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DEUS – O SOBERANO CRIADOR DO UNIVERSO

Gênesis 1.1-2.3

Certamente nenhum livro da Bíblia tem sido tão atacado como o livro de
Gênesis. Consequentemente, nenhuma narrativa bíblica tem sido tão distorcida
quanto a da criação. E isto não é resultado do pensamento moderno que atribui o
surgimento do universo e da vida a uma grande explosão cósmica conhecida como
Big Bang, pois por volta do século VI a.C., Tales de Mileto, já afirmava que o mundo
teria evoluído da água. Depois dele, seu discípulo, Anaximandro passou a ensinar
que o universo derivava de quatro substâncias básicas: água, ar, terra e fogo. Estes
elementos seriam, por sua vez, derivados do que Anaximandro denominou de
Apeiron (desconhecido, ilimitado). Não obstante, as Sagradas Escrituras nos
mostram que o universo é resultado da livre vontade de um Deus inteligente,
criativo, soberano e pessoal. O qual por meio de sua suprema palavra dá origem a
todas as coisas, inclusive à vida. E a palavra por meio de quem tudo passa a existir,
é apresentada por João como o Verbo de Deus, Jesus Cristo (João 1.1-3, 14).

Como resultado de sua soberania e poder o Deus Todo-poderoso criador dos


céus e da terra, sendo esta ainda disforme e tomada pela escuridão, passa a falar
e mediante sua palavra molda e enche de vida a sua criação. Consequentemente,
essa maravilhosa luz Divina subjuga e elimina as trevas que assolam a criação
primeva (03 ver). Mais tarde, tendo Gênesis em mente, quando João fala de Jesus
como sendo o Verbo de Deus, ele o apresenta também como a luz dos homens,
que domina as trevas e contra quem, elas não podem prevalecer (João 1.4-5 ver).
Outrossim, percebemos que dos versos 3-25, Deus transforma aquele mundo
caótico e inabitável em um lugar absolutamente diferente, um mundo habitável e
cheio de vida, pronto para receber a coroa da criação: o homem.

Mas a criação não para aí. Note que no verso 26, há uma mudança de
comportamento do Ser Divino. Não é uma mudança no Ser Divino, mas do Ser
Divino, ou seja, há uma mudança na forma de agir e não na substância, pois Deus
não muda (Tiago 1.17). E essa mudança está no fato de que tudo é criado a partir
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da palavra criativa de Deus, mas quando chega o momento de criar o homem, a
ação Divina se torna pessoal: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança” (26a). Ao comentar esse texto, Warren
Wiersbe salienta que as palavras "façamos o homem à nossa imagem" parecem
ser a conclusão de uma deliberação entre as Pessoas da Divindade”. Deus toma
conselho consigo mesmo e assim, as três pessoas da Trindade, Pai, Filho e
Espírito Santo, que já atuavam em plena e perfeita harmonia e comunhão em todo
o processo criativo, deliberam sobre a criação daquele que levaria consigo a
imagem e semelhança do seu Criador.

Na sequência nos é dito que esse ser criado à imagem e semelhança de


Deus, recebe a responsabilidade de cuidar e governar a criação (26-27 ver).
Contudo é preciso ressaltar aqui que o termo hebraico ‫אָ דָ ם‬, traduzido como homem,
também significa ser humano. Logo, homem e mulher são responsáveis por
governar a criação de Deus. Concordo com Sidney Greidanus quando diz que
“homens e mulheres, ambos, receberam a alta honra e a autoridade para serem os
governantes desta terra como representantes do Rei do universo”. E como
representantes desse grandioso Rei, eles tinham não apenas a responsabilidade,
mas também a honra de povoar a terra, manifestando por meio do seu domínio a
glória do Criador; Aquele a quem representavam (28 ver). O fato é que Deus exerce
seu domínio e estabelece sua vontade por meio daqueles a quem constitui como
autoridades. Esse conceito é mais tarde defendido por Paulo em Romanos 13.1-2.

Agora, note que em contraste com os mitos sumérios da criação, em que os


homens eram criados para serem escravos dos deuses, provendo-lhes inclusive, o
alimento, aqui temos o Criador de todas as coisas, estabelecendo mais um ponto
de contato com o homem, sendo o próprio Criador o provedor do alimento para sua
criatura. Ou seja, Deus desenvolve com o homem um íntimo relacionamento; além
de dar-lhe autoridade e poder sobre toda a criação, ele também provê o alimento
para o seu sustento, num ato de profunda generosidade (29-30 ver).

É importante destacar ainda, que assim como ocorreu ao final de cada ato
criativo, ao terminar sua obra, Deus considera tudo quanto fizera muito bom (31).
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A ideia aqui é que cada ato Divino saiu exatamente como Deus queria que fosse,
ou seja, sua vontade foi plenamente estabelecida. Destarte, Gerard Van Groningen
diz que “Cada parte realizou seu desejo. Ele quis a luz, a escuridão, o céu, os
mares e a terra. O Espírito de Deus realizou o desejo de Deus. Cada parte refletia
a vontade de Deus”. Eis a razão por que tudo era bom, porque Deus cumprira sua
vontade. E nos diz o apóstolo Paulo em Romanos 12.2, que a vontade de Deus é
boa, perfeita e agradável.

Fechando esta perícope, o Texto Sagrado nos mostra que Deus, enfim,
descansa de toda sua obra (2.1-3 ver). A linguagem usada aqui é uma linguagem
antropopática, isto é, a atribuição de sentimentos humanos a Deus. De forma que
quando olhamos para o todo das Escrituras, percebemos que este dia é criado não
por uma necessidade de descanso do Ser Divino, senão por causa do homem,
para que este pudesse ter um dia em que pudesse descansar (Marcos 2.27). Mais
uma vez, Deus demonstra seu cuidado com suas criaturas, dando-lhes seis dias
de trabalho e um de descanso (dias literais; conf. Êxodo 20.8-11).

Conclusão e Aplicação

Caminhando para o fim e frente às verdades aqui expostas, que lições


podemos tirar para nossas vidas?

 Por mais que os homens queiram desacreditar o livro de Gênesis e o


relato da criação, devemos recebê-lo pela fé, como de fato é: Palavra
de Deus inspirada, na qual ele revela seu amor e graça por meio daquilo
que criou.

 Deus cumpre o seu propósito naquilo que cria. Ele põe ordem no caos
estabelecendo sua vontade soberana (Isaías 45.18 ver). Portanto, não
devemos temer as intempéries da vida, pois Deus está no controle de
tudo e, por fim, sua vontade se cumprirá.

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 Devemos encontrar na Santíssima Trindade o exemplo maior de
unidade, pois Pai, Filho e Espírito Santo agiram juntos para o
cumprimento do eterno propósito do Ser Divino.

 Apesar da queda, ainda somos responsáveis por cuidar da criação, pois


ainda somos mordomos de Deus e dele somos absolutamente
dependentes, visto que é ele quem nos sustenta e provê o que
necessitamos (Atos 17.25).

 Não podemos e não devemos jamais esquecer que a vontade de Deus


é sempre melhor, pois ela boa, perfeita e agradável (Romanos 12.2).
assim, devemos sempre nos submeter a ela em toda e qualquer
circunstância. Logo uma compreensão correta da criação deve encherá
nosso coração de gratidão ao Supremo Criador.

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