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Muitas concepções são utilizadas atualmente para abordar Qualidade de Vida. Em se tratando de pacientes
transplantados, pensaremos em Qualidade de Vida a partir de uma visão abrangente: Saúde-Doença-
Cuidado-Qualidade de Vida (Pedrosa, 2006), por três motivos:
1) por ser processual, ou seja, por considerar que a Qualidade de Vida ocorrerá através de etapas a serem
percorridas e não em pós-transplante imediato;
2) por incluir dois aspectos fundamentais - condições e estilo de vida, pois cada paciente deve considerar os
recursos de que dispõe e adequá-los a sua situação de pessoa transplantada;
3) por contemplar o que é buscado com o transplante - a transição doença-saúde.
Quando no adoecimento é possível discutir com o paciente sobre sua inscrição em lista para transplante e ele
escolhe esta intervenção como forma de tratamento, a Qualidade de Vida pode ser favorecida pela
possibilidade de escolha tanto do tratamento-transplante, como da equipe que vai conduzi-lo. Na medida em
que o paciente reflete sobre as formas de Cuidado consigo, passa a ser também ele – e não apenas a equipe
multiprofissional – um condutor nesse processo do Cuidar.
Não se pode afirmar que em adoecimentos fulminantes e agudos, que tenham o transplante como imposição,
ou seja, como tratamento único e inadiável e não como escolha, a qualidade de vida pós-transplante fique
comprometida. Mas quanto mais o paciente participar e for co-responsável pelas formas do Cuidado em seu
tratamento, mais o eixo Saúde-Doença-Cuidado-Qualidade de Vida terá o elo do Cuidado fortalecido.
Após o transplante, uma variável para a avaliação da qualidade de vida dos pacientes é a expectativa que
cada um deles tinha em relação ao que poderia ser modificado com a realização do transplante. Para alguns,
o desejo de retomada de atividades profissionais e/ou sociais é imperativo; para outros, não é algo que esteja
colocado. Para alguns, a autonomia em certas situações é imprescindível; para outros, pode ser aguardada
por longo prazo. Dessa forma, para que ocorram conquistas e adaptações no cotidiano do paciente, é
importante resgatar:
Essas questões precisam estar vinculadas a outra mais ampla, que deve ser permanente para os pacientes: O
que está sendo ganho com o transplante?
Qualidade de Vida guarda então uma dimensão individual a qual cada paciente deve estar atento. A
possibilidade de refletir sobre ganhos pessoais e constituir formas de construí-los certamente fica aumentada
se houver acompanhamento da equipe multiprofissional: médico, psicólogo, nutricionista – e outros, se
necessário.
Para que os ganhos se efetivem, para que essa oportunidade de melhora possa ser de fato constituída, do
ponto de vista psíquico, é imprescindível que ocorra a incorporação do órgão recebido. É necessário que cada
paciente possa dar significado a este “a mais” colocado, não como algo que não é seu, mas como órgão que
passou a ser parte de seu corpo, passou a lhe pertencer, trouxe-lhe benefícios e lhe exige cuidados.
A incorporação não deve se constituir como negação do transplante vivido, ou seja, a experiência do órgão
como algo tão próprio não pode fazer com que o paciente “se esqueça” da condição de transplantado, que
requer responsabilização e atenção especiais.
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14/08/2019 QUALIDADE DE VIDA NO PÓS – TRANSPLANTE
Com a incorporação do órgão, com a percepção das expectativas de mudanças pelo transplante e a processual
realização dessas mudanças, de acordo com o que for possível em suas condições físicas e sociais, cada
paciente alcança o que é Qualidade de Vida em seu contexto pessoal, podendo aprimorar isso
constantemente.
As equipes multiprofissionais buscam, na medida do possível, desde o pré-transplante, garantir que haverá
adesão na continuidade do tratamento pós-transplante. Contudo, cabe ao paciente essa adesão.
1) a compreensão de que o bem recebido, seja ele público (doador falecido) ou particular (doador vivo),
exige estilo de vida específico para a preservação desse bem;
2) compromisso permanente na busca dessa preservação (exceto em quadros fulminantes, os receptores são
informados sobre o rigor necessário com o uso de medicação imunossupressora e implicações desse uso, e
sobre a necessidade de exames e acompanhamento médico e psicológico contínuos).
Pode ocorrer que pacientes se sintam tão bem no pós-transplante tardio, que deixem de manter contato com a
equipe multiprofissional. Obviamente é desejável que um transplantado esteja clinicamente bem, mas
também é esperado que identificar-se com a condição de transplantado seja um componente fortalecedor no
contexto de cuidador de si mesmo.
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