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Essa é a história de como eu morri.

Há algumas eras atrás, ou talvez alguns anos, eu era um pirata, dos grandes
devo dizer, minha tripulação era quase como uma nação espalhada pelas
águas, comandada por mim, Jaspoir.
Eu detinha das maiores riquezas dessa terra e as expedições feitas por mim e
minha tripulação eram as mais lucrativas possíveis, mas a sorte não poderia
estar ao nosso lado para sempre.
No quarto dia de navegação em direção a ilha de Tipora, em busca do tridente
de Naidu, tridente esse capaz de realizar quaisquer dos desejos em mente do
quem o tem, uma formação de tempestade foi avistada pelo nosso marinheiro
Jon, as nuvens observadas por ele a distância detinham uma cor semelhante a
tinta preta de nossos tinteiros.
Os ventos começaram a uivar ruidosamente e de repente a tempestade que
estava ao longe havia chegado, apesar da situação parecer enervante, nós já
tínhamos enfrentado tais provações antes, então somente fizemos preparativos
para emergências.
Continuamos a navegar pelas águas tortuosas até um alto baque surdo ressoar
no fundo de nosso barco e repentinamente ficamos parados, alguns da minha
tripulação vieram me avisar sobre o ocorrido, mas nada poderia ser feito.
Não importa o quanto o volante fosse girado, o barco não se movia, tentamos
mudar a direção das velas, na esperança da situação ser causada pelo vento
inconstante, mas nada funcionava.
Todos, apesar de incomodados, ainda aparentavam tranquilidade.
— Capitão Jaspoir, Não temos mais o que fazer. — diziam enquanto se
dirigiam para as extremidades do navio, para uma checagem das condições da
água — Nada parece estar errado por este lado! parece que teremos que ficar
por aqui.
Eu me dirijo ao meu companheiro Jonathan, que estava sempre parado ao meu
lado esperando ordens — Vá e cheque a nossa situação.— com isso ele se
retira.
Estar embarcado no meio de uma tempestade indubitavelmente não era uma
situação otimista, se realmente não tivermos outra escolha, tínhamos que
torcer para não ser engolidos pelas ondas.
A situação só realmente piorou quando a lua apareceu no céu estrelado da
noite, sem mais nada a fazer todos se encontravam na parte interna do barco,
em pleno horário de desjejum outra batida foi ouvida no casco.
Depois uma ondulação também podia ser percebida, quatro homens foram
mandados para a checagem externa, enquanto os outros continuavam a
refeição.
Alguns minutos se passam em silêncio e então o baque de uma enorme massa
acontece e o barco se inclina, comida antes na mesa agora se encontrava no
chão junto com meus homens, o desespero finalmente nos assola e todos
começam a ir para a parte de cima.
Foi então que nós vimos, com uma rapidez que não deveria pertencer a algo
daquele tamanho, um tentáculo já havia esmagado a parte direita superior de
nosso barco e junto com isso, nossos quatro homens.
Nunca irei esquecer os olhos vazios de seus corpos estraçalhados pelo resto
da eternidade...
Mal tivemos a chance de aceitar tal acontecimento antes de outros desses
aparecer, e a clareza vir a nossa mente, um Kraken, uma das criaturas mais
impiedosas do mar.
Uma ação foi para revidar foi feita, mandei meus homens irem aos canhões,
mas não adiantava, só conseguimos disparar até o próximo ataque da criatura.
Nosso navio que já havia passado por muito, cedeu quando o segundo
tentáculo desceu sobre e ele e tudo estava acabado, mesmo que que
matássemos a criatura, o que era impossível, ainda ficaríamos presos em um
barco afundando.
Vi meus companheiros morrendo um por um naquela noite, ou esmagados até
o pó ou com seus corpos boiando na água movimentada.
Eu fui o último a morrer, quase como se a criatura quisesse que eu me
tornasse miserável antes de que acontecesse, só me lembro de gritar aos céus
a coisa mais egoísta que já havia dito — Se há algo místico neste mundo,
então que faça eu não me perder na sombra da morte!
— E é assim que a história da minha vida termina e a desta humilde alma
começa...— diz a alma do antigo capitão Jaspoir.
— Vejo que o que lhe restou além de sua consciência, foram arrependimentos
— Daniel, um investigador paranormal e colecionador de histórias, murmura —
Mas não há como sua alma ser dissolvida, minha maior aposta é que o tridente
o ouviu — ele complementa.
— Eu entendo... — a alma, que estava presa nessa ilha a não se sabe quantos
séculos, fala — Se eu tivesse desejado algo diferente, eu poderia ter salvo
meus homens? — a amargura em sua voz deixa um gosto ruim na boca do
historiador.
— Não adianta mais agora, pensar nisso só fará você viver o resto de sua
eternidade em arrependimentos — afirma Daniel se levantando da pedra em
que estava sentado — O tridente também não pode ser encontrado, como
provavelmente era um objeto amaldiçoado, deve ter mudado sua localização
após o uso.
— Sim... Não há mais esperança para mim. — a forma translúcida de Jaspoir
murcha visivelmente.
— Não estou aqui para mentir, sua situação não está nas minhas mãos —
Daniel começa a arrumar sua bolsa e se vira para sair — Mas farei sua história
ser ouvida, e quem sabe por um acaso do paranormal, isso faça você
descansar em paz.
Daniel caminhava para a saída da caverna, que estava localizada nas
profundezas da ilha, quando a voz fraca do capitão Jaspoir ressoa ao fundo —
Eu o agradeço, viajante.
Quando Daniel sai da caverna, ele se encontra com seus colegas que o
acompanhavam em suas missões há muito tempo, um deles pergunta — E
então algo novo sobre esse tal tridente?
— O mesmo dos outros 54 — ele suspira e pega um maço de cigarro,
precisando de nicotina para se recompor.
— Droga! Estamos andando em círculos a semanas! — o outro responde
chutando uma pedrinha — Qual foi a história do azarado da vez, então?
— O mesmo de sempre, pessoas que foram atrás de algum tesouro que
concede desejos e caem em ruína — ele continua fumar enquanto se dirige
para praia — aparentemente este objeto se disfarça de qualquer coisa
desejada na época em que se encontra e conscientemente arma algum tipo de
desastre se alimentando dos infortúnios.
— E o que você disse para consolar ele? — a mulher pergunta sem muito
entusiasmo — Foi aquele papo de fazer a história dele ser ouvida e tudo mais,
né?
— Eu não tenho mais nada pra falar para acalmá-los, deixá-los chafurdar em
sua própria miséria só os faria se corromper, então teríamos que lidar com a
fúria deles depois — ele apaga o cigarro pela metade na areia e começa a ir
ao barco — esse “tesouro” está longe de ser encontrado atualmente, não há
mais o que fazer além de mandar um relatório e concluir essa missão.
— Só vamos logo, eu tô começando a ficar como fome — um homem diz
desanimado.
Quando todos sobem no barco, eles saem dessa ilha que provavelmente só
será vista novamente daqui a alguns meses.

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