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Certificação e Aeronavegabilidade Continuada

Módulo 1

MÓDULO 1

CERTIFICAÇÃO DO PRODUTO

Ao final deste Módulo, você deverá ser capaz de:

 Compreender o processo de certificação do produto aeronáutico.


 Identificar os documentos produzidos no processo de certificação do produto
aeronáutico.

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INTRODUÇÃO

A vida de uma aeronave pode ser resumida nas seguintes etapas:


1. Projeto;
2. Fabricação;
3. Operação; e
4. Sucateamento.

O projeto, a fabricação e a operação de aeronaves são baseados em padrões


estabelecidos para promover a segurança operacional do transporte aéreo.

A evolução dos padrões de segurança operacional está relacionada não só ao


desenvolvimento tecnológico, mas também ao nível de segurança operacional aceitável
pela sociedade para determinada atividade.

Vejamos o que diz o § 2º do Art. 66, do Código Brasileiro de Aeronáutica – CBA:


“Art. 66. Compete à autoridade aeronáutica promover a segurança de voo, devendo
estabelecer os padrões mínimos de segurança.
§ 2° Os padrões poderão variar em razão do tipo ou destinação do produto
aeronáutico.”

Assim, pode-se esperar que a atividade de salto de paraquedas envolva algum


risco. Mas, a atividade de transporte aéreo público de passageiros deve envolver um
risco infinitamente menor.

Os padrões de segurança operacional são estabelecidos no Brasil pelos


Regulamentos Brasileiros de Aviação Civil (RBAC). Os RBAC internalizam os padrões
estabelecidos pelos Anexos da International Civil Aviation Organization (ICAO),
organização criada em 1944, por 52 países, entre eles o Brasil, com a finalidade de criar
normas para o transporte aéreo internacional que cresceria rapidamente após a
Segunda Guerra Mundial.

Você sabia que a Autoridade de Aviação Civil Brasileira nasceu antes desse
período?

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Em 22 de abril de 1932, o Presidente Getúlio Vargas criou o Departamento de


Aviação Civil, subordinado ao Ministério de Viação e Obras Públicas.

Uma curiosidade
O Paulistinha (CAP 4), famoso avião brasileiro, foi
certificado em janeiro de 1943.

PROJETO DE TIPO

Vejamos o que diz o Art. 67, do CBA:


“Somente poderão ser usadas aeronaves, motores, hélices e demais componentes
aeronáuticos que observem os padrões e requisitos previstos nos Regulamentos de que
trata o artigo anterior, ressalvada a operação de aeronave experimental.”

Então, devem existir Regulamentos que estabeleçam padrões para o projeto, a


fabricação e a operação de aeronaves.

Os requisitos procedimentais para a aprovação de projetos de produtos


aeronáuticos são estabelecidos no RBAC 21, bem como os requisitos para sua
produção.

O que é um produto aeronáutico?

De acordo com o RBAC 01: “considera-se produto aeronáutico qualquer


aeronave civil, motor ou hélice de aeronave ou aparelho neles instalados.”

Na Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, a Gerência-Geral de Certificação


de Produto Aeronáutico (GGCP) é a responsável pela aprovação de projetos de
produtos aeronáuticos.

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No RBAC 21, encontraremos requisitos conforme os exemplos abaixo:

Nem todas as aeronaves que operam no Brasil possuem certificação brasileira.


Conforme o RBAC 21.29(d)-I, os modelos de aeronaves registrados no Brasil, antes de
19 de dezembro de 1986, ano de publicação do Código Brasileiro de Aeronáutica, estão
isentos de certificação brasileira.

Fique atento!
O Brasil adota as especificações técnicas do país de origem
para aeronave isentas de certificação brasileira.

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Ainda que requerido pelo Código Brasileiro do Ar (antecessor do CBA), nem


todos os modelos de aeronaves estrangeiras que operavam no país antes de 1986
possuíam certificação brasileira. Com a publicação do CBA, a Autoridade de Aviação
Civil brasileira tinha duas alternativas:
– certificar todos os modelos que já operavam no país; ou
– torná-los isentos de certificação.
Optou-se por torná-los isentos.

A aprovação de projetos de produtos aeronáuticos é um processo relativamente


extenso, que pode durar alguns anos, e que seguem os requisitos procedimentais do
RBAC 21 e os requisitos de aeronavegabilidade específicos para o produto, conforme
abaixo:
– RBAC 23 - aviões categoria normal, utilidade, acrobática e transporte
regional
– RBAC 25 - aviões categoria transporte
– RBAC 27 - aeronaves de asas rotativas categoria normal
– RBAC 29 - aeronaves de asas rotativas categoria transporte
– RBAC 31 - balões livres tripulados
– RBAC 33 - motores aeronáuticos
– RBAC 35 – hélices

Esses RBAC estabelecem os requisitos de aeronavegabilidade para os produtos


aeronáuticos descritos em cada um deles. São requisitos técnicos: as características de
voo, a estrutura, o projeto e a construção, o grupo motopropulsor, as limitações
operacionais, etc.

Veja abaixo um exemplo do que podemos encontrar num RBAC de requisitos de


aeronavegabilidade.

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Exemplo de um requisito do RBAC 25

§ 25.333 Flight maneuvering envelope.

(a) General. The strength requirements must be met at each combination of airspeed and load
factor on and within the boundaries of the representative maneuvering envelope (V-n diagram)
of paragraph (b) of this section. This envelope must also be used in determining the airplane
structural operating limitations as specified in §25.1501.
(b) Maneuvering envelope.

View or download PDF [Doc. No. 5066, 29 FR 18291, Dec. 24, 1964, as amended by Amdt. 25–
86, 61 FR 5220, Feb. 9, 1996]

Você sabe o porquê do uso do termo “Projeto de Tipo”?

Conforme o RBAC 01, a palavra “tipo”, quando trata-se de certificação de aeronaves,


refere-se àquelas aeronaves que têm projetos similares. Exemplos: DC-7 e DC-7C.

Do que consiste o “Projeto de Tipo”?


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Conforme o RBAC 21.31, o projeto de tipo consiste de:


“(a) desenhos e especificações;
(b) informações sobre dimensões, materiais e processos;
(c) seção de limitações de aeronavegabilidade;
(d) para aeronaves categoria primária, se desejado, programas especiais de
inspeções e de manutenção; e
(e) quaisquer outros dados julgados necessários.”

Ao final do processo de certificação de aeronave, motor ou hélice, é emitido o


Certificado de Tipo (CT). Abaixo, segue exemplo de parte de um CT:

Para produtos aeronáuticos, diferentes de aeronave, motor ou hélice, é emitido


o Certificado de Produto Aeronáutico Aprovado (CPAA). Abaixo está um exemplo de
parte de um APPA (Atestado de Produto Aeronáutico Aprovado), antecessor do CPAA.
O CPPA foi estabelecido em emenda recente ao RBAC 21 e até a presente data não há
CPAA emitidos.

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Segue exemplo de APPA aprovado

Os padrões técnicos para os produtos aeronáuticos diferentes de aeronave,


motor e hélice não são estabelecidos nos RBAC. As Ordens Técnicas Padrão (OTP),
que são adoções integrais das Technical Standard Orders (TSO), da FAA, contêm
requisitos mínimos de desempenho para alguns artigos usados em aeronaves civis.

Toda grande modificação/alteração ao Projeto de Tipo também deve ser


aprovada, por meio da emissão de um Certificado Suplementar de Tipo (CST), ou outro
tipo de aprovação, como veremos no Módulo 3.

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Segue exemplo de parte de um CST

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INSTRUÇÕES DE AERONAVEGABILIDADE CONTINUADA (ICA)

Vejamos o que diz o RBAC 21.50(b):

“O detentor de uma aprovação de projeto, incluindo tanto um certificado de tipo ou um


certificado suplementar de tipo... deve fornecer pelo menos um conjunto completo das
instruções para aeronavegabilidade continuada para o proprietário de cada aeronave...
Depois disto, o detentor de uma aprovação de projeto deve colocar tais instruções à
disposição de qualquer pessoa a quem os RBAC requeiram o cumprimento de qualquer
condição de tais instruções.”

O que se entende do texto do RBAC 21 acima é que um detentor de um CT ou


CST deve fornecer as ICA para o proprietário, devendo também disponibilizar as ICA
para quem os RBAC requeiram o cumprimento de tais instruções, ou seja, as oficinas
de manutenção aeronáutica, que estão incluídas nesse grupo.

Mas, o que são as Instruções de Aeronavegabilidade Continuada (ICA)?

Resumidamente, as ICA são instruções, aceitas ou aprovadas pela Autoridade


de Aviação Civil, para manter o produto aeronáutico em condições seguras de operação.

Formalmente, a IS 145.009-001, item 4.7, define ICA como:


“Documento emitido pelo detentor do projeto de tipo ou o fabricante do produto
aeronáutico, que fornece métodos, técnicas e práticas aceitáveis para a execução de
manutenção, manutenção preventiva e alterações. As ICA são consideradas
documentos aceitáveis pela ANAC, no entanto, uma ICA pode conter informações que
são aprovadas pela ANAC.”

São alguns exemplos de ICA, conforme IS 145.109-001, Apêndice B:


– Manual de Manutenção da Aeronave;
– Instruções de Manutenção que contenham:
. Informações de escalamento de manutenção;

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. Informações de “pesquisa e correção de panes”;


. Informações que descrevam métodos e ordem de remoção e
instalação de produtos e partes; e
. Outras instruções gerais.
– Diagramas e painéis de acesso às partes estruturais;
– Detalhamento das técnicas especiais de inspeção;
– Informações necessárias de como aplicar tratamento de proteção à
estrutura;
– Informações relativas aos fixadores estruturais;
– Lista de ferramentas especiais;
– Para aeronaves turboélices: cargas elétricas aplicáveis aos sistemas,
métodos de controlar e balancear as superfícies de controle, identificação das estruturas
primária e secundárias e métodos de reparo especiais; eManual de limitações de
aeronavegabilidade ou seção que as contenha.

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O Airplane Maintenance Manual do PA-42-1000 é um exemplo de ICA

ESPECIFICAÇÕES DO PRODUTO (TCDS)

Vejamos o que diz o RBAC 21.41:

“Considera-se que cada certificado de tipo inclui o projeto de tipo, as limitações


operacionais, a especificação de tipo do produto (grifo nosso), os RBAC aplicáveis com
os quais foi demonstrado cumprimento e quaisquer outras condições ou limitações
estabelecidas para o produto de acordo com este regulamento.”

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As especificações de tipo do produto fornecem uma definição concisa do produto


certificado.

Abaixo está um exemplo de parte de uma especificação de tipo do produto,


emitida pela ANAC para a aeronave Cessna Citation 750X:

A ANAC emite as Especificações de Tipo do produto conforme abaixo:


– EA: Especificação de Aeronave;
– ER: Especificação de Helicóptero;
– EM: Especificação de Motor;
– EH: Especificação de Hélice;
– EP: Especificação de Planador; e
– EB: Especificação de Balão.
A FAA emite o Type Certificate Data Sheet (TCDS).

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Fique atento!
Conforme dito anteriormente, para aeronaves isentas de certificação brasileira, são
adotados os TCDS dos países de origem.

As especificações do produto aeronáutico são bastante usadas no processo de


certificação de aeronavegabilidade, que será estudado nos próximos módulos.

Quando se certifica um avião, é estabelecido qual o conjunto de motores e


hélices (se aplicável) que deve estar instalado e essa informação é uma das
informações contidas na EA (por exemplo). Outras informações, como peso máximo de
decolagem, tripulação mínima, número máximo de passageiros etc, também constam
das especificações.

Quer saber mais?


As especificações dos produtos aeronáuticos estão disponíveis na página da
ANAC: www.anac.gov.br/certificacao.

Até o próximo Módulo!

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