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BOA VISTA, RR
2017
ANANDA GABRIELLE DE OLIVEIRA E OLIVEIRA CRUZ
BOA VISTA, RR
2017
ANANDA GABRIELLE DE OLIVEIRA E OLIVEIRA CRUZ
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 11
2 CONCEITOS RELEVANTES NA ATUAÇÃO DA CRUZ VERMELHA 14
NA SÍRIA...............................................................................................
2.1 MUDANÇAS NOS ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.. 14
2.2 A GLOBALIZAÇÃO E OS ATORES NÃO ESTATAIS........................... 16
2.3 SOCIEDADE CIVIL GLOBAL E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS 18
NÃO GOVERNAMENTAIS.....................................
2.4 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO INTERNACIONAL 21
DA CRUZ VERMELHA E CRESCENTE VERMELHO..........................
2.5 BREVE INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 25
HUMANITÁRIO.....................................................................................
2.6 CONFLITOS ARMADOS...................................................................... 27
3 O CONFLITO INTERNO NA SÍRIA....................................................... 31
3.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO CONFLITO........................................... 31
3.2 DE PRIMAVERA ÁRABE À GUERRA CIVIL........................................ 37
3.3 CINCO ANOS DE CRISE NA SÍRIA (2011-2015)................................. 42
4 O COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA NA SÍRIA 44
ENTRE 2011 E 2015.............................................................................
4.1 AS AÇÕES DO CICV NA SÍRIA.......................................................... 45
4.1.1 Ano de 2011.......................................................................................... 45
4.1.2 Ano de 2012.......................................................................................... 49
4.1.3 Ano de 2013.......................................................................................... 53
4.1.5 Ano de 2014.......................................................................................... 56
4.1.6 Ano de 2015.......................................................................................... 61
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 69
REFERÊNCIAS...................................................................................... 71
11
1. INTRODUÇÃO
2015, sem ter sido publicado mais recente relatório do CICV em tempo hábil para a
conclusão desta pesquisa.
Para a realização deste trabalho, será aplicado o método indutivo, que
segundo Maria Margarida de Andrade (2010) é uma cadeia de raciocínio que
estabelece conexão ascendente, partindo do particular para o geral.
Procedimentalmente será empregado o método histórico, que consiste em
investigar os acontecimentos, processos e instituições do passado, para verificar sua
influência na sociedade de hoje (ANDRADE, 2010), descrevendo o processo
histórico da criação do CICV. Igualmente, será feito um estudo de caso, que é o
estudo de determinados indivíduos, grupos ou instituições com a finalidade de obter
generalizações (ANDRADE, 2010), sendo então a atuação do CICV na Síria o alvo
da pesquisa.
Será aplicada a análise de documentação indireta como técnica para esta
pesquisa, fazendo uso de pesquisas bibliográficas exploratórias, por meio de livros,
sites oficiais e artigos científicos, as Convenções de Genebra e seus Protocolos
Adicionais, manuais de Direito Internacional e documentos oficiais do CICV.
O primeiro capítulo apresenta conceitos importantes para compreender a
definição de uma organização como a Cruz Vermelha. Tendo em vista que o CICV
não é uma Organização Internacional, por não ser formada por Estados, nem
Organização Não Governamental, por ter alcance além das fronteiras nacionais de
origem, buscou-se identificar o CICV como organização que possui personalidade
jurídica no direito internacional, e apresentar elementos que o caracterize como uma
Organização Internacional Não Governamental, criada a partir dos esforços da
sociedade civil, e que tem significante participação nas Relações Internacionais.
No segundo capítulo serão explorados os fatores que contribuíram para o
início e perpetuação dos conflitos na Síria, como a formação religiosa da população,
o regime político da família Assad, e os movimentos populares influenciados pela
Primavera Árabe. Também será abordada a questão de alianças externas que
perpetuam o conflito e impedem que seja resolvido. E, finalmente, serão
apresentados dados estatísticos da situação na Síria após cinco anos do início dos
conflitos.
No terceiro capítulo são abordadas as atividades realizadas pelo CICV na
Síria entre 2011 até 2015, trazendo uma descrição dos principais trabalhos em
assistência humanitária, como distribuição de cestas básicas, melhorias de redes
13
Ao longo dos últimos anos, os estudos das Relações Internacionais (RI) tem
encontrado novos desafios. Antes, o Estado era entendido como o principal, quando
não único, ator das RI, agindo de acordo com seus interesses, soberano sobre seu
território e interagindo com outros Estados. As Relações Internacionais, então, eram
entendidas como as relações de Estados, e esse paradigma estabelecido em
Vestfália (1648)1 foi seguido por três séculos (SEITENFUS, 2004).
Mudanças no cenário internacional provocaram novos paradigmas, novas
maneiras de ver o mundo e interpretar seus diferentes desdobramentos. A
estabilidade hegemônica, defendida por Gilpin (1981) já não compreendia as
1 A Paz de Vestfália, de 1648, foi um acordo que reconhece o Estado como poder supremo dentro de
fronteiras estabelecidas (HERZ,1997)
15
Mas como foi dito, a participação de atores não estatais não vem desde o
início reconhecido das Relações Internacionais. Nem sempre houve o espaço
apropriado para que esses grupos se desenvolvessem. Foram necessários alguns
fatores que promovessem o diálogo entre esses indivíduos particulares para que se
organizassem de forma a influenciar as RI. Um dos fatores essenciais para criar um
ambiente que favorecesse o fortalecimento de atores não estatais foi a globalização.
Não há uma única definição para o que seja globalização. É um fenômeno
“entendido como um processo não exclusivamente econômico, mas também que
envolve aspectos sociais, culturais, políticos e pessoais” (GOLÇALVES, 2005, p.4).
Dessa forma, o objetivo deste trabalho não é apresentar um conceito de
globalização, mas analisar como suas consequências afetaram as Relações
Internacionais no tocante a participação de atores não estatais.
Evangelista (2006) apresenta a definição de autores como Castell e Beck,
que lidam com a globalização a partir da ideia de um processo, algo que é dinâmico
e está em constante movimento. Assim, a globalização envolve processos que se
intensificam e aprofundam a todo momento. (CASTELL, BECK apud
EVANGELISTA, 2006).
Keohane (2001) define globalização, de forma geral, como o encolhimento
da distância em escala mundial por meio da emergência e estreitamento das redes
de conexões, sejam elas econômicas, ambientais ou sociais.
Além de se intensificarem, esses processos estão interligados. Muitas vezes
não é possível diferenciar causa de consequência da globalização. As inovações
tecnológicas, principalmente no setor de comunicação – internet, telefonia móvel,
17
espaços online para expor opiniões livremente, como blogs e vlogs - causaram
transformações no espaço social. No entanto, quanto mais inovação tecnológica,
mais globalização acontece. E quanto mais globalização, mais necessidade de
inovação tecnológica existe.
A partir deste pensamento, é possível destacar o papel dos meios de
comunicação e informação como causa e efeito da globalização. A facilidade e
instantaneidade do acesso à informação, ainda que não seja uma realidade
homogênea, afetou o modo de realizar política, a princípio em esfera interna, mas
logo transbordando para o âmbito internacional. Em um mundo cada vez mais
interconectado, com fluxo constante e acelerado de informações, que apresenta
mudanças quase que instantâneas, os pilares das Relações Internacionais2 são
repensados (EVANGELISTA, 2006).
Há então a viabilidade de indivíduos particulares estabelecerem a
comunicação necessária para impulsionar a participação nas Relações
Internacionais, indo além dos limites do Estado. Evangelista (2006) expõe sua
análise da seguinte forma:
Quando observados os elementos da vida cotidiana, um grande número de
análises caracteriza a globalização a partir de uma percepção geral de que
o mundo, impulsionado por forças econômicas e tecnológicas, está
rapidamente se transformando em um grande espaço social compartilhado,
no qual realidades sociais, dinâmicas políticas e estruturas econômicas
estão cada vez mais conectadas, integradas e, consequentemente,
interdependentes (EVANGELISTA, 2006, p.18).
Foi com o nascimento do CICV que o DIH moderno foi gerado, e o que antes
era acordado entre Estados, com prazo determinado, passa a ser universal, e
aplicável em qualquer tempo (CHEREM, 2002). Como dito anteriormente, o CICV foi
o idealizador e realizador das Convenções de Genebra, que reuniram Estados para
tratar sobre o Direito Humanitário. São as Convenções de Genebra e seus
Protocolos Adicionais é que regem o DIH. Eles se referem à conduta dos Estados e
às vítimas de guerra, bem como ações específicas do CICV (CHEREM, 2002).
São elas: 1ª Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949 para a
melhoria das condições dos feridos e enfermos das forças armadas em campanha;
2ª Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949 para a melhoria das condições
dos feridos, enfermos e náufragos das forças armadas no mar; 3ª Convenção de
Genebra de 12 de agosto de 1949 relativa ao tratamento dos prisioneiros de guerra
e 4ª Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949 relativa à proteção de civis em
tempo de guerra.
26
O protocolo então buscou abranger e não excluir conflitos que não possuem
caráter internacional, com o propósito de garantir maior proteção às vítimas de
conflitos. Nas palavras de Swinarski:
A sua finalidade é integrar ao direito internacional convencional a maior
proteção que o direito possa outorgar às vitimas de conflitos armados e, em
todo caso, um mínimo de tratamento humano, conceituado como a proteção
mínima que é devida ao ser humano, em qualquer tempo e lugar
(SWINARSKI, 1996, p.27).
religiosa na Síria, cerca de 12% (CIA, s/p, 2016), que se ramificou do segmento
islâmico Xiita. A diversidade e complexidade religiosa na Síria contribuíram
historicamente e ainda contribuem hoje para os incessantes conflitos no país.
Durante a Primeira Guerra Mundial (9014 – 1918), a França e a Inglaterra
realizaram um acordo, chamado Sykes-Picot, que dividia a região do atual Oriente
Médio em zonas de influência inglesa e francesa. A Síria se localizava na zona de
influência francesa, sendo o francês o último império a dominar o país (BERNADES,
2016).
O domínio francês, que era apoiado pelas minorias cristãs na Síria, repartiu
o território em províncias, que futuramente se tornariam Estados. Seriam eles: o
Estado de Alepo, o Estado de Damasco, o Estado de JabalDruze, o Estado Alauíta,
a Província de Alexandreta (Hatay) e o “Grande Líbano” (ZAHREDDINE, 2013).
Segundo Zahreddine (2013): “Os franceses utilizaram da estratégia ‘dividir
para governar’ com o intuito de desarticular movimentos nacionalistas mais robustos
que pudessem por em risco os projetos da potência mandatória” (ZAHREDDINE,
2013, p.8). Em partes, essa divisão francesa no território sírio perdura até os dias de
hoje, com a diferença de que as províncias se tornaram estados caracterizados por
maiorias religiosas. A figura abaixo ilustra bem a divisão da Síria durante o domínio
francês:
33
insatisfação entre os sírios. Essa insatisfação levou a um golpe militar em 1961 que
pos fim à RAU, tendo ela durado quatro anos (SALAMEH, 2016).
Com a dissolução da República Árabe Unida, a Síria tornou-se cada vez
mais dependente de autoridades militares que promovessem estabilidade no país,
ainda que frágil. Uma série de golpes de estado se sucedeu, e o partido Baath 3
chegou ao poder no ano de 1963, por meio de golpe militar (BERNARDES, 2016).
O nome Baath quer dizer renascimento, ressurreição. O partido esteve
presente na Síria desde a década de 1940, e tem como objetivos principais o
secularismo, o socialismo e a unificação árabe. A influência do partido Baath na Síria
se fez presente na independência da Síria, na criação da RAU e também em sua
dissolução (MOHHAMED, 2016).
De 1963 até os dias atuais o partido Baath esteve no poder na Síria.
Salameh (2016) caracteriza a linha de ação do partido como:
O autoritarismo populista pode ser utilizado para descrever a maneira como
o Partido Baath se engajou em uma mobilização social controlada “de cima”
para reforçar uma mudança em que houvesse uma remoção da burguesia
tradicional do poder político e a implementação de uma reforma social
(SALAMEH, 2016, p.26)
Em 1966, após o fim da RAU, o partido foi marcado pela liderança militar
formada por oficiais liderados pelo alauíta Salah Jadid, que tinha por aliado o
General Hafez Al-Assad, seu ministro da Defesa, também alauíta (SALAMEH, 2016).
No entanto, dentro do próprio partido ocorreram dissidências, tendo em vista que o
governo Jadid trouxe instabilidade ao partido por ser radical em “sua política externa
que visava uma ‘guerra do povo’ em que houvesse libertação da Palestina”
(SALAMEH, 2016, p.26).
O declínio do governo Jadid se deu principalmente pela derrota da Síria na
Guerra dos Seis Dias4, e foi esse episódio que levou Hafez Al-Assad a deflagrar um
golpe e assumir o poder em 1971 (BERNARDES, 2016).
Sobre o governo de Hafez al Assad, Zahreddine afirma:
Hafez Al-Assad era de uma família modesta e fazia parte de uma minoria
religiosa na Síria, os Alauítas. Este caráter minoritário sempre esteve
presente no seu governo, pois constantemente buscava formas de
governabilidade que permitisse a ascensão socioeconômica e política de
sua minoria (os Alauítas), bem como dos cristãos e Drusos, em detrimento
da maioria Sunita (ZAHREDDINE, 2013, p.12).
3 Pardido Baath Partido Baath Sírio (ou Capítulo Regional Sírio), de cárater "nacionalista, populista,
socialista, e revolucionário
4 Israel tomou as Colinas de Golam, anteriormente pertencentes ao territóro sírio.
35
5 O Manifesto dos Mil, movimento formado por ativistas intelectuais que demandavam o fim da Lei
de Emergência, fim da atuação do partido Baath e a criação de uma democracia multipartidária
(SALAMEH, 2016).
36
civil entre tropas do governo e rebeldes. Após meses de guerra, o primeiro ministro
Muammar Khaddafi (2011) foi morto6. Hoje a Líbia está sob o controle de milícias
rivais.
Na Síria os movimentos revolucionários tiveram início março de 2011 na
província de Dara’a, quando jovens foram presos e torturados por escreverem
palavras de ordem no muro da escola (BALANCHE, 2013). A princípio, os
manifestantes exigiram reformas, mas logo incluíram na pauta dos protestos o fim do
regime e maior liberdade civil (RAMOS, 2013).
Cavatorta (2012) traz a contribuição sobre as manifestações na Síria:
Notwithstanding the significant popular mobilisation in established
democracies to demand a new social contract to face the worst economic
crisis since the 1929 depression, there is no doubt that the Arab Spring
constitutes the most important event of 2011 and a defining history-changing
moment (CAVATORTA, 2012, p.75).
6 Após oito meses de ataques e bombardeios ao governo líbio, os rebeldes, graças ao apoio
concedido pela OTAN (com o envio de forças especiais, armas e o recrutamento de mercenários de
outros países), conseguiram capturar Muammar Kadafi, e assassiná-lo em um ato que foi filmado e
veiculado na internet (OLIVEIRA, 2015, p. 674).
39
Contudo, não são apenas os aspectos internos da Síria que devem ser
levados em consideração. Há divergência no âmbito externo que muito influencia e
contribui para a perpetuação do conflito.
Há interesse por parte das grandes potências regionais e mundiais na Síria,
que apoiam lados contrários na guerra, a exemplo Estados Unidos, França e Reino
Unido que apoiam os rebeldes, e Rússia e China que apoiam o Governo Assad
(BERNARDES, 2016). Também é observado o aspecto religioso como influente no
apoio de países do Oriente Médio em ambos os lados da guerra civil na Síria
A Rússia está intimamente ligada à Síria desde o governo de Hafez Al-
Assad, que morou na então União Soviética, e teve formação militar e ideológica lá.
Essa proximidade ideológica está arraigada no socialismo árabe do partido Baath,
do qual fez parte Hafez e hoje faz parte seu filho, Bashar (ZAHREDDINE, 2013).
Essa relação com a Rússia possibilitou melhorias comerciais para ambos os
países, como a importação de armamento russo pela Síria. Essa aliança também
40
traz benefícios para a Rússia, que mantém uma área de influência no Oriente Médio
(ZAHREDDINE, 2013,).
Em razão da sua proximidade com o governo sírio, a Rússia representa a
principal oposição à intervenção das Nações Unidas na Síria, com vetos no
Conselho de Segurança das Nações Unidas. A respeito dos empecilhos russos no
Conselho de Segurança, Balanche traz a comparação com a Líbia, onde ocorreu
intervenção aprovada na Organização das Nações Unidas (ONU).
O apoio prestado ao regime sírio pela Rússia e pelo Irão permitiu-lhe
continuar mais tempo e reprimir sem preocupações uma intervenção
estrangeira, como foi o caso da Líbia. Damasco foi protegido no Conselho
de Segurança da ONU com duplo veto russo e chinês (BALANCHE, 2013,
p.9).
7 Religião oficial da Arábia Saudita, o wahabismo é uma vertente do islamismo sunita, considerado
fundamentalista, cujo objetivo é restaurar o culto monoteísta puro.
41
8 Mensagens Cruz Vermelha, Red Cross Messages no original, são cartas contendo notícias
particulares que são usadas quando a comunicação por meios comuns é interrompida.
Frequentemente são o único modo de manter contato entre famílias separadas por conflitos ou entre
detentos e seus familiares (ICRC, 2002).
45
A seca que assolava o norte do país há cinco anos foi alvo de ações do
CICV. Com o apoio do SARC as autoridades locais puderam aliviar efeitos da seca.
Reservas subterrâneas e lagos foram reabilitados para uso de famílias e de gado.
Cinco caminhões-tanques que haviam sido doados pelo CICV em 2010 continuaram
sendo usados em Deir Ez Zor e Al-Hassakeh. Em áreas de difícil acesso aos
caminhões, ou onde não foram financeiramente viáveis, foram escavados
reservatórios subterrâneos e construídas plantas de tratamento de água de osmose
reversa (CICV, 2012).
Em setembro foi realizada a primeira visita dos delegados do CICV a
detentos sob a jurisdição do Ministério do Interior na prisão central de Damasco, na
qual 23 detentos foram atendidos em entrevistas privadas (CICV, 2012). Discussões
envolvendo autoridades competentes do governo sírio e o Comitê a respeito dos
benefícios que detentos poderiam receber do CICV foram desenvolvidas (CICV,
2012).
Hospitais privados e públicos receberam suprimentos e equipamentos
médicos do CICV. Porém, os feridos e doentes que não tinham como acessar os
hospitais, por condições físicas ou receio dos conflitos, se tornaram cada vez mais
dependentes das equipes médicas do SARC (CICV, 2012).
Quatro unidades móveis de saúde foram doadas pelo CICV, e algumas
pessoas puderam ser atendidas. Os casos mais graves foram removidos a hospitais
por uma ambulância que também foi doada (CICV, 2012).
Treinamentos e capacitações para a equipe da Sociedade Nacional foram
realizados. Treze voluntários foram treinados em primeiros-socorros e acesso
seguro e 72 médicos voluntários participaram de treinamento de cirurgiões de
Genebra, no qual receberam um kit para cirurgias pequenas (CICV, 2012).
Durante o ano, o então presidente do CICV Jakob Kellenberger visitou a
Síria. Após sua primeira visita, em Junho, na qual o presidente se reuniu com o
Primeiro Ministro sírio, maior acesso às áreas afetadas pelo conflito foi concedido ao
Comitê. Em sua segunda visita, Jakob Kellenberger encontrou-se com o presidente
Bashar Al-Assad, em setembro, para dar prosseguimento às discussões sobre a
situação humanitárias no país (CICV, 2012).
Com apoio do CICV, foram realizados seminários para aprimorar o
conhecimento de 200 juízes na matéria de Direito Internacional Humanitário e
46
PROTEÇÃO
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha (MCV)
MCVs coletadas 145
MCVs distribuídas 126
Telefonemas facilitados entre familiares 2
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 793
Restos humanos transferidos/repatriados 3
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 112
Pessoas localizadas 44
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 80
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 257
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 172
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados e monitorados individualmente 23
Detentos recém registrados 23
Número de visitas realizadas 1
Número de locais de detenção visitados 1
Fonte: CICV (2012). Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2012
47
Figura 4 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2011 na Síria em mil CHF
PROTEÇÃO
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha (MCV)
MCVs coletadas 25
MCVs distribuídas 3
Telefonemas facilitados entre familiares 2
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 203
Restos humanos transferidos/repatriados 3
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 469
Pessoas localizadas 246
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 309
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 151
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 30
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados e monitorados individualmente 113
Detentos recém registrados 90
Número de visitas realizadas 1
Número de locais de detenção visitados 1
Fonte: CICV (2013). Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2013.
51
Figura 5 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2012 na Síria em mil CHF
PROTEÇÃO
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha (MCV)
MCVs coletadas 8
MCVs distribuídas 6
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 36
Restos humanos transferidos/repatriados 1
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 747
Pessoas localizadas 239
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2013 873
55
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 49
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 24
Fonte: CICV, 2014. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2014.
Figura 6 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2013 na Síria em mil CHF
(CICV, 2015). Cuidado preventivo e curativo foi disponibilizado para cerca de 7 mil
pessoas por mês. A policlínica da Sociedade Nacional em Hama realizou em média
mil consultas por mês (CICV, 2015). Quatro centros de reabilitação em Alepo
receberam ataduras, muletas (400 pares) e cadeiras de rodas (50 unidades) (CICV,
2015).
As tabelas abaixo trazem dados detalhados dos atendimentos possibilitados
pela ação do CICV na Síria em 2014.
PROTEÇÃO 2014
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha
MCVs coletadas 10
MCVs distribuídas 35
Telefonemas facilitados entre familiares 1
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 60
Restos humanos transferidos/repatriados
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 2.184
Pessoas localizadas 252
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 4.108
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 39
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 16
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados 10.254
Detentos visitados e monitorados individualmente 111
Detentos recém registrados 105
Número de visitas realizadas 4
Número de locais de detenção visitados 4
MCVs coletadas 12
MCVs distribuídas 10
Telefonemas para familiares para informar paradeiro de um parente detento 238
Fonte: CICV, 2015. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2015.
60
Figura 7 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2014 na Síria em mil CHF
Alepo, Deir Ez Zor, Hama, Homs, Idlib, Damasco Rural, Sweida e Tartus (CICV,
2016). O CICV trabalhou em parceira com autoridades locais para refrear doenças
contagiosas, o que incluiu medicamento para centros de tratamento (CICV, 2016).
Mosqueteiros foram doados e 29 médicos do SARC foram treinados para e
tratar leishmaniose (CICV, 2016). Cerca de 120 mil pessoas receberam do CICV e
Sociedade Nacional suprimentos para tratamento para piolho (CICV, 2016).
Detentos em nove prisões centrais receberam visitas do CICV, incluindo um
centro de reabilitação juvenil que visitado pela primeira vez (CICV, 2016). O CICV
reuniu-se com 164 detentos individualmente, e a condições de tratamento e vida foi
monitorada nesses casos (CICV, 2016). Alguns grupos armados permitiram que o
CICV visitasse as pessoas em sua custódia, mas as visitas não ocorreram pela
situação de insegurança (CICV, 2016).
Suprimentos essenciais, como vestimenta, itens de higiene, foram
distribuídos a aproximadamente 17 mil detentos; 10.100 detentos foram beneficiados
com reparos aos sistemas de água, aquecimento, iluminação e ventilação em várias
prisões (CICV, 2016). Os atendimentos fizeram parte de projetos que visavam aliviar
as condições de vida dos detentos, o que incluiu doação de medicamentos (CICV,
2016).
Em outubro, pessoas em quatro áreas sitiadas receberam suprimentos
médicos do CICV e centenas de feridos dessas áreas foram evacuadas em
dezembro pelos esforços do CICV, SARC e Nações Unidas (CICV, 2016).
Vários hospitais mantiveram seus serviços com apoio temporário do CICV.
Três hospitais em Alepo e Deir Ez Zor receberam medicamentos, kits obstetrícios e
outros suprimentos; um hospital em Hassaeh e dois em Tartus receberam estojos
cirúrgicos (CICV, 2016).
Suprimentos para 7450 sessões de hemodiálise foram distribuídos a dez
instalações; geradores de energia elétrica doados mantiveram quinze hospitais e
clínicas funcionando, apesar da falta de energia em Alepo, Damasco, Hama e Homs;
cinco hospitais em Alepo receberam materiais e apoio de manutenção para seus
equipamentos biomédicos (CICV, 2016).
Serviços de reabilitação física foram disponibilizados a 945 pessoas em
centro especializado em Damasco, gerenciado pelo SARC com apoio do CICV. Em
Alepo, 245 pessoas com deficiências físicas receberam tratamento numa clínica de
64
PROTEÇÃO 2015
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha
MCVs coletadas 16
MCVs distribuídas 7
Telefonemas facilitados entre familiares
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 126
Restos humanos transferidos/repatriados
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 1.921
Pessoas localizadas 230
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 5.720
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 14
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 20
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados 15.297
Detentos visitados e monitorados individualmente 164
Detentos recém registrados 118
Número de visitas realizadas 10
Número de locais de detenção visitados 10
MCVs coletadas 60
MCVs distribuídas 29
Telefonemas para familiares para informar paradeiro de um parente detento 235
Fonte: CICV, 2016. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2016.
Figura 8 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2015 na Síria em mil CHF
Assistência
126.647,00
Prevenção
Cooperação com
Sociedades Nacionais
171,00 Geral
2.180,00
3.132,00
3.500,00 3.132,00
2.964,00
3.000,00
2.323,00
2.500,00
1.788,00
2.000,00
1.500,00 1.081,00
1.000,00
500,00
-
2011 2012 2013 2014 2015
126.647,00
140.000,00
120.000,00 100.186,00
100.000,00
71.611,00
80.000,00
60.000,00
31.342,00
40.000,00
20.000,00 1.238,00
-
2011 2012 2013 2014 2015
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
71
Percebeu-se sobretudo a complexidade da República Árabe da Síria, a
dificuldade e a necessidade de um maior aprofundamento sobre sua história, que
está intimamente ligada aos atuais desdobramentos dos conflitos, e a perpetuação
dele por meio de influências externas, com a Rússia e a Arábia Saudita.
No capítulo 3 buscou-se mostrar os diferentes tipos de trabalhos realizados
pelo CICV na Síria, os mais relevantes e as dificuldades encontradas pelo Comitê na
realização de suas atribuições como organização humanitária. A esse respeito,
verificou-se que as atividades de assistência, que incluem distribuição de alimentos,
água, serviços médicos e hospitalares, foram os mais expressivos no período
estudado.
Tendo em vista a escassa, se não inexistente contribuição acadêmica a
respeito do trabalho do CICV na Síria, seja o recorte temporal qual for, buscou-se
realizar essa pesquisa para servir como análise inicial do tema, quando houver
interesse em aprofundar-se no assunto.
No que condiz à participação do CICV na Síria, em conjunto com a
Sociedade Nacional, foi possível notar o alinhamento dos trabalhos dessas
organizações em busca do atendimento imparcial de vítimas do conflito. Também a
dedicação da equipe que ali trabalha que, mesmo sob o perigo iminente, continua a
expandir os atendimentos realizados, tanto em número quanto em tipo. Analisa-se
essa participação como positiva no aspecto de oferecer ajuda humanitária aos
afetados pelo conflito.
Entretanto, o contínuo desrespeito ao Direito Internacional Humanitário em
conflitos como o apresentado traz questionamentos a respeito da eficácia das
normas humanitárias e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, na sua atribuição
de guardião do DIH, em fazer com que as partes contratantes cumpram os tratados
e acordos a esse respeito.
Tendo em vista a continuidade do conflito interno na Síria, o agravamento da
situação humanitária e novos desdobramentos no país, principalmente no ano de
2016, existe a intenção de dar continuidade a esta pesquisa em outro momento, de
forma a aprofundar a discussão e estender o recorte temporal a um mais atual.
71
REFERÊNCIAS
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factbook/graphics/maps/sy-map.gif> Acesso em: 15 ago. 2016;
72
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74
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Relatório recebido por email;
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