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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO


CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS
COORDENAÇÃO DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ANANDA GABRIELLE DE OLIVEIRA E OLIVEIRA CRUZ

A ATUAÇÃO DO COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA NA SÍRIA –


2011 A 2015

BOA VISTA, RR
2017
ANANDA GABRIELLE DE OLIVEIRA E OLIVEIRA CRUZ

A ATUAÇÃO DO COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA NA SÍRIA –


2011 A 2015

Monografia apresentada como pré-requisito


para a conclusão do curso de Bacharelado
em Relações Internacionais do Departamento
de Relações Internacionais da Universidade
Federal de Roraima.
Orientador: Prof. Ms. Gustavo Frota Simões

BOA VISTA, RR
2017
ANANDA GABRIELLE DE OLIVEIRA E OLIVEIRA CRUZ

A ATUAÇÃO DO COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA NA SÍRIA


– 2011 A 2015

Monografia apresentada como pré-requisito


para a conclusão do curso de Bacharelado
em Relações Internacionais do
Departamento de Relações Internacionais da
Universidade Federal de Roraima.
Orientador: Prof. Ms. Gustavo Frota Simões

Prof. Msc. Gustavo Frota Simões

Orientador/ Curso de Relações Internacionais – UFRR

Profª. Msc. Julia Faria Camargo


Curso de Relações Internacionais – UFRR

Prof. Dr. Francisco Gomes


Curso de Relações Internacionais – UFRR
Aos que
deram suas
vidas para que
outras fossem
salvas.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de aproveitar a ocasião para estender a minha gratidão


Aos meus pais que me deram toda oportunidade de ingressar e concluir o
curso, que me deixaram e buscaram nas aulas, que me ensinaram o valor do
trabalho duro e o poder da persistência. Que abriram mão do lazer e descanso
próprio pra que eu pudesse ter o meu. Aos meus irmãos, Anderson, Amanda e
Junior, que me desafiaram, que contribuíram pra que eu chegasse aqui,
principalmente no último mês desafiador.
Aos meus professores da graduação, por acrescentarem em muito na
minha vida. que me inspiraram na vida acadêmica. Em especial ao professor
Gustavo, que teve sempre o cuidado de buscar o melhor, me orientou, me atendeu
em tempo curto e contribuiu para a execução deste trabalho com a sua
experiência e conhecimento.
Aos meus colegas de turma – de todas elas. Pelas horas na biblioteca,
pelos empréstimos de livro nos vossos nomes, pelas saídas do campus pra
lanchar, pelos trabalhos feitos juntos, pelas risadas. Sem vocês não teria graça.
Aos meus amigos que me influenciaram, apoiaram. Que se fizeram
presentes em orações, fisicamente e intelectualmente durante toda a graduação.
A Hariely, que é um dos melhores presentes que ganhei nessa jornada de
RI. Companheira de alegrias, tristezas, sonhos e realizações. Melhor amiga não há
nessa terra.
A Iamar, que foi uma das que me sugeriram RI. Aconselhou-me, passou
os bizus dos professores, foi exemplo de dedicação, de cuidado e apoio. Foi uma
alegria, um prazer ser sua caloura e poder te chamar de amiga.
Ao Frank, que viu o que eu não vi e me incentivou a ir em frente. Que foi
paciente e também exigente, que esteve presente e soube se ausentar. Que me
alimentou com doce quando eu queria.
Ao meu Deus, me deu minha família, meus amigos, a oportunidade da
graduação e os presentes que ganhei com ela. Ele é quem me capacita e me dá
forças. Só a Ele a glória.
RESUMO

O aumento da participação de atores não estatais nas Relações Internacionais tem


se tornado cada vez mais relevante. A atuação de Organizações Internacionais
Não Governamentais (OINGs) é relativamente nova, e resulta do maior
envolvimento de indivíduos particulares no cenário internacional. Uma dessas
OINGs, O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), entre outras atribuições,
age de forma a proteger o Direito Internacional Humanitário, bem como zelar pela
vida e dignidade das pessoas em tempo de conflito, seja ele interno ou
internacional. Como o conflito atual na Síria tem se mostrado um dos mais
relevantes conflitos do século XXI, buscou-se apresentar as causas históricas e
contextuais para tal conflito, bem como a repercussão da guerra para a população
síria, para então mostrar a atuação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha
durante a guerra civil que se iniciou em março de 2011. Para este propósito foram
feitas análises de relatórios publicados pelo CICV, e demais documentos que
abordaram a atuação da Organização na Síria no período de 2011-2015. A partir
de ditas análises, concluiu-se que a atuação do CICV na Síria cresceu de 2011 a
2015, na tentativa de acompanhar a também crescente necessidade de ajuda
humanitária no país.

Palavras chave: Cruz Vermelha; Síria; Direito Internacional Humanitário.


ABSTRACT

The increase in the participation of non-state actors in International Relations has


become increasingly relevant. The work of Non-Governmental International
Organizations (NGIOs) is relatively new, and results from the greater involvement
of private individuals in the international scenario. One of these NGOs, the
International Committee of the Red Cross (ICRC), among other tasks, acts to
protect International Humanitarian Law, as well as to ensure the life and dignity of
people in times of conflict, whether internal or international. As the current conflict
in Syria has proved to be one of the most relevant conflicts of the 21st century, it
was sought to present the historical and contextual causes for said conflict, as well
as the repercussion of the war for the Syrian population, to show the work of the
International Committee of the Red Cross during the civil war that began in March
2011. For this purpose, analyzes of ICRC-published reports and other documents
covering the work of the Organization in Syria in the period 2011-2015 were made.
Based on these analyzes, it was concluded that the ICRC's work in Syria grew from
2011 to 2015, in an attempt to keep up with the growing need for humanitarian aid
in the country.

Keywords: Red Cross; Syria; International Humanitarian Law.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Divisão administrativa da Síria ...................................................


31
Figura 2 - Divisão do território Sírio durante o mandato francês.................. 33

Figura 3 - Áreas de Disputa entre o governo e oposição – agosto de 2013. 39

Figura 4 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2011 na Síria em mil


CHF............................................................................................... 47
Figura 5 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2012 na Síria em mil
CHF............................................................................................... 51
Figura 6 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2013 na Síria em mil
CHF............................................................................................... 56
Figura 7 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2014 na Síria em mil
CHF............................................................................................... 61
Figura 8 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2015 na Síria em mil
CHF............................................................................................... 66
Figura 9 - Gastos do CICV com Proteção na Síria em mil CHF..................
67

Figura 10 - Gastos do CICV com Assistência na Síria em mil CHF..............


67
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2011 na


Síria.................................................................................................. 46
Tabela 2 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2011 na
Síria.................................................................................................. 47
Tabela 3 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2012 na
Síria.................................................................................................. 50
Tabela 4 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2012 na
Síria.................................................................................................. 51
Tabela 5 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2013 na
Síria.................................................................................................. 54
Tabela 6 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2013 na
Síria.................................................................................................. 55
Tabela 7 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2014 na
Síria.................................................................................................. 59
Tabela 8 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2014 na
Síria.................................................................................................. 60
Tabela 9 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2015 na
Síria.................................................................................................. 64
Tabela 10- Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2015 na
Síria.................................................................................................. 64
LISTA DE ABREVIATURAS

CAI Conflito Armado Internacional


CANI Conflito armado não internacional
CHF Francos Suíços
CIA Agência central de inteligência
CICV Comitê Internacional da Cruz Vermelha
DIH Direito Humanitário Internacional
IDP Pessoas Deslocadas Internamente
MCV Mensagens Cruz Vermelha
MSF Médicos Sem Fronteiras
OI Organização Internacional
OING Organização Internacional Não Governamental
RAU República Árabe Unida
RI Relações Internacionais
SARC Crescente Vermelho Árabe Sírio
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 11
2 CONCEITOS RELEVANTES NA ATUAÇÃO DA CRUZ VERMELHA 14
NA SÍRIA...............................................................................................
2.1 MUDANÇAS NOS ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.. 14
2.2 A GLOBALIZAÇÃO E OS ATORES NÃO ESTATAIS........................... 16
2.3 SOCIEDADE CIVIL GLOBAL E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS 18
NÃO GOVERNAMENTAIS.....................................
2.4 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO INTERNACIONAL 21
DA CRUZ VERMELHA E CRESCENTE VERMELHO..........................
2.5 BREVE INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 25
HUMANITÁRIO.....................................................................................
2.6 CONFLITOS ARMADOS...................................................................... 27
3 O CONFLITO INTERNO NA SÍRIA....................................................... 31
3.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO CONFLITO........................................... 31
3.2 DE PRIMAVERA ÁRABE À GUERRA CIVIL........................................ 37
3.3 CINCO ANOS DE CRISE NA SÍRIA (2011-2015)................................. 42
4 O COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA NA SÍRIA 44
ENTRE 2011 E 2015.............................................................................
4.1 AS AÇÕES DO CICV NA SÍRIA.......................................................... 45
4.1.1 Ano de 2011.......................................................................................... 45
4.1.2 Ano de 2012.......................................................................................... 49
4.1.3 Ano de 2013.......................................................................................... 53
4.1.5 Ano de 2014.......................................................................................... 56
4.1.6 Ano de 2015.......................................................................................... 61
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 69
REFERÊNCIAS...................................................................................... 71
11

1. INTRODUÇÃO

O Oriente Médio hoje é palco das principais crises governamentais que


abalam o mundo, sendo possível citar a Líbia e Iraque como exemplos. Sendo
considerado o berço da humanidade, e originador das principais religiões
monoteístas – Islamismo, Cristianismo e Judaísmo, o Oriente Médio chama a
atenção Internacional principalmente por conflitos religiosos históricos. Um desses
conflitos, mas que se destaca pelo seu caráter político e social, é o da Síria. Com
mais de seis anos de duração, a situação humanitária da Síria é grave.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) teve como fundador Henri
Dunant, cidadão suíço que, comovido pela falta de assistência aos soldados feridos
em combate, escreveu um livro relatando os horrores da batalha de Solferino,
mobilizando a comunidade internacional a tomar providências para que o
atendimento aos feridos em guerra fosse disponibilizado, que a proteção de não
combatentes fosse garantida e, também, solicitando o compromisso escrito dos
Estados com estas causas. Em 1863 foi então fundada a organização que viria a ser
o CICV.
Dada a gravidade do conflito interno na Síria e a necessidade em assistência
humanitária, a presente pesquisa tem por objetivo compreender a relevância da
atuação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Síria desde o início dos
conflitos em 2011 até 2015. Para isso,
Justifica-se então a intenção da pesquisa pelo interesse pessoal no Direito
Internacional como campo de estudo, sendo vasta a abrangência na área das
Relações Internacionais, e fundamental sua contribuição para a ordenação e
construção da sociedade internacional e sociedade civil. Inserindo-se o Direito
Humanitário no Direito Internacional, é conveniente a escolha do tema.
Tendo em vista a constante presença de temas humanitários na agenda
internacional, e não apenas sua presença, mas também sua gravidade e importância
nos contextos doméstico e internacional justifica-se essa pesquisa como relevante
para o fim proposto.
Justifica-se também o recorte temporal tendo em vista que os conflitos
iniciaram-se no ano de 2011 e os documentos que serão analisados datam até
12

2015, sem ter sido publicado mais recente relatório do CICV em tempo hábil para a
conclusão desta pesquisa.
Para a realização deste trabalho, será aplicado o método indutivo, que
segundo Maria Margarida de Andrade (2010) é uma cadeia de raciocínio que
estabelece conexão ascendente, partindo do particular para o geral.
Procedimentalmente será empregado o método histórico, que consiste em
investigar os acontecimentos, processos e instituições do passado, para verificar sua
influência na sociedade de hoje (ANDRADE, 2010), descrevendo o processo
histórico da criação do CICV. Igualmente, será feito um estudo de caso, que é o
estudo de determinados indivíduos, grupos ou instituições com a finalidade de obter
generalizações (ANDRADE, 2010), sendo então a atuação do CICV na Síria o alvo
da pesquisa.
Será aplicada a análise de documentação indireta como técnica para esta
pesquisa, fazendo uso de pesquisas bibliográficas exploratórias, por meio de livros,
sites oficiais e artigos científicos, as Convenções de Genebra e seus Protocolos
Adicionais, manuais de Direito Internacional e documentos oficiais do CICV.
O primeiro capítulo apresenta conceitos importantes para compreender a
definição de uma organização como a Cruz Vermelha. Tendo em vista que o CICV
não é uma Organização Internacional, por não ser formada por Estados, nem
Organização Não Governamental, por ter alcance além das fronteiras nacionais de
origem, buscou-se identificar o CICV como organização que possui personalidade
jurídica no direito internacional, e apresentar elementos que o caracterize como uma
Organização Internacional Não Governamental, criada a partir dos esforços da
sociedade civil, e que tem significante participação nas Relações Internacionais.
No segundo capítulo serão explorados os fatores que contribuíram para o
início e perpetuação dos conflitos na Síria, como a formação religiosa da população,
o regime político da família Assad, e os movimentos populares influenciados pela
Primavera Árabe. Também será abordada a questão de alianças externas que
perpetuam o conflito e impedem que seja resolvido. E, finalmente, serão
apresentados dados estatísticos da situação na Síria após cinco anos do início dos
conflitos.
No terceiro capítulo são abordadas as atividades realizadas pelo CICV na
Síria entre 2011 até 2015, trazendo uma descrição dos principais trabalhos em
assistência humanitária, como distribuição de cestas básicas, melhorias de redes
13

sanitárias, atendimento médico emergencial e acompanhamento de detentos.


Também são apresentados os gastos realizados pelo CICV em cada ano, e o
balanço de gastos nos cinco anos analisados.
14

2. CONCEITOS RELEVANTES NA ATUAÇÃO DA CRUZ VERMELHA NA SÍRIA

Neste capítulo inicial, pretende-se abordar conceitos considerados


importantes para melhor compreensão dos temas que serão abordados nos
capítulos seguintes. Tendo em vista a necessidade de um embasamento teórico
como requisito de um trabalho acadêmico, optou-se por utilizar conceitos pontuais
que venham a situar a cientificidade do presente trabalho.
Procura-se caracterizar o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV)
como ator das Relações Internacionais, e descrever suas principais atividades. Para
alcançar tal objetivo serão apresentados o histórico e a natureza institucional do
CICV.
A temática da participação de atores não estatais nas Relações
Internacionais, tanto com o propósito de situar o CICV, e também com o intuito de
apresentar características dos eventos que levaram à situação de crise na Síria é
apresentada. Demais temas, como globalização e Direito Internacional Humanitário,
bem como a conceituação de conflito e guerra, são trabalhados para alcançar
melhor compreensão do trabalho.

2.1 MUDANÇAS NOS ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Ao longo dos últimos anos, os estudos das Relações Internacionais (RI) tem
encontrado novos desafios. Antes, o Estado era entendido como o principal, quando
não único, ator das RI, agindo de acordo com seus interesses, soberano sobre seu
território e interagindo com outros Estados. As Relações Internacionais, então, eram
entendidas como as relações de Estados, e esse paradigma estabelecido em
Vestfália (1648)1 foi seguido por três séculos (SEITENFUS, 2004).
Mudanças no cenário internacional provocaram novos paradigmas, novas
maneiras de ver o mundo e interpretar seus diferentes desdobramentos. A
estabilidade hegemônica, defendida por Gilpin (1981) já não compreendia as

1 A Paz de Vestfália, de 1648, foi um acordo que reconhece o Estado como poder supremo dentro de
fronteiras estabelecidas (HERZ,1997)
15

Relações Internacionais, apesar do Sistema Internacional ainda ter necessidade de


uma autoridade central, como corroboram Barros-Platiau, Varella e Schleicher
(2004).
Tais mudanças foram marcadas pelo surgimento de novos atores que
vieram para disputar a voz no diálogo internacional (SEITENFUS, 2004). O
surgimento de Organizações Internacionais (OIs), principalmente Organizações Não
Governamentais (ONGs), ou seja, sem laços com governos, independentes dos
Estados, enfraqueceram o monopólio que os Estados tinham nas Relações
Internacionais.
Ainda que o intuito seja discorrer a respeito de uma organização que existe
há mais de 100 anos, e por isso não seja tão nova como o termo possa sugerir, é
importante esclarecer que o termo “novos atores” é usado aqui para diferenciar no
tocante ao tradicional pensamento de Estados como os atores das Relações
Internacionais. Assim, o termo “novos atores” é usado para designar atores que não
os Estados.
O alcance desses novos atores chega até mesmo em assuntos internos aos
Estados. Nas palavras de Reis (2007): “questões que eram antes consideradas
como assuntos fundamentalmente domésticos passam a adquirir relevância
internacional, tornando mais fluída a barreira que separa a política interna da
externa” (REIS, 2007, p.15).
Evangelista (2006) vê essas mudanças no cenário internacional e
exemplifica a participação dos novos atores, identificando grupos que agora tomam
parte nas Relações Internacionais. Em suas palavras:
Novos atores passam a ganhar mais espaço no cenário internacional. Se
parte desses processos alteraram as atribuições e o papel dos Estados
nacionais, ator importante no sistema internacional, também surgem outros
atores não-estatais, reivindicando novos espaços públicos de participação
internacional, antes concentrados no ator central, o Estado-nação
(Coronado, 2003, apud EVANGELISTA, 2006, p.24). Grupos de mulheres,
ambientalistas, indígenas, associações locais, movimentos sociais,
sindicatos, grupos religiosos, organizações não-governamentais dos mais
diferentes perfis, passam a ganhar visibilidade internacional e a demandar
participação e atuação nesse “espaço público mundial” que aos poucos
passa a ser ocupado também por estes “novos atores”, os atores não-
estatais. (EVANGELISTA, 2006, p.24).

É interessante notar que alguns desses novos atores tem a característica de


serem não estatais, o que quer dizer que não possuem vínculo com o Estado e nem
representam os interesses do Estado. Atores não estatais exercem influência na
16

opinião pública internacional e pressionam os Estados a tomarem decisões que


estejam de acordo com o interesse desse público internacional.
Mas quem são esses atores não estatais? Como se organizam para exercer
influência no Sistema Internacional? Esses atores, primeiramente, são formados por
pessoas, indivíduos particulares. E a participação direta e indireta de indivíduos
trouxe novas formas de se pensar as Relações Internacionais.

2.2 A GLOBALIZAÇÃO E OS ATORES NÃO ESTATAIS

Mas como foi dito, a participação de atores não estatais não vem desde o
início reconhecido das Relações Internacionais. Nem sempre houve o espaço
apropriado para que esses grupos se desenvolvessem. Foram necessários alguns
fatores que promovessem o diálogo entre esses indivíduos particulares para que se
organizassem de forma a influenciar as RI. Um dos fatores essenciais para criar um
ambiente que favorecesse o fortalecimento de atores não estatais foi a globalização.
Não há uma única definição para o que seja globalização. É um fenômeno
“entendido como um processo não exclusivamente econômico, mas também que
envolve aspectos sociais, culturais, políticos e pessoais” (GOLÇALVES, 2005, p.4).
Dessa forma, o objetivo deste trabalho não é apresentar um conceito de
globalização, mas analisar como suas consequências afetaram as Relações
Internacionais no tocante a participação de atores não estatais.
Evangelista (2006) apresenta a definição de autores como Castell e Beck,
que lidam com a globalização a partir da ideia de um processo, algo que é dinâmico
e está em constante movimento. Assim, a globalização envolve processos que se
intensificam e aprofundam a todo momento. (CASTELL, BECK apud
EVANGELISTA, 2006).
Keohane (2001) define globalização, de forma geral, como o encolhimento
da distância em escala mundial por meio da emergência e estreitamento das redes
de conexões, sejam elas econômicas, ambientais ou sociais.
Além de se intensificarem, esses processos estão interligados. Muitas vezes
não é possível diferenciar causa de consequência da globalização. As inovações
tecnológicas, principalmente no setor de comunicação – internet, telefonia móvel,
17

espaços online para expor opiniões livremente, como blogs e vlogs - causaram
transformações no espaço social. No entanto, quanto mais inovação tecnológica,
mais globalização acontece. E quanto mais globalização, mais necessidade de
inovação tecnológica existe.
A partir deste pensamento, é possível destacar o papel dos meios de
comunicação e informação como causa e efeito da globalização. A facilidade e
instantaneidade do acesso à informação, ainda que não seja uma realidade
homogênea, afetou o modo de realizar política, a princípio em esfera interna, mas
logo transbordando para o âmbito internacional. Em um mundo cada vez mais
interconectado, com fluxo constante e acelerado de informações, que apresenta
mudanças quase que instantâneas, os pilares das Relações Internacionais2 são
repensados (EVANGELISTA, 2006).
Há então a viabilidade de indivíduos particulares estabelecerem a
comunicação necessária para impulsionar a participação nas Relações
Internacionais, indo além dos limites do Estado. Evangelista (2006) expõe sua
análise da seguinte forma:
Quando observados os elementos da vida cotidiana, um grande número de
análises caracteriza a globalização a partir de uma percepção geral de que
o mundo, impulsionado por forças econômicas e tecnológicas, está
rapidamente se transformando em um grande espaço social compartilhado,
no qual realidades sociais, dinâmicas políticas e estruturas econômicas
estão cada vez mais conectadas, integradas e, consequentemente,
interdependentes (EVANGELISTA, 2006, p.18).

Inclusive, o efeito das mídias de comunicação pode ser visto no contexto da


Primavera Árabe, levando ao cenário de conflito na Síria. Stepanova (2011)
identifica as mídias de comunicação como facilitadora dos protestos iniciados em
2011. Este tópico será melhor abordado no capítulo seguinte.
É importante estabelecer também que o fenômeno da globalização é tratado
como um dos fatores que contribuíram para uma maior integração de atores não
estatais seja na esfera interna ou internacional. O que não quer dizer que foi apenas
a partir da percepção de globalização que atores não estatais tiveram o espaço da
participação nas RI, e sim que essa participação se intensificou e se tornou mais
evidente.
Assim, a globalização é tratada neste trabalho como o conjunto de
processos que aproximaram os indivíduos sociais, diminuíram as fronteiras dos

2 Territorialidade, autonomia, soberania e legalidade.


18

Estados e alteraram a maneira de se fazer Relações Internacionais. A constante


intensificação dos processos foi essencial para a viabilidade de um espaço social
compartilhado, criando um sentimento de pertencimento ao internacional, e não
apenas ao nacional.

2.3 SOCIEDADE CIVIL GLOBAL E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS NÃO


GOVERNAMENTAIS

Foi por meio da aproximação da comunicação global que os indivíduos


particulares puderam se inserir como atores das Relações Internacionais; hoje é
possível notar que cada vez mais os indivíduos particulares tomam força no cenário
internacional como atores e influenciadores de pensamentos. É nesse contexto que
surge o conceito de Sociedade Civil Global.
Kaldor (2003) traz a ideia de que o termo Sociedade Civil Global só foi
utilizado realmente a partir da década de 1990, apesar de argumentar que quase
todos conceitos de política modernos, como o de Sociedade Civil, podem ser
rastreados de volta até Aristóteles.
A princípio, o termo Sociedade Civil era usado para se referir a um tipo de
Estado caracterizado por um contrato social. Foi no século XIX que o conceito de
Sociedade Civil se emancipou do Estado e, no século XX, passou a ser entendida
como uma sociedade baseada em um contrato social entre indivíduos (KALDOR,
2003).
Em suas próprias palavras, Kaldor (2003) escreve que Sociedade Civil:
[…] is the process through which individuals negotiate, argue, struggle
against or agree with each other and with the centres of political and
economic authority. Through voluntary associations, movements, parties,
unions, the individual is able to act publicly (KALDOR, 2003, p.585).

Todavia, até então, Sociedade Civil estava ligada à territorialidade, mais


precisamente dentro dos limites do Estado. Foi nas décadas de 1970 e 1980 que
essa ligação com o território estatal foi quebrada e foi adicionado um sentido global
à Sociedade Civil. Esse foi justamente o período da interconectividade crescente,
mesmo antes do advento da internet (KALDOR, 2003).
19

Com o fim da Guerra Fria (1945-1989), ocorreram alterações no significado


de Sociedade Civil Global, e Kaldor chega a uma definição, que descreve como
[…] a platform inhabited by activists (or post-Marxists), NGOs and
neoliberals, as well as national and religious groups, where they argue
about, campaign for (or against), negotiate about, or lobby for the
arrangements that shape global developments. There is not one global civil
society but many, affecting a range of issues—human rights, environment
and so on. It is not democratic; […] It is also uneven and Northern-
dominated. Nevertheless, the emergence of this phenomenon does offer a
potential for individuals—a potential for emancipation. It opens up closed
societies, as happened in Eastern Europe and Latin America, and it offers
the possibility to participate in debates about global issues. And it is my view
that the emergence of this phenomenon—this new global system—makes
the term ‘international relations’ much less appropriate (KALDOR, 2003,
p.590-591).

Sobre a análise de Kaldor (2003), Evangelista (2006) afirma que a ideia de


Sociedade Civil Global ganha força no contexto do pós-Guerra Fria. Com fim deste
conflito global, que fez uso de ideologias que suprimiam vozes críticas, os indivíduos
e grupos passam a participar de processos de interação e negociação entre Estados
e instituições internacionais (EVANGELISTA, 2006).
Sendo assim, a Sociedade Civil Global é formada por indivíduos ou classes
civis que agem além das fronteiras dos Estados. Elas se originam de atos
voluntários e tem objetivos políticos, e não econômicos. Ela pode ser apresentada
em diferentes faces, e uma delas é a de Organizações Internacionais Não
Governamentais (OINGs) (HERZ; RIBEIRO-HOFFMAN, 2004), que são
organizações que ultrapassam os limites físicos do Estado, e não tem vínculo com
governos, antes agem como influenciadoras das ações estatais. Nas palavras de
Joviles Trevisol:
Em geral, as ONGIs influenciam politicamente de duas maneiras.
Pressionando os governos nacionais, elas influenciam a postura deles nas
negociações internacionais. Em segundo lugar, através de uma presença
ativa como observadores cadastrados no sistema da ONU, as ONGs
acompanham o processo de discussão, influenciando, assim, outras
delegações governamentais (TREVISOL, 2003, p.10).

As Organizações Internacionais Não Governamentais tem papel cada vez


mais importante no cenário internacional (BARROS-PLATIAU; VARELLA;
SCHLEICHER 2004). Assim como Organizações Internacionais, que são
associações voluntárias de Estados, (SEINTENFUS, 2004), as OINGs possuem uma
estrutura burocratizada, com sede física, regras próprias (KEOHANE, 2001). Mas, ao
contrário das Organizações Internacionais, não são regidas pelos interesses dos
Estados.
20

As OINGs podem se apresentar como associações, sociedades, fundações,


ligas, comitês, entre outras formas (BOLI; THOMAS, 1999). Um dos principais
grupos a ser identificado como OING, para os estudos das Relações Internacionais,
foi o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Esta é uma organização internacional,
de caráter não governamental, que foi fundada por meio do trabalho de um cidadão
suíço, Henri Dunant.
Em seu site, o CICV não se identifica como Organização Internacional nem
como Organização Não Governamental tão pouco como Organização Interestatal, e
sim como “uma agência privada, administrada por um comitê formado por 15 a 25
membros exclusivamente suíços, que estabelecem políticas e traçam estratégias”
(CICV, 2010a).
Apesar desse auto entendimento do que é o CICV, para os estudos das RI,
entende-se que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, e não somente o Comitê,
mas todo o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho,
que compreende as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha, a Federação
Internacional da Cruz Vermelha e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, são
exemplos de Sociedade Civil Global (HERZ; RIBEIRO-HOFFMAN, 2004).
O que justifica tal classificação é a fundação da organização, realizada por
indivíduos particulares, que tinham interesses comuns, e influenciaram Estados a se
comprometerem formalmente com a causa defendida pela organização.
Considerando então o escopo de ação do CICV, que age internacionalmente e livre
de laços estatais, é possível classificá-lo como Organização Internacional Não
Governamental.
Da mesma forma, faz-se primordial saber o que o Comitê Internacional da
Cruz Vermelha é uma organização humanitária imparcial, neutra e independente,
cuja missão é proteger a vida e a dignidade das vítimas de guerra e de violência
interna, e prestar-lhes assistência. Nas situações de conflito, o CICV dirige e
coordena as atividades internacionais de socorro. Mesmo assim, busca prevenir o
sofrimento por meio da promoção e do fortalecimento do direito internacional e dos
princípios humanitários universais (CICV, 2013).
21

2.4 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO INTERNACIONAL DA CRUZ


VERMELHA E CRESCENTE VERMELHO

Henri Dunant, nascido em Genebra, na Suíça, presenciou uma das mais


sangrentas batalhas do século a Batalha de Solferino, que foi um dos embates pela
unificação da Itália em 1859. O combate deixou mais de seis mil mortos, e mais de
trinta e cinco mil feridos e desaparecidos (MEINERO; PERNA, 2015, p.109).
O resultado da batalha chocou Dunant, que mobilizou socorro para as
vítimas do confronto, sem fazer acepção de lados combatentes. A ação desse grupo
de voluntários inspirou a expressão tutti fratelli (todos irmãos), formulada pelas
mulheres da Igreja de Castiglione que participaram no socorro às vítimas
(MEINERO; PERNA, 2015).
Após retornar de viagem, os horrores que Henri Dunant presenciou o
motivaram a escrever um livro, intitulado Recordação de Solferino – Souvenir de
Solférino no original, que foi publicado em 1862. Foi nessa obra que Dunant lançou
a ideia de criar sociedades voluntárias de socorro que agissem em tempo de guerra
na assistência aos feridos (MEINERO; PERNA, 2015).
Sobre o impacto da obra, Cherem (2002) afirma que foi publicado
“provocando significativa comoção não apenas junto à população suíça, mas
também em outros países” (CHEREM, 2002, p.76). Em 1863, o advogado suíço
Gustave Moyner reuniu cinco homens para por em prática as ideias de Dunant. Essa
reunião ficou conhecida como Comitê dos Cinco, e contou com a presença de Henri
Dunant, Gustave Moyner, Louis Appia, Theodore Maunier e Guillaume Dufour. Foi
criado então o Comitê Internacional de Socorro aos Militares Feridos em Tempo de
Guerra, que em 1875 se tornaria o Comitê Internacional da Cruz Vermelha
(MEINERO; PERNA, 2015). Ainda em 1863 o Comitê organizou uma Conferência
Internacional com participação de representantes de Estados europeus e de
organizações internacionais.
A respeito da Conferência Internacional, Cherem destaca o aspecto de
participação dos Estados:
Esse caráter misto, de participação tanto dos governos como de particulares
se mantém até hoje nas Conferências Internacionais da Cruz e do
Crescente Vermelhos, onde participam as delegações das Sociedades
Nacionais, dos Estados partes nas Convenções de Genebra e observadores
de organizações não-governamentais (CHEREM, 2002, p.7).
22

Em 1864, o governo suíço apoiou o Comitê numa conferência diplomática


que tinha como objetivo convocar os Estados para que adotassem como norma com
peso de lei as resoluções estabelecidas na conferência de 1963 (MEINERO;
PERNA, 2015). Com a assinatura da Convenção de Genebra por doze países, pela
ação do CICV, convencionou-se o Direito Internacional Humanitário (MEINERO;
PERNA, 2015).
A Primeira Convenção de Genebra trazia consigo características de ser uma
norma universal, permanente e escrita destinada a proteger as vítimas de conflitos.
É um tratado multilateral, que estabelece a obrigação de assistir os militares feridos
e doentes, sem discriminação, identificando a equipe e material pelo emblema da
cruz vermelha num fundo branco (CRUZ ROJA, 2008).
A necessidade de haver um intermediário neutro em tempo de conflitos se
tornou aparente. Como remediação para essa necessidade foram criadas
Sociedades Nacionais, expandindo o trabalho do CICV nos cinquenta anos
seguintes (CICV, 2010b).
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o CICV criou a Agência
Internacional dos Prisioneiros de Guerra, para restabelecer laços entre soldados
capturados e suas famílias (CICV, 2010b). No período pós-guerra o trabalho do
Comitê teve destaque no repatriamento de cidadãos dos impérios findos, bem como
nas revoluções russa e húngara (1917 e 1919) (MEINERO; PERNA, 2015)
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) as atividades do Comitê se
expandiram grandemente. Foram abertas delegações do CICV em quase todos os
países em conflito, salvo na ex-URSS que não permitiu a entrada de delegados do
Comitê em seu território (CICV, 2010b). O destaque das ações do CICV nesse
período foi para o transporte de suprimentos de emergência para prisioneiros e civis,
bem como trocas de mensagens entre membros de família (MEINERO; PERNA,
2015).
Foi a ação do Comitê durante a Segunda Guerra que se tornou o maior alvo
de críticas à instituição (CHEREM, 2002). O holocausto é considerado pelo CICV
como um fracasso de sua ação (CICV, 2010b).
Muito já se falou sobre a inoperância da Cruz Vermelha Internacional ante
as atrocidades cometidas principalmente nos campos de concentração
alemães. Em razão do conhecimento que se tem da atividade da Cruz
Vermelha, argumenta-se que a omissão do CICV ante o que aconteceu com
o povo judeu na II Grande Guerra é imperdoável, afinal “on hearing of a
fresh disaster, people immediatly ask: ‘Isn't the International Committee
23

doing something?’ or they indignantly exclaim: ‘They're doing nothing -


scandalous!” (CHEREM, 2002, p.80).

No período que sucedeu a guerra, em 1949 o Comitê tomou iniciativa para,


juntamente aos Estados, revisar as Convenções de Genebra existentes, que
cobriam feridos e doentes em conflito, vítimas da guerra marítima e prisioneiros de
guerra. Também foi adicionada uma quarta Convenção, para a proteção de civis que
vivem sob controle inimigo (CICV, 2010b).
No ano de 1977 foram adicionados dois Protocolos às Convenções de
Genebra, sendo o primeiro aplicável em conflitos armados internacionais e o
segundo em conflitos internos. Os Protocolos ainda introduzem leis sobre condução
de hostilidades (CICV, 2010b).
Desde a primeira Convenção de Genebra a ação do CICV evoluiu
consideravelmente. O que começou como uma sociedade para atender soldados
feridos em tempo de guerra passou a prestar assistência em diversas situações,
como a proteção de civis e prisioneiros de guerra (CICV, 2010b).
Hoje, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho é
formado pelas Sociedades Nacionais, pela Federação Internacional das Sociedades
Nacionais e pelo Comitê Internacional Cruz Vermelha. Cada uma dessas
organizações desempenham diferentes papéis (ICRC, s/d, a).
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, fundado em 1863, é responsável
pela coordenação dos trabalhos empenhados pelo Movimento durante conflitos
armados como também em outras situações de emergência. Sua missão é proteger
a vida e dignidade das vítimas de conflitos armados e outras situações de
emergência, bem como prestar-lhes assistência (ICRC, s/d, b).
A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e Crescente
Vermelho, fundada em 1919, coordena a ação das Sociedades Nacionais membros.
Inspira, facilita e promove tais atividades, que envolvem a prestação de assistência à
vitima de desastre naturais e causados pelo homem, à pessoa refugiada e à
pessoas afetadas por emergências sanitárias (ICRC, 2010).
As Sociedades Nacionais, que já são 189 no mundo, agem como
auxiliadoras das forças armadas na prestação de serviços médicos em tempo de
guerra. Os serviços das Sociedades Nacionais são variados, assistindo em
situações de desastres e também em programas sociais e de saúde (ICRC, 2010).
24

Para que não fosse tido o movimento humanitário como um movimento


cristão por causa de seu símbolo (cruz vermelha sobre um campo branco), a pedido
de países islâmicos, a meia lua vermelha sobre o fundo branco, o crescente
vermelho também foi adotado como símbolo (CHEREM, 2002).
O Movimento é regido por três órgãos estatutários: A Conferência
Internacional, o Conselho de Delegados e a Comissão Permanente da Cruz
Vermelha (FADEL, 2012).
A Conferência Internacional ocorre a cada quatro anos e tem por objetivo
examinar as principais questões humanitárias para tomar decisões (FADEL, 2012).
É formada por representantes das Sociedades Nacionais, do Comitê Internacional,
da Federação e dos Estados Partes das Convenções de Genebra.
O Conselho de Delegados reúne-se a cada dois anos, é responsável pelos
pronunciamentos a respeito de “questões de doutrina ou assuntos paradigmáticos a
todos os componentes do Movimento” (FADEL, 2012, p.75). É formado por
representantes do Comitê, da Federação das Sociedades Nacionais.
A Comissão Permanente é formada por nove membros: dois representantes
do Comitê, dois da Federação e cinco representantes eleitos pela Conferência
Internacional. É responsável principalmente pela organização da Conferência
Internacional (papel desenvolvido em conjunto ao Conselho de Delegados) e a
criação de órgãos ad hoc (FADEL, 2012).
São sete os princípios que regem as ações do Movimento: imparcialidade,
neutralidade, universalidade, unidade, humanidade, independência e serviço
voluntário. Hoje, o CICV tem quase 11.800 funcionários em todo o mundo, incluindo
9.500 funcionários locais e mais de 1.300 funcionários internacionais. Cerca de 90%
dos recursos do CICV vêm dos Estados, mas apesar disso a organização é
independente de qualquer governo (CICV, 2010a).
No início de suas atividades, o CICV agia com o atendimento aos feridos em
conflitos armados, sendo uma “situação em que dois ou mais grupos organizados
travam combates armados de caráter internacional ou interno” (CICV, 2006, p.3). E
ao longo dos anos, os trabalhos desenvolvidos pelo CICV se estenderam ao
atendimento às vítimas de desastres naturais, epidemias e, além disso, também
atua “[…] na organização e fortalecimento dos grupos locais para que levem adiante
a linha de trabalho da Cruz Vermelha” (TREVISOL, 2003, p.7).
25

2.5 BREVE INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

Apesar do entendimento de Direito Internacional Humanitário (DIH) estar


ligado à ação do CICV, com a primeira convenção de Genebra em 1864, normas
para a condução de hostilidades já eram usadas mil anos antes de Cristo
(SWINARSKI, 1996). No entanto até a Revolução Francesa, o DIH não era
formalizado tanto quanto consuetudinário (CHEREM, 2002).
Como fonte do Direito Internacional Humanitário está o costume, a
jurisprudência e os tratados (BOUVIER; SASSÒLI, 2011). Cherem (2002) argumenta
que é justamente a característica do DIH ser baseado no costume faz com que o a
proteção às vítimas de conflitos armados seja de elevada importância. Isso se dá
pela ausência de um Estado regulador no âmbito internacional (CHEREM, 2002).
O DIH começou a adquirir característica mais específica ao conter normas
detalhadas sobre a proteção de vítimas de conflitos armados (SWINARSKI, 1996).
A relativa facilidade com que os Estados-membros da comunidade
internacional de então procederam – no ano de 1864 em Genebra - à
codificação e à especificação das primeiras normas que protegeriam os
feridos e doentes no campo de batalha. É uma prova de que, tanto do ponto
de vista dá "opinio júris" e da "opinio necessitaris" — os dois elementos que
constituem uma norma consuetudinária – como do ponto de vista da
conveniência de se aprovar tais normas, a comunidade internacional sentia-
se preparada para estabelecer, mesmo que ainda muito embrionário, um
regime geral de proteção das vítimas da guerra (SWINARSKI 1996, p.7).

Foi com o nascimento do CICV que o DIH moderno foi gerado, e o que antes
era acordado entre Estados, com prazo determinado, passa a ser universal, e
aplicável em qualquer tempo (CHEREM, 2002). Como dito anteriormente, o CICV foi
o idealizador e realizador das Convenções de Genebra, que reuniram Estados para
tratar sobre o Direito Humanitário. São as Convenções de Genebra e seus
Protocolos Adicionais é que regem o DIH. Eles se referem à conduta dos Estados e
às vítimas de guerra, bem como ações específicas do CICV (CHEREM, 2002).
São elas: 1ª Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949 para a
melhoria das condições dos feridos e enfermos das forças armadas em campanha;
2ª Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949 para a melhoria das condições
dos feridos, enfermos e náufragos das forças armadas no mar; 3ª Convenção de
Genebra de 12 de agosto de 1949 relativa ao tratamento dos prisioneiros de guerra
e 4ª Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949 relativa à proteção de civis em
tempo de guerra.
26

Os princípios fundamentais do DIH são identificados por Bouvier e Sassòli


(2011) como seis princípios da humanidade, necessidade, proporcionalidade,
distinção, proibição dos males supérfluos e independência do jus ad bellum e jus in
bello (BOUVIER; SASSÒLI, 2011). Alguns desses elementos podem ser percebidos
no artigo 3º comum às quatro Convenções de Genebra:
As pessoas que não tomem parte diretamente nas hostilidades, incluindo os
membros das forças armadas que tenham deposto as armas e as pessoas
que tenham sido postas fora de combate por doença, ferimentos, detenção,
ou por qualquer outra causa, serão, em todas as circunstâncias, tratadas
com humanidade, sem nenhuma distinção de carácter desfavorável
baseada na raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou
qualquer outro critério análogo (GENEBRA, 1964, p.169-170, art.3º).

O Direito Internacional Humanitário, então, está fundamentalmente voltado a


pessoas, seres humanos, em conflitos armados. Estão presentes, então, nesta
definição, os dois elementos centrais do DIH: as pessoas, como alvo do Direito, e os
conflitos armados, como requisito temporal. A ausência de um desses elementos,
então, descaracterizaria o Direito Internacional Humanitário, como tal (CHEREM,
2002).
Também em cartilha elaborada pelo Comitê, é apresentado o conceito de
DIH como o:
Conjunto de normas que, em período de conflito armado, protegem as
pessoas que não participam, ou deixaram de participar, das hostilidades e
estabelecem limites para os métodos e os meios de guerra empregados,
também conhecido como direito da guerra (CICV, 2006, p.4).

Há um consenso geral sobre os elementos centrais do DIH, acima citados.


Vários autores, mesmo que tragam diferentes definições, umas mais elaboradas,
outras mais sucintas, tendem a concordar que é a proteção da pessoa humana em
tempo de conflito armado que definem o Direito Internacional Humanitário. É
possível dizer que o DIH é “o ramo do Direito Internacional que rege governa os
conflitos armados” (CICV, 2008, p.1).
Há muito o que falar a respeito do Direito Internacional Humanitário e sua
aplicação, dada a riqueza desse ramo do Direito Internacional Público. No entanto,
não é objetivo deste trabalho fazer uma análise minuciosa a respeito do DIH. A
discussão apresentada buscou trazer uma definição do DIH, tendo em vista que o
CICV é protetor e difusor das regras humanitárias.
27

2.6 CONFLITOS ARMADOS

O DIH diferencia duas categorias de conflito armado: conflitos armados


internacionais, em que dois ou mais Estados se enfrentam; e conflitos armados não
internacionais, entre forças governamentais e grupos armados não governamentais,
ou somente entre estes grupos (CICV, 2008, p.1).
A primeira definição pode ser considerada como o exemplo clássico de
conflito armado, onde as partes envolvidas são Estados ou, como também são
chamados, Altas Partes Contratantes; os Estados, então, detentores do monopólio
legal da violência e soberanos para defender seus territórios recorrem às forças
armadas contra um outro Estado. E, ainda que uma das partes negue a existência
do estado de guerra, ou mesmo a existência de outro Estado envolvido no conflito,
há um conflito armado internacional segundo as definições do artigo 2º comum às
Convenções de Genebra:
Afora as disposições que devem vigorar em tempo de paz, a presente
Convenção se aplicará em caso de guerra declarada ou de qualquer outro
conflito armado que surja entre duas ou várias das Altas Partes
Contratantes, mesmo que o estado de guerra não seja reconhecido por uma
delas. A Convenção se aplicará, igualmente, em todos os casos de
ocupação da totalidade ou de parte do território de uma Alta Parte
Contratante, mesmo que essa ocupação não encontre resistência militar
(GENEBRA, 1964, p.169-170, art.3º).

Conflitos Armados Internacionais (CAI) podem ser exemplificados nas


Grandes Guerras (1914 – 1918, 1939 – 1945) e na guerra do Vietnam (1935 –
1975). Nestes casos, foram as forças armadas de um país que entraram em conflito
com as forças armadas de outro país; as dimensões do conflito, a mortalidade, não
são relevantes para a caracterização de um CAI (GREENWOOD, 1999).
Por outro lado, um Conflito Armado Não-Internacional (CANI) apresenta
elementos outros, que o difere de um conflito de caráter internacional. Segundo o
artigo 3º comum às Convenções de Genebra (1949) é um “conflito armado sem
caráter internacional e que surja no território de uma das Altas Partes Contratantes”
(GENEBRA, 1949, p.169). E o Protocolo Adicional II às Convenções de Genebra
complementam a definição de CANI como aqueles:
[...] que ocorram no território de uma Alta Parte Contratante, entre suas
forças armadas e forças armadas dissidentes ou outros grupos armados
organizados que, sob a direção de um comando responsável, exerçam
sobre uma parte deste território um controle tal que lhes permite realizar
28

operações militares contínuas e concertadas e aplicar o presente Protocolo


(PROTOCOLO ADICIONAL II, 1974, p.314, art 1º).

A partir destas duas definições, é possível observar que um CANI apresenta


o envolvimento de um ou mais grupo amado não governamental. O conflito se dá,
então, entre as forças armadas de um Estado e um grupo armado não
governamental. É possível também que as forças armadas estatais não estejam
envolvidas no conflito, que ocorre entre grupos armados não governamentais.
Outra observação pertinente à definição de CANI é a necessidade de que
haja duas partes que claramente se enfrentam (SWINARSKI, 1996). Na situação em
que não haja organização por parte de partes dissidentes ao Estado, não se
caracteriza um conflito armado não internacional.
Quanto à organização dos grupos armados não estatais, é exigido um
mínimo de organização, que significa que devem ser capazes de realizar operações
militares e estarem estruturadas sob uma cadeia de comando (CICV, 2008).
Também é necessário que haja uma liderança, seja política ou militar, que assuma
responsabilidade pelo grupo (SWINARSKI, 1996).
Em situações onde não é possível identificar ou diferenciar as partes
conflitantes, mas há confrontos entre as autoridades e a população, classificam-se
distúrbios internos e, nesse caso, foge à jurisdição do Direito Internacional
(SWINARSKI, 1996).
Ao analisar as definições de conflito armado internacional e conflito armado
não internacional, é possível perceber que a diferença entre um e outro não está
ligada ao recorte territorial, e sim às partes envolvidas no conflito (ZEGVELD, 2002).
Swinarski traz a consideração de que tais conflitos:
[…] podem extravasar as fronteiras do território no qual se desenrolam, por
causa dos interesses políticos e das alianças que, mais uma vez, funcionam
de tal modo na comunidade internacional atual que um conflito armado.
Seja qual for o seu tipo do ponto de vista jurídico - pode se transformar em
um assunto que rapidamente ultrapasse os próprios interesses das Partes
em conflito (SWINARSKI, 1996, p.24).

Para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a diferença entre CANI e


conflitos internos no Estado está ligada a dois elementos: o grau de força atingido e
a organização dos grupos não estatais. Quanto ao grau de violência, a diferença se
apresenta “quando as hostilidades são de natureza coletiva ou quando o governo é
obrigado a empregar força militar contra os insurgentes, ao invés de apenas as
forças policiais” (CICV, 2008, p.4).
29

Mesmo antes do Protocolo Adicional II, já houve a preocupação em


considerar conflitos que não apresentassem caráter internacional. O artigo 3º
comum às quatro convenções de Genebra traz as disposições a respeito das
condutas referentes a conflitos internos:
No caso de conflito armado que não apresente um carácter internacional e
que ocorra no território de uma das Altas Partes contratantes, cada uma das
Partes no conflito será obrigada aplicar, pelo menos, as seguintes
disposições:
1) As pessoas que não tomem parte diretamente nas hostilidades, incluindo
os membros das forças armadas que tenham deposto as armas e as
pessoas que tenham sido postas fora de combate por doença, ferimentos,
detenção, ou por qualquer outra causa, serão, em todas as circunstâncias,
tratadas com humanidade, sem nenhuma distinção de carácter desfavorável
baseada na raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou
qualquer outro critério análogo. Para este efeito, são e manter-se-ão
proibidas, em qualquer ocasião e lugar, relativamente às pessoas acima
mencionadas:
a) As ofensas contra a vida e a integridade física, especialmente o
homicídio sob todas as formas, mutilações, tratamentos cruéis, torturas e
suplícios; b) A tomada de reféns; c) As ofensas à dignidade das pessoas,
especialmente os tratamentos humilhantes e degradantes; d) As
condenações proferidas e as execuções efetuadas sem prévio julgamento,
realizado por um tribunal regularmente constituído, que ofereça todas as
garantias judiciais reconhecidas como indispensáveis pelos povos
civilizados. 2) Os feridos e doentes serão recolhidos e tratados. Um
organismo humanitário imparcial, como a Comissão Internacional da Cruz
Vermelha, poderá oferecer os seus serviços às partes no conflito. As Partes
no conflito esforçar-se-ão também por pôr em vigor, por meio de acordos
especiais, todas ou parte das restantes disposições da presente
Convenção. A aplicação das disposições precedentes não afetará o estatuto
jurídico das Partes no conflito (GENEBRA, 1964, p.169-170, art.3º).

O protocolo então buscou abranger e não excluir conflitos que não possuem
caráter internacional, com o propósito de garantir maior proteção às vítimas de
conflitos. Nas palavras de Swinarski:
A sua finalidade é integrar ao direito internacional convencional a maior
proteção que o direito possa outorgar às vitimas de conflitos armados e, em
todo caso, um mínimo de tratamento humano, conceituado como a proteção
mínima que é devida ao ser humano, em qualquer tempo e lugar
(SWINARSKI, 1996, p.27).

O que podemos observar na situação da Síria, é um conflito armado, de


caráter não internacional, entre as autoridades nacionais e grupos armados
diversos. Dessa maneira, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha tem agido
conforme o DIH para amenizar o sofrimento dos envolvidos. No próximo capítulo
serão abordados os principais elementos que levaram à situação atual na Síria.
30

3. O CONFLITO INTERNO NA SÍRIA

Neste capítulo serão abordados os acontecimentos históricos que levaram


até a guerra civil na Síria. Faz-se necessário compreender aspectos religiosos,
geográficos e políticos para melhor analisar o conflito. Dessa forma, a proposta
deste capítulo é apresentar os principais elementos que levaram até a situação
atual.
Primeiramente, é necessário conhecer a história da Síria, desde antes de
sua independência, para entender como a formação do país e seus aspectos sociais
influenciaram os movimentos que levaram à crise.
Por fim, após serem apresentados os elementos históricos, este capítulo traz
dados relevantes sobre a situação da Síria nos cinco anos que sucederam a guerra
civil que ainda assola o país.

3.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO CONFLITO

Localizada ao norte do Oriente Médio, a República Árabe da Síria faz


fronteira com Turquia, Iraque, Jordânia, Israel e Líbano. Sua raiz histórica remete ao
antigo Império Assírio, de onde provém o nome atual. E como na maior parte dos
países do Oriente Médio, a maioria étnica predominante são de árabes.
No mapa abaixo, é possível observar a divisão administrativa do país, bem
como suas principais cidades.
31

Figura 1 - Divisão administrativa da Síria

Fonte: CIA, 2016.

Conforme os dados da Agência Central de Inteligência (CIA), no ano de


2011 a Síria possuía população superior a 20 milhões de habitantes. Além da
maioria étnica de árabes (90,3%), há a presença de Curdos, Armênios e outras
etnias que representam 9,7% da população.
A presença religiosa na Síria é majoritariamente mulçumana (87%), e o
islamismo é a religião oficial do país. Apesar disso, há presença de Cristãos (10%) e
Druzos (3%). Grande maioria dos mulçumanos é de Sunitas, 74% da população, que
é um grupo islâmico considerado moderado, e que se diferem neste aspecto de
moderação dos Xiitas e Alauítas (CIA, s/p, 2016). Os Alauítas são uma minoria
32

religiosa na Síria, cerca de 12% (CIA, s/p, 2016), que se ramificou do segmento
islâmico Xiita. A diversidade e complexidade religiosa na Síria contribuíram
historicamente e ainda contribuem hoje para os incessantes conflitos no país.
Durante a Primeira Guerra Mundial (9014 – 1918), a França e a Inglaterra
realizaram um acordo, chamado Sykes-Picot, que dividia a região do atual Oriente
Médio em zonas de influência inglesa e francesa. A Síria se localizava na zona de
influência francesa, sendo o francês o último império a dominar o país (BERNADES,
2016).
O domínio francês, que era apoiado pelas minorias cristãs na Síria, repartiu
o território em províncias, que futuramente se tornariam Estados. Seriam eles: o
Estado de Alepo, o Estado de Damasco, o Estado de JabalDruze, o Estado Alauíta,
a Província de Alexandreta (Hatay) e o “Grande Líbano” (ZAHREDDINE, 2013).
Segundo Zahreddine (2013): “Os franceses utilizaram da estratégia ‘dividir
para governar’ com o intuito de desarticular movimentos nacionalistas mais robustos
que pudessem por em risco os projetos da potência mandatória” (ZAHREDDINE,
2013, p.8). Em partes, essa divisão francesa no território sírio perdura até os dias de
hoje, com a diferença de que as províncias se tornaram estados caracterizados por
maiorias religiosas. A figura abaixo ilustra bem a divisão da Síria durante o domínio
francês:
33

Figura 2 - Divisão do território Sírio durante o mandato francês

Fonte: ZAHREDDINE, 2013.

No ano de 1946, a Síria tornou-se independente do domínio francês. Porém,


apesar de ser independente, a nova república era muito instável. A recente
independência provocou lutas pelo poder no país, e golpes e contra golpes
passaram a fazer parte do cenário político sírio. Entre 1946 e 1958 a República da
Síria foi governada por dez presidentes (ZAHREDDINE, 2013).
Foi então que, em 1958, a Síria compôs uma aliança com o Egito para
formar a República Árabe Unida (RAU), realizando um antigo desejo de uma grande
república árabe, que remetia à deia da Grande Síria:
As reminiscências da presença Assíria na região reforçou o desejo do
estabelecimento de uma “Grande Síria” que se estenderia desde os Montes
Zagros (fronteira entre Iraque e Irã), até as margens do Mediterrâneo
Oriental, ocupando basicamente o Crescente Fértil. Esta tese inclusive
alimentou a ideia da criação de um grande Estado Árabe que pudesse
agregar todo este território (ZAHREDDINE, 2013, p.7).

O presidente do Egito, Gabel Abdel Nasser, governou a união entre os dois


Estados, porém privilegiou o lado egípcio, colocando as estruturas de poder e
cargos governamentais nas mãos dos egípcios. Essa atitude de Nasser provocou
34

insatisfação entre os sírios. Essa insatisfação levou a um golpe militar em 1961 que
pos fim à RAU, tendo ela durado quatro anos (SALAMEH, 2016).
Com a dissolução da República Árabe Unida, a Síria tornou-se cada vez
mais dependente de autoridades militares que promovessem estabilidade no país,
ainda que frágil. Uma série de golpes de estado se sucedeu, e o partido Baath 3
chegou ao poder no ano de 1963, por meio de golpe militar (BERNARDES, 2016).
O nome Baath quer dizer renascimento, ressurreição. O partido esteve
presente na Síria desde a década de 1940, e tem como objetivos principais o
secularismo, o socialismo e a unificação árabe. A influência do partido Baath na Síria
se fez presente na independência da Síria, na criação da RAU e também em sua
dissolução (MOHHAMED, 2016).
De 1963 até os dias atuais o partido Baath esteve no poder na Síria.
Salameh (2016) caracteriza a linha de ação do partido como:
O autoritarismo populista pode ser utilizado para descrever a maneira como
o Partido Baath se engajou em uma mobilização social controlada “de cima”
para reforçar uma mudança em que houvesse uma remoção da burguesia
tradicional do poder político e a implementação de uma reforma social
(SALAMEH, 2016, p.26)

Em 1966, após o fim da RAU, o partido foi marcado pela liderança militar
formada por oficiais liderados pelo alauíta Salah Jadid, que tinha por aliado o
General Hafez Al-Assad, seu ministro da Defesa, também alauíta (SALAMEH, 2016).
No entanto, dentro do próprio partido ocorreram dissidências, tendo em vista que o
governo Jadid trouxe instabilidade ao partido por ser radical em “sua política externa
que visava uma ‘guerra do povo’ em que houvesse libertação da Palestina”
(SALAMEH, 2016, p.26).
O declínio do governo Jadid se deu principalmente pela derrota da Síria na
Guerra dos Seis Dias4, e foi esse episódio que levou Hafez Al-Assad a deflagrar um
golpe e assumir o poder em 1971 (BERNARDES, 2016).
Sobre o governo de Hafez al Assad, Zahreddine afirma:
Hafez Al-Assad era de uma família modesta e fazia parte de uma minoria
religiosa na Síria, os Alauítas. Este caráter minoritário sempre esteve
presente no seu governo, pois constantemente buscava formas de
governabilidade que permitisse a ascensão socioeconômica e política de
sua minoria (os Alauítas), bem como dos cristãos e Drusos, em detrimento
da maioria Sunita (ZAHREDDINE, 2013, p.12).

3 Pardido Baath Partido Baath Sírio (ou Capítulo Regional Sírio), de cárater "nacionalista, populista,
socialista, e revolucionário
4 Israel tomou as Colinas de Golam, anteriormente pertencentes ao territóro sírio.
35

Corroborando com o pensamento de Zahreddine (2013), Bernardes (2016)


também traz uma análise sobre o governo de Hafez:
Assad, membro de uma minoria religiosa dentro de seu país, o Alauísmo
(ou Alawismo), derivação do xiismo, considerada herege por diversos
líderes sunitas e inclusive para alguns líderes xiitas (e comprimindo 12% da
população daquele país em índices pré-atual conflito na Síria) liderou
regime bastante repressivo, porém de cárater generalmente laico e secular,
durante os próximos 30 anos, até seu falecimento em 2000
(BERNARDES, 2016, p.104).
Hafez governou o país por vinte e nove anos, até sua morte em 2000. Então,
foi feito uma alteração na Constituição da Síria para permitir que seu filho, Bashar
Al-Assad, assumisse o poder com apenas 34 anos. Isto ocorreu porque a idade
mínima para assumir o cargo de presidente segundo a Constituição Síria era de 40
anos (SALAMEH, 2016). Ramos (2013) aponta a inédita forma de governo que
Bashar inaugurou: a República hereditária.
Bashar é médico de formação e estava no exterior durante sua
especialização quando foi chamado de volta ao seu país. Devido o falecimento de
seu irmão, Basil Al-Assad, militar de carreira e provável sucessor de Hafez, e em
consequência de desentendimentos do presidente com outros possíveis candidatos,
Bashar foi escolhido para ser o sucessor de seu pai (BERNARDES, 2016).
Bashar foi eleito para um mandato de sete anos. As eleições, de candidatura
única não permitiam oposição politica e os votos eram a favor ou contra a
candidatura de Bashar, o que fez com que ele vencesse com 99,7% dos votos
(SALAMEH, 2016).
A princípio, o governo de Bashar pareceu ser de mudanças no regime
totalitarista mantido por seu pai, com a promessa de modernização do país e maior
abertura econômica e política. De fato, algumas mudanças positivas se deram, como
a introdução da internet com o intuito de modernizar o país, maior liberdade de mídia
e permissão de funcionamento de organizações sociais (SALAMEH, 2016).
Contudo, a aparente liberalização no governo de Bashar se provou
resistente às demandas populares de libertar prisioneiros políticos 5, o que reverteu a
breve popularidade do novo presidente. Bashar passou a perseguir e prender
militantes opostos ao governo (BERNARDES, 2016). No ano de 2007, Bashar Al-
Assad foi eleito para seu segundo mandato de 7 anos.

5 O Manifesto dos Mil, movimento formado por ativistas intelectuais que demandavam o fim da Lei
de Emergência, fim da atuação do partido Baath e a criação de uma democracia multipartidária
(SALAMEH, 2016).
36

3.2 DE PRIMAVERA ÁRABE À GUERRA CIVIL

O conflito interno vivenciado pela Síria não está isolado do contexto


internacional. No fim do ano de 2010, na Tunísia, iniciaram-se movimentos de
protestos e reivindicações no mundo árabe, que buscavam mudanças nos regimes
de diversos países, principalmente a deposição de líderes governamentais
autoritários e totalitaristas (RAMOS, 2013).
Eram movimentos de cunho social, que foram bem sucedidos na Tunísia,
levando à queda o presidente Zine El Abidine Ben Ali (1936 – 2011), que se seguiu
por 23 anos no governo. Após o sucesso na Tunísia, os movimentos se espalharam
em outros países, nas palavras de Ramos (2013): “desencadeando um turbilhão de
manifestações e protestos contra o autoritarismo, repressão, falta de liberdades
civis, pobreza, desemprego” (RAMOS, 2013, p.31).
No Egito, em janeiro de 2011, manifestações contra o regime do presidente
Hosni Mubarak (1981 – 2011) iniciaram. Os manifestantes se reuniram em Cairo, na
Praça Tahrir, exigindo a saída do presidente e o fim do regime. As manifestações
duraram 18 dias e em 11 de fevereiro foi anunciada a renúncia de Mubarak
(RAMOS, 2013).
Esses movimentos ficaram conhecidos como Primavera Árabe (2011).
Alguns elementos discutidos no primeiro capítulo tiveram impacto significativo sobre
a Primavera Árabe, como o uso da internet para a promoção das manifestações e
denúncias.
Stepanova analisa o papel das tecnologias de informação e comunicação
nos movimentos:
In Egypt, the sociopolitical gap between the small ruling elite and the bulk of
the population had long reached critical levels, prompting most experts on
the region to expect a major upheaval at some point. However, the fact that
the crisis occurred sooner rather than later, in direct follow-up to protests in
Tunisia, was largely due to the initial mobilizing effects of ICT and social
media networks (STEPANOVA, 2011, p.1).

E a autora complementa, afirmando que na Tunísia os movimentos


ganharam força em redes sociais, como a campanha na plataforma Facebook
intitulada April 6 Young Movement (STEPANOVA, 2011).
37

A respeito do uso da internet nos movimento, Ramos defende: “A internet


teve aqui um papel bastante preponderante, ao por em contato realidades
semelhantes, organizando os protestos e denunciando as práticas repressivas dos
Estados” (RAMOS, 2013, p.8).
O uso de mídias de informação e comunicação para reunir movimentos
sociais, capazes de transformação interna e mobilização internacional, corrobora
com o pensamento apresentado no capítulo anterior, quando foi dito que a
globalização é um instrumento para aproximação e fortalecimento de atores não
estatais. Sobre o assunto, Stepanova traz a afirmação de que “No region, state, or
form of government can remain immune to the impact of new information and
communication technologies on social and political movements” (STEPANOVA,
2011, p.3).
O que esteve na origem dos movimentos foi, de forma geral, insatisfação
popular com seus respectivos governos, que enriqueciam enquanto a população
entrou na miséria. Ramos (2013) aponta como causas diretas para as revoltas em
relação a corrupção do governo também a estagnação econômica, desemprego,
subdesenvolvimento, envelhecimento dos regimes dominantes e principalmente as
práticas repressivas impostas pelo Estado.
Compartilhando da mesma visão sobre a origem dos movimentos Neival
(2015) afirma:
A raiz dos protestos foi a estagnação econômica dos países que
possuíam em sua maioria populações jovens e desempregadas, aliados
ao alto custo de alimentos e à falta de oportunidades de emprego.
Somou-se a isso a revolta contra regimes ditatoriais no poder há vários
anos (NEIVAL, 2015, p.34).

De igual forma, Roche (2011) aponta elementos que explicam o surgimento


dos movimentos da Primavera Árabe. Aqui ele destaca o papel da educação e
interesse da população mais jovem.
A evolução da escola primária e da escola secundária em todos os
países árabes, o aperfeiçoamento da língua literária, mesmo sob as mais
severas ditaduras, juntamente com a adoção cotidiana dos novos
instrumentos de comunicação (telefones celulares, internet, rádios,
televisões, novelas, jornais, revistas etc.), em escala internacional,
permitiram, de vinte anos para cá, um despertar do espírito crítico, o
gosto pela pesquisa e pelo saber, sobretudo entre os jovens (ROCHE,
2011, p.10).

A população da Líbia também iniciou movimentos, em fevereiro de 2011.


Rapidamente a violência dos protestos aumentou, o que levou o país a uma guerra
38

civil entre tropas do governo e rebeldes. Após meses de guerra, o primeiro ministro
Muammar Khaddafi (2011) foi morto6. Hoje a Líbia está sob o controle de milícias
rivais.
Na Síria os movimentos revolucionários tiveram início março de 2011 na
província de Dara’a, quando jovens foram presos e torturados por escreverem
palavras de ordem no muro da escola (BALANCHE, 2013). A princípio, os
manifestantes exigiram reformas, mas logo incluíram na pauta dos protestos o fim do
regime e maior liberdade civil (RAMOS, 2013).
Cavatorta (2012) traz a contribuição sobre as manifestações na Síria:
Notwithstanding the significant popular mobilisation in established
democracies to demand a new social contract to face the worst economic
crisis since the 1929 depression, there is no doubt that the Arab Spring
constitutes the most important event of 2011 and a defining history-changing
moment (CAVATORTA, 2012, p.75).

Ainda sobre a Primavera Árabe, Cavatorta a compara à Europa Oriental no


ano de 1989: “the changes that took place over 2011 across the Middle East and
North Africa seemed to signal to many the awakening of civil society in the face of
political authoritarianism” (CAVATORTA, 2012, p.75).
O caso da Síria, como o da Líbia, chamou a atenção por causa da violência
manifestada por parte das tropas do governo que tentaram reprimir as
manifestações, e também dos manifestantes em seus protestos. Os confrontos entre
manifestantes e tropas governamentais chegaram a tal ponto de ser necessário
recorrer a forças militares para reprimir as revoltas (RAMOS, 2013).
A violência contra os protestos e revoltas fez com que o movimento
escalasse a uma guerra civil, que assola o país desde 2011. Os embates são entre
as forças governamentais e os revoltosos que exigem o fim do governo Assad, bem
como o do partido Baath.
Os sunitas consideram os alauítas hereges, e o fato do governo estar
representado por alauítas gera mais instabilidade ao conflito, pois a maioria
populacional na Síria é de sunitas. O governo reprime as revoltas com força, entre
outros motivos, por temer que uma escala maior de revoltosos se unam aos
movimentos sunitas, que teriam números para decidir o conflito.
O mapa baixo ilustra as áreas de conflitos na Síria em 2013.

6 Após oito meses de ataques e bombardeios ao governo líbio, os rebeldes, graças ao apoio
concedido pela OTAN (com o envio de forças especiais, armas e o recrutamento de mercenários de
outros países), conseguiram capturar Muammar Kadafi, e assassiná-lo em um ato que foi filmado e
veiculado na internet (OLIVEIRA, 2015, p. 674).
39

Figura 3 - Áreas de Disputa entre o governo e oposição – agosto de 2013

Fonte: Zahreddine (2013).

Contudo, não são apenas os aspectos internos da Síria que devem ser
levados em consideração. Há divergência no âmbito externo que muito influencia e
contribui para a perpetuação do conflito.
Há interesse por parte das grandes potências regionais e mundiais na Síria,
que apoiam lados contrários na guerra, a exemplo Estados Unidos, França e Reino
Unido que apoiam os rebeldes, e Rússia e China que apoiam o Governo Assad
(BERNARDES, 2016). Também é observado o aspecto religioso como influente no
apoio de países do Oriente Médio em ambos os lados da guerra civil na Síria
A Rússia está intimamente ligada à Síria desde o governo de Hafez Al-
Assad, que morou na então União Soviética, e teve formação militar e ideológica lá.
Essa proximidade ideológica está arraigada no socialismo árabe do partido Baath,
do qual fez parte Hafez e hoje faz parte seu filho, Bashar (ZAHREDDINE, 2013).
Essa relação com a Rússia possibilitou melhorias comerciais para ambos os
países, como a importação de armamento russo pela Síria. Essa aliança também
40

traz benefícios para a Rússia, que mantém uma área de influência no Oriente Médio
(ZAHREDDINE, 2013,).
Em razão da sua proximidade com o governo sírio, a Rússia representa a
principal oposição à intervenção das Nações Unidas na Síria, com vetos no
Conselho de Segurança das Nações Unidas. A respeito dos empecilhos russos no
Conselho de Segurança, Balanche traz a comparação com a Líbia, onde ocorreu
intervenção aprovada na Organização das Nações Unidas (ONU).
O apoio prestado ao regime sírio pela Rússia e pelo Irão permitiu-lhe
continuar mais tempo e reprimir sem preocupações uma intervenção
estrangeira, como foi o caso da Líbia. Damasco foi protegido no Conselho
de Segurança da ONU com duplo veto russo e chinês (BALANCHE, 2013,
p.9).

De igual forma, Zahreddine compara a influência russa na Síria com o


impasse da Guerra Fria: “O caso Sírio é importante, pois desde o fim da Guerra Fria,
não se via uma disputa tão acirrada entre os Estados Unidos da América e a
Federação Russa, em função da guerra civil naquele país” (ZAHREDDINE, 2013,
p.18).
No contexto regional, o apoio do Irã ao governo Assad está ligado ao
elemento religioso, dado que o partido Baath é confessional alauíta, que é uma
ramificação dos xiitas. O Irã ainda apoia o grupo xiita, Hezbollah, que atua no
Líbano. A Síria também foi acusada de facilitar a passagem do Hezbollah, o que
gera maior indisposição dos países contrários ao governo Assad (BERNARDES,
2016).
Por outro lado, a Arábia Saudita apoia a oposição fornecendo armamentos
para as forças rebeldes, de maior teor wahhabita7 (BERNARDES, 2016).
Novamente, o elemento confessional se faz presente na decisão por apoiar forças
conflitantes na Síria.
Com as informações dadas até este momento, é possível identificar a
complexidade do conflito na Síria. Demandas tanto internas ao país quanto externas
contribuem para a perpetuação da crise. A composição confessional da população
síria é um fator que exige atenção, já que uma das reivindicações dos revoltosos é
devido a uma minoria alauíta governar o país em detrimento da maioria sunita.

7 Religião oficial da Arábia Saudita, o wahabismo é uma vertente do islamismo sunita, considerado
fundamentalista, cujo objetivo é restaurar o culto monoteísta puro.
41

3.4 CINCO ANOS DE CRISE NA SÍRIA (2011 – 2015)

O conflito na Síria não se caracteriza mais como novidade no cenário


internacional. Já foram mais de cinco anos, data completa em março de 2016, e a
cada dia a situação de calamidade se intensifica mais e mais. O quadro humanitário
é grave, com o acesso a emprego, alimento e abrigo cada vez mais escasso.
O verdadeiro número das casualidades no país não pode ser exatamente
calculado, pois os embates entre as forças conflitantes se intensificaram tanto ao
ponto de impossibilitar coleta de dados. O governo também suspendeu a coleta de
informações, assim, os dados que se tem hoje são em sua maioria de organizações
estrangeiras à Síria (BERNARDES, 2016).
Antes da guerra, a população da Síria era equivalente a 21 milhões (USDS,
2010). Em 15 de março de 2016, cinco anos depois que iniciaram os conflitos, o
cenário já havia gerado mais de 4,8 milhões de refugiados que se deslocaram para
os países vizinhos da Síria, e 6,6 milhões de pessoas deslocadas dentro do país em
conflito (ACNUR, 2016). Ainda sobre a questão de refugiados, a organização Anistia
Internacional classificou a saída de refugiados sírios como a maior do século XXI
(ANISTIA INTERNACIONAL, 2016).
Em dados do Observatório Sírio para Direitos Humanos, desde o início da
guerra civil na Síria, mais de 370.000 pessoas foram mortas por causa dos ataques
e conflitos armados, dentre elas 122.997 civis, incluindo 13.597 crianças e 8.760
mulheres. Entre 2014 a 2015 o número de casualidades dobrou, foram 370.000
mortos, e cerca de 2 milhões foram feridos e sofreram danos permanentes; mais de
11 milhões foram deslocados (OSDH, 2016).
Foram denunciados casos de uso de armas químicas contra a população,
para conter as revoltas (ONU, 2014). O governo negou que o uso de gás sarin tenha
sido sua responsabilidade, culpando os revoltosos pelo uso do armamento químico.
Em seu site na internet, a Organização Internacional Médicos Sem
Fronteiras (MSF) publicou um artigo informando as condições dos voluntários
trabalhando na Síria:
Desde o início da crise, médicos e profissionais de saúde têm (sic) sido
ameaçados, detidos e torturados por forças de segurança do governo e
milícias aliadas por estarem oferecendo cuidados médicos a manifestantes
feridos e por serem percebidos como simpáticos à oposição. Muitas
instalações de saúde em áreas mantidas pela oposição têm sido alvos de
repetidos bombardeios pelas forças governamentais, causando destruição
42

total ou parcial, assim como mortes e ferimentos entre profissionais médicos


e pacientes (MSF, 2015, s/p).

Estima-se que em cinco anos de conflito o número de mortos tenha chegado


a 470 mil, sendo que 400 mil por causa do conflito e os outros 70 mil devido a falta
de água e cuidados médicos. Segundo esses dados, do Syrian Center for Policy
Research (Centro Sírio para Pesquisa Política) 11% da população síria foi morta
desde o início do conflito (SPRC, 2016).
Os fatores que contribuíram para a situação de crise na Síria podem ser
identificados como a instabilidade política, que foi “resolvida” com um governo
ditatorial que privilegia minorias sociais em detrimento da maioria. Neste aspecto, é
importante apontar a questão confessional, que influencia na insatisfação popular.
Essa insatisfação com a opressão do governo foi intensificada com a
Primavera Árabe, que culminaria em manifestações populares pacíficas, a princípio,
mas que se tornaram violentas como resposta à repressão igualmente violenta do
governo. As hostilidades evoluíram a um conflito armado não internacional, onde
forças governamentais e diversos grupos armados opostos ao governo se
enfrentam.
A intensidade dos conflitos passou a atingir civis, o que fez com que
organizações como a Agência Central de Inteligência (CIA) classificar a situação na
Síria como a maior crise humanitária no mundo (CIA, 2016). Várias organizações de
cunho humanitário estão inseridas na Síria, trabalhando para aliviar o sofrimento da
população. É inestimável todo o esforço que tem sido feito na tentativa de minimizar
as consequências dos conflitos. O próximo capítulo descreverá o trabalho realizado
pela Cruz Vermelha na Síria durante os cinco primeiros anos de conflito.
43

4. O COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA NA SÍRIA ENTRE 2011 E


2015

Neste capítulo será apresentada uma síntese dos dados coletados a


respeito da ação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha durante os primeiros
cinco anos da crise na Síria. Já que os conflitos que levaram à atual situação
iniciaram em março de 2011, essa data será usada como ponto de partida para a
pesquisa, que vai até dezembro de 2015.
Foram utilizados os relatórios anuais do trabalho na Síria publicados pelo
CICV, bem como dados estatísticos populacionais do Departamento de Assuntos
Econômicos e Sociais (DAES) da Organização das Nações Unidas.
A presença do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Síria se inicia na
guerra Árabe-Israelita em 1967 (CICV, 2012). Juntamente com o Crescente
Vermelho Árabe Sírio (Syrian Arab Red Crescent no original, ou SARC), trabalha
para assistir pessoas afetadas por agitações civis e melhorar condições sanitárias e
o suprimento de água (CICV, 2012).
O Crescente Vermelho Árabe Sírio é uma organização humanitária
independente, fundada em 1942 e reconhecida pelo CICV em 1946; é submetido às
Convenções de Genebra e aos sete princípios fundamentais do Movimento
Internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (SARC, 2016).
Nos documentos analisados encontram-se a contabilidade das ações da
Cruz Vermelha na Síria, em números de atendimentos, pacientes, estruturas
apoiadas e os gastos feitos no ano do relatório. O CICV ainda faz uma breve
descrição das atividades realizadas, e das dificuldades encontradas no exercício
dessas atividades.
As atividades descritas foram realizadas em cooperação das duas
instituições, o CICV e SARC. Dessa forma, os dados estudados neste capítulo
correspondem à presença da Cruz Vermelha Internacional na Síria durante os cinco
primeiros anos da crise provocada pelo conflito interno que se iniciou em março de
2011.
44

4.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

4.1.1 Ano de 2011

Os distúrbios na Síria iniciaram-se em março de 2011 na província de Dara’a


e rapidamente se espalharam pelo país. Enquanto a situação se agravava, o CICV
empenhava-se em lembrar todas as partes envolvidas em conflitos do
comprometimento com o DIH. O acesso seguro e desimpedido ao atendimento
médico deveria ser garantido, e a vida e a dignidade humana respeitadas.
A dificuldade e acesso a alimento e outros produtos essenciais aumentou
com os conflitos difundidos no país, e as pessoas estavam cada vez mais
suscetíveis a serem atingidas pela violência (CICV, 2012). O Comitê recebeu
denúncias de abuso e pedidos de rastreamento de familiares tidos como presos.
Neste aspecto, procurou estabelecer contato com as autoridades responsáveis para
lembrá-los de sua obrigação em informar o paradeiro de detentos aos familiares bem
como tomar medidas para evitar a recorrência de abusos (CICV, 2012).
Nas áreas mais afetadas pelo conflito foram atendidas 14 mil residências,
totalizando 70 mil pessoas que receberam parcelas únicas de alimento (one-off food
parcels) e leite infantil (CICV, 2012). Além disso, mais de 40 mil pessoas receberam
itens essenciais, dentre os quais mais de 8 mil foram kits de higiene e 30 mil
crianças com kits escolares (CICV, 2012).
Fazendo uso da rede de links familiares do CICV/SARC, o que inclui
telefonemas e Mensagens Cruz Vermelha (MCV)8, pessoas mantiveram contato com
sua parentela retida/detida no exterior do país, a saber no Líbano, Iraque e na Baía
de Guantánamo (CICV, 2012).
Mais de 250 refugiados e apátridas sem documentação oficial válida
reestabeleceram-se em países terceiros fazendo uso de documentação emitida pelo
CICV em coordenação com o governo Sírio, embaixadas envolvidas e o Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) (CICV, 2012).

8 Mensagens Cruz Vermelha, Red Cross Messages no original, são cartas contendo notícias
particulares que são usadas quando a comunicação por meios comuns é interrompida.
Frequentemente são o único modo de manter contato entre famílias separadas por conflitos ou entre
detentos e seus familiares (ICRC, 2002).
45

A seca que assolava o norte do país há cinco anos foi alvo de ações do
CICV. Com o apoio do SARC as autoridades locais puderam aliviar efeitos da seca.
Reservas subterrâneas e lagos foram reabilitados para uso de famílias e de gado.
Cinco caminhões-tanques que haviam sido doados pelo CICV em 2010 continuaram
sendo usados em Deir Ez Zor e Al-Hassakeh. Em áreas de difícil acesso aos
caminhões, ou onde não foram financeiramente viáveis, foram escavados
reservatórios subterrâneos e construídas plantas de tratamento de água de osmose
reversa (CICV, 2012).
Em setembro foi realizada a primeira visita dos delegados do CICV a
detentos sob a jurisdição do Ministério do Interior na prisão central de Damasco, na
qual 23 detentos foram atendidos em entrevistas privadas (CICV, 2012). Discussões
envolvendo autoridades competentes do governo sírio e o Comitê a respeito dos
benefícios que detentos poderiam receber do CICV foram desenvolvidas (CICV,
2012).
Hospitais privados e públicos receberam suprimentos e equipamentos
médicos do CICV. Porém, os feridos e doentes que não tinham como acessar os
hospitais, por condições físicas ou receio dos conflitos, se tornaram cada vez mais
dependentes das equipes médicas do SARC (CICV, 2012).
Quatro unidades móveis de saúde foram doadas pelo CICV, e algumas
pessoas puderam ser atendidas. Os casos mais graves foram removidos a hospitais
por uma ambulância que também foi doada (CICV, 2012).
Treinamentos e capacitações para a equipe da Sociedade Nacional foram
realizados. Treze voluntários foram treinados em primeiros-socorros e acesso
seguro e 72 médicos voluntários participaram de treinamento de cirurgiões de
Genebra, no qual receberam um kit para cirurgias pequenas (CICV, 2012).
Durante o ano, o então presidente do CICV Jakob Kellenberger visitou a
Síria. Após sua primeira visita, em Junho, na qual o presidente se reuniu com o
Primeiro Ministro sírio, maior acesso às áreas afetadas pelo conflito foi concedido ao
Comitê. Em sua segunda visita, Jakob Kellenberger encontrou-se com o presidente
Bashar Al-Assad, em setembro, para dar prosseguimento às discussões sobre a
situação humanitárias no país (CICV, 2012).
Com apoio do CICV, foram realizados seminários para aprimorar o
conhecimento de 200 juízes na matéria de Direito Internacional Humanitário e
46

Direitos Humanos (CICV, 2012). Três juízes participaram de um treinamento regional


de duas semanas no Líbano (CICV, 2012),
As forças armadas também receberam treinamento na matéria de DIH,
contando com o apoio do CICV para desenvolver a unidade curricular que foi
iniciada no ano de 2008 e concluída em 2011 (CICV, 2012). Demais treinamentos
sobre DIH continuaram, até que foram forçados a ser cancelados devido ao
envolvimento das forças armadas no conflito (CICV, 2012).
Nas tabelas seguintes é possível observar as atividades realizadas pela
Cruz Vermelha na Síria durante o ano de 2011. Foram divididas em atividades de
Proteção e atividades de Assistência. Os dados foram retirados do relatório anual do
CICV específico da Síria.

Tabela 1 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2011 na Síria

PROTEÇÃO
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha (MCV)
MCVs coletadas 145
MCVs distribuídas 126
Telefonemas facilitados entre familiares 2
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 793
Restos humanos transferidos/repatriados 3
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 112
Pessoas localizadas 44
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 80
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 257
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 172
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados e monitorados individualmente 23
Detentos recém registrados 23
Número de visitas realizadas 1
Número de locais de detenção visitados 1
Fonte: CICV (2012). Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2012
47

Tabela 2 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2011 na Síria


ASSISTÊNCIA
CIVIS
Segurança econômica
Commodities alimentares Beneficiários 70.000
Itens domésticos essenciais Beneficiários 40.860
Água e habitação
Atividades de água e habitação Beneficiários 36.400
Fonte: CICV (2012). Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2012.

Os gastos realizados no ano foram contabilizados em 6,060 milhões de


francos suíços (CHF). Se comparados esses dados aos do ano anterior, onde foram
gastos 1,993 milhões de francos suíços (CICV, 2011), é possível observar já nesse
primeiro ano de conflito o aumento de 204,06%. Na figura 4 é possível visualizar a
divisão dos gastos em diferentes categorias.

Figura 4 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2011 na Síria em mil CHF

Fonte: CICV (2012). Elaboração própria.

Nas categorias diferenciadas mostram gastos maiores com atividades de


assistência do que de proteção. As principais ações do CICV, de acordo com a
análise da tabela, foram a disponibilização de água potável para a população que
sofria com a seca, a distribuição de commodities alimentares e o trabalho de
transferência e repatriação de pessoas.
48

4.1.2 Ano de 2012

Com a permanência do presidente Assad no governo, contrariando


demandas populares, a intensidade das lutas e suas consequências humanitárias
mudaram. “What had started out as localized clashes between the Syrian
government and armed groups in 2011 gradually evolved into a non-international
armed conflict in 2012” (CICV, 2013, p.443)”.
Relatórios de aumento de número de mortes, deslocamento e pessoas
procurando refúgio em países vizinhos aumentara (CICV, 2013). Alegações de
sequestros, tortura, obstrução do acesso de pacientes aos cuidados médicos,
prisões em massa, matança extrajudicial e abusos contra trabalhadores
humanitários também aumentaram (CICV, 2013).
Milhares de pessoas se tornaram completamente dependentes de ajuda
devido ao impacto negativo dos conflitos na economia do país. Sanções econômicas
e inflação exacerbaram a falta de bens e serviços básicos (CICV, 2013). “A
insegurança dificultou a ação humanitária” (CICV, 2013, p. 443)”.
O CICV e SARC, em contato com autoridades locais e grupos armados
conseguiram uma pausa humanitária no combate em abril, e foi quando obtiveram
acesso a residentes em áreas acometidas pela violência, como em Douma (CICV,
2013). Já em Homs, no mês de Junho, a pausa não foi bem sucedida, o que impediu
entrega de ajuda e evacuações médicas (CICV, 2013).
O CICV ampliou seu alcance no país, incluindo áreas controladas por grupos
armados, e foi capaz de distribuir pacotes de comida a 1.53 milhões de pessoas.
Desse número, 400 mil também receberam itens domésticos essenciais como
cobertores, colchões e kits de higiene (CICV, 2013).
Mais de 88 mil Pessoas Deslocadas Internamente (IDP) foram beneficiadas
pela reabilitação ou melhorias de instalações de água/saneamento e moradia. Cerca
de 135 mil pessoas afetadas pela seca receberam água em caminhões operados ou
contratados pelo SARC (CICV, 2013). Água também foi distribuída a IDPs nos
primeiros dias de seu deslocamento em garrafas de 10 litros, ultrapassando 130 mil
litros de água assim distribuídos. No total, mais de 14 milhões de pessoas foram
atendidas por operações de melhoria de suprimento de água e condições de
saneamento (CICV, 2013).
49

O número de refugiados e apátridas que se reestabeleceram em outros


países foi maior do que o ano anterior. Foram emitidos documentos para 151
pessoas, entre refugiados e apátridas, em coordenação com o CICV, ACNUR e
autoridades governamentais condizentes (CICV, 2013).
O número de detentos visitados também foi maior. Ocorreram visitas na
prisão central de Alepo, onde 151 detentos foram entrevistados individualmente
(CICV, 2013). Também foi permitido acesso de especialistas em saúde e
saneamento para avaliar as instalações usadas pelos detentos (CICV, 2013).
Hospitais sírios e instalações de saúde do SARC receberam suprimentos
médicos emergenciais do Comitê, ampliando as chances das pessoas em áreas
mais afetadas pelos combates obterem cuidados médicos (CICV, 2013). A filial em
Alepo recebeu kits de ferimentos de armas e outros itens médicos e cirúrgicos em
agosto (CICV, 2013). O Ministério de Saúde recebeu kits de triagem e ferimentos de
armas, que proporcionaram o tratamento de cerca de 6 mil pacientes feridos de
arma em Damasco e Homs (CICV, 2013).
Na clínica da Sociedade Nacional em Zahera foram equipadas quatro salas
de emergência e um teatro cirúrgico para atender pacientes que porventura não
puderam procurar tratamento em instalações governamentais, principalmente devido
à insegurança (CICV, 2013).
Diálogos com as partes envolvidas em conflitos foram bem sucedidos em
obter um acordo para haver “pausas humanitárias” nos combates, facilitando a
entrega de socorro emergencial; tal proposta foi testada em Douma e obteve
sucesso (CICV, 2013).
Treinamentos das forças armadas e forças policiais sírias foram adiados
indefinidamente, em razão do agravamento dos combates. No entanto, demais
capacitações foram viabilizadas. Para as equipes do CICV e Sociedade Nacional,
foram realizados treinamentos, dentre os quais duas oficinas sobre rastreamento e
conexão de familiares separados (CICV, 2013). Duas filiais do SARC, em Homs e
Idlib receberam manuais e kits para o manejo de restos humanos (CICV, 2013).
De igual forma, foram treinados 200 voluntários em abordagem de acesso
seguro e 70 em primeiros socorros (CICV, 2013). A Sociedade Nacional recebeu
suprimentos médicos, kits de primeiros socorros, veículos e uniforme de inverno
para 790 voluntários (CICV, 2013).
50

No mês de janeiro o secretário geral do Crescente Vermelho Sírio foi morto


em viagem de Damasco a Alepo a bordo de um veículo marcado com o símbolo do
crescente vermelho. Durante o ano, sete voluntários da Sociedade Nacional foram
mortos em serviço (CICV, 2013). Além desses casos reportados, houve mais
relatórios de abuso contra equipes médicas e pacientes. O CICV procurou
estabelecer diálogo com atores relevantes sobre o respeito ao DIH, aos serviços
médicos e aos emblemas do Movimento (CICV, 2013).
Nas tabelas 3 e 4 é possível observar as atividades realizadas pela Cruz
Vermelha na Síria durante o ano de 2012. Foram divididas em atividades de
Proteção e atividades de Assistência. Os dados foram retirados do relatório anual do
CICV específico da Síria.

Tabela 3 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2012 na Síria

PROTEÇÃO
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha (MCV)
MCVs coletadas 25
MCVs distribuídas 3
Telefonemas facilitados entre familiares 2
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 203
Restos humanos transferidos/repatriados 3
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 469
Pessoas localizadas 246
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 309
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 151
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 30
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados e monitorados individualmente 113
Detentos recém registrados 90
Número de visitas realizadas 1
Número de locais de detenção visitados 1
Fonte: CICV (2013). Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2013.
51

Tabela 4 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2012 na Síria


ASSISTÊNCIA
CIVIS
Segurança econômica
Commodities alimentares Beneficiários 1.529.135
Itens domésticos essenciais Beneficiários 419.272
Agua e habitação
Atividades de água e habitação Beneficiários 14.877.157,00
Fonte: CICV, 2013. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2013.

Os gastos realizados no ano foram contabilizados em 38,619 milhões de


francos suíços. Na figura 5 é possível visualizar a divisão dos gastos em diferentes
categorias.

Figura 5 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2012 na Síria em mil CHF

Fonte: CICV, 2013. Elaboração própria.

Tendo em vista que de 2010 a 2011 o aumento de gastos foi de 204%, em


2012 esse número chegou a 537,28% a mais de gastos que no ano anterior. As
atividades de assistência representam mais de 80% dos gastos anuais. Esse
aumento pode ser explicado por meio da necessidade em atender uma maior
parcela da população afetada pelos conflitos.
O destaque nas atividades de 2012 está mais uma vez na distribuição de
água e commodities alimentares, sendo que é notável o aumento de 14.840.757 e
1.459.135 a mais de beneficiários respectivamente.
52

As dificuldades enfrentadas pelo CICV foram os impasses enfrentados pelo


aumento da insegurança e abusos contra funcionários e voluntários do CICV, a não
permissão de realizar outras visitas além da conduzida em maio. Apesar das
dificuldades na Síria, o CICV foi bem sucedido em aumentar a disponibilização de
ajuda humanitária no país.

4.1.3 Ano de 2013

No ano de 2013, relatos de violações ao Direito Internacional Humanitário


foram numerosos. Dentre eles constavam: ataques indiscriminados; ataques diretos
contra civis, incluindo pacientes e equipe médica; tortura; violência sexual;
recrutamento infantil; matança extrajudicial, entre outros (CICV, 2014).
Milhões de pessoas se tornaram completamente dependentes de ajuda
devido ao agravamento do conflito, que impactam diretamente sobre a economia do
país (CICV, 2014). A paralisia industrial, desemprego alto e a falta de acesso aos
campos de agricultura interrompeu o sustento dessas milhões de pessoas (CICV,
2014).
O Comitê, juntamente ao SARC, aumentaram as operações humanitárias na
tentativa de acompanhar os números crescentes das necessidades da população
síria afetada pelo conflito (CICV, 2014). Já em maio pediram uma ampliação do
orçamento, o que proporcionou o dobro em volume de assistência alimentar a partir
de julho, permitindo também atender o dobro de beneficiários no primeiro semestre
do ano (CICV, 2014).
Restrições ao auxílio humanitário foram feitas pelo governo sírio, impedindo
a entrega de certos suprimentos médicos (CICV, 2014). A insegurança no país
também foi empecilho à assistência humanitária, com as taxas de criminalidade e
violência sectária maiores (CICV, 2014).
Em áreas controladas por grupos armados, bem como áreas sitiadas por
forças governamentais, a assistência humanitária foi impedida (CICV, 2014). Em
agosto, a distribuição de ajuda em Alepo e Idlib porque o governo bloqueou
sistematicamente a provisão imparcial de assistência (CICV, 2014).
53

Mais de 3.5 milhões de residentes e IDPs receberam cestas básicas do


CICV (CICV, 2014). O SARC foi responsável pela maioria das distribuições, onde
mais de um milhão de pessoas receberam utensílios domésticos como baldes,
velas, cobertores, colchões e itens de higiene (CICV, 2014).
O acesso à água potável aumentou. Quase 80% da população síria pré-
conflito – mais de 20 milhões de pessoas – foram beneficiadas com suprimento de
água potável e saneamento (CICV, 2014). Cerca de 500 toneladas de sulfato de
alumínio e um milhão de litros de hipoclorito de sódio foram distribuídos em cidades
onde o sistema de distribuição de água era funcional (CICV, 2014).
Cerca de 30 voluntários, de 12 filiais da Sociedade Nacional receberam
treinamento sobre serviço de conexão de familiares e manejo de restos mortais
humanos; kits e equipamentos foram doados para o manejo de restos mortais
(CICV, 2014).
No tocante a visitas em prisões, o CICV não foi permitido realizar nenhuma
visita a pessoas privadas de sua liberdade. O governo não concedeu o acesso aos
detentos como nos dois anos anteriores apesar dos pedidos constantes do Comitê
(CICV, 2014).
Excepcionalmente no caso da luta pelo controle da prisão de Alepo, entre
grupos armados e forças governamentais, o CICV foi capaz de intermediar um
acordo de pausa nos combates, e os detentos receberam refeições, vestimenta e
suprimentos médicos; os detentos que tinham terminado sua sentença foram libertos
(CICV, 2014).
Devido às restrições severas, os beneficiados pelo apoio do CICV em
serviços de saúde estavam quase que exclusivamente em áreas controladas pelo
governo (CICV, 2014). Dezenove hospitais receberam remédios e suprimentos
cirúrgicos para o tratamento de pacientes feridos por arma; no total, o tratamento
cirúrgico completo de mais de 800 feridos foi possibilitado pelos suprimentos
recebidos (CICV, 2014).
Seis unidades móveis de saúde foram operantes, com a população média de
captação de 6.7 milhões de pessoas (CICV, 2014). Surtos de doenças infecciosas
foram prevenidos por meio da ação de equipes de saúde; tais equipes também
foram eficazes na maior coleta de dados sobre doenças e desnutrição infantil (CICV,
2014). Uma policlínica em Hama iniciou atendimentos apoiados pelo CICV em junho,
com média de mil consultas mensais (CICV, 2014).
54

Somente em quatro ocasiões o governo permitiu a entrega de suprimentos


médicos para filiais da Sociedade Nacional situadas em áreas controladas por
grupos armados (CICV, 2014); “all other attempts to provide medical aid, particularly
surgical supplies, to non-Health Ministry facilities were blocked or rendered
impossible by the constant insecurity on the ground” (CICV, 2014, p. 506).
Desde o início dos conflitos, em 2011, trinta e três trabalhadores do
Crescente Vermelho Árabe Sírio foram mortos (CICV, 2014). Suprimentos
humanitários e ambulâncias foram confiscados, saqueados, desviados ou
bloqueados e portadores de armas rotineiramente entraram em hospitais para
remover forçadamente pacientes feridos por arma (CICV, 2014).
No dia 13 de outubro, seis membros do pessoal do CICV e um voluntário do
SARC foram sequestrados por homens armados que não foram identificados (CICV,
2014). Quatro dos sequestrados foram libertos no dia seguinte, todavia três
membros da equipe do CICV permaneceram cativos (CICV, 2014).
Nas tabelas abaixo é possível observar especificações dos atendimentos
realizados pelo CICV em parceria com o SARC no ano de 2013 na Síria. Apesar das
restrições impostas pelo governo e pela crescente insegurança do país, os
destaques estão nos atendimentos cirúrgicos e consultas, no acesso a água potável
para mais de 20 milhões de pessoas e a distribuição de alimentos para mais de 3.5
milhões de pessoas (CICV, 2014).
Contudo, o número de pessoas desaparecidas cresceu, dados refletidos no
aumento de pedidos de rastreamento recém registrados.

Tabela 5 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2013 na Síria

PROTEÇÃO
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha (MCV)
MCVs coletadas 8
MCVs distribuídas 6
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 36
Restos humanos transferidos/repatriados 1
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 747
Pessoas localizadas 239
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2013 873
55

Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 49
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 24
Fonte: CICV, 2014. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2014.

Tabela 6 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2013 na Síria


ASSISTÊNCIA
CIVIS
Segurança econômica
Commodities alimentares Beneficiários 3.567.485
Itens domésticos essenciais Beneficiários 1.066.212
Agua e habitação
Atividades de água e habitação Beneficiários 20.000.000,00
Saúde
Centros de saúde apoiados Estrutura 6
População média de captação 6.692.750
Imunização Doses 704
FERIDOS E DOENTES
Hospitais
Hospitais apoiados Estruturas 18
Fonte: CICV, 2014. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2014

Os gastos realizados no ano foram contabilizados em 81,283 milhões de


francos suíços, que é equivalente a 110,47% de aumento nos gastos do ano
anterior. Na figura 6 é possível visualizar a divisão dos gastos em diferentes
categorias.
56

Figura 6 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2013 na Síria em mil CHF

Fonte: CICV, 2014. Elaboração própria.


O ano de 2013 foi marcado por diversos empecilhos à realização de
assistência humanitária na Síria. A negação do governo em permitir o acesso a
áreas sitiadas provocou maior necessidade dessa população. As atividades de
assistência, mais uma vez tem maior destaque, com a representação de 8,105 dos
gastos anuais.
As atividades de proteção foram majoritariamente de pedidos de
rastreamento de pessoas desaparecidas. Sendo assim houve um recuo de -23,03%
nas atividades de proteção comparadas a do ano anterior, inclusive não foram
registradas visitas a detentos no ano de 2013.

3.2.4 Ano de 2014

Em 2014, as hostilidades continuaram. Violações sérias do Direito


Internacional Humanitário agravaram a situação na Síria, com o número de mortes
registradas chegando a 200 mil, desde março de 2011 (CICV, 2015). Novos
aspectos foram introduzidos, como os ataques aéreos da coalisão liderada pelos
Estados Unidos da América (EUA) contra grupos armados operacionais no Iraque e
Síria (CICV, 2015).
Estimativas mostraram que mais de 10 milhões de pessoas necessitavam de
assistência, 6.5 milhões de pessoas, sendo quase metade crianças, estavam
57

deslocadas (CICV, 2015). Mais de 40 mil residências se encontravam em áreas


sitiadas por forças governamentais ou grupos armados por mais de um ano e o
acesso humanitário era sistematicamente negado por partes envolvidas no conflito
(CICV, 2015).
O número grande de grupos armados ativos na Síria ainda se colocava
como desafio para a segurança de equipes de campo; o reconhecimento e aceitação
limitados para as ações do Comitê dificultava a realização da assistência
humanitária (CICV, 2015). Tréguas ocasionais permitiram a chegada de alívio, ainda
que limitado, em áreas afetadas pelo conflito. No entanto, essas pausas não eram
duradoras, mas frágeis para permitir a ação humanitária segura (CICV, 2015).
Entre março de 2011 e dezembro de 2014, quarenta funcionários do SARC e
sete do Crescente Vermelho Palestino foram mortos (CICV, 2015). Os funcionários
que foram sequestrados em outubro de 2013 ainda não haviam sido libertados até o
fim de 2014 (CICV, 2015).
Outra vez, o CICV solicitou extensão do orçamento anual, o que possibilitou
o aumento de assistência alimentar de julho a dezembro (CICV, 2015). As cestas
básicas do CICV chegaram a 1.1 milhões de residências, alcançando mais de 5.8
milhões de residentes e IDPs; kits de higiene, colchões, cobertores, e outros
utensílios domésticos chegaram a mais de 1.4 milhões de pessoas (CICV, 2015).
Em áreas controladas por grupos armados em Alepo, foram distribuídos
utensílios domésticos para 46 mil pessoas e alimento para 95 mil (CICV, 2015). Em
Homs e na Damasco Rural foram distribuídos kits escolares para 14 mil crianças
deslocadas (CICV, 2015).
O Ministério de Recursos Aquáticos e conselhos de água locais foram bem
sucedidos em dialogar com as partes envolvidas em hostilidades para permitir a
realização de projetos de água e saneamento do CICV (CICV, 2015). Mais de 15
milhões de pessoas no país foram beneficiadas por esses projetos (CICV, 2015).
O acesso a água foi reestabelecido para 6.3 milhões de pessoas por reparos
emergenciais a infraestrutura danificada de distribuição; 372,166 IDPs foram
beneficiadas pela distribuição de água de caminhões e 163,376 tiveram as
instalações de água e saneamento reabilitados em centros de hospedagem (CICV,
2015). Água engarrafada também foi distribuída, como medida emergencial, a
162.451 IDPs (CICV, 2015).
58

Quantidades maiores de sulfato de alumínio e hipoclorito de sódio (1.000


toneladas e 500.000 litros, respectivamente) foram distribuídos em cidades e
províncias onde o sistema de distribuição de água era funcional (CICV, 2015).
Nas atividades de saneamento, foi realizada uma campanha de controle de
pragas, o que diminuiu os riscos de saúde de 3.7 milhões de pessoas (CICV, 2015).
Em Idlib, um programa de gerenciamento de lixo beneficiou 100 mil residentes e
IDPs (CICV, 2015).
O CICV foi permitido visitar quatro prisões centrais, sob a autoridade do
Ministério do Interior. Um total de 111 detentos foram acompanhados
individualmente, e foram capazes de manter comunicação com seus familiares por
meio de Mensagens Cruz Vermelha (MCVs) (CICV, 2015). Visitas a detentos cativos
por grupos armados não foram realizadas (CICV, 2015).
A prisão de Alepo, que ficou até maio sob o controle de grupos armados,
recebeu água potável, refeições, vestimentas e remédio providos pelo CICV e
entregues pelo SARC (CICV, 2015). O CICV também foi facilitador da libertação de
detentos que haviam cumprido sua sentença, bem como o transporte de restos
mortais humanos (CICV, 2015).
As necessidades em saúde continuaram a superar os serviços de saúde
disponíveis. “This imbalance was particularly severe in areas controlled by armed
groups and in besieged areas, where the entry of medical supplies, and access for
humanitarian organizations, was restricted” (CICV, 2015, p. 507).
Somente em quatro situações a entrega de suprimentos médicos foi
permitida em áreas sitiadas: em outubro, 5 mil pacientes cronicamente enfermos em
Homs receberam suprimento para três meses de medicamento, e mais 5 mil em
Yarmouk; 700 pacientes em Al-Waer receberam consumíveis de diálise entregues
ao Hospital Al-Bir em novembro; em Damasco Rural 3 mil pessoas foram
beneficiadas com a entrega de materiais pediátricos/obstetrícios em dezembro
(CICV, 2015).
Em Alepo, treze hospitais, controlados pelo governo ou grupos armados,
receberam 29 estojos de instrumentos cirúrgicos em dezembro; em junho e julho
também foram distribuídos suprimentos médicos a um total de sete hospitais (CICV,
2015).
Cuidados básicos de saúde também foram oferecidos em parceria do CICV
e SARC. Nove unidades móveis de saúde serviram em média milhões de pessoas
59

(CICV, 2015). Cuidado preventivo e curativo foi disponibilizado para cerca de 7 mil
pessoas por mês. A policlínica da Sociedade Nacional em Hama realizou em média
mil consultas por mês (CICV, 2015). Quatro centros de reabilitação em Alepo
receberam ataduras, muletas (400 pares) e cadeiras de rodas (50 unidades) (CICV,
2015).
As tabelas abaixo trazem dados detalhados dos atendimentos possibilitados
pela ação do CICV na Síria em 2014.

Tabela 7 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2014 na Síria

PROTEÇÃO 2014
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha
MCVs coletadas 10
MCVs distribuídas 35
Telefonemas facilitados entre familiares 1
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 60
Restos humanos transferidos/repatriados
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 2.184
Pessoas localizadas 252
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 4.108
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 39
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 16
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados 10.254
Detentos visitados e monitorados individualmente 111
Detentos recém registrados 105
Número de visitas realizadas 4
Número de locais de detenção visitados 4
MCVs coletadas 12
MCVs distribuídas 10
Telefonemas para familiares para informar paradeiro de um parente detento 238
Fonte: CICV, 2015. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2015.
60

Tabela 8 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2014 na Síria


ASSISTÊNCIA 2014
CIVIS
Segurança econômica
Commodities alimentares Beneficiários 5.827.591
Itens domésticos essenciais Beneficiários 1.427.113
Agua e habitação
Atividades de água e habitação Beneficiários 15.875.768,00
Saúde
Centros de saúde apoiados Estrutura 9
Imunização 9
Consultas Pacientes 55.315
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Segurança econômica
Itens domésticos essenciais Beneficiários 3.316
FERIDOS E DOENTES
Hospitais
Hospitais apoiados Estruturas 26
Água e habitação
Atividades de água e habitação Número de leitos 4.456
Fonte: CICV, 2015. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2015.
Os gastos realizados no ano foram contabilizados em 108,924 milhões de
francos suíços, o que constitui 34% de aumento em relação ao ano anterior. Na
figura 7 é possível visualizar a divisão dos gastos em diferentes categorias.

Figura 7 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2014 na Síria em mil CHF

Fonte: CICV, 2015. Elaboração própria.


61

No ano de 2014 é possível observar a entrada de novas atividades que não


haviam sido introduzidas nos anos anteriores, como a de cuidados de saúde às
pessoas privadas de sua liberdade. As próprias visitas foram permitidas novamente,
o que resultou no maior número de detentos acompanhados no período analisado
até agora.
As atividades de assistência continuaram a ocupar o maior espaço nos
trabalhos do CICV na Síria, correspondendo a 91,97% dos gastos do Comitê no
país. As que se destacaram foram as atividades de água e habitação, beneficiando a
mais de 20 milhões de pessoas,

4.1.5 Ano de 2015

Em 2015 a coalisão liderada pelos EUA continuou com os ataques aéreos


contra o Estado Islâmico9 e em setembro a Rússia deu início a operações aéreas
separadas (CICV, 2016). Estima-se que 260 mil pessoas foram mortas e mais de 1.5
milhões feridas desde março de 2011 (CICV, 2016). Pessoas em áreas sitiadas por
forças governamentais ou grupos armados sofreram com o impedimento imposto por
essas partes ao acesso humanitário (CICV, 2016).
The conflict, and the economic sanctions imposed by other countries,
seriously affected Syria’s economy and public infrastructure/services.
More and more people were driven into destitution by the widespread
destruction, lack of jobs and progressive scarcity or costliness of food,
water, health services and fuel (CICV, 2016, p.515).

Entre março de 2011 e dezembro de 2015, cinquenta funcionários do SARC


e oito do Crescente Vermelho Palestino foram mortos; os três membros da equipe
do CICV sequestrados em outubro de 2013 permaneceu sem resolução (CICV,
2016).
O CICV obteve melhorias na proximidade com seus beneficiários e mais
visitas e operações foram realizadas, em comparação com os anos anteriores
(CICV, 2016). No entanto, os riscos trazidos pelo ambiente operacional continuaram

9 Entidade Jihadista, também frequentemente referenciada pelas designações ISIS ou ISIL ou


DAESH, que evoluiu a partir da al-Qaeda, e sanciona violência contra aqueles acusados de
apostasias e descrença (TOMÉ, 2015-2016)
62

altos e extremamente dificultosos; menos pessoas foram beneficiadas pela ação do


CICV e Sociedade Nacional do que o planejado (CICV, 2016).
Mais de 8.8 milhões de pessoas receberam assistência alimentar do CICV,
sobretudo em forma de cestas básicas entregues aos beneficiários e refeições
preparadas em cozinhas coletivas apoiadas pelo Comitê (CICV, 2016). Um projeto
iniciado em maio entregou pacotes diários de pão a cerca de 190.500 pessoas em
Alepo, Damasco e Homs (CICV, 2016).
Mais de 300 mil residências receberam doações de itens de higiene e
utensílios domésticos, o que beneficiou cerca de 1.57 milhões de pessoas (CICV,
2016). Roupas de inverno foram entregues a 410 mil pessoas e kits escolares a
cerca de 120 mil (CICV, 2016).
As equipes do SARC foram responsáveis pela maioria das entregas
realizadas, tendo o apoio e facilitação do CICV quando necessário. Distribuição de
alívio foram feitas tanto em áreas controladas pelo governo com por grupos armado.
Em algumas áreas de difícil acesso, suprimentos foram transportados por vias
aéreas, com o consentimento das partes envolvidas (CICV, 2016).
O Crescente Vermelho Árabe Sírio desenvolveu projetos em três filiais para
ajudar a população a recuperar sua autossuficiência, incluindo atividades geradoras
de renda para famílias que haviam retornado a Homs (CICV, 2016).
Cerca de 830 mil pessoas receberam água dos caminhões e 217 centros de
IDPs tiveram as instalações sanitárias e de água reformadas (CICV, 2016). 1.2
milhões de litros de água engarrafada foram distribuídos como medida emergencial
a 280 mil IDPs (CICV, 2016).
Cidades com as instalações de água funcionais receberam doações de
geradores de energia elétrica e substâncias químicas do CICV para o tratamento de
água (CICV, 2016).
Cerca de 10 milhões de pessoas foram beneficiadas por uma campanha de
controle de pragas realizada com pesticidas doados pelo CICV (CICV, 2016). Em
Damasco, Dara, Homs, Idlib e Kuneitra, cerca de 110 mil pessoas foram atendidas
por projetos de gerenciamento de lixo sólido. Em Lattakia e Tartus, cerca de 2
milhões de pessoas foram beneficiadas pela instalação de plantas de tratamento de
lixo médico (CICV, 2016).
Nove unidades móveis de saúde e sete policlínicas ofereceram
atendimentos de cuidados básicos de saúde, incluindo para sarnas, nas cidades de
63

Alepo, Deir Ez Zor, Hama, Homs, Idlib, Damasco Rural, Sweida e Tartus (CICV,
2016). O CICV trabalhou em parceira com autoridades locais para refrear doenças
contagiosas, o que incluiu medicamento para centros de tratamento (CICV, 2016).
Mosqueteiros foram doados e 29 médicos do SARC foram treinados para e
tratar leishmaniose (CICV, 2016). Cerca de 120 mil pessoas receberam do CICV e
Sociedade Nacional suprimentos para tratamento para piolho (CICV, 2016).
Detentos em nove prisões centrais receberam visitas do CICV, incluindo um
centro de reabilitação juvenil que visitado pela primeira vez (CICV, 2016). O CICV
reuniu-se com 164 detentos individualmente, e a condições de tratamento e vida foi
monitorada nesses casos (CICV, 2016). Alguns grupos armados permitiram que o
CICV visitasse as pessoas em sua custódia, mas as visitas não ocorreram pela
situação de insegurança (CICV, 2016).
Suprimentos essenciais, como vestimenta, itens de higiene, foram
distribuídos a aproximadamente 17 mil detentos; 10.100 detentos foram beneficiados
com reparos aos sistemas de água, aquecimento, iluminação e ventilação em várias
prisões (CICV, 2016). Os atendimentos fizeram parte de projetos que visavam aliviar
as condições de vida dos detentos, o que incluiu doação de medicamentos (CICV,
2016).
Em outubro, pessoas em quatro áreas sitiadas receberam suprimentos
médicos do CICV e centenas de feridos dessas áreas foram evacuadas em
dezembro pelos esforços do CICV, SARC e Nações Unidas (CICV, 2016).
Vários hospitais mantiveram seus serviços com apoio temporário do CICV.
Três hospitais em Alepo e Deir Ez Zor receberam medicamentos, kits obstetrícios e
outros suprimentos; um hospital em Hassaeh e dois em Tartus receberam estojos
cirúrgicos (CICV, 2016).
Suprimentos para 7450 sessões de hemodiálise foram distribuídos a dez
instalações; geradores de energia elétrica doados mantiveram quinze hospitais e
clínicas funcionando, apesar da falta de energia em Alepo, Damasco, Hama e Homs;
cinco hospitais em Alepo receberam materiais e apoio de manutenção para seus
equipamentos biomédicos (CICV, 2016).
Serviços de reabilitação física foram disponibilizados a 945 pessoas em
centro especializado em Damasco, gerenciado pelo SARC com apoio do CICV. Em
Alepo, 245 pessoas com deficiências físicas receberam tratamento numa clínica de
64

reabilitação operada pelo CICV eu inaugurou em junho (CICV, 2016). Foram


distribuídas 1094 cadeiras de rodas e 2373 pares de muletas (CICV, 2016).

Tabela 9 - Detalhamento das Atividades de Proteção do CICV em 2015 na Síria

PROTEÇÃO 2015
CIVIS
Mensagens Cruz Vermelha
MCVs coletadas 16
MCVs distribuídas 7
Telefonemas facilitados entre familiares
Reunificações, transferências e repatriações
Pessoas transferidas/repatriadas 126
Restos humanos transferidos/repatriados
Pedidos de rastreamento. Incluindo casos de desaparecidos
Pessoas para quem um pedido de rastreamento foi recém registrado 1.921
Pessoas localizadas 230
Casos ainda sendo processados em dezembro de 2011 5.720
Documentos
Pessoas para quem documentos de viagem foram emitidos 14
Documentos retransmitidos entre familiares além fronteiras/linhas de frente 20
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Visitas do CICV
Detentos visitados 15.297
Detentos visitados e monitorados individualmente 164
Detentos recém registrados 118
Número de visitas realizadas 10
Número de locais de detenção visitados 10
MCVs coletadas 60
MCVs distribuídas 29
Telefonemas para familiares para informar paradeiro de um parente detento 235
Fonte: CICV, 2016. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2016.

Tabela 10 - Detalhamento das Atividades de Assistência do CICV em 2015 na Síria


ASSISTÊNCIA 2015
CIVIS
Segurança econômica
Commodities alimentares Beneficiários 8.809.191
Itens domésticos essenciais Beneficiários 2.099.692
Agua e habitação
65

Atividades de água e habitação Beneficiários 15,700,000


Saúde
Centros de saúde apoiados Estrutura 16
População média de captação 500.000
Consultas Pacientes 172.331
PESSOAS PRIVADAS DE SUA LIBERDADE
Segurança econômica
Commodities alimentares Beneficiários 25.518
Itens domésticos essenciais Beneficiários 17.008
Agua e habitação
Atividades de água e habitação Beneficiários 10100
Saúde
Número de visitas realizadas por equipe de saúde 4
Número de lugares de detenção visitados por equipe
5
de saúde
Número de instalações de saúde apoiadas em lugares
1
de detenção visitados por equipe de saúde
FERIDOS E DOENTES
Hospitais
Hospitais apoiados Estruturas 28
Água e habitação
Número de
Atividades de água e habitação 3307
leitos
Reabilitação física
Projetos apoiados Estruturas 2
Pacientes recebendo serviços Pacientes 1190
Novos pacientes encaixados com próteses Pacientes 99
Próteses entregues Unidades 278
Das quais destinadas para vítimas de minas ou
Unidades 12
explosivos remanescentes da guerra
Novos pacientes encaixados com órteses Pacientes 14
Órteses entregues Unidades 45
Pacientes recebendo fisioterapia Pacientes 648
Muletas entregues Unidades 84
Cadeiras de rodas entregues Unidades 8
Fonte: CICV, 2016. Elaboração própria com base nos dados do CICV, 2016.

Os gastos realizados no ano foram contabilizados em 137,454 milhões de


francos suíços. No gráfico abaixo é possível visualizar a divisão dos gastos em
diferentes categorias.
66

Figura 8 - Divisão dos gastos do CICV no ano de 2015 na Síria em mil CHF

10.808,00 5.325,00 Proteção

Assistência
126.647,00
Prevenção

Cooperação com
Sociedades Nacionais
171,00 Geral
2.180,00
3.132,00

Fonte: CICV, 2016. Elaboração própria.

No fim de 2015, cerca de 220.000 pessoas haviam sido mortas e 12,8


milhões de pessoas necessitavam urgentemente de assistência humanitária dentro
da Síria. Mais de 50% da população da Síria encontrava-se deslocada em
decorrência do conflito (ANISTIA INTERNACIONAL, 2015).
Os serviços prestados pelo CICV, embora sob a permissão ora concedida
ora não, por várias vezes superou os números apresentados. Desde 2012 os
beneficiários de atividades de água e habitação superam 70% da população síria.
Não é possível aferir dos dados analisados se o número de beneficiários da
Cruz Vermelha corresponde a pessoas atendidas uma única vez, chegando à
estatística final ou se houve entre os beneficiários quem recebeu assistência
humanitária mais de uma vez na mesma categoria ou até mesmo foi atendido em
categorias distintas, sendo contabilizado nas duas separadamente. O mais provável
é que seja a última opção.
De qualquer forma, o empenho do Comitê e da Sociedade Nacional em
prestar assistência humanitária imparcial é louvável e os números apresentados nos
relatórios relevantes para amenizar os efeitos dos conflitos armado na Síria.
Desde o ano de 2011, é possível observar a projeção de gastos do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha na Síria. Nos gráficos seguintes são mostrados os
valores nas duas categorias mais expressivas, segundo a análise dos relatórios
anuais de 2011 a 2015.
67

Figura 9 - Gastos do CICV com Proteção na Síria em mil CHF

3.500,00 3.132,00
2.964,00
3.000,00
2.323,00
2.500,00
1.788,00
2.000,00

1.500,00 1.081,00

1.000,00

500,00

-
2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: CICV. Elaboração própria com base nos dados do CICV.

Figura 10 - Gastos do CICV com Assistência na Síria em mil CHF

126.647,00
140.000,00

120.000,00 100.186,00

100.000,00
71.611,00
80.000,00

60.000,00
31.342,00
40.000,00

20.000,00 1.238,00

-
2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: CICV. Elaboração própria com base nos dados do CICV.

Os gastos com proteção e assistência tiveram seus auges no ano de 2015,


mas, ao contrário dos gastos com assistência, os com proteção sofreram um recuo
no ano de 2013. Esse cenário pode ser explicado pelas dificuldades enfrentadas
pelo CICV em obter autorização do governo para exercer a ajuda humanitária.
É certo que durante todo o período abordado houve a preocupação do CICV
em dialogar com as partes conflitantes e lembra-las de seu compromisso com as
68

disposições das Convenções de Genebra e Protocolos Adicionais, bem como em


realizar treinamento das forças armadas governamentais sírias no tocante ao DIH.
Contudo, não houve grandes resultados e ano após ano as violações ao Direito
Humanitário se intensificam.
69

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as discussões elaboradas neste trabalho, sobre o Comitê


Internacional da Cruz Vermelha e sua atuação na Síria durante o conflito iniciado em
2011, pode-se apontar algumas considerações.
Primeiramente, como visto no capítulo 1, buscou-se apresentar conceitos
usados no estudo das Relações Internacionais que permitiram entender a dinâmica
de atores não estatais nas RI. Mais especificamente, foi visto como fenômenos
como a globalização contribuíram para uma maior aproximação da Sociedade Civil
Global, o que resulta na participação crescente desses atores não estatais nas RI.
O conceito de Organização Internacional Não Governamental permite
entender o papel do CICV e sua natureza institucional. Sendo uma organização
formada de particulares, realiza tratados internacionais, chega-se à conclusão do
que seja uma OING, diferenciando-se de Organizações Internacionais e
Organizações Não Governamentais.
Situado o CICV, foram abordados os fatos históricos de sua fundação, bem
como aspectos organizacionais e sua participação na construção do Direito
Internacional Humanitário, como direito que rege conflitos armados. A esse respeito,
pode-se perceber o papel fundamental da Cruz Vermelha na elaboração das
Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais como a expressão primária
do DIH moderno.
No caso do conflito interno na Síria, como é tratado no capítulo 2, procurou-
se apresentar elementos que explicassem as origens do conflito e as razões pelas
quais ele dura até hoje. Assim, foi identificada a herança de instabilidade política do
país, a instalação de um regime autoritário da família Assad, as manifestações
populares impulsionadas pela Primavera Árabe e outras influências externas no
país.
Foi possível identificar também o elemento da globalização na participação
da sociedade civil nas manifestações populares realizadas na Síria, bem como em
demais movimentos da Primavera Árabe. A utilização de meios de comunicação
como a internet e redes sociais foram propulsoras das ideias dos movimentos, e se
mostraram capazes de gerar mudanças que impactassem nas relações
internacionais.
70

71
Percebeu-se sobretudo a complexidade da República Árabe da Síria, a
dificuldade e a necessidade de um maior aprofundamento sobre sua história, que
está intimamente ligada aos atuais desdobramentos dos conflitos, e a perpetuação
dele por meio de influências externas, com a Rússia e a Arábia Saudita.
No capítulo 3 buscou-se mostrar os diferentes tipos de trabalhos realizados
pelo CICV na Síria, os mais relevantes e as dificuldades encontradas pelo Comitê na
realização de suas atribuições como organização humanitária. A esse respeito,
verificou-se que as atividades de assistência, que incluem distribuição de alimentos,
água, serviços médicos e hospitalares, foram os mais expressivos no período
estudado.
Tendo em vista a escassa, se não inexistente contribuição acadêmica a
respeito do trabalho do CICV na Síria, seja o recorte temporal qual for, buscou-se
realizar essa pesquisa para servir como análise inicial do tema, quando houver
interesse em aprofundar-se no assunto.
No que condiz à participação do CICV na Síria, em conjunto com a
Sociedade Nacional, foi possível notar o alinhamento dos trabalhos dessas
organizações em busca do atendimento imparcial de vítimas do conflito. Também a
dedicação da equipe que ali trabalha que, mesmo sob o perigo iminente, continua a
expandir os atendimentos realizados, tanto em número quanto em tipo. Analisa-se
essa participação como positiva no aspecto de oferecer ajuda humanitária aos
afetados pelo conflito.
Entretanto, o contínuo desrespeito ao Direito Internacional Humanitário em
conflitos como o apresentado traz questionamentos a respeito da eficácia das
normas humanitárias e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, na sua atribuição
de guardião do DIH, em fazer com que as partes contratantes cumpram os tratados
e acordos a esse respeito.
Tendo em vista a continuidade do conflito interno na Síria, o agravamento da
situação humanitária e novos desdobramentos no país, principalmente no ano de
2016, existe a intenção de dar continuidade a esta pesquisa em outro momento, de
forma a aprofundar a discussão e estender o recorte temporal a um mais atual.
71

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