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16/10/2018 Estudo investiga mecanismos genéticos da cárie | AGÊNCIA FAPESP

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Pesquisadores do Rio de Janeiro e de São Paulo descrevem associação entre polimorfismos em microRNAs com níveis de um
peptídeo antimicrobiano na saliva (foto: divulgação)

Estudo investiga mecanismos genéticos da cárie


05 de junho de 2017

Peter Moon | Agência FAPESP – A digestão dos alimentos começa com a mastigação e a ação
da saliva. Além de facilitar a digestão, a saliva tem em sua composição substâncias
antimicrobianas que agem no combate a microrganismos que podem causar doenças na boca,
entre elas a cárie.

Um destes agentes químicos é a betadefensina (DEFB1), um peptídeo antimicrobiano produzido


a partir de informações transmitidas pelos microRNAs associados ao gene que dá origem ao
peptídeo – o microRNA constitui uma classe de RNA não recombinante com papel fundamental
na regulação da expressão gênica.
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Um trabalho que acaba de ser publicado na revista Caries Research, publicação científica
focada exclusivamente na pesquisa da cárie, investigou a associação do polimorfismo genético
na betadefensina e microRNA 202 com a variação dos níveis do antimicrobiano e o aparecimento
da cárie.

A pesquisa reuniu uma equipe de 12 profissionais de São Paulo e do Rio de Janeiro. A primeira
autora é Andrea Lips (o estudo derivou do seu trabalho de doutorado), da Universidade Federal
Fluminense, e a pesquisadora responsável pelo trabalho é a sua coorientadora de doutorado,
Erika Calvano Küchler, Jovem Pesquisadora-FAPESP do Departamento de Clínica Infantil -
Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo (USP).

“É o primeiro artigo em Odontologia a estudar o polimorfismo genético em microRNA”, disse


Küchler, que conduz a pesquisa “Avaliação do papel do estrógeno no desenvolvimento
dentofacial”, apoiada pela FAPESP.

“A cárie é uma doença multifatorial complexa e que podemos prevenir. Nosso interesse neste
trabalho foi tentar entender quais seriam os mecanismos moleculares, principalmente aqueles de
origem genética, envolvidos no aparecimento da cárie em crianças”, disse.

O polimorfismo genético designa a existência de diferentes alelos (variações) de um mesmo


gene. As formas mais comuns de polimorfismos genéticos são deleções, mutações e
substituições das bases que compõem o código de cada gene. Quando há polimorfismo, a
informação que o gene carrega é alterada, com consequências (ou não) para a sua ação no
organismo.

Os pesquisadores queriam entender se existiria uma relação entre os níveis de betadefensina na


saliva – e, portanto, maior ou menor suscetibilidade ao aparecimento da cárie – com a ausência
ou a presença de polimorfismo tanto no gene responsável pela produção de betadefensina
(DEFB1) quanto no microRNA 202, que atua na expressão daquele gene.

“Em alguns estudos, o polimorfismo no gene que codifica a betadefensina tem sido associado à
cárie dentária em humanos. Nossa hipótese partia da ideia de que a falha na ação antimicrobiana
das betadefensinas que previnem a formação da cárie poderia estar ligada a malformações
(polimorfismos) no gene DEFB1 ou no microRNA 202”, disse Küchler.

“Nosso trabalho consistiu em duas partes. A primeira visou replicar os estudos entre o gene da
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betadefensina e a suscetibilidade à cárie na população brasileira, para verificar se obteríamos os


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mesmos resultados. A segunda parte deu um passo adiante, aoOK
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associação ou não entre polimorfismo no microRNA 202 e a suscetibilidade ao desenvolvimento


da cárie”, disse.

Os níveis salivares dos peptídeos de betadefensina hBD1, hBD2 e hBD4 foram acessados a
partir de amostras de saliva de 168 crianças (92 meninos e 76 meninas) entre 2 e 12 anos, da
pré-escola e do ensino fundamental de Nova Friburgo, Rio de Janeiro.

Foram incluídas somente crianças livres de cárie (81 crianças) e crianças com grande quantidade
de cárie, ou seja, quatro ou mais lesões (87 crianças). Para a coleta, as crianças precisavam
estar sem comer nem escovar os dentes há pelo menos 30 minutos, de modo que a composição
da saliva fosse a menos alterada possível.

As análises genotípicas de polimorfismo em DEFB1 e nos três genótipos do microRNA 202 (TT,
CT e CC) foram feitas nas mesmas amostras, de modo a avaliar o impacto das variações
polimórficas nos níveis salivares de betadefensina.

A pesquisa consistiu ainda na realização de um questionário comportamental entre as crianças


para detectar, por exemplo, o número de escovações diárias (1, 2, 3 ou mais), quais crianças
escovavam os dentes antes de dormir, quais usavam fio dental e quais ingeriam doces entre as
refeições. Os resultados foram tabulados de acordo com a divisão entre crianças livres de cárie e
crianças com muitas cáries.

Por fim, foi feita uma análise multifatorial que levou em conta os resultados genotípicos de DEFB1
e do microRNA 202, os níveis de betadefensina na saliva e os critérios de avaliação
comportamental das 168 crianças.

“Na primeira parte do trabalho, não conseguimos verificar uma associação entre polimorfismo em
DEFB1 e variações nos níveis salivares de betadefensina hBD1, hBD2 e hBD4. Mas, na segunda
parte, descobrimos uma associação entre polimorfismo no microRNA 202 e os níveis de
betadefensina. A análise genotípica do microRNA 202 demonstrou que o seu genótipo CC estava
associado a níveis menores de betadefensina hBD1 na saliva. Houve associação entre o
microRNA 202 e a suscetibilidade à cárie”, disse Küchler.

Os resultados sugerem que o genótipo CC do microRNA 202 interage com o RNA mensageiro do
gene de DEFB1, já que a expressão da betadefensina hBD1 na saliva é menor nas crianças que
carregam o genótipo CC do microRNA 202. E a expressão menor de hBD1 na saliva é um fator
de suscetibilidade para o aparecimento de lesões de cárie.
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Trata-se de um resultado importante, porém ainda preliminar. O trabalho é o primeiro a sugerir


associação entre níveis salivares de betadefensina e polimorfismo no microRNA 202. Para saber
se, de fato, o resultado procede, é necessário que a pesquisa seja replicada em outros estudos.

Grupos de pesquisadores de instituições de ensino superior do Paraná e do Amazonas iniciaram


a coleta e análise de amostras de saliva em crianças de Curitiba e Manaus. Do resultado dessas
investigações depende a validação dos resultados de Küchler, Lips e colegas.

“No futuro, quando identificarmos o conjunto de genes associados ao aparecimento da cárie, será
possível detectar, bem cedo, quais crianças teriam maior predisposição ao desenvolvimento de
cárie e iniciar tratamento de prevenção”, disse Küchler.

Genetic Polymorphisms in DEFB1 and miRNA202 Are Involved in Salivary Human β-Defensin 1
Levels and Caries Experience in Children (doi: https://doi.org/10.1159/000458537), de Andrea
Lips, Leonardo Santos Antunes, Lívia Azeredo Antunes, Júlia Guimarães, Barcellos de Abreu,
Driely Barreiros, Daniela Silva Barroso de Oliveira, Ana Carolina Batista, Paulo Nelson-Filho, Léa
Assed Bezerra da Silva, Raquel Assed Bezerra da Silva, Gutemberg Gomes Alves e Erika
Calvano Küchler, pode ser lido em: https://www.karger.com/Article/Pdf/458537.

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