveis
Patricia Bosquin - gil.caroz@advalvas.be
Susanna Carro - susana-car@cop.es
Liliana Cazenave - cuneocaz@tibo.com.ar
Marie-Hélène Doguet-Dziornba
Respuilsável pela difun;io pela
EEP-Dévclopl~cnient
ALP - Agence Lacanienne de Presse
Agência Lacaniana de imprensa
Caros colegas:
Como já foi anunciado 1iá alg~imassemanas e efetivado a partir
de 15/08/2001, AMP-VEREDAS está agora instalada em um site
de listas eletrónicas. Assim, o endercço a ser utilizado para se
postar mensagens para nossa lista náo é mais o que consta nesta
mensagem. mas:
Cyber-cordialmente,
Sérgio Laia
A WEB do X1I0 Encontro Internacional do Campo Freudiano
A página Web do XII Encontro Internacional doCaiiipo Freiidiano que se
realizará em Paris nos dias 20 e 21 de Jiilho de 2002, já pode ser
visitada n o segiiinte endereço:
Visitem-na!
/
!
encarte informativo- ,
Escola Brasileira de Psicanálise
COMUNICADO DO PRIMEIRO COLÉGIO DO PASSE
D A ESCOLA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE
Data: Domingo, 21 de Outubro de 2001 10:24
Atenciosamente.
Jésus Santiago e Nora Go~qalves
COMUNICADO 1
AMP-VEREDAS, 2 5 DE SETEMBRO DE 2001
COMUNICADO 2
A Carta n" 2 , dirigida por Jacques-Alain Miller à opinião
esclarecida, acaba de ser publicada eni português, por Jorge Forbes.
Ela tem 32 páginas e pode ser adquirida nas Seçóes da Escola
Brasileira de Psicanálise e nas seguintes Livrarias :
Casa do Psicólogo
R. Alves Guimarães, 436 - São PauloISP - Tel : (1 1 ) 3062 4633
Livraria P~ilsional
R. Dr. Homem de Melo, 351 - São Paulo/SP - Tel : (1 1) 3675 11 90
Contra Capa Livraria
R. Dias Ferreira, 214 - Rio de JaneiroIRJ - Tel : (21) 2511 4082
Livraria Ouvidor
R Fernandes T o u ~ h o253
, - Belo Horizonte/BH - Tel : (31) 3221 7473
Grandes Autores Sliopping Cultiiral
Av. Adhemar de Barros. 88 - SalvadoriBA - Tel : (71) 331 2248
Livraria Eleotério
R. Amintas de Barros, 140 - CuritibaiPR - Tel : (41) 324 0308
Alexandria Editora e Livraria
R. Manano Torres, 146 - Lj. 01 - CuritibaPR - Tel : (41) 223 2893
Sérgio Laia
COMUNICADO 3
A terceira ediçáo das "Cartas à opiiiiáo esclarecida* está em
vias de ser impressa.
Ela compreende as Cartas 3 , 4 e 5, sob o título: A TERNURA
D O S TERRORISTAS.
A priiiieira opõe o canallia ao terrorista.
A segunda se endereça à Galáxia Lacaniana.
A terceira, "A memória de Freud", é um fragmento de "auto-
análise" .
A o todo, sáo 40 páginas; preço: 60FF.
Essa ediçáo estará a venda na sede da Écok - 1, rue Huysmans -
a partir de sábado de niaiihá.
Paris. 11 de outubro de 2001
AGÊNCIA LACANIANA DE IMPRENSA 5
Paris, 24 de setembro de 2001
Tradu~áo
Aiw Lúcw Lulterboch Rudriguer Hokck
Revisãci
Sérgio Laia
AGENCIA LACANIANA DE IMPRENSA 7
Paris, sábado, 29 de setembro de 2001
"Há quatro anos, iim livro ruim cativou, durante unia estação, a
atenção da opinião pública parisieiise mais ou menos esclarecida.
Em nome da ciêiicia, ele deniinciava a impostura intelectual das
ciências litiniaiias, criticando eiisaístas conhecidos. O s dois au-
tores, Sr. Jeaii Bricinont, professor de física na Universidade de
Louvain e o niistificador aniericaiio Sr. Alan Sokal, tiveram seus
quinze niinut»s de glória warholiana. Muitos se divertiram, pou-
cos perceberam a cpisteniologia inapta dos dois cúmplices,
incriminando os filósofos das ciências que iiiconiodavam suas
calmas seguranças sobre o real. Até onde os teiilianios compre-
endido, a injúria feita à evidência havia conieçado com W. V.
O. Quine.
O Sr. Jean Bricmont continua seu coiiibate ein um artigo
publicado essa semana sob o título 'Algumas questões ao império
e aos outros'. Esse comentário d o atentado das Twin Towers atin-
ge o rnesiiio grau de confiisáo intelectual, de nialvadeza e d e
irresponsabilidade q u e o livro de então. Ele quer aplicar à
geo~olíticao frio rigor científico. Isso resulta cni frases do gêne-
ro: 'O massacre de civis inocentes não me parcce nunca desejá-
vel. O que não impede que iiic pareça necessário, na ~icasiáo
dessa tragédia, se colocar algumas qiiesrões'.
As qiiestbes se fazem entretanto raras no texto: oito pontos
de interrogaçáo ao todo. se eu contei beni. A ciência obriga: o
autor muito mais as respostas, 115 unia pletora delas.
T u d o se explica fiindamentalinente por uma dialética mirrada,
reduzida ao talião. Ela nos é revelada sem volteios no final do
artigo: "Os iiiilhares de pessoas vencidas, huniilliadas e esmagadas
pelos Estados Unidos através do mundo, terão a tentação de ver
n o rerrorisnio a única arma que possa realmente atingir o inipé-
rio". Isso é sem nuanças. O nosso pensador despreza as distinções
inúteis entre a direita e a esquerda, entre o povo e o governo,
entre paz e guerra, entre tirania e democracia. Resumamos: ele
despreza a política simplesmente. A esse preço, os mistérios da
história e do ódio sáo enfim elucidados. Tudo se explica, a única
causa do hitlerismo era a miséria alemã.
Se ele lê o Le Monde, que publicou seu artigo, o Sr. Bricmont
poderá se referir, com bom proveito, ao artigo de Susaii Sontag
que se segue ao seu. Barthesiaiia, esta desdobra os instrumentos
os mais finos para pensar o que ela chama "a monstruosa dose de
realidade da terça-feira 1 1 de setembro". Ela assinala o caráter
mítico da retórica d o consenso bushiano, convocado para asse-
gurar "que náo se pedirá ao público para carregar lima parte de-
masiada do fardo da realidade". Depois de ter lido Susan Sontag,
acalmados, nós podemos seguir o Sr. Bricniont q u a n d o ele
relembra os danos da direita americana, obtusa e brutal quando
ela está n o comando, ou o efeito de retorno que sofre a CIA de
seu apoio aos fundamentalistas. Entretanto, n6s recuamos diante
das categorias que ele maneja e nos perguntamos em que estra-
nha nietáfora ele niesmo vive. Com o seu pacifismo e seu ódio d o
capital anglo-saxáo. o Sr. Bricnioiit não nos embalaria com ilu-
sóes de uma época, aquela de Munique por exemplo, que não
fizeram o bem em 1940, e o impedem agora de pensar a nossa?
O nosso especialista das massas é a favor d o choque das ci-
vilizações, à moda Huntington. Ele não recua diante de nenhu-
ma grande generaiizaçáo vazia como "o mundo ortodoxo e eslavo"
em luta contra a O T A N , ou "o mundo árabe-muçulmano" e m
luta contra o Ocidente. Logicaniente. ele é pró-serbo sem reser-
va e pró-iraquiano seni sentiniciitalismo. Isso náo o impede abso-
lutamente de se dizer pacifista. O destino d o Iraque, como resul-
t a d o da conferência d e D u r b a n , o tornam decididamente
antiisraelense. Nada o desperta i complexidade da questáo ju-
daica. Com qual instrumento físico nosso professor Nimbus vê a
terra e sua política!
O imaginário bricmontiano se revela em toda a sua força
quando ele incrimina os intelectuais d o "Ocidente": "Nós en-
contraremos quantidades de intelect~iaispara ligar esses atenta-
dos a tudo o qiie os desgosta n o mundo: Saddani Hussein, os
pacifistas ocidentais, o movimento de liberaçáo palestino e, por-
que não, o movimento dito aiiti-niundialização." Mas onde eri-
contra ele esses "iiitelectuais" qiie fazem esse tipo de amálgama?
O Sr. Berlusconi é o único a colocar n o mesnio saco Gênova e o
atentado de Nova Iorque. Na verdade, o Sr. Bricmont faz o in-
ventário da frente da qual ele qiier ser o porta-voz. Que tripula-
ção, que coclieiro! Essa seria sua grande obra política. A última
frase d o artigo anuncia isso. "E por isso que unia luta política. e
não terrorista - respiramos! - é mais do que nunca necessária".
Nós também somos partidários de um conibatc a ser conduzi-
d o para "poder suportar unia dose riiaior de realidade". Gostaría-
mos somente que nosso idealista apaixonado deixasse a outros o
cuidado de se ocupar dos negócios e das ciêiicias dos homens,
dos quais ele está realmente muito distanciado. Se esse artigo
tivesse sido assinado por Alan Sokal, nós teríamos acreditado na
repetição da mistificação de outrora, da qual teria sido vítima,
dessa vez, nosso grande cotidiano da noite. Mas iião, é realnieiite
o Sr. Jeati Briciiioiit que persiste. sozinho.
Traduçác
Maria de Souza
AGÊNCIA LACANIANA D E IMPRENSA 8
CONEXOES
Miqiiei Bassols, Raymond Lulle e a psicanálise.
Sophie Marret, Tandis qu'il l o u m i t de suffeches pensées
Aline-Sophie Janus, A prova da escada em Robert Aldrich (filial)
CL~NICA
Dominique Laurent, O fiitiiro de Aimée.
Moniyue Amirault, O caso Gaston Chaissac.
Marie-Hélène Briole, Devoradora de homem
PSICANÁLISE APLICADA
Daniel Roy, Fenômenos de corpo na psicose infantil.
Viviane Durant. Quando eii era pequeno eu me afogara.
Frariçoise Kovache, Pierre, a criança das rendas.
Dominique Jamniet, Quando isso não passa.
Maric-France Prenion, Uma falha de ponderação.
Isabelle Cordier, A síndrome Tupperware.
Catherine Vachcr, Engravidar.
Caniille Cambron. Coniplacência.
Mireille Dargelas, Um dedo cortado.
Jeari-Pierre Klotz, Estar por dentro.
Edirh Magnin, Não toque em meu TOC.
Geiieviève Bouquier, Dores inoportunas.
Anne-Marie Brossier, O s percalços de um caminliar (Le parcours
du combattant)
Jacques-Alain Miller, Conversaçáo sobre as embnilhadas do corpo.
ENTREVISTA COM J A M
Paris, 04 de outubro (ALP)
Tradução
Yol<m<ia F. Vilela
Revisáu
Sérgio Laia
CADERNOS 0.0
~NDICE
I. Foucault, os hypomnemata
2. Crise no ensino e na pesquisa psicanalítica
3. O que é unia investigação?
4. O analista não precisa se curvar à demanda de saber
5. O analista propóe soluções para a angústia de sua 6poca
6. Notas e Bibliografia
I...]
Para este primeiro número a Comissão resenhou e discutiu os
textos mencionados nas notas; todas as resenhas e textos citados
estão disponíveis e m uni site especialmente criado para tal fim.
COMISSÃO M A T E M A S
Sáo Paulo
Maria Josefina Sota Fuentes
Márcio Peter Leite
Minas Gerais:
Márcia Rosa
Jésus Santiago
Bahia:
Marcela Antelo
Marcelo Veras
Rio d e Janeiro
Ana Lucia Lutterbach-Holck
Marcus André Vieira (coordenador)
3 de outibro de 2001
COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES
ESCOLA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE
CORREIO
revista e encarte
Redação
Vera AVellar Ribeiro
Rubricas
Textos institucionais: Rornulo Ferreira da Silva
Textos temáticos: psicanálise e medicina
Coordenação: Sara Perola Fux
Edição/Revisão
Elisa Monteiro
D i r e t o r d e Publicaçáo
Angelina Harari
ANUÁRIO
Angelina Harari
Meire Kanashiro
C A T Á L O C O DE C A R T É I S
Rlrrnulo Ferreira da Silva