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CONSELHO DE EDUCAÇÃO E CULTURA

IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS – CUIABÁ/MT

PARECER TEMÁTICO

Tema: Divórcio de obreiros e suas implicações

O presente parecer tem por objetivo subsidiar a Convenção de Ministros das


Assembleias de Deus acerca da questão do divórcio de obreiros, apresentando uma
reflexão bíblico-teológico consistente. Esclarecemos que este documento não tem a
pretensão de percorrer exaustivamente o tema, mas lidar especificamente o assunto,
considerando sua relação direta com as qualificações ministeriais para o exercício de
liderança da igreja.

1. UMA BREVE CONSIDERAÇÃO SOBRE O TEMA GERAL DO DIVÓRCIO

Apesar de não verificar exaustivamente o assunto, faz-se necessário, ao menos


brevemente, estabelecer algumas bases de antemão, a saber:
1. O plano original e ideal de Deus para o casamento, à luz de Gn 1.27, 2.4,
é de que o matrimônio seja constituído como uma aliança instituída antes da queda, e
aprovada com a satisfação de Deus (Gn 1.27 e 28). Essa união matrimonial é solene,
implicando, implicitamente, a valorização da fidelidade na relação (Pv 2.17; Ez 16.8; Ml
2.14). Na lei do sétimo mandamento, está subentendido, que fidelidade/não adultério
será real no pacto monogâmico (Êx 20.14; Dt. 5.18). A natureza do casamento é
essencialmente permanente e Deus tem como intenção que sua dissolução aconteça
apenas pela morte de um dos cônjuges (Rm 7.1; 1 Co 7.39; 1 Tm 5.14). O padrão da
aliança do casamento é a monogamia, claramente exposta na sentença de Gn 2.24: “o
homem [...] sua mulher” (Gn 2.24). O casamento tem caráter preventivo e protetor,
pois é eficaz contra a imoralidade, promiscuidade e concupiscência, por exemplo,
conforme Paulo cada um deve ter “sua própria esposa e cada uma o seu próprio marido”
(1 Co 7.2; 1 Co 7.5,9).
2. O ensino bíblico sobre o divórcio e novo casamento conta com alguns
textos principais. No Antigo Testamento o principal texto sobre o assunto está em Dt
24.1-4, que em linhas gerais “não requer, não recomenda e nem mesmo sanciona o
divórcio”1, mesmo que o permita sobre base muito restrita. O texto considera a
possibilidade de divórcio e novo casamento2, mesmo não o aprovando. Jesus interpretou

1
STOTT. John. Grandes questões sobre sexo. Rio de Janeiro: Vinde Publicações, 1993, p. 71.
2
DUTY, Guy. Divórcio e novo casamento. Venda Nova: Betânia, 1979, p. 29. O autor afirma que a carta
de liberdade ou carta de divórcio não significava apenas separação, mas, que “o vínculo matrimonial era
essa passagem, informando que o motivo pelo qual Moisés permitiu (não ordenou) foi
pela “dureza do vosso coração, vos permitiu [...] (Mt 19.8). Os “estatutos mosaicos
foram introduzidos não para substituir o plano original do Criador, mas apenas para
reconhecer a realidade da dureza do coração humano”3. Vale frisar que o texto tem
caráter descritivo, e não prescritivo, isto é, não aprova e nem encoraja o ato do divórcio.
3. Jesus em dada situação, questionado pelos fariseus sobre o casamento e
o divórcio, se posiciona em desfavor das escolas rabínicas4 que disputavam a
interpretação do texto de Deuteronômio 24. Ele, por sua vez, reafirma o projeto ideal
de casamento estabelecido no princípio, na criação (Mt 19.8, a parte final; cf. Gn 2.24),
como uma união duradoura e monogâmica. Acerca do divórcio, Jesus inclui a chamada
cláusula de exceção, conforme Mt 5.32, e Mt 19.9, em que o divórcio seria autêntico e
permissível5, isto é, o motivo para o divórcio legítimo é a imoralidade sexual6 ou o
adultério. É saudável reiterar que Jesus tem o casamento em mais alta conta, e o divórcio
permitido por causa da dureza de coração e falta de perdão, mas não faz dele, a saber
do divórcio, um ato obrigatório.
4. No ensino de Paulo o tema também aparece no texto de 1 Co 7.10-16,
contexto no qual o apóstolo instrui sobre a situação em que há o abandono por parte
de um cônjuge não cristão. Essa declaração constitui o que se convencionou chamar o
“privilégio paulino”. Paulo, portanto, usando de sua própria autoridade apostólica (1 Co
7.12) ao lidar com a questão do casamento misto - entre um cristão e um não cristão -
afirma que o cristão não deve se divorciar, todavia, se a parte incrédula quiser se separar
ou apartar-se, sem que haja possibilidade de manutenção do casamento por parte do
cônjuge não cristão, “[...] aparte-se; porque neste caso o irmão, ou a irmã, não está
sujeito à servidão [...]” (1 Co 7.15). Ressalta-se que o “[...] tempo verbal de “sujeitos à
servidão” (ou dedoulotai, tempo perfeito) em 7.15 sugere que o incrédulo abandonou o
casamento no passado e, como resultado, o cônjuge cristão que permaneceu no lar “não
está mais sujeito à servidão” no presente (com o efeito de que o abandono persiste no
presente)”7. No mesmo capítulo, v.39, Paulo diz que: “A mulher casada está ligada pela
lei todo o tempo em que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre para
casar com quem quiser, contato que seja no Senhor”. Neste último verso, no v.39, o
apóstolo usa o termo grego deo, traduzindo a palavra ligada, cujo sentido é estar unido
aos laços matrimoniais. O termo deo faz parte do mesmo campo semântico do termo
dedoulotai traduzido no v.15 como servidão, o que indica com grande probabilidade, que

completamente rompido” e assim dando o direito da pessoa divorciada legitimamente de contrair um


novo casamento. Em outros termos, o divórcio sem a consequente possibilidade de novo casamento era
um entendimento estranho aos judeus.
3
KÖSTENBERGER, Andreas J., JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o
fundamento bíblico. tradução de Susana Klassen. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 235.
4
STOTT. John. Grandes questões sobre sexo. Rio de Janeiro: Vinde Publicações, 1993, p. 73-75.
5
BLOMBERG, Craig L. Marriage, divorce, remarriage, and celibacy: An exegesis of Matthew 19:3-12.
Trinity Journal, v.11, p. 161-196, 1990.
6
CARSON, Donald A. Divorce: A concise biblical analysis. Northwest Journal of Theology 4 (1975): 43-
59. Disponível em http://s3.amazonaws.com/tgc-documents/carson/1975_divorce.pdf. Acesso em:
06.02.2021.
7
KÖSTENBERGER, Andreas J., JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o
fundamento bíblico. tradução de Susana Klassen. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 254.
Paulo esteja fazendo uma analogia de que “quando o cônjuge incrédulo abandona o
parceiro, é como se o cônjuge incrédulo tivesse morrido”8. Em suma, podemos aplicar
os dados bíblicos de 1 Co 7.15 e 39 do seguinte modo: “A lei geral do casamento é
enunciada no verso 39 [...], mas no verso 15 ele abre uma exceção para esta regra
geral”9.

2. DA QUALIFICAÇÃO DO LÍDER E SUA RELAÇÃO MATRIMONIAL


Diante da breve e panorâmica revisão com respeito ao divórcio, sua dissolução
e o novo casamento, os pressupostos até aqui estabelecidos, levam-nos à seguinte
questão: E quanto ao divórcio dos obreiros e ministros?
Passemos a considerar os principais textos bíblicos que dedicam especial atenção
à relação conjugal do líder, como parte dos requisitos adequados para o exercício do
ministério cristão, quais sejam: 1 Tm 3.2,12, e Tt 1.6. Os três versículos citados
apresentam a expressão traduzida por “marido de uma mulher”. É possível notar a
dificuldade de tradução e interpretação da expressão grega considerando as várias
traduções10 da Bíblia e as nuances apresentadas.
Ao longo do tempo os comentaristas ofereceram diversas possibilidades
interpretativas, com vistas a esclarecer o que exatamente Paulo queria dizer ao afirmar
que o líder deveria ser “marido de uma só mulher”. Alguns chegam a afirmar que existem
cerca de “onze opiniões diferentes sobre a interpretação precisa da expressão”11. A fim
de chegar a uma conclusão consistente, analisaremos as principais intepretações do
texto, compartilhando seus pontos fortes, quando houver, e as objeções às quais devem
responder.
A exigência que Paulo apresenta é de que:
1. O líder seja casado: Com isso Paulo estaria afirmando que estão
desqualificados para a obra do ministério aqueles que não são casados. Essa, porém, se
mostra uma alternativa interpretativa bastante improvável12, pois: a) estariam
desqualificados para o exercício do ministério, o próprio Paulo, que disse estar só em
boa parte do seu ministério (1 Co 7.7-8), o próprio Senhor Jesus, e provavelmente
Timóteo; b) em 1 Co 7.32-35, o próprio apóstolo Paulo discorre acerca das inúmeras
bênçãos da solteirice, sendo uma dela a dedicação ao serviço do Senhor; c) em 1 Tm 4.3

8
KÖSTENBERGER, Andreas J., JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o
fundamento bíblico. tradução de Susana Klassen. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 254-255.
9
DUTY, Guy. Divórcio e novo casamento. Venda Nova: Betânia, 1979, p. 97.
10
Os textos de 1 Tm 3.2,12 e Tt 1.6, apresentam a expressão grega (transliterada) mias gynaikas andra
traduzida como: NASB, NKJV, NJB, ACF, ARC “marido de uma mulher”; ARA, NVI “marido de uma só
mulher”; NRSV, A Mensagem “casado só uma vez”; TEV “somente deve ter uma mulher”; NLT
“comprometido com sua mulher”; NVT “fiel à sua esposa. Ainda é possível observar nuances de tradução
da expressão grega dentro dos textos da tradução da Bíblia.
11
SWINDOLL, Charles R. Comentário Bíblico Swindoll: 1, 2 Timóteo, Tito. tradução: Regina Aranha.
– São Paulo: Hagnos, 2018, p. 313.
12
KÖSTENBERGER, Andreas J., JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o
fundamento bíblico. tradução de Susana Klassen. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 271-274.
Paulo combate os falsos mestres que proibiam entre outras coisas o casamento13, e diz
que o matrimônio foi criado por Deus “para os fiéis [...] a fim de usarem deles com
ações de graças”; d) se o requisito fosse o casamento, isto é, que o líder devesse ser
casado, o apóstolo poderia ser mais específico usando a gamos, “casados”. Vale destacar
que a separação de jovens e/ou homens solteiros requer cautela. Pode-se acrescentar
ao menos dois argumentos positivos em favor de que os ministros sejam casados: a) 1
Co 9.5 presume que os líderes da igreja normalmente eram casados; b) o contexto das
listas de qualificações dos obreiros apresenta a vida conjugal e familiar como áreas às
quais deviam ser irrepreensíveis (1 Tm 3.4).
2. O líder não seja polígamo: Essa interpretação propõe que o líder não
poderá ser polígamo, não devendo ser simultaneamente casado com várias mulheres.
Contudo por este texto em específico: a) não é possível apresentar evidências que
demonstrem que a poligamia fosse comum entre os primeiros cristãos para justificar sua
menção prioritária entre os requisitos ministeriais14; b) inclusive, a poligamia “era
característica tão rara na sociedade pagã que tal proibição seria insignificância
inaplicável”15; c) em 1 Tm 5.9 há uma expressão paralela com respeito às viúvas que
poderiam receber o auxílio e sustento da igreja; d) todavia, se no texto em destaque
Paulo estiver proibindo a poliandria16, o casamento de uma mulher com muitos maridos,
ele estaria, portanto, considerando haver a presença e o risco de tal ação entre os
cristãos, porém, os estudiosos estão de acordo em que não há evidências de que esse
comportamento fosse presente no primeiro século. Por outro lado, de fato, o líder não
deve ser polígamo, isso porque o plano original e ideal de Deus para o casamento é que
seja monogâmico, de acordo Gn 2.24: “o homem [...] sua mulher”.
3. O líder não seja recasado após viuvez: Paulo estaria dizendo que o
líder deveria ser casado uma única vez, tendo uma única esposa em toda a sua vida. Se
essa for a interpretação os viúvos não poderiam casar-se novamente. Entretanto, o
Novo Testamento é decisivamente contrário à essa posição, pois: a) Paulo havia dito em
Rm 7.1-3 e 1 Co 7.39 que após a morte do cônjuge, a pessoa está livre para casar-se
novamente; b) até as viúvas jovens recebem orientação para casarem-se novamente a
fim de evitar tentações (1 Tm 5.14); c) Paulo em Tt 2.1-2 enumera algumas características
que tornariam os homens mais velhos adequados à sã doutrina, e não inclui a casamento
único como uma delas.
4. O líder não seja divorciado: Paulo estaria, portanto, proibindo que o
líder fosse divorciado, e consequentemente aqueles que se casaram novamente. Contra
essa posição há, porém: a) o próprio apóstolo considerou que é possível que viúvos se
casem novamente (1 Tm 5.14); b) Paulo admitiu que em determinada circunstância o
divórcio é legítimo: seja após morte do cônjuge (Rm 7.1-3; 1 Co 7.39), seja após o

13
ACKERMAN, David A. Novo Comentário Bíblico Beacon: 1 Timóteo. Rio de Janeiro: Central Gospel,
2020, p. 150 e 192.
14
STOTT, John R. W. A mensagem de 1ª Timóteo e Tito: a vida da Igreja local: a doutrina e o dever.
tradução: Milton Azevedo Andrade. – São Paulo: ABU Editora, 2004, p. 92.
15
FEE, Gordon D. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: 1 e 2 Timóteo, Tito. tradução: Luiz
Aparecido Caruso. – São Paulo: Editora Vida, 1994, p. 91.
16
STOTT, John R. W. A mensagem de 1ª Timóteo e Tito: a vida da Igreja local : a doutrina e o dever.
tradução: Milton Azevedo Andrade. – São Paulo: ABU Editora, 2004, p. 92.
abandono ou deserção do companheiro(a) (1 Co 7.15); c) por se tratar de um tema tão
delicado Paulo poderia ter sido mais específico expressando-se de modo menos
ambíguo, podendo ter afirmado diretamente: não seja divorciado17. Salienta-se que, com
exceção dos textos de tradução disputada, as Epístolas Pastorais não fazem referência
óbvia sobre a impossibilidade do divórcio e recasamento de líderes. Não obstante, essa
interpretação tem em seu favor que o divórcio e o novo casamento eram “prática
frequente na sociedade greco-romana”, e como Dt 24 e Mt 19 demonstram, não era
desconhecida dos judeus18. Alguns intérpretes chegam a dizer que a disputa expressão
“marido de uma só mulher”19 pode ser entendida como tendo uma dupla ênfase20.
Destarte, o líder não pode ser divorciado, assim como deve estar comprometido com
sua única esposa.
5. O líder seja um marido fiel: Essa interpretação considera que a frase
“marido de uma só mulher” seja melhor compreendida como uma expressão idiomática
cujo significado é um “termo para fidelidade conjugal”21. Objeta-se que: a) a
interpretação não favorece uma leitura literal do texto; b) a consequência lógica do
texto, portanto, seria a de que o líder poderia ter uma esposa por vez, e assim não seria
possível estabelecer um limite dos relacionamentos sucessivos. Em contrapartida afirma-
se que essa leitura do texto, exigindo como qualidade que o marido seja fiel à sua esposa:
a) pretende excluir “homens que tinham uma ou mais concubinas ou que haviam sido
infiéis à esposa de alguma outra maneira”22; b) o texto apresenta uma relação intrínseca
com 1 Tm 5.9, em que a viúva afim de receber o sustento da igreja deveria ser qualificada
como “fiel a seu marido” 23 ou “mulher de um só marido”; c) em 1 Tm 5.14 Paulo
incentiva a que viúvas jovens casem-se outra vez. Não seria de bom tom que o apóstolo
instruísse a que essas viúvas praticassem quaisquer pecados, considerando que o
segundo casamento fosse assim entendido; d) a exigência de que o marido seja fiel é um
correspondente coerente tanto do sétimo mandamento, qual seja, “Não adulterarás”
(Êx 20.14), como da lei do reino em que Jesus ressignifica e amplia a compreensão de

17
KÖSTENBERGER, Andreas J., JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o
fundamento bíblico. tradução de Susana Klassen. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 272.
18
DUTY, Guy. Divórcio e novo casamento. Venda Nova: Betânia, 1979, p. 22. O autor cita Alfred
Edersheim para afirmar que as escolas rabínicas se dividiam acerca do tema do divórcio, mas, “todos
defendem a ideia de que o divórcio é legítimo, questionando-se apenas suas motivações”.
19
MOUNCE, William. Word Biblical Commentary: pastoral epistles. V.46. Nashville: Thomas Nelson,
2000, p. 159, afirma ser importante considerar a tradução como sendo “marido (homem) de uma só
mulher”, pois, o verso torna-se um forte argumento a favor da exclusividade masculina na liderança
eclesiástica.
20
KENT, Homer A. The pastoral epistles: studies in 1 and 2 Timothy and Titus. Winona Lake, IN: BMH
Books, 2001, p. 126: “Ele deve ser comprometido com ela e lhe dar todo o amor e toda a consideração
que a esposa merece. [A frase] significa mais que simplesmente não ser divorciado, embora esse fato
objetivo pudesse ser verificado pela igreja”.
21
KÖSTENBERGER, Andreas J., JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o
fundamento bíblico. tradução de Susana Klassen. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 273.
22
KÖSTENBERGER, Andreas J., JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o
fundamento bíblico. tradução de Susana Klassen. - 2. ed. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 273.
23
É válido observar que a melhor tradução de 1 Tm 5.9 é “fiel a seu marido”, pois, de outro modo Paulo
estaria proibindo que mulheres em poliandria fossem sustentadas e com isso supondo que a prática fosse
relevante para receber sua atenção. Já foi destacado em acima que a poliandria era uma prática quase
inexistente no mundo antigo.
adultério como significando fidelidade conjugal (Mt 5.27-28); e) aliás, a fidelidade conjugal
como requisito para o ministro coaduna com as cláusulas de exceção que afiançam
condições para o divórcio e novo casamento legítimos – imoralidade sexual, abandono
(Mt 5.31 e 32; Mt 19.1-12; 1 Co 7.10-16); f) o contexto das listas de qualificação
ministerial favorece a fidelidade como parte do caráter do obreiro (1 Tm 3, e Tt 1.5-9).

3. DA AVALIAÇÃO DOS DADOS BÍBLICOS E TEOLÓGICOS


APRESENTADOS
Após o exposto, diante dos dados observados, consideramos resumidamente as
conclusões obtidas e algumas de suas implicações:
1. A Bíblia apresenta a perpetuidade como umas das premissas do
casamento ideal.
2. O divórcio é visto ao longo da Escritura como uma remediação do
entranhado problema do coração humano – sua dureza. Por isso o divórcio é
considerado legítimo, isto é, ele é permitido em circunstâncias específicas: imoralidade
sexual, abandono por cônjuge não cristão e morte (viuvez). Ressalta-se que o divórcio
nas duas primeiras situações, imoralidade e abandono, são considerados legítimos com
a consequente possibilidade de novo casamento, também legítimo.
3. O divórcio não é apresentado como uma obrigatoriedade, a Bíblia não
exige que o divórcio aconteça, mas o permite. Assim sendo, o perdão e a restauração
do matrimônio são alternativas viáveis e incentiváveis. A igreja deve ainda levar em conta
que outros casos mais delicados poderão envolver a decisão e até a necessidade de
divórcio como em casos de violência, agressão e risco à vida.
4. Os debatidos textos de 1 Tm 3.2,12 e Tt 1.6 apresentam diversas
interpretações. Daquelas que foram neste texto listadas, as posições que afirmam que o
ministro não deve ser divorciado e deve ser fiel à sua esposa parecem, juntas, fazer
melhor jus aos dados vistos. Vale elucidar que não é possível restringir o acesso à
liderança eclesiástica aos divorciados legitimamente com base nos textos
destacados.
5. É preciso ainda levar em consideração casos em que o divórcio tenha
ocorrido antes da conversão. Não se pode esquecer que a manutenção do casamento
atual e a busca de perpetuidade do mesmo deve ser incentivada.
6. Destacamos que o ideal é que o ministro seja: casado (1 Co 9.5),
monogamicamente (Gn 2.24), em caso de ser jovem, não deve ser neófito (1 Tm 3.6),
no caso de divorciados, que o divórcio seja legítimo (Mt 5.31 e 32; Mt 19.1-12; 1 Co
7.10-16), e seja um marido fiel à sua esposa (1 Tm 3.2,12 e Tt 1.6).

4. DA RESOLUÇÃO Nº 01/2011 DA CONVENÇÃO GERAL DAS


ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL - CGADB
1. Sob o aspecto convencional, cabe registrar a vigência da Resolução CGADB
nº 01/2001, com o seguinte teor:
RESOLUÇÃO DO PLENÁRIO DA CGADB Nº 001/2011
Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, no uso de suas atribuições e de
conformidade com o disposto no art. 3º, III, IV c/c o art. 8º, I, do Estatuto Social;

Considerando a existência de Ministros, membros da CGADB, em situação de Divórcio;

Considerando a necessidade dessa Convenção Geral em traçar normas que


regulamentem a situação ministerial dos seus membros, no sentido de preservar e
manter os princípios morais e espirituais que embasam a doutrina das Assembléias de
Deus no Brasil;
Considerando que é dever dessa CGADB zelar pela observância da doutrina bíblica e
dos bons costumes dos membros das Assembléias de Deus, em todo território nacional,
sem prejuízo da atuação das respectivas Convenções Estaduais;

RESOLVE:

Art. 1º A CGADB só reconhece o Divórcio no âmbito ministerial de seus membros,


nos casos de infidelidade conjugal, previstos na Bíblia sagrada e expressos em Mt. 5:31-
32; 19:9, devidamente comprovados.
Art. 2º. As Convenções Estaduais deverão esgotar todos os esforços possíveis no
sentido de promover a reconciliação do Ministro e sua esposa, antes de serem ajuizadas
Ações de Divórcio.
Art. 3º. Esta CGADB não reconhece, no âmbito da vida ministerial de seus membros, a
situação de União Estável.
Art. 4º. O Ministro, membro desta CGADB, divorciado nos termos do disposto no art.
1º. desta Resolução ou no caso, onde a iniciativa do divórcio partir da sua esposa (1 Co
7: 15), poderá permanecer ou não, na função ministerial, decisão essa, que ficará a cargo
da Convenção Estadual da qual é filiado, facultando-se-lhe o direito de recurso para Mesa
Diretora e para o para o Plenário desta Convenção Geral.
Parágrafo 1º. O Ministro, vítima de infidelidade conjugal por parte de sua esposa, poderá
contrair novas núpcias, respeitados os princípios bíblicos que norteiam a união conjugal,
nos termos da permissibilidade concedida por Cristo, em Mateus 5. 31 e 32; 19. 9,
ficando cada caso a ser examinado e decidido pelas Convenções Estaduais.
Parágrafo 2º. Quando o Ministro der causa ao divórcio, a sua permanência ou retorno
ao ministério dependerá de exame e decisão da Convenção Estadual, facultando-se-lhe
ampla defesa, sendo-lhe também assegurado recurso para a Mesa Diretora e para o
plenário da Convenção Geral.
Art. 5º. O Ministro, membro desta CGADB que acolher Ministro divorciado sem a
observância do disposto na presente Resolução, será responsabilizado disciplinarmente,
no âmbito desta Convenção Geral.
Art. 6º. Ficam os Presidentes de Convenções e demais membros desta CGADB
autorizados a divulgar entre a membresia das Igrejas Evangélicas Assembléias de Deus
em todo o território nacional, o inteiro teor desta Resolução.
Art. 7º. Esta Resolução entrará em vigor na data da sua publicação no “Mensageiro da
Paz”, órgão oficial de publicação dos atos desta Convenção Geral.
Art. 8º. Revogam-se a resolução 001/95, de 29 de Janeiro de 1995 e demais disposição
em contrário.
Plenário da 40ª Assembléia Geral Ordinária da CGADB em Cuiabá (MT), 13 de abril de
2011.

2. Dessa forma, a resolução convencional prevê duas hipóteses de divórcio: a


infidelidade (art. 1º) e o abandono ocasionado pela esposa (art. 4º). Contudo, cabe
observar que a norma estabelece que, mesmo nesses casos, o ministro “poderá
permanecer ou não, na função ministerial, decisão essa, que ficará a cargo da Convenção
Estadual da qual é filiado, facultando-se-lhe o direito de recurso para Mesa Diretora e
para o para o Plenário desta Convenção Geral”.
3. Segundo inteligência do parágrafo 1º, o Ministro, vítima de infidelidade conjugal
por parte de sua esposa, poderá contrair novas núpcias, respeitados os princípios
bíblicos que norteiam a união conjugal, nos termos da permissibilidade concedida por
Cristo, em Mateus 5. 31 e 32; 19. 9, ficando cada caso a ser examinado e decidido pelas
Convenções Estaduais.
4. Cabe observar, porém, que o parágrafo 2º também faculta à Convenção
Estadual a deliberação sobre a permanência ou retorno do Ministro que tenha dado
causa ao divórcio, garantindo o contraditório e a ampla defesa, sendo-lhe também
assegurado recurso para a Mesa Diretora e para o plenário da Convenção Geral.
5. Portanto, embora a Resolução CGADB nº 01/2001 reconheça que a
infidelidade e o abandono ocasionado pela esposa sejam divórcios legítimos, que
possibilitam ao Ministro a permanência no ministério, podendo inclusive casar-se
novamente, cabe à Convenção Estadual a análise e a decisão do caso concreto.

5. CONCLUSÃO
1. Diante da avaliação dos fundamentos bíblicos e teológicos apontados no item
3 deste parecer, os ministros divorciados legitimamente, em virtude de infidelidade e/ou
abandono ocasionado pela esposa, podem permanecer no exercício de suas atividades
eclesiásticas;
2. Considerando que a decisão sobre a permanência ou não do Ministro cabe à
Convenção Estadual, garantindo o contraditório e a ampla defesa, sendo-lhe também
assegurado recurso para a Mesa Diretora e para o plenário da Convenção Geral,
julgamos importante a aprovação de uma resolução estadual que regulamente o
procedimento sigiloso nos casos de divórcio de ministros;
3. Além de garantir unidade e tratamento isonômico nas situações de idêntica
natureza, o procedimento de divórcio de ministros será importante inclusive para
apurar, a partir dos dados, informações e demais provas colhidas durante a instrução, as
reais motivações que tenham ocasionado o fim do matrimônio, possibilitando avaliar a
conduta ética e familiar do obreiro (1Tm 3.1-7), assim como sua eventual contribuição
para o divórcio.
É o parecer.

Cuiabá, 10 de fevereiro de 2021.

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