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Pesquisadores do Rio de Janeiro e de São Paulo descrevem associação entre polimorfismos em microRNAs com níveis de um
peptídeo antimicrobiano na saliva (foto: divulgação)
Peter Moon | Agência FAPESP – A digestão dos alimentos começa com a mastigação e a ação
da saliva. Além de facilitar a digestão, a saliva tem em sua composição substâncias
antimicrobianas que agem no combate a microrganismos que podem causar doenças na boca,
entre elas a cárie.
Um trabalho que acaba de ser publicado na revista Caries Research, publicação científica
focada exclusivamente na pesquisa da cárie, investigou a associação do polimorfismo genético
na betadefensina e microRNA 202 com a variação dos níveis do antimicrobiano e o aparecimento
da cárie.
A pesquisa reuniu uma equipe de 12 profissionais de São Paulo e do Rio de Janeiro. A primeira
autora é Andrea Lips (o estudo derivou do seu trabalho de doutorado), da Universidade Federal
Fluminense, e a pesquisadora responsável pelo trabalho é a sua coorientadora de doutorado,
Erika Calvano Küchler, Jovem Pesquisadora-FAPESP do Departamento de Clínica Infantil -
Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo (USP).
“A cárie é uma doença multifatorial complexa e que podemos prevenir. Nosso interesse neste
trabalho foi tentar entender quais seriam os mecanismos moleculares, principalmente aqueles de
origem genética, envolvidos no aparecimento da cárie em crianças”, disse.
“Em alguns estudos, o polimorfismo no gene que codifica a betadefensina tem sido associado à
cárie dentária em humanos. Nossa hipótese partia da ideia de que a falha na ação antimicrobiana
das betadefensinas que previnem a formação da cárie poderia estar ligada a malformações
(polimorfismos) no gene DEFB1 ou no microRNA 202”, disse Küchler.
“Nosso trabalho consistiu em duas partes. A primeira visou replicar os estudos entre o gene da
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16/10/2018 Estudo investiga mecanismos genéticos da cárie | AGÊNCIA FAPESP
Os níveis salivares dos peptídeos de betadefensina hBD1, hBD2 e hBD4 foram acessados a
partir de amostras de saliva de 168 crianças (92 meninos e 76 meninas) entre 2 e 12 anos, da
pré-escola e do ensino fundamental de Nova Friburgo, Rio de Janeiro.
Foram incluídas somente crianças livres de cárie (81 crianças) e crianças com grande quantidade
de cárie, ou seja, quatro ou mais lesões (87 crianças). Para a coleta, as crianças precisavam
estar sem comer nem escovar os dentes há pelo menos 30 minutos, de modo que a composição
da saliva fosse a menos alterada possível.
As análises genotípicas de polimorfismo em DEFB1 e nos três genótipos do microRNA 202 (TT,
CT e CC) foram feitas nas mesmas amostras, de modo a avaliar o impacto das variações
polimórficas nos níveis salivares de betadefensina.
Por fim, foi feita uma análise multifatorial que levou em conta os resultados genotípicos de DEFB1
e do microRNA 202, os níveis de betadefensina na saliva e os critérios de avaliação
comportamental das 168 crianças.
“Na primeira parte do trabalho, não conseguimos verificar uma associação entre polimorfismo em
DEFB1 e variações nos níveis salivares de betadefensina hBD1, hBD2 e hBD4. Mas, na segunda
parte, descobrimos uma associação entre polimorfismo no microRNA 202 e os níveis de
betadefensina. A análise genotípica do microRNA 202 demonstrou que o seu genótipo CC estava
associado a níveis menores de betadefensina hBD1 na saliva. Houve associação entre o
microRNA 202 e a suscetibilidade à cárie”, disse Küchler.
Os resultados sugerem que o genótipo CC do microRNA 202 interage com o RNA mensageiro do
gene de DEFB1, já que a expressão da betadefensina hBD1 na saliva é menor nas crianças que
carregam o genótipo CC do microRNA 202. E a expressão menor de hBD1 na saliva é um fator
de suscetibilidade para o aparecimento de lesões de cárie.
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“No futuro, quando identificarmos o conjunto de genes associados ao aparecimento da cárie, será
possível detectar, bem cedo, quais crianças teriam maior predisposição ao desenvolvimento de
cárie e iniciar tratamento de prevenção”, disse Küchler.
Genetic Polymorphisms in DEFB1 and miRNA202 Are Involved in Salivary Human β-Defensin 1
Levels and Caries Experience in Children (doi: https://doi.org/10.1159/000458537), de Andrea
Lips, Leonardo Santos Antunes, Lívia Azeredo Antunes, Júlia Guimarães, Barcellos de Abreu,
Driely Barreiros, Daniela Silva Barroso de Oliveira, Ana Carolina Batista, Paulo Nelson-Filho, Léa
Assed Bezerra da Silva, Raquel Assed Bezerra da Silva, Gutemberg Gomes Alves e Erika
Calvano Küchler, pode ser lido em: https://www.karger.com/Article/Pdf/458537.
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