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Howard
- outubro 10, 2021
NA FLORESTA DE VILLEFÈRRE
Robert. E. Howard
(1906 — 1936)
Seguindo o caminho, olhei para a esquerda e para a direita e, depois, para trás. Então parei,
levando a mão ao florete, ao escutar o ruído de galhos quebrando, o que indicava a presença
de algum pequeno animal. Ou seria uma fera?
Mas a senda continuava e eu seguia em frente, pois era tudo o que eu podia fazer.
Escondi-me rapidamente detrás de uma grande árvore. Um suor frio escorreu de minha
fronte. O cantor não tardou a aparecer. Era um homem alto e magro, cuja fisionomia era
pouco perceptível ao crepúsculo. Dei de ombros. Nada tinha a temer de um homem. Saltei de
meu esconderijo com a espada em riste.
— Alto lá!
— Eu sou novo nesta floresta — disse, à guisa de desculpa. — Ouvi falar de salteadores.
Peço-lhe perdão. Onde fica a trilha que leva a Villefère?
— Cobleu[1], você errou o caminho! — respondeu ele. — Deveria ter tomado a bifurcação
da direita. Você passou por ela há pouco. Sigo para lá. Se aceitar a minha companhia, eu o
guiarei.
— Perdoe o meu assombro — disse, enquanto descíamos o caminho — , mas eu quase não
consigo enxergar o seu rosto nesta penumbra.
Aproximei-me. Mas dei um salto para trás, enquanto os meus cabelos se eriçavam.
— Cães, monsieur?
— Surpreende-me que ande nesta floresta à noite. Poucas pessoas se aventuram por estes
caminhos, mesmo durante o dia.
— É aqui que se bifurca o caminho e se abre a senda para Villefère — disse ele, e eu pude ver
um sendeiro estreito e sinuoso, que não percebera bem há pouco, quando passei. A trilha
desaparecia na escuridão das árvores. Estremeci.
A senda era tão estreita que tivemos que caminhar em fila, seguindo ele à frente. Eu o
examinei atentamente. Era alto, muito mais alto que eu, magro e rijo. Vestia roupas que me
pareciam espanholas. Um longo florete pendia de sua cintura. Caminhava com passos largos
e ágeis, sem fazer barulho.
Em seguida, ele começou a falar de suas viagens e aventuras. Falou de muitas terras e mares
que havia visto e de muitas coisas estranhas. E assim, enquanto conversávamos, nós nos
embrenhávamos cada vez mais na floresta.
Presumi que ele seria francês. Entretanto, tinha ele um sotaque muito estranho. Não era um
sotaque francês, espanhol ou inglês, e nem mesmo se parecia com o de qualquer língua que
eu já tivesse ouvido. Algumas palavras eram por ele articuladas estranhamente e outras ele
sequer conseguia pronunciar.
— É o que afirmam os aldeões — respondeu. — Mas eu, que já andei por estes bosques
muitas vezes, nunca vi a sua face.
Começou a falar, então, das estranhas criaturas das trevas. A Lua ascendia e as sombras
deslizavam entre as árvores. Ele olhou para a Lua.
— Vamos rápido! — disse. — Temos que chegar ao nosso destino antes que a Lua atinja o
zênite.
— Por quê? — disse ele. — Ora, é uma clareira aprazível. Tão agradável quanto uma sala de
banquetes. Já me diverti várias vezes neste lugar. Ha, ha, ha! Olhe, vou lhe mostrar uma
dança.
E se pôs a saltar de um lado para o outro, jogando para trás a cabeça e rindo em silêncio.
Pensei comigo mesmo que aquele homem era louco.
Enquanto prosseguia em sua dança ensandecida, olhei ao meu redor. A senda não prosseguia
em canto algum. Terminava ali mesmo, na clareira.
— Venha — disse ele. — Sigamos adiante. Temos que continuar. Não está sentindo um
ranço, um cheiro de pelos, que paira sobre a clareira? Aqui é um covil de lobos. Talvez
estejam bem perto daqui, esgueirando-se para atacar agora mesmo.
Então ele se pôs de quatro, saltou mais alto que minha cabeça, e veio em minha direção com
um estranho movimento furtivo.
Eu o arrastei comigo e fomos juntos ao chão. Soltando uma das mãos, arranquei a máscara.
Um grito de terror escapou de meus lábios. Por trás da máscara, olhos de fera brilhavam, e
presas brancas reluziam à luz da Lua. Aquela cara era a de um lobo.
Abaixei-me, recolhendo a adaga. Depois parei, erguendo a vista. A Lua pairava no céu, quase
no zênite. Se eu tivesse matado a criatura sob a sua forma humana, seu terrível espírito me
assombraria para sempre. Sentei-me, esperando. Aquela coisa me olhava com seus olhos
flamejantes de lobo. Os longos e rijos membros pareciam encolher-se, encurvando-se. Pelos
pareciam crescer sobre eles. Temendo enlouquecer, apoderei-me da espada da própria coisa e
cortei-a em pedaços. Depois, arremessei bem longe a espada e fugi.