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QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de.

Bairros rurais Paulistas: Estudo


sociológico. Vol. XVII. São Paulo 1967. P. 63-209.

Introdução
Objetivo: estudar a organização e funcionamento da sociedade rural paulista.
Antonio Candido – Bairro rural: unidade mínima de povoamento nas áreas rurais
paulista com nível econômico precário e fadado a degradação com o impacto da
industrialização.
II – Definição de bairro rural
- enriquecimento cultural com a chegada dos imigrantes europeus.
Bairro rural: “divisão administrativa da freguesia, que é por sua vez vila. Este
sede de Camêra e Paróquia, e cabeça de todo o território, quase sempre vasto;
a freguesia sobrepunha um núcleo de habitação compacta e uma igreja provida
de sacerdote, geralmente coadjutor do vigário da paróquia; o bairro era a divisão
que abrangia os moradores esparsos, não raro com sua capelinha e às vezes
cemitério” (antonio candido) (P. 65).
“Era o bairro rural um grupo de vizinhança de “habitat” disperso, mas de
contornos suficientemente consistentes para dar aos habitantes a noção de lhe
pertencer, levando-os a distingui-lo dos demais bairros da zona.” (P. 65)
- o nome biarro rural era comum em SP e MG
“Tradicionalmete, uma capela marcava o núcleo central e a festa do padroeiro
constituía um dos momentos importantes de reunião para os componentes
dispersoso pelas cercanias – momento que se afirmava a personalidade do
bairro, em relação aos bairros vizinhos.” (P. 65)
- Multirões – outra forma de congregar os habitantes do bairro além das festas
religiosas;
Sociabilidade:
a) Relações familiares;
b) Relações de vizinhança;
c) Relações de bairro entre si;
d) Relações com "a região;
e) Relações com o exterior;
(P. 66)
Integrantes dos bairros paulistas eram: caipiras ou gente de sitio.
- agricultura de subsistência;
“O bairro rural paulista descrito por Antonio Candido é composto de camponeses
que podem possuir ou não a terra em que trabalham.” (P. 67).
- pequenos propietarios, meeiros, arrendatários ou parceiros.
Muller – sitiante: todo o pequeno produtor rural que, responsável pela lavoura,
trabalha direta e pessoalmente a terra com a ajuda de sua família e,
ocasionalmente, de alguns empregados remunerados” (P. 68 apud).
- com a industrialização – “civilização rustica” foi ameaçada em muitos pontos do
país.
Permaneceu em outros lugares – “foi em bairros rurais que as manifestações
folclóricas pareceram persistir com mais vigor; dada a dificuldade das
comunicações em geral, e mais ainda a falta de estradas que ligassem a zona
rural aos centros urbanos, atribui-se ao isolamento das áreas rurais a
permanência desta antiga forma de civilização - permanência que assim
resultava da marginalidade em que tais áreas se encontravam, com relação à
vida sócio-economica da sociedade global brasileira” (P. 69).
Traços característicos das unidades de povoamento (antonio Candido):
1 – isolamento; 2 – posse de terras; 3 – trabalho doméstico; 4 – auxilio vicinal
(vizinhos); 5 – disponibilidade de terras; 6 – margem de lazer.
- Grandes fazendas tem efeito de destrição da comunidade caipira.
III – Métodos
“toda comunidade, por mais isolada, existe sempre dentro de uma região cuja
organização social é mais vasta do que a daquela, e com a qual se relaciona”
(P. 72).
Questão – compreender se nas comunidades mais pobres permanece a
ruralização e nas mais desenvolvidas se ela realmente desapareceu.
IV – Industrialização e Urbanização em processo, mas sobrevivência da
civilização caipira, no município de Taubaté
- Vale do Paraiba – zona de povoamento antigo.
- Grande produção da região é o Arroz – Taubate é um grande produtor.
Pecuaria
“Os campos são trabalhados com a mão de obra familiar. Antigamente era uso
fazer-se multirões para aumentar a area cultivada, mas esta maneira de trabalhar
está mais e mais caindo em desuso.” (P. 83).
- crianças iniciam muito cedo no trabalho rural.
- dificuldade na educação formalizada.
“As festas religiosas não são encaradas apenas como atividades de culto, mas
também como recreação, além delas não há outras distrações nos bairros”. P.
85
“Os dosi bairros da Bacia do ribeirão das Antas se enquadram, pois,
perfeitamente na categoria de bairros rurais tal qual foi definida nos primeiros
capítulos (...), Localizam-se por assim dizer à beira da cidade de Taubaté, cidade
grande em vias de industrialização rápida. (...). Consequentemente a população
da cidade aumentou havendo porém a diminuição na população rural.” P. 86
“A mudança então seria fruto da própria dinâmica interna dos bairros estudados,
e não das influencias vindas de fora; é certo aud o fato da bacia do Ribeirão das
Antas estar localizada numa região que mais e mais se moderniza, torna o
ambiente mais favorável a mudanças. Mas, como sempre no país se rechoceu
o trabalho assalariado, ao qual se recorreu todas as vezes que houve
possibilidade e vantagens em sua utilização, a adoçaõ dessa modalidade pelos
habitantes da Bacia Ribeirao das Antas não deve ser forçosamente explicada
por uma influencia externa”. (P. 88).
- Independencia e complementariedade.
- No estudo de caso percebe-se que a teoria de Watson – quanto mais próximo
da cidade mais desenvolvido – não corresponde a realidade... tem regiões muito
mais distantes que ribeirão das antas que são mais desenvolvidas.
V – Relações entre bairros rurais e zona Urbana num município de
desenvolvimento urbano modesto: O bairro do Taquari no município Leme.
Taquari – 15km do centro urbano
- solo pouco fértil
- atividade agrícola comercial é a principal;
- empréstimos para safras e maquinário.
“O trabalho assalariado permanente pe muito raro o bairro. Existe em certa
medida na época das colheitas, sob forma temporária pois. A queixa pela
escassez da mão de obra agrícola era generalizada, e a aspiração pela posse
de um trator, com o fito de supri-la, mostrou-se também geral”. P. 94
“ Para a colheita de algodão, proprietários e meeiros recorrem a mão de obra
assalariada, que mandam buscar na cidade de Leme ou de Aguaí; são os
‘volantes’, trazidos por um ‘turmeiro’, que é quem aluga o caminhão de transporte
e quem fiscaliza e controlo o trabalho dos homens durante a colheita, anotando
a produção de cada um. O ‘turmeiro’ é um intermediário e um fiscal; presta
contas ao lavrador do trabalho efetuado, recebe deste o dinheiro e para então
os volantes. O turmeiro traz em egral 20 a 30 volantes. Estes trabalhadores
temporários não se integram pois, na população do bairro, com a qual mantêm
um contacto muito precário. Encontramos, pois, no bairro um diversidade de
situações quanto as relações de trabalho, que vão de sitianteproprietário até o
assalariado rural temporário, passando pelo meeiro.” P. 95
- controle social (falsidade e cochichos).
- stagnação do comercio no núcleo;
- cartas anônimas;
“inspetor do quarteirão”
“prpriet[arios e meeiros têm sensivelmente um gênero de vida muito homogeneo”
(P. 97).
“ casamento se da relativamente cedo; rapaz recebe do pai ou do sogro, terra
para cultivar e casa para morar” (P. 99)
“O compadrio é muito importante no bairro, e na maior parte das vêzes os
compadres são escolhidos dentro da própria família, da qual reforça a coesão.
Porém, nota-se também uma tendência para escolher como compadre alguém
que goze de boa situação econômica ou mesmo politica, assim como os
indivíduos que são considerados prestigiosos”. (P. 100).
“Também se verificou que muitas crianças se matriculam tarde no grupo escolar,
muitas delas aos 13 anos; esperam que os irmãos menores possam
desempenhar certas tarefas agrícolas, nas quais os substituem, e assim,
dispensados de ajudar o pai na roça, podem se matricular na escola.” (p. 100).
- conhecem e rpocuram atendimento médico quando necessário.
- não há uma organização politica partidária, apenas os cabos eleitorais que
influenciam na posição politica dos moradores.
“Se a vida politica é quase inexistente, a vida religiosa, ao contrário, é intensa.
As festas religiosas constituem a atividade recreativa por excelência e o pretexto
para os moradores do bairro se encontrarem regularmente, reunindo-se também
com o s habitantes de bairros vizinhos; como as datas das festas não coincidem,
podem estes acorrer ao Taquarí então, e os sitiantes do Taquarí podem
freqüentar outras festas que não exclusivamente as suas.” P. 103.
“As festas são organizadas por festeiros escolhidos entre as pessoas de mais
prestigio no bairro, principalmente as que têm muitas relações de amizade, pois
assim conseguem amior quantidade de prendas e donativos para a celebração”.
- São Gonçalo ( P. 103).
“Ser religioso é um valor muito importante no bairro; comenta-se com admiração
que fulano e sicrano são tao religiosos que até à roça vão de terço no bolso” P.
104
- Há 3 familias protestantes
“Além de festas religiosas, jôgo de bocha (bocce) constitui a recreação
maisimportnate” (P. 104).
- atividade exclusivamente masculina.
- Pesca como recreação.
“Mas tôdas essas atividades recreativas são atividades masculinas; homes têm,
assim, muito mais oportunidade de se divertirem do que as mulheres” P. 105
- Para as mulheres as atividades religiosas são então ainda mias importnte pois
tratra-se do momento em que ´doem se divertir.
“ssim classificar-se-ia entre aquelas cidades que, segundo Gioconda Mussolini,
não passam “de um prolongamento da zona rural, muito longe de representar
aquelo tipo altamente secularizado que Rdfield coloca num dos extremos de seu
continuum” P. 106
- homogeneidade em Lemes
“o bairro rural se define como formado por camponeses; isto é, por indivíduos
vivendo numa economia de subsistência, completada pela comercialização das
sobras da colheita, que é endida na cidade próxima ou na região”. P. 107
Porém – em Taquarí se encontram agricultores vivendo sobre agricultura
comercializada;
- a subsistencia vem como objetivo secundário;
“ do ponto de vista econômico não estamos diante de sitiantes tradicionais”. P.
107
Taquari é então um bairro rural?
PRIMEIRO: Habitat disperso – características de bairros rurais;
SEGUNDO: Trata-se da reunião de famílias conjugais autônomas onde os filhas
ao se casarem formam famílias interdependentes dos pais economicamente.
Verifica-se então “que as relações de trabalho, no bairro rural modernizado de
Taquarí, continuam semelhantes às dos bairros tradicionais; tais relações se
expressam na importância da ajuda mutua, do compadrio, das festas religiosas”
P. 109
- realação mais ou menos igualitárias dos meeiros
“Destas observações se depreende, como primeira consequência, que o bairro
rural tradicional é um das formas de bairro rual, coexistindo com uma outra
forma, a do bairro rua cujos sitiantes, tendo já adotado uma agricultura
comercializada, não abandonaram todavia as relações sociais eo modo
especifico de “habitat” que define o bairro rural.” (P. 109).
Assim, para se definir o bairro rural a questão econômica cai para o segundo
palno se considerando as relações sociais.
“Bairro rural é aquele cujos membros, estando à frente de empreendimentos
rurais de que guardam responsabilidades (mesmo quando não conservam a
totalidade da colheita), desenvolvem entre si relações de trabalho expressas na
ajuda mútua, e conservam relações de vizinhança que se concretizam na
participação, em nível sociail igualitário, das atividades quotidianas e festivas do
grupo de localidade” (P, 109)
“é licito supor, pois, que o folclore desempenharia, nos bairros rurais, importante
função de incorporação social dos adventícios” (P. 110).
“Acresce que estamos vericando a necessidade de ampliar nossa definição
de bairro rural, fazendo-a abranger, além dos camponeses, também os
agricultores.” ( P. 110)
As relações econômicas ficam em segundo plano no que cabe definir o que é
comunidade. Porém, sobre a definição da área em que se integram os bairros
rurais e sobre suas relações ela é importante.
“A existência de um bairro como o do Taquari, - que é bairro rural, mas que não
mantem mais a economia de subsistência tradicional nos bairros caipiras, - faz-
nos distinguir duas modalidades diferentes dêsse tipo de agrupamento social: o
bairro rural tradicional, que é composto de camponeses, ou melhor, cujos
habitantes vivem num regime econômico primordialmente orientado para
subsistência; e o bairro rural moderno, que é composto de agricultores, isto é,
cujos habitantes vivem num regime econômico orientado para a comercialização
dos produtos agrícolas. À parte esta diferença de economia, nume noitro tipo de
bairro as relações sociais básicas entre as família e os indivíduos são as
mesmas.” P. 113
VI – INTEGRAÇÃO REGIONAL E SIOLAMENTO EM BAIRROS RURAIS DO
SERTÃO DE PARAIBUNA
Os multirões nos bairros vão sendo substituídos;
“O aspecto dos bairros é de pobreza, tanto do ponto de vista do confôrto, quanto
da economia e da técnica” (p. 116)
- é comum os filhos seguirem as orientações e ideias dos pais;
- Porém apesar da influencia do pai não se pode falar de um Patriarcado;
“Do ponto de vista cultural, as famílias se integram no gênero de vida tradicional,
tanto no que diz respeito à divisão do trabalho, quanto a educação.” P. 118
- A própria família ensina os receitos religiosos, não havendo interferência da
igreja;
“Nas famílias, a divisão do trabalho é exclusivamente baseada na idade e no
sexo. A mulher raramente trabalha na roça, a não ser por ocasião da colheita;
as crianças aos 12 anos, começam a auxiliar sistematicamente os pais, pois, é
nessa idade que em geral terminam a escola – os meninos vão para a roça, as
meninas ajudam em casa” P. 120
-n~~ao há grande diferenciação social entre patrão e os camaradas;
Duas camadas sociais distintas: os sitiantes proprietários de terra e os
camaradas assalariados.
“As diferencias de nível econômico são amenizadas por outras relações sociais,
que em lugar de distancia, revelam aproximação” P. 121
Religião – “reforça a solidariedade interna do bairro, mas serve também para
quebrar-lhe o isolamento, ligando-o com uma sociedade mais vasta que o
engloba” P. 123
- Associação de São Vicente – ajuda aos que não trabalham;
Importancia da escola – dão importância a alfabetização,;
- A escola é fora do bairro introduzida nele;
“Todavia, a escola funciona como uma ligação, que nçao se deve ser
desprezada, entre o bairro rural e a sociedade global. P. 126
- Necessário ampliar o conceito de bairro rural que deve assim abranger os
sitiantes em economia já comercializada.
“A vida dos bairros se caracteriza por um ritmo que lhe é próprio, em que a
dispersão habitual e quotidiana alterna com momentos de aproximação,
proporcionados ora pela necessidade de certos trabalhos em comum, ora pelas
festas, tanto em sua função religiosa quanto em sua função recreativa” P. 132
- ajuda mutuo e as festas.
- reunio~es da escola;
“grupo de vizinhança”;
“O líder não é um superior , na vida do bairro; o líder é o primeiro entre seus
iguais” 135.
Há elementos da sociedade global agindo no interior da sociedade formada pelos
bairros e efetuando uma ligação entre ambas. As instituições administrativas,
educativas, políticas e religiosas podem desempenhar o papel de intermediários
entre as duas formas de sociedade, cuja ação de afastamento ou de
aproximação precisa ser compreendida e medida” P. 137
- A igreja nos bairros estudados não é uma grande ponte com a sociedade global;
acaba por reforçar no interior dos bairros a auto-sufiencia e a independência
deles.
- serviços públicos e burocráticos são externos ao bairro, se concentram no
município de Paraibuna;
- Nas eleições – o objetivo não é eleger os mais aptos mas sim os que prometem
melhorias para o bairro habitado;
- Noção de Estado Assistencialista;
“A escola primária parece a ser a única instituição exterior realmente implantada
nos bairros estudados; sua aceitação está expressa nas matrículas infantis e na
freqüência às aulas (...) A escola primária é a unia instituição não pertencente à
civilização caipira que, de maneira constante e sistemática, arranca os
indivíduos, da vida limitada e kical para lança-la num universo mais amplo” p.
140
Porem a escola conta com dois fatores contrários: um – público infantil, dois –
tempo de duração curto;
“Quem vive na roça não precisa saber ler”;
- O sistema econômico é maior laço com o global do bairro;
“Descreve-los como à margem da realidade social do Estado é colocar o
problema de maneira falsa; tais sitiantes estão plenamente integrados nela, mas
sua participação se regula pelos princípios da civilização caipira, e não pelos
princípios da civilização moderna.” P.
VII – UM EXEMPLO DE DECADÊNCIA E DE ADAPTAÇÃO DE BAIRROS
RURAIS A UMA NOVA RELAIDADE: OS BAIRROS DO SERTÃO DE
ITAPECERICA
Bairro das Laranjeiras- “Podiamos levantar a hipótese de que Juquitiba de
Mneira geral, e mais particularmente Laranjeiras, deviam constituir verdadeiros
“testemunhos” da organização social tradicional do meio rural brasileiro” P. 148
“A produção dos sítios era mais do que suficiente para alimentar as famílias
produtoras. Sendo o gênero de vida, a economia e a produção semelhantes
entre os sitiantes, as possibilidades de trocas econômicas entre êles era
limitada. O excedente era então levado a cidade de S. Paulo, onde era trocado
por tecidos, pólvora, sal, vinho e aguardente. Cada sitiante possui sua tropa de
burros, e seu contacto com a cidade de S. Paul era continuo e constante: pelo
menos um membro da família ia até la no decorrer do mês. P. 149
- peregrinações para Bom Jesus do Pirapora
- os sitiantes vão se tornar também carvoeiros;
“Várias famílias de sitiantes tentaram então abandonar completamente a
lavoura, atraídos pelo considerável lucro que pensavam auferir com a produção
do carvão. Porém, viram-se na verdade na total dependência do intermediário.”
P. 153
- Porém, quando vendiam apenas o carvão o sitiante não produzia alimentos
tendo que comprar pelo intermediante do carvão... o mesmo que estabecia o
preço.. assim o sitiante volta a produzir alimentos na lavoura tendo o carvãoa
penas como complemento.
“Nesta fase, é patente a redução do nvel de vida de Laranjeiras. As casas de
moradia então construídas são pequenas. De pau-a-pique, mobiliário
inexistente. As prendas caras desaparecem dos Leilões; o que se arremata
agora são meia-duzia de ovos, algumas espigas de milho... As escolas decairam
e se fecharam, não encontram mais professoras que ali quisessem iniciar
carreira; o numero de analfabetos aumentou, impedidos de participar das
eleições. P. 154
- Destaque para os vendeiros;
- Os sitiantes que não conseguiam mais produzir se tornam empregados na
atividade carvoeira.
“Os carvoeiros não constituem, porém, senão pequena minoria da população do
sertão; a grande maioria dos sitiantes continua na sua atividade dupla de roça e
carvão, diminuindo cada vez mais o que consomem, - isto é, levando uma vida
cada vez mais pobre, - a fim de poder mantê-la dentro de seu ritmo tradicional e
preservando um valor que reputam muito importante, a independência no
trabalho.” P. 155
“A medida em que foram desaparecendo os sitianes que ainda matem sua vida
de acordo com o ritimo tradicional, irão desaparecendo os bairros rurais do
Sertão de Itapecerica, e esta região, até há 10 anos completamente dominada
pela civilização caipira, estará submersa pela civilização de tipo urbano
ocidental” P. 156
Palmeiras – satisfação da população com o gênero de vida;
Bairro cortado pela BR porém, mantem-se os hábitos rurais;
- o preço da produção roceira subiu... assim forçando a população de Palmeiras
a intensificar a produção do carvão,
- procura por outras atividades comerciais – especialmente os mais jovens;
“Assim com a abertura da estrada em 1957, o grupo que habita Palmeiras viu
perspectivas benéficas, não mais no setor ligado à terra ou ao carvão, e sim no
setor de serviços. Seu nível econômico permaneceu, assim, relativamente bom.”
P. 162
“A roça serve de esteio para a economia e fica em geral aos cuidados da mulher
e das crianças.” P. 163
“Em todo o curso destes acontecimentos, os sitiantes do Sertão não perdem,
pois, seu caráter de camponeses, isto é, continuam sempre resguardando sua
agricultura de subsistência, complementada por outras atividades também
remuneradoras, que lhes permitia manter certo nível econômico.” P. 166.
- a roça como retaguarda;
- características dos bairros rurais: a ajuda mutua e a religião;
“A transformação por que passa o sertão de Itapecerica não pe fruto de um
dinamismo interno da sociedade caipira, e sim de um fator externo, o
desenvolvimento da Capital e da região que a circunda.” P. 169
“A atividade comercial do sitiante, de independente passa a subordinada” P. 170
“Através de intermediários, a cidade impõe suas condições ao sitiante outrora
soberano. Não é mais ele que comanda o preço pelo qual vende ou compra os
produtos; ao intermediário cabe esta inciativa. Ignorante dos caracteres de uma
economia de mercado, o sitiante passa a ser explorado e seu nível de vida tende
a baixar cada vez mais.” P. 170
- O sitiante não vai a cidade, o intermediário traz os produtos até ele;
Método comparativo: Itapecerica da Serra é a região com maior sitiantes em
situação precária;
- Diferente da Bacia do Ribeirão das Antas, há a desorganização dos bairros de
Itapecerica e a perda do compadrio;
- desaparecimento da escola – isso para os moradores, demonstra o sentimento
de profunda decadência do bairro;
- o desejo de se reestabelecer a escola esta mais relacionado com o prestigio
que a escola traz do que com o ensino por si próprio. “ali não se vive como bicho”.
VIII – NOVAS DEFINIÇÕES E HIPOTESES
- Qulquer pesquisa sobre bairro começa com ma pesquisa sobre o municio e sua
localização.
- Duas espécies de bairros rurais: “Efetivameente, há os bairros formados de
camponeses (isto é, cujos cultivadores estão presos a uma agricultura de
subsistencia, completada por uma atividade subsidiária que aumenta os
recursos da família) e há os bairros de agricultores ou pecuaristas (composto de
roceiros entrosados já numa economia comercializada, mas conservando como
atividade subsidiária a roça, de que tiram seu passadio quotidiano). Os bairros
rurais se definem mais pelas relações sociais do que por um regime econômico
especifico; no entanto, a diferenciação interna dessa categoria social em duas
divisões distintas tem como critério o regime econômico especifico de cada uma
delas” P. 178
- Bairros rurais de : Paraibuna, leme e Sertão de Itapecerica.
- importante estudar as relações do bairro com a sede do município;
- relação do bairro com a aldeia global;
- consumo do “caipira”;
“Os habitantes dos bairros analisados em Paraibuna, ou bairros semelhantes,
estão vivendo dentro de suas possibilidades econômicas, ou muito aquém
delas?” P. 183
“Todas estas reflexões só se tornaram possíveis neste trabaçho porque os
bairros rurais foram encarados de varias maneiras: em si mesmos; dentro do
município a que pertencem; numa sociedade global mais ampla.” P. 184
1 – O ISOLAMENTO DOS BAIRROS RURAIS
- Diante da pesquisa realizada pelo trabalho, constatou-se que o suposto
isolamento dos bairros rurais não compunham uma característica latente, pois
“os sitiantes tradicionais, como os modernos, estavam em constante circulação
dentro de uma região, solicitados a sair de seus bairros ora pelas atividades
econômicas, ora pelas práticas religiosas, mas servindo-se de todos os pretextos
para não ficarem isolados dentro de seus grupos de vizinhança.” P. 185
- Camponeses e agricultores plantam para si e para negociar; assim, para
negociar vão a cidade e centros urbanos;
- A comunicação com os municípios e centros permitem um vai e vem dos
roceiros garantido melhores oportunidades econômicas e sociais, quando este,
fica isolado, como no caso do sertão de Itapecerica, estes podem chegar a
miséria – como os carvoeiros. “o que os marginaliza é o desaparecimento das
relações sociais, decorrente do gênero de trabalho que possuíam; a adoção de
outro gênero de trabalho, efetuado num contexto totalmente diferente de suas
relações sociais tradicionais, tolhe seus movimentos e leva-os ao
empobrecimento sócio-cultural.” P. 186
a) Complementariedade interdependente; (produtor e consumidor - roça em
regime de policultura ao qual se apoia para viver)
b) Complementariedade subordinada. (roça como complemento , agricultor –
produção orientada para a venda).
2 – DEFINIÇÃO DE BAIRRO RURAL COMO UNIDADE MINIMA DE
POVOAMENTO
A partir da analise de LEME: dois tipos de bairro rural: “os primeiros são formados
por camponeses, isto é, pequenos empresários rurais (proprietários ou não de
terras) vivendo numa economia de que o fulcro é a roça de subsistência e cujo
excedente costumam vender – são os caipiras; os segundos são compostos de
agricultores, que também constituem uma categoria independente de pequenos
produtores rurais (proprietários ou não), em cujo sistema econômico a roça é um
elemento constante, mas subsidiário, pois sua manutenção depende de
negociarem um produto principal que cultivam. P. 189
- economia mista;
Bairro rural: Habitat disperso marcado por pequenos núcleos de centralização
em torno da capela; e vínculos sociais que unem os membros.
- Ex.: Festa religiosa que une os vizinhos;
“O bairro se organiza de maneira igualitária, isto é, os indivíduos que o formam
pertencem ao mesmo nível social” P. 189
“Sentimento de localidade”- Os habitantes do bairro se sentem ligados a ele e
buscam sempre lutar por melhorias e benefícios para o bairro de forma grupal,
quando este entra em decadência, perde-se esse sentimento.
“As relações econômicas não definem o bairro rural, uma vez que encontramos
bairros de camponeses e bairros de agricultores” P. 190
“É o equilíbrio do bairro com a região ou com a cidade que determina seu
progresso ou sua decadência, e não só caracteres específicos da região ou do
bairro” P. 191.
3 – BAIRROS RURAIS E CIVILIZAÇÃO CAIPIRA
- Práticas folclóricas tradicionais;
- a desorganização não esta ligada diretamente ao aparecimento da
urbanização, ele já acontece em comunidades estritamente rurais;
- não só o crescimento das cidades próximos aos bairros rurais mas também o
surgimento de grandes fazendas de monocultura;
4 – BAIRROS RURAIS E SOCIDADE GLOBAL
- a sociedade brasileira esta configurada numa estratificação social;
- Os bairros rurais em contrapartida apresentam-se igualitários;
“A empresa familiar agrícola apresenta uma ausência real da divisão do trabalho;
os membros do grupo participam do trabalho rural sem exceção, não existindo
nenhuma distinção entre o trabalho propriamente dito e a existência familiar” P.
194
- ora paralelos ora divergentes – global e micro rural.
“O paralelismo e a independência permitiam a continuidade da vida dos bairros.”
P. 196
5 – A DINAMICA INTERNA DOS BAIRROS
“A sociedade global oferece novos padrões de comportamento aos sitiantes,
alternativas diversas das antigas, mas não existe ainda nenhum mecanismo
organizado que os force a segui-los; são ainda livres de escolher o caminho que
querem palmilhar” P. 197
- parcerias;
- somente uma decadência econômica pode criar uma hierarquia social;
“Nos casos estudados neste trabalho, os próprios bairros é eu geram aqueles
indivíduos que vão exercer opressão sobre seus semelhantes” P. 202
6 – A LIDERANÇA TRADICIONAL E SEUS FATORES
- Dentro dos bairros, em geral, o nível social é o mesmo, porem as posições
sociais não são idênticas;
- Não pe possível falar de termos superior e inferior para sitiantes e camaradas;
“Quando o camarada passa à posição de genro do proprietário, passou de uma
posição menos prestigiosa a uma posição de mais prestigio, dentro da
constelação social” P. 202
- posição de prestigio –o individuo bem relacionado;
IX – NOVAS PERSPECTIVAS E PESQUISAS
- o destino a pobreza do sitiante;
“Os bairros estudados em Paraibuna mostram a possibilidade de mudança de
eixo econômico, sem que seja abandonada a civilização caipira; o bairro do
Taquaria apresenta a modernização do pequeno proprietário, já mecanizado e
conhecendo muitos aspectos do conforto moderno; no bairro de Palmeiras, os
habitantes, para se adaptar, vçao aos poucos perdendo seus caracteres de
sitiantes, para se tornarem assalariados, mas sem sofrer redução de seu nível
de vida” P. 205.

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