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Os contos de Azalea

A odisseia de Corvos.

1-O mundo por debaixo das flores.


Aventureiros nunca foram conhecidos por suas boas manobras no ar, nem por sua
sobrevivência a quedas. Mas às vezes tínhamos de dar nosso jeito. Eu havia caído, sem
saber bem onde, já era noite e eu me encontrava em uma clareira, rodeada por árvores
com troncos firmes e largos cujo suas folhas brilhavam em um verde luminescente e
seus arbustos estavam repletos de flores em tons simples de amarelo, também dava
para escutar um rio a uma certa distância do local.
Comecei a passear pela área observando a magnífica flora local, com o passar do
tempo, comecei a me sentir diferente, achei que era apenas fome ou algo do tipo então
prossegui.
Depois da pacífica caminhada cheguei ao rio, sua água se movendo de maneira livre e
graciosa pelas pedras na borda, o local era rodeado também por plantas mas essas
possuíam tons mais vivos entre verde e amarelo, provável que pela água que jorrava
abundantemente. fui até o rio para sentir o prazer de tomar um pouco de suas águas
mas ao chegar na borda. Vi minha face, alterada e meu corpo como o de um corvo,
havia virado um pássaro de penas escuras e profundos olhos negros, mas mesmo assim
ainda andava como um humano, parei um pouco e notei que minhas roupas tambem
haviam sumido, apenas me restava um chapéu de palha que estranhamente cabia em
minha cabeça. Estava desesperado sem saber o que fazer “Calma… respira…” - disse a
mim mesmo tentando apaziguar-me de minha nova aparência.
Após alguns minutos me acalmando, escutei um som do outro lado do rio, virei
rapidamente minha cabeça na direção do barulho e vi uma pequena figura fitando seus
olhos em mim, mas não durou muito pois no momento que me notou Observando-a saiu
às pressas pela floresta. Pulei nas pedras encharcadas pelo rio até o outro lado, e
comecei a seguir seja lá quem fosse.
-E, ei volte aqui!!! - Eu berrava para que a “Pessoa” parasse ou se virasse para mim.
2-
A perseguição continuava, eu seguia a figura misteriosa pela floresta,
infelizmente ela era muito rápida. Me perdi dela no meio do caminho, tentei achar
algum de seus rastros na longa noite, mas tal não era fácil de encontrar. Parei um
pouco para observar ao meu redor, já não tinha noção da minha localização, era um
local totalmente novo, as árvores eram gigantescas, suas folhas eram totalmente
azuis assim como a grama e os arbustos, as incontáveis flores brilhavam mais do que
qualquer joia já vista e os insetos cantavam em uma linda serenata. Enquanto
examinava esse novo ambiente me deparei com uma planta, Uma pequena flor
fechada presa ao tronco de uma árvore, bem maior que as outras, me senti atraído
por ela e sem opções cutuquei-a, a planta misteriosamente se abriu ao som de
cochichos e vento.
-Acho que já despistei ele, não é possível que seja…- A planta falou, isso apenas
me levou a uma conclusão: era bruxaria, mas na minha situação melhor a bruxaria do
que a morte.
-Preciso reportar isso, a cabana fica depois da colina azul… certo é pra lá- outra
pequena planta presa a árvore abriu-se a comentar.
Então era minha próxima parada, uma cabana após a colina azul, comecei minha
caminhada após agradecer as flores que fiz questão de dar nome: Sussurros.
Comecei a subir, observando os cantos para ver se encontrava mais sussurros ou
outras plantas com propriedades mágicas, a caminhada foi até bem calma
comparada à maratona anterior.
Depois de algum tempo caminhando, notei um detalhe um tanto anormal, parecia
que a colina não possuía um topo, quanto mais eu subia a colina mais chão aparecia
para que eu subisse, outra bruxaria mas dessa vez não parecia pacífica como os
sussurros.
“Deve ter algo que ainda não vi” - Disse a mim mesmo se aquele ser passou até a
cabana deve haver uma maneira de passar para o outro lado, talvez uma árvore ou
um túnel.
Fiquei absorto nesse pensamento por algum tempo. Até que ouvi um barulho vindo
de árvores próximas, comecei a me afastar calmamente das plantas para observar o
que era, conforme me afastava um animal saia de dentro da mata azulada, rosnando
contra mim assemelhava-se a um cachorro, tirando o fato dele possuir duas cabeças
e um corpo longo como uma mangueira. Eu apenas continuei a me afastar
calmamente rezando para que ele não me visse.
Mas não deu certo o cão avançou com tudo em mim, corri com toda a força para
não ser devorado por mais que não adiantasse muito, minhas pernas curtas de corvo
não facilitavam muito quando o problema era correr.
Corremos pelos campos azulados, eu pela minha vida, o lobo pela sua janta. As
árvores passando como raios ao nosso redor, a mata batendo em minhas asas e
minhas pernas se cansando de tanto correr pela infinita montanha.
Depois de longos minutos correndo minhas pernas cederam, cai na mata azul,
aceitando o destino de uma trágica morte, nesse local desconhecido. Senti a fera
chegar mais e mais perto, foi quando tudo escureceu.

3-A gigantesca dama de


ferro.
Quando acordei me encontrei dentro de um lugar escuro, não consegui
reconhecer o'que seria, apenas tinha a certeza de que era bem apertado. Comecei a
me mover tentando sair quando a tampa deste "local" caiu. Me levantei observando
que na verdade estava dentro de um caixão.
Olhei para os lados observando o novo ambiente, estava em uma sala com o chão
coberto de areia cinza, as paredes azul escuro cheias de cartazes com nomes e
fotos manchados de sangue e com uma grande porta ao fundo, no meio da sala havia
dois seres encapuzados me observando com enormes machados em mãos.
-Enfim acordou! - O da esquerda gritou com uma voz extremamente animada
como se tivesse esperado o dia todo para me dizer isso. - Como foi sua primeira
morte?
-Mo, morte? - disse engolindo seco.
-Sim, sim como foi?!
-Deixe-o! idiota! - o da direita empurra o outro de leve. - Não vê que está sendo
insensível?
-Ops, perdão.
-Deixe disso, temos trabalho a fazer, siga-nos corvo! - o da direita comentou
enquanto se encaminha para a porta ao fundo e a abre.
Atrás da grande porta havia um mar de areias acinzentadas que se moviam como
água, e um pequeno bote.
-Venha corvo! - a animada sombra encapuzada me puxou em direção ao barco.
Após todos terem subido a bordo, a porta posterior a nós se fechou, e tudo que
podíamos ver era o mar de areias, vazio. Então os dois seres viraram seus machados
com as lâminas para baixo e começaram a remar, o barco se movia magicamente
como se secretamente estivessemos sendo guiados por um grande peixe. Além do
mar de areias, uma lua radiante cobria os céus em escassez de estrelas.
Nós navegamos assim por alguns minutos, e quanto mais navegávamos mais perto
a lua parecia estar.
Paramos quando estávamos tão perto da lua que parecia que íamos nos chocar
contra ela. Então os dois indivíduos levantaram seus machados, apontando-os para o
céu.
-Eu Dumba, requisito a presença de vossa senhoria! - a figura animada a esquerda
gritou
-Eu Dimba, requisito a presença de vossa senhoria! - A figura séria a direita
gritou ao mesmo tempo que Dumba.
A areia começou a tremer, dando a sensação de que tudo ia desabar “E o'que há
debaixo da areia?!” pensei desesperado, enquanto via Dimba e Dumba olharem de
maneira esperançosa para o céu, como se esperassem serem levados para o além.
Foi quando uma enorme figura levantou-se das areias, sua aparência era como de
uma enorme boneca de metal que usava um longo vestido preto, sem mangas, suas
mãos estavam lotadas de anéis de ouro com jóias vermelhas e pretas, ela possuía
óculos redondos, olhos azulados e um cabelo marrom escuro com um coque.
-Digam meus nobres soldados! - Ela falou como se fosse uma grande rainha
malvada dos contos de fadas.
-Trouxemos o corvo! - os soldados bateram continência.
-Incrível! Esplêndido! -Ela aproximou-se do barco olhando-me de perto. -
Realmente ótimo.
-Podemos tirar esses capuzes agora? - disse Dumba.
-Claro. Já fizeram o necessário.
Dumba e Dimba retiraram seus capuzes revelando suas aparências de dois
grandes Corvos com seus ternos azulados e seus chapéus pretos, a única diferença
entre os dois é que Dimba tinha um bigode, Dumba não.
-Diga-me corvo- A moça comentou fazendo os dois soldados se virarem para mim.
- Como morrestes?
-Éh… bem… um cachorro, de duas cabeças e…
-Um corpo longuíssimo? - A moça completou.
-Sim… - Disse um pouco hesitante.
-Entendo, Caninos de mangue, é o nome que damos a estas pestes. - A mesma se
afastou um pouco do barco enquanto os soldados novamente se viraram para ela. -
Bem, aproveitando que ainda há tempo, alguma pergunta corvo?
–Co, como assim eu morri? Que tempo? e que, quem são vocês? - Disse ainda
tentando entender a sequência de eventos.
-Simples, você é um corvo, só existe um como você em toda azalea.
-Azalea? - disse confuso.
-o mundo onde você caiu.
-Corvos são uma linhagem de seres de outro mundo, que entram em azalea de
milênio a milênio, você possui a capacidade de voltar toda vez que morrer, ou
decidir só morrer mesmo.
-Como alguém ia querer não voltar?!
-Acredite, garoto é muito mais normal do que parece - Dimbo riu um pouco após
comentar isso.
-sobre o tempo, só podemos falar com você enquanto você não se regenera e
recobra a consciência. - Ela disse um pouco desanimada, deve ser triste morar em
um mar de areia vazio.
-Ok, eu acho? - Comentei.
-E sobre quem nós somos.. Hmm… não determinei se estás pronto para saber
ainda, por enquanto me chame de Hécate. - Ela apontou para sua face, como se eu
fosse miope ou retardado. - Não preciso apresentar Dimba e Dumba né?
-Não, não, mas eh… quando eu poderia ir embora. - perguntei curioso, já que
estávamos há um longo tempo ali.
-Você quer ir? Sabe que há muitos perigos lá fora. - ela disse tirando um
gigantesco relógio de bolso da areia, olhando-o e o colocando de volta.
-sim. - disse de maneira determinada.
-Ok então, adeus.
A mesma após dizer isso me deu um peteleco que me arremessou até as
profundezas do mar de areia, me levando ao eterno vazio sem fim ou luz.
4-
Meus olhos levemente se abriram em um novo ambiente, uma pequena cabana de
madeira de carvalho, suas paredes pintadas em tinta branca fazendo um lindo
contraste com o piso de ladrilhos marrons.
-Como você pode deixar isso acontecer!? - uma voz grossa e furiosa rodeou a
pequena cabana.
-Como eu ia saber que lá existiam caninos de mangue!? - uma voz chorosa rodeou
o local logo em seguida.
Não consegui entender o que estava acontecendo, minha cabeça doía, e apenas
me lembrava de uma coisa, a gigantesca dama de ferro Hécate. Então apenas me
levantei meio tonto.
-Mas era seu único traba…
-Parem! - uma voz suave ecoou pela cabana interrompendo a voz grossa. -Vocês
não aprenderam nada!?
-de, desculpa vó - os dois indivíduos se desculparam enquanto eu ainda estava
tentando entender o que estava acontecendo.
-Onde eu estou? Disse nervoso e ainda um pouco tonto.
Todos se viraram para mim, eram três pássaros que andavam como gente assim
como eu, a com voz chorosa era uma linda pomba branca, o de voz grossa era um
pombo comum, e a de voz mansa era uma alta coruja que usava dois óculos redondos
e vermelhos.
-Ele tá vivo?! - os dois pombos exclamaram espantados.
-Que alívio! - disse a coruja - estava com medo que ficasse no mundo de Hécate.
-É, mas quem são? - disse apontando para eles com minhas penas.
-Oh desculpe, onde estão meus modos? - a coruja deu uma pequena risada antes
de continuar - Sou Yaga, a pomba branca é Bel e o pombo é Kris.
-E qual seu nome? - Kris disse curioso.
-Meu nome? - Nesse momento eu havia acabado de notar que possuía realmente
um nome, então usei o primeiro nome que me veio à cabeça. - Me chamo Túlio.
-É um prazer conhecer você. - Yaga respondeu de maneira educada. - Você
ainda não deve saber muito sobre este mundo, ou o porque você caiu nele né?
-Eh, não.
-Deixe-me explicar, vocês dois podem ir descansar por hoje.
-Ok! - Os dois pombos saíram calmamente da sala para outro cômodo enquanto a
coruja sentava-se em um banco que acabara de aparecer.
-Você está em azalea. - a coruja começou - um mundo mágico conectado ao seu
por meio das plantas e flores, neste mundo existem diversos seres com habilidades
incríveis vindas de uma energia chamada pó.
-Pó? - comentei confuso
-Pó é como nomeamos os tipos de areia usadas para invocar feitiços, por ter
visto Hécate você já deve ter visto a areia de palmos.
-Então por isso a areia se movia como…
-água? - Yaga completou. - Há diversos tipos de areias com capacidades
diferentes, mas como você já deve saber não é só isso que Azalea esconde, aqui
existem monstros e seres tão temíveis quanto a morte.
-Eh, Yaga, se não for incomodo perguntar, há quanto tempo está de noite?
- perguntei enquanto observava a lua pela janela aberta.
-Já fazem dois milênios - ela respondeu com uma voz triste.
-Co, como?! - disse apavorado.
-Há dois milênios, uma poderosa bruxa lançou uma maldição sobre nossas terras
deixando-nos fadados a uma eterna noite preenchida por seres das trevas que
caçam nossos guerreiros.
-Mas e os corvos?
-Os corvos? - disse ela com um sorriso malandro - os corvos são uma lenda que
rodeia este reino.
Após esse comentário Yaga logo se levantou e puxou uma areia azulada levando
sua mão em frente a seu bico soprando-a. A areia voou calmante em minha direção
juntando-se e se transformando em um pedaço de papel velho.

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