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Artigo técnico

Quadros elétricos instalados


em locais de máquinas
Orlando Poças (Eng.o)

1. Introdução cam-se até aos bornes de entrada dos inter- 3. Conceitos fundamentais
O dimensionamento de um quadro elétrico ruptores e à totalidade dos circuitos de ilumi- Um quadro elétrico é o conjunto de equi-
utilizado nos locais de máquinas deve res- nação e das tomadas do local de máquinas, pamentos convenientemente agrupados,
ponder a critérios de ordem técnica, nome- de rodas, caixa e poço1 , os restantes circui- incluindo as suas ligações, estruturas de
adamente no que se refere à garantia da tos devem obedecer às regras indicadas na suporte e invólucro, destinado a proteger,
proteção das pessoas e instalações, mas secção 13.1.1.1 das Normas EN 81-1/2  :1998, a comandar ou a controlar as instalações
contrapõem-se necessariamente os aspe- nomeadamente o: elétricas cumprindo com a EN 60439.
tos de ordem económica. Daqui resultará a) interruptor principal do circuito de po- › "É nos quadros elétricos que se encon-
o compromisso entre estas duas posições tência e a tudo o que lhe está a jusante; tram os dispositivos para a proteção dos
contrastantes a definição daquela que será b) interruptor do circuito de iluminação da circuitos elétricos contra sobreintensida-
a solução mais acertada para uma dada ins- cabina e a tudo o que lhe está a jusante. des (curto-circuitos ou sobrecargas) e
talação de equipamentos de elevação. para a proteção das pessoas contra con-
O local de máquinas deve possuir, para tactos diretos e indiretos”;
cada equipamento de elevação, um inter- › É muito importante lembrar ainda que os
2. Enquadramento legal ruptor principal capaz de cortar todos os quadros devem prever espaços de reserva;
De acordo com a legislação aplicável aos condutores ativos de alimentação destes › Os quadros elétricos também devem
equipamentos de elevação, instalados se- equipamentos. Este interruptor deve estar possuir, além da porta (externa) uma
gundo a Diretiva 95/16/CE, transposta para dimensionado para a intensidade mais ele- tampa interna que serve de barreira na
o direito nacional pelo Decreto-Lei 295/98 vada admissível nas condições normais de proteção contra choques elétricos;
de 22 de setembro, os quadros elétricos utilização do equipamento de elevação. › Os quadros devem ser instalados em
instalados nos locais de máquinas devem locais de fácil acesso, junto à entrada do
obedecer aos requisitos constantes nas Este interruptor não deve cortar os circui- local de máquinas (locais afetos a ser-
Normas EN 81-1:1998 e EN 81-2:1998. tos que alimentam: viços técnicos) sem objetos que obstru-
a) a iluminação da cabina e a ventilação, se am a sua abertura, com uma área livre
Independentemente do ano de instalação houver; horizontal à frente dos quadros e/ou ar-
dos equipamentos de elevação, e sempre b) a tomada de corrente sobre o teto da mários, de profundidade igual ou maior
que se trate de uma substituição parcial cabina; que 0,70 metros e de largura igual à
onde inclua também a instalação do quadro c) a iluminação do local de máquinas e de largura total do quadro com um míni-
elétrico do local de máquinas, o mesmo rodas; mo de 0,50 metros e numa zona cuja al-
deve obedecer às regras da atual legis- d) a tomada de corrente do local de  má- tura livre seja de pelo menos 2 m, como
lação como está previsto no Decreto­‑Lei quinas, de rodas e no poço; está preconizado na secção 6.3.3 da EN
320/2002 de 28 de dezembro “A substitui- e) a iluminação da caixa; 81-1/2:1998+A3;
ção das instalações (total e/ou parcial) está f) o dispositivo de pedido de socorro. › Os quadros devem possuir identificação
sujeita ao cumprimento dos requisitos de con- pelo lado exterior que seja legível e não
ceção, fabrico, instalação, ensaios e controlo facilmente removível. Todos os seus
final constantes do Decreto-Lei n. 295/98, de
o
componentes devem ser identificados
22 de setembro.” 1 “A utilização destas tomadas de corrente de tal forma que possam ser reconhe-
não implica que o cabo de alimentação cidos os circuitos a eles associados e
No dimensionamento dos circuitos elétri- tenha uma secção correspondente à cor- as suas funções (secção 15.4.2. EN 81-
cos o responsável pela conceção deve ter rente nominal da tomada de corrente. A 1/2:1998+A3);
em atenção as prescrições das Normas secção dos condutores pode ser inferior, › O equipamento elétrico utilizado deve
EN 81-1/2:1998 e Portaria n.o 949-A/2006 se os condutores forem corretamente satisfazer as regras da arte em matéria
(Regras Técnicas de Instalações Elétricas protegidos contra as sobreintensidades” de segurança, se não for dada outra es-
de Baixa Tensão), ou seja, as RTIEBT apli- (secção 13.6.2 da EN 81-1/2:1998+A3). pecificação.

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4. Dimensionamento (exemplo) Verificando agora as condições;


A proteção contra sobrecargas e curto-circuitos só pode ser feita por dois tipos de apare- IB ≤ In ≤ Iz 13,3 A ≤ In ≤ 28, podemos optar
lhos elétricos, os fusíveis e os disjuntores, uma vez que somente estes possuem poder de por um disjuntor trifásico de 25 A
corte. I2 ≤ 1,45Iz 36,2 A ≤ 40,6 A

Os condutores devem ser dimensionados para suportarem quer uma sobrecarga quer um (2) QUADRO 52-C3
curto-circuito de curta duração sem se deteriorarem, evitando assim aquecimentos exces- Correntes admissíveis, em amperes, para
sivos da canalização que podem estar na origem de um incêndio da instalação. os métodos de referência A, B e C.

A secção e o tipo de material da alma condutora bem como o tipo de isolamento dos condu- Secção Método de referência
nominal dos A B C
tores de uma canalização elétrica devem ser escolhidos em função da corrente de serviço condutores
(IB), da corrente estipulada da proteção (In) e da corrente admissível na canalização (Iz). (mm²)
Condutores de cobre
1,5 13,5 15,5 17,5
As RTIEBT obriga o responsável pela conceção, a escolher os condutores e a proteção de
2,5 18,0 21 24
modo a que cumpram duas condições para a proteção contra sobrecargas, sabendo que
4 24 28 32
estas condições não preveem a proteção completa nos casos de sobreintensidades prolon- 6 31 36 41
gadas inferiores à corrente convencional de não funcionamento I2, ou seja, a corrente que 10 42 50 57
provoca a atuação do disjuntor ou a fusão do fusível. As duas condições são as seguintes:
Apesar do comprimento da canalização que
IB ≤ In ≤ Iz e I2 ≤ 1,45Iz alimenta a máquina de tração ser reduzido
torna-se importante verificar se a condição
Em que: da queda de tensão está de acordo com a
IB é a Corrente de serviço na canalização; legislação em vigor, ou seja, deve ser infe-
Iz a Corrente admissível na canalização; rior a 5%.
In a Corrente estipulada do dispositivo de proteção.
Para simplificar os cálculos vamos admitir
Na Figura seguinte é apresentado um esquema destas condições que o cos ρ=1.

Comprimento do alimentador: 5 m

u=[(ρxl)xIB]/S efetuado os cálculos u=0,37V

Δu%= 100xu/U0
Δu%=0,16

Em que:
Exemplo: Δu é a queda de tensão relativa, expressa
Vamos agora efetuar o dimensionamento da canalização que alimenta a máquina de tração em percentagem;
gearless de um ascensor com uma cabina de 8 pessoas/630 kg: U0 é a tensão entre fase e neutro, expressa
em Volts;
Potência: ρ é a resistividade dos condutores à
Motor de tração: PA = 2,5 kW temperatura em serviço normal, isto
Comando: PST = 1 kW é, 1,25 vezes a resistividade a 20o C
(0,0225 Ω.mm2/m para o cobre);
Intensidade da corrente: L é o comprimento simples da canalização,
Corrente nominal: In = 13,3 A Valor a calcular expresso em metros;
Corrente de arranque: IA = 16,8 A S é a secção dos condutores, Uma das
variáveis expressa em milímetros qua-
Atendendo às caraterísticas deste equipamento torna-se necessário dimensionar um cabo drados.
ou condutores que suportam a corrente atrás indicada. Se considerarmos que a alimen-
tação será efetuada por condutores isolados em condutas circulares (tubos) montados Por fim é necessário ter em conta a pro-
à vista, segundo o Quadro H das RTIEBT, o método de referência é o B. Estando definido teção contra choques elétricos, ou seja,
qual o tipo de canalização que será utilizado torna-se necessário escolher então a sec- as pessoas devem ser protegidas con-
ção dos condutores com a respetiva corrente máxima admissível. Se optarmos por con- tra os perigos que possam resultar de
dutores isolados a Policleto de vinilo (PVC), para três condutores carregados, segundo o um contacto com as massas, em caso
Quadro 52-C3 (2) para uma secção de 4 mm² a corrente Iz = 28 A. de defeito.

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Esta proteção pode ser garantida por um 5. Esquema unifilar do quadro de entrada do local de máquinas
dos métodos seguintes:
a) Medidas que impeçam a corrente de de-
feito de percorrer o corpo humano;
b) Limitação da corrente de defeito que
possa percorrer o corpo a um valor in-
ferior ao da corrente de choque;
c) Corte automático, num tempo determi-
nado, após o aparecimento de um defei-
to suscetível de, em caso de contacto
com as massas, ocasionar a passagem
através do corpo de uma corrente de
valor não inferior ao da corrente de
choque.

Com os novos requisitos da EN 81:1998+A3


uma das soluções é o uso de variadores
trifásicos para melhorar a precisão de
paragem e, eventualmente, efetuar a ni-
velação. Sendo assim é aconselhável uti-
lizar interruptores diferenciais residuais da
Classe AC Super imunizados e melhoram
assim a continuidade de serviço neste tipo
de instalação estando salvaguardada a
proteção de pessoas.

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