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3.1 Telogia e Arte PDF
3.1 Telogia e Arte PDF
TEOLOGIA E ARTE
RIO DE JANEIRO
2008
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TEOLOGIA E ARTE:
A TERMINANTE PROIBIÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE IMAGENS
NAS IGREJAS PÓS-REFORMA
2008
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TEOLOGIA E ARTE:
A TERMINANTE PROIBIÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE IMAGENS
NAS IGREJAS PÓS-REFORMA
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Autor: Hudson Pereira da Silva
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Orientador de Conteúdo: Profa. Dra. Naara Lúcia de Albuquerque Luna
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Orientadora de Forma: Profª. Maria Celeste de Castro Machado
Aos Mestres
Reconhecimento Especial
um grande amor.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................7
2 O CONTEXTO HISTÓRICO, POLÍTICO E SOCIAL DO SÉCULO
XVI................................................................................................................15
2.1 O HUMANISMO E O NATURALISMO.......................................................15
2.2 O RENACIMENTO NA ITÁLIA...................................................................17
2.3 O RENACIMENTO NA ALEMANHA E NO RESTANTE DA
EUROPA......................................................................................................20
3 A INFLUÊNCIA DO CONCEITO DE IMAGEM SAGRADA........................23
3.1 ARTE E RELIGIÃO....................................................................................24
3.2 ÍDOLO OU IMAGEM?.................................................................................26
3.3 OS ICONOCLASTAS..................................................................................28
4 A REFORMA E AS ARTES NA ALEMANHA NO SÉCULO XVI E
XVII..............................................................................................................31
4.1 AS ARTES VISUAIS SE DESLOCAM.........................................................33
4.2 A PINTURA VOLTA SOB UM NOVO CONCEITO.....................................36
4.3 AS ARTES MUSICAIS SE DESENVOLVEM MAIS DO QUE AS ARTES
PLÁSTICAS.................................................................................................39
5 CONCLUSÃO ............................................................................................43
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................45
RESUMO.....................................................................................................46
7
1. INTRODUÇÃO
Teologia e Arte
O tema escolhido para esta pesquisa tem acompanhado as raízes da história
do ser humano e, em especial, de todo estudante de Teologia, ainda que esse não
se dê conta disso.
O ser humano pensa. Pensa para dentro de si, quando deseja responder suas
mais íntimas questões existenciais. Pensa também para fora de si, quando procura
encontrar sentido nos elementos da natureza. E ainda pensa para além de si,
quando se dedica a desvendar os misteriosos fenômenos que transcendem ao
palpável e ao inteligível. É para domar o transcendental e confortar a mente
especulativa e fértil que nós precisamos da Teologia e das Artes.
Entendemos ser imprescindível numa sociedade caracteristicamente pós-
moderna, mergulhada que vive num mundo de imagens, e repleta de estímulos
sensitivos, desvendarmos a trajetória histórica de nossas igrejas no que diz respeito
às leituras artísticas, especialmente, nessa pesquisa, a pictórica.
Para a academia, o valor desse estudo se alicerça na interdisciplinaridade das
áreas selecionadas e na valorização do indivíduo como um ser multifacetado e ao
mesmo tempo integral.
Em virtude de ter uma área de abrangência tão grande, encontramos certa
dificuldade em delimitar o espaço a ser vasculhado academicamente. Isso porque,
em certo sentido, o tema se confunde com outras áreas do conhecimento humano.
Assim, depois de razoável esforço intelectual, selecionamos o período histórico
imediatamente posterior à Reforma Protestante, nos meados do século XVI. Com as
teses sugeridas por Lutero e, mais tarde fundamentadas por Calvino,
implementando a não utilização das imagens através dos neo-iconoclastas nas
igrejas reformadas houve conseqüências para subjetivação do discurso religioso.
Neste trabalho, observamos o gradativo crescimento e investimento artístico
canalizado principalmente para área musical nas igrejas da Alemanha daquele
período.
O protestantismo, apesar do seu caráter de contestação do catolicismo e de
suas ocasionais tendências iconoclastas, também apresentou em sua fase inicial,
extraordinárias manifestações de arte religiosa que encontraram sua expressão
suprema na pintura. Alguns nomes famosos são os dos pintores alemães Albrecht
8
Dürer1, Lucas Cranach2 e Hans Holbein3, e o holandês Rembrandt van Rijn4. Este
último foi o grande artista do discipulado cristão diário, fora da Itália que era o centro
das artes. Rembrandt representa a vida de Jesus de um modo que atrai o
espectador para uma auto-identificação com o Cristo. Um exemplo é o seu “A ceia
em Emaús5”. Assim, esses artistas davam expressão às suas novas convicções,
“pregando” com a sua arte.
Durante os séculos, nas catacumbas, pequenas capelas ou grandiosas
catedrais, utilizando-se de murais, afrescos, mosaicos, vitrais, telas, marfim,
mármore, metal, tecido ou esculturas, o ser humano tem expressado as suas
convicções a respeito do ser divino e a sua devoção a Ele.
Pretendemos investigar o processo histórico que resultou na exploração
somente de um dos sentidos do ser humano – a audição – quando vivemos num
mundo onde a visão é supervalorizada e a imagem é dotada de enorme potencial
sedutor para comunicar e ensinar o evangelho.
Pretendemos investigar o processo pelo qual a expressividade artística,
durante a Reforma, teve que ser desviada do elemento visual para o sonoro. Haveria
uma relação entre banir imagens religiosas e estimular a ilusão, a contextualização e
a poesia dos textos canônicos?
Desejamos também verificar se a retirada das imagens das igrejas valorizou o
ser humano e ainda averiguar se existe relação entre a formação da burguesia e a
nova postura em relação às imagens.
Escolhemos esta proposta de pesquisa pela proximidade que temos com a
cadeira de artes visuais. Razoável conhecimento foi acrescentado na formação
acadêmica nesta área. Também catalogamos, ao longo do espaço de tempo
dedicado a este estudo, rico material de História da Arte que pode ser analisado em
paralelo com as informações colhidas nesse curso de Teologia, especialmente nas
matérias de História da Igreja, Filosofia e Antropologia.
Nossa intenção primária é fazer uma varredura do momento político-histórico
cruzando estas informações com a produção artística da época e do local indicados,
a fim de que esses subsídios emitam luz sobre o problema que se instalou com a
proibição da utilização das obras de arte nas igrejas da Reforma.
Gostaríamos muitíssimo de ter espaço para aprofundar o estudo das técnicas
e do êxodo de alguns outros artistas europeus influenciados pelas idéias
implantadas na Reforma. No entanto, este desvio de foco, ainda que enriqueça as
9
informações em torno do assunto, poderia nos seduzir a pender mais para o ramo
das artes plásticas do que para o da Teologia. Fica aberto, portanto, esse caminho,
entendendo que a pesquisa é deveras importante, mas pode, pela sua profundidade
e riqueza de elementos, desviarem nosso foco de estudo.
1
“Nossa concepção naturalista científica de mundo é, por certo, em seus aspectos essenciais, uma
criação da Renascença, mas foi o nominalismo medieval que primeiro inspirou a nova concepção do
mundo tem origem”. (273)
13
2
O Escolasticismo ou Escolástica é uma linha dentro da filosofia medieval, de acentos notadamente
cristãos. Ela surgiu da necessidade de responder às questões da fé, ensinadas pela Igreja
3
São basicamente três fundamentos do sistema da filosofia aristotélica: observação fiel da natureza ,
rigor no método e unidade do conjunto.
14
4
Protágoras de Abdera (Abdera, 480 a.C. - Sicília, 410 a.C.) foi quem cunhou a frase o homem é a
medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não
são.
15
5
Humanismo é o nome que se dá à produção escrita histórica literária do final da Idade Média e
início da Moderna , ou seja , parte do século XV e início do XVI , mais precisamente , de 1434 a 1527
.
6
O termo Burgo remonta à Idade Média, em que era o nome dado a cidades que eram protegidas por
fortalezas. Dessa palavra procede o adjetivo "burguês", também usado como substantivo e que
designava o habitante do burgo.
7
A Bússola foi introduzida na Europa pelos árabes, e foi Flávio Gioia que introduziu também o
desenho da rosa-dos-ventos na bússola.
8
O Mercantilismo é uma etapa inicial do que vem a se consolidar como modo de produção capitalista.
A ênfase naquela fase é no aumento da circulação de mercadorias, isto é, no comércio.
16
9
Patrocinador generoso, protetor das letras, ciências e artes, ou dos artistas e sábios. (Dicionário
Aurélio)
17
10
Jacob Burckhardt foi historiador e crítico de arte suíço. A partir de 1844 é professor de História
Geral e de História de Arte da Universidade de Basileia, posto que abandona entre 1855 e 1858 para
ensinar História de Arte na Escola Politécnica de Zurique e, em algumas épocas, para visitar a Itália.
18
11
Filippo Villani humanista florentino (1325-1405)
19
12
Afresco é a técnica de pintura aplicada em paredes e tetos que consiste em pintar sobre camada
de revestimento recente, fresco, de nata de cal, gesso ou outro material apropriado ainda úmido, de
modo que possibilite o embebimento da tinta.
13
Miguel Ângelo. Moisés. 1513-5. Mármore: altura do corpo 2.35m. Pietro in Vincoli, Roma
14
Miguel Ângelo. Davi
20
15
Albrecht Dürer, expressou as suas teorias da proporção no livro "The Four Books on Human
Proportions", publicado em 1528.
16
Desiderius Erasmus Roterodamus, conhecido como Erasmo de Rotterdam, teólogo e um
humanista holandês.
21
A marca registrada dos artistas do norte da Europa era, sem dúvida, o incrível
talento para retratar a natureza nos mínimos detalhes. Hubert van Eyck e a nova
arte de pintar retratos.
17
O Elogio da Loucura é considerado um dos mais influentes livros da civilização ocidental e um dos
catalisadores da Reforma Protestante. O livro começa com um aspecto satírico dos abusos
supersticiosos da doutrina e das práticas corruptas da Igreja Católica Romana.
22
É necessário fazer distinção entre arte religiosa e arte sacra. Esse balizamento
se faz necessário porque a diferença não está ligada ao material, à técnica utilizada
ou a inspiração de cada uma delas. A arte sacra de acordo com Janson, é aquela
arte que segue uma temática religiosa e tem o destino litúrgico, isto é, aquela que se
ocupa com o culto, a vida ritualística dos fiéis. Já a arte religiosa é aquela que
denuncia a vida devocional do artista. A virtude da religião tende a produzir no ser
humano atitudes de submissão, fé, esperança e adoração. A arte religiosa se
subordina à religião. Toda arte sacra é necessariamente religiosa, mas nem toda
arte religiosa é sacra.
A imagem sagrada está ligada à liturgia e por isso mesmo ela é subordinada
aos responsáveis eclesiásticos que cuidam da cerimônia. A imagem sagrada está
ligada ao poder e a normas eclesiásticas.
seus estudos. Hauser inclusive afirma que a concepção científica da arte é iniciada
com Leon Battista Alberti. Ele é o primeiro a expressar a idéia de que a matemática
é a base comum entre a arte e as ciências. E Alberti afirma isto porque observa que
a teoria das proporções e perspectivas são matérias comuns tanto à matemática
quanto Às artes. “Todo desenvolvimento artístico passa a ser parte do processo total
de racionalização. O irracional deixa de causar qualquer impressão mais
profunda.”18
Mas, mesmo com toda a promoção que havia recebido como intelectuais, o
artista no início do Renascimento ainda era visto como gente do povo. Eles são
considerados como artesãos de um grau superior, e realmente suas origens sociais
não os fazem em nada diferentes dos pequenos burgueses. Eles recebem os nomes
das ocupações de seus pais, dos lugares onde nasceram, ou de seus mestres.
Basta observar os exemplos como Leonardo que carrega a origem de usa família.
Vindo de Vinci, por isso Leonardo da Vinci. Ou Dürer que é uma corruptela da
palavra alemã Tür que significa porta. Este era o sobrenome original do pai de
Dürer. O ateliê do artista, no começo da Renascença ainda preserva o espírito
comunitário da pequena oficina. É na busca de criar uma identidade e produzir uma
arte mais próxima da ciência que o individualismo humanista aparece através da
obra assinada. Vale pontuar que essa ascensão do artista ocorreu durante um longo
processo de consolidação dos novos valores e da aproximação dessa categoria
como os humanistas, especialmente os poetas.
18
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura, p285.
19
O mecenato é a prática de proteção aos escritores e artistas.
26
Esses presentes eram um método adotado para garantir fama eterna e tentar
apaziguar o conflito entre a devoção e o comércio. Essa mentalidade individualista
também contribuiu para alicerçar palavras como prestígio, poder, ciência no meio
eclesiástico. Hauser pontua que os humanistas e escritores foram acolhidos na
Cúria com escritores e secretários. Nicolau V (1447-1455) transformou a pequena
biblioteca pontifícia em uma grande coleção de manuscritos gregos e latinos. Iniciou
a reconstrução da Basílica de São Pedro, que tinha sofrido um grande incêndio. Pio
II (1468-1464) foi o elegante douto humanista e historiador. O Papa Sixto IV (1471-
1484) decidiu transformar a monarquia papal em grande potência italiana. Mandou
construir a Capela Magna, que acabou levou seu nome, Sixtina, contratando os mais
proeminentes artistas de sua época. Julio II (1464-1471) contratou Bramante para o
primeiro projeto da Basílica de São Pedro e ainda Leão X (1513-1521) protegeu
ardentemente as artes.
20
Um retábulo é uma construção normalmente de madeira, mas pode ser encontrado de outro
material, com lavores, que fica por trás e/ou acima do altar e que, normalmente apresenta ou mais
painéis pintados.
27
O mesmo livro do Antigo Testamento, que proíbe que sejam feitas imagens,
orienta que esculturas de querubins de ouro, portanto imagens sejam colocadas
sobre a Arca da Aliança. Em vários textos observamos orientações quanto à
utilização de imagens como palmas, flores, leões e entalhes artísticos21.
21
Ex 25, 17-22; 1Rs 6, 23-28; 1 Rs 6, 29s; Nm 21, 4-9; 1Rs 7, 23-26; 1 Rs 7, 28s
28
construídas com grandes blocos chapados conta o fundo, quase suprimindo a idéia
de espaço. Na última fase do período medieval surge o gótico, arte de raiz
germânica que influencia o restante da Europa. Janson registra que o Gótico
apresenta uma leveza e uma delicadeza, um reencontro com a técnica e a cor. A
rigidez inicial começa a ser quebrada e estimula à implementação popular desses
novos conceitos.
3.3 OS ICONOCLASTAS
Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira
geração daqueles que me aborrecem.
O estilo bizantino só foi capaz de firmar-se onde havia a arte cristã, porque a
igreja Católica do Ocidente desejava chamar a si o poder que o imperador já
tinha em Bizâncio. O objetivo artístico era o mesmo em ambos os casos: essa
arte devia ser a expressão de uma autoridade absoluta, de grandeza sobre-
humana e mística inacessibilidade. (HAUSER, 1995, p.135)
30
O iconoclasmo foi decretado como doutrina oficial pelo imperador Leão III, em
730. Essa atitude retirou dos mosteiros seus meios mais eficazes de propaganda. O
historiador Hauser afirma que Leão III tinha planos de fundar um poderoso exército,
mas os jovens estavam optando por uma vida monástica. Isso não apenas
enfraquecia a força militar, mas também a agricultura e o serviço civil. Reproduzindo
Hauser, o iconoclasmo não foi de modo nenhum um movimento puritano, platônico
ou dirigido conta a arte, mas se utilizou da arte para deslocar ou perpetuar o poder.
É melhor que se pinte nas paredes, como Deus criou o mundo, como Noé
construiu a Arca, e outras belas histórias, do que quaisquer outras
mundanamente vulgares. Ah, quisera Deus que soubesse convencer os
senhores e ricos para que pintassem a Bíblia inteira por dentro e por fora
das casas, para que todos pudessem ver. Isso seria uma obra fielmente
24
cristã.
24
Obs.: Cit. por DREBES, In A educação na dimensão do Reino de Deus desvelada em obra pictórica
de Lucas Cranach, p.46. Dissertação inédita de Mestrado, São Leopoldo, EST, 2000.
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Nosso desafio neste capítulo é desvendar a forma que os artistas vão encontrar
para adaptarem os antigos conceitos vindos da Itália diante da proposta das noventa
e cinco teses de Lutero afixadas na porta da igreja do Castelo de Wittenberg.
A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam as
margens do Reno e eram chamadas de “caminho do clero”, eram estes territórios
alemães que mais impostos rendiam à igreja. A igreja para o senso comum era
sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia
via a igreja como inimiga. Os anseios dessa burguesia eram por uma igreja que
cobrasse menos impostos, que gastasse menos e principalmente, que não
condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Reprodução de uma página da Bíblia de 42 linhas, o primeiro livro europeu impresso por processo
industrial na oficina de Gutemberg. Este exemplar foi impresso a duas cores, negro e rubro, o que
não aconteceu com todos os exemplares (1534)
35
25
Iluminura era um tipo de desenho decorativo, frequentemente empreendido nas letras capitulares
que iniciam capítulos em determinados livros, especialmente os produzidos nos conventos e abadias
36
8. Bruegel (1525-1569)
26
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura, p343.
38
A pressão ideológica sofrida pelo artista dos locais dominados pela Reforma
Protestante, estimulou a arte da pintura a procurar outros temas uma nova visão do
mundo e do meio que o circulava. A necessidade de satisfazer os clientes cada vez
mais prósperos economicamente, sem agredir os conceitos implantados nos círculos
sociais, dessa área reformada, fez com que o tema das pinturas circulasse bem
distante do tema religioso que dominava a arte durante o período renascentista. A
27
O dicionário Aurélio define maneirismo como a tendência estética surgida no séc. XVI que se
caracteriza pela interpretação requintada da maneira de certos artistas do Renascimento, com ênfase
na movimentação estilizada das formas, na elegância, na dramaticidade, o que iria configurar uma
arte própria de uma minoria intelectual cortesã, marcada pelo individualismo. Ainda no séc. XVI, o
maneirismo já prenuncia o Barroco.
39
João Calvino, reformador no séc. XVI, nos deixou uma série de recomendações
a respeito da importância da música no culto, ao escrever o prefácio do primeiro
40
28
O saltério era um hinário contendo salmos em forma de poesia. Esses salmos haviam sido
musicados por Claude Goudimel a pedido de Calvino, porque ele queria que os salmos voltassem a
ser usados nos cultos.
41
fim de propagar e dar impulso ao santo Evangelho que ora voltou a brotar pela graça
de Deus” E ainda acrescenta:
Além disso, foram arranjados a quatro vozes por nenhuma outra razão
senão o meu desejo de que a juventude, a qual afinal de contas deve e
precisa ser educada na música e em outras artes dignas, tenha algo com
que se livre das canções de amor e dos cantos carnais para, em lugar
destes, aprender algo sadio, de modo que o bem seja assimilado com
vontade pelos jovens, como lhes compete. Também não sou da opinião de
que, pelo Evangelho, todas as artes devam ser massacradas e
29
desaparecer, como pretendem alguns pseudo-espirituais. (LUTERO,
2000, P.481)
Essa inclinação para arte da música foi tão pontual para as igrejas reformadas,
especialmente para Lutero, que o próprio reformador empenhou-se para requisitar
que os compositores de língua alemã o ajudassem nessa tarefa. O envolvimento do
povo com o canto de hinos congregacionais era algo muito inovador e “enchiam o
29
Obs.: Obras selecionadas de Martinho Lutero, Sinodal, p 481 - Die Vorrade dês Wittenberg
Gesangbuches von 1524 – Vorrede Martini Luther, WA 35,474s. Tradução: Ilson Kayser.
30
Aurélio define como polifonia sem acompanhamento instrumental: coro a capela.
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templo” criando um contraste com as paredes, agora limpas, dos templos da igreja
reformada.
43
CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS
ALLMEN, J. J. von. O Culto Cristão : Teologia e Prática. São Paulo: Aste, 1968.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã.
2ª ed. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995.
CALVINO, João. As institutas ou tratado da religião cristã. São Paulo: Casa editora
Presbiteriana, S/C, 1985.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. 6 ed. Ver. Amp. Curitiba: Posigraf, 2004.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 9 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto Cristão. São Paulo:
Editora Sinodal. 1999.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes,
1995
ARTIGOS
DREBES, In A educação na dimensão do Reino de Deus desvelada em obra
pictórica de Lucas Cranach, p.46. Dissertação inédita de Mestrado, São Leopoldo,
EST, 2000.
46
Protestantismo em Revista - ISSN 1678 6408 - Ano IV - Número 02, mai-ago 2005.
Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano III - Número 03 - Abril de 2005.
7. RESUMO