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Abril/2010

A arte de traduzir Lewis Carroll


O escritor inglês era de uma criatividade que confunde os melhores tradutores

Lewis Carroll amava neologismos. Em sua obra há uma série deles feitos a partir de aglutinações dos
significados dos termos que os formam. Característica que engrandece seus escritos e enlouquece seus
tradutores. "Alice no País das Maravilhas" e "Alice Através do Espelho e O Que Encontrou Lá". Os dois livros
são as bases para o novo filme de Tim Burton, que têm muitos exemplos dessas palavras e expressões a la
Carroll em imagens.
O exemplo clássico é "Jabberwocky", nome dado pelo autor a um monstro e a um poema que estava no livro do
espelho, encontrado por Alice. O texto apareceu, pela primeira vez, em uma série de jornaizinhos que Carroll
escrevia e ilustrava a mão para entreter seus irmãos. E acabou conhecido como um dos mais importantes
representantes da poesia nonsense em língua inglesa.
No português, monstro e poema ganharam vários nomes totalmente diferentes entre si, diferenças que se
estendem ao texto como um todo. O mais apreciado é "Jaguadarte", título da versão feita por Augusto de
Campos. Mas ainda existe "Tagarelão", "Pargarávio", "Bestialógico", "Blablassauro" e "Algaravia".
Leia o poema original e algumas de suas traduções para o português.

Jabberwocky
Lewis Carrol
'Twas brillig, and the slithy toves Did gyre and gimble in the wabe: All mimsy were the borogoves, And the mome
raths outgrabe.
"Beware the Jabberwock, my son! The jaws that bite, the claws that catch! Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!"
He took his vorpal sword in hand: Long time the manxome foe he sought— So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.
And, as in uffish thought he stood, The Jabberwock, with eyes of flame, Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!
One, two! One, two! And through and through The vorpal blade went snicker-snack! He left it dead, and with its
head He went galumphing back.
"And hast thou slain the Jabberwock? Come to my arms, my beamish boy! O frabjous day! Callooh! Callay!" He
chortled in his joy.
'Twas brillig, and the slithy toves Did gyre and gimble in the wabe: All mimsy were the borogoves, And the mome
raths outgrabe.

Traduções em Português

JAGUADARTEAugusto de Campos
Era briluz. As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os
momirratos davam grilvos.

"Foge do Jaguadarte, o que não morre! Garra que agarra, bocarra que urra! Foge da ave Fefel, meu filho, e
corre Do frumioso Babassura!"

Ele arrancou sua espada vorpal e foi atras do inimigo do Homundo. Na árvore Tamtam ele afinal Parou, um dia,
sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta, Chegou o Jaguadarte, olho de fogo, Sorrelfiflando atraves da floresta,
E borbulia um riso louco!
Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante! Cabeca fere, corta e, fera
morta, Ei-lo que volta galunfante.

"Pois entao tu mataste o Jaguadarte! Vem aos meus braços, homenino meu! Oh dia fremular! Bravooh!
Bravarte!" Ele se ria jubileu.

Era briluz. As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os
momirratos davam grilvos.
PARGARÁVIOMaria Luiza X. de A. Borges Solumbrava, e os lubriciosos touvos E vertigiros persondavam as
verdentes; Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos E os porverdidos estringuilavam fientes.
"Cuidado, ó filho, com o Pargarávio prisco! Os dentes que mordem, as garras que fincam! Evita o pássaro
Júbaro e foge qual corisco Do frumioso Capturandam."
O moço pegou da sua espada vorpeira: Por delongado tempo o feragonists buscou. Repousou então à sombra
da tuntumeira, E em lúmbrios reflaneios mergulhou.
Assim, em turbulosos pensamentos quedava Quando o Paragarávio, os olhos a raisluscar, Veio flamiscuspindo
por entre a mata brava. E borbulhava ao chegar!Um , dois! Um, dois!
E inteira, até o punho, A espada vorpeira foi por fim cravada! Deixou-o lá morto e, em seu rocim catunho,
Tornou galorfante à morada.
"Mataste então o Pargarávio? Bravo! Te estreito no peito, meu Resplendoso! Ó gloriandei! Hosana! Estás
salvo!" E na sua alegria ele riu, puro gozo.
Solumbrava, e os lubriciosos touvos E vertigiros persondavam as verdentes; Trisciturnos calavam-se os
gaiolouvos E os porverdidos estringuilavam fientes.
O TAGARELÃO William Lagos Era o Assador e os Sacalarxugos Elasticojentos no eirado giravam Miserágeis
perfuravam os Esfregachugos E os verdes porcalhos ircasa arrobiavam.
Cuidado, meu filho, com o Tagarelão! Te morde com a boca e te prende com a garra! Escapa ao terrível
Jujupassarão E foge ao frumoso e cruel Bandagarra!
Cingiu à cintura sua espada vorpal E por longo tempo o manximigo buscou Da árvore Tumtum na sombra
mortal, Em cismas imerso afinal descansou.
E assim, ufichado em seu devaneio, O tagarelão, com olhos de chama, Surdiu farejando do bosque no meio: A
gosma supura e a baba derrama!
Um, dois! E dois, um! A lâmina espessa Cortou navalhando sua espada vorpal! Deixou-lhe o cadáver e trouxe a
cabeça; Voltou galufando em triunfo total! "
Pois mataste destarte o Tagarelão? Vem dar-me um abraço, meu filho valente! O fragor desse dia! O meu
coração Em êxtase canta loução e contente!
Era o Assador e os Sacalarxugos Elasticojentos no eirado giravam Miserágeis perfuravam os Esfregachugos E
os verdes porcalhos ircasa arrobiavam.
BESTIALÓGICO Eugênio Amado Brilhava o dia, e uma fumaça No céu girava sem parar; Palhaços sérios
espiavam Loucos risonhos a cantar.
Cuidado com o Bestialógico! Se ele te pega é perdição! Cuidado com a Ave Jujuba E o terrível Bicho-Papão!
Ele tomou de sua espada E foi atrás de uma inimiga; À sombra da árvore Tuntun, Descansou, coçando a
barriga.
E ali ficou o Bestialógico, Olhos selvagens, chamejantes, Resfolegando na floresta Com mil idéias
borbulhantes.
Um, dois! Um, dois! Veio marchando. Ao vê-la ergueu a espada e - zop! Deixou-a morta e sem cabeça,
Voltando em seguida a galope.
Mas quem morreu? O Bestialógico? Pois então vem até os meus braços! Que lindo dia! Tu mereces Milhões de
beijos e de abraços!
Brilhava o dia, e uma fumaça No céu girava sem parar; Palhaços sérios espiavam Loucos risonhos a cantar.
BLABLASSAURO Ricardo Gouveia Brilumia e colescosos touvos No capimtanal se giroscavam; Miquíticos
eram os burrogouvos, E os mamirathos extrapitavam.
"Foge meu filho, do Blablassauro! Boca que morde, garra que agarra! Fica longe do Ornitocentauro E do
frumioso Bombocarra!"
Nas mãos tomou sua espada vorpal: Venceria o manxomo inimigo! Pensaparou ao pé de um Tumtal,
Meditando, ele e seu umbigo.
Em úfia concentração pensava; E o blablassauro, olhar flamejante, Do bosque tulgeo, aos bufos chegava
Balouçando o corpo borbulhante!
Zás-trás! Alto a baixo, lado a lado Corta e pica a lâmina vorpal! Levando a cabeça do malvado, Galunfante,
voltou afinal.
"Então o Blablassauro morreu? Vivas! Frabujoso! Quem diria? Abraça-me, briante filho meu!" E ele ria de pura
alegria.
Brilumia e colescosos touvos No capimtanal se giroscavam; Miquíticos eram os burrogouvos, E os mamirathos
extrapitavam.
ALGARAVIA Oliveira Ribeiro Netto Era o auge e as rolas brilhantes Pelo ar giravam, giravam. Palhaços davam
pinotes, Os montes se amontoava.
- Cuidado com a Algaravia, meu filho, ela morde e arranha! Bicho papão te carrega, O Lobisomem te apanha!
Ele de espada na mão Foi buscar o inimigo... Junto dum mandacaru Ficou pensando consigo.
Enquanto estava cismando, Vem do mato a Algaravia. Dos olhos saia fogo, Era brasa que cuspia.
Um dois, um dois, zás-trás, Num instante ele a matou, Cortou depressa a cabeça E pra casa voltou.
- Vem aos meus braços meu filho! Tu mataste a Algaravia? Dia feliz! Salve! Salve! E cantava de alegria.
Era o auge e as rolas brilhantes Pelo ar giravam, giravam. Palhaços davam pinotes, Os montes se amontoava.
ALGARAVIA Pepita de Leão Era o fervor, e as rutilas rolinhas Girando, o taboleiro afuroavam. Estavam os
truões bem divertidos, E os cerros patetas se firmavam.
"Cuidado com o Algaravião, meu filho! Ele morde, e segura até um homem! Cuidado com o Pássaro Bisnau, E
foge do terrível Lobishomem!"
Ele pegou na espada bem afiada, Levou tempo, buscando o inimigo ... Foi descansar ao pé da Bananeira, E ali
ficou, pensando lá consigo.
E enquanto ali estava a matutar, Lá de dentro do mato vem chegando O Algaravião de olhos de fogo, E de
longe ele vinha já bufando!
Um, dois! Um, dois! E assim de lado a lado A lâmina cortante foi rangendo! Ele matou-o pegou na cabeça, E de
volta p'ra casa foi correndo.
"Tu mataste o Algaravião, meu filho? Dá-me um abraço! Que glorioso dia! Que dia glorioso! Viva! Vivôôô!... Ele
também deu vivas de alegria.
Era o fervor, e as Rutilas rolinhas Girando, o taboleiro afuroavam. Estavam os truões bem divertidos, E os
cerros patetas se firmavam.
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