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Técnicas de Regência – Emanuel Martinez

INDEPENDENCIA DAS MÃOS

Considerações gerais

A dinâmica embora tenha uma escala progressiva de aumento ou diminuição da


intensidade, a relação dessa escala varia de pessoa para pessoa. Essa variação de
intensidades está associada à formação musical obtida e especialmente associada às
características do instrumento que o músico toca. A relação, por exemplo, do forte
para um violino e para um trombone são diametralmente opostas.

Nos grupos instrumentais onde há uma mescla de instrumentos com características


diferentes, cabe ao líder, ao maestro promover o equilíbrio da dinâmica entre os
diferentes naipes, valorizando os instrumentos que possuam funções de solo, por
exemplo, evitando que os instrumentos com características especiais venham a
sobrepujar os instrumentos com características opostas.

Outro fator que deve ser observado é a “função” musical do grupo instrumental ou
vocal. Quando uma orquestra toca só, a relação de dinâmicas é bem diferente de
quando esta mesma orquestra está na função de acompanhamento de um solo dentro
da orquestra, seja acompanhando um instrumentista solista, como um violino, harpa,
piano, um cantor ou até mesmo acompanhando um coro. Observamos com muita
freqüência que os maestros que se dedicam exclusivamente ao trabalho com grupos
instrumentais, não se preocupam com o equilíbrio da orquestra quando acompanham
algum tipo de solista, precisamos lembrar que nesses momentos a orquestra é
coadjuvante, apenas tem a função de servir de apoio, de acompanhar o solista. Este
trabalho de equilíbrio, orquestra versos solista, mostra a qualidade e o refinamento do
maestro. Vale ressaltar ainda, que a função de acompanhamento pode ocorrer
também dentro de uma obra sinfônica, pode ocorrer de em algum momento algum
instrumento a orquestra ter de acompanhar algum solo importante dentro da
orquestra.

Método de estudo

Estes exercícios visam dar independência aos gestos entre os braços e firmar a técnica
do gestual. Como já informei na primeira parte deste livro, o fato de que na teoria as
mãos têm funções específicas e diferentes, seria muito simplório dizer que a mão
direita tem a função obrigatória de marcar os compassos e a mão esquerda faz o resto,
na realidade as duas mãos podem se alternar nessas funções. A decisão dessa
alternância dependerá da partitura, da leitura que o maestro faz, da configuração do
gestual que ele preparou para cada momento da obra, do modo como o maestro
automatizou seu gestual.

Este estudo deve obrigatoriamente mudar alternar a função das mãos a cada
retomada do estudo. A minha sugestão é começar o exercício com o lado que tem
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mais dificuldades. Vamos supor que você seja canhoto, assim deve começar seus
estudos para desenvolver o seu lado direito. Quero lembrar aos canhotos1 que a praxe
é que a batuta, por exemplo, deverá sempre estar na mão direita. Um pianista
canhoto, não pode adequar o teclado do piano. Eu sou destro, mas preciso
desenvolver meu lado sinistro (esquerdo) para que este seja tão bom quanto o direito.
Um violinista não vai virar o violino só porque é canhoto. Isso vale para todos os
instrumentos e instrumentistas. Se um violonista é canhoto e ele quer inverter o
instrumento, este deve mandar fazer um instrumento para atender estas
características, porque o instrumento tradicional possui tratamento na madeira do
tampo visando a posição tradicional das cordas, se você inverte o instrumento com a
inversão das cordas, o instrumento não soa tão bem.

Configuração da dinâmica

O princípio da regência de dinâmicas é o seguinte: quanto mais forte é a passagem


musical, maior será o gesto, a palma da mão deve progressivamente ser virada para
cima, o gesto deverá ficar mais afastado do corpo e o gesto poderá ser mais alto; já nas
passagens mais suaves, o gesto deverá ser menor, com a progressão gradativa da mão
virando a palma da mão para baixo, o gesto gradativamente fica mais perto do corpo e
mais para baixo.

Para que haja toda essa flexibilidade, deve-se observar a posição da estante de
regência. Solte os braços à frente de seu corpo, a posição ideal da estante deve ser
logo abaixo de seus dedos. Quanto mais alta a estante, pior será para seu gesto e para
os músicos que devem visualisar todas as nuances de seu gestual.

Deve-se observar que existem por consenso dois tipos de utilização da estante: a de
músico, que atende à necessidade do músico que está sendo à sua frente, por
conseguinte ele lê a partitura de forma horizontal a partir de seu assento, já para o
maestro a estante de regência deve ser reta, paralela ao assoalho, visto que a leitura
do maestro é vertical, de cima para baixo e esta não deve bloquear a ação do gesto do
maestro. Essa postura vale para o maestro de coro ou o maestro de grupos
instrumentais. No meu caso, eu uso a estante na altura da virilha, visto que a partitura
para mim é apenas um guia, já que no estudo eu memorizo toda ela. Por problemas
que não vem ao caso aqui, eu necessito de dirigir com a partitura, mesmo que eu a
saiba de memória, mas minha sugestão é do jovem regente desenvolver a capacidade
de reger sem partitura. Esta atitude melhora em muito a comunicação do maestro com
seu grupo, possibilitando uma maior interação entre o músico e o maestro.

Estes estudos deveriam de preferência ser feitos com a supervisão de um professor,


para que este possa orientar a correta postura dos braços, do corpo e das mãos.

1
Há maestros canhotos que regem com a mão esquerda. Isso não é muito bem visto entre os músicos. A
maioria dos maestros canhotos que conheço desenvolveram suas aptidões em ambos os braços.
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Os exercícios devem de início ser sempre devagar e na medida em que vai dominando
os movimentos em ambos os braços, vai-se aumentando a velocidade do gesto.
Lembro que quanto mais rápido for o tempo, menor será o tamanho do gesto, e vice
versa.

As sugestões para o estudo são as seguintes:

1. Estude a marcação da fórmula de compasso com mãos separadas, primeiro a


mão direita e depois com a mão esquerda, ou vice versa.
2. Indique as dinâmicas com mãos separadas e movimentos progressivos,
primeiro com a mão direita e depois com a mão esquerda, ou vice versa.
3. Marcar o compasso com a mão direita e as dinâmicas com a mão esquerda.
Observe que a mão que indica a dinâmica deve indicar apenas a dinâmica e não
indicar a dinâmica e marcar o compasso.
4. Marcar o compasso com a mão esquerda e as dinâmicas com a mão direita.
Observe que a mão que indica a dinâmica deve indicar apenas a dinâmica e não
indicar a dinâmica e marcar o compasso.

É bom observar que a alternância das funções poderá ocorrer durante a execução
de uma obra musical, assim este exercício consolidará os movimentos em ambos
os braços.

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