Você está na página 1de 6

Análise Psicológica (1999), 4 (XVII): 673-678

O véu da mente (*)

RAQUEL FERREIRA (**)

«Se os nossos sentidos fossem suficientemente apurados, perceberíamos


o penhasco imóvel como um caos dançante»
Nietzsche

O racionalismo cartesiano, propondo a separa- questão da relatividade na simultaneidade, revo-


ção do universo em duas partes totalmente inco- lucionando as concepções de espaço/tempo e
municáveis (o «Cogito» e o espaço infinito e in- abrindo caminho à mecânica quântica.
finitamente divisível), veio colocar o Eu, na po- Heisenberg e Bohr demonstraram que não é
sição dum observador indiferente e insignifican- possível observar um objecto, sem interferir ne-
te, perante um problema. Negando um lugar pa- le e sem o alterar, inviabilizando assim a propos-
ra a mente e separando a realidade, o pensamen- ta do determinismo mecanicista.
to cartesiano tombou numa auto-negação de si A investigação em Física Quântica veio, pois,
próprio, apesar de ter dominado o pensamento abrir um modelo científico bem diferente do mo-
europeu dos séculos XVIII, XIX e XX. Na ver- delo cartesiano. Um investigador ao analisar um
dade, ainda hoje, neste final de século, encontra- campo de partículas, sabe que estas partículas
mos reliquats do seu funcionamento, na visão existem enquanto propriedades do campo e não
dominante de algumas disciplinas científicas, como «coisas» reais em si mesmas. A realidade
como na Medicina e sobretudo na Psiquiatria. é tomada, numa perspectiva muito próxima e
É o conhecimento causal que aspira à formu- complementar da consciência, transpondo os li-
lação de leis, a partir dum pressuposto teórico de
mites de tempo e espaço, no sentido em que a
ordem e estabilidade no mundo, em que o passa-
física clássica os concebe.
do se repete no futuro.
David Bohm, entre outros físicos teóricos,
A revolução científica, que Einstein iniciou,
procura entender a mente, a partir do conceito de
rompe este ciclo quando, por exemplo, coloca a
um todo-em-cada-parte, fornecendo um sentido
epistemológico totalmente novo e inesperado às
ciências modernas.
Duas frases de David Bohm permitem-nos
(*) Comunicação apresentada no IX Encontro Na- ilustrar melhor o seu pensamento:
cional de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Lis-
boa, Dezembro de 1998. - «No âmbito da ordem implícita, cada novo
(**) Psicanalista. momento poderia, em princípio, ser comple-

673
tamente desvinculado do momento anterior: «A questão é se a matéria é tosca e
seria, pois, absolutamente criador.» mecânica ou se vai tornando mais e
- «O electrão, na medida em que corresponde mais subtil, a ponto de se tornar indis-
a um significado no seu ambiente, observa tinta daquilo a que chamamos mente.»
o ambiente. Faz exactamente o que fazem David Bohm
os homens.»
Como, ainda há pouco tempo escrevemos
num trabalho, a análise da raiz etimológica das
primeiras palavras gregas a propósito de Ser Os estudos da microfísica, da química e da
mostra, na linha de Heraclito, que o traço essen- biologia, tomando como exemplo as investiga-
cial da sua génese não foi o da duração, mas o de ções de Illya Prigogine – a teoria das estruturas
irrupção. Isto é, não foi o da permanência, mas dissipativas e o princípio da ordem atractiva
ao invés foi o da irrupção abrupta, o de surgi- das flutuações – estabelecem, que em sistemas
mento dum acontecimento que rasga, o de irrup- abertos, a evolução explica-se por flutuações de
ção-na-presença. Assim concebido Ser não é energia que, em certos momentos, não completa-
substantivo, mas verbo (o que surge). mente previsíveis, desencadeiam espontanea-
O modelo aqui emergente é um modelo em mente reacções, conducentes a um novo estado
crescimento, modelo Bioniano, pela repetição da macroscópico. Isto é: em vez da ordem a desor-
união da pré-concepção com os dados sensoriais, dem, em vez do determinismo a imprevisibili-
isto é do crescimento em continente e conteúdo e dade, em vez da necessidade a criatividade e o
no aparelho para pensar os pensamentos . acidente.
Os elementos de funcionam como variáveis e Mas talvez a maior importância desta teoria é
a pré-concepção representa um estado de ex- que ela não constitui um fenómeno isolado. Faz
pectativa, com as características de pensamento parte dum movimento convergente transdiscipli-
sem conteúdo. nar, quando converge por exemplo, com a teoria
Para Bohm o universo é multidimensional, da ordem implícita de D. Bohm, revelando deste
mas o nível em que, habitualmente nos coloca- modo um novo paradigma emergente.
mos, é o que ele denomina «da ordem explícita»
é tridimensional. Bohm avança um nível mais
profundo e subtil – a «ordem implícita» – abran- ***
gente da experiência física, psicológica e mítica,
que lida com o todo, como na teoria de campo, A simplificação que a metodologia psiquiá-
como uma qualidade, a que chama «abrangên- trica tem proposto não permite uma leitura ade-
cia», cujo movimento básico é o desdobramento quada à imensa complexidade do sistema. A
e recolhimento (projecção e introjecção, em lin- psicanálise evoluiu, a bioquímica evoluiu, a ge-
guagem psicanalítica) bem longe do espaço- nética evoluiu, mas a psiquiatria não.
-tempo cartesiano. Concebe ainda, um outro ní- Os estudos de genética sobre a esquizofrenia,
vel, esfera infinita multidimensional, a que cha- mostram, por exemplo, que a problemática nun-
ma a «ordem superimplícita», no qual este se- ca se poderá pôr em termos monogenéticos, mas
gundo nível mergulha. quando muito poligenéticos. É o caso dos estu-
Aquilo a que chamamos átomo é organizado dos estatísticos que, desde os anos 60, têm sido
por um campo informacional superior ou quân- feitos em gémeos univitelinos. Mostram uma
tico, que lhe dá significação. De Broglie propôs pregnância de 50 ou mesmo de 70%, mas nunca
um modelo extremamente interessante e comple- de 100% dos casos, como seria absolutamente de
xo, a que Bohm se reporta, cuja ideia básica, esperar se a concepção hereditária estivesse
descrita em termos simples, refere o electrão, co- absolutamente correcta.
mo uma partícula circundada por um campo, cu- Os estudos de neuroquímica são ilustrativos,
ja actividade seria função não da intensidade do por exemplo, do dédalo que a transmissão de
campo (carga), mas do conteúdo da informação mensagens no corpo pode implicar, com cone-
conduzida a todo o complexo experimental. xões neuro-neuronais, neuro-endócrinas, endó-

674
crino-endócrinas e endócrino-neuronais. Diferin- de conhecimento a partir do incognoscível da
do a comunicação neuronal da hormonal, uma mente humana.»
vez que os sinais neuronais viajam rapidamente
Diversos psicanalistas, desde Freud, deram
sobre vias fixas, enquanto os hormonais se di-
uma enorme importância ao estudo das partes
fundem lentamente através de todo o corpo. Am-
psicóticas e não psicóticas da mente, na esquizo-
bos os sistemas fabricam, armazenam e libertam
frenia, destacando a sua importância na focagem
mediadores químicos, possuem receptores espe-
técnica da psicanálise.
cíficos e podem empregar segundos mediadores.
Em 1939, no «Resumo de psicanálise» diz
Um sistema de dez elevado a vinte e seis, nú-
Freud: «Manteve oculto num rincão da mente,
mero de neurónios do homem é um sistema
deixando passar diante de si a fantasmagoria
combinatório de elevadíssima complexidade,
patológica, como se fosse um observador impar-
que não pode ser pensado num sistema de baixa
cial.»
complexidade.
Em 1943, Federn afirmou, a propósito da
Bleuler, depois de ter apresentado na classifi-
acessibilidade dum paciente esquizofrénico à
cação da Esquizofrenia que ainda hoje subsiste
psicanálise, que «uma parte da personalidade
(simples, catatónica, hebefrénica e paranóide)
continua dirigida para a realidade e anseia esta-
para mostrar a sua desadequação, apresentou
belecer transferência tanto das partes sãs do Eu
um trabalho sobre Esquizofrenia com 128 pági-
como das partes perturbadas».
nas em branco.
M. Klein sustenta que «sempre que o esquizo-
A categoria da loucura não é científica. O dis-
frénico seja posto em contacto com a sua depres-
curso sobre a loucura apresenta uma fundamen-
são emergente, ele torna-se comunicativo duma
tação pós-cartesiana. Razão/des-razão (loucura).
maneira sã» («Uma nota sobre a depressão no
A razão esclarece o que é:
esquizofrénico»).
- sujeito
Hanna Segall diz, a propósito da análise duma
- realidade
jovem hebefrénica, que a depressão no esquizo-
- verdade
frénico vem mostrar novos aspectos das partes
- ciência
não psicóticas da mente.
Logo a questão da loucura será a exclusão. E
Bion vai mais longe ao afirmar que: O Eu
de quê? O louco está excluído da questão do su-
nunca se retira da realidade. Dir-se-ia é que o
jeito e da verdade. Tudo o que diz não é da or-
seu contacto com a realidade está encoberto pe-
dem do sujeito, nem da verdade.
la predominância na mente e na conduta do pa-
Considera Green, no seu livro «Sobre a loucu-
ciente duma fantasia omnipotente, encaminhada
ra pessoal»:
para destruir tanto a realidade como a consciên-
«Poderia ser que, num nível teórico elevado, cia da mesma e assim alcançar um estado que
as questões com que nós psicanalistas somos não é vida, nem é morte… Todo o paciente es-
confrontados também são aquelas encaradas quizofrénico tem dois problemas a resolver: um
por todos os pensadores: o verdadeiro e o falso; pertencente à parte psicótica da mente e outro à
o real e o ilusório; o bom e o mau; bem e mal; a neurótica. Desenvolvendo posteriormente a sua
ordem da linguagem e a ordem da cultura; sen- conceptualização, Bion caracterizou a parte neu-
so e contra-senso; razão e irracionalidade (lou- rótica como pertencendo a áreas de transforma-
cura ou psicose?). Diferentemente dos filósofos, ção de movimento rígido, que implicam pouca
respondemos a estas questões, não no isolamen- deformação e deixam invariantes certos signifi-
to dos nossos pensamentos, mas na dupla ana- cados e características. Também as transforma-
lista-analisando, com o cenário psicanalítico. ções de pensamentos em palavras permitem-
Certamente as nossas respostas nem sempre são -nos a utilização dum idioma, segundo códigos
satisfatórias. Devemo-nos contentar com aproxi- comuns, que são também transformações de
mações (Bion) comparadas com a verdade abso- movimento rígido.
luta, que permanece inatingível. Entretanto a ex- Pelas suas características filogenéticas o ho-
periência e a reflexão nos convencem de que mem é um ser indefeso, incapaz de estar só. O
realmente hostilizamos uma parcela desprezível homem é fundamentalmente um ser gregário.

675
Ora a grande consequência da gregaridade é a bombom era já bem diferente da fome do ali-
dependência. Somos seres interdependentes. O mento-sessão. Ela não podia perder nenhum
modo de expressão patológico é a patologia. To- dos alimentos. Mais, ela precisava de se
da a patologia é uma forma de gregarização do alimentar incessantemente perante os olhos da
paciente. «O sujeito é um sub-objecto» (Amaral analista (trazia consigo mais caixas de chocola-
Dias). te), como para impedir que a sua imagem desa-
O paradigma, em que a organização da angús- parecesse.
tia tem a ver com o modo de organização do O problema era que, para Ana, as duas ali-
pensamento, cifra-se pela dor psíquica brutal, mentações pareciam anular-se uma a outra, já
numa dependência imensa em relação ao objecto que havia sempre algo que provocava a elimina-
externo. ção. Comer e ser comida. O corpo era tomado
As patologias graves de prevalência somática como um objecto oral e fálico. Sentindo-se bela,
na adolescência «exprimem, antes de mais, aqui- elegante, ela era a mulher fatal, «vestida para
lo que, nas identificações pubertárias do adoles- matar» tudo e todos à sua volta, mas isso signifi-
cente, com ambos os pais, se refere aos proble- cava para ela morrer de fome; comendo era ela a
mas transgeracionais destes», afirma Florence engolida ao engolir. Dum e doutro lado a morte!
Guignard. Nesse sentido, os sintomas psicosso- Não lhe sendo possível aceder à introjecção,
máticos serão como uma protolinguagem, que utilizando as interpretações e a capacidade con-
pode, pouco a pouco, inserir-se na linguagem tentora da analista, precisava compulsivamente
simbólica. de «in-corporar», utilizando o corpo na relação
Para J. Mc. Dougall, sob o impacto do proces- com a analista e procurando que a analista res-
so analítico, o paciente chega a viver os seus sin- pondesse de igual modo ao seu desejo.
tomas físicos como comunicações e a escutá-los As crises de bulímia eram de extrema violên-
a fim de captar melhor as pressões internas e ex- cia e quase constantes. O buraco negro, o buraco
ternas que o assaltam e, a partir daí, a investir sem fundo em que se sentia existir, devorava-a.
cada eclosão somática em sentido metafórico, Entretanto, através do processo analítico, tor-
para finalmente lhe atribuir uma significação nava-se cada vez mais claro para a analisanda, a
simbólica. imagem interna duma mãe devoradora e insaciá-
A tarefa do analista será a de criar com o ana- vel. Uma mãe que a quer como um instrumento
lisando um vocabulário que permita a tradução seu, mas que não a olha.
do bio-lógico para o psico-lógico, o que permite
P – Ela nunca gostou de mim. Acho que ela só
que o corpo autista e anárquico, que só se ex-
gostou da minha irmã, de mim não. A ela sempre
pressa através do soma, se converta finalmente
deram tudo, a mim nada. Ela coitadinha pre-
num corpo simbólico.
cisava duma casa e dum carro, para poder ca-
sar. Eu não tinha direito a nada. Mesmo quando
me viram doente e miserável, se chegaram a fa-
UMA VINHETA CLÍNICA
lar em dar-me uma casa, era como moeda de
troca. Davam-ma se eu fizesse o curso que eles
Uma pequena vinheta clínica duma paciente
queriam, me casasse com alguém que eles gos-
em análise, a que chamaremos Ana permitirá
tassem e lhes desse aquele neto, que a minha ir-
ilustrar melhor este processo.
mã não conseguiu ter.
Um dia trouxe para a sessão uma caixa de
bombons. Disse-me que tinha passado o dia, Ela faz o que pode, que é fazer-se alimento
como habitualmente, a comer chocolates mas para o outro, até poder começar a reconhecer aí
que não conseguia parar de os comer para vir à momentos de si mesma, momentos em que sente
sessão. Pedia desculpa, mas tinha que fazer as que há áreas da sua personalidade que ela
duas coisas: comer e vir à sessão. investe, dando lugar ao sonho e ao desejo. Esta
Simultaneamente, Ana falava-me do seu sen- «lógica de funcionamento» persistirá por longo
timento de vazio imensamente profundo e dolo- tempo, no qual alimentar-se/eliminar vai apare-
roso, que ela tentava compulsivamente preencher cendo em diversas configurações fantasmáticas e
e do seu sentimento de que a fome do alimento- trajectos ao longo do processo analítico.

676
Se a Pré-concepção do seio é inata, enquanto noro, compreensivo e vivo, capaz de manter a
atributo da espécie, é o modo como se organiza o distância entre os corpos.
encontro com o seio real, como se organiza na No circuito da incorporação aniquiladora, o
mente desta paciente o «comer» o objecto dese- corpo é sentido mais como sendo um peso a
jado e saboreado e, deste modo, ter o sentimento mais, do que como tendo peso a mais. Todo o
de esvaziá-lo e aniquilá-lo, que vai estabelecer apelo à analista se manifesta pela apresentação
um circuito fechado de «in-corporação». Engolir dum impossível ou pelo aniquilamento, em que o
incessantemente o objecto amado e assim drama da exclusão será reproduzido, se não adi-
destrui-lo equivale a tornar-se cada vez mais o vinhar o avesso e a verdade dessa exclusão ne-
objecto engolido e destruído. Logo, o objecto é gativa.
sentido como morto e o destino de Ana é viven- A lógica dum puro devir circular repetitivo,
ciado de modo semelhante, tornando-se o objec- com imagens paradas num tempo canibálico, vai
to que se suicida. Para a parte louca da mente, a ficando mais diluída com o que se vai ligando de
saída é tornar-se esse objecto aniquilando-o, pa- modo mais neurótico. Na rigidez discursiva, pe-
ra o poder conservar, enquanto que, para a parte la dificuldade em associar livremente, vai emer-
não-psicótica da mente, a saída é perdê-lo para o gindo a fantasia, navegando num espaço-tempo,
reencontrar de modo separado e distinto. que se abre a novas perspectivas. A transferência
O tempo nesta área do funcionamento da
age como um equivalente dum processo de for-
mente da paciente é um tempo circular, infernal,
mação do sonho e o processo terapêutico torna-
canibalesco, em que o ciclo auto-erótico de in-
-se o «aparelho para pensar os pensamentos».
corporação-eliminação se repete.
A ferocidade do processo vai de novo reacen-
der-se quando começa um namora, assinalando
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
aí uma tentativa de separação entre o seu próprio
gozo e o da mãe. As crises recrudescem, como Anzieu D. (1987). Las envolturas psiquicas. Buenos Ai-
tentativas de resposta auto-erótica à miragem res: Amorrortu Ed., 1990.
dum outro devorador ou canibálico, que se Asimov, I. (1992). O segredo do Universo. Lisboa: Pu-
absorve para não se ser totalmente absorvido, ma Ed.
como tornando-se «grávida» da própria mãe, Bachelard, G. (1938). La formation de l’esprit scienti-
que exige ser nutrida sem cessar, para a sua fique. Paris: Librairie Philosophique, J. Vrin, 1996.
própria existência. Bion, W. R. (1962). O aprender com a experiência. Rio
de janeiro: Imago Ed., 1991.
Para não desaparecer na aspiração do impera-
Bion, W. R. (1965). As transformações: a mudança do
tivo materno precisa de alimentar-se constante- aprender com o crescer. Rio de Janeiro: Imago
mente a si própria, a fim de encher o seu corpo Ed., 1991.
de conteúdos. Amar-se e ser amada representava Cabral, M. F. (1998). Pensar a emoção. Lisboa: Fim de
para esta paciente devorar-ser devorada. Logo o Século Ed.
que sentia era que nada podia ser conservado. Cassé, M. (1995). Du vide et de la Création. Paris: Ed.
Odile Jacob.
P – Para que hei-de crescer? Dói tanto! E Dias, C. A. (1995). (A) Re-pensar: Colectânea psicana-
lítica. Porto: Ed. Afrontamento.
para quê, se vou morrer? O meu pai morreu e a Dias, C. A., & Fleming, M. (1998). A psicanálise em
minha mãe está doente. Gosta de mim? Às vezes tempo de mudança. Porto: Ed. Afrontamento.
penso que sou a sua analisanda preferida? Ou- Guignard, F. (1996). O infantil ao vivo: reflexões sobre
tras vezes tenho uma inveja enorme de todos os a teoria analítica. Rio de Janeiro: Imago Ed.,
seus analisandos. E para que me serve a análise, 1997.
se você vai morrer e eu também? Heidegger, M. (1978). Introdução à metafísica. Brasí-
lia: Ed. Universidade de Brasília.
Heidegger, M. (1997). Ser e Tempo. Petropólis: Ed. Vo-
«Para que a sombra do objecto não recaia so-
zes.
bre o Eu», o lugar primeiro para a analista era o Laufer, M., & Laufer, M. E. (1984). Adolescence et
do objecto que existe e que persiste. Esta etapa rupture du developpement. Paris: PUF, 1989.
do processo analítico implicava, através da aná- Ledoux, J. (1998). The emotional brain. Londres: Wein-
lise de transferência, a tecedura dum tecido so- denfeld, Nicolson Ed.

677
Popper, K. (1982). O Universo aberto. Lisboa: Publica- Palavras-chave: Ansiedade, clivagem, destrutivida-
ções Dom Quixote, 1988. de, epistemologia, relação de objecto.
Rosenzweig, M., & Leiman, A. (1997). Psicologia fisio-
lógica. Madrid: Mc.Graw-Hill.
ABSTRACT

RESUMO The author deals briefly with some epistemological


questions, trying to establish bonds between the rela-
A autora discute brevemente algumas questões tivity theory, quantum mechanics (considering that the
epistemológicas, procurando estabelecer vínculos entre first opens the way to the latter, in spite of Einstein's
a teoria da relatividade, a teoria da mecânica quântica strong opposition) and the psychoanalytic field,
(considerando que a primeira abre caminho à segunda, namely after Bion.
apesar da renhida oposição de Einstein) e o campo da To illustrate this point of view, she presents a
psicanálise, nomeadamente a partir de Bion. small clinical vignette of a patient who has bulimic
Para ilustrar, apresenta uma pequena vinheta clínica suffering, and who is elaborating very painful experi-
de uma paciente com sofrimento bulímico, que está a ments of separation from the primary object, and she
elaborar experiências muito dolorosas de separação do examines a few transitions in the psychic structure.
objecto primário, examinando algumas transições da Key words: Anxiety, cleavage, destructiveness,
estrutura psíquica. epistemology, object relation.

678

Você também pode gostar