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Calibração de termômetro
1º Quadrimestre 2011
THE MORE YOU UNDERSTAND WHAT IS WRONG WITH A FIGURE, THE MORE VALUABLE THAT FIGURE BECOMES .
(LORD KELVIN)
Objetivos:
1- Introdução
A noção de temperatura foi associada por muito tempo à noção de quente e frio.
Por meio do tato é possível distinguir corpos quentes e frios, além de poder dispor os
corpos em ordem de aquecimento, decidindo se A esta mais quente que B ou C. Apesar de
simples, é um procedimento subjetivo para determinar a temperatura de um corpo e não
serve para fins científicos. De fato, os sentidos podem facilmente enganar: coloque, por
exemplo, a mão numa superfície metálica e na madeira, você sentirá o metal mais frio do
que madeira; no entanto, ambos estão na mesma temperatura. Além disso, o intervalo de
temperatura em que podemos sentir a variação de temperatura é limitado.
É interessante observar que a grandeza Temperatura talvez tenha sido a primeira
grandeza termodinâmica a ser medida. Isto foi feito por Galileu em 1592 utilizando um
termoscópio de ar construído por ele. A partir do termoscópio de Galileu, diversos
termômetros foram construídos, dos quais vale a pena citar [1]:
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- Em 1640, o grande duque Ferdinando II (1610-1670) da Toscana, um dos
fundadores da Academia Florentina do Experimento, constrói o primeiro termômetro de
álcool, cuja aplicação se dá nas áreas de medicina, agricultura e meteorologia;
- Em 1713, o alemão Daniel Gabriel Fahrenheit (1686-1736), um operário de uma
fábrica de vidro, constrói um termômetro a álcool, que logo depois é substituído por um de
mercúrio. Ele também passa a trabalhar com pontos fixos de temperatura: a temperatura de
ebulição da água (que ele definiu como sendo 212° F) e o ponto de fusão do gelo (32° F),
que definem hoje em dia a escala conhecida como escala de Fahrenheit;
- Numa tentativa de aperfeiçoamento e na obtenção de medidas mais precisas, o
zoólogo francês René A. F de Réaumur (1683-1757) e o astrônomo sueco Anders Celsius
(1701-1744) estabeleceram as escalas de Réaumur e Celsius, respectivamente;
- Em 1817, o relojoeiro francês Abraham Louis Breguet (1747-1823) constrói
termômetros metálicos que deram origem aos termógrafos: termômetros registradores.
Todos os termômetros acima citados baseiam-se num mesmo processo:
- o aparelho entra em equilíbrio térmico com o sistema cuja temperatura se busca
medir (mesma temperatura);
- alguma grandeza física do elemento sensor é afetada pela temperatura (o volume
do líquido, no caso dos termômetros por princípio de dilatação; a resistência elétrica; a
diferença de potencial etc.);
Há outros termômetros que utilizam princípios diferentes, por exemplo, medindo a
energia irradiada pelo objeto que está aquecido.
2- Medida de temperatura
Existem diversas grandezas físicas que variam quando varia a nossa percepção
fisiológica de temperatura. Entre estas estão o volume de um líquido, o comprimento de
uma barra, a resistência elétrica de um fio, a pressão de um gás mantido a volume
constante, o volume de um gás mantido a pressão constante, a cor do filamento de uma
lâmpada. Qualquer uma destas grandezas pode ser usada para a construção de um
termômetro. Para isto é necessária a construção de uma escala termométrica.
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A definição desta escala termométrica é feita admitindo-se uma relação monotônica
contínua entre a propriedade termométrica da substancia escolhida e a temperatura medida
em uma escala conhecida. Note que a escolha de uma substância e de sua propriedade
termométrica, juntamente com a relação admitida entre a propriedade e a temperatura,
conduz a uma escala termométrica específica. As figuras abaixo apresentam uma escala
linear e outra não linear.
80
60
oC
40
20
0 mm
0 50 100 150 200 250
Figura 1- Escala de dilatação de líquido Figura 2- Escala típica de termistor NTC [3]
A construção de uma escala termométrica não garante que, durante a vida útil do
equipamento, este permanecerá sempre com os mesmos desvios em relação ao valor
verdadeiro da grandeza. Variações de propriedades dos materiais constituintes e de ajustes
internos do equipamento estão entre possíveis causas da variação de medida do
equipamento.
Para garantir que o equipamento se mantenha apropriado para o uso é necessário
manter o desvio em relação ao valor verdadeiro da grandeza, na sua classe de exatidão. Um
equipamento comprado com o objetivo de controlar a grandeza de um processo em um
intervalo +/- 1% deve manter desvios em um intervalo menor que este (tipicamente de
0,1% a 0,3%).
Assim, a confiança no uso do instrumento exige sua calibração periódica. A
periodicidade depende de:
- Tipo de instrumento. Por exemplo, raramente um sistema de qualidade de uma
indústria permite que um instrumento eletrônico seja calibrado em períodos maiores que
um ou dois anos. Um termômetro de vidro pode ter um período entre calibrações de 5 anos;
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- Taxa de uso do instrumento. Um instrumento muito utilizado provavelmente sofre
mais desgaste do que um não utilizado. Por outro lado, este uso frequente em alguns
processos permite um acompanhamento contínuo do estado do equipamento;
- Ambiente de uso. Em laboratórios com temperatura e umidade controlados, a
instrumentação eletrônica, por exemplo, possui menor variabilidade de características ao
longo do tempo;
- Treinamento da equipe. A experiência da equipe na medição de uma determinada
grandeza pode permitir, por exemplo, que um determinado controle de processo seja feito
por dois instrumentos distintos quando necessário. Assim como uma verificação periódica
do instrumento, sempre necessária, feita de forma adequada, pode ampliar o seu período de
calibração;
- Processo monitorado pelo instrumento. Há processos no qual a instrumentação
utilizada não pode ser retirada com facilidade para calibração, e nestes casos, a grandeza é
medida de forma redundante. Há processos menos dependentes da grandeza medida do que
outros;
- Histórico do instrumento. Manutenção preditiva, verificações periódicas,
acompanhamento contínuo da história dos resultados de calibrações e manutenções podem
ampliar o período entre calibrações de instrumentos;
- Outros fatores: custo da calibração, disponibilidade de padrões para calibração,
métodos de calibração etc.
Há várias maneiras de se calibrar um instrumento. Um dos mais utilizados é o
método de comparação no qual a grandeza medida pelo instrumento é medida ao mesmo
tempo por um instrumento padrão, de maior exatidão.
Algumas calibrações resultam em uma tabela de correção de valores que auxilia o usuário
do instrumento a reduzir as incertezas do processo de medição.
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Tabela 2: Exemplo de certificado de calibração
Erro de Incerteza
V.I. VVC
indicação Expandida
o o o o
leitura C C C C
00.0 0,0 0,22 -0,22 0,75
30.0 30,0 30,60 -0,60 0,75
60.0 60,0 60,96 -0,96 0,75
90.0 90,0 91,35 -1,35 0,75
120. 120 121,78 -1,78 0,75
Observações:
- O fator de conversão da leitura do instrumento para a unidade do S.I foi 1 oC/l.
- Não houve ajuste.
- V.I.: Valor indicado no instrumento na sua unidade.
- V V C: Valor verdadeiro convencional
- Erro de indicação: V.I. – VVC
- A Incerteza Expandida é baseada em uma incerteza padrão combinada, multiplicada por
um fator de abrangência de k = 2, para um nível de confiança de aproximadamente 95 %.
3- Parte Experimental
1 - Coloque (gelo + água) em um béquer e espere até que o sistema entre em equilíbrio
térmico. A temperatura deste sistema será considerada a referência 1: Tmin=0 oC,
temperatura de fusão da água.
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2 - Quando o sistema estiver em equilíbrio térmico, coloque o termômetro sem escala
no béquer e marque a altura da coluna de mercúrio (corresponde à marca M1)
3 - Em outro béquer, coloque 100 ml de água e coloque para aquecer na chapa quente.
4 - Quando a água começar a ferver (referência 2: Tmax= 100oC= temperatura de
ebulição da água), coloque o termômetro sem escala no béquer e marque a altura da
coluna de mercúrio (marca M2).
3.5- Questões
4- Referências Bibliográficas
[2] R. Resnik, D. Halliday, Física, Volume 2, Livros técnicos e científicos Editora, Rio de
Janeiro (1999).
5- Autores
Apostila elaborada pela professora M. Escote e revisada pelos Profs. J.C. Teixeira, S.M.
Malmonge e D. Consonni.
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Apêndice - Fundamentos de calibração
Será utilizado um fator de correção linear, obtido a partir dos métodos dos mínimos
quadrados [6].
A calibração será feita a partir da comparação de valores lidos de um sensor de
temperatura TK, comparados com os valores do termômetro de referência TC. Destes
valores, obtém-se a correção ou desvio:
bK = [TC – TK] (1)
n
S = ∑ [ bK − y1 − y2 (TK − T0 ) ]
2
(3)
K =1
y1 =
( ∑ b ) ( ∑θ ) − ( ∑ b θ ) ( ∑θ )
K
2
K K K K
(4)
D
n ( ∑ bKθ K ) − ( ∑ bK ) ( ∑ θ K )
y2 = (5)
D
( ∑θ ) − ( ∑θ )
2
onde: D = n 2
K K ; θ K = TK − T0 e n é o número de medidas.
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Através do cálculo de (4) e (5) chega-se a (2), que é a curva de calibração de um
sensor, que fornece o valor previsto da correção b(T) em qualquer temperatura T e em
particular em T = Tk.
A qualidade do ajuste realizado depende de valores como o desvio padrão, as variâncias
e covariâncias dos parâmetros ajustados, que por sua vez estão associados à incerteza desta
calibração. Para a determinação destes valores, utilizam-se os seguintes conceitos:
s 2 ∑ θ K2
s 2 ( y1 ) =
D
e:
s2
s 2 ( y2 ) = n
D
A variância é o quadrado do desvio padrão, isto é, s2, que é a soma dos desvios
quadráticos das observações de sua média aritmética, dividida pelo número de observações
menos o número de graus de liberdade.
∑[ b − b(TK )]
2
s 2
= K
n−2
onde: u ( y1 ) = s ( y1 ) = s 2 ( y1 ) e u ( y2 ) = s ( y2 ) = s 2 ( y2 )
∑θ k
r ( y1 , y2 ) =
− n∑ θ k2
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A partir desta análise, determina-se o valor da correção prevista b(T) e a incerteza
desta correção uc [ b(T ) ] . Em geral, os valores assim obtidos podem ser representados da
seguinte forma: b(T ) ± uc [ b(T )] .
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