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Utilização de Histórias em Quadrinhos nas Aulas de História

Aliandro Mendes de Oliveira1


Drª Maria Paula Costa2

Resumo

Este artigo apresenta o estudo realizado durante o PDE/2016 com alunos da 3ª série do Ensino
Médio, do Colégio Estadual Newton Felipe Albach, do município de Guarapuava-PR. O projeto propõe
a utilização de histórias em quadrinhos de super-heróis produzidas nos Estados Unidos na década de
1960, nas aulas de História, como fonte para o estudo do contexto histórico no qual as mesmas foram
produzidas, analisando questões sociais, políticas, econômicas, entre outras, objetivando o
desenvolvimento de uma consciência histórica nos participantes e buscando uma metodologia de
ensino que possa levar a tal objetivo, uma vez que um dos maiores desafios encontrados pelos
professores em sala de aula na atualidade é a falta de motivação dos alunos para com o modelo
tradicional de educação. Diante disso, é de fundamental importância para o professor a utilização de
estratégias que chamem a atenção dos estudantes para a aprendizagem, que despertem o interesse
para a cultura, para o saber, e que eles percebam que essa facilidade de acesso à informação pode
ser utilizada para a ampliação dos conhecimentos, e não apenas como mera distração.

Palavras-chave: História; quadrinhos; contexto; ensino; educação histórica

Introdução

A História no Brasil, como disciplina escolar, já passou por concepções e


tendências com visões diferentes sobre os objetivos e métodos de ensino, tendo, em
seus primórdios, a Europa como principal referência dos conteúdos programáticos.
As diretrizes da Lei de Educação de 1931 e 1961, junto com os programas da época
utilizados nas escolas, revelam o objetivo da formação da nacionalidade, com
destaque para os marcos históricos e nomes de grandes heróis. No final da década
de 60, durante a Ditadura Militar, os conteúdos específicos de História, com
concepções tradicionais, foram relegados apenas ao antigo segundo grau, e as
disciplinas de Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica identificavam-se com os
interesses e a ideologia do regime ditatorial (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p. 10-11).
Dessa maneira, tais disciplinas tinham como finalidade, intrinsecamente, salientar a
obediência, a exaltação e o não questionamento ao governo. Com o fim do período
militar, a disciplina de História foi restabelecida no currículo escolar do ensino
fundamental e médio, ganhando força a concepção de que o ensino de História deve

1 Professor de História do Quadro Próprio do Magistério da Secretaria de Estado da Educação do Paraná,


participante do PDE-turma 2016.
2 Docente do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste. (Unicentro/PR).
objetivar a formação do indivíduo crítico. Como destaca Bittencourt, “a disciplina ou
matéria escolar visa formar um cidadão comum que necessita de ferramentas
intelectuais variadas para situar-se na sociedade e compreender o mundo físico e
social em que vive” (CAIMI, 2009, p. 66).
Dentro desta busca, ou seja, a formação de um cidadão capaz de entender
o seu mundo físico e social e as relações que o permeiam, é que alguns professores
foram buscar na vertente denominada educação histórica, métodos de ensino de
história que sejam capazes de desenvolver nos alunos tais capacidades. A educação
histórica, apoiada em autores como Jörn Rüsen, Isabel Barca, Peter Lee e Maria
Auxiliadora Schmidt, tem o seu principal foco de interesse as ideias históricas que os
sujeitos constroem a partir de suas interações sociais, destacando a relevância do
contexto social nos percursos de aprendizagem. Trazendo tal concepção para a
relação ensino/aprendizagem da História como disciplina escolar, “busca conhecer
as ideias históricas de alunos e professores, centrando a atenção “nos princípios,
fontes, tipologias e estratégias de aprendizagem em história””(CAIMI, 2009, p. 70).
É nessa mesma perspectiva que a DCE de História, do Estado do Paraná,
destaca o uso de fontes históricas na sala de aula:

O trabalho com documentos e fontes históricas pode levar a uma


análise crítica sobre o processo de construção do conhecimento
histórico e dos limites de sua compreensão. Tal abordagem é
fundamental para que os alunos entendam:
• os limites do livro didático;
• as diferentes interpretações de um mesmo acontecimento histórico;
• a necessidade de ampliar o universo de consultas para entender
melhor diferentes contextos;
• a importância do trabalho do historiador e da produção do
conhecimento histórico para compreensão do passado;
• que o conhecimento histórico é uma explicação sobre o passado
que pode ser complementada com novas pesquisas e pode ser
refutada ou validada pelo trabalho de investigação do historiador.
(DCE, 2008, p.70)

Como salienta Bittencourt, o principal objetivo de tal prática é o


desenvolvimento da autonomia intelectual no aluno, permitindo-lhe a realização de
análises críticas da sociedade por meio de uma consciência histórica (DCE, 2008, p.
69). Esse documento, que é um dos norteadores da educação paranaense, enfatiza
que ao trabalhar com vestígios na aula de História, é indispensável a utilização de
documentos contemporâneos, entre os quais estão listados os quadrinhos. Ainda,
segundo a DCE de História (2008, p.78), as histórias em quadrinhos “são
documentos que podem ser transformados em materiais didáticos de grande valia
da constituição do conhecimento histórico”, podendo ser utilizadas para a
determinação de sua origem, natureza, autor(es), datação, entre outros pontos
importantes, superando as meras ilustrações das aulas de História.
Diante do exposto, este artigo apresenta os resultados obtidos por meio da
implementação do projeto, realizada através de nove encontros presenciais com os
alunos da 3ª série do Ensino Médio, do Colégio Newton Felipe Albach, no município
de Guarapuava, Paraná, o qual objetivou o aprofundamento dos conhecimentos nos
temas abordados, o desenvolvimento do olhar crítico dos participantes, além de
exercitar a análise do discurso, para que os mesmos possam perceber que por trás
de toda produção, de forma explícita ou não, está intrínseco o discurso de quem o
produziu. No total, eram 32 participantes, com idades entre 16 e 17 anos. Partindo
de uma investigação na perspectiva da Educação Histórica, foram utilizadas
histórias em quadrinhos de super-heróis, publicadas nos EUA na década de 60, nas
aulas de História como fontes para o estudo do contexto histórico no qual as
mesmas foram produzidas, analisando questões sociais, políticas, econômicas,
entre outras, com a finalidade de construir, gradualmente, o conhecimento sobre o
contexto histórico em que elas foram produzidas.

História, quadrinhos e ensino

Na atualidade, um dos maiores desafios encontrados pelos professores em


sala de aula é a falta de motivação dos alunos para com o modelo tradicional de
educação. O avanço tecnológico das mídias e a facilidade de acesso a elas,
causaram uma verdadeira revolução na comunicação e, nos últimos anos, por
consequência, na informação, tornando-as, além de acessíveis, muito mais rápidas,
fazendo com que a noção de passagem do tempo passasse a ter grande
dinamicidade. Com isso, as aulas onde o professor se apresenta como o único
detentor e transmissor do conhecimento, apenas falando e escrevendo com giz no
quadro, preso às informações do livro didático como única referência de informação,
como se este instrumento trouxesse a “verdade histórica”, tornaram-se, para a atual
juventude, algo tedioso e desestimulante. Diante disso, é de fundamental
importância para o professor a utilização de estratégias que chamem a atenção dos
estudantes para a aprendizagem, que despertem o interesse para a cultura, para o
saber, e que eles percebam que essa facilidade de acesso à informação pode ser
utilizada para a ampliação dos conhecimentos, e não apenas como mera distração.

Tratando, especificamente, da disciplina de História, o ensino preso a fatos


históricos, datas comemorativas e heróis oficiais, torna o conteúdo algo distante do
aluno. O ensino necessita ter significado para o estudante que precisa sentir-se
como sujeito do processo histórico e, assim, desenvolver uma consciência histórica.
Segundo a DCE de História (2008, p. 56-57), entende-se que a consciência histórica
é uma condição da existência do pensamento humano. Os sujeitos se constituem a
partir das relações sociais, em qualquer período e local do processo histórico. Os
historiadores Thompson e Rüsen esclarecem o conceito de “consciência histórica”.
Para Thompson, as experiências históricas dos sujeitos se expressam em suas
consciências. Rüsen define a consciência histórica como o conjunto “das operações
mentais com as quais os homens interpretam sua experiência” da mudança temporal
“de seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente,
sua vida prática no tempo” (DCE, 2008, p. 56-57).

Flávia Eloisa Caimi, tratando sobre a relação ensino e aprendizagem de


História, cita um provérbio que diz: “para ensinar história a João é preciso entender
de ensinar, de história e de João”. (CAIMI, 2009, p. 71). Ou seja, para desenvolver
uma consciência histórica no aluno não basta que o professor domine o conteúdo,
mas é necessário, também, que conheça o seu público, o seu aluno, além de
dominar técnicas de ensino eficientes, que chamem a atenção dos educandos.
Caimi, continuando em sua análise, afirma que:

(...)nos processos de ensinar e aprender História estão implicados


três elementos indissociáveis, quais sejam: a natureza da História
que se escolhe ensinar, com seus conceitos, dinâmicas, operações,
campos explicativos; as opções e decisões sobre aspectos de
natureza metodológica, a transposição didática ou o “como ensinar”;
e a especificidade da aprendizagem histórica, que pressupõe o
desenvolvimento de estratégias cognitivas, de noções e conceitos
próprios dessa área de conhecimento com vistas à construção do
pensamento histórico (...) (CAIMI, 2009, p.71).
Portanto, diante dos problemas apresentados, objetivando o
desenvolvimento de uma consciência histórica nos alunos e buscando uma
metodologia de ensino que possa levar a tal objetivo, o projeto abordou o ensino de
História através da utilização de fontes históricas que, no caso, foram as histórias
em quadrinhos de super-heróis produzidas nos Estados Unidos na década de 1960.

As histórias em quadrinhos de super-heróis são uma forma de mídia que


chama a atenção do público jovem e, portando, um recurso que pode ser explorado
com grande aceitação em sala de aula, uma vez que é algo de interesse dos alunos.
Muitos dos super-heróis mais famosos, que estão em grande evidência na
atualidade, foram criados na década de 60, sendo que suas histórias refletem o
contexto histórico da época, um momento marcado por conflitos políticos e
econômicos, a disputa entre duas superpotências (EUA e URSS) cujos reflexos
eram (e ainda são) sentidos no mundo inteiro, como, por exemplo, as guerras na
Ásia e os golpes na América Latina, sendo que, em uma época pré-internet e
aparelhos celulares, onde o acesso à meios de comunicação de massa era muito
mais difícil, grupos midiáticos, juntamente com censuras estatais, controlavam a
informação, o cidadão comum, muitas vezes, nem sabia o que estava acontecendo
no contexto político, econômico e social.

A década de 60 também ficou marcada por muitas protestos e lutas pelos


direitos das minorias como o movimento feminista, dos negros nos EUA, o
movimento hippie, manifestações de maio de 68. Tudo isso faz parte de um
conteúdo de suma importância e que muitas vezes, devido ao tempo, as deficiências
do livro didático ou o não interesse dos alunos, é tratado de maneira superficial.
Portanto, o projeto, através da linguagem das histórias em quadrinhos,
procurou construir uma narrativa histórica envolvente para os participantes, sempre
trazendo do macro para o micro, ou vice-versa, abordando o que estava
acontecendo no contexto histórico internacional, nacional e local, e como uma coisa
não está separada da outra, o que, consequentemente está diretamente ligada a
realidade deles, para que os mesmos se percebam como parte do processo
histórico.

Os quadrinhos, como qualquer outra produção, refletem o tempo e espaço


onde foram produzidos, algumas vezes de forma inconsciente, outras vezes de
forma intencional. Mendo (2008, p.16-17) destaca o engajamento político das
histórias em quadrinhos, apresentando conteúdo altamente ideológico, utilizadas
tanto por regimes totalitários quanto pelos ditos democráticos. O autor descreve
como que nas décadas de 1930 e 1940, durante o crescimento do nazifascismo na
Europa, e a consequente II Guerra Mundial, os governos utilizaram o poder da
comunicação dos quadrinhos sobre as massas de acordo com suas conveniências.
Foi um período onde era comum ver nos comics estadunidenses personagens como
Tarzan enfrentando nazistas na África. É nesta época que aparecem os primeiros
super-heróis, como o Superman, vestido com as cores da bandeira estadunidense e
defendendo “a verdade, a justiça e o estilo de vida americano”, o personagem,
criado por dois jovens artistas judeus, era a resposta ao super-homem ariano, ou
Capitão América, que logo na capa de sua primeira revista aparece dando um soco
em Hitler. No Japão, os heróis dos mangás defendiam os interesses do Império
Nipônico.
Os quadrinhos já foram vistos, no Brasil, como uma leitura apenas para
passar o tempo, uma diversão infantil sem nada para acrescentar à cultura. Houve
até quem defendesse que quadrinhos de super-heróis causavam delinquência
juvenil, seguindo a ideia do psiquiatra estadunidense de origem alemã Fredric
Werthan. Apesar de ainda haver resquícios desta visão preconceituosa, ela está, em
muitos aspectos, superada. Quadrinhos são uma forma de arte, de comunicação e
expressão, que podem ser utilizados, e com grande eficácia, no processo de ensino
nas escolas, desenvolvendo a criatividade, a capacidade cognitiva, o senso crítico e
interpretativo. Desde a década de oitenta os quadrinhos são utilizados em livros
didáticos. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a
LDB (Lei 9.394/96), em 20 de novembro de 1996, que trouxe a necessidade da
abordagem de outras formas de linguagem no ensino, os quadrinhos passaram, de
maneira mais consistente, a ser utilizados na educação.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram criados, na década de
1990, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o intuito de ser
referência para os professores do ensino fundamental e médio. Sem entrar no mérito
da discussão sobre a qualidade do modelo educacional proposto pelos PCNs,
alguns volumes traziam propostas que envolviam diretamente as histórias em
quadrinhos. Os PCNs de Artes para o ensino fundamental, de Língua Portuguesa,
também para o ensino fundamental, e o PCN para o ensino médio, no volume sobre
a Linguagem, Códigos e suas Tecnologias, tratam sobre o uso dos quadrinhos do
ensino, sobre a necessidade de trabalhar a compreensão e a utilização. Ou seja,
são documentos oficiais do governo pautando diretamente sobre o uso das histórias
em quadrinhos na educação.
É, dessa forma, em conformidade com a proposta da LDB, a qual defende a
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte
e o saber (art. 3º, II) e trata sobre a necessidade do conhecimento das formas
contemporâneas de linguagem (art. 36, §1º, II) que o presente projeto propõe a
utilização das histórias em quadrinhos aplicadas às aulas de História. A prática, para
que este objetivo se concretize, será realizado pelo viés proposto pela Educação
Histórica, modelo este que torna o aluno o centro do processo ensino-aprendizagem,
sendo que, o foco das investigações são os produtos da aprendizagem escolar,
buscando compreender as ideias substantivas dos estudantes sobre o conhecimento
e conceituação histórica (CAIMI, 2009, p.71). Segundo Jörn Rüsen, a Educação
Histórica é “um campo de investigação que estuda as ideias históricas dos sujeitos
em contextos de escolarização, de modo que é estruturada por pesquisas empíricas
que dialogam com a teoria da consciência histórica” (in: FRONZA, 2014, p. 195).
Para esta vertente, os alunos são entendidos como agentes de sua própria
formação, com ideias históricas prévias, tendo o professor o papel de investigador
constante, problematizando suas aulas em diversas situações, desenvolvendo o que
Peter Lee chama de literacia histórica, ou seja, a capacidade de “ler o mundo
historicamente”, interpretando fontes, debatendo e selecionando pontos de vista
(SOBANSKI, 2010, p. 11-12).
Para Isabel Barca (in: SOBANSKI, 2010, p.13), o professor de História deve
desenvolver uma atividade questionadora para desafiar os alunos na construção de
sua aprendizagem.

(…) o meio familiar, a comunidade local, os media (…) constituem


fontes importantes para o conhecimento histórico dos jovens que a
escola não deve ignorar nem menosprezar. (…) é a partir da
detecção destas ideias – que se manifestam no nível do senso
comum, e de forma muitas vezes fragmentada e desorganizada –
que o professor poderá contribuir para as modificar e tornar mais
elaboradas. (BARCA in CAIMI, 2009, p.70).
Seguindo a ideia de Barca, o professor deve utilizar diferentes fontes e
narrativas históricas para promover nos alunos a capacidade de compreender que a
história é construída com perspectivas diferentes. Shmidt e Cainelli (2009, p.90),
explicam que fonte, para a História, é um documento que apresenta fragmentos ou
indícios de situações já vividas, passíveis de ser exploradas pelo historiador.
Portanto, com o intuito de desenvolver nos alunos a compreensão da existência de
várias visões presentes na História, e que estas visões são fruto de interpretações, é
que os quadrinhos, trazidos para a sala de aula como fontes históricas, serão uma
grande ferramenta, uma vez que os mesmos são narrativas históricas gráficas que
guardam forte ligação com a linguagem, representação e cultura juvenil onde, sob a
orientação do professor, a sua utilização pode motivar o aluno para o conhecimento
histórico (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.93). Partindo dessa perspectiva
investigativa da Educação Histórica, foi realizada a implementação do projeto,
abordando o contexto histórico da década de 60 (local, nacional e mundial), através
das histórias em quadrinhos de super-heróis estadunidenses, utilizadas como fontes
históricas, culminando na produção de material didático a ser utilizado com
estudantes/as da rede pública de ensino.
Abaixo, segue a lista com os personagens, histórias em quadrinhos, e os
respectivos temas históricos trabalhados através delas, utilizadas no decorrer da
implementação do projeto:
I - Quarteto Fantástico, história - “O Quarteto Fantástico” - , publicada
originalmente na revista Fantastic Four nº 1, em 1961, utilizada como fonte para o
estudo sobre a corrida espacial entre EUA e URSS;
II - Hulk, história - “A Chegada do Hulk” -, publicada originalmente na revista
The Incredible Hulk nº 1, em 1962, utilizada como fonte para o estudo sobre a
corrida armamentista entre EUA e URSS, e o medo coletivo existente no período dos
possíveis efeitos da radiação causada por uma guerra nuclear entre as duas
superpotências;
III - Homem Aranha, história – “Homem Aranha” -, publicada originalmente
na revista Amazing Fantasy nº 15, em 1962, utilizada, também, para a abordagem
sobre o medo dos efeitos de uma possível guerra nuclear;
IV - Demolidor, história - “A origem do Demolidor” -, publicada na revista
Daredevil nº1, em 1964, assim com as histórias do Hulk e do Homem Aranha, foi
utilizada para a análise do contexto e a fobia, que imperava no período abordado,
sobre o tema radiação nuclear;
V - Homem de Ferro, história – “Nasce o Homem de Ferro”-, publicada
originalmente na revista Tales of Suspense, de 1963, utilizada no estudo sobre a
Guerra do Vietnã;
VI - Os Vingadores, história publicada na revista The Avengers nº 18, de
1963, utilizada para análise do estereótipo do “vilão” no período estudado;
VII -Thor, publicada na revista Journey into Mistery, de 1962, também
utilizada, assim como a história dos Vingadores, para a análise estereótipo do “mal”
que predominava naquele contexto;
VIII - X-Men, duas histórias, publicadas na revista The Ucanny X-Men, nº 3
e 14, ambas de 1963, utilizadas para os estudos sobre o movimento de luta pelos
Direitos Civis dos negros, ocorridos nos EUA, na década de 1960.
Seguindo a perspectiva da Educação Histórica, onde os estudantes são
compreendidos como agentes de sua própria formação, que possuem ideias
históricas prévias, sendo estas o ponto de partida para qualquer intervenção
realizada, a análise de cada fonte e seu contexto era sempre iniciada com a
verificação do conhecimento prévio de cada um a respeito do tema trabalhado
através de questões propostas sobre a história em quadrinhos e seus personagens
e do contexto histórico onde ela surgiu.
Depois de respondidas as questões, eram apresentadas as histórias em
quadrinhos para a análise conjunta dos participantes, sendo as mesmas projetadas
na parede com um projetor data show. O ideal para a realização das análises dos
quadrinhos seria cada um dos participantes possuir uma cópia física impressa para
manuseio, podendo ler e reler quantas vezes for necessário. Porém, isso se mostrou
inviável para a realização do projeto, devido à impossibilidade de todos contar com
um exemplar da história (valor do produto e dificuldade para encontrar o material)
ou, até mesmo, reproduzi-las através de cópias xerocadas (o que também
envolveria valores). A forma adotada, o que tornou o trabalho prático e acessível a
todos, foi a projeção em forma de slides, o que, apesar da praticidade, dificultou a
mobilidade com os quadrinhos, a possibilidade de “ir e vir” para rever algo que, por
acaso, tivesse passado despercebido ou, até mesmo, para ter uma nova leitura, uma
nova visão trazida por uma análise mais minuciosa, de um fato já analisado
anteriormente.
Lida a história em quadrinhos, eram distribuídas questões propostas para a
realização da análise da fonte. Por exemplo, para análise da história do Quarteto
Fantástico, foram propostas as seguintes questões:
1) O primeiro quadro, traz uma discussão entre Ben e Reed. Qual é o motivo desta
discussão?
2) No segundo quadro vemos a interferência de Sue Storm na discussão. Que
argumento ela utiliza para convencer Ben?
3) Esta HQ foi publicada na revista Fantastic Four nº1. Faça uma pesquisa em
sítios/sites especializados na internet e anote os dados sobre esta revista:
3.1) Ano em que a revista Fantastic Four nº1 foi publicada:
3.2) Editora que a publicou:
3.3) País em que foi publicada originalmente:
3.4) Autores da história e país em que nasceram:
Tais questões foram elaboradas para auxiliar os participantes no trabalho de
extração de informações para a análise do quadrinho, levando-os a refletir desde o
roteiro (palavras e termos utilizados) até informações sobre quem foram os artistas
que produziram a história e onde ela foi publicada.
Depois de respondidas e debatidas as questões, era apresentado aos
participantes outras fontes ligadas ao mesmo contexto histórico onde havia sido
produzido a história em quadrinho analisada. Por exemplo, durante a análise dos
quadrinhos do Quarteto Fantástico e a corrida espacial entre EUA e URSS, foi
apresentado, como fonte ligada ao contexto, um discurso feito pelo então presidente
dos EUA, John F. Kennedy, em 1961, ao congresso estadunidense, onde ele tratava
sobre a necessidade da liberação de verbas para aplicação no programa espacial do
país, devido ao grande avanço da tecnologia soviética obtida nessa área; no
trabalho com os quadrinhos do Homem de Ferro e sua ligação com a Guerra do
Vietnã, foi a utilizada a música italiana C’era un ragazzo che come me, gravada por
Gianni Morandi, em 1966; os discursos dos líderes negros estadunidenses Martin
Luther King e Malcon X, foram comparados, durante a análise dos quadrinhos dos
X-Men, com as falas dos personagens Professor X e Magneto. Nesse sentido, ia-se
levando os participantes, através da comparação entre o quadrinho e estas outras
fontes, a refletir sobre o contexto histórico em que surgiram, indo construindo,
gradativamente, o conhecimento histórico. Para o fechamento de cada tema
estudado, eram apresentados trechos de livros ou artigos de revistas que tratavam
sobre o contexto estudado, onde os mesmos eram lidos em conjunto e depois
analisados através de questões pré-elaboradas.
As respostas das questões, via de regra, eram apresentadas por escrito. No
entanto, durante o trabalho com a história em quadrinhos dos personagens X-Men,
as questões foram projetadas para todos e respondidas oralmente, em forma de
debate, com o objetivo de testar qual método obteria mais atenção e participação, se
através de atividades escritas ou uma proposta mais aberta, que estimulasse a
discussão e o debate de ideias. Todavia, foi percebido um maior comprometimento
por parte dos participantes quando as respostas foram apresentadas na forma
escrita, com mais participação tanto no momento da apresentação da fonte, quanto
no momento de responder as questões propostas para a análise.
Entre as atividades, destacaram-se, como as que mais contaram com a
participação, as que traziam propostas de pesquisas rápidas com a utilização de
ferramentas da internet, onde questões que exigiam respostas simples e objetivas
como datas e locais eram apresentadas, de uma forma dinâmica e precisa, onde as
informações encontradas eram compartilhadas e anotadas por todos os
participantes ao mesmo tempo. Por exemplo, durante a análise da história do
Quarteto Fantástico, foi apresentado uma atividade relacionada às grandes
conquistas durante a corrida espacial entre EUA e URSS, onde os participantes
pesquisavam informações como o ano e qual foi o primeiro país a lançar um satélite
artificial, colocar um ser humano no espaço, chegar a Lua, entre outros feitos. Além
disso, durante a análise de todas as histórias em quadrinhos trabalhadas no
decorrer do projeto, os participantes pesquisavam informações como o ano em que
ela foi publicada, a editora que a publicou, os autores da história e o país em que
nasceram, objetivando que, munidos de tais informações, conseguissem
contextualizar a época em que o quadrinho foi publicado, além de perceberem que,
mesmo que de uma forma implícita, as convicções de quem a produziu se fazem
presentes.
Algumas atividades funcionaram como uma forma de complementação ao
trabalho, além de ser um incentivo à pesquisa e ao estudo além do ambiente
escolar. Uma dessas atividades, por exemplo, apresentava a proposta da realização
de uma pesquisa a alguns termos ligados à guerra do Vietnã (Vietcong, AK-47 e
Agente Laranja), outra solicitava uma pesquisa à letra e o ano de gravação da
canção italiana C’era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones, e
qual sua relação com o quadrinho analisado. Ambas as atividades faziam parte da
análise da história em quadrinhos do Homem de Ferro e sua ligação com a Guerra
do Vietnã. Na história em quadrinhos do personagem Thor, o qual enfrentava um
ditador latino-americano que possuía um arsenal de mísseis, os participantes
pesquisaram sobre o episódio da “crise dos mísseis em Cuba”. Ainda, outra
atividade propunha a pesquisa do sentido da palavra “estereótipo” e sobre o Decreto
nº 52.497, de 1963, o qual tratava sobre percentuais de quadrinhos nacionais
publicados pelas editoras brasileiras, mas que não chegou a se concretizar devido
aos acontecimentos políticos de 1964. Pode-se afirmar que tais propostas de
pesquisas tiveram resultado satisfatório, contando com a colaboração de todos os
participantes.
Com base nos encaminhamentos teóricos propostos pela Educação
Histórica, onde parte-se sempre do conhecimento prévio do aluno para, depois,
através da análise e investigação da fonte, obter informações mais aprofundadas
sobre o tema, com descobertas que venham somar a estes conhecimentos, levando-
os a perceber que toda produção contém, intrinsecamente, de forma explícita ou
não, o discurso de quem a produziu e não, necessariamente, uma verdade histórica,
foi realizada a aplicação de um questionário com a intenção de realizar um
levantamento das ideias prévias dos participantes acerca dos temas trabalhados,
uma “aula-oficina, na qual o professor realiza a investigação dos conhecimentos
históricos prévios de cada aluno como forma de iniciar o trabalho contextualizado da
História” (SOBANSKI, 2010, p.12). O questionário foi aplicado no primeiro encontro
para vinte e quatro participantes, trazendo um total de dez questões, sendo seis
descritivas/subjetivas e quatro objetivas. A primeira questão trazia o questionamento
“você já leu histórias em quadrinhos?”, onde o objetivo era a de diagnosticar se os
participantes tinham, ao menos, um contato mínimo com a linguagem dos
quadrinhos, sendo que os 24 participantes responderam que “sim”, que já tinham
lido alguma história em quadrinhos. Ou seja, 100% dos participantes já haviam tido,
pelo menos, um contado mínimo com os quadrinhos, o que facilitou a efetivação do
projeto. A segunda questão tratava sobre o gênero de quadrinhos preferido dos
participantes. A questão elencava uma série de gêneros de quadrinhos para que o
participante assinalasse um ou mais, de acordo com sua preferência. No final da
lista, tinha um espaço para que o participante citasse outros gêneros que, por
ventura, não estivessem contidos na lista apresentada. Das 24 respostas obtidas, 8
participantes responderam que preferem ler quadrinhos de super-heróis; 4
responderam que preferem super-heróis e personagens infantis (animais falantes e
crianças); 1 prefere super-heróis e personagens aventureiros; 7 preferem somente
personagens infantis; 1 respondeu que gosta de personagens infantis e terror; 2
responderam somente terror; 1 somente personagens aventureiros; nenhum
escolheu o gênero faroeste; dois participantes, ainda, citaram que apreciam o
gênero, não listado, mangá (quadrinhos japoneses). Percebe-se que, entre os 24
participantes que responderam o questionário, 13 apreciam quadrinhos de super-
heróis, sendo este dado um aspecto positivo para a aplicação do projeto, uma vez
que a proposta do mesmo é, exatamente, o trabalho com quadrinhos de super-
heróis. Continuando na análise das respostas do questionário, quando perguntado
aos participantes se eles sabiam onde, quem e qual editora havia produzido os
quadrinhos que eles haviam lido, 6 participantes responderam que não sabiam onde
a(s) história(s) que leu tinha sido produzida, 6 responderam que foi no Brasil, sendo
que, todos eles responderam que quem as produziu foi Maurício de Souza. Os
outros participantes responderam que sabiam onde os quadrinhos que haviam lito
tinham sido produzidos, cintando países como Brasil, EUA e Japão. Entre estes
participantes, somente um afirmou não saber quem produziu a história(s) que leu,
sendo que, os demais citaram os nomes dos quadrinistas Maurício de Souza e Stan
Lee, e um participante citou a quadrinista japonesa Kazue Katõ. Quanto às editoras,
10 participantes afirmaram não saber qual editora publicou o(s) quadrinho(s) que
leu. Os demais citaram várias editoras como Globo e Dark Horse, sendo as mais
lembradas Paninni e Marvel.
As questões de múltipla escolha relacionavam os quadrinhos com o contexto
histórico em que foram produzidas, onde cada uma trazia um personagem de
quadrinhos (super-heróis, criados na década de 60) e uma pequena lista de temas
históricos, devendo, os participantes, responder a qual dos conteúdos específicos de
História o personagem poderia ser relacionado. As respostas dos 24 participantes
foram as seguintes:
a) Quarteto Fantástico: 8 participantes responderam que os mesmos podem
ser relacionados com a Guerra Fria; 7 que não pode ser relacionados a nenhum
conteúdo; 3 com as Civilizações Antigas; 2 com os movimentos sociais dos anos 60;
2 com a I Guerra Mundial; 1 com a II Guerra; 1 participante não respondeu.
b) Hulk: 8 participantes relacionaram o personagem à Guerra Fria; 5 aos
movimentos sociais da década de 60; 3 à II Guerra Mundial; 2 à I Guerra; 2 à Idade
Média; 1 à Civilizações Antigas; 2 afirmaram que não pode ser relacionado a
nenhum conteúdo; 1 não respondeu.
c) X-Men: 14 relacionaram os personagens aos movimentos sociais dos
anos 60; 4 à Guerra Fria; 1 à II Guerra; 1 à I Guerra; 2 às Civilizações Antigas; 1
respondeu que pode ser relacionado à Idade Média e a Guerra Fria ao mesmo
tempo; 1 afirmou que não pode ser relacionado a nenhum conteúdo.
d) Homem de Ferro: 10 responderam II Guerra Mundial; 4 responderam
Guerra Fria; 4 responderam que não pode ser relacionado a nenhum conteúdo; 3
responderam Movimentos Sociais dos anos 60; 1 Idade Média; 1 Civilizações
Antigas; 1 não respondeu.
Para finalizar o questionário, foi perguntado se os participantes conheciam
outro(s) personagem(s), que não tivessem sido listados, e que pudessem ser
relacionados a algum conteúdo de História. Diante de tal questionamento, 3
participantes não responderam, bem como, 3 participantes responderam apenas que
não conheciam nenhum personagem. Porém, 18 participantes citaram pelo menos
um personagem, sendo que, entre estes, 14 lembraram do Capitão América, e 13
ligaram o personagem ao contexto da II Guerra Mundial. Cabe ainda destacar as
respostas de dois participantes. O primeiro cita o personagem Superman, com a
seguinte afirmação: “um dos primeiros super-heróis a ganhar destaque na sociedade
foi usado para propaganda pelo governo”. O segundo participante, lembra do
personagem Pantera Negra, um super herói africano: “A busca por matéria-prima em
outros lugares (locais) Imperialismo”.
Ao final da implementação do projeto, o mesmo questionário foi novamente
aplicado aos participantes para a obtenção de informações, através da análise das
respostas, sobre os resultados obtidos, ou seja, se o trabalho trouxe alguma
colaboração na ampliação do conhecimento histórico dos participantes. Em uma
comparação direta das respostas obtidas das duas aplicações, obteve-se os
seguintes resultados:
a) Quarteto Fantático: 18 participantes relacionaram os personagens com a
Guerra Fria, sendo 10 a mais do que na primeira aplicação;
b) Hulk: 11 participantes relacionaram o personagem ao contexto da Guerra
Fria, sendo 3 a mais;
c) X-Men: 18 participantes conseguiram relacionar os personagens aos
movimentos sociais dos anos 60, ou seja, 4 participantes a mais do que na primeira
aplicação;
d) Homem de Ferro: o saldo negativo ficou por conta do personagem
Homem de Ferro, uma vez que apenas 3 participantes relacionaram a sua história
ao contexto da Guerra Fria (da primeira vez tinham sido 4), sendo que 10
participantes responderam que o mesmo não pode ser relacionado a nenhum
conteúdo de História, 9 o relacionaram à II Guerra Mundial e 2 à I Guerra.
Possivelmente, tal fato deve-se que nenhuma das opções de múltipla escolha trazer,
entre as possíveis respostas apresentadas, o termo “Guerra do Vietnã”, sendo que
os mesmos não conseguiram concluir que este conflito foi um desdobramento direto
da Guerra Fria. Ou seja, esperava-se que os participantes marcassem a alternativa
Guerra Fria, porém, os mesmos, procuraram o termo Guerra do Vietnã, sendo que,
na falta deste, marcaram outras alternativas que continham a palavra Guerra (I
Guerra e II Guerra) ou a alternativa “não pode ser relacionado a nenhum conteúdo
de História”.
Porém, no todo, os resultados apresentados foram satisfatórios, uma vez
que houve um aumento no número de participantes que conseguiram relacionar o
quadrinho analisado ao tema ligado ao contexto histórico em que o mesmo foi
produzido. Houve também um aumento, no que diz respeito às questões sobre
produção de quadrinhos, do número de participantes que citaram autores, editoras e
países, demonstrando uma maior atenção quanto a quem e onde o quadrinho foi
produzido, e que tal informação é de suma importância para entender o discurso
contido nessa produção.
Para encerrar o projeto, a última atividade desenvolvida foi elaboração de
histórias em quadrinhos pelos participantes. Foram formados 6 grupos, sendo que
cada um apresentou uma história. O tema era livre, sendo dada ampla liberdade
criativa para as produções, o que resultou em histórias em quadrinhos com
temáticas heterogêneas, diversificadas, que variaram entre o humor, aventura, à
crítica social e política.
Grupo 01 – História em quadrinhos com tramas políticas em um país fictício,
com personagens que fazem uma clara alusão à personagens do atual senário
político brasileiro;
Grupo 02 – História em quadrinhos com uma situação de preconceito racial
e violência policial;
Grupo 03 – História em quadrinhos de ação, envolvendo criminosos e
policiais;
Grupo 04 – História em quadrinhos de aventura e magia em um mundo
fictício;
Grupo 05 – História em quadrinhos de humor, envolvendo personagens
infantis;
Grupo 06 – História em quadrinhos levemente baseada no super-herói Hulk.
Houve, ainda, dois participantes que preferiram produzir individualmente
suas histórias em quadrinhos:
Participante 01 – História em quadrinhos sobre amizade entre meninas
adolescentes;
Participante 02 – História em quadrinhos anárquica baseada em mangás.
Notou-se, na atividade de confecção e elaboração dos quadrinhos, uma
dedicação dos participantes, com poucas exceções, resultando em trabalhos bem
elaborados onde alguns se destacaram pelo cuidado com o roteiro e arte.

Considerações finais

Através da concretização do projeto e a realização do estudo de caso quanto


a utilização de quadrinhos aplicados às aulas de História, onde os mesmos foram
trabalhados como fontes para o levantamento de informações sobre o contexto
histórico em que foram produzidos, e a observação quanto a participação dos alunos
durante o desenvolvimento dos trabalhos, pode-se concluir que estratégias
diferenciadas em sala de aula que diferem dos métodos rotineiros utilizados no dia a
dia escolar, que se resumem em transformar o livro didático na única e incontestável
fonte de informação na sala de aula, conseguem atingir melhores resultados com os
alunos, no que tange o desenvolvimento emancipador da interpretação, do
raciocínio, da criticidade e aptidão para pesquisa, além de uma significativa melhora
da assimilação do conteúdo proposto. Ficou claro, também, que a utilização de tais
estratégias inovadoras demanda um considerável tempo de dedicação para a
elaboração da aula, a preparação do material (seleção das fontes, elaboração das
questões para análise, confecção de slides, etc) e análise dos resultados obtidos.
Também, concluiu-se, através de observações durante a implementação do projeto
que, mesmo buscando uma linguagem inovadora para a sala de aula, procurando
apresentar novas técnicas que possibilitem uma melhor relação no processo
ensino/aprendizagem para tornar a rotina das aulas mais atrativas, nem todos os
participantes demonstraram interesse pelos temas abordados. Tal fato demonstra
que a suposição inicial, a ideia preestabelecida de que os quadrinhos, por ser uma
linguagem atraente e próxima da juventude, iria agradar a todos os participantes, se
mostrou, em certo ponto, equivocada, uma vez que nem todos os jovens se sentem
atraídos por eles. Ou seja, nenhum tipo de linguagem utilizada, por mais abrangente
e popular que possa parecer, vai atrair 100% do público. Seja por causa do indivíduo
desmotivado em relação aos estudos, o qual não vê sentido em frequentar o banco
de uma escola, seja pelo simples fato de ser alguém que não aprecia aquela forma
de linguagem específica. Porém, é importante salientar que, mesmo que o professor
não trabalhe especificamente quadrinhos em suas aulas, pode-se utilizar o mesmo
método proposto, ou seja, pode ser trabalhado a análise de fontes e a busca por
informações de um determinado contexto, direcionando os alunos para a construção
do conhecimento histórico, e não somente a reprodução de informações, através de
outras formas de linguagem como, por exemplo, o cinema, a música, reportagens
escritas, em vídeo, etc. Essa variação nas formas de linguagem utilizadas, com
aulas mais atraentes e dinâmicas, onde o livro didático funcionará como um material
de auxílio, e não como a única fonte de informação, com certeza, irá colaborar com
o desenvolvimento analítico e crítico dos alunos.

Referências

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