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Jesus, o divórcio e o novo casamento


em Mateus 19
Ekkehardt mueller, D. Min. e Ph.D.
Diretor associado do Biblical Research Institute da Associação Geral da IASD, Silver Spring, Ma-
ryland, EUA

Resumo: Este artigo trata com a questão innocent part is free for divorce and new
do casamento e divórcio. O autor, após, marriage, the ideal is reconciliation. On the
indicar a consistente ênfase de Jesus quanto other hand, on those situations where the
a indissolubilidade do casamento, uma vez marriage conditions are unfavourable, he
que o divórcio contradiz a intenção divina insists, the Christian solution is to change
expressa na ordem criada, dedica atenção those condition not the partner.
teológica e exegética à “permissão para o
divórcio” na chamada “clausula de exces-
são” mencionada Mateus 19, relacionando Introdução
a seguir as diferentes interpretações destas
Recentemente, enquanto estávamos
palavras de Jesus. Ao final o autor analisa
viajando pela Europa, minha esposa en-
as implicações do ensino de Cristo quanto
controu um interessante artigo em uma
ao casamento e divórcio para os cristãos
revista, descrevendo o comportamento
que hoje levam Jesus a sério a Sua Palavra.
de mulheres modernas. 1 Felizmente, o
O autor enfatiza que, mesmo em caso de
artigo foi escrito por uma senhora. Ela
infidelidade conjugal, quando o cônjuge
ilustrava seu assunto descrevendo a disso-
inocente está livre para o divórcio e novo
lução de um casamento. Uma ex-medalha
casamento, o ideal é a reconciliação. Por
de ouro e recordista mundial, que ainda está
outro lado, onde as condições do casa-
na ativa seguindo sua carreira nos esportes,
mento são desfavoráveis, insiste o autor a
deixou seu esposo (duas vezes finalista
solução cristã é mudar tais condições, não
mundial) e seus dois filhos a favor de um
o parceiro.
amante, que é também um bem-conhecido
Abstract: This article deals with the esportista. A escritora do artigo declara que
question of marriage and divorce. The o comportamento que era considerado mas-
author, after indicating Jesus´ consistent culino, a saber, deixar o cônjuge e os filhos
emphasis on the indissolubility of marriage, para viver com um novo parceiro, se tornou
since divorce contradicts God’s intention comum entre as mulheres. Eva Kohlrusch
comenta sarcasticamente:
expressed on the created order, gives the-
ological and exegetical attention do the As mulheres podem congratular-se. A igual-
“permission for divorce” in the so called dade progride. Mulheres fazem com cada vez
“exception clause” mentioned on Mathew. mais freqüência o que no passado era conside-
19, providing then a list of the different rado um comportamento tipicamente masculino.
Elas se livram do seu casamento e deixam os
interpretations of Jesus’ words. In conclu- filhos com o pai... Ela se comporta como ele
sion the author emphasizes the implications tem feito no passado... Precisamos inventar uma
Jesus´ teachings on marriage and divorce idéia totalmente nova para proteger os filhos dos
for Christians that today take His Word sentimentos de abandono.2
seriously. The author indicates that even in
situations of conjugal infidelity, when the O divórcio e o novo casamento tor-
naram-se um desafio para sociedades e
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igrejas. As idéias da era pós-moderna estão pertencem ao ministério de Jesus na Peréia.


também influenciando os cristãos. Alguns De acordo com Mateus 19 e Marcos 10
abandonam o conceito de verdade absoluta. Jesus foi forçado pelos fariseus a discutir
O pluralismo é parcialmente aceito. O ser o assunto, mas Ele não o evitou e disse a
humano tornou-se o objetivo supremo. A verdade muito claramente.
vida abundante é definida apenas como
No tempo de Jesus, o divórcio era
sentir-se bem e estar bem. A dor e o sofri-
considerado levianamente. Basicamente,
mento tornaram-se inaceitáveis. Embora
a escola de Hillel permitia como motivo
haja circunstâncias muito difíceis em al-
para o divórcio tudo o que o marido não
guns casamentos, devemos reconhecer
gostasse acerca de sua esposa. Queimar
que às vezes as pessoas se livram do seu
uma refeição poderia ser um tal motivo.
casamento muito facilmente.
Por outro lado, a escola de Shammai só
Jesus tratou do problema do divórcio e permitia que o marido se divorciasse de
Suas declarações são encontradas em Ma- sua esposa se ela tivesse cometido alguma
teus 5 e 19, Marcos 10, e Lucas 16. Neste espécie de violação sexual. Mas, o que era
artigo, iremos focalizar Mateus 19, quando considerado uma violação sexual? Isto in-
Jesus foi interrogado pelos fariseus acerca cluía uma mulher ser vista em público com
de fundamento para o divórcio (19:1-12). cabelo descoberto ou com braços desnudos.
Reiteradamente, Jesus enfatizou a indisso- Segundo o Rabi Meir também incluía
lubilidade do matrimônio. Defendeu o ideal uma atitude sociável para com escravos e
de Deus conforme instituído no jardim do vizinhos, fiar na rua, beber avidamente na
Éden. E eu creio que Ele quer que vejamos rua, e banhar-se com homens. Em linhas
a beleza do matrimônio e que nos esqueça- gerais, era uma violação por sua esposa
mos de insistir nos problemas. Isto pode ser dos costumes prevalecentes que permitia
indicado pelo contexto em que se encontra a um marido divorciar-se.3 Além disso, o
o relato de Mateus 19:1-12. divórcio era visto como um privilégio que
Deus havia concedido a Israel. “Segundo
Declarações de Jesus so- a tradição rabínica, Yahweh tem dito:
bre casamento e divórcio e sua ‘Em Israel Eu tenho dado o divórcio, não
tenho dado o divórcio entre os gentios.’
interpretação
Somente em Israel ‘Deus tem ligado Seu
Os cristãos têm aceito a Jesus como seu nome ao divórcio.’”4 Em vez de seguir o
Salvador e Senhor. Têm decidido seguir plano divino e aceitar a indissolubilidade
suas pisadas (1Pe 2:21). Sua vida, morte do matrimônio, o divórcio era considerado
e ressurreição os salvou. Seu ministério como um privilégio. “Destarte, mesmo a
sacerdotal no Céu os sustém. Para eles, dissolução de um casamento sem qualquer
Seus ensinos são normativos. Portanto, motivo era considerada válida...”5
quando importa em tomar pequenas bem As palavras de Jesus acerca do divórcio
como importantes decisões na vida, os e novo casamento têm sido compreendidas
cristãos indagam o que Jesus tem a dizer muito diferentemente. Estão aqui algumas
acerca dos problemas envolvidos. Isto é das opiniões que são mantidas:
especialmente verdade no caso de divór-
cio e novo casamento. Em quatro lugares (1) O divórcio é impossível mesmo no
dos Evangelhos Sinóticos Jesus tratou caso de adultério, do contrário Jesus não teria
deste assunto: Mateus 5:31-32; Mateus diferido de Moisés e adotado uma opinião
19:1-12; Marcos 10:1-12, e Lucas 16:18. mais liberal do que a lei mosaica que – no
Cronologicamente, Mateus 5:31-32 vem caso de adultério – exigia a pena de morte. O
primeiro. Este texto pertence ao Sermão novo casamento é inconcebível.6
da Montanha. No início do Seu ministé- (2) O divórcio não é possível exceto
rio, Jesus tratou deste difícil e complicado em caso de adultério. Contudo, mesmo
problema. O local é a Galiléia. Mateus 19 e que um dos parceiros cometa adultério e
suas passagens paralelas de Marcos e Lucas os cônjuges estejam divorciados, o novo
casamento está excluído. Este é o ponto
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de vista dos Pais da Igreja e é encontrado do divórcio e novo casamento isto não é um
mesmo em nossos dias.7 mandamento. Porque o verso 30 tem de ser
compreendido figurativamente; o verso 32
(3) O divórcio não é possível exceto
e toda a passagem também devem ser com-
por infidelidade sexual durante o período
preendidos figurativamente. Conquanto a
de noivado. Se for descoberto que um
intenção de Jesus seja clara sobre deverem
cônjuge foi infiel durante o tempo de
casamentos ser permanentes, o divórcio e
noivado, o divórcio, bem como o novo
o novo casamento são possíveis.
casamento, é permissível.8
(8) A cláusula de exceção se refere
(4) O divórcio não é possível exceto somente ao incesto. O divórcio só é
em caso de adultério. Se um dos cônjuges possível se existe um “casamento” que,
comete adultério e eles se divorciam, o segundo Levítico 18 nunca deveria ter
parceiro que não cometeu adultério pode sido instituído, e se um crente e um in-
casar de novo. Todavia, a reconciliação é crédulo estão casados e o descrente quer
preferível. Esta é a opinião de Erasmo de divorciar-se. Entretanto, os cônjuges que
Rotterdam, dos grandes reformadores, de maltratam seus parceiros, verbal ou fi-
muitos evangélicos, e da Igreja Adven- sicamente, que são viciados em álcool
tista.9 ou drogas, que são blasfemadores, que
amam mais os prazeres do que a Deus,
(5) As Escrituras se opõem ao divór- etc., dificilmente são crentes, mesmo
cio. Contudo, é possível se obter um divór- que sejam cristãos batizados. Eles de-
cio. Os motivos não são apenas adultério vem ser evitados. 13
mas também abandono por um cônjuge,
abuso, violência, etc. O novo casamento é Agora retornemos a Mateus 19 e o con-
possível.10 Alguns sugerem que a questão sideremos mais atentamente.
de quem é culpado não deve ser discutida.
Outros sugerem que o novo casamento O contexto de Mateus 19a
sempre é possível, ao menos sob a condi-
ção de que os ex-cônjuges manifestem um Opinião de Jesus sobre divórcio no
espírito de perdão.11
contexto de Mateus 19 e 20a
(6) Alega-se que as palavras origi- Mateus 19:1-20:16 é uma passagem
nais de Jesus não continham a cláusula que descreve o ministério de Jesus. Seus
de exceção. Essas palavras originais segmentos 14 estão ligados uns aos ou-
são encontradas em Marcos e Lucas. A tros por vocabulário comum.15 Também
cláusula de exceção ocorre em Mateus e descobrimos que Jesus fala primeiro aos
é um acréscimo da Igreja primitiva, que, fariseus (19:3-9). Ele então Se dirige aos
sob a influência do Espírito Santo e do discípulos (19:10-15). Após o diálogo com
Cristo pós-Páscoa, atualizou o texto bí- o jovem rico (19:16-22), como esse homem
blico. Uma outra aplicação e atualização é chamado, Jesus ensina outra vez aos Seus
se encontra em Paulo (1 Co 7:12-15). discípulos (19:27-20:16).
Portanto, a Igreja Cristã tem o direito
não apenas de interpretar mas também (a) Pai e mãe
de reinterpretar as Escrituras. Há uma
abertura para lidar com outros casos não “Pai e mãe” é uma daquelas conexões
mencionados nas Escrituras. Por que não literárias. Em 19:5 Jesus fala acerca de
deveria o Espírito Santo dirigir a Igreja deixar pai e mãe tão logo o homem se case.
moderna em encontrar outros motivos Em 19:19 Ele menciona o quinto manda-
para um divórcio legítimo como Ele di- mento, a saber, honrar pai e mãe, e em
rigiu a Igreja no passado?12 19:29 Ele declara que os discípulos podem
às vezes ser forçados a deixar pai e mãe
(7) Afirma-se que quando Jesus no por amor de Jesus. Deixar pai e mãe a fim
Sermão da Montanha lida com o problema de casar não viola o quinto mandamento,
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nem deixar pai e mãe por amor de Jesus. Jesus é tudo o que a lei diz respeito. Essa
Assim, indiretamente, o casamento pode lei ainda é a mesma. No tempo de Jesus ela
ser comparado com a relação entre Jesus ainda estava em vigor como quando Deus
e Seus discípulos. A famosa passagem de a pronunciou no monte Sinai. E hoje tam-
Efésios 5 pode ser aqui prefigurada. Se o bém é válida. É independente de culturas
matrimônio é semelhante à nossa ligação e sistemas de valores mutáveis. Essa lei é
com Jesus, quão importante e enaltecedor boa. O dom de Deus do matrimônio e Sua
deve ele ser, quão formoso e abençoado, proteção a esse dom são bons.
e também quão duradouro! Qualquer que
tenha provado a bondade de nosso Senhor (d) Dureza de coração
e a agradabilidade de Sua comunhão, pode
também usufruir Seu extraordinário dom A mais importante ligação entre as
do matrimônio. diferentes partes de Mateus 19 e 20a e,
portanto, o mais importante assunto do
ministério de Jesus na Peréia parece que
(b) A quem deixar e a quem não deixar é o tema da dureza de coração e o assunto
relacionado do olho mau.17 A frase “dureza
Mateus 19:29 é muito interessante: “E
do coração” foi apresentada pelo próprio
todo aquele que tiver deixado casas, ou
Jesus em 19:8. Os fariseus mostram clara
irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mu-
evidência de corações duros, porque pro-
lher, ou filhos, ou terras, por amor do meu
curam motivos que lhes permitam livrar-se
nome, receberá cem vezes tanto e herderá
do matrimônio. Eles não compreendem o
a vida eterna.” Para nós é quase chocante
maravilhoso dom divino do casamento, e
que Jesus fale acerca de deixar irmãos, pais,
o corrompem por causa da sua atitude e
e mesmo filhos, mas não fale sobre alguém
comportamento (19:3,7). Quando pensam
deixar o cônjuge.16 Omitindo aqui uma re-
em casamento, apenas o divórcio vem à
ferência ao cônjuge, a mensagem para nós
sua mente.
parece ser: Mesmo por amor de Jesus não
somos solicitados a deixar nosso esposo Mas até mesmo os discípulos de Je-
ou esposa, a nos separar dele ou dela, ou sus têm dificuldade em aceitar o ensino
nos divorciar do nosso parceiro. O matri- de Jesus sobre o matrimônio. Sugerem
mônio é indissolúvel. O casamento é bom. ficar solteiro e não casar se o casamento
Jesus não dissolve os casamentos quando é indissolúvel (19:10). Eles compreen-
pede às pessoas que O sigam. [A Versão dem claramente a afirmação de Jesus, e
Almeida Revista e Corrigida não omite contudo decidem tomar o lado dos fari-
a palavra “mulher”; a Almeida Revista e seus. Também eles não podem pensar em
Atualizada a traz entre colchetes. – Nota casamento em outros termos que não o
do Tradutor]. divórcio. Têm o coração duro. Sua dureza
de coração se manifesta um pouco depois
(c) O sétimo mandamento quando se encontram com crianças trazi-
das a Jesus a fim de serem abençoadas, e
Em Mateus 19:9 Jesus discute o divór- eles as repreendem (19:13).
cio, novo casamento e adultério. Em Mt
19:18 Ele cita o sétimo mandamento: “Não O jovem rico não está disposto a
cometerás adultério.” Os dois textos usam vender suas propriedades e dar a renda
um verbo com uma raiz comum. Outra aos pobres. Por causa da sua dureza de
vez o casamento é muito importante para coração é difícil um rico entrar no reino
Jesus. Obviamente, Suas declarações em de Deus (19:21-23). Outra vez os discí-
Mateus 19:9 e em Mateus 5:27-32 estão pulos parecem favorecer aqueles que não
relacionadas com o sétimo mandamento são bem-sucedidos em sua caminhada
e, portanto, com o Decálogo. Jesus discute para o reino de Deus (19:25), e a inter-
com os fariseus retornando ao relato da rogação de Pedro quanto à recompensa
Criação e referindo-Se indiretamente aos de seguir a Jesus pode revelar dureza de
Dez Mandamentos. O ponto de vista de coração (19:27).
Jesus, o divórcio e o novo casamento em Mateus 19 / 77

Finalmente, na parábola dos lavrado- Mateus 19 é precedido por uma conver-


res na vinha aqueles que trabalharam o sação entre Jesus e Seus discípulos em Ca-
dia inteiro não estão contentes com o seu farnaum. Apesar das diferentes localidades
salário. Queixam-se da generosidade do geográficas, existem fortes conexões entre
senhor da vinha. O problema não é que o Mateus 18 e Mateus 19. Estas incluem os
senhor não lhes pagou um salário justo. O termos “discípulos”, “reino”, “crianças”
problema é que aqueles que não tiveram e “coração”.18 No início do capítulo 18,
a oportunidade de ser empregados o dia os discípulos fazem a pergunta: “Quem
todo receberam a mesma quantia de di- é o maior no reino dos céus?” (18:1). A
nheiro. Comparam-se com os coobreiros, resposta de Jesus lida com uma criança,
e em vez de serem movidos de gratidão os pequeninos, e o pecado de um irmão
pelo que aconteceu àqueles, concentram- (18:2-20). Depois da Sua resposta, Pedro
se em si mesmos e na suposta injustiça faz outra pergunta, tratando do problema do
a eles feita. O proprietário da vinha res- perdão de pecados (18:21). Jesus responde
ponde: “Ou é mau o teu olho porque eu com uma breve declaração e a parábola do
sou bom?” Em vez de se regozijarem com credor incompassivo (18:22-35).
seus coobreiros e louvar a generosidade
do senhor, eles murmuram e se queixam.
Eles têm um olho mau. Sua dureza de (a) Dureza de coração
coração não lhes permite ver a bondade Embora os discípulos fossem adver-
de Deus. tidos a não desprezar os pequeninos e a
Portanto, todo o capítulo do ministé- não escandalizá-los (18:6,10), eles não
rio de Jesus na Peréia desafia o leitor a aprenderam a lição conforme demonstra
apreciar os extraordinários dons de Deus seu comportamento em 19:13. Em vez de
e principalmente o dom do casamento e dar as boas-vindas às crianças em nome de
a se desviar de qualquer consideração Jesus, eles as rejeitaram. Conquanto fossem
de divórcio. advertidos contra a dureza de coração em
Mateus 18, os discípulos exibiram preci-
samente este comportamento. O capítulo
(e) Resumo 18 termina com a advertência de que o pai
Resumindo, podemos dizer: (1) Até celestial estenderá a mão para punir aqueles
certo ponto, a relação de Jesus com Seus que do coração não perdoam ao seu próxi-
discípulos pode ser comparada à relação mo (18:34-35). O tema do coração duro já
entre marido e mulher. Por causa desta está presente no capítulo 18, embora a frase
relação, talvez alguém precise deixar exata apareça somente em 19:8. O credor
outras pessoas e posses. Os benefícios incompassivo é um exemplo por excelência
são imensuráveis. (2) Seguir a Jesus não de uma pessoa de coração duro, e é inte-
significa separar-se ou divorciar-se de um ressante que esse tema seja desenvolvido
cônjuge. O matrimônio é indissolúvel. (3) na seguinte perícope que trata de divórcio
A declaração de Jesus sobre divórcio está e casamento.
ligada ao sétimo mandamento. Esse man- Em vez de perdoar o seu cônjuge,
damento está em vigor e independe de há pessoas como os fariseus, que olham
tempos e culturas mutáveis. (4) Citando somente para escapes e possibilidades de
Jesus, Mateus desafia leitores e ouvintes a fugir do casamento e se livrar do seu par-
se arrepender de sua dureza de coração e ceiro. Não se preocupam com sua esposa
de seu olho mau, a se afastar de qualquer ou esposo. Não estão interessados nele
brincadeira com a idéia de divórcio e a ou nela. E se esquecem de quão incrível
ter em alta estima o extraordinário dom dívida Deus os perdoou, e contam todos os
do matrimônio. erros de seu cônjuge contra eles. O perdão
não é praticado, nem mesmo considerado.
Opinião de Jesus sobre divórcio no Alegando cumprir a lei, são julgados pela
contexto de Mateus 18 lei. Sua dureza pode chegar tão longe que
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queiram se livrar do casamento, mesmo que samento de outra vez estar “livre”, somos
o seu cônjuge não tenha de forma alguma desafiados a conceder o perdão e parar de
pecado contra eles. contar as faltas do nosso cônjuge. O perdão é
ilimitado. (4) Em alguns casos de desarranjo
(b) O cortar da Mão e o arrancar marital a disciplina da igreja é necessária.
do olho Seu objetivo é impedir aqueles que estão en-
volvidos de se tornarem “ovelhas perdidas”
Mateus 18:8-9 fala simbolicamente (Mt 18:12-14). Em seguida a Mateus 18:15-
acerca da auto-mutilação. O cortar da 20 e a parábola subseqüente os membros da
mão e o arrancar do olho a fim de impedir Igreja são chamados a perdoar seus errantes
alguém de desencaminhar-se encontra-se companheiros de fé.
quase identicamente em Mateus 5:29-30,
passagem à qual se faz alusão em Mateus
19:1-12. Mateus 18:8 acrescenta o cortar de Exegese de Mateus 19a
um pé. Sendo que estes versos de Mateus 5
são encontrados no contexto de adultério e A Estrutura da Passagem
fornicação – os respectivos versos paralelos A passagem de Mateus 19:1-12 pode ser
de Mateus 18 podem também se referir a esboçada da seguinte maneira:
pecados sexuais.
1. Disposição Local e Disposição da
Somos chamados a lutar contra o pe- Narrativa (vs.1-2)
cado, inclusive pecados sexuais. Somos
chamados a lutar por nosso casamento e 2. Diálogo de Jesus com os Fariseus
a trabalhar por ele. Os membros da Igreja (v. 3-9)
são chamados a ajudar aqueles que estão [CENA 1]
em perigo de ser seduzidos e desviados.
Às vezes, a disciplina da igreja é neces- a. Primeira pergunta dos fariseus (v. 3)
sária a fim de recuperá-los. Em qualquer b. Primeira resposta de Jesus (vs. 4-6)
caso, depois do arrependimento o perdão
c. Segunda pergunta dos fariseus (v. 7)
deve ser concedido. Nossos casamentos
vivem do perdão. Vivemos do perdão. [CENA 2]
Portanto, estendemos o perdão ao nosso
d. Segunda resposta de Jesus (vs. 8-9)
cônjuge. O problema não é divórcio. O
problema é perdoar-nos mutuamente e 3. Diálogo de Jesus com os Discípulos
largar o coração duro. (vs. 10-12)
[CENA 3]
(c) Resumo
a. Primeira pergunta dos discípulos (v.
Outra vez resumimos: (1) Mateus 18 e 10)
seu paralelismo com Mateus 5:29-30 prepa-
ra o caminho para a discussão do capítulo b. Terceira resposta de Jesus (vs. 11-
19 sobre divórcio e adultério. Embora as 12)
declarações de Jesus em Mateus 19:4-6, 8-9 De especial interesse são os versos 3-9.
e 11-12 sejam baseadas no relato da Cria- Contudo, a segunda cena tem também fortes
ção, elas também contêm uma exposição ligações verbais com a terceira cena.19
do sétimo mandamento. Jesus afirma que
pelo novo casamento alguém pode cometer
adultério. Por sua própria natureza o casa- Interpretação
mento é indissolúvel. Os mandamentos de
(a) Verso 3
Deus ainda são válidos. (2) Novamente os
leitores são desafiados a se afastar da dureza A conversação entre Jesus e os fariseus
de coração e livre e graciosamente perdoar se inicia com os fariseus fazendo a Jesus
uns aos outros (18:35; 19:8). (3) Em vez de uma pergunta acerca do divórcio. Prova-
procurar o divórcio e alegrar-se com o pen- velmente, eles queriam atrair Jesus para
Jesus, o divórcio e o novo casamento em Mateus 19 / 79

a controvérsia entre a mais liberal escola de repreensão. Os fariseus não deveriam


de Hillel e a mais conservadora escola de ter feito tal pergunta. As Escrituras já a
Shammai. Talvez eles até mesmo esperas- responderam. Todavia, concentrando-se
sem que Jesus tocasse no caso de Herodes no que é permitido e no que é proibido
sendo casado com Herodias e fizesse de e como alguém pode se livrar da esposa,
Herodes Seu inimigo (14:3-4). Este era um tragicamente os adversários de Jesus não
assunto altamente político e tinha custado reconhecem o maravilhoso dom de Deus e
a vida a João Batista. o ideal para o matrimônio. 23
“É lícito ao homem repudiar sua mulher No entanto, Jesus trata deste
por qualquer motivo?” Em Mateus 19:1-12 mesmo assunto. Em Mateus 19:4-6 Ele
o problema do divórcio é tratado a partir desenvolve a perspectiva de Deus sobre
da perspectiva masculina. O marido pode o casamento, uma instituição que junta-
se divorciar. A perspectiva feminina, além mente com o restante da Criação era muito
do lado masculino, é apresentada no texto boa. Jesus prova seu ponto de vista pelas
paralelo de Marcos 10. Escrituras e volta ao relato da Criação.
Indiretamente Ele declara que esse relato é
Um importante termo em 19:3 é apolu,
autêntico e normativo. Sua resposta se ini-
que neste contexto significa “mandar embo-
cia com Aquele que criou, a saber, Deus, e
ra, despedir” ou “divorciar-se”. É também
também termina com o Deus Criador que
encontrado nos versos 7-9. Duas vezes o
uniu o homem e a mulher no casamento.
termo é usado pelos fariseus e duas vezes
A primeira resposta de Jesus aos fariseus
por Jesus, todavia somente em Sua segunda
(19:4-6) começa com uma pergunta. Inse-
resposta. Em Sua primeira resposta, Jesus
rida nessa pergunta estão duas citações do
usa o termo choriz (v. 6) para expressar o
Antigo Testamento. Então segue-se uma
conceito de divórcio.20 Claramente Jesus
declaração, e finalmente é empregado um
diz não ao divórcio. No verso 6 não é regis-
imperativo:
trada nenhuma exceção, no verso 12 uma
só possível exceção é mencionada. 1. Pergunta: Não tendes lido (v. 4a)
A frase “por qualquer motivo” também a. Citação de Gênesis 1:27 (v. 4b)
pode ser traduzida por “por absolutamente
nenhum motivo.” A primeira opção reflete b. Citação de Gênesis 2:24 (v. 5)
a opinião de Hillel e parece ser preferível 2. Declaração: Os dois são uma só carne
neste contexto. Obviamente, os fariseus (v. 6a)
adotavam o ponto de vista de Hillel.21 A 3. Imperativo: Não se divorcie (v. 6b)
pergunta deles já está apontando para Deu-
teronômio 24:1, embora só mais tarde eles A primeira citação é breve consistindo
mencionem abertamente este texto tentan- de apenas sete palavras; a segunda tem
do contrariar os argumentos de Jesus. dezenove palavras, totalizando vinte e seis
palavras. Segundo o relato de Mateus, o pró-
(b) Versos 4-6 prio Jesus usa somente vinte e seis palavras
em suas respostas aos fariseus, enquanto que
Começando com o verso 4 Jesus res-
no verso 6a Ele até mesmo repete as últi-
ponde à pergunta dos fariseus. É importante
mas palavras da segunda citação. Portanto,
notar que Jesus responde com as Escrituras
ouvimos duas vezes acerca de “dois” seres
como fez quando foi tentado por Satanás
humanos que “se tornaram um” (v. 5b e 6a).
em Mateus 4. Jesus evita tomar o partido
Jesus permite que as Escrituras tratem de
de uma das escolas rabínicas. Ele usa uma
questões importantes e chega a uma decisão
autoridade mais elevada do que a interpre-
quando foi interrogado pelos fariseus sobre
tação de famosos rabis.22
o divórcio. Qual é o motivo para o divórcio?
“Não tendes lido que, no prin- Resposta: A ordem da Criação não o permite
cípio, o Criador os fez macho e fêmea.” por nenhum motivo.
Esta resposta pode conter alguma espécie A expressão “no princípio” em Mateus
19:4 pode se referir ao Deus que criou ou à
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criação de “macho e fêmea”. No primeiro vontade de Deus duas pessoas diferentes,


caso alguém traduziria: “Aquele que criou um homem e uma mulher, tornam-se um.
desde o princípio...”, ao passo que no se- Para chegar a isto é necessário deixar os
gundo caso a idéia seria “Ele os criou desde pais a fim de estar livre para uma nova
o princípio macho e fêmea.” A segunda união. Só então pode um homem “apegar-
opção é preferida por muitas traduções. se” ou “unir-se” à sua mulher. Jesus enfati-
Por causa da repetição da mesma frase za a idéia de unidade repetindo-a no início
no verso 8, Grundsmann aceita a segunda do verso 6. Então Ele chega à conclusão:
opção e declara: “Desde o princípio Deus “Portanto, o que Deus ajuntou não o sepa-
queria que os seres humanos fossem seres re o homem.” Não há dúvida: a intenção
sexuais.”24 Esta referência prepara então divina é ajuntar, não separar.
o caminho para a segunda e importante de-
Em Mateus 19:5-6 o termo anthropos é
claração: Os dois gêneros são dependentes
encontrado duas vezes, no início e no fim.
um do outro. Um homem e uma mulher se
O termo normalmente designa o ser huma-
uniriam em matrimônio e assim se torna-
no e não é usado para apenas um gênero.
riam um, inseparavelmente ligados.
Entretanto, no verso 5a ele se refere ao ma-
Mateus 19:5 se inicia com a frase “e cho, ao passo que no verso 6b ele abrange
disse”. De acordo com o verso anterior esta todos. A declaração é uma declaração geral
frase se refere a Deus. Foi Deus quem falou. que se aplica a todos os casais.
Jesus afirma que Deus disse: “Portanto,
deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua 1. A ação do homem (anthropos)
mulher, e serão dois numa só carne.” Con-
tudo, lendo Gênesis 2:24 de onde foi tirada a. Separação dos pais e união com
esta citação e pela leitura do seu contexto, a esposa
chega-se à impressão de que esta declara-
ção foi um comentário feito pelo autor de b. Tornar-se uma só carne (duas ve-
Gênesis25, Moisés, não pelo próprio Deus. zes)
Mas Jesus nos informa que Gn 2:24 é uma 2. A ação de Deus e a proibição para o
palavra direta de Deus o Pai. Apóia-se na homem/ser humano (anthropos)
mais alta autoridade possível. O próprio a. Deus ajuntou, nenhuma separação
Deus ordenou que o homem deixe seus
pais e, juntamente com sua mulher, forme Deixar os pais, viver juntos e tornar-
uma nova união. se uma só carne são ações humanas que
A frase “uma só carne” aponta de de uma maneira oculta formam o ajunta-
uma maneira especial para a união física mento por Deus. A segunda citação do
dos cônjuges. Todavia, o termo “carne” Antigo Testamento (Gn 2:24) declara o
significa toda a personalidade e não pode que os seres humanos estão fazendo. A
ser limitado à esfera física.26 Portanto, explicação de Jesus, porém, enfatiza que
o adultério é tão dramático. Ele rompe a esta é a vontade de Deus. Embora os seres
maravilhosa união entre marido e mulher, e humanos comecem a agir, é Deus quem
nas Escrituras é comparado com a idolatria ajunta marido e mulher. Portanto, eles
pela qual o povo de Deus toma uma decisão não têm a autoridade para se divorciar. A
contra seu Deus Criador e Salvador. criação da humanidade consiste da criação
do macho e da fêmea. Deus uniu os dois.
O termo “uma” enfatiza união e unida- Conseqüentemente, não nos é permitido
de. Dois seres, um homem e uma mulher separar o que Deus realmente ajuntou. A
tornam-se um. Ao fazer esta declaração primeira resposta de Jesus consiste de um
Jesus rejeita o homossexualismo bem como imperativo, que forma uma proibição. A
a poligamia. O texto hebraico de Gênesis mensagem é: O casamento é indissolúvel.
2:24 não contém o numeral “dois”. Contu- O divórcio não é uma opção.
do, pela adição deste termo, que é também
encontrado na Septuaginta (LXX), a mono- Resumimos a primeira resposta de Je-
gamia é enfatizada ainda mais. Segundo a
Jesus, o divórcio e o novo casamento em Mateus 19 / 81

sus: e dizendo-lhe...” Verso 4: “Ele [Jesus]...


disse-lhes...” O verso 7 muda para o
(1) Jesus aponta para as Escrituras.
tempo presente [na Versão inglesa]: “Eles
Sua pergunta “Não tendes lido...” pode
lhe dizem . . . “ Verso 8: Ele [Jesus] lhes
conter uma repreensão por não terem sido
diz...” Esta mudança para o tempo pre-
consideradas com cuidado suficiente as
sente indica aumento de tensão.
ilações das Escrituras.
Os fariseus respondem às palavras de
(2) De acordo com Jesus as Escri-
Jesus indagando por que Moisés mandou
turas são normativas. Portanto Ele as
dar carta de divórcio, se o divórcio não
usa. Sua resposta baseia-se no relato da
é possível. À semelhança de Jesus, eles
Criação. Interessantemente, Ele cita textos
também usam as Escrituras. Referindo-se
de Gênesis 1 e 2 sem ver uma contradição
a Deutronômio 24:1 eles podem ter sentido
entre eles. É verdade que as condições
o desejo de desfazer Gênesis 1 e 2 e apoiar
sociais do primeiro século d.C. eram
uma indulgente prática de divórcio.28 Mas
diferentes daquelas do Paraíso. Sem dú-
Jesus explica como as passagens bíblicas
vida, Jesus está ciente do fato. Embora
se relacionam mutuamente. No verso
o tempo em que Ele viveu na Terra não
9 ouvimos Sua conclusão final: Com o
possa ser comparado com a situação des-
divórcio, o ser humano destrói a obra de
crita em Gênesis 1-2, Jesus ainda aplicou
Deus.29 Grundsmann chama a declaração
os princípios originais estabelecidos no
de Jesus no v. 9 de “Halacha autorizado
Éden para um mundo que caiu presa
de Jesus.”30
do pecado. Portanto, culturas diferentes
não mudam necessariamente a mensagem Em sua segunda pergunta os fariseus
bíblica e os princípios bíblicos. apontam para a autoridade de Moisés. Eles
(3) Claramente, Jesus posiciona-Se compreendem muito bem que Jesus argu-
contra o divórcio. Deus instituiu o matrimô- mentou contra o divórcio e que referindo-Se
nio. Os seres humanos não têm permissão à ordem da Criação Ele foi além de Deute-
de se divorciar. Com este imperativo Jesus ronômio 24:1, a única referência no Antigo
faz uma declaração categórica. Testamento em que Moisés menciona a
carta de divórcio. Agora eles tentam criar
(4) Obviamente, Jesus trata do ca- um conflito entre Jesus e Moisés.31 Uma
samento em geral. O contexto direto não importante diferença entre eles e Jesus é a
deve ser desconsiderado tão logo o verso respectiva interpretação de Deuteronômio
6b seja investigado. Deus criou macho 24:1-2. É possível que Jesus tenha previs-
e fêmea e os uniu em matrimônio. Todo to aquela discussão e, portanto, pode ter
casamento legítimo é, portanto, um ajun- mostrado que Gênesis 2:24 é uma palavra
tamento de Deus27, cujo plano é que os original do próprio Deus. Em qualquer
velhos relacionamentos sejam deixados caso, os fariseus afirmam que Moisés
para trás e uma nova união, uma só carne, mandou (enteilato) (1) dar à mulher carta
seja estabelecida. Conseqüentemente, não de divórcio e (2) repudiá-la.
se deve usar a desculpa de que Deus não
ajuntou o próprio casamento de alguém,
sendo, portanto, legítimo divorciar-se de (d) Verso 8-9
um cônjuge. Jesus é muito mais exato em Sua in-
terpretação do que os fariseus. Em Sua
(c) Verso 7 segunda resposta Ele substitui a palavra
“mandou” pelo termo “permitiu” (epe-
Chega-se ao clímax da conversação trepsen). Moisés permitiu o divórcio mas
com os versos 7-9. Isto se torna evidente não o ordenou. De fato, Moisés parece
quando olhamos para as fórmulas do mencionar a carta de divórcio apenas de
discurso que estão sendo usadas. Verso passagem. A passagem de Deuteronômio
3: “Chegaram... os fariseus, tentando-o 24:1-4 esclarece se uma mulher que foi
82 / Parousia - 1º semestre de 2005

divorciada de seu primeiro marido pode uma concessão dependente da pecaminosidade do


ou não retornar ele. Não há nenhum impe- povo. Naquele contexto servia como um controle
rativo que exija um divórcio e a escrita de contra abusos e excessos... A inferência é que a nova
uma carta de divórcio. A carta de divórcio era do presente reino de Deus envolve um retorno ao
idealismo da narrativa do Gênesis pré-queda.35
e o divórcio estão limitados a apenas um
motivo, a saber, “alguma indecência”.32 Afirma o Comentário Bíblico Adven-
Esta frase tem sido interpretada diferen- tista:
temente como pode ser vista nas escolas Contudo, aqui o ensino de Cristo deixa claro
de Hillel e Shammai, mas parece sugerir que as provisões da lei de Moisés com respeito
alguma espécie de violação sexual. O novo ao divórcio são completamente inválidas para
casamento é ajustado. os cristãos... A lei de Gn 1:27; 2:24 precedeu a
lei de Dt 24:1-4 e é superior a ela... Deus jamais
A segunda resposta de Jesus consiste de
revogou a lei do matrimônio.Ele a enunciou no
uma defesa de Moisés. Ao mesmo tempo princípio.36
Jesus vai além de Moisés no verso 9 com
Sua declaração autorizada “Eu vos digo”. A segunda cena termina com a decla-
Moisés é defendido por Jesus quando Ele ração “Eu vos digo”. Jesus assegura aos
esclarece que Moisés não deu um manda- Seus ouvintes que qualquer que se divor-
mento. Além disso, Ele menciona a dureza cia de sua mulher – Ele agora emprega a
do coração humano como um motivo para a palavra para divórcio (apolu) usada pelos
concessão feita por Moisés. O divórcio era fariseus – comete adultério se a exceção
praticado. Moisés não podia impedir que seguinte não se aplica. Isto significa que
ocorresse tal comportamento inumano de em sua natureza o casamento é de fato
sua geração e das gerações subseqüentes. permanente. No verso 6 Jesus nega cate-
Ele podia apenas tentar fazer com que o goricamente o divórcio. No verso 9 Ele
dano fosse o menor possível. E assim ele acrescenta: Mesmo que alguém se divorcie,
permitiu o divórcio sob certas circunstân- e isto seja contra o claro testemunho das
cias mas não o ordenou.33 Sua intenção era Escrituras, ele ou ela não está livre. Tal
semelhante àquela retratada no relato da divórcio e novo casamento são adultério,
Criação, embora fosse dada certa abertura porque o primeiro casamento ainda é válido
ao divórcio. a despeito do divórcio.37
Jesus continua: “... mas, no princípio,
não foi assim.” O divórcio não faz parte Aqui Mateus 19 adiciona uma nova
do plano divino. A frase “no princípio” (ap’ dimensão não encontrada em Mateus 5.
arch_s) já tinha sido usada por Jesus um Enquanto que em Mt 5:32 a mulher comete
momento antes em Sua primeira respos- adultério se casar de novo, em Mateus 19:9
ta aos fariseus (v. 4). Ali ela foi ligada à é o marido.38 Ao passo que em Mateus 5:32
Criação, como aqui. O tema Criação liga as a mulher divorciada que casar outra vez
duas respostas de Jesus aos fariseus. Toda a comete adultério – obviamente, ela ainda
argumentação de Jesus baseia-se no relato é considerada como casada, em Mateus
da Criação. Tudo quanto dizia respeito ao 19:9 o marido que casa com outra mulher
casamento desde o princípio ainda é válido comete adultério – ele ainda está casado, se
e obrigatório, principalmente em vista da a exceção não se aplica. Marido e mulher
vinda do reino de Deus na pessoa de Jesus são tratados do mesmo modo. Ao mesmo
Cristo e não admite o divórcio.34 Já no Ser- tempo, notamos que surge um quadro
mão da Montanha Jesus foi além da carta compreensivo se permitirmos que todos
de divórcio e substituiu a permissão do os textos bíblicos sobre um dado assunto
divórcio por Sua própria palavra autorizada nos fale.
fechando a porta para a opção ao divórcio Mateus 19:9 contém quase a mesma
exceto em caso de adultério. cláusula de exceção conforme já mencio-
A legislação mosaica em Dt 24:1-4 não era, por- nada em Mateus 5:32. Jesus admite um
tanto, normativa mas apenas secundária e temporária, só motivo pelo qual o divórcio é possível.
Esse motivo é pornéia. Mas mesmo em tal
Jesus, o divórcio e o novo casamento em Mateus 19 / 83

caso o contexto nos exorta a perdoar nosso necessariamente infringia a ordem criada.”41
parceiro e abandonar nossa dureza de cora-
ção e obstinação. Desse modo, a pergunta Entretanto, o problema mais decisivo
introdutória dos fariseus é respondida. Di- não é a cláusula de exceção em si, mas a
vórcio por qualquer motivo? Não. O divór- questão se a cláusula de exceção se refere
cio contradiz o plano da Criação e a vontade apenas ao divórcio ou também permite
de Deus que uniu marido e mulher. A única novo casamento.42 Há ligeiras diferenças
exceção é pornéia. Os diferentes aspectos entre as cláusulas de exceção em Mateus
de pornéia são encontrados em ambos os 5:32 e Mateus 19:9, embora a mensagem
Testamentos. Eles incluem prostituição, básica seja a mesma. Em certo sentido as
relações sexuais pré-maritais, adultério, duas cláusulas de exceção são até mesmo
incesto e homossexualismo; em resumo, complementares. Em qualquer caso, as
relações sexuais fora do casamento.39 cláusulas de exceção não exigem divórcio
mas o permitem.
Em Mateus 19:9 o significado primário
de pornéia pode ser adultério.40 E de fato (1) Qualquer que se divorcia de sua
muitos dos importantes matizes de signifi- mulher,
cado de pornéia podem ser agrupadas sob exceto por motivo de pornéia,
o termo adultério.
faz com que ela cometa adultério;
Marcos e Lucas não usam a cláusula de
exceção em suas passagens que tratam de (2) e qualquer que casar com a mulher
divórcio e novo casamento (Mc 10:1-12; Lc divorciada
16:18). A declaração de Lucas é muito breve comete adultério. (Mt 5:32)
e consiste de apenas um versículo. Marcos é
diferente. Ali encontramos uma passagem De acordo com Mateus 5:32 o homem
comparável à de Mateus 19. Contudo, a comete adultério casando com a mulher
discussão corre em sentido inverso. Em Ma- divorciada. No caso de ela não ter cometido
teus 19 Jesus Se refere primeiro ao relato da adultério seu casamento parece ainda ser
Criação e, assim, declara o princípio básico válido. Portanto, uma nova união com ela
que nos orienta em matéria de casamento é adultério. Porém, segundo Mateus 19:9,
e divórcio antes de serem apresentados os o homem divorciado comete adultério ca-
aspectos específicos da carta de divórcio. Em sando com qualquer mulher, se a exceção
Marcos 10 Jesus começa com os aspectos não se aplica. Seu casamento ainda é válido
específicos, a saber, a carta de divórcio, e e seria prejudicado por uma nova união.
indutivamente Se move em direção do prin- Conseqüentemente, os homens têm de
cípio geral encontrado no relato da Criação. levar em conta que eles podem não apenas
Uma vez tendo chegado ao princípio básico, prejudicar o casamento ainda existente de
os aspectos específicos tais como a cláusula uma mulher quando eles casam novamente;
de exceção dificilmente têm lugar. Portanto, eles podem causar dano ao seu próprio ca-
Marcos pode tê-la omitido, embora talvez a samento e devem preocupar-se com o que
tenha conhecido. Declara Hill: estão fazendo. Eles não estão em liberdade
de fazer o que querem.
Muitos comentaristas consideram estas pala-
vras como tendo sido acrescentadas por Mateus... (1) “Qualquer que se divorcia de sua
Isto não é necessário; se pornéia significa ‘adul- mulher,
tério’, então a lei judaica exigia que um homem
exceto por pornéia,
se divorciasse de sua mulher se ela cometesse tal
ato. Realmente, este fato pode ser admitido em (2) e casa com outra,
outros Evangelhos..., mas é conjeturado somente
em Mateus. Uma relação adulterina violava a comete adultério.” (Mt 19:9)
ordem da Criação com seu ideal monogâmico.
Portanto, se Jesus defendeu a indissolubilidade
A principal cláusula da sentença é
do matrimônio baseado em Gênesis, Ele deve ter “ele comete adultério.” Dependente desta
permitido o divórcio para isto, e isto somente, que cláusula essencial há uma cláusula subor-
dinada com dois verbos e dois objetos,
84 / Parousia - 1º semestre de 2005

“qualquer que se divorcia de sua mulher” interessa em Sua mensagem é a indissolubi-


e “e casa com outra.” Divórcio (1) e novo lidade do matrimônio. Portanto, encontra-
casamento (2) são adultério (quarta linha).43 mos declarações sem exceções em seguida
Portanto, pode ser admitido que a cláusula àquelas que permitem uma exceção no caso
de exceção encontrada entre (1) e (2) se de pornéia. Entretanto, a força das declara-
refere tanto ao divórcio quanto ao novo ções de Jesus é suficientemente clara. Por
casamento. Sendo que a discussão com os este mesmo motivo os discípulos reagem
fariseus estava tratando primariamente do tão surpreendentemente e parecem estar
divórcio, é compreensível que a cláusula escandalizados (verso 10). Isto nos leva à
de exceção siga diretamente a frase “se última cena.
divorcia de sua mulher” em vez de ir ao
fim da cláusula subordinada. Além disso, (e) Verso 10
deve ser suscitada a seguinte questão: de
que outra maneira Mateus poderia ter ex- Os discípulos declaram: “Se é assim
presso este conceito? Teria sido mais claro a relação do homem com sua mulher, é
se a cláusula de exceção tivesse seguido a melhor não casar.” O termo “relação”,
frase “e casa com outra”? Deveria ele ter “causa”, “razão” (aitia) já ocorreu no ver-
repetido a cláusula de exceção? Isto teria so 3. Os discípulos podem estar se referindo
confundido seus ouvintes? à pergunta dos fariseus que haviam inda-
gado se é possível alguém divorciar-se da
A cláusula de exceção faz pouco mulher por qualquer motivo. A despeito da
sentido se o cônjuge que não tivesse cláusula de exceção eles compreenderam
sido envolvido em pornéia não tivesse a natureza radical da exigência de Jesus e
o direito de casar de novo. Um divórcio sentiram-se restringidos e encurralados.
legítimo permite um casamento legítimo. Tomaram o partido dos fariseus que por
Porque no tempo de Jesus bem como du- causa de sua dureza de coração estavam
rante os tempos do Antigo Testamento o procurando meios de se livrarem do casa-
novo casamento depois de um divórcio era mento. E eles fizeram uma sugestão radical:
possível, poder-se-ia esperar uma situação Se não há nenhuma saída do casamento,
semelhante para o Novo Testamento.44 então é melhor não casar. Não vale a pena.
Doutro modo, o Novo Testamento precisa- Eles não podem pensar no casamento sem
ria afirmar claramente que uma nova ordem pensar também no divórcio, e não vêem e
foi estabelecida. não compreendem o extraordinário dom do
Às vezes aqueles que se opõem ao novo casamento que Deus lhes oferece.
casamento do cônjuge não envolvido em
pornéia apontam para a compreensão e (f) Versos 11-12
prática dos Pais da Igreja, que mantiveram
a mesma opinião. Contudo, deve-se ter em Mais uma vez Jesus responde. É a Sua
mente que em questões bíblicas os Pais da terceira resposta: “Nem todos os homens
Igreja não eram sempre mais fiéis às Es- podem aceitar esta declaração, mas somente
crituras do que são os cristãos de hoje. Os aqueles a quem isto foi concedido.” A ques-
problemas com a guarda do domingo surgi- tão é: Qual é o antecedente de “esta declara-
ram já no segundo século d.C. A doutrina da ção” (literalmente: “palavra”)? Novamente
imortalidade natural da alma foi aceita por a opinião erudita difere. Ou se refere às
muitos. O conceito de cargos eclesiásticos, respostas dadas por Jesus aos fariseus46 ou
principalmente a importância e poder dos se refere à declaração que os discípulos
bispos, foi elaborado com muito esforço, e tinham feito um momento antes.47
a Igreja foi elevada a um nível superior às
Se “esta declaração” se referisse às
Escrituras. O ascetismo era recomendado
próprias palavras de Jesus, destruiria o que
por alguns.
Jesus tentou estabelecer. Significaria que
Embora com Sua cláusula de exceção as reivindicações de Jesus em relação ao
Jesus permita o divórcio e novo casamento matrimônio e Sua proibição do divórcio
em um caso específico, o que importa ou
Jesus, o divórcio e o novo casamento em Mateus 19 / 85

(com a exceção de pornéia) poderiam ser mistério do casamento é fundado na vontade


observadas somente por aqueles a quem de Deus com respeito à Criação, o mistério do
isto é concedido. Isto significaria que celibato é fundamentado na vontade de Deus
qualquer obrigação de seguir os princí- com respeito à vinda do reino dos céus.52
pios divinos seria suprimida e todos os
Em Mateus 19:1-12 Jesus permite duas
que violassem a vontade de Deus teriam
opções. O ser humano pode casar e receber
a desculpa de que não lhes foi concedido
o dom divino do matrimônio. Isto é parte
seguir o plano, vontade e ideal divinos. A
da ordem de Deus na Criação. Os seres
ética falharia. A sugestão feita por France,
humanos podem também escolher ficar
de que as exigências de Jesus seriam obri-
solteiros por causa do reino de Deus, se
gatórias apenas para aqueles a quem Deus
receberam o respectivo chamado. Contu-
tem chamado para um matrimônio cristão,
do, a possibilidade de obter um divórcio
também não é útil.48 Desde quando os
não é dada, exceto em caso de adultério.53
mandamentos de Deus são obrigatórios
A ênfase está na indissolubilidade do ma-
somente para os cristãos? Certamente, os
trimônio e não em sua exceção. Também
não-cristãos podem pisar a lei de Deus. Mas
aqui é onde deve estar nosso enfoque.
eles têm o direito de agir assim? Deus não
Aqueles que constantemente se concen-
os julgará?49
tram na exceção e consideram isto normal,
É melhor compreender Jesus como compreenderam mal a Jesus e têm um
Se referindo à declaração dos discípulos. coração duro.
Surpreendentemente, Ele não a rejeita,
mas declara que realmente isto é conce-
dido a alguns – embora não a todos – de Implicações para nós
não casar. Para a maioria das pessoas o Quando Deus instituiu o casamento cogi-
plano divino é casamento e não celibato. tou-se que deveria ser uma união vitalícia entre
No verso 12 Jesus enumera três grupos um homem e uma mulher em que os dois se
de eunucos: (1) eunucos que nasceram complementariam e contribuiriam para o bem-
deste modo, (2) eunucos que foram feitos estar mútuo. O ideal do matrimônio permite a
eunucos por outros, e (3) aqueles que a sua comparação com Jesus e a Igreja.
si mesmos se fizeram eunucos por causa
do reino dos céus. Parece que nem todos Jesus consolidou a indissolubilidade do
os três grupos são eunucos no sentido matrimônio. Marcos e Lucas enfatizam este
literal. Obviamente, o primeiro grupo fato sem mencionar uma exceção. Mateus
deve ser compreendido literalmente. O registra as cláusulas de exceção nos capítulos
segundo grupo também pode representar 5 e 19. O divórcio destrói o que Deus uniu
eunucos reais, o homem que pela força e se opõe à Sua vontade. Em todo caso, se
foi feito incapacitado para o casamento. ocorrer um divórcio – exceto por pornéia –
Cornes, porém, sugere compreender o só existe a possibilidade de ficar solteiro
termo como figurativamente se referindo ou reconciliar-se com o cônjuge. Então o
a pessoas divorciadas.50 O último grupo novo casamento não é alternativa. Obvia-
pode abranger pessoas como João Batista mente, o primeiro casamento permanece
que permanecem solteiros por causa do intacto apesar do divórcio. A pessoa que se
reino de Deus. É importante reconhecer a divorcia por qualquer outro motivo que não
vocação de alguém e aceitá-la, não impor- seja fornicação e casa novamente, comete
ta a que grupo pertença e não importa se adultério e viola as leis de Deus, que são
alguém teve ou não de sofrer injustiça. O válidas para todos os tempos. Isto também
que é decisivo é concordar com a vontade é verdade para alguém que casa com uma
e o plano de Deus, ou a vontade permissiva pessoa divorciada, se essa pessoa não está
para nossa vida.51 divorciada por motivo de pornéia pelo
cônjuge.
É dom de Deus ao ser humano compreen-
der o mistério do casamento bem como Se um cônjuge comete fornicação, ou
o mistério do celibato... Enquanto que o seja, é culpado de infidelidade sexual, o
86 / Parousia - 1º semestre de 2005

outro cônjuge que não se envolveu em tal impedir que os casais se divorciem, e deve
ato pode divorciar-se. Contudo, mesmo reagir de uma maneira bíblica e equilibrada
neste caso o ideal é a reconciliação. se um casamento está ameaçado ou um
casal se divorciou. Deixar de reagir absolu-
As duas exceções para divórcio, pornéia
tamente pode ser irresponsável. O objetivo
e divórcio por um cônjuge descrente, que
do envolvimento da igreja deve ser ajudar,
são discutidas em 1 Coríntios 7, são dife-
produzir cura e prestar assistência àqueles
rentes. Somente no primeiro caso pode o
que de outra forma poderiam se perder. Em
cônjuge que não se envolveu em adultério
alguns casos isto pode incluir a disciplina
solicitar um divórcio. No outro caso, o
da igreja e a remoção de uma pessoa do rol
parceiro crente é passivo e não toma a
de membros da igreja.
iniciativa de obter um divórcio. Portanto,
o único motivo pelo qual um membro da Todos os crentes são chamados a se
igreja pode divorciar-se de seu cônjuge é desviar da dureza de coração, a desen-
fornicação. volver seu casamento, conceder perdão e
novo começo, e dar um exemplo do que
Nos dois casos excepcionais pouco
significa um casamento cristão. Onde as
antes mencionados, não apenas o divórcio
condições são desfavoráveis, a solução
é possível – tão trágico quanto possa ser
cristã é mudar as condições, mas não o
– mas o parceiro fiel ou o parceiro crente
parceiro. Mesmo em casos que parecem
que está divorciado do descrente pode
ser sem esperança, nos lembramos de que
casar de novo.
o Senhor que ressurgiu dos mortos pode
Quando um casamento se desintegra, a também ressuscitar nossos casamentos
igreja é sempre afetada. Portanto, a igreja para nova vida.
deve tomar medidas preventivas a fim de

Referências nach Matthäus (Berlin: Evangelische Verlagsanstalt,


1990), 163, 428.
1
Este artigo foi traduzido do original em inglês 8
Cf. Bacchiocchi, 182.
por Francisco Alves de Pontes. 9
Veja Wenham e Heth que discutem esta inter-
2
Eva Kohlrusch, “Seitensprung in ein neues Le- pretação nas páginas 73-99. Cf. Craig S. Kenner,
ben” em Bunte, no. 28 (2000), 88-89 (traduzido). ... and Marries Another: Divorce and Remarriage
3
Para o antecedente histórico veja, Hermann in the Teachings of the New Testament (Peabody:
L. Strack e Paul Billerbeck, Das Evangelium nach Hendrickson Publishers, 1991) e o Manualda Igreja
Matthäus erläutert aus Talmud und Midrasch, Adventista do Sétimo Dia, edição revisada na Assem-
Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und bléia da Associação Geral de 2000 (Tatuí, SP: Casa
Midrasch, Band 1 (München: C. H. Beck’sche Ver- Publicadora Brasileira, 2001). Ellen G. White, O Lar
lagsbuchhandlung, 1986), 304, 315-320. Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
4
Walter Grundmann, Das Evangelium nach 1996), 341-342: “Nada senão a violação do leito
Markus (Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1984), conjugal pode quebrar ou anular o voto matrimonial
270 (traduzido). . . . Deus reconhece apenas um motivo pelo qual a
5
Hermann L. Strack e Billerbeck, 304, 315- esposa pode deixar seu marido ou o marido a sua
320. esposa: o adultério.” Francis D. Nichol (ed.), The
6
Cf.Samuele Bacchiocchi, The Marriage Co- Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 5
venant: A Biblical Study on Marriage, Divorce, and (Washington: Review and Herald, 1956), 454: “Aqui
Remarriage (Berrien Springs, MI: Biblical Perspec- e na discussão paralela de Jesus em Mateus 5:32 isto
tives, 1991), 183. parece estar implícito, embora não especificamente
7
Cf. Gordon J. Wenham e William E. Heth, Je- declarado, que a parte inocente de um divórcio está
sus and Divorce (Carlisie: Paternoster Press, 1984), em liberdade de casar de novo. Esta tem sido a
19-44. Esta parece ser também a opinião de A. compreensão da grande maioria dos comentaristas
Schlatter. Cf. Adolf Schlatter, Das Evangelium nach ao longo dos anos.”
Matthäus (Stutgart: Calwer Verlag, 1947), 73-74. 10
Veja “Divorce and Remarriage Study Comis-
Veja também Walter Grundmann, Das Evangelium sion Report, 22.6.99,” 5 e 10.
nach Lukas (Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 11
Lothar Wilhelm, “‘... das soll der Mensch nicht
1984), 324; Walter Grundmann, Das Evangelium scheiden’? Fragen zu den Aussagen der Evangelien
Jesus, o divórcio e o novo casamento em Mateus 19 / 87
über Ehescheidung und Wiederverheiratung”, em (3) 19:10-15 Diálogo de Jesus com os
Glauben heute, Jahrespräsent 1999, editado por Elí discípulos (crianças, reino dos céus)
Diez (Lüneburg: Advent-Verlag, 1999, 16-33. 19
Conexões literárias entre as cenas 1 e 2 são,
12
Cf. Robert M. Johnston, “Divorce and Re- por exemplo, “casar” (19:9,10), “homem” e “mulher”
marriage: What the Bible Teaches” (documento (19:5,12), e “motivo/relacionamento” (19:3,10).
preparado pelo Concílio Ministerial Mundial da 20
Este é o mesmo termo usado por Paulo em 1
Igreja Adventista do Sétimo Dia, 1990). Coríntios 7:10-11.
13
Bacchiocchi, 183-189, 215-216. Escreve ele 21
Veja Strack e Billerbeck, 801.
na página 216: “Como deve o cristão relacionar-se 22
Cf. Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical
com um cônjuge que persiste em seu estilo de vida and Exegetical Hand-Book to the Gospel of Matthew,
perverso? A admoestação de Paulo é sem rodeios: reimpresso da 6ª edição de 1884 (Peabody: Hendri-
‘Afasta-te de tal pessoa’ (2 Tm 3:5). Viver com e ckson, 1983), 337.
amar uma pessoa que espalhafatosa e obstinadamente 23
Cf. Patte, 264. Na página 265 ele declara: “Por
viola os princípios morais do Cristianismo, significa
que então quereria alguém indagar se é permitido
desculpar tal estilo de vida imoral.”
o divórcio? ...O único motivo para esta atitude é
14
(1) Casamento, divórcio e ficar solteiro (19:1-
que alguém não percebe o casamento como um
12), bênção das crianças (19:13-15), (3) o jovem
bom presente de Deus e que, conseqüentemente,
rico (19:16-26), (4) recompensas do discipulado
alguém vê como boa a possibilidade de separar-se
(19:27-30), e (5) parábola dos trabalhadores na
da esposa...”
vinha (20:1-16). 24
Grundmann, Das Evangelium nach Matthäus,
15
Por exemplo, “discípulo” (19:10,13,25), “o
427 (traduzido).
reino dos céus” (19:12,14,23; 20:1), “pai e mãe” 25
Cf. Alexander Sand, Das Evangelium nach
(19:5,19, 29), “palavra” (19:1,11, 22) e adultério
Matthäus, Regensburger Neues Testament (Leipzig:
(19:9,18).
St. Benno-Verlag, 1989), 390.
16
Alguns manuscritos contêm o termo “mulher”, 26
Cf. Alexander Balmain Bruce, The Sinoptic
outros não. Novos Testamentos Gregos Modernos,
Gospels, The Expositor’s Greek Testament, reim-
tais como Novum Testamentum Graece de Nestle-
presso (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans,
Aland e The Greek New Testament das Sociedades
1990), 245-246.
Bíblicas Unidas, omitem a palavra. A passagem 27
Cf. Nichol 5:338, 454.
paralela de Marcos 10:28-30 também não menciona 28
Patte, 265, escreve: “Segundo os fariseus, Jesus
a mulher (em um bom número de importantes ma-
contradiz o mandamento de Moisés concernente
nuscritos). Porém Lucas 18:29 menciona o termo.
ao divórcio (Dt 24:1; Mt 19:7).” Eles “deliberada-
Contudo, Lucas 18:29 e o texto sobre divórcio de
mente desafiam a autoridade da passagem citada
Lucas 16:18 não são encontrados no mesmo con-
por Jesus...”
texto imediato. É verdade que temporariamente os 29
Cf. R. T. France, The Gospel According to
discípulos deixaram a esposa e seguiram a Jesus. Mas
Matthew: An Introduction and Commentary, The
posteriormente é relatado que Pedro estava viajando
Tyndale New Testament Commentaries, reimpresso
com sua esposa (1Co 9:5). Os contextos específicos
da edição de 1985 (Grand Rapids, MI: William B.
de Mateus e Marcos que contêm a passagem sobre
Eerdmans, 1990), 280.
divórcio e novo casamento podem ter causado a 30
Grundmann, Das Evangelium nach Matthäus,
omissão do termo “mulher” da lista daqueles a quem
426.
um discípulo pode ter que deixar por causa do reino
dos céus. Pessoas poderiam ter chegado a errôneas
31
Veja v. 3 e o assunto da tentação.
conclusões que eram opostas à intenção de Jesus. No 32
A frase tem sido traduzida por “qualquer
contexto de Mateus 19 e Marcos 10 era necessário coisa indecente” ou “indecência” e consiste de duas
enfatizar que o discipulado não conduz ao divórcio palavras (‘erwat d_b_r). O segundo termo (d_b_r)
e não o permite. Mesmo em Lucas o termo “deixar” significa “palavra”, “ditado”, “matéria”, “caso”. O
pode ter significado apenas uma separação temporá- primeiro termo (‘erwat) é traduzido por “nudez”
ria. Em 1 Coríntios 7:12-13, Paulo parece tratar do ou “partes pudendas” e se refere, por exemplo,
mesmo ou de um problema semelhante declarando à vergonhosa exibição de transgressões sexuais.
que o crente não deve divorciar-se do incrédulo. Muito freqüentemente ele aparece no contexto de
17
Veja Daniel Patte, The Gospel According to pecados sexuais registrados em Levítico 18 e 20
Matthew: A Structural Commentary on Matthew’s e em Ezequiel 16 e 23. Os textos de Ezequiel são
Faith (Philadelphia: Fortress, 1987), 261-280. encontrados no contexto de fornicação. Juntos os
18
(1) 18:1-35 Diálogo de Jesus com os dois termos (‘erwat d_b_r) ocorrem somente em
discípulos (crianças, reino dos céus) Deuteronômio 23:14 e 24. Deuternonômio 23:13-
(2) 19:1-9 Diálogo de Jesus com os 15 trata dos excrementos humanos, ao passo que
fariseus Deuteronômio 24:1 sugere alguma espécie de má
88 / Parousia - 1º semestre de 2005

conduta sexual. Alguns afirmam que ‘erwat d_b_r não se divorcia de sua mulher mas casa outra vez
não inclui adultério. Eles declaram que o adultério não comete adultério. Contudo, tal raciocínio é
exigia a pena de morte por apedrejamento (Lv indefensável. A passagem de Mateus 19 discute o
20:10; Dt 22:22) mas não permitia a possibilidade problema do divórcio e não o assunto da poligamia.
ou escrito de uma carta de divórcio. É correto que Entretanto, conforme salientado acima, por sua forte
um homem, que tivesse relações sexuais com uma ênfase na ordem da Criação (Mt 19:4-6,8), Jesus
mulher casada ou comprometida devesse morrer, o rejeita claramente a poligamia.
adúltero junto com a adúltera. Todavia, a pena de 44
Cf. William Lillie, Studies in New Testament
morte no caso de adultério nem sempre era execu- Ethics (Edinburgh: Oliver and Boyd, 1961), 119-
tada. No tempo de Jesus, Herodes e Herodias (Mt 120: “O divórcio judaico tornava possível o novo
14:3-4) não foram punidos. Este não era apenas o casamento da mulher... Isto estava sujeito a duas
caso de pessoas influentes cometerem adultério. A limitações que um sacerdote não podia desposar
mulher adúltera de Oséias não foi executada (Os uma mulher divorciada (Lev. 21:7, 14), e que um
3:1). José originalmente planejou repudiar Maria, homem não podia casar com sua ex-mulher, se
porque acreditava que ela tivera um caso com outro nesse meio-tempo ela tivesse casado com outro (Dt
homem. Ele não procurou que lhe fosse infligida a 24:4)... Em vista do costume judaico contemporâneo,
pena de morte. Jesus impediu que os líderes judeus é extremamente improvável que o ensino cristão
executassem a mulher apanhada em adultério (Jo primitivo permitisse o divórcio mas proibisse o novo
8:5). Em Isaías 50:1 e Jeremias 3:8 a carta de divór- casamento, como alguns têm imaginado.
cio é mencionada de uma forma metafórica. Israel, 45
Cf. Keener, 43-44.
apresentado como a esposa de Yahweh, recebeu de 46
Por exemplo, Patte, 267.
Deus a carta de divórcio por causa do seu adultério. 47
Por exemplo, Hagner, 549-550; Hill, 281;
Um certificado de divórcio literal ou metafórico é Lillie, 125; Meyer, 340; Nichol, 5:455.
escrito no Antigo Testamento somente para pecados 48
Veja France, 282.
“sexuais”. Portanto, a indecência em Deuteronômio 49
Andrew Cornes, Divorce and Remarriage:
24:1 pode se referir a violações sexuais menores, mas Biblical Principles and Pastoral Practice (Grand
às vezes também pode incluir adultério. Rapids, MI: Eerdmans, 1993), 90, escreve: “A que
33
Cf. Bruce, 110; Sand, 389; David Hill, The se refere a expressão ‘esta palavra’ (11)? A mais pro-
Gospel of Matthew, New Century Bible Commentary, vável resposta é que se refere ao que foi dito pouco
reimpresso da edição de 1972 (Grand Rapids, MI: antes: a opinião dos discípulos de que se o novo
Eerdmans, 1990), 280. casamento após o divórcio (ao menos em muitas,
34
Cf. Sand, 391. talvez em todas, as circunstâncias) é incorreto para
35
Donald A. Hagner, “Matthew 14-28”, em Word o seguidor de Cristo (cf. 9) então o sábio procedi-
Biblical Commentary, vol. 33B (Dallas, TX: Word, mento é não casar (10). Jesus – talvez para surpresa
1995), 548-549. deles – não descarta esta opinião de improviso. Ao
36
Nichol, 5:454. Cf. também 5:337. contrário, para algumas pessoas isto é precisamente
37
Cf. Meyer, 339. o que Deus tem ‘concedido’ (11)... O ponto de vista
38
Cf. Horst ReiBer, “Moixeúw,” in Theologis- alternativo de que ‘esta palavra’ significa a proibi-
ches Begrifflexikon zum Neuen Testament, editado ção do divórcio por Cristo exceto em infidelidade
por Lothar Coenen, Erich Beyreuther e Hans Biete- conjugal (3-9) ou Sua proibição do novo casamento
nhard, 1:199-200 (Wuppertal: Theologischer Verlag (9) – é insustentável. Parece impossível que, tendo
R. Brockhaus, 1977), 200. Cf. Patte, 266. introduzido Sua conclusão com as solenes palavras:
39
Cf. Ekkehardt Mueller, “Fornication,” http:// ‘eu vos digo’ (9), Ele então prosseguisse para afirmar
biblicalresearch.gc.adventist.org. que alguns podem legitimamente recusar Seu ensino
40
Grundmann, Das Evangelium nach Matthäus, porque isto não lhes foi concedido...‘ Nem pode
428. Ele estar dizendo em 11: ‘Nem todos aceitam Seu
41
Hill, 280-281. ensino, mas somente aqueles [i.e. todos os cristãos]
42
Contra o novo casamento de um cônjuge a quem isto foi concedido’, declarando o fato um
que não se envolveu em adultério, questiona, por tanto óbvio de que enquanto os cristãos observarão
exemplo, Bruce, 110; Grundmann, Das Evangelium Seu ensino sobre divórcio e novo casamento, aqueles
nach Matthäus, 428; e Hagner, 549; enquanto que que não são cristãos não o farão. Isto provocaria uma
o novo casamento no mesmo caso é apoiado , e.g., estranha e desconexa reação ao seu protesto em 10;
por France, 281-282; Keener, 43-44; Lille, 99-120; também tornaria o 12 (com sua conexão ‘porque’)
David K. Lowery, “A Theology of Matthew,” in A uma estranha e incoerente observação.”
Biblical Theology of the New Testament, editado por 50
Veja Cornes, 92.
Roy B. Zuck (Chicago: Moody Press, 1994), 59; e 51
Cf. Cornes, 93.
Nicol, 5:454. 52
Grudmann, Das Evangelium nach Matthäus,
43
Alguém poderia argumentar: O marido que 429 (traduzido).
53
Cf. Hagner, 550.

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