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INTRODUÇÃO

HISTÓRIA E HISTÓRIA DO DIREITO


O que é História? O que é História do Direito? Quais pontos História e
Direito têm em comum? Qual o objetivo do estudo de História do Direito?

A necessidade do conhecimento do objeto antes de uma análise de seus


pontos é a base para a compreensão global do objeto de estudo de
qualquer ciência.

1 – História

Quando se pensa em História pensamos em “passado”.....mas “todo” o


passado, “tudo” no passado...
A essência da História é a transformação, e somente o ser humano é capaz
de executar tal tarefa.
Portanto, a primeira conclusão que podemos chegar: é que o seu objeto é
o homem e a sucessão temporal de seus atos.

2 – Direito

No sentido amplo da Ciência do Direito a palavra “Direito” vem dos


Romanos antigos e é a soma da palavra DIS (muito) + RECTUM (reto,
justo, certo), ou seja, Direito em sua origem significa o que é muito justo,
o que tem justiça.

Entende-se, em sentido comum, o Direito como sendo o conjunto de


normas ara a aplicação da justiça e a minimização de conflitos de uma
dada sociedade. Estas normas, estas regras, esta sociedade não são
possíveis sem o Homem, porque é o ser humano quem faz o Direito e é
para ele que o Direito é feito.

3 – História do Direito

Já foi possível perceber que História e Direito tem algo em comum: o


Homem.
Pode-se concluir, portanto, que sendo o Direito uma produção humana, ele
também é cultura e é produto do tempo histórico no qual a sociedade que
o produziu ou produz esta inserida.

4 – Objetivos do Estudo de História do Direito

A História do Direito é primordial para estudante e profissionais do Direito


na medida em que auxilia na compreensão das conexões que existem
entre a sociedade, suas características, e o direito que produziu,
capacitando para uma melhor visualização e entendimento do próprio
direito.

Portanto, o valor do estudo da História do Direito não está em ensinar-nos


não somente o que o direito tem “feito”, mas o que o direito é. Buscando
compreender não somente as regras de povos que viveram no passado,
mas sua ligação com a sociedade que a produziu para assim, e somente
assim, entender o “nosso” Direito.
Temos que ter como pressuposto lógico que não são as leis que formam
uma sociedade, mas que estas, históricas em si, são feitas a partir do que
uma sociedade pensa ou deseja de si.
CAPÍTULO I

O DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA

Embora algumas vezes as pessoas confundem Direito e Lei escrita, se


partimos do pressuposto de que um conjunto de regras ou normas que
regulamentam uma sociedade pode ser chamado de direito, todas as
comunidades humanas que existem ou existiram no mundo –
indiferentemente de quaisquer características que tenham – produzem ou
produziram seu “Direito”.

Porém, só se pode estudar a História do Direito a partir do advento da


escrita (que varia no tempo e de povo para povo), antes disso chama-se
Pré-história. Já nessa Pré-história há instituições que dependem muito de
conceitos jurídicos, como o casamento, poder paternal ou maternal,
propriedade, contratos, etc.

Povos sem escrita ou ágrafos ( a= negação + grafos= escrita) não tem


um tempo determinado. Podem ser homens da caverna de 3.000 a.C. ou
índios brasileiros até a chegada de Cabral, ou até mesmo tribos da floresta
Amazônica que ainda hoje não entraram em contato com o homem branco.

Diante dessa multiplicidade de povos e tempos será comentada alguma


característica geral desses grupos:

 São abstratos: como são direitos não escritos, a possibilidade de


abstração fica limitada. As regras devem ser decoradas e passadas
de pessoa para pessoa de forma mais clara possível.
 São números: cada comunidade tem seu próprio costume e vive
isolada no espaço e, muitas vezes, no tempo. Os raros contatos entre
grupos vizinhos têm como objetivo a guerra.
 São relativamente diversificados: esta distância (no tempo e no
espaço) faz com que cada comunidade produza mais dissemelhanças
do que semelhanças em seus direitos.
 São impregnados de religiosidade: como a maior parte dos
fenômenos são explicados, por estes povos, através da religião, a
regra jurídica não foge a este contexto. Na maior parte das vezes a
distinção entre regra religiosa e regra jurídica torna-se impossível.
 São direitos em nascimento: a diferença entre o que é jurídico e o
que não é muito difícil. Esta distinção só se torna possível quando o
direito passa do comportamento inconsciente (derivado de puro
reflexo) ao comportamento consciente, fruto de reflexão.

1 – Fontes dos Direitos dos Povos Ágrafos

Utilizam basicamente os costumes como fonte de suas normas, ou seja, o


que é tradicional no viver e conviver de sua comunidade torna-se a regra a
ser seguida.

Entretanto, o costume não é a única fonte do direito destes povos. Nos


grupos sociais onde se pode distinguir pessoas que detêm algum tipo
de poder estes impor regras de comportamento, dando ordens que
acabam tendo caráter geral e permanente.

O precedente também é utilizado como fonte. As pessoas que julgam


(chefes ou anciãos) tendem a, voluntariamente ou involuntariamente
aplicarem soluções já utilizadas anteriormente.

As regras são transmitidas a todos pelo chefe, em intervalos regulares de


tempo. Outras formas são os Provérbios e Adágios que desempenham
papel decisivo na tarefa de fazer conhecer as normas da comunidade.

CAPÍTULO II

AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS E O CÓDIGO DE


HAMMURABI

Foi na Mesopotâmia (= entre rios – Eufrates e Tigre) que o homem


inventou o Estado, o Governo, a cerveja...... e a escrita. O tipo de escrita
que inventaram foi a cuneiforme (sistema de escrita, o mais antigo
conhecido, deriva do latim cuneus cunha + forma forma, foi inventado
pelos sumerianos seguramente desde o 4º milênio. O termo cuneiforme
caracteriza o aspecto anguloso dos símbolos, impressas em argila úmida
ou, raramente, em pedra).
Foram os primeiros a terem leis escritas. Tem-se notícia que no terceiro
milênio antes de Cristo o chefe da cidade adotava medidas sociais para
coibir abusos e corrigir injustiças.

O corpo de lei mais antigo que se conhece é o Ur-Nammu (fundador da 3ª


dinastia de Ur, 2111-2094 a.C.). Na mesma região em 1948 foram
identificadas outras leis chamadas de Eshunna.

No final de 1.901 e início de 1902 d.C. que foi encontrado o Código de


Hammurabi um conjunto de lei posto de maneira organizada contendo
282 artigos, o qual foi feita a mando do Rei Hammurabi, que reinou na
Babilônia entre 1.792 e 1.750 a.C.

Porém, foram as leis escritas de Ur-Nammu (rei sumeriano) e Eshunna


que provocaram forte influência no Código de Hammurabi. A lei e a justiça
eram conceitos fundamentais da Antiga Suméria.

O direito privado sumeriano reconhecia:


 Alguma independência em relação ao marido;
 O divórcio era reconhecido através de decisão judicial e poderia
favorecer a qualquer dos cônjuges;
 O repúdio da mulher acarretava uma indenização pecuniária e
somente era permitido pelos motivos indicados pela lei.
 O adultério era um delito, porém sem conseqüências se havia o
perdão do marido;
 O filho que renegasse o pai poderia ter a mão cortada ou ser vendido
como escravo;
 A esposa era responsável pelas dívidas do marido.

As lei penais dos sumerianos muitas vezes substituíam o Princípio da Pena


de Talião por multas ou por indenizações legais.

O Código de Hammurabi foi feito utilizando de toda a legislação


precedente. Hammurabi não apenas ordenou a feitura do Código. Para
uma melhor utilização do Direito como ferramenta de controle ele também
reorganizou a Justiça (em moldes muito próximos aos que hoje utilizamos).

Anteriormente, o Poder Judiciário era exercido pelos sacerdotes em nome


dos deuses. Hammurabi conferiu à justiça real supremacia sobre a justiça
sacerdotal, deu-lhe uniformidade de organização e regulamentou
cuidadosamente o processamento das ações, compreendendo nessa
regulamentação a propositura, o recebimento ou não pelo juiz, a instrução
completada pelo depoimento de testemunhas e diligências in loco, e
finalmente, a sentença.
Foi estabelecida então uma organização judiciária que incluía até o
Ministério Público e um direito processual.

A sociedade da Babilônia da época de Hammurabi é dividida em três


camadas sociais, conforme indica o próprio código:

 Os “awilum”: o homem livre, com todos os direitos de cidadão. É o


maior grupo e abrangia tanto ricos como pobres, desde que fossem
livres.

 Os “muskênum”: era uma camada intermediária entre os awilum e


os escravos, formada por funcionários públicos, com direitos e
deveres específicos.

 Os escravos: eram a minoria da população, geralmente prisioneiros


de guerras (wardum escravos, e amtum escravas.

Escravo é propriedade, bem alienável, ou seja, algo que pode ser vendido,
comprado, alugada, dado, eliminado ... Escravo é, portanto, coisa.

A escravidão originava-se de guerras – quando o derrotado era pego pelos


vencedores, de dívidas – quando o indivíduo penhorava o próprio corpo
ou de alguém da família como garantia no pagamento da dívida, do
nascimento.

► Alguns pontos do Código de Hammurabi:

 A Pena de Talião:

O Princípio da Pena ou Lei de Talião é um dos mais utilizados por todos


os povos antigos. É apontado como sendo a primeira forma que a
sociedade encontrou para estabelecer as penas para seus delitos.

Este princípio utiliza-se da frase “olho por olho, dente por dente”,
não é uma lei, mas uma idéia que indica que a pena para o delito é
equivalente ao dano causado.

Utiliza-se deste princípio no tocante a danos físicos, chegando a aplicá-


lo radicalmente mesmo quando, para conseguir a equivalência, penaliza
outras pessoas que não o culpado.

O Princípio da Pena de Talião não contava quando os danos físicos eram


aplicados a escravos à medida que estes podem ser definidos como
bens alienáveis, o dano contra um bem deve ter ressarcimento material.
 Falso Testemunho
O Falso Testemunho era tratado com severidade, uma vez que
contavam na maior parte dos processos somente com testemunhas.
O Código faz uma distinção do falso realizado num processo que
envolve a pena de morte de outro que envolve apenas pagamento, pois
neste ele carregará a pena do processo, e naquele será morto.

 Roubo e Receptação

O Código Hammurabiano penaliza tanto o que roubou ou furtou quanto


aquele que recebeu a mercadoria roubada.

 Estupro

O estupro sem pena alguma para a vítima era previsto somente para as
“virgens casadas”, ou seja, mulheres que embora tenham o contrato de
casamento firmado, ainda não coabitavam com seus maridos.

 Família

O sistema familiar era o patriarcal, e o casamento monogâmico, embora


fosse admitido o concubinato.
Esta aparente discrepância era resolvida pelo fato de uma concubina
jamais ter o status ou os mesmos direitos de esposa. O casamento
legítimo era somente válido se houvesse contrato.
Havia a possibilidade de casamentos entre as camadas sociais e o
Código regulamentava o direito de herança nos filhos nascidos deste
tipo de casamento.

No casamento o regime era o de comunhão de bens.

 Escravos

A escravidão por dívida era limitada no tempo pelo prazo de 3 anos,


após era concedida sua libertação.
Se uma escrava, tomada como concubina pelo senhor, se desse a este
filhos que ele reconhecesse, essa escrava não mais poderia ser vendida.

 Divórcio

O marido podia repudiar a mulher nos casos de recusa ou negligência


em “seus deveres de esposa e dona-de-casa”.
Qualquer dos dois cônjuges podia repudiar o outro por má conduta,
mas neste caso a mulher para repudiar o homem deveria ter uma
conduta ilibada.

 Adultério
Somente a mulher cometia o crime de adultério, o homem era, no
máximo, cúmplice. Quando pegos, os adúlteros pagavam com a vida,
entretanto o Código prevê o perdão do marido.
 Adoção

Se a criança fosse adotada logo após seu nascimento, não poderia mais
ser reclamada. Se a criança tivesse mais idade e pedisse por seus pais,
deveria ser devolvida.
Se fosse para aprender um ofício e o ensinamento estivesse sendo
feito, não poderia ser reclamada, porém, caso contrário poderia
retornar a casa de seu pai.
Em outros casos se o adotado renegasse sua adoção, seria severamente
punido.
Se o casal, após adotar, tivesse filhos e desejasse romper o contrato de
adoção, o adotado teria direito a uma parte do patrimônio deles a título
de indenização.

 Herança

Não havia a primogenitura, entretanto o filho mais velho poderia na


hora da partilha ser o primeiro a escolher. A tendência era sempre
dividir em partes iguais.
Estavam excluídas da herança as filhas já casadas, pois já haviam
recebido o dote. As filhas solteiras, quando cassassem, receberiam seu
dote das mãos dos irmãos.
Os filhos poderiam ser deserdados, mas para isto deveria haver um
exame por parte dos juízes, se o filho não cometeu falta suficientemente
grave para excluí-lo da herança, o pai não poderá deserdar o filho.

 Processo

Havia uma mistura do sagrado com o profano no julgamento, embora a


justiça leiga teve mais importância que a sacerdotal.
O juiz leigo não poderia alterar seu julgamento após o encerramento do
processo.

 Trabalho

Aborda leis sobre o trabalho, prevê e pune o erro médico.


Prevê a remuneração de inúmeros profissionais, tais como, médico,
lavrador, pastor, alfaiate...etc.

 Defesa do Consumidor

Haviam leis que protegiam os cidadãos do mau prestador de serviços,


pelo menos em alguns casos.
CAPÍTULO III

DIREITO HEBRAICO

A característica que marca toda a história desse povo é que eram


monoteístas (mono = um, théos + deus). Portanto, para os hebreus a lei
foi inspirada por Deus e ir contra ela seria o equivalente de ir contra o
próprio Deus. Então, o leigo e o divino interagem de tal forma que pecado
e crime se confundem, o direito é imutável, somente Deus pode modificá-
lo. Os rabinos (chefes religiosos) podem até interpretá-lo para adapta-lo à
evolução social, entretanto nunca podem modificá-lo.

A base moral da Legislação Mosaica pode ser encontrada nos Dez


Mandamentos (escritos por Deus).

A Torá, também chamada de Pentateuco, é formada pelos cinco primeiros


livros da Bíblia: o Gênesis, o Exôdo, o Levítico, o Números e o
Deuteronômio. Em toda a Torá encontra-se leis, entretanto, é no livro de
Deuteronômio a maior reunião de leis.

A tradição indica Moisés como autor do Pentateuco, portanto autor do


Deuteronômio, das chamadas Leis Mosaicas.

► Algumas Leis do Deuteronômio

 Justiça

A legislação hebraica é bastante rigorosa na questão da justiça


prevendo, inclusive, a obrigatoriedade da imparcialidade no
julgamento.
Para a operacionalização da justiça fica estabelecido que cada cidade
terá, obrigatoriamente, que contar com juízes e que estes não poderão
corromper-se.

 Processo

A questão de não cometer injustiças é um ponto que difere os hebreus


dos outros povos, já que praticamente não se admite julgamento sem
investigação ou julgamento por forças naturais ou deuses.

 Pena de Talião
É a Bíblia que primeiro descreve o Princípio da Pena de Talião.
Entretanto, embora esse princípio fosse usado entre os hebreus, o era
de maneira mais amena que entre os outros povos porque outros
princípios limitavam sua aplicação.

 Individualidade das Penas

Este princípio que individualiza as penas minimiza a ação do Princípio


da Pena de Talião.

 Lapidação

Lapidação é a nome que se dá a pena mais comum do Antigo


Testamento. É a morte por apedrejamento. Para os israelitas morreria
dessa forma os idólatras, feiticeiros, filhos rebeldes e as adúlteras.

 Cidades de Refúgio
A preocupação com a justiça chega ao ponto de prever e obrigar o
estabelecimento de cidades de refúgio (ou asilo), onde pessoas com
problemas poderiam se refugiar para que fosse feita a justiça com
calma e não no calor de fortes emoções.

 Homicídio Involuntário e Homicídio

O Princípio da Pena de Talião era usado como base na penalização


deste delito. Entretanto, os hebreus não permitem a punição daqueles
que cometeram homicídio “sem querer”. Não se deve utilizar o termo
culposo para um povo que não concebia negligência, imprudência ou
imperícia como causas de homicídios ou danos.

 Testemunhas

A prova testemunhal era primordial na Antiguidade e os hebreus têm


um preceito legal que até hoje pode ser visto. Onde uma única
testemunha não era suficiente, deveria haver duas ou três testemunhas.

As penas para o falso testemunho eram pesadas, sendo aquela


equivalente à pena que o acusado teria se fosse condenado (Princípio
da Pena de Talião).

 Matrimônio
Este não era de direito religioso ou civil, mas era um assunto
puramente particular entre duas famílias.

 Adultério

Embora o peso maior do adultério esteja sobre a mulher casada, aqui


também há um certo peso do crime também para o homem.

 Divórcio

Todos os povos da Antiguidade prevêem o divórcio. Este só começou a


ser proibido a partir do cristianismo.
Na Legislação Mosaica, somente os homens podem divorciar-se, às
mulheres não cabiam a iniciativa, mesmo assim deveria haver algo
vergonhoso na esposa para o marido pudesse repudiá-la.

 Concubinato

É considerado algo normal, apenas no Livro de Levítico que ordenava


que as concubinas não fossem irmãs.

 Estupro
O estupro sem pena para a vítima é previsto somente no caso específico
de a mulher ter sido violentada em um lugar onde poderia ter gritado
sem que ninguém a ouvisse.
 Herança e Primogenitura

O primogênito era beneficiado em detrimento dos outros filhos homens


(já que as mulheres tinham direito apenas ao dote).

 Defloração

Aplica-se a mulher virgem não comprometida. O homem que for pego


em flagrante deverá indenizar o pai da jovem e ela ficará sendo sua
esposa e não poderá devolve-la durante toda a vida.

 Escravos

Aquele que se tornará escravo em razão de pagamento de dívida ficará


em liberdade no sétimo ano, e deveria receber algo a deixar a casa do
senhor, não é considerado como forma de pagamento.

 Caridade

Entre os hebreus a caridade era prevista em lei, uma vez que se pauta
na questão religiosa.
 Governo

Quem institui o Governo é Deus, portanto, o rei não pode se sentir


muito acima dos demais mortais. Quem os escolhiam eram os profetas a
mando, segundo a crença israelita, de Deus.

 Fraude Comercial e Juros

A Legislação Hebraica proíbe a utilização de pesos e medidas diversos,


bem como o empréstimo a juro entre os israelitas, poderia cobrar juro
do estrangeiro.

 Fauna e Flora

Há uma preocupação um tanto preservacionista em algumas leis.


Proibindo o desmatamento.

CAPÍTULO IV

O CÓDIGO DE MANU

Entender o Código de Manu é, antes de mais nada, buscar a compreensão


desta sociedade – e sua estrutura – e de sua religião.

1 – Contexto Histórico, Social e Religioso

As condições geográficas da Índia marcaram muito sua formação na


antiguidade, é caracterizada pela sua diversidade e pela complexidade das
suas condições naturais.

Da soma da civilização dravidiana e dos invasores arianos nasceu a


civilização hindu, que possui características que se perpetuam até hoje na
sociedade indiana.

A sociedade Hindu é dividida em castas, este sistema não admite


mudanças (ao menos em vida), o nascimento determina a casta que o
indivíduo pertencerá por toda a sua existência. A mistura de casta é vista
como algo hediondo, não passível sequer de qualquer consideração.
 As castas eram quatro e quem não pertencia a nenhuma delas era
considerado “resto”.
Brâmanes: casta superior. Tinham funções como administradores,
médicos.
Ksatryas: eram os guerreiros.
Varsyas: a casta dos comerciantes.
Sudras: a casta inferior. Eram a mão-de-obra na Índia, pedreiro,
agricultor, empregados em geral.
Chandalas ou párias: era chamado de o “resto”, que não eram
considerados casta, na prática não eram considerados nem gente. Eram
os sapateiros, os limpa-fossas, etc.

Para os Hindus (antes das influências budista e, posteriormente, cristãs) a


religião era o “Vedismo”, que vem de Veda, que significa “a soma de todo
o conhecimento”. É a religião que antecede o Bramanismo que dominou a
Índia posteriormente e que sobrevive até hoje. O Vedismo apóia-se na
crença na reencarnação e, através desta, os Hindus puderam basear e
firmar sua estrutura social e sua legislação.

2 – Alguns Pontos do Código de Manu

 Testemunhas

A testemunha não pode ficar calada, pois era equivalente a um falso


testemunho. As testemunhas eram admitidas dentro de parâmetros
muito estreitos. Algumas pessoas podiam ser tomadas como
testemunhas, apesar de não serem consideradas ideais e somente
poderem ser usadas em casos excepcionais e condições
predeterminadas (Ex: mulher prestar depoimento para mulher, mesmo
assim elas eram consideradas inconvenientes por sua inconstância).
Mesmo ao se colocar na posição de testemunha, a separação e a
hierarquização das castas estavam presentes.

A depender do caso a testemunha tinha que passar por uma prova.

 Falso Testemunho

É tratado de forma bastante dura e as penas podem ser em vida ou no


pós-vida.
Entretanto a mentira diante do juiz, caso tenha sido para salvar a vida
daquele que cometeu o crime em “um momento de alucinação”, é
aceita e recomendada.
 Casamento
Muitas crianças já nasciam prometidas, não havia escolha pessoal. Para
eles a idade de oito anos já podia se casar.

 Divórcio

Admitia o divórcio, porém apenas com motivos considerados


importantes pela sociedade. A separação somente poderia ocorrer por
deficiência da mulher, ou seja, o marido quem decidia sobre a
separação, também em casos de “defeitos” de fertilidade (incluindo aí o
caso de só ter filhas mulheres) e de mortalidade infantil.

A mulher considerada virtuosa, mesmo que doente, não poderia ser


rejeitada, somente com seu consentimento.

 Mulheres

O Código explicitamente coloca a situação da mulher de subordinação.


Eles acreditavam que a mulher carregava a propensão ao mal.

Não tinha direito a propriedade.

Suas funções diárias estavam explicitadas no Código, como dona de


casa, mãe e a obrigação de cuidar da renda da família.

 Adultério e Tentativa de Adultério

É considerado crime com mais artigos no Código de Manu, pois a


fidelidade é exigida por lei, deve ser mútua. É punido aquele que
pratica a sedução.
O povo hindu dá muita importância a fidelidade para que não haja a
mistura das castas.
A pena de morte era, em geral, aplicada para casos de adultério. No
caso específico de Sudras a pena poderia ser a de castração, caso o
adultério fosse cometido com uma mulher das três castas acima da
dele.

 Defloração

Era definida como sendo feita sem o uso do órgão sexual e era punida
severamente.

 Herança

Aqueles que não podiam cuidar de seus próprios bens recebidos em


herança teriam como tutor da mesma o rei.
Na morte dos pais a herança ia, geralmente, para o filho mais velho,
que ficaria responsável pelos irmãos, desde que este não renunciasse a
este direito.
O benefício ao primogênito era somente para as três primeiras castas,
já que os Sudras tinham que repartir a herança de maneira igual.

 Adoção e outros meios legais de continuação da linhagem

Quando não era possível conceber filho homem, o Código permitia


algumas maneiras de consegui-lo, uma delas era o acordo com uma
filha, que propunha que o primeiro filho dela seria considerado filho de
seu pai.
Com a anuência do marido, o cunhado (ou outro parente do marido)
poderia tomar as vezes de reprodutor.
Mas a adoção simples também era admitida.

 Juros

O Código de Manu legisla sobre juros, inclusive impondo diferenças


entre a possibilidade de cobrança para as diferentes castas. Impõe
também limites nos juros que podem ser cobrados dependendo da
circunstância.

 Contratos

São vedados para as pessoas que consideram sem a capacidade para tal
(ébria, louca, doente ou inteiramente dependente, por um menor, velho
ou pessoa que não tem autorização).

 Limites de Propriedade

A delimitação dos limites havia um ritual que deveria ser seguido. Em


caso de contendas envolvendo a questão de terras, o rei deveria
resolver.

 Fraude

Este delito é previsto no Código de Manu, inclusive prevê multa de oito


vezes o valor dos objetos.

 Fraude quanto à Casta a que Pertence

A rigidez das castas não permitia nenhuma noção de igualdade, mesmo


que física.

 Injúrias
Na definição do Código de Manu injúria seria qualquer ofensa que não
fere fisicamente o outro.
As penas e multas variam de acordo com a posição do ofendido quanto
do ofensor, bem como da gravidade da ofensa.
As penas poderiam ser físicas, podendo ser bastante violenta no caso do
ofendido ser um brâmane e o ofensor um indivíduo de uma casta mais
baixa.

 Ofensas Físicas

As ofensas físicas seguem o Princípio da Pena de Talião, as vezes o


extrapolam.

 Furto e Roubo

O Código diferencia os dois delitos, o roubo seria tirar uma coisa com
violência do proprietário, sem violência seria furto.

 Homicídio e Autodefesa

Há possibilidade de não haver pena, nem culpa, no caso de homicídio


em legítima defesa, mesmo que a vítima seja um Brâmane.

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