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© 2012 Bent Greve . Todos os direitos reservados.
Tradução autorizada da edição em inglês publicada pela
Routledge, membro do Taylor & Francis Group .
© 2012 Editora Unesp
Título original: Happiness
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2 O que é felicidade? 35
Introdução 35
Editora afiliada: A boa sociedade e felicidade 39
O que é felicidade? 41
Felicidade e bem-estar 68
Aaodación de Edltortalea UnJven.ttanaa Assoctaçlo BruUelra de
de Amtrlca LaUna y d Ca.r1be Editoras Unlversltártas Em síntese 76
FELICIDADE
BENT GREVE
6 7
BENT GREVE
Introdução
80 81
FELICIDADE
BENT GREVE
como indicado anteriormente, a vida fami- A verdade é que felicidade pode ser
liar é importante. encontrada em vários níveis e tem diferentes
Ainda que não seja possível inferir com relações e impactos. Três níveis diferentes
suficiente precisão, a partir das pesquisas, podem ser definidos (Nettle, 2005, p.18):
que a vida familiar representa a maior con-
tribuição para uma maior felicidade, em 44 1. Felicidade instantânea;
em média três anos a mais e têm melhor 3. Qualidade de vida (atingir objetivos de vida, pagar
82 83
BENT GREVE FELICIDADE
84 85
BENT GREVE FELICIDADE
dinheiro que estava sendo gasto poderia ter de felicidade , o que também ajuda a expli-
sido mais bem usado para pagar uma conta. car por que é possível, por exemplo, anali-
A maioria das medições de felicidade é sar e discutir o Paradoxo de Easterlin. Nos
realizada simplesmente perguntando-se a Estados Unidos, existe até conhecimento
cada pessoa como ela se sente em relação à cumulativo sobre o período de 1972 a 2006.
felicidade. O processo consiste em pergun- A medição da felicidade costuma se
tar como as pessoas se sentem ao levar todos basear na seguinte pergunta: "Quão feliz
os aspectos da vida em consideração. Em você está?" . A escala vai de O a 10, em que
uma base mundial, é possível obter infor- O é extremamente infeliz e 10 é extrema-
mações pelo World Values Survey (http:/I mente feliz. A escala a seguir é a que cos-
www.worldvaluessurvey.org), e também há tuma ser apresentada aos participantes da
um site com informações sobre a felicidade pesquisa europeia:
no mundo. Os estudos europeus apresen-
Cartão 18
tados no European Social Survey também Extremamente feliz
Extremamente infeliz
são úteis para avaliar o progresso da feli- o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
cidade, em anos pontuais ou ao longo do
tempo, e na Europa em geral ou em paí- No entanto, é possível medir a felicidade,
ses individualmente. Hoje, estão disponi- como descrito acima, pedindo às pessoas
bilizados estudos de 2002, 2004, 2006 e que deem uma nota para o seu nível de feli-
2008. Em particular, os dados do European cidade? Essa abordagem atraiu muitas críti-
Social Survey serão utilizados para ilustrar cas, que apontam para diferentes aspectos.
relações entre felicidade e outros aspectos O primeiro problema é se é possível ou
da vida, com base nas médias de todos os não julgar quanto se está feliz utilizando
europeus que participaram dos estudos. uma escala. Um indivíduo pode definir seu
Assim, quanto às diferenças entre países, nível de felicidade? Estudos sugerem que
a análise fornecerá apenas um olhar limi- existe, de fato, uma relação entre as respos-
tado. Nos Estados Unidos, o General Social tas que os participantes oferecem quando,
Survey tem há muitos anos medido o nível ao mesmo tempo, o pesquisador observa
86 87
BENT GREVE
FELICIDADE
quão felizes eles são. Assim, é possível usar impactam países isolados, como um súbito
esse tipo de estudo e questões para com- aumento da renda, distúrbios políticos no
parar e agregar a felicidade de cada pessoa passado do Leste europeu etc. Culturas
(Frey e Stutzer, 2002a). Da mesma forma, diferentes podem não ter percepções simi-
não é difícil solicitar a percepção subjetiva lares sobre o que é felicidade. Entretanto,
das pessoas em relação a seu nível de satis- . quando observamos as respostas das pes-
I
fação, felicidade ou opinião sobre outros soas, este é um problema menor, também
aspectos. Sempre haverá alguma incerteza devido mais ao enfoque na felicidade dos
associada à realização desse tipo de análise, indivíduos do que se são felizes da mesma
que depende dos pontos de vista subjetivos forma que outros.
de cada indivíduo, mas isso não altera o qua- De modo geral, não há indicação de que
dro geral desses estudos e pesquisas, que o problema seja grande, além de que deve
fornecem uma avaliação de como os indiví- ser metodologicamente mais difícil medir
duos se sentem. A validade da maioria dos a felicidade do que as respostas em outros
estudos sobre satisfação e felicidade é, por- tipos de pesquisa e do que analisar outras
tanto, geralmente alta (Hoorn, 2008). mudanças sociais e da própria sociedade.
Classificar é outro problema. Contesta-se Outro problema metodológico é que,
se isso é possível, especialmente na compa- quando as pessoas avaliam se são felizes
ração entre países, mas é o menor problema ou não, a resposta pode depender de uma
quando se usa o mesmo método para com- experiência positiva ou negativa que tenha
parar os países. Além disso, também se dis- acabado de ocorrer, ou mesmo se o sol está
cute a importância da classificação, visto que brilhando ou se está chovendo naquele dia.
existe uma distância relativa entre as dife- Um estudo mostrou que, se o entrevistador
rentes respostas. começar perguntando sobre o clima, ou se
Um terceiro problema é o risco de uma for afirmado que o clima está bom naquele
pergunta sobre a felicidade ser entendi- dia, isso pode afetar a percepção das pes-
da diferentemente em países distintos, soas sobre serem felizes ou não (Nettle,
e de poder haver fatores específicos que 2005). Isso leva a uma incerteza a respeito
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89
BENT GREVE FELICIDADE
90 91
FELICIDADE
BENT GREVE
92 93
FELICIDADE
BENT GREVE
8,5
alguns aspectos relacionados ao desenvol- Dinamarca
vimento ao longo do tempo. 8,0 Fo () ~0.'~>
Jnfândia. ~~Canadá
Allstr 'I' O () Suíça
Nesta seção, portanto, serão apresenta- "'7,5 Nova Zelândia () a la, (?>h". <5 o,
Bélo ,v ,o~ Estados ) Noruega
-o
o> Espan h a vA.gica S\}e Unidos
dos alguns dados sobre felicidade . Serão v 7,0 México França 0 ~
•
Austria Luxemburgo
-o <) Islândia ~ <>
trazidos muitos exemplos da relação entre o República Tcheca ()O Alemanha Grã-Bretanha
'e-6, 5 O () Japão (Reino Unido,
~
felicidade e outros fatores. Outros exem- <I)
op Grécia UK)
~ 6,0 Polônia/c O Irlanda
plos serão dados no Capítulo 4. Um aspecto <> Coreia do Su1
~ () Organização para
a Cooperação e
difícil de medir é se são os elementos ] 5, 5 o oO Portugal Desenvolvimento
z Hu?gr~a--9 Itália
Econômico (OCDE 30)
intrínsecos, como relações sociais e desen- 5,0 EslovaqUia
Turquia
()
/ ;-
volvimento pessoal, ou os extrínsecos, como 4, 5
riqueza, posição social etc., aqueles que 4,0+---,------r- ---r---,..-----r-----,
possuem uma função (Ng, 2002)- e, além o 100000 200000 30o000 400000 500000 600000
Renda líquida nacional per capita, em paridades em dólar
disso, são importantes por poderem refletir de poder de compra
o passado, o presente e o futuro. Entretanto, Figura 301 Renda e satisfação de vida em determinados
aproveitar e observar elementos como rela- países, 2006
Fonte: OCDE (2009) , que se baseou em World Happiness Data-
cionamento com outras pessoas nos informa base, 2006, e PIB per capita, 20060
sobre aspectos intrínsecos e sobre os tipos
de diferença que isso pode determinar. alto de satisfação de vida, embora, como
Uma questão central na análise da felici- sempre, existam exceções. Itália e Luxem-
dade foi a relação entre renda e felicidade . burgo têm um nível mais baixo de felici-
Na Figura 3.1 é mostrada a posição de deter- dade do que os dados teriam que indicar; e
minados países no que se refere a renda e a Dinamarca, um nível mais alto.
nível de felicidade. A Tabela 3.1 mostra, entre os países da
A Figura 3.1 é uma indicação clara da União Europeia (participantes do European
relação entre satisfação de vida e renda. De Social Survey), o nível médio de felicidade
modo geral, a satisfação de vida é relacio- e sua evolução desde 2002, quando a pes-
nada positivamente com a renda, de forma quisa começou, incluindo ainda as quatro
que uma renda maior implica um nível mais rodadas de pesquisa até então.
94 95
BENT GREVE
FELICIDADE
Tabela 3.1
A Tabela 3.2 mostra a relação entre feli-
2008
Felicidade média 7,2
cidade e a percepção subjetiva de cada pes-
Fonte: European Social Survey, rodadas 1-4 (http://nesstar.ess. soa sobre sua própria saúde, já que estudos
nsd.uib.no/ webview/).
Nota: A média é calculada usando-se Opara extremamente infe- demonstraram que parece existir uma rela-
liz e 10 para extremamente feliz. Existe uma ligeira diferença no ção entre saúde e felicidade.
número de países envolvidos (foi aumentando, até chegar a 31
países na rodada de 2008) .
o
u
.~ 6,5
(Reino Unido, UK) JfJ ') México
_"-
apresenta uma clara relação entre o nível Alemanha
Japao '-
<> República Tcheca
~ Organização para Irlanda <>
de desigualdade e o de satisfação com a -~ 6,0 a Cooperação e • . <>
(J) Desenvolvimento Poloma
vida, indicando que os níveis de desigual- ~ 5,5 Económico (OCDE 20) Portugal <>
98 99
BENT G RE VE FELICIDADE
e não confiança. O fato de que as pessoas Muito Seguro Inseguro Muito Total
seguro inseguro
que têm confiança em maior escala são
Figura 3.4 Felicidade e sensação de segurança em 2008
mais felizes que outras é parecido com o Fonte: Baseado no European Social Survey (http:// nesstar.ess.
que acontece na relação entre felicidade e nsd.uib.no/ webview/) e cálculos próprios.
100 101
BENT GREVE
fELICIDADE
102
103
BENT GREVE FELIC I DADE
Em geral, um nível maior de educação no entanto, pelo fato de que alguns países
implicará um nível maior de felicidade. estão em transição, e mudanças, especial-
Entretanto, isso pode não valer para todos mente as inesperadas, geralmente têm um
os países, como demonstram os dados impacto negativo no nível de felicidade.
norte-americanos, nos quais as pessoas com
diploma universitário ou educação superior, 9,0
8,0
ou que entraram na faculdade mas não têm
7,0
um diploma, têm um nível menor de felici- 6,0
dade e, ao mesmo tempo, aquelas que com- <lJ
11 5,0
-a
pletaram a educação elementar compulsória :g 4,0
QJ
t.L. 3,0
têm um nível maior de felicidade do que as
2,0
com Ensino Médio incompleto (Value Sur- 1,0
veys Databank). Isso parece indicar que o 0,0 111,1 1,1 1,11,1 1,11,11,11,11,11,11,11,11,11,1 1,1 1,1 1,11,11,11,11,11,11,11,11,1 1,11,11,
.,c.,"'~'"''{!t 'I,'""' <.(.,"' ::s-"' ~(( é"' i..'"' .i:-'"' lt ~ ;,'"' . ~~ ,$-"'.J-"'
importante não é o nível educacional em <ç'V-"'d~o,; c," «,O' ,f>"' "Ç.'i>'. -«5 0<: •.,_.::,~""',}·~o<."' 0<."" «."'"~o"'-\.$-~6
~ • c.,'bo
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r.,,<:>
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si, mas também a capacidade de usufruí-lo. ~v
«;-'I,Ç.
Contudo, nos Estados Unidos, os membros
Figura 3.6 Nível médio de felicidade em 2008
da classe média alta são claramente mais Fonte: European Social Survey, 4• rodada, 2008 (http:/ / nesstar.
felizes do que os da classe média baixa e os ess.nsd.uib.no/ webview/) e cálculos próprios.
da classe trabalhadora.
A Figura 3.6 mostra uma comparação Em 2008, havia uma relação positiva, e
entre o nível de felicidade médio em dife- significativa, entre o nível de felicidade e a
rentes países em 2008. Apresenta uma di- frequência com que o indivíduo se encon-
ferença clara, com a Dinamarca tendo o nível tra com amigos, parentes e colegas; e uma
mais alto, e a Bulgária e a Ucrânia, o mais
.
I
I
relação negativa, e significativa, se a pessoa
baixo. A figura, assim, confirma o senso I. não tem ninguém com quem discutir assun-
comum de que nações mais ricas possuem tos íntimos e pessoais. Isso é mostrado na
maior nível de felicidade do que as mais Figura 3. 7, que traz a relação entre relações
pobres. O quadro pode ser influenciado, sociais e felicidade.
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8ENT GREVE
FELICIDADE
8,0
informação, muito embora as questões fos-
7.0, ~7.3 7,4
Q)
6,0 sem sobre a importância da família em suas
] 5,o I 5,1
:g 4,0 vidas. Aqueles que consideram a família
~ 3,0 menos importante também eram menos feli-
2,0
1,0 zes (World Values Surveys Databank, http:/I
0,0
Nunca Menos de Uma Várias Uma Várias Todo
www. worldvaluessurvey.orgl).
uma vez vez por vezes
por mês mês por mês
vez por vezes por
semana semana
dia
Pesquisas sobre a felicidade também
Figura 3.7 Relações sociais e felicidade na Europa, 2008
podem ser usadas como uma forma de ten-
Fonte: European Social Survey (http:/ / nesstar.ess.nsd.uib.no/ tar medir outros tipos de desenvolvimento
webview/).
social. Isso foi feito, por exemplo, na inter-
pretação de que o fato de pessoas negras
nos Estados Unidos parecerem menos feli-
A Figura 3. 7 demonstra uma relação clara zes do queas brancas é uma indicação da
e muito precisa entre o nível de felicidade existência de discriminação (Blanchflower
médio e os encontros com amigos, parentes e Oswald, 2002).
e colegas. Aqueles que nunca se encontram
com ninguém são claramente menos felizes
do que aqueles que têm contato frequente Em síntese
com outras pessoas. As diferenças são menos
claras, entretanto, ao se atingir um mínimo Somos capazes de medir a felicidade.
de várias vezes no decorrer do mês. Esse Apesar de que existem e existirão proble-
dado é confirmado em outros estudos em mas metodológicos quando se tenta estudar
que o capital social é considerado impor- o nível de felicidade das pessoas, essas difi-
tante para a felicidade (Leung et al., 2010), culdades não são maiores do que as enfren-
o que também pode ser explicado pelo fato tadas em outros tipos de coleta de dados e
de que a soma de um grupo é maior do que análises que tentam retratar situações indi-
os indivíduos (Haidt et al., 2008). Dados viduais . A capacidade de precisão pode, na
norte-americanos também confirmam essa verdade, ser maior do que em entrevistas
106
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8ENT GREVE FELICIDADE
qualitativas, embora estas forneçam outros uma relação entre vários aspectos importan-
tipos de informação. tes da vida cotidiana dos indivíduos e o nível
Uma questão central não resolvida é a de felicidade. Isso se verifica entre desigual-
atuação da causalidade. Isso acontece, por dade e satisfação com a vida, confiança em
exemplo, quanto se tenta definir se as pes- outras pessoas, relações sociais e, como
soas mais felizes são mais saudáveis ou se mencionado acima, a renda, de forma geral.
pessoas saudáveis é que são mais felizes. O nível educacional também tem impacto
Isso ainda é impossível de deduzir. A rela- na maioria dos casos, assim como também
ção está aberta a discussão. No entanto, ter um emprego ou estar desempregado.
outros estudos parecem indicar (ver também A questão central será, então, se o conhe-
o Capítulo 4) que as pessoas felizes vivem cimento sobre os níveis de felicidade pode
mais e por isso, também, implicitamente, ou terá influência no nosso entendimento-
têm melhores condições de saúde. Apesar e necessidade - de mudanças na legislação.
da causalidade nem sempre ser clara e pre- Essa será a questão central do Capítulo 4.
cisa, podemos usar os dados sobre felicidade
para ter uma indicação do porquê de as pes-
soas serem felizes ou, talvez, de não o serem. Apêndice: informações sobre o
Assim, como demonstrado neste capí- European Social Survey (http://ess.nsd.
tulo, um nível maior de renda, ao menos até uib.no/index.html)
certo patamar, melhorará o nível de felici-
dade, o que se observa na comparação entre O European Social Survey (ESS) é uma
países. Dentro dos países, também pode pesquisa bienal realizada em trinta países. A
haver uma relação com a renda de outras primeira rodada aconteceu em 2002/ 2003,
pessoas, implicando que importam não ape- e a quarta, em 2008/ 2009, vindo daí o uso
nas as mudanças na renda do indivíduo, mas de 2002, 2004, 2006 e 2008 na apresenta-
também sua posição relativa. ção de dados.
Os dados e números apresentados neste O questionário utilizado incluiu duas
capítulo também nos informam que existe seções principais, cada uma consistindo de
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BENT GREVE FELICIDADE
110 111
4
Introdução .
a estudiosos que escrevessem sobre felici- por outras pessoas, e, com isso, aumentar
dade; e o primeiro-ministro do Reino Unido, o impacto e o possível uso de intervenção
David Cameron, apenas para mencionar um pública (Layard, 2008). Todos os elementos,
exemplo, também quer encontrar maneiras em graus variados, implicam que a inter-
além do PIB e do crescimento econômico venção pública possa ser capaz de aumentar
para compreender o desenvolvimento social. o nível de felicidade da sociedade, embora
Isso indica a necessidade de se saber mais uma análise aponte para o fato de que os
sobre a existência de uma relação entre polí- gastos do governo não têm impacto signi-
ticas públicas e felicidade, e como ela pode ficativo na satisfação com a vida (Bj0rnskov
ser interpretada. et al., 2007a). Parece existir, pelo menos
Em geral, a literatura sobre felicidade nos Estados Unidos, uma correlação nega-
concorda que fatores como saúde, idade e tiva entre etnia e felicidade. "Negros conti-
estado civil estão fortemente relacionados nuam consideravelmente menos satisfeitos
com o nível de felicidade, enquanto a renda com suas vidas do que brancos, embora a
tem um impacto de menor escala, embora diferença tenha diminuído mais da metade
nações mais ricas pareçam mais felizes do nos últimos trinta anos e pareça diminuir
que países pobres, ao menos até certo nível com a idade" (Bok, 2010, p.16).
(o Paradoxo de Easterlin) (Argyle, 1999; A relação entre idade e felicidade tem
Diener et al., 1999; Fischer, 2009; Frey e forma deU (Helliwell, 2003; Oswald, 1997;
Stutzer, 2002a; Leung et al., 2010; Tella Peiro, 2006), e parte do motivo para isso
et al., 2003; ver também os dados forne- tem ligação com a adaptação de estilos de
cidos pelo Capítulo 3) . Nos Estados Uni- vida e o fato de que o passado, olhado em
dos, a relação com a idade parece ser menos retrospectiva, frequentemente parece um
pronunciada do que na Europa. Socieda- período feliz, embora um estudo recente
des mais igualitárias também tendem a ser (Fischer, 2009) indique variações nesse
mais felizes, embora possa haver diferen- padrão. Idade e felicidade são exemplos de
ças entre países. Os níveis individuais de como a relação entre variáveis pode mudar
felicidade também podem ser influenciados entre cada país, já que a felicidade também é
114 115
BENT GREVE FELICIDADE
influenciada por outros fatores contextuais. mas em muitos países se questiona se essa
Pessoas mais jovens no Leste Europeu, é uma opção com a qual a política pública
por exemplo, estão muito mais satisfei- deve lidar (Clapham, 2010).
tas do que cidadãos mais velhos, o que é Um paradoxo claro que foi apontado é
o contrário do que ocorre em outros paí- que, às vezes, diz-se que o Estado de bem-
ses. Aparentemente, também é importante -estar social é responsável por, entre outras
compreender a diferença do nível de felici- coisas, altas taxas de divórcio, estresse emo-
dade ao longo do ciclo de vida e como isso cional e culturas de dependência (Pacek e
impacta nas políticas públicas. Radcliff, 2008). O aumento de suicídios foi
Ter um emprego parece ser importante, apontado como um impacto negativo nas
mas ter tempo livre também. Nos Estados sociedades modernas e, portanto, como um
Unidos, por exemplo, atividades de lazer são obstáculo ao desenvolvimento de uma socie-
mais apreciadas do que o trabalho (OCDE, dade feliz. De que maneira, então, pode o
2009). Em alguns países, a religião tem Estado aumentar a felicidade por meio de
um papel importante, assim como o rela- intervenções se estamos testemunhando
cionamento com família e amigos. Uma estresse, ansiedade e pessoas desafortu-
boa saúde também parece ser importante. nadas (Rothstein, 2010)? Aparentemente,
Outros aspectos de política pública relacio- essa é a falácia do senso comum e a dife-
nados à felicidade são o modo de atuação rença entre desenvolvimento em micronível
do governo, o nível de corrupção e a efeti- e o aspecto macrossocial. Como os dados
vidade e a estabilidade do governo, isto é, apresentados no Capítulo 3 e na maioria
a confiança no sistema político e adminis- dos estudos apontam para um nível maior
trativo. Um baixo nível de corrupção com- de conforto devido ao Estado de bem-estar
binado a um amplo programa de bem-estar social, existe, provavelmente, espaço para
social podem, então, ter forte influência. intervenção social, embora seja preciso uma
Além disso, pode-se incluir o impacto do análise cuidadosa.
trabalho voluntário e da sociedade civil na Este capítulo discutirá uma variedade de
felicidade. Moradia pode ser importante, parâmetros e suas possíveis influências no
116 117
BENT GREVE FELICIDADE
nível de felicidade das nações, e também se 2010). Entretanto, neste e em outros aspec-
a felicidade pode ser usada como parâmetro tos, pode claramente existir um conflito
para decisões políticas nos Estados de bem- entre a felicidade como objetivo e outros
-estar social. Isso ocorre mesmo que exista objetivos da sociedade.
a possibilidade de a adaptação implicar que O foco deste capítulo será no que sabe-
políticos tenham de enfrentar uma rotina mos a respeito da relação entre aspectos
hedônica. Ademais, ainda há o fato de que, centrais das sociedades modernas e Esta-
se apenas uma renda maior não é mais capaz dos de bem-estar social, incluindo uma dis-
de aumentar o nível de felicidade, é preciso cussão sobre como podemos entender esse
buscar outras opções. Contudo, a passagem tipo de relação. Isso porque um desafio-
da pesquisa à prática pode ser muito difícil -chave para as políticas públicas é que a feli-
(Duncan, 2010). Apesar disso, ainda pode cidade das pessoas depende do que outras
ser positivo informar políticos sobre o que possuem, sendo, portanto, influenciada por
deixa as pessoas felizes ou, ao menos, mais decisões públicas (Layard, 2008).
felizes (Diener e Seligman, 2004). Os parâ- O Quadro 4.1 apresenta os principais
metros escolhidos refletem conceitos obti- argumentos a favor e contra intervenções
dos nos estudos e dados apresentados no políticas baseadas no uso do conceito de feli-
Capítulo 3. cidade. Esses diferentes argumentos podem
Um exemplo de instrumento político ser vistos como aspectos centrais da dificul-
que pode ser discutido é a arrecadação de dade de se usar a felicidade como parte de
taxas e impostos. A taxação dos mais ricos intervenções políticas que visam ao aumento
para aumentar o bem-estar dos pobres pode da felicidade. Assim, pode-se discutir se
ser vista como uma ideia baseada na teo- se deve ou não utilizar isso como parâmetro
ria moral de utilitarismo (Brülde e Bykvist, para políticas públicas, mas talvez seja certo
201 O; Layard, 2005), embora possa ser dizer que as políticas públicas "devem visar
usada como argumento para taxar os países ao aumento da felicidade ou do bem-estar
desenvolvidos a fim de transferir renda ao das pessoas, agora e no futuro" (Ng e Ho,
mundo em desenvolvimento (Cullis et ai. , 2006, p.l). Outra razão para se usar e medir
118 -,19
BENT GREVE FELICIDADE
120 121
BENT GREVE FELICIDADE
122 123
II
BENT GREVE FELICIDADE
com renda baixa. Mesmo assim, há tam- 2007) . Esses três elementos, embora pos-
bém exemplos de que não existe relação. Na sam atuar na mesma direção, possibilitam
Nigéria, a felicidade média está no mesmo que o aumento de renda não aumente a feli-
patamar em que se encontram Itália e Japão cidade de cada pessoa.
(Layard, 2005). É o mesmo caso de Gana, Ao longo da história, as pessoas se com-
comparada ao Reino Unido e à Suécia (Dela- pararam com outras. Essa comparação pode
mothe, 2005). Ainda, os membros antigos sugerir que, às vezes, as pessoas até preferi-
da União Europeia estão mais satisfeitos do rão ter renda menor do que poderiam. Isso
que os novos Estados-membros (European ocorre quando elas ainda estão entre aque-
Foundation for the Improvement of Living les que têm o nível mais alto de renda. Uma
and Working Conditions, 2004a). Essa com- experiência na Universidade de Harvard
paração se encontra no âmbito da sociedade. mostrou que os estudantes estavam dis-
Outra análise demonstrou, em um micro- postos a receber e preferiam um nível mais
nível, que a satisfação com a vida em Cal- baixo de renda se essa renda fosse maior
cutá é maior (embora apenas brevemente) que a de outros (Layard, 2005). Isso pode
entre os ricos do que entre pessoas pobres, ajudar a explicar por que, por exemplo, pes··
as quais ficavam em situação melhor quando soas que poderiam ganhar mais migrando
se analisavam os relacionamentos sociais para outros países não o fazem por teme-
(Seligman, 2002a). Isso pode ser simplifi- rem arriscar sair de uma posição melhor
cado como o paradoxo dos camponeses feli- que a de outros para uma pior (Clark et al.,
zes e milionários tristes (Graham, 2009). 2008). Portanto, apesar de a teoria econô-
A implicação é que pode haver diferen- mica predizer que haverá migração com base
ças entre o macronível e o micronível, o que em diferenciais de salário, não necessaria-
implicitamente ajuda a explicar por que ren- mente é isso que ocorre. Migrantes podem
das maiores não necessariamente aumen- até preferir retornar para casa, não apenas
tam o nível de felicidade. Na literatura, isso para se reunirem com familiares, amigos e
é descrito como tendo relação com com- parentes, mas também para mostrar que
paração, adaptação e ambição (Schimmel, têm uma renda relativamente alta.
124 125
BENT GREVE
FELICIDADE
Comparações com outros, muitas vezes, Aspirações que não são realizadas, apesar
foram vistas como pertencentes à teoria do de um aumento nas possibilidades de con-
consumo: se outros possuem bens de con- sumo econômico, podem levar a um redu-
sumo, é preciso também possuí-los. Gru- zido nível de felicidade. De certa forma, isso
pos de referência, portanto, são importantes reflete o que Hirsch originalmente chamou
quando o indivíduo tenta descrever seu de "bens posicionais" (Hirsch, 1977). Ali-
nível de felicidade (Smith, 2008). Valores nhada com a aspiração está a adaptação.
referenciais da renda alheia podem, assim, Uma pessoa se acostuma a ter um nível
ter impacto (Caporale et al., 2007), e uma específico de bens e serviços, os quais, aos
distribuição desigual do aumento médio na poucos, deixam de ser novos, tornando-se
renda pode explicar o declínio ou o estan- iguais, o que reduz seu valor intrínseco.
camento do nível de felicidade, mesmo em Esse fato pode ter uma influência negativa
períodos de aumento da renda média veri- na felicidade. A consequência disso pode ser,
ficado pelo crescimento do PIB. por exemplo, que um aumento constante de
Comparações podem levar a urna expec- gastos todos os anos leve a uma expectativa
tativa de se obter maior renda e, com isso, de de que esse processo continuará. Uma redu-
ser capaz de comprar outros bens e serviços; ção sutil do aumento irá, portanto, reduzir
por exemplo, a aspirar possuir novos equi- o nível de felicidade, ainda que represente
pamentos, música, roupas etc. Um aumento um aumento na renda líquida.
na renda, portanto, pode fazer os indivíduos Mesmo que exista uma relação entre feli-
acreditarem que é possível melhorar conti- cidade e renda, a questão é se isso também
nuadamente as condições de vida, incluindo vale quanto a felicidade e desigualdade de
a aquisição de mais bens materiais (Clark renda. Ao opiniões divergem, desde aque-
et al., 2008; Easterlin, 2001). Isso pode, às las baseadas em dados, como no Capítulo 3,
vezes, ser rotulado como "rotina hedônica", até o argumento de que há uma relação ou
na qual adquirir um novo bem fará com que a visão de que tal relação não existe (Berg
se tenha a expectativa de ser capaz de adqui- e Veenhoven, 2010). Alguns defenderam,
rir outro novo bem.
baseados em uma ampla pesquisa, que "os
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127
BENT GREVE FELICIDADE
indivíduos têm uma tendência menor de diferentes tipos de impacto. Isso, em prin-
se declarar felizes quando a desigualdade cípio, é uma questão para análise empírica,
é alta, mesmo depois de definir grupos embora seja muito difícil de realizar.
de controle para renda individual, uma
grande quantidade de características pes-
soais, e ano e país" (Alesina et al., 2004, Felicidade, relacionamentos sociais
2009). Um problema pode ser a existência e outros elementos importantes
de diferentes perspectivas sobre a maneira
de lidar com desigualdade ao redor do Nesta seção, o ponto principal será a
mundo. Em alguns países, acredita-se que possível ligação entre felicidade e elemen-
todos podem ser ricos, enquanto em outros tos como idade, casamento, visitar e ver
essa tese pode ser menos pronunciada. amigos e família e a sensação de segurança
Europeus, por exemplo, podem ser mais do indivíduo. Mais à frente, será incluída a
afetados pela desigualdade do que norte- possível ligação entre religião e felicidade,
-americanos. É isso que acontece quando como já abordado anteriormente. A relação
a igualdade é considerada um bem de luxo entre felicidade e trabalho voluntário tam-
(Ale sina et al., 2004). Aparentemente, bém será vista, pois parece ter um impacto
defende-se que, havendo um mínimo de na felicidade (Konow e Earley, 2008).
redistribuição, o nível de felicidade é aumen- Como já indicado pelos números do
tado, pois um nível reduzido de desigual- Capítulo 3, há um indício claro de que rela-
dade aumenta a coesão social nos países, e ções sociais têm impacto no nível de felici-
os relacionamentos sociais também têm um dade (Argyle e Martin, 19 91; Blanchflower
impacto positivo (ver "Felicidade, relaciona- e Oswald, 2002; Lee et al., 1999). Aparen-
mentos sociais e outros elementos impor- temente, a razão é que ter contatos sociais
tantes", a seguir). Entretanto, isso não nos aumenta a probabilidade de não se estar
diz nada sobre o tamanho da redistribuição, sozinho, de ter sentimentos positivos por
nem diz que níveis diferentes de mudança outros e de ser valorizado como um indi-
de renda e riqueza entre grupos podem ter víduo. Assim, a capacidade de estabelecer
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BENT GREVE FELICIDADE
redes sociais, ou seja, capital social, é um ou tornando mais fácil que as pessoas se
aspecto importante de uma sociedade feliz encontrem e participem de atividades que
(Helliwell, 2003) . envolvem contato social. Defende-se que o
Pessoas casadas em geral parecem mais apoio ao esporte, por exemplo, é importante
felizes do que as solteiras e as divorciadas. não apenas para ajudar a se ter uma saúde
A relação causal não é totalmente clara- se melhor, mas também como uma forma de
pessoas felizes são mais propensas a casa- promover contato interacional. Portanto, se
rem do que pessoas não felizes, ou se é o satisfizerem vários propósitos, atividades
casamento que torna as pessoas mais feli- que podem não parecer naturalmente dignas
zes. Apesar de não se saber isso, é possível de apoio do governo, visto que o mercado, a
imaginar um bônus para o casamento: por princípio, pode oferecê-la- e nenhuma falha
exemplo, pagando-se algo a um casal ou do mercado até hoje justificou tal apoio -,
dando-lhe um desconto fiscal a cada ano podem ser úteis para elevar o nível de felici-
em que permanecerem casados (Weisbach, dade. Contatos sociais parecem ter impacto
2007). Naturalmente, isso pode implicar positivo nos ganhos (European Commis-
uma alta perda de sobrecarga, já que alguns sion, 2009), embora a causalidade não seja
casais permaneceriam juntos de qualquer algo sobre o que se tem certeza.
forma. Entretanto, é um indício de que polí- A relação entre idade e felicidade parece
ticas para garantir a felicidade são viáveis. ter a forma deU: alta no grupo etário jovem,
Visitar amigos e familiares e ter relacio- declinando na meia-idade e, então, aumen-
namentos pessoais têm impacto positivo na tando novamente na velhice. Especialmente
pessoa. Estabelecer relações pessoais, pre- ao se ajustar à variável renda, a forma de U
sumidamente, não era visto como um obje- fica visível. Além disso, "não é o envelhe-
tivo do Estado de bem-estar social; outra cimento em si que ocasiona o declínio da
questão é ele ajudar a encorajar o contato felicidade, mas sim as circunstâncias asso-
social apoiando trabalho voluntário de diver- ciadas ao envelhecimento" (Lelkes, 2008,
sas formas (ver também, a seguir, o possí- p.l). Quando jovem, o mundo ainda está
vel impacto positivo disso em si mesmo) aberto; e, quando se alcança a idade da
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BENT GREVE
FELICIDADE
vida, por exemplo, ter algo para fazer? Veja a ligação pode seguir caminhos diferentes.
também "Felicidade e o mercado de traba- Divorciados ou solteiros podem ter um nível
lho" (na próxima seção), sobre a "síndrome de felicidade reduzido, seja por terem per-
do lobo mau"; ou seria o caso de pessoas dido uma pessoa próxima ou por sentirem-
felizes terem mais energia e realizarem mais -se abandonados após o divórcio. Como a
atividades? função da felicidade no decorrer da vida tem
Altruísmo é positivamente relacionado forma deU, parece ocorrer uma recupera-
com saúde, para as mulheres, e com bem- ção do nível de felicidade.
-estar, para homens e mulheres, e, apa- "O vencedor leva tudo" é um senso
rentemente, "adultos que se engajam em comum hoje em dia, assim como o título
experiências de comportamento altruísta de uma famosa música do grupo pop sueco
com fins sociais melhoram a saúde men- ABBA, "The Winner Takes It All". A litera-
tal e têm taxas de mortalidade menores do tura mostra que os vencedores são felizes,
que adultos não altruístas" (Schwartz et al., ao menos por um curto período de tempo.
2008, p.l). Todavia, essa é uma indicação de Entretanto, ganhar uma medalha de prata
que trabalho voluntário pode ter um valor pode não gerar o mesmo aumento do nível
intrínseco mesmo que seja por ajudar ape- de felicidade, já que o indivíduo/time só
nas aqueles que estão de fato realizando o esteve perto de ser o melhor, o que pode
trabalho voluntário. gerar um sentimento de derrota. Ficar em
Pessoas casadas são, em geral, mais feli- terceiro lugar e ganhar a medalha de bronze
zes do que as divorciadas ou solteiras, o que frequentemente implica um nível de felici-
pode ser explicado, ao menos parcialmente, dade maior do que ganhar a de prata.
pelo fato de que ser casado engloba relações Outra questão é saber se o fato de que
sociais mais próximas do que ser solteiro. perdedores têm um nível de felicidade redu-
É impossível concluir se são as pessoas zido sugere que devemos reduzir o número
felizes que têm mais propensão a se casar de pessoas perdedoras. Um jogo de fute-
ou se o motivo são as relações sociais que bol sem ganhadores pode, às vezes, ser um
envolvem a pessoa casada. Provavelmente, bom jogo para um espectador; entretanto,
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BENT GREVE
FELICIDADE
as pessoas em geral preferem que haja um Early, 2008). Outra explicação para o fato
vencedor. Assim, será difícil para a socie- de que ganhar tem impacto apenas tempo-
dade intervir nesse tipo de situação, embora rário na felicidade é, como descrito no Capí-
haja uma necessidade de enfatizar que nem tulo 2, que nos adaptamos a nosso nível, que
todas as pessoas podem ser vencedoras ao é o que acontece com um súbito aumento
mesmo tempo. de renda.
A ânsia de ser vencedor ajuda a expli-
car por que tantas loterias têm um grande
número de prêmios pequenos. Elas sabem Felicidade e o mercado de trabalho
que as pessoas preferem o ganho certo à
perda incerta, mesmo que isso signifique A seguir, o foco será discutir se ter um
a diminuição de sua chance de obter uma trabalho aumentará nossa felicidade ou se
renda maior. Perder tem um impacto mais seremos mais felizes estando fora do mer-
negativo em indivíduos do que ganhar, o que cado de trabalho. A relação entre desem-
é chamado de teoria da perspectiva (Frey e prego e felicidade é, assim, parte da análise
Stutzer, 2002b). Portanto, reduzir o risco desta seção. Além disso, mesmo o fato de
de perder, mesmo que seja uma pequena ter ou não ter um trabalho pode não repre-
quantia de dinheiro, é importante para o sentar a totalidade da situação. As pessoas
indivíduo. podem querer um emprego, mas não querer
A razão para que algumas pessoas conti- trabalhar mais horas, e também pode haver
nuem a jogar com a esperança de ganhar um uma relação entre bem-estar e satisfação
prêmio grande é que o sonho de ser capaz de com o trabalho. Se for esse o caso, isso pode
fazer tudo que elas quiserem deixa as pes- interferir em nossa compreensão do motivo
soas felizes. Às vezes, parece que o sonho para as políticas visando a melhoria do tra-
é melhor do que o próprio prêmio. Isso balho serem importantes para indivíduos e
pode ajudar a explicar por que ganhadores empresas, e também para a sociedade.
de loteria não são mais felizes do que aque- Naturalmente, é possível que a relação
les que não conseguiram ganhar (Konow e entre felicidade e o mercado de trabalho
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BENT GREVE
FELICIDADE
não seja a mesma em todos os países, Estados Unidos, em 2006 (dados do World
dependendo da estrutura dos empregos e Values Surveys Databank, 2006, http:/I
do próprio mercado de trabalho. Aparente- www.worldvaluessurvey.org/). Os dados
mente, existem diferenças, ao menos entre para os empregos de meio período são, no
a Europa e os Estados Unidos (Okulicz- entanto, baseados em um número de res-
-Kozaryn, 2010) . postas bastante limitado e, portanto, não
Entretanto, a percepção geral é de que os significativos.
europeus- assim como os norte-america- A comparação entre países mostra a
nos - que possuem um emprego são mais mesma relação, da forma como se apresen-
felizes do que aqueles que não possuem ta, na comparação feita pela OCDE entre
(Tella e MacCulloch, 2008). Estar desem- os países da União Europeia (Alesina et
pregado parece ter um impacto negativo no al. , 2004; European Foundation for the
grau de felicidade (Clark e Oswald, 1994), lmprovement of Living and Working Con-
e pode-se dizer que "desemprego parece ser ditions, 2004a, 2004b; OCDE, 2006). Um
a fonte primeira da infelicidade" (Oswald, estudo indica que nenhum efeito signi-
1997, p.l.828). Existe até um estudo que ficativo pode ser demonstrado, mas faz
afirma que quem não está empregado tem referência a diversos estudos que mos-
tram que a relação existe (Peiro, 2006) .
um risco doze vezes maior de tentar se
Em uma escala mais ampla, pessoas feli-
suicidar, especialmente aqueles que estão
zes têm "mais chance de manter um traba-
desempregados há muito tempo (Oswald,
lho, têm mais chances de receber avaliações
1997). Nos Estados Unidos, quem traba-
favoráveis de seus supervisores, têm mais
lha em tempo integral é mais feliz do que
chance de considerar importante seu em-
quem trabalha meio período, embora não
prego, têm menos chance de perder os
seja significativa a diferença de felicidade empregos e são mais facilmente recoloca-
entre trabalhadores de tempo integral e das se os perdem" (Kesebir e Diener, 2008,
desempregados. Além disso, aqueles que já p.71).
haviam se aposentado foram os que apre- Ao mesmo tempo, as pessoas, espe-
sentaram maiores índices de felicidade nos cialmente em sociedades mais afluentes,
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BENT GREVE FELICIDADE
valorizam muito seu tempo livre. Nos Esta- mais será menor do que em países com um
dos Unidos, trabalhar está na 1 F posição padrão de vida mais baixo. O tempo livre e
entre 13 atividades. A comparação incluía a capacidade de optar por como empregá-lo
relaxar, comer, socializar (no trabalho e pode, então, impactar no nível de felicidade.
depois dele), e trabalhar só estava à frente O trabalho é importante não apenas
dos atos de ir e voltar do trabalho (OCDE, como um meio de obter renda, mas tam-
2009). Esse é um importante lembrete de bém para se obter status social e ligações
que, apesar da importância de se ter um com outras pessoas, ter amigos, fazer algo
emprego, também outros domínios da vida, importante (talvez para outros) , ou ape-
ao menos em sociedades mais afluentes, são nas ter algo para fazer. Isso foi classificado
importantes. como "síndrome do lobo mau" (Hylland
Portanto, apesar de pessoas empregadas Eriksen, 2008). O lobo mau nos contos de
serem mais felizes do que as outras, não se fada sempre quis perseguir o três porqui-
pode deduzir, a partir disso, que trabalhar nhos para comê-los. Um dia, ele o conse-
mais as tornará ainda mais felizes . Pelo con- guiu, mas, quando estava prestes a cozinhar
trário, a história de todos os países ociden- os três porquinhos, o lobinho perguntou-
tais parece indicar que, quando se enriquece, -lhe o que faria no dia seguinte. Ao perceber
uma riqueza maior implica menos trabalho, que seu projeto de vida era descobrir formas
o que talvez também ajude a explicar por de pegar os três porquinhos, o lobo os liber-
que sociedades mais ricas são mais felizes tou - embora, talvez, arrependendo-se,
do que as menos ricas; e pode até ser que depois de pensar que poderia achar outros
o número de horas trabalhadas tenha um projetes de vida. Mesmo assim, esse é um
efeito significativo e negativo na felicidade indicador de que precisamos e gostamos de
(Tella e MacCulloch, 2008). Os dados no ter um propósito de vida.
Capítulo 3 indicam que pode haver variação O impacto negativo do desemprego é
entre países, o que pode ser explicado pela reduzido se o nível de desemprego geral
diferença no nível de riqueza, de forma que está alto (Winkelmann, 2008), já que mais
nos países mais ricos a vontade de trabalhar pessoas estarão na mesma situação, e,
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BENT GREVE FELICIDADE
portanto, o desemprego será mais um pro- Pessoas felizes são supostamente mais
blema social do que individual. O impacto eficientes, pois se defende que um "maior
negativo do desemprego só pode ser com- bem-estar do empregado é associado a
pensado por "uma enorme quantidade de melhor desempenho no trabalho, menos fal-
renda extra" (Oswald, 1997, p.1.821). Isso tas e rotatividade reduzida, sendo, portanto,
pode ser explicado pelo fato de que traba- de particular interesse para firmas e outras
lhar não serve apenas para se obter renda, organizações" (Frey e Stutzer, 2002b, p.29).
mas, como descrito acima, também implica A relação entre bem-estar e produtividade
relações sociais, as quais, como mostrado na também implica que a qualidade dos empre-
seção "Felicidade, relacionamentos sociais e gos "pode ser usada para guiar decisões de
outros elementos importantes", são impor- negócios visando à melhoria do desempe-
tantes para o indivíduo. nho, da produtividade e da rentabilidade"
Um problema relacionado ao mercado (Diener et al., 2009, p.168). Isso não será
de trabalho, como já abordado na seção explorado em detalhes aqui, mas, diante do
sobre renda, é que nosso bem-estar pode grande número de empresas que possuem
ser reduzido se outras pessoas receberem departamento de recursos humanos, este é
um aumento de salário que achamos que um indicador da importância desse aspecto
nós deveríamos ter tido. Comparações rela- e de que a boa qualidade dos empregos
tivas, portanto, têm relevância no mercado pode ser uma situação duplamente bené-
de trabalho. Assim, a negociação de aumen- fica para indivíduos, para a sociedade e para
tos de salário em nível local pode ser con- as empresas.
traproducente para uma sociedade feliz, e A relação entre bem-estar e emprego,
é muito importante o equilíbrio entre salá- assim, não apenas se dá com fatores extrín-
rios para diferentes grupos. Mesmo ter secos (como salário, status, número de
renda menor - embora isso, como se possa horas trabalhadas), mas também com fato-
imaginar, seja uma exceção - pode repre- res intrínsecos (como qualidade de traba-
sentar um nível mais alto de satisfação se lho, estresse, oportunidades de trabalho
outras pessoas receberem menos. interessantes etc.). Os fatores intrínsecos
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BENT GREVE FELICIDADE
supostamente têm um grande impacto na (Anand e Clark, 2006; Feiro, 2006; Schim-
felicidade (Waterman et al., 2008) . Se pes- mel, 2007; Veenhoven, 1991, 2008b). Ela
soas mais felizes são mais eficientes, como pode ser expressada da seguinte forma: ''A
indicado acima, então será duplamente saúde é um componente importante no bem-
benéfico garantir mais trabalhadores felizes, -estar subjetivo de um indivíduo" (Lelkes,
já que eles serão, ao mesmo tempo, mais t 2006a, p.290). De acordo com dados de 49
produtivos e mais felizes. "Trabalhadores países e de três rodadas do World Values
felizes são cidadãos mais importantes para Survey (http://www.worldvaluessurvey.
a organização, ou seja, eles ajudam outras org!), ter uma saúde muito boa, comparado
pessoas no trabalho de várias formas." (Die- a apenas ter boa saúde, aumenta o nível de
ner e Seligman, 2004, p.l.) Para a sociedade, felicidade em 0,52. Ter saúde muito ruim,
isso aumentará a riqueza, e os campos em em vez de apenas uma saúde ruim, parece
que o governo tiver capacidade de interfe- reduzir o nível de felicidade em 0,46. Na
rir podem ser, portanto, áreas políticas em escala de 1O pontos que se costuma usar,
que ele deve atuar. isso significa uma diferença de 2,46 pontos
percentuais entre o melhor e o pior nível de
saúde avaliado subjetivamente (Helliwell,
Felicidade e saúde 2003). Outro estudo demonstrou que existe
uma correlação entre pressão arterial e
Irão as pessoas felizes viver mais e serão felicidade, e concluiu que "nações mais feli-
mais saudáveis do que pessoas infelizes, ou zes registram menos problemas de pres-
seriam os mais saudáveis também os mais são arterial" (Blanchflower e Oswald, 2008,
felizes? A relação de causalidade é impor- p.220). Isso foi mostrado nos dados utiliza-
tante. Entretanto, primeiro é fundamental dos no Capítulo 3, que sugerem que pes-
tentar descobrir se se pode traçar alguma soas com uma avaliação subjetiva positiva de
relação. Muitos estudos parecem indicar que sua saúde eram mais felizes do que outras.
pessoas felizes vivem mais. A saúde tem uma Apesar disso, quase todos os estudos
clara e sistemática relação com a felicidade mostram que felicidade e idade apresentam
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FELICIDADE
8ENT GREVE
uma relação em forma deU, como já men- ao longo da vida e de os indivíduos conse-
cionado. Somos mais afortunados durante guirem fazer menos do que quando mais
a adolescência e a velhice, e menos nesse jovens, o maior nível de felicidade pode
ínterim, embora possa haver variações ter ligação com o entendimento da vida
dependendo do contexto específico e do e da sociedade (e o entendimento de si
desenvolvimento histórico/ econômico. Isso mesmo, do entorno e das oportunidades),
significa que, mesmo em uma fase de vida o que aumenta durante o ciclo de vida. Esse
em que a saúde é menor, o indivíduo está aumento da autocompreensão ajuda a expli-
fundamentalmente mais satisfeito com sua car por que as pessoas acreditam ter uma
vida do que em tempos em que sua saúde qualidade de vida maior (Yang, 2008). Ou-
era objetivamente melhor. Muitas razões tra forma de interpretar isso é que não se
podem explicar esse tipo de relação. trata necessariamente de envelhecer, o que
Um tipo de explicação diz respeito ao para alguns pode causar uma ligeira di mi-
problema da medição da saúde, já que pes- nuição do nível de satisfação, mas, sim,
soas otimistas podem ter uma tendência das circunstâncias associadas a envelhecer,
de avaliar sua saúde mais positivamente do por exemplo, menos opções e a capacidade
que realmente é (Helliwell, 2003). Outra reduzida de viver o dia a dia sem obstáculos.
explicação para a correlação entre idade e Estudos demonstraram que, mesmo pa-
felicidade supostamente tem ligação com a ra pessoas que foram vítimas de acidentes
capacidade das pessoas de se adaptar ao seu sérios e que, portanto, ficaram gravemente
entorno. Existe, assim como com a renda, incapacitadas, é possível que a felicidade
certa melhoria nos níveis de felicidade de retorne ao nível anterior (Frey e Stutzer,
acordo com o número de anos de vida, e 2002b; Kacapyr, 2008). Isso ocorre apesar
isso talvez também explique por que uma de a maioria das pessoas certamente não
saúde fraca em um período mais tardio da desejar estar nesse tipo de situação. Outra
vida tem impacto menor. pesquisa descobriu, no entanto, que doen-
Outra possível explicação é que, apesar ças sérias ou incapacitações permanentes
de a saúde da maioria das pessoas piorar têm efeitos negativos e duradouros sobre a
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BENT GREVE rELI CIDADE
felicidade (Graham, 2008). Existe uma dife- não se aplique a pessoas com mais de 84
rença na severidade das mudanças. A proba- anos (Diener e Seligman, 2004).
bilidade de retornar a um nível de felicidade Quando se incluem todos os diversos
anterior é maior se as mudanças forem fatores que podem afetar a duração da vida,
relativamente moderadas . Por outro lado, é difícil avaliar a correlação entre felicidade e
mudanças grandes devidas a uma enorme longevidade, mas se enfatiza que pode exis-
incapacitação, por exemplo, diminuem a tir uma correlação entre os níveis de felici-
dade, longevidade e saúde. É possível que
probabilidade de se retornar ao nível ante-
pessoas felizes vivam de forma mais sau-
rior (Oswald e Powdthavee, 2006).
dável, sejam mais receptivas a informações
É difícil avaliar se a saúde é o fator que
públicas, mais conscientes de sintomas de
deixa algumas pessoas mais otimistas do
doenças, ou que haja inúmeras outras pos-
que outras, mas, aparentemente, otimistas
síveis interações com outros fatores.
vivem mais do que outros: "A vida do oti-
Uma pesquisa (Quadro 4.2), no entanto,
mista é cerca de oito anos mais longa do
parece enfatizar que pessoas com emoções
que a [do] pessimista" (Schimmel, 2007, mais positivas vivem mais, mesmo caso
p.lO). Pessoas mais felizes, portanto, con- se assuma que elas tenham o mesmo tipo
seguirão viver mais e ter vidas mais felizes. de vida, a mesma nutrição etc. Ainda não
Segundo diversos estudos, o efeito posi- existe nenhum estudo que examine se
tivo sobre as expectativas de vida de pes- diferenças em fatores genéticos podem ter
soas felizes é estável e representa entre algum impacto.
7,5 e 10 anos. Pode ser difícil determinar Pessoas com alto nível de capital social
se são sete ou dez anos a mais que as pes- (ver também a seção sobre relacionamen-
soas felizes vivem, e nem sempre é possí- tos sociais) parecem viver mais do que as
vel observar se pessoas felizes vivem tantos com baixo nível (Field, 2008) . Portanto,
anos a mais (Veenhoven, 2008b). A satisfa- há um risco de que os fatores que contri-
ção com a vida entre as pessoas de 75 a 84 buem para a diminuição dos relacionamen-
anos prediz sua mortalidade, embora isso tos sociais tenham um impacto negativo
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FELICIDADE
BENT GREVE
deixa as pessoas mais felizes, embora haja por exemplo, não existe nenhuma ligação
quem acredite que a depressão possa ser clara e não ambígua entre felicidade e esse
afetada dessa forma. Como exemplo, uma tipo de doença (Field, 2008).
experiência que convidou pessoas a preen- Um problema desses estudos é definir se
cherem um exercício na internet (chamado é o comportamento atual que afeta a felici-
Três Bênçãos) fez com que 94% dos muito dade ou se são os fatores de longo prazo que
depressivos ficassem menos deprimidos, e têm impacto maior. Por exemplo, um estudo
92% mais felizes - mesmo comparados a norte-americano mostrou que "91% dos
um grupo de controle, eles estavam menos participantes que afirmaram não haverem
deprimidos do que um ano antes (http:/ I tido relações carinhosas com as mães tive-
newsvote.bbc.co.uk/mpapps). A alegação ram doenças de meia-idade diagnosticadas
é que falar sobre emoções positivas e focar (doença arterial coronariana, pressão arterial
nas forças (em vez de conversar sobre pro- elevada, úlcera no duodeno e alcoolismo)"
blemas) é importante. Isso pode ser refle- (Post, 2005, p.67). Apesar de ser um estudo
tido na administração moderna, que se volta único, com um número limitado de parti-
a desafios em vez de problemas. cipantes, concluiu-se que ele foi baseado
Apesar de pessoas felizes serem menos em um "modelo biopsicológico, altamente
depressivas do que outras, isso não significa aceito, de que ser amado, cuidado e apoiado
que o Estado de bem-estar social moderno por outros é criticamente importante para a
não apresente risco de suicídios ou aumento saúde e a eficácia dos tratamentos" (ibid.).
do número de pessoas vivendo sob estresse. Isso salienta, ainda, a necessidade de se ava-
A média pode melhorar e, ao mesmo tempo, liar intervenções a longo prazo, e não ape-
para algumas pessoas, pode haver aumento nas a felicidade a curto prazo, para se criar
da pressão diária. maior satisfação e vida mais longa em uma
Outros descobriram, no entanto, que, comunidade.Concluindo, isso mostra que
apesar de redes sociais poderem reduzir o "a felicidade, consequentemente, parece
estresse e talvez também o risco de doenças acrescentar anos à vida, assim como vida
mentais, isso não parece estar documentado - aos anos" (Delamothe, 2005, p.l.490). De
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FELICIDADE
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forma geral, esse pode ser um argumento com a saúde. Se a relação for contrária,
para a intervenção pública, para tentar aju- então, uma melhora na saúde alcançada
dar pessoas a se tornarem mais felizes e para por políticas de intervenção aumentará a
se observar o número de anos felizes como felicidade. Dessa forma, proibir o cigarro
um indicador de como os países se parecem pode aumentar a felicidade de forma geral,
e se desenvolvem. Uma definição é: mesmo que reduza a de fumantes invete-
rados. Persuadir pessoas a comer de forma
Número de anos felizes = expectativa de vida ao nas- mais saudável defendendo itens saudáveis
cer x (0-1) nível de felicidade. (Veenhoven, 2008c.) primeiro em mercados e lanchonetes pode
causar uma situação benéfica para os dois
Observação: 0-1 é a conversão da medida lados (Thaler e Sunstein, 2008). Se o lugar
de felicidade, e o nível de felicidade é de trabalho puder ser mais seguro ou se for
baseado em respostas a pesquisas. possível reduzir a pressão sobre as pessoas,
Se, por exemplo, usa-se uma escala de 1 isso também pode indicar um nível maior
a 10, como em muitos estudos apresenta- de felicidade.
dos neste livro, o valor 6 é igual àquele que Há implicações no sistema educacional,
é multiplicado por 0,6, e um valor de 8, por assumindo-se que um aumento nos exercí-
0,8 . Por exemplo, o número de anos felizes cios físicos e esportes traga uma vida mais
calculados dessa forma, na Suíça, é 62,9 e, satisfatória (Bok, 2010) e, ao mesmo tempo,
no Zimbábue, apenas 12,5. Em um país rico uma vida mais ativa acarreta uma saúde
como o Japão, a expectativa de vida é grande, melhor. Assim, o suporte oferecido por (ou
mas o nível de felicidade das pessoas não é a inserção de) elementos físicos no sistema
alto (Veenhoven, 2008c). educacional pode aumentar o nível de feli-
A relação entre felicidade e saúde, assim, cidade de uma sociedade.
implica que, se for possível descobrir quais Cada vez mais, tem-se a consciência
instrumentos aumentam a felicidade, isso de que uma abordagem delicada e pater-
terá um impacto positivo na saúde e, por- nalista - especialmente ao se definir as
tanto, supostamente no custo de cuidados opções padrão para que decisões boas para
154 155
BENT GREVE FELICIDADE
a sociedade e as pessoas sejam tomadas sem social nos dias de hoje parece, mais do que
nenhum tipo relevante de intervenção para nunca, influenciado pelo nível de educação
que sejam alcançadas- pode ter um impacto e pela capacidade de propiciar aprendizado
positivo (Loewenstein e Ubel, 2008). contínuo. Uma questão, portanto, é defi-
Aparentemente, pessoas felizes vivem nir se a educação pode impactar no nível de
mais por serem felizes. Por isso, pode valer felicidade, o que implicaria uma situação
a pena buscar leis que visem a uma vida duplamente benéfica ao se investir em edu-
feliz, embora elas tenham de competir pelos cação. A consequência pode ser uma socie-
escassos recursos econômicos disponíveis dade mais rica e mais feliz. Também será
para intervenções do setor público. incluída a possível relação entre benefícios
de bem-estar e felicidade.
Uma análise, por exemplo, verificou
Felicidade e desenvolvimento social que seguros-desemprego mais generosos
aumentam o riível de felicidade (Tella e Mac-
Esta seção irá se aprofundar na relação Culloch, 2008). Essa é uma clara indicação
entre felicidade e a maneira como uma socie- de como políticas sociais têm impacto no
dade se desenvolve, incluindo a confiança no nível de felicidade da sociedade. A razão por
sistema político (ver dados do Capítulo 3). trás disso é que o indivíduo, ao ter direito
Colocando de outra forma, a confiança pode a benefícios mais generosos, terá um maior
substituir a suspeita e o medo e, assim, ter nível de segurança econômica caso, por
um impacto positivo na felicidade (Bok, exemplo, seu trabalho se torne desneces-
2010; Helliwell, 2003). Esta análise não sário; assim, mesmo que não reduza com-
incluirá renda, pois ela já foi discutida ante- pletamente o impacto negativo de estar
riormente neste capítulo, na seção "Felici- desempregado, uma taxa maior de recolo-
dade e renda". Mas discutirá se o objetivo de cação pode ajudar.
igualar a renda é importante ou não para uma O bem-estar nacional pode ser promovido
sociedade que almeja aumentar seus níveis de diversas formas, e uma dessas podem
de felicidade. Ademais, o desenvolvimento ser eventos esportivos internacionais. Um
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estudo encontrou apenas um impacto posi- • Alto nível de felicidade e baixo nível de
tivo significativo em sediar eventos de fute- desigualdade na felicidade foram en-
bol; entretanto, os autores também apontam contrados na Holanda.
que a análise é com base nas nações euro- • Baixo nível de felicidade e baixo nível
peias onde o futebol é o esporte dominante de desigualdade na felicidade foram en-
(Kavetsos e Szymanski, 2010). Esse é ape- contrados no Paquistão.
nas um lembrete de como o bem-estar pode • Alto nível de felicidade e alto nível de
ser promovido não apenas com bens tra- desigualdade na felicidade foram en-
dicionais, mas também com o desenvolvi- contrados na África do Sul.
mento de atividades que nos façam sentir • Baixo nível de felicidade e alto nível de
bem. desigualdade na felicidade foram en-
As sociedades têm instrumentos que contrados na Rússia.
podem melhorar o nível de felicidade. Este
Ademais, o papel do setor público pode
capítulo não tentou avaliar e julgar as vá-
ter apenas uma natureza limitada em rela-
rias opções, mas meramente apontar algu-
ção à desigualdade na felicidade, a não ser
mas opções possíveis. Haverá necessidade
que intervenções que melhorem a felici-
de avaliar o potencial aumento no nível de
dade ou a igualdade de forma geral tam-
felicidade e o custo associado, inclusive se o
bém impliquem uma mudança no nível de
aumento será às custas da felicidade alheia,
desigualdade na felicidade. Isso poderia ser,
já que o capítulo não discutiu detalhada-
por exemplo, uma melhora nas condições
mente as desigualdades na felicidade, mas
de saúde nas sociedades, assim como um
apenas sua relação geral.
nível mais alto de segurança econômica, já
Desigualdade na felicidade pode (mas que maior segurança econômica (por meio
não necessariamente) estar relacionada ao de benefícios de bem-estar generosos) e
nível de igualdade em um país. Uma aná- maior expectativa de vida parecem aumen-
lise baseada em 78 nações por volta dos tar o nível de felicidade.
anos 2000 (Ott, 2005) mostrou, por exem- A confiança foi mencionada como um
plo, que:
elemento para melhorar a felicidade, e esse
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também parece ser o caso quando existe esta- opções e oportunidades que os outros pos-
bilidade política (Argyle, 1987; Frey e Stut- suem. Existem argumentos morais e psi-
zer, 2002a, 2002b). A redução da corrupção cológicos relacionados à discussão sobre
e ter um sistema democrático estável- com igualdade e desigualdade que não serão
informações claras a respeito (e estabilidade) incluídos aqui. Além disso, poder-se-ia dis-
para se tomar decisões - podem impactar a cutir desigualdade no nível de felicidade e
vida dos indivíduos. Dessa forma, um Estado se políticas públicas têm mesmo um papel
que garante que a corrupção esteja no menor a cumprir na tentativa de garantir uma dis-
nível possível aumenta o bem-estar dos tribuição justa do nível de felicidade. No
cidadãos (Bok, 2010). Uma possível expli- entanto, diante da natureza variada daquilo
cação para a importância do impacto que que torna um indivíduo feliz, é difícil
a confiança pode ter é que um nível alto de alcançá-la e regulá-la, como mostra a com-
confiança social aparentemente tem uma paração interpessoal mencionada no Capí-
relação com fatores como "tolerância para tulo 2. Entretanto, se o Estado de bem-estar
com as minorias, participação na vida pú- social puder garantir oportunidades de vida
blica, educação, saúde e bem-estar subje- mais justas e impactar na felicidade, daí
tivo" (Rothstein, 2010, p.19). poderá haver uma relação entre políticas de
O nível de desigualdade é, na maioria dos intervenção do Estado de bem-estar social e
casos, considerado um elemento que tem o nível de igualdade na felicidade.
impacto na felicidade (para uma exceção, ver Desigualdades têm impactos negati-
Veenhoven, 201 O). Entretanto, pode haver vos em vários problemas sociais e podem,
diferenças entre países, como, por exem- assim, ser importantes para o nível de feli-
plo, "europeus têm uma aversão à desigual- cidade, mesmo que não seja possível dis-
dade maior do que norte-americanos" (Frey cernir se existe uma relação simples a partir
e Stutzer, 2002a, p.412). A principal razão de seu impacto em outros elementos do
para essa relação está ligada a elementos desenvolvimento social. A saúde, por exem-
como comparações, conforme descrito no plo, é aparentemente melhor em socieda-
Capítulo 2, mas também à aspiração por des mais igualitárias, e as relações sociais
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"razoável" em casos de desemprego pode formas. Uma deve-se ao fato de que pessoas
ser importante como parte do processo de educadas parecem mais felizes, mas tam-
tornar uma sociedade mais feliz. bém elas têm menor risco de desemprego
O sentimento de segurança pode não e são, em geral, mais saudáveis do que as
ter relação apenas com segurança econô- outras. A educação parece produzir maior
mica. A sensação de segurança na rua ou contato social e uma melhor rede de rela-
em casa impacta no nível de felicidade. Ape- cionamentos. O aprendizado contínuo não
sar de, por exemplo, mais policiais na rua é mais apenas necessário para se melhorar
não produzirem nenhum efeito nos núme- a correspondência entre demanda e oferta
ros do crime, a presença deles pode ter um no mercado de trabalho, mas também para
impacto positivo no nível de felicidade. melhorar a felicidade.
Assim, se aumentar o nível de felicidade é Considerando que ser casado e ter um
o objetivo de políticas públicas, essa pode emprego tornam as pessoas mais felizes,
ser uma razão para se aumentar a presença esse é um argumento para apoiar a capa-
visível de policiais. cidade de conciliar trabalho e família. Por
Relações sociais são importantes para exemplo, a ideia da União Europeia de haver
muitas pessoas. O Estado de bem-estar creches acessíveis e de alta qualidade pode
social não pode garanti-las, mas pode apoiar ser justificada não apenas pelo aumento da
estruturas na sociedade que as tornem mais oferta no mercado de trabalho e da igual-
fáceis de se alcançar, para, assim, aumentar dade entre homens e mulheres em relação
o nível de felicidade. Além disso, pode ser ao acesso ao mercado de trabalho, mas tam-
uma razão para se apoiar o trabalho voluntá- bém por aumentar a felicidade na sociedade.
rio, visto que aumenta as relações sociais -e Gastos com o bem-estar, analisados sob essa ~ I
o apoio não precisa ser baseado na expecta- luz, são um investimento para uma socie-
tiva de que o trabalho voluntário em si seja dade mais feliz.
importante. Entretanto, pode haver um risco de que
Investir na educação e em seus níveis a forma de melhorar a felicidade em um
mais avançados pode impactar de várias nível mais amplo seja usar a força em vez
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como observado por Frey e Stutzer (2002a), analisará isso, mas destacará os motivos
os quais também afirmam que o nível do pelos quais a medição da felicidade é uma
PIB per capita não mostra a distribuição da área que tem crescido, visto que, até certo
renda ou, como descrito no Capítulo 2, a ponto, pode nos explicar e informar sobre
posição relativa, a aspiração e a adaptação o desenvolvimento e a situação de outros
dos indivíduos. Esses fatores têm implica- elementos e aspectos dos valores centrais
ções no nível de felicidade e, portanto, ser- da sociedade.
vem como argumentos para se afirmar que o
PIB per capita não é uma medição suficiente
para ser utilizada quando se quer descrever Outros elementos que devem
o desenvolvimento de uma sociedade. ser incluídos na análise
Essa foi a base da recomendação do rela-
tório para o presidente francês de que havia Historicamente, cientistas sociais se inte-
uma necessidade de "mudar a ênfase da medi- ressaram em medir aspectos da vida social
ção da produção econômica para a medição do além do desenvolvimento econômico. Nos
bem-estar das pessoas" [grifos originais do anos 1960 e 1970, a pesquisa de indicado-
relatório] (Stiglitz et al., 2009, p.12). Robert res sociais foi uma tentativa de incluir no
F. Kennedy é muitas vezes citado por ter conceito de desenvolvimento de sociedade
dito a respeito do Produto Nacional Bruto aspectos não apenas relacionados a meios
(PNB): "Em suma, ele mede tudo, com exce- objetivos - e, portanto, relativamente sim-
ção daquilo que faz a vida valer a pena". ples - de medir bem-estar, mas também
No entanto, mesmo que concordemos como medir e analisar o bem-estar subje-
que o PNB, assim como o PIB, não são sufi- tivo (Allardt, 2003).
cientes, nem instrumentos precisos, para Pesquisas sobre o bem-estar subje-
medir o desenvolvimento de uma socie- tivo tentaram estabelecer indicadores que
dade, essa informação em si não nos diz o pudessem medir novas áreas. Isso incluía
que deve ser incluído na medição e que tipo elementos como satisfação, acesso a recur-
de falhas tal medição terá. A próxima seção sos sociais, relacionamentos sociais e o
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como crescimento econômico, e, portanto, A sugestão do NEF a respeito do bem-
voltam-se pouco a aspectos econômicos da -estar pessoal (ver a Figura 5.1) está divi-
sociedade moderna, embora, por exemplo, o dida em cinco seções diferentes, sendo que
Índice Legatum combine renda e bem-estar três delas têm subdivisões. O bem-estar
(Legatum Institute, 2010). emocional está dividido em sentimentos
Novos meios de medir o desenvolvi- positivos e ausência de sentimentos negati-
mento de uma sociedade podem incluir vos, enquanto resiliência e autoestima estão
uma variedade mais ampla de indicadores. divididas em autoestima, otimismo e resi-
O NEF inclui o bem-estar pessoal, o bem- liência. Funcionamento positivo tem qua-
-estar social e a satisfação no trabalho. O tro subcategorias: competência, autonomia,
bem-estar social está dividido em relaciona- comprometimento e importância e propó-
mentos incentivadores, confiança e perten- sito (NEF, 2008). Este livro não é o lugar
cimento, mas existe apenas um indicador de para uma discussão detalhada sobre cada
satisfação no trabalho. O bem-estar pessoal um dos componentes ou subcategorias, já
será descrito a seguir. Os dados usados para que o objetivo principal é sondar e indicar
a construção dos valores nos cálculos foram que existem outras opções além das medi-
retirados do European Social Survey (ver o das tradicionais para uma análise.
Capítulo 3), que utilizou a mesma pesquisa O índice calculado mostrou a Dinamarca,
como principal fonte de dados para a aná- a Suíça e a Noruega no topo, e a Ucrânia, a
lise deste livro. Bulgária e a Eslováquia na parte mais baixa.
Dessa forma, em grande medida, lembra os
resultados baseados no uso de uma única
pergunta sobre felicidade. A questão sobre
a felicidade está de fato incluída, já que duas
questões relacionadas ao bem-estar emo-
Figura 5.1 Bem-estar pessoal e cinco subcategorias
Nota: O Apêndice 3 do relatório apresenta as questões relaciona- cional são: "Levando tudo em considera-
das a cada um dos componentes descritos, e, assim, um compo- ção, quão feliz você afirmaria ser?" e "Na
nente pode ser baseado em várias perguntas. Vida satisfatória, por
exemplo, está baseada em quatro perguntas (NEF, 2008, p.21). semana passada, por quanto tempo você se
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CONCLUSÕES
Introdução
faltando na análise e no uso do conceito de pessoas felizes são mais saudáveis e vivem
felicidade. mais. Também sabemos que ganhar produ-
Para muitos pesquisadores e pessoas zirá apenas um breve aumento no nível de
nas sociedades, as perguntas sobre felici- felicidade.
dade costumam ser vistas como problemá- As pessoas, na verdade, são capazes de
ticas. O argumento diz que é exatamente a responder sobre o que entendem por felici-
opção dos indivíduos o que mostra como dade não apenas a curto prazo, mas também
suas vidas são e o que é melhor para eles, e a longo prazo. A implicação é, por exemplo,
ao se juntarem esses elementos descobre- que, mesmo que uma pessoa tenha sofrido
-se como um alto nível de felicidade pode um acidente, ficado doente ou perdido o
ser alcançado por um libertário. Esse, no cônjuge - embora isso tenha um impacto
entanto, não parece ser o caso. negativo em seu nível real de felicidade -,
é possível retornar ao nível anterior, ou
pelo menos próximo dele, e também refle-
O que sabemos? tir sobre a felicidade no decorrer da vida.
Isso ajuda a explicar por que a relação entre
Sabemos que em várias áreas existe uma felicidade e idade, na maioria das análises,
relação clara entre felicidade e aspectos cen- tem forma deU - mais alta quando jovem
trais e importantes para o desenvolvimento ou idoso (ainda que por razões distintas).
dos Estados de bem-estar social. Uma pes- Na maioria dos sistemas de Estados de
soa feliz muitas vezes será alguém que está bem-estar social, ter um emprego é impor-
empregado, casado, tem religião, tem bons tante para o nível de felicidade, embora tra-
relacionamentos sociais, é otimista e confia balhar mais horas possa ser negativo para o
em outras pessoas. O tamanho e o impacto nível de felicidade individual. Isso depende ·,·~
variam entre cada país, devido às estrutu- do desempenho econômico do país. As ·~
ras históricas e institucionais. pessoas preferem ter alguma coisa que as
Sabemos que a renda tem um impacto, motive a acordar, e para muitos isso prova-
ao menos até atingir certo patamar, e que velmente significa ter um emprego. Tendo
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felicidade. Um bom exemplo pode ser que a fundo para garantir que conselhos sobre
capacidade de andar com segurança nas ruas políticas, baseados nas pesquisas sobre feli-
à noite requeira mais policiais fazendo ronda, cidade, façam o equilíbrio entre o que tem
mesmo que do ponto de vista econômico um impacto na felicidade e os resultados de
isso não seja eficiente. Um problema pode outros tipos de relação. É preciso explorar
ser que, como será detalhado na próxima mais o possível intercâmbio entre diferen-
seção, nem sempre sabemos o que tornará as tes aspectos da felicidade e do desenvolvi-
pessoas mais felizes, especialmente quando mento da sociedade.
elas precisam escolher entre diferentes tipos Precisamos saber mais sobre como evitar
de intervenção. Além disso, é importante o risco da rotina hedônica, em que, mesmo
encontrar uma maneira de estabelecer pos- quando alguma coisa é melhorada, haverá
síveis opções e informar as pessoas. uma busca constante por bens e serviços
melhores e maiores. Ou, colocando de outra
forma: estaria uma política visando a maior
Sobre o que precisamos saber mais a felicidade condenada desde o início, pois,
fundo? mesmo que os níveis subam brevemente,
eles voltarão a cair se não houver mais
Um problema central para a pesquisa aumentos de renda ou de diferentes tipos de
sobre felicidade é que a relação causal nem bens e serviços? Como manter a felicidade
sempre é clara. Ela pode ser questionada em também é uma questão em aberto.
diversas áreas. Estariam as pessoas felizes
mais propensas a viver de forma saudável e
ter um emprego, ou seria o inverso? As pes- Em síntese
soas felizes costumam ser mais extroverti-
das e, portanto, ter mais relacionamentos Saber o que torna as pessoas mais felizes
sociais, ou, mais uma vez, seria o inverso? pode ser muito importante e central para
Essas certamente são algumas das ques- o desenvolvimento de sociedades. Precisa-
tões que precisam ser conhecidas mais a mos, ao menos, de algumas informações
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