EPIDEMIOLOGIA Estima-se hoje que cerca de 5% dos tumores de pâncreas estejam
• Apesar de ser responsável por apenas 2% das neoplasias, o associados com predisposição familial, 5 a 10% dos casos câncer de pâncreas é a 7a causa de óbito por câncer em homens e apresentavam algum familiar com antecedente de câncer de a 5a causa de óbito por câncer em mulheres no Brasil, segundo pâncreas. Um familiar de primeiro grau aumenta o risco em 2 dados do Inca de 2017. vezes, se o doente tiver menos que 60 anos há um aumento de 3 • O pico de incidência é entre os 65 e 75 anos, sendo que cerca de vezes, já se dois parentes de primeiro grau apresentarem histórico 80% dos casos são diagnosticados após os 60 anos. É mais comum de neoplasia pancreática, o risco relativo estaria em torno de 18 em homens do que em mulheres (1,3/1) e acomete mais negros vezes. do que outras raças (1,6/1). Várias síndromes familiares são associadas com câncer de • Nos homens, as lesões parecem ter preferência pela região pâncreas, as principais são: pancreatite crônica hereditária, cefálica, enquanto, nas mulheres, se implantam mais na porção mutações do BRCA 1 e 2, Peutz Jeghers, síndrome familiar atípica corpocaudal. do múltiplo melanoma mole, ataxia telangiectasia, Lynch e FAP. • 90% dos pacientes morrerão em menos de 1 ano após o - Pancreatite familiar (mutação do gene PRSS1): as mutações no diagnóstico, independente do tratamento instituído. gene tripsinogênio catiônico (PRSS1) levam a uma atividade da • O tratamento cirúrgico é o único com finalidade curativa, mas tripsina elevada e às condições inflamatórias crônicas do pâncreas apenas 15 a 20% são candidatos a esse tipo de abordagem. O (50x maior o risco de CA). prognóstico é reservado mesmo para aqueles submetidos à - Síndrome de Peutz-Jeghers (mutação do gene STK11): síndrome ressecção cirúrgica completa com altas taxas de recorrência caracterizada pelo desenvolvimento de pólipos hamartomatosos precoce, 80% dentro do primeiro ano após a cirurgia. gastrointestinais e lesões mucocutâneas pigmentadas (100x maior • Fatores que contribuem para esse cenário, entre eles, o o risco de CA). comportamento biológico agressivo do tumor, alto índice de - Fibrose cística (mutação do gene CFTR): postula-se que seu risco proliferação celular e potencial de metastatizar precocemente, elevado é provocado pela condição inflamatória crônica do resistência a drogas quimioterápicas, intensa reação desmoplásica pâncreas, resultado de longo período de secreções espessas e que cerca as células tumorais impedindo a quimioterapia de obstrução ductal parcial (30x maior o risco de CA). alcançar níveis intracelulares adequados, localização - Nevo atípico familiar e Síndrome do melanoma múltiplo retroperitoneal e sintomatologia vaga que dificultam e atrasam o (mutação do gene CDKN2A): o CDKN2A codifica a proteína p16 diagnóstico. que inibe a proliferação celular ao ligar-se às quinases dependentes de ciclina (CDKs). As mutações desse gene levam a FATORES DE RISCO uma ativação do ciclo celular não inibido e à proliferação (20x Não hereditários maior o risco de CA). - O tabagismo é um dos principais fatores de risco para o câncer - Câncer hereditário de mama e de ovário (mutação do gene de pâncreas. Fumantes têm risco aumentado em 2 a 6 vezes em BRCA2): 10% dos indivíduos de famílias com alto risco de câncer relação a não fumantes e há relação direta entre o número de pancreático (pelo menos dois parentes de primeiro grau com CA cigarros consumidos e a incidência do câncer de pâncreas. de pâncreas) têm mutações do BRCA2 (10x maior o risco). - A combinação de obesidade e sedentarismo eleva o risco de - Síndrome de Lynch (mutações do gene de reparo da câncer de pâncreas em 1,7 vezes em relação a pessoas com IMC incompatibilidade MLH1, MSH2, MSH6): a instabilidade menor que 23. microssatélite vista nas células do câncer de cólon também foi - Há uma associação entre infecção por H. pylori, particularmente observada nas células do câncer pancreático de indivíduos com do subtipo CagA+ e câncer de pâncreas, com aumento do risco síndrome de Lynch (8x maior o risco de CA). relativo em 1,87. Não se sabe exatamente qual o mecanismo, mas - Polipose adenomatosa familiar (mutação do gene APC): leva ao há uma teoria que a hiperacidez crônica causada pelo helicobacter desenvolvimento de milhares de pólipos colônicos. Indivíduos estimula a produção basal de bicarbonato pelo pâncreas, que por afetados pela PAF são mais propensos a desenvolver CA de sua vez aumenta a liberação de secretina, que irá desencadear a pâncreas (4x maior o risco). hiperperplasia ductal e a síntese de DNA, interferindo no processo de carcinogênese. - Pancreatite crônica também está associada a uma maior incidência da neoplasia de pâncreas com aumento de 15 vezes do risco relativo. - Os pacientes com diabetes tipo 2 apresentam 2,1 vezes mais risco de apresentarem câncer de pâncreas que a população geral. Os diabéticos tipo 1, apresentam um risco relativo semelhante aos de tipo 2, reforçando a teoria de que o DM é um fator de risco e não apenas uma consequência do câncer de pâncreas. Entretanto, alguns dados sugerem que o DM também pode ser uma consequência do câncer de pâncreas. FISIOPATOLOGIA obstrução ao fluxo biliar) com icterícia e nódulos de necrose As neoplasias pancreáticas englobam um espectro de tumores gordurosa no subcutâneo. exócrinos e neuroendócrinos que podem ser benignos ou malignos; 95% dos casos originam-se do pâncreas exócrino. Principais sintomas dos tumores periampulares do pâncreas Aproximadamente 90% dos tumores exócrinos do pâncreas têm Apresentação dos sintomas Frequência (%) origem nos ductos pancreáticos, sendo que 85% desses tumores Icterícia 75 são adenocarcinomas ductais que macroscopicamente se Perda ponderal 51 apresentam com áreas amarelo-esbranquiçadas, mal delimitadas, Dor abdominal 39 endurecidas, e em 60 a 70% dos casos se localizam na cabeça do Náusea/ vômito 13 pâncreas. O adenocarcinoma ductal é classificado pelo grau de Prurido 11 Febre 3 diferenciação celular e produção de mucina em bem diferenciado, Sangramento gastrointestinal 1 moderadamente diferenciado ou pobremente diferenciado. Uma característica desses tumores é a intensa fibrose estromal que os DIAGNÓSTICO circunda relacionada ao fator de crescimento TGF-b. Avaliação laboratorial Há atualmente três lesões descritas como precursoras do Marcador tumoral. Não há um marcador tumoral específico para adenocarcinoma de pâncreas, a neoplasia intraepitelial câncer de pâncreas, entretanto, o CA 19.9 está elevado em 80 a pancreática, neoplasia cística mucinosa e neoplasia intraductal 90% dos casos de adenocarcinoma de pâncreas. O CA 19.9 é uma papilífera mucinosa (IPMN). O adenocarcinoma de pâncreas glicoproteína que contém o antígeno Sialyl Lewis, sistema humano parece seguir uma sequência de carcinogêneses a partir de uma de grupo de sangue; 5 a 10% da população não expressa esse ou mais alterações genéticas. Mutações do gene K ras, são antígeno e, portanto, nesse subgrupo o CA 19.9 não é útil como encontradas em mais de 90% dos casos de adenocarcinoma marcador. Além disso, uma limitação notável do teste de CA 19.9 pancreático; parece ser um evento precoce na carcinogênese, pois no âmbito dos tumores periampulares é a falsa elevação mutações do K ras podem ser observadas em lesões precursoras, provocada por obstrução biliar, que pode ser enganosa. O CA 19.9 ainda não invasivas, e há um aumento da detecção de mutação do pode ser utilizado para avaliação prognóstica, diagnóstico K ras quanto maior o grau de displasia da lesão. A perda do gene diferencial e monitorização terapêutica. Valores acima de 37 U/mL supressor de tumor p16 está presente em quase todos os casos e são suspeitos para adenocarcinomas. Em pacientes com câncer de o gene supressor p53 está inativo em 75 a 85% dos casos. O gene pâncreas avançado, o valor de CA 19.9 pré-tratamento é um fator SMAD4 está inativo em cerca de 60% dos casos e correlaciona-se prognóstico correlacionado com a sobrevida global. A queda do com um pior prognóstico. CA 19.9 após início do tratamento costuma ser lenta e gradual, a meia vida do CA 19.9 é de 15 a 33 dias. A queda do CA 19.9 QUADRO CLÍNICO relaciona-se com resposta ao tratamento e pode ser usada como Os sintomas costumam ser inespecíficos, ocorrendo dor em 80% um parâmetro de seguimento, principalmente nos casos onde o dos pacientes com doença localmente avançada ou metastática, e RECIST não se aplica (doença peritoneal sem nódulos normalmente é referida no andar superior do abdome, mensuráveis). Pelas recomendações da ASCO, o CA 19.9 deve ser frequentemente com irradiação para dorso, alivia parcialmente na avaliado a cada 1 a 3 meses para monitorização terapêutica, e posição sentada ou com inclinação do corpo para frente, e em quando houver uma elevação, os exames de imagem são alguns casos piora após alimentação. A dor é devido à infiltração indicados para confirmar progressão de doença. do plexo celíaco pelo tumor caracterizando uma doença avançada Outros marcadores que podem auxiliar no diagnóstico diferencial e pode vir acompanhada de náuseas e vômitos. Outros sintomas das neoplasias de pâncreas são o CEA, com sensibilidade de 39% e frequentes incluem emagrecimento, anorexia, diarreia especificidade de 91,4% e o CA 125 com sensibilidade de 56,9% e (consequência da insuficiência pancreática exócrina, quando o especificidade de 77,6%. tumor obstrui a luz do Wirsung), esteatorreia e saciedade precoce. Biópsia Icterícia é um sintoma que não necessariamente caracteriza uma Pela gravidade do diagnóstico e considerando que cerca de 10% doença avançada, icterícia sem dor acomete metade dos das lesões encontradas em exames de imagem apresentam um pacientes com doença na cabeça do pâncreas potencialmente diagnóstico diferencial, a biópsia é mandatória para aqueles que ressecável e curável. É causada por obstrução do fluxo biliar e vem não são candidatos à ressecção cirúrgica curativa. Para os acompanhada de prurido, acolia fecal e colúria. pacientes com doença ressecável, o cirurgião pode prescindir da É muito comum um quadro de depressão preceder o diagnóstico biópsia. de câncer de pâncreas e pode ser um sintoma precoce de uma doença potencialmente curável. DM também pode preceder o Exames de imagem diagnóstico de câncer de pâncreas em até 3 anos. Ultrassonografia. A investigação inicial em pacientes com icterícia História prévia de tromboflebite superficial migratória, secundária obstrutiva, geralmente, começa com a US abdominal, que algumas a um quadro de hipercoagulabilidade (síndrome de Trousseau), ou vezes pode demonstrar o tumor primário, dilatação das vias um quadro de pancreatite, é fortemente suspeito para câncer de biliares intra-hepáticas e evidenciar a presença de metástases pâncreas. hepáticas. A principal vantagem é ser um exame simples e Achados no exame físico, que caracterizam uma doença avançada, acessível. Entretanto, apresenta algumas limitações: é operador podem incluir: ascite, massa abdominal palpável, que é notada em dependente, a interposição gasosa ocasionada pelas alças 20% dos casos, linfadenopatia supraclavicular esquerda (nódulo intestinais e pelo estômago torna a visualização do pâncreas de Virchow), vesícula biliar palpável (sinal de Courvoisier; indica prejudicada, e em pacientes obesos o retroperitônio se torna de ausência de metástases, contato do tumor com a veia porta (VP), difícil avaliação pela US. veia mesentérica superior (VMS) ou com a AMS < 180 graus, Tomografia computadorizada (TC). A TC helicoidal de abdome é o obstrução venosa por infiltração ou trombo da VP ou VMS por método de escolha para o diagnóstico e estadiamento dos segmento curto < 1,5 cm, passíveis de ressecção parcial da veia e tumores do pâncreas. É capaz de detectar lesões pancreáticas em reconstrução e envolvimento circunferencial da artéria 97% das vezes e apresenta 90% de acurácia quanto à gastroduodenal até a origem da artéria hepática, podendo ocorrer ressecabilidade. Detecta invasão vascular do eixo mesentérico pequeno envolvimento ou contato íntimo com a mesma, sem, portal em 88% dos casos, metástases hepáticas em 75% dos casos entretanto, extensão para o tronco celíaco. e metástase linfonodal em 54%30. Ressonância nuclear magnética. A RNM apresenta características semelhantes à TC no diagnóstico de lesões pancreáticas e avaliação da ressecabilidade, deve ser reservada aos pacientes que têm contraindicação para o uso do contraste usado na TC ou naqueles com achados duvidosos na TC. Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica. A CPRE não é exame de rotina na investigação e estadiamento dos tumores pancreáticos. Apresenta a desvantagem de ser método invasivo com risco de complicações que incluem pancreatite e colangite. Em algumas condições pode ser indicada quando existe a necessidade de descompressão imediata PROGNÓSTICO das vias biliares. O prognóstico dos pacientes com adenocarcinoma de pâncreas é Ultrassonografia endoscópica. A USE apresenta algumas reservado. A sobrevida mediana dos pacientes com doença vantagens em relação à TC e a RNM. Apresenta maior acurácia no ressecável é cerca de 15 meses, os com doença localmente diagnóstico de pequenas lesões e na avaliação de invasão avançada têm expectativa de vida de 12 meses, e os com doença vascular, mas não consegue avaliar adequadamente a presença de metastática sobrevivem cerca de 6 meses. linfonodomegalia à distância e a presença de metástases. Tem sensibilidade de 95% e especificidade de 80% com valor preditivo TRATAMENTO de 95% e valor preditivo negativo de 80%. A USE associada à Câncer de pâncreas ressecável punção com agulha possibilita a obtenção de material para o Cirurgia diagnóstico histológico do câncer de pâncreas. A cirurgia é o único método de tratamento curativo das neoplasias PET-Scan. Não deve ser usado de rotina no estadiamento dos pancreáticas. O objetivo primário do tratamento cirúrgico é a tumores de pâncreas. Alguns dados sugerem que o PET-Scan pode obtenção de ressecção radical, com margens cirúrgicas livres (R0), ser útil na detecção de metástases à distância. incluindo a área pancreática acometida, os linfonodos Laparoscopia. A laparoscopia consegue diagnosticar a presença de potencialmente comprometidos e os vasos sanguíneos infiltrados. metástase hepática ou peritoneal em cerca de 10 a 35% das vezes em que os outros métodos de imagem não conseguiram. Tipos de ressecção Entretanto, o verdadeiro valor da laparoscopia no estadiamento As ressecções pancreáticas são realizadas de acordo com a das lesões cefálicas necessita de mais avaliação. topografia pancreática acometida. Para os tumores de cabeça do pâncreas, processo uncinado e colo pancreático as principais ESTADIAMENTO ressecções são: gastroduodenopancreatectomia (GDP) e O estadiamento das neoplasias de pâncreas deve duodenopancreatectomia com preservação do piloro (DPT). A necessariamente incluir TC helicoidal de abdome, RX ou TC de pancreatectomia total com esplenectomia pode ser indicada nos tórax e dosagem do CA 19.9. Os outros exames de imagem serão casos onde a margem cirúrgica pancreática esteja comprometida, indicados conforme a necessidade de elucidação diagnóstica. Após em avaliação intraoperatória. a realização dos exames de imagem, os tumores serão Para os tumores de corpo e cauda do pâncreas, as ressecções são classificados clinicamente quanto a sua ressecabilidade. a pancreatectomia corpo-caudal com esplenectomia ou Os critérios de ressecabilidade incluem ausência de metástases pancreatectomia total nos casos de margem duvidosa. Embora os hepática, peritoneal ou em outros órgãos, ausência de metástase tumores do corpo e cauda do pâncreas apresentem tamanhos linfonodal à distância, ausência de invasão venosa (por mais de 2 maiores que os cefálicos no momento do seu diagnóstico, quando cm e/ ou envolvimento de mais de 50% da circunferência do ressecados os pacientes podem apresentar sobrevida semelhante vaso), ausência de comprometimento da artéria mesentérica aos pacientes com tumores na cabeça. A pancreatectomia distal superior (AMS), artéria hepática e/ou do tronco celíaco. ou esquerda com esplenectomia deve ser realizada sempre que A presença de invasão do duodeno, estômago, cólon, metástase possível com margem de segurança proximal de 2 a 3 cm. linfonodal peripancreática, abaulamento venoso ou mínima invasão dos vasos da confluência do eixo mesentérico-portal ou Linfadenectomia da artéria gastroduodenal e a idade do paciente não As linfadenectomias nas duodenopancreatectomias são contraindicam a ressecção cirúrgica. classificadas de acordo com sua extensão em: padrão, radical e Os tumores irressecáveis podem ser localmente avançados ou ampliada. metastáticos. Há casos borderline, nos quais a ressecabilidade é questionável, os critérios de ressecabilidade borderline são: A linfadenectomia padrão compreende a ressecção das cadeias tumor na cabeça do pâncreas e linfonodos positivos ou margens linfonodais à direita do ligamento hepato-duodenal, anteriores e comprometidas. posteriores ao pâncreas, à direita da AMS e a cadeia da região anterior à artéria hepática comum. Câncer de pâncreas metastático A linfadenectomia radical inclui, além das cadeias da Objetivo do tratamento linfadenectomia padrão, a fáscia de Gerota, esqueletização da A quimioterapia no câncer de pâncreas metastático tem o artéria hepática própria e comum, tronco celíaco, linfonodos do objetivo de paliar os sintomas e prolongar a sobrevida. ligamento hepato-duodenal, esqueletização da AMS, tecidos anteriores à aorta e veia cava. Quimioterapia de primeira linha Na linfadenectomia ampliada são ressecados os tecidos descritos Gemcitabina. O benefício do uso da gemcitabina no tratamento para a linfadenectomia radical e também todo o tecido conectivo sistêmico do câncer de pâncreas metastático foi consolidado após que se estende de 3 cm à direita do duodeno até a porção medial o estudo fase III com 126 pacientes com neoplasia de pâncreas do rim esquerdo, e desde o hiato esofagiano até a origem das metastática recém-diagnosticada e com doença sintomática. Esses artérias ilíacas. pacientes eram randomizados para receberem gemcitabina 1.000 Estudos clínicos controlados não mostraram diferença entre os mg/m2 por 7 semanas consecutivas, com 1 semana de pausa no tipos de linfadenectomia em relação à sobrevida em longo prazo. primeiro ciclo, e após seguiam com a mesma dose por 3 semanas Além disso, as linfadenectomias estendidas aumentam o tempo seguidas com 1 semana de pausa ou 5-FU 600 mg/m2, 1 vez por operatório e apresentam maiores índices de complicações semana. O objetivo principal do estudo era avaliar o benefício gastrintestinais. Com base nesses estudos, a recomendação clínico, definido como melhora da dor, performance status e atualmente adotada é a da realização da linfadenectomia padrão. estabilização do peso corpóreo. Houve benefício clínico em 23,8% dos pacientes que receberam gemcitabina e em 4,8% daqueles Ressecção venosa que receberam 5-FU (p = 0,0022). A sobrevida mediana foi de 5,65 A ressecção vascular está indicada na tentativa de obtenção de meses para braço gemcitabina e 4,41 meses para o braço 5-FU (p ressecção R0 quando existe a possibilidade de infiltração/invasão = 0,0025), com 18% dos pacientes que receberam gemcitabina e do tronco mesentérico portal. Diferentemente da linfadenectomia 2% daqueles que receberam 5-FU vivos após 1 ano. Ambos estendida, a ressecção e reconstrução do tronco mesentérico tratamentos foram bem tolerados. portal é o tratamento de escolha nos casos de possível invasão Gemcitabina associada à capecitabina pode ser considerada uma vascular. opção de tratamento na primeira linha, especialmente para As taxas de ressecção venosa na duodenopancreatectomia variam pacientes com boa performance status, com ganho modesto de de 10 a 30%, conforme o centro onde o procedimento é realizado. menos de um mês na SG. Não se recomenda o uso da combinação A comprovação histológica de invasão venosa pelo tumor ocorre de gemcitabina com cisplatina ou oxaliplatina no tratamento de em apenas um terço dos casos. Tal fato demonstra a dificuldade primeira linha da neoplasia de pâncreas e há dúvidas quanto ao existente durante o ato operatório na distinção entre infiltração real benefício dessa combinação na taxa de resposta. tumoral e processo inflamatório perivascular. A morbidade da ressecção venosa do tronco mesentérico-portal Segunda linha de quimioterapia não difere da duodenopancreatectomia sem ressecção vascular. Não há dados provenientes de estudos randomizados fase III, Também não há diferença na sobrevida dos pacientes submetidos entretanto há diversos estudos pequenos fase II que apontam à ressecção da veia porta e a daqueles em que a ressecção venosa para o benefício da quimioterapia em pacientes refratários a não foi necessária. gemcitabina. Por exemplo, o estudo randomizado fase II, com 46 pacientes que seguiam com cuidados clínicos exclusivos ou Complicações quimioterapia com leucovorim 200 mg/m2 bolus seguida por 5-FU 2.000 mg/m2 infusão contínua de 24 horas, ambos nos D1, D8, D15 e D22, e oxaliplatina 85 mg/ m2 no D8 e D22 a cada 42 dias, mostrou que a SG foi discretamente maior para aqueles que receberam quimioterapia, 40 versus 34,4 semanas; p = 0,031268. O estudo CONKO 3 fase II com 168 pacientes refratários à gemcitabina, randomizados a 5-FU e leucovorim (FF) ou combinação de oxaliplatina, leucovorin e 5-FU (OFF) resultou em uma SG superior para OFF comparada a FF (4,8 e 2,3 meses, respectivamente; p = 0,007). Após falha, a gemcitabina na Tratamento adjuvante primeira linha, para pacientes com performance razoável, pode O tratamento adjuvante tem como objetivo erradicar possíveis ser considerado tratamento com 5-FU isolado ou em combinação micrometástases que podem restar após uma ressecção R0. Os com oxaliplatina. estudos que avaliaram o seu papel incluem quimioterapia (QT) combinada ou não à radioterapia (RDT). PALIAÇÃO DE SINTOMAS A adjuvância do câncer de pâncreas tem sido rotineiramente Icterícia obstrutiva. Pacientes com doença irressecável e icterícia realizada com gemcitabina isolada por 6 meses. O 5-FU parece ser obstrutiva são candidatos à colocação endoscópica de stent em tão eficaz quanto à gemcitabina, entretanto, devido ao perfil de via biliar, os stents podem ser plásticos ou metálicos. A toxicidade, a gemcitabina tem sido a primeira opção. A RDT é uma comparação quanto à eficácia dos stents, sugere que a recorrência conduta discutida principalmente com pacientes que apresentam da obstrução biliar é menos frequente com os stents metálicos. Opções cirúrgicas são reservadas para aqueles pacientes em que, por razões técnicas, não foi possível a passagem do stent via endoscópica. A derivação bilío digestiva, com anastomose entre a vesícula ou ducto biliar e o jejuno tem a desvantagem da morbidade perioperatória de 22% e mortalidade de 3,1%. Porém, tem elevada taxa de sucesso (> 90%) e baixos índices de recidiva. Nos pacientes com sinais de dificuldade de esvaziamento gástrico está indicada a gastroentero anastomose. Cerca de 1/3 dos pacientes submetidos à derivação biliar e que não apresentavam obstrução duodenal podem desenvolvê-la em sua evolução. Esses pacientes são reoperados em condições clínicas piores e apresentam maiores índices de complicações cirúrgicas. Dessa forma, é indicada a gastroentero anastomose profilática nos pacientes submetidos à derivação biliar cirúrgica. Obstrução. Obstrução duodenal levando à estase gástrica ocorre em 15 a 20% dos pacientes com câncer de pâncreas avançado. A passagem de próteses metálicas via endoscópica é uma opção segura e eficaz para paliação desses pacientes, com taxas de reobstrução menor que 7% em 6 meses. Dor abdominal severa. Para dores abdominais secundárias ao comprometimento do tronco celíaco pelo tumor, a paliação é feita com otimização de analgésicos, principalmente opioides e ou neurólise do plexo celíaco. A neurólise do plexo é uma intervenção bem tolerada que costuma melhorar a analgesia, diminuir a necessidade de opioides e melhorar a qualidade de vida. A realização precoce desse tipo de procedimento parece ser mais vantajosa do que atrasar a indicação para fases mais terminais da doença. A neurólise pode ser feita percutânea, cirurgicamente e endoscopicamente. O alívio da dor dura em média 6 meses e as principais complicações incluem, diarreia, hipotensão postural, que costuma ser leve e transitória e acomete até 40% dos pacientes. Radioterapia pode ser utilizada para alívio da dor secundária à invasão do tronco celíaco e costuma ter sucesso em 35 a 65% dos pacientes.