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Adailton Morais
E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não
peques mais. (João 8:11)
Os seres humanos trazem consigo um instinto pelo horror do outro, pelo espetáculo da
humilhação alheia. Talvez essa a ‘nudez do corpo pecaminoso’ do outro possa de alguma forma
amenizar a vergonha que muitos sentem dos seus próprios pecados. Talvez as testemunhas da
desgraça alheia carreguem em seus bolsos e capangas, uma régua para medir o tamanho dos
revezes alheios e compará-los com os seus próprios. E, se houver ainda que um único milímetro
a mais para o lado de lá, eles festejam, eles se declaram santos e dignos. Mas, não só. Começam
a condenar o mundo e a querer mais. “Procurem, deve haver mais! Não o larguem até apurar
tudo”. Ah, ficam felizes, então, quando a montanha de culpas do lado de lá começa a se formar
publicamente! Não há mais o que refutar e nem defender! Todavia, não era assim que pensava
e agia Cristo.
Todos conhecemos a história, da Bíblia, em que uma certa mulher pecadora, apanhada
em flagrante adultério e levada pelos fariseus, a Jesus, tanto para puni-la, como para
embaraçar o Mestre. Jesus a perdoa depois de ter confrontado seus algozes.
Na cena impressionante, Cristo faz um sermão de uma vida inteira com algumas poucas
palavras e uma grande atitude, uma enorme atitude, eterna! Na verdade, a atitude que mais
nos faz vislumbrar Deus: o perdão!
“Jesus, o que fazemos dessa mulher? ” (A Bíblia diz que a chamaram de mulher, mas acredito
que tenham saído de suas bocas os mais diversos xingamentos).
O silêncio denunciava que uma atitude inesperada viria, então eles se preparam para a
reação.
“Peguem suas réguas, meçam e apedrejem a mulher. Mas, esperem, nos padrões dos céus só é
permitido uma pessoa apedrejar quando, em sua ‘régua de medir’ não puder mostrar erro algum
para comparar com os de outrem”.
E foi assim que os muitos medidores e comparadores dos erros alheios, perseguidores
foram embora! Mas a mulher ainda estava lá. (Talvez nesse momento fosse interessante
imaginar que o escritor não pôs o nome da mulher para que nós pudéssemos escrever na história
os nossos nomes, tanto de mulheres como de homens também).
Ela estava trêmula, assustada, cambaleante e não argumenta muito. Mas creio ser seus
pensamentos bem assim: “sabe aquele padrão do céu que você falou aí? Só um aqui, que és tu,
se enquadra nele”.
Dizem que a vida é plena de ironia. Pois é! Na vida nos acostumamos a temer mais o
julgamento e a condenação daqueles que não se encaixam no padrão de juízes dignos que do
único que poderia ser e o faz com compaixão! Seria pelo fato de que, por não aceitarmos a
libertação dos irmãos também não aceitamos a nossa própria? É bem provável. Mas é triste que
assim seja, um ciclo vicioso de escravidão.
Mas a ordem de Jesus continua a mesma: “vai-te e não peques mais”! Sim, e essa é a
ordem correta! Primeiro ir. Depois resolva não pecar. Mas primeiro “ir”. Ele não tem interesse
em manter o acusado para averiguação. Jesus não dá tempo à desconfiança. Não pede para
seguirem a mulher durante um tempo para certificar-se que seu perdão foi bem empregado. O
primeiro compromisso de Jesus é com a libertação. “Vai-te”. Dessa forma teremos sempre a
certeza que todas as vezes ao achegarmos a Deus com a mais grotesca carga de delitos, iremos
ouvir uma sentença de liberdade.
Mas assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão ao poderoso, e a presa do tirano
escapará; porque eu contenderei com os que contendem contigo, e os teus filhos eu remirei.