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TEORIA E INTRODUÇÃO

Direito só é real quando pode ser materializado. Discussão sobre justiça é pautada em ideais de liberdade e igualdade.

Não se costuma adotar a terminologia “Estado” para se referir a organizações políticas antes do Estado Moderno (apenas
em abstração). No transcurso histórico, o significado das categorias muda. Conceitos como ciência, político e Estado
estão sujeitos a diversas interpretações (ex: mutação constitucional; norma muda). Ao mudar a racionalidade, muda-se a
forma de ler. Há separação entre texto e norma (interpretação). O conteúdo está permanentemente em disputa.

Ideia de ciência antigamente era ligada à ideia de método e racionalidade. Vinha das ciências naturais (leis gerais,
universais). No entanto, os processos não são facilmente identificáveis no tempo. Não há um princípio da racionalidade. O
ser humano é um ser ideológico (não como falsa consciência, mas no sentido de que acessamos a realidade através de
mistificações). Realidade vai ser sempre interpretada e distorcida. Nomear é limitar, delimitar, constranger as coisas num
sentido, abordar a complexidade das coisas, do mundo. Dizer o que é uma coisa é considerado filosoficamente um ato
violento de construção. A palavra da nomeação não dá conta da complexidade no sentido de permanente disputa. É
necessário que as pessoas tenham acesso ao espaço de disputa de sentidos. A História está em disputa através do
relato. Relação entre ideia e concretude é dialética.

Anteriormente, a disciplina se chamava Teoria ​Geral ​do Estado, com estudo de leis gerais (limita-se ao viés universal).
Hoje entende-se que Teorias são constituídas a partir de um método. Teoria é neutra, imparcial, uma racionalização dos
processos. Doutrina é valorativa, parcial, abordando questões deontológicas.

As ciências políticas trabalham com pesquisas empíricas (ex: como aplicar políticas públicas no Direito). Estudam as
relações de poder, organizações políticas e sociais, etc. Política é aquilo que se refere à polis, ao cidadão (diferente de
indivíduo), ao público, à comunidade. De acordo com Aristóteles, o homem é um ser político.

Entende-se, pela lógica organicista, que a sociedade é uma produção ideativa. O Estado é um ente racional que decide
em nome do interesse geral, sintetizando-o. É a perspectiva de Hegel de tese (família) → antítese (sociedade) → síntese
(Estado), uma justificação lógica baseada no fato de que a fragmentação torna necessário um ente de razão que cuide da
síntese e dialética de multiplicidades e heteronomias. A sociedade seria um valor absoluto (o homem só existiria a partir
dela). No entanto, de acordo com a teoria mecanicista, a política deve valorizar o indivíduo, prezando pelo consenso
(vontade geral). A sociedade e o Estado não seriam condição. Refere-se à teoria contratualista: o ente soberano é criado
numa escolha, um ato simbólico pelo interesse privado.

Teoria tridimensional do Estado em análise, de Bonavides, analisa o Estado na perspectiva Filosófica (ideia) (base
epistemológica), Sociológica (fato social) (estuda as relações de poder, nas quais o Estado tem monopólio da violência
física e simbólica, produzindo a lei) e Jurídico-Político (fenômeno político) (Kelsen esvazia de moral, ética e sociologia).
Crítica é que todo viés deveria ter recorte político (não só o jurídico).

Eventos são momentos estruturais de ruptura. Suas datas iniciais são indefiníveis, pois um momento radical,
revolucionário, ocorre através de um processo gradual de transição.

Legitimação da estrutura centralizada e unificada:


Surgimento originário → Natural (família, desenvolvimento, economia, força) x Contratual (H, L e R)
Surgimento derivado → Típico (Estado pode surgir de uma união|fragmentação) x Atípico (guerra)

ESTADO MODERNO ⇒ Absolutista (Hobbes) → Liberal (Locke) → Social (welfare) → Neoliberal

Na Idade Média, relações de poder eram pessoais, precárias, com poder fragmentado. Não existia instituição e separação
entre Estado e indivíduo. Fronteiras eram frágeis, móveis e imprecisas, sem critérios de delimitação e medição. Havia
instabilidade política, social e econômica permanente. Sistema político era pessoalista, com relações de dependência
hierárquica, pessoal e de privilégios. Dominação era carismática, havendo relações indiretas de poder. Havia uma
multiplicidade de sistemas de regras. Instabilidade e inconsistência. Estado Institucional e Governo confundiam-se.
No Estado absolutista, o Estado estava separado da sociedade civil. Com o Welfare State, ambos passam a ser
associados. Estado Liberal é resposta ao momento em que houve um Estado extremamente abusivo, arbitrário e
interventor, sendo uma das maiores preocupações limitar a arbitrariedade do Estado, respondendo à realidade de abuso.

Mercantilismo → século XV-XVIII. Momento de transição. Unificação, protecionismo (privilegiar o comércio interno,
exportações e desenvolvimento interno de uma classe produtiva, numa lógica de balança comercial positiva), acúmulo de
bens (permite eventual distribuição para manutenção de estruturas da unidade), pacto colonial (ultramarino,
metrópole-colônia), metais (matérias-primas), intervenção (participação estatal), comércio internacional (chave
metrópole-colônia), classes burguesas, manufaturas (tecnologia). Inicialmente, comércio era rudimentar. Principal meio de
circulação era ouro (lastro monetário do dinheiro até Breton Woods). Progresso trazido pelo acúmulo de bens
(metalismo).

O Estado Moderno surge acompanhado do modo de produção capitalista. Ocorre com o surgimento da burguesia. Para
isso, foi necessário uma legislação estável, produzida de modo lento e gradual.

MAQUIAVEL

Itália, 1532. Local paradigmático de transição entre medievo e Estado Moderno. Maquiavel era defensor do Estado
republicano (não absolutista; concepção diferente = unidade). Ele era a favor da unificação das províncias italianas de
modo a garantir apoio mútuo e unidade econômica. Lógica racional. Assim, ele apoia a centralização do poder
(soberania). O equilíbrio ocorre, no entanto, apenas no Estado Liberal. Havia uma radicalidade de centralização nessa
época. Uma das famílias que mais detinha o poder era a Médici (Firenze), que foi retirada. Entra um governante e
instaura uma república, convidando Maquiavel para ser chanceler. Na retomada do poder, Maquiavel é preso, torturado,
solto, banido, perde seus bens e sofre ostracismo. Decide reconquistar Lorenzo de Médici, escrevendo, para isso, o livro
“O Príncipe”, no sentido de formação do Estado, centralização de poder, e dando-o de presente ao membro da família.
Considera-se que ele foi o pai do realismo político e da Ciência Política. Para atingir-se o poder, é necessária a força.
Para manter-se, é preciso ter virtú (“know-how”). Virtú traz Fortuna (sorte, poder). Defende a mentira, a vilania, a
destruição do inimigo (se necessário), a separação entre ética religiosa (divina) e ética política. Para manter o território
conquistado, é necessário colonizá-lo (matar, aniquilar lideranças que possam engendrar uma revolução). Maquiavel não
consegue o que almeja. Os Médici são retirados do poder e as pessoas que chegam interpretam através da dedicatória
que Maquiavel estava mancomunado. É expulso, rejeitado, tratado como traidor. É o primeiro a discutir a formação de um
Estado. Semente de discussão de natureza humana realista (não tem problema em dizer que o homem não é virtuoso,
não é bom, pessoas são gananciosas e disputam o poder).

Reforma Protestante foi apoiada por muitos não só pela questão religiosa, mas também política. A Inquisição foi uma
forma de reafirmar o papel do poder da Igreja. Havia o simbólico (ato) e o lugar que as pessoas ocupavam na inquisição
(hierarquia).

BODIN

França já em lógica monárquica-absolutista unificada, 1576. Defensor do absolutismo monárquico. República é união de
pequenas unidades familiares. Considerado pai da soberania (princípio, fundamento da reprodução da República). Sua
ideia é de que há múltiplas famílias coexistindo com interesses conflituosos. Tais famílias se unem de forma que só é
possível através da centralização do poder. Isso é a República (condição é poder centralizado que produzida a unidade e
a ordem; Maquiavel tb diz isso). Defende a gestão do poder divino monárquico (predestinação absoluta). A soberania é
indivisível (não pode ser delegada), ilimitada e absoluta (o soberano produz leis civis; há, paralelamente, leis da família -
soberano é o pai - e a lei interna - soberano é o indivíduo; o soberano está acima de todos, legitimando isso através do
fundamento religioso - Deus). O soberano deve obedecer às leis da natureza e a lei divina. A discussão age acerca de o
soberano ser ou não obediente às leis que ele mesmo cria. O rei bom é aquele que assegura a unidade e o bom
funcionamento da República, que obedece a todas as leis. O tirano é aquele que tem uma atuação despótica, para a qual
ação há resistência. Ser tirano não deixa de ser soberania; a discussão é sobre a forma de exercício da soberania,
devendo ser prestadas contas apenas a Deus. Estado interventor, arbitrário, abusivo. Se você concentra todo o poder
com uma pessoa só, haverá atuação tirânica. Isso gera, futuramente, a ideia de separação de poderes. Indivíduos tomam
ações de manutenção da subsistência (caça, trabalho), do comum (comércio), privilégio de espírito (filosofia, arte), que só
são possíveis de se resolver dentro de um Estado organizado. Fundamento do comando é divino.

HOBBES

Inglaterra, 1651. Autor do contratualismo (absolutista). Defende um soberano coercitivo pois pactos são palavras. A força
simbólica e concreta de um pacto é ter alguém que coercitivamente te obrigue a cumprir um pacto (figura do soberano). Cria
a categoria do estado de natureza (há controvérsias sobre ser ou não uma categoria ficcional; mas não deixa de ter
relevância concreta). Assim como Maquiavel, parte de uma noção de natureza humana negativa. Os homens são livres e
iguais, pressupondo que possuem os mesmos direitos (a tudo). A vida é o bem supremo de alguém (lógica jusnaturalista), e
o homem é um ser racional. Assim, o homem faz tudo necessário para preservar sua vida, inclusive matar alguma pessoa.
Tanto eu sou livre que livremente decido abrir mão da minha liberdade, me sujeitando ao soberano. É um estado de
insegurança, estabilidade, medo. Nesse contexto, o soberano tem que ser temido. Se as pessoas são más, elas não
levarão a sério a sanção caso não o temam. O soberano nunca descumpre um pacto porque nunca assinou. Deve ser
assegurado o fundamento do surgimento do soberano (vida e paz). O soberano nunca é injusto porque, se ele é produto da
razão e vontade humana, o erro é do homem. O contrato social é um pacto fruto da vontade e da razão dos indivíduos
através de um cálculo racional, utilitário. A lógica aristotélica do desenvolvimento natural é negada por Hobbes. A sociedade
é produzida por um ato de razão. E a primeira lógica de separação entre sociedade civil e Estado. Hobbes é jusracionalista.
A razão é inerente. A vida é inerente, é princípio. A teoria de Hobbes gerou um Estado coercitivo, arbitrário, violento.

O Parlamentarismo surge, na Inglaterra, durante o período feudal. Há uma divisão em 3: House of Lords (aristocracia),
House of Commons (democracia) e rei (monarquia), definindo um governo misto. Surge a partir de uma lógica de levar as
demandas ao rei e ter uma resposta popular às ingerências. Havia uma disputa entre a Monarquia Absolutista Inglesa
(Stuart) e o Parlamento. Em 1640, ocorre a Revolução Puritana (regicídio, instalação do governo parlamentar), colocando
Cromwell no poder, o que gera um apoio da burguesia e o consequente desenvolvimento econômico (principalmente naval).
Em 1660, Cromwell morre, gerando o caos. Stuart voltam ao poder insatisfeitos com o cenário. Entre 1660 e 1688 ocorre a
Restauração Monárquica. Locke é exilado na Holanda, onde conhece o rei Guilherme D’Orange. Em 1680, o parlamento
inglês divide-se entre conservadores e liberais (whig). Em 1688, porém, as casas do parlamento se unem e pedem a
D’Orange que assuma o poder através de um acordo que amplie o poder do Parlamento. Assim, ocorre a Revolução
Gloriosa e o estabelecimento do Bill Of Rights. O autor teórico é Locke.

LOCKE

1681. Em seu primeiro tratado, refuta a teoria do direito divino do rei, que afirma que Deus fez as pessoas diferentes,
colocando o rei como quem deve governar o povo. No segundo tratado, defende o Estado Liberal em contraposição política
à teoria dominante absolutista. Sua teoria é libertária e racionalista. Locke possui uma teoria contratualista e tem como
pressuposto fundamental a vida, que, para ele, tem como parâmetro a propriedade (vida - corpo - trabalho - ideias - frutos
do trabalho), conceito muito mais profundo e enraizado na figura da subsistência, da vida em si. Acredita que Deus deu o
mundo para todos igualmente. Assim, só é certo apropriar-se de algo necessário para si, desde que sobre frações para os
demais. No estado de natureza, há liberdade, igualdade e propriedade de si, dos bens do trabalho e do pensamento.
Problema é que, não havendo um ente externo que regule os conflitos, haverá uma violação ao direito à propriedade. O
estado de natureza não é ruim mas tem o inconveniente de ter uma medida de sanção com vinganças privadas sucessivas.
Assim, deve haver um ente único e universal que aplique medida de punição (caso contrário, haverá justiça privada 1 a 1,
com retribuição punitiva infinita). Assim, faz-se necessário um Estado que tutele, proteja, assegure e regule a maximização,
o exercício do direito à propriedade. É um pacto de direito civil, unânime. Se o direito de propriedade é prévio ao Estado e
este for corrompido, ele perde sua legitimidade, dando ao povo o direito à resistência. Pacto é racional e pressupõe
unanimidade e consenso (lógica de ato racional, de todos), criando um Estado civil. Como todos são considerados iguais,
opera a regra da maioria. Define a supremacia do Legislativo (criador de leis) sobre o Executivo (tem medo da “tirania”; tem
que meramente executar), além do Federativo (acordos internacionais, alianças entre Estados, funções que geralmente
eram do Executivo). Teoria dos 3 poderes de Montesquieu foi inspirada em Locke (não trabalha, porém, o poder Judiciário,
que seria uma função de estado). Defende Constituição pautada na razão que assegure o direito natural de propriedade.
NOZICK

A teoria de Locke é utilizada como base para a teoria de Nozick (1974) sobre um Estado ultra-mínimo (corrente filosófica
libertária). Ele vai contra a teoria dos utilitaristas (o importante é a maximização do resultado, do produto da ação em termos
de bem comum, uma soma de utilidades individuais), incluindo Rawls. Defende a ideia de um estado de natureza,
autopropriedade e direitos naturais (base Locke). Difere na proposta de uma solução organicista (neoliberal), através da
qual um Estado naturalmente se forma através de associações de proteção, em uma lógica comparada à mão-invisível do
mercado. Há uma defesa, portanto, da não-intervenção estatal na propriedade. Apenas pode haver intervenção em caso de
consentimento. Rejeita a interpretação sobre Deus proposta por Locke (“Deus deu o mundo para todos igualmente”). Para
Nozick, pode haver apropriação total de um bem caso haja benefício para o outro. (ex: se eu possuo um remédio que cure
uma doença, posso possuir a patente e garantir todo o lucro sobre ele; afinal, é garantido que o doente irá comprá-lo). Ex:
Imposto é roubo, pois o Estado não pode interferir na propriedade humana | Se eu quiser vender meu rim por dinheiro,
posso. É minha propriedade, o Estado não pode interferir. h Sua teoria é, atualmente, da filosofia moral (teoria da justiça),
sendo amplamente apropriada e adequada a uma lógica neoliberal. Noção de liberdade negativa (liberdade como não
intervenção). O Estado não tem que fazer juízo moral em relação às condições individuais. Não pode, por essa mesma
lógica, ser paternalista (proteção para evitar erro).

Nudge Theory (Thaler) → desdobramento da teoria do Nozick; defende que não posso deliberadamente dizer que certas
ações que tomo prejudicam ou não outrém. As pessoas racionalmente sabem que algo faz mal para elas, mas o fazem
mesmo assim. Tb considera que as pessoas agem por impulso e podem ser induzidas a algo. Assim, há o paternalismo
libertário (ex: Estado não pode obrigar a usar cinto de segurança, mas pode colocar barulho no carro). O nudge é o
empurrão, o incentivo, a indução. É uma espécie de coação mascarada.

RAWLS

1971. Teoria neocontratualista (Estado como ato de razão) de distribuição e redistribuição: se um Estado quer produzir
justiça e igualdade, tem que distribuir ganhos, bens. Critica a meritocracia; diz que há várias condições, então uma pessoa
não deve se beneficiar do que possui arbitrariamente (sorte). Critica uma corrente institucionalista que tem um caráter
relativista de justiça (as ideias de justiça são diferentes; não há critério de definição da “melhor” justiça). Acredita que,
através de um procedimento adequado de razão, você pode, sim, estebelecer critérios racionais de justiça. Questiona
também a corrente utilitarista, que afirma que o que importa é a consequência das ações. Se a ação do Estado maximiza o
bem-estar e a felicidade da pessoa, é justa. O utilitarismo, no entanto, é uma tirania da maioria, não tem valores morais e
maximiza opiniões. Além disso, as pessoas podem ser induzidas ao erro no calor do momento. Assim, podem chegar
majoritariamente a uma conclusão sem pensar, de fato, nas ação. Rawls, kantiano, acha que o ser humano nunca pode ser
meio, devendo sempre ser fim. Rawls é um autor neocontratualista, e defende um contrato social hipotético para chegar a
princípios de justiça e estabelecer os limites do Estado e como ele se constitui. Pede para que as pessoas façam um
esforço mental para entender sua ideia. “Pense que todos nós estamos deliberando sobre o que seria melhor para a
sociedade que estamos construindo.” Utiliza o recurso do “véu da ignorância”: discussão de princípios da justiça ignorando
fatores pessoais e privados. Deduz que todos nós, usando o véu, concordaríamos que existem bens básicos (sociais -
riqueza, direitos, oportunidades - e naturais - saúde, talento, dom, inteligência), mas não saberíamos o que temos. Assim,
haveria consenso sobre a justiça distributiva (Estado justo não é apenas eficiente, mas promotor da distribuição igualitária
de bens). O problema é que, dentro dos bens naturais, estão os talentos, dons. Solução é que, se você tem algo assim, os
demais se beneficiam. Todo mundo idealmente que não sabe sua condição concreta concordaria. Nozick critica porque diz
que a teoria não é liberal o suficiente porque não respeita e liberdade das pessoas. Outra linha de crítica é que diz que a
teoria não é igualitária o suficiente (não basta que o Estado assegure divisão igualitária de bens pq a forma como eu
converto esse bem num direito é diferente para cada um → igualdade substancial). Se o Estado atender todo mundo de
forma igual, vai quebrar (teoria de justiça concreta).

MONTESQUIEU
1748, Espírito das leis. Teoria inspirada no modelo inglês. Era nobre saudosista do governo monárquico. Defenda a
estabilidade (possível de ser conseguida através da moderação). Para evitar a tirania, é preciso que o poder se espalhe e o
parlamento e monarquia sejam contrabalanceados (um precisa do outro e um controla o outro). A separação de poderes é
proposta, então, não é da forma como é tradicionalmente entendida. A ideia é de freios e contrapesos (estabilidade,
moderação). Montesquieu não vê o Judiciário como poder, porque é “a boca da lei” (apenas aplica; interpretação literal,
neutralidade e imparcialidade). Defende separação de poderes para controle, com apenas o Executivo (que engloba o
Federativo) e Legislativo (na lógica do modelo inglês, com parlamento de 2 casas). Não defende a concentração de poder
na mão da nobreza, mas, como nobre, defende a institucionalização de um poder para a nobreza, que ocupa parte do
Legislativo (House of Lords), pois realiza um contrapeso à Monarquia, que tende, naturalmente, a ser despótica. A Igreja,
por exemplo, mesmo sendo um mal, tem a função positiva de ser contraponto à Monarquia. Para que haja um bom governo,
deve haver moderação, que implica equilíbrio, controlando a produção dos efeitos da decisão (mantendo o espaço de
disputa). A existência da monarquia é sustentada por um aspecto simbólico, identitário e financeiro. Antes do Montesquieu,
acreditava na existência de leis que diziam respeito a uma ordem natural (jusnaturalismo), um dever ser e uma autoridade
como fundamento. Montesquieu passa a ideia de um Direito Civil (lei positiva), que permite um critério rígido de moderação,
equilíbrio e controle. Defende uma lei que ordene e regule o Estado considerando condições concretas, cultura, valores do
Estado ao qual ela se aplica. Espírito da lei está nas relações sociais. Assim, é impossível haver uma lei universal. Apenas
a forma de fazer a lei pode ser generalizada. Não existe punição sem lei (critérios previstos escritos). A lei é violenta, mas
possibilita previsibilidade. Deve ser fruto da participação de todos, respondendo a uma demanda social. Há o direito das
gentes (povos), direitos políticos (soberano x súdito; Estado x membro do Estado) e direitos civis (súditos entre si; relações
privadas). A constituição do Estado não altera a natureza humana negativa.

Há 3 formas de governo:
→ Monarquia (honra - reconhecer lugar simbólico e aceitar estrutura de poder) → estados medianos
→ República (virtude) → democrática (todos) ou aristocrática (alguns) → estados pequenos
→ Despotismo (medo - tende a se autodestruir) → estados grandes (pequena possibilidade de deliberação)

É saudosista de uma república aristocrática (importante ter elite pensante que tome boas decisões, já que as pessoas não
fazem bom uso da razão). As pessoas atuam sob o princípio da virtude cívica (pensar na vontade, no interesse geral =
interesse público).

Categoria povo difere do somatório de indivíduos. É uma categoria amorfa, abstrata, despessoalizada. O povo fere o povo.
O povo aprisiona o povo.

ROUSSEAU

Ideia de natureza humana positiva. Existem 3 momentos: estado de natureza → instituição de sociedade → instituição de
um estado (passivo) soberano (ativo). No estado de natureza, as pessoas são iguais e livres e estão em disputa por
acharem que tem direito a tudo. Naturalmente, tendem a se unir (ex: famílias, onde já se identifica um espaço de alienação
em benefício próprio). Força não é capaz de produzir união e estabilidade, pois ninguém a obedece por vontade,
consentimento, e sim por necessidade. Isso significa que, na primeira oportunidade de neutralizá-la, o indivíduo o fará. É
instável, portanto. Tudo era pacífico até surgir o conceito de propriedade. Pacto de associação tem como fundamento os
associados (interesse mútuo), podendo, em tese, ser desfeito. E se aliernarmos a liberdade para um rei? Não. Se
alienamos nossa liberdade para um terceiro, some a característica que nos torna humanos. O pacto produz um corpo
social|moral|político. O fundamento do Estado, desse corpo, é a soberania popular. No momento em que surge um Estado,
nos tornamos cidadãos (relacional) possuidores de direitos. Surge o povo (união de cidadãos). “Cada um de nós põe em
comum sua pessoa e seu poder sob a suprema direção da vontade geral, e recebemos enquanto corpo cada momento
como parte indivisível do povo.” Povo, sociedade, são entes fictícios. Produto do voto da maioria é chamado decisão do
Legislativo. Juntos formamos um ente associativo e a vontade da maioria prevalece como se vontade do povo fosse
(vontade geral é diferente de soma das vontades). Teoria de Rousseau é antidemocrática, pois não cabe oposição (tirania
da maioria). Resistência é associada a morte, inimizade com o pacto. Liberdade natural → liberdade civil → lei (somos
iguais e livres por convenção). O povo deve deliberar (modelo grego). Interesse do povo > Interesse privado. Soberano não
pode ter interesses contrários ao do povo. Faz sentido você dar a vida para preservar a si (lutar pela pátria é lutar por si
mesmo). O fundamento da soberania é inalienável e indivisível. Representação no Executivo (funcionário do povo; poder
delegado). O povo faz a lei para o povo. Não interessa a forma de governo escolhida, a soberania popular sustenta o
governo.

Solução: Poder Judiciário com qualidade de decisão, proteção de minorias (base: Constituição).

FEDERALISTAS

A Constituição é auto restringida em relação a cláusulas pétreas, por exemplo. É produto do povo. Há direitos liberais (nos
protegem da arbitrariedade do Estado) e sociais (Estado garante direitos). Quanto mais flexível e aberta for, mais vai
perdurar, porém é um instrumento de garantia fraco. É legítimo o povo estabelecer limites ao próprio povo? (ruptura
institucional, revolucionária).

Federalistas inspiram-se em Locke, Montesquieu e Rousseau. São um conjunto de 85 artigos (1781) publicados debatendo,
discutindo, estabelecendo bases para a Constituição dos EUA. Faziam parte das discussões que a população realizava na
época. Madison, Jay e Hamilton eram os delegados (representantes das colônias). Na época, os EUA era colônia da
Inglaterra. O parlamento definia as regras das colônias, que começaram a se desenvolver e se industrializar, ampliando
suas bases. A Inglaterra estava em uma guerra de 7 anos com a França (disputa de território, etc.). Começou a criar
diversos impostos. Em 1776 ocorre a Revolução Americana. Em 1781, a Confederação é um ato que surge a partir do povo
e que tem como lógica juntar as 13 colônias num único e Exército sem abrir mão de sua autonomia. Existe o direito de
secessão (se desvincular do pacto). Na Espanha, por exemplo, não há esse direito, por isso a Catalunha não se tornou
independente. Existem 2 formas de se constituir uma federação: regiões com autonomia decidem se reunir e formar um
todo ou um todo decide se repartir, fragmentar. Nos EUA, os estados têm muito poder, diferente do Brasil. A história,
portanto, importa. Em 1783, ocorre o Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconhece a independência dos EUA, que ficou
endividado. Num cenário de indecisão quanto ao governo, são criados os artigos federalistas (85). Como conciliar liberdade
do Locke com soberania popular de Rousseau com separação de poderes de Montesquieu em um estado capitalista em
desenvolvimento? Em 1787, então ocorre a Convenção constitucional. Um dos temas discutidos foi a centralização. Se
estabeleceu um congresso bicameral (congresso dividido em 2 casas). No senado, 2 por Estado, e na Câmara,
proporcional. Representantes dos estados (se chamavam delegados) estabeleceram os parâmetros da constituição - tal
parâmetro se mantém. Por isso não há voto direto nos EUA. Deveria haver uma Constituição forte, que poderia ser
coercitivamente aplicada e que estivesse acima das constituições estaduais. Discutiu-se tb a separação de poderes
(Executivo e Legislativo). Quem vai impor o cumprimento da constituição? Seria o modelo de Rousseau o melhor?
Estabeleceram tb o Judiciário, uma Suprema Corte, responsável por interpretar e aplicar a Constituição; Se estabelece tb
um modelo presidencialista, havendo a primeira eleição (indireta) em 1789. O modelo indireto é através da democracia
representativa (não é tirania da maioria). Reconhecimento implícito de que o modo de produção afeta eticamente a forma
como a sociedade se comporta, é concebida. O cidadão não é virtuoso (questão das facções → território, disputa eleitoral),
sendo a natureza humana negativa (advinda do capitalismo)

Republicano, federativo, democrático, presidencialista

Estabelece a separação de poderes (com base na ideia de freios e contrapesos de Montesquieu): Executivo, Legislativo e
Judiciário. Fundamento dos poderes é a ideia de soberania popular de Rousseau. Cria-se, então, um modelo federativo
(União Federal → Estados-Membros → pacto entre Estados). É estabelecida uma Constituição com direitos fundamentais e
básicos (direitos de proteção do cidadão contra Estado). Base é um Estado Liberal. Ideia de liberdade como não
intervenção. Modelo presidencialista (chefe de governo se confunde com chefe de estado). União e centralização em um
território amplo. O tempo da política é lento, enquanto o tempo do político é o agora. Política é a forma tradicionalmente
democrática de solução. Democracia diz respeito a direitos e interpretação de direitos. A democracia do Judiciário está na
materialidade, na qualidade do conteúdo de uma decisão.

Artigos ​1, 2,​ 9, ​10​, 15, ​51​, 57, 62, 63, 78, 85

REVOLUÇÃO FRANCESA​ (1789 - 1799)


Criamos regras para estabelecer condições de sermos livres. Pacto de associação que as pessoas fazem é de proteção e
cooperação (daí vem o ideal de fraternidade) França era uma monarquia absolutista e um estado extremamente feudal
(agrícola, sistema de privilégios, etc.). Se entendia que havia 3 estados (clero, nobreza e povo - burguesia?). Começam a
ser cobrados impostos do clero e da nobreza. Crise fiscal, dívidas pela guerra, problema ambiental - 87 a 89 - que gera
fome, sobrecarregamento de impostos. Construção de um espaço público (Habermas) - surgem espaços de conversa e
debate que juntam múltiplas pessoas com múltiplas opiniões. Rei convoca assembleia dos notáveis (só clero e nobreza) e
diz que eles vão precisar pagar impostos. Eles discordam e resolvem se unir contra o rei com base nas ideias iluministas.
Eles pedem ajuda ao povo, que pedem a convocação de uma assembleia dos estados gerais. Rei convoca buscando ver o
fruto dos problemas econômicos. Concluem que ele mesmo o é. Cada estado possuía um voto. O povo começa a
reivindicar o voto proporcional ao número de representantes de um estado. Rei fecha a assembleia. Tal ato, porém, não tem
validade, já que o rei estava com o poder desacreditado. Convocação da assembleia geral em maio de 1789, transformada
em assembleia constituinte em junho de 1789. Na assembleia constituinte, o povo reconhece seu poder e seus direitos,
buscando anular o rei, elaborando uma constituição, constituindo uma monarquia constitucional. É elaborado a comuna
(espaço temporário de administração e gestão) e é montada uma guarda nacional (formada pelo próprio povo). É uma força
popular armada. Rei reprimia. Em 14 de julho de 1789, o povo, temendo repressão do rei, pega a guarda nacional, marcha
até um hospital, pega as armas e marcha até a bastilha, que, como prisão política, era um símbolo do poder real. Em 26 de
agosto de 1789, essa assembleia estabelece uma carta, um documento que a é a base da construção do novo estado que
é a declaração de direitos do homem e do cidadão. Foi elaborada na mesma época uma declaração de direitos da mulher e
da cidadã, mas foi reprimida e sua autora foi executada. A constituinte começa a confiscar bens, espaços de terra da Igreja
(principal instituição feudal). Se refugiam na Prússia, por exemplo. O rei tenta fugir, mas é preso (não é executado pois
ainda se desejava instaurar uma monarquia limitada). Espaço de distinção é neutro, de mérito, por propriedade (ideologia
sustenta). Todo processo revolucionário é violento, excessivo, agressivo. Tais parâmetros só vêm depois. Isso permite que
não haja critério normativo para dizer qual é a conduta lícita e ilícita. Tribunal popular na Rev. Francesa em que o povo julga
de acordo com a própria opinião. Ato político é o ato radical que suspende a coordenada normativa vigente que define o
violento e o pacífico. É criada uma Convenção, novo aparato normativo do povo para o povo. A fase do terror é
caracterizada por execuções mandadas pelo tribunal revolucionário.

​BURKE

Pai do conservadorismo, Inglaterra. É da mesma vertente que Locke. Ser conservador é ter um objetivo, um fundamento
muito específico buscando-se conservar, manter algo.

No mandato imperativo, o político é eleito como um porta-voz do interesse de quem o elege, que ordena. O eleito seria um
mero reprodutor das palavras do eleitor, ideia que poderia servir para defender interesses locais. Um grupo local de
pessoas com interesses passariam suas demandas para os representantes que, por sua vez, discursariam no Parlamento.

Discurso aos eleitores de Bristol. Burke foi candidato a representante de Bristol na House of Commons mesmo nunca tendo
morado lá ou estabelecido vínculos. Seu discurso busca justificar porque ele pode ser um bom representante mesmo não
ouvindo seus eleitores e não entendendo suas necessidades. Entende que se é eleito para o Parlamento Inglês, devendo
atender ao interesse geral. Defende um modelo de mandato representativo, no qual o eleito representa uma totalidade. A
opinião do eleitor é importante, mas, ao escolher um representante, se confia que é um cidadão virtuoso (que prioriza a
vontade geral), capaz de fazer um julgamento racional, agir com diligência, discutir racionalmente com os pares em nome
do interesse comum, concliando os interesses da totalidade O representante possui independência para fazer seus juízos e
tomar decisões políticas. O voto é um gesto de fidúcia e confiança. O representante pode ser excelente ainda que não
escute seus eleitores. Um péssimo representante seria aquele que pensa apenas no que uma parcela do povo quer. O
Parlamento é a assembleia deliberativa de uma nação com interesse na totalidade, no qual nenhum propósito ou
preconceito local deve guiar exceto o bem comum resultante da razão geral da totalidade. Rousseau, no entanto, critica o
modelo inglês, afirmando que a população não entendeu que alienou sua liberdade a tal modelo representativo.

Acreditava que tudo foi criado por Deus. Existe, assim, uma ordem natural das coisas, colocada por Deus. A desigualdade
existe porque Deus a criou, é algo natural da sociedade. Isso significa que o processo natural de desenvolvimento das
sociedades leva à divisão de classes, à desigualdade social. Para Burke, é uma perda de tempo achar que se pode
subverter a ordem natural promovendo uma igualdade de fato. A desigualdade é natural, óbvia, dada, existente devido ao
processo natural de desenvolvimento da sociedade. A atual resposta dada a essa desigualdade é a meritocracia.

No processo de elaboração de uma lei, é necessário olhar os costumes do local, entender como as relações se deram e
foram construidas, depreender a ordem natural que rege a sociedade. O objetivo do Estado é maximizar as potencialidades
da sociedade. A tradição carrega os valores que permitem a construção de uma identidade nacional. O foco é a
continuidade. A Constituição é a materialização de todo um processo de evolução, tradição e história de um povo. É do
interesse de todos que a tradição seja mantida (referencial de comunidade, justo e injusto, etc.).

Defende partidos políticos não como facções (pessoas organizadas para defender interesses privados), mas como formas
de organização que visam o interesse geral e o bem comum.

Burke é irracionalista. Acredita que preconceitos são positivos, devem ser implementados e considerados. São frutos de
toda uma experiência de vida, histórica da sociedade. Aceitar o preconceito seria, portanto, aprender com a história. O que
importa é o desenvolvimento histórico da sociedade e onde ela chegou, e isso presume desigualdade social, divisão de
classes, pré-juizos e preconceitos.

Sua teoria é considerada a base de todo discurso anti-revolucionário, mas Burke é contra um tipo específico de revolução.
Apoiou a Rev. Gloriosa (instalação de um modelo de estado liberal através de uma monarquia constitucional limitada).
Escreve uma obra na qual busca convencer os cidadãos ingleses da importância de se manter a Constituição (os costumes,
a tradição, etc.). Para ele, a Rev. Francesa é um processo que coloca fim na história, tradição, monarquia, igreja, nobreza,
situação econômica local, valores, etc, não restando referenciais de certo e errado. Por isso, permitiu o terror e
decapitações. Burke defendia um processo social de transformação que mantivesse os costumes e as tradições. Para ele, a
Rev Americana e Gloriosa foi política, subvertendo os lugares de poder e do Estado, enquanto a Rev Francesa foi
revolução política e social, solabando qualquer base simbólica e referente. São as tradições que permitem a identificação
como sujeito, o pertencimento a uma comunidade e a existência de referentes sobre bem e mau, justo e injusto, certo e
errado. Para Burke, a revolução deve vir de cima, porque o povo é ignorante e não virtuoso o suficiente. As ideias abstratas
da Rev Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) são ruins, pois o que vale é o valor concreto, a tradição, a história,
que provêm um arranjo de equilíbrio.

Defende o ciclickhait (compartilhamento de valores comuns e sociais), diferente da moralitá (moral individual privada)

Os inimigos do Burke são os filósofos iluministas (deram substrato teórico para justificar processo revolucionário), uma
pequena burguesia endinheirada (que se aproveitou do estado, do seu endividamento e da crise fiscal que ajudou a
provocar, objetivando tomar o lugar de poder; uma elite de dinheiro que substituia a nobreza e o clero).

​KANT

Revolução copernicana. Seu fundamento é a razão. Compartilha as mesmas bases de Rousseau.

Afirma que não existe uma verdade, essência no objeto. O que existe são representações que as pessoas fazem das
coisas. Através de qual método se reproduz a representação mais próxima da verdade das coisas?. Surge a ideia de que
um mesmo fenômeno pode ter múltiplos sentidos diferentes para múltiplas pessoas diferentes. A metafísica tenta entender
quais são os princípios, condições do pensamento que fazem com que eu produza um sentido verdadeiro sobre as coisas.
Um fato per si não é justo ou injusto, é algo atribuído por cada um. O que acontece no mundo real é um fenômeno. Kant diz
que existe separação entre o fenômeno e a ideia que faço dele. Cria-se formas de tentar entender o que um gesto
representa, como alguém se sente, etc. Kant descobre que a única forma de se relacionar com o mundo é produzindo um
sentido sobre ele, representando-o pela linguagem. A condição para que isso se produza é o lugar de fala. Quem observa
um fenômeno dá um tom e sentido a ele. A metafísica busca estudar as condições para que se produza um sentido sobre o
mundo e sobre os sujeitos que produza uma ideia que pode ser universalizada. Quer entender as condições racionais a
priori que permitam nosso conhecimento do mundo, os princípios que regem o pensamento. A experiência é diferente para
todos, mas a razão é comum, havendo um parâmetro de compreensão do mundo prévio. Pensa em condições racionais
para conceber o mundo. Não há mais a associação, a justificação, o fundamento transcedental (Deus). Sobre um fenômeno
observado, podemos produzir juízos analíticos (predicado da frase é constitutivo ao sujeito) ou sintéticos (atribuição
externa).

Ideia de progresso individual: quanto menos eu me deixo levar na minhas construções por afetos, paixões e concepções
privadas, mais atuo racionalmente.

Se a ideia que construí for verdadeira, ela é universalizável (todos nós, utilizando a razão, chegariamos à mesma ideia). A
universalização permite que uma lei seja elaborada e aplicada a todo mundo indistintamente, configurando-se como um ato
da razão. Nós, como sujeitos racionais, concordaríamos com a aplicação universal. A ideia de juízos universais origina a
base do imperativo categórico. O que é racional é moral, e vice-versa.

Universalizar uma lei é fazê-lo pelo povo e para o povo através de um ato de razão. Assim, um membro do Legislativo deve
fazer uso livre da razão. Uma pessoa com vínculos prévios ou atuais de dependência não seria capaz de tomar uma
decisão racional. Cidadão ativo é aquele que vota, é votado e faz as leis, é proprietário, não é empregado de ninguém, não
depende financeiramente de ninguém para nada. Sobram os homens brancos. A cidadania passiva não é inerente ao
sujeito, é uma condição no mundo, podendo alterar-se e, consequentemente, tornar um cidadão passivo alguém ativo.

O direito e a lei devem ser sintéticos e a priori. Referem-se à categoria do espaço e do tempo, que são instituições. Sã
quantidade, qualidade, relação e modalidade. A ambivalência da racionalidade e moralidade são a base de toda produção
legislativa. Uma lei deve se aplicar a todos indistintamente (universalização).

ideia do Rousseau de que o máximo inerente ao homem é a liberdade, e o gesto absoluto da liberdade é que sou livre para
criar regras a mim mesmo, que devem ser morais e justas, e devem ser aplicáveis e universalizáveis para todos.
Livre-arbítrio para o Kant é a possibilidade de você estabelecer para você mesmo qual é o seu juízo moral, numa condição
de que ele seja universalizável para todos. Agir livremente é agir como se fosse livre. Não há condições objetivas e
materiais de aferir e provar a liberdade de alguém. É agir produzindo um juízo moral de conduta que possa se universalizar
para todos. Kant é um autor racionalista. Uma regra de razão é moral, justa, que pode ser universalizável, aplicada a todos.
Gera um dever prático. Uma decisão moral é ética per si porque é um ato de razão, universalizável.

O direito não tem que ser pensado e elaborado a partir dos efeitos concretos de maximização da felicidade. As pessoas são
tomadas por paixões e afetos momentâneos, que fazem com que ela suspensa a razão. O papel do direito não é dar
ouvidos às paixões, é estabelecer regras que sejam indiferentes, que se apliquem a todos. O que importa são juízos
racionais prévios. Valores só serão morais se puderem ser universalizados.

Direitos humanos são eminentemente pós-kantianos. Apesar de culturalmente diferentes, os países devem adotar os
direitos humanos pois são valores inerentes.

O direito é a soma das condições sob as quais a escolha de alguém pode ser unida à escolha de outrem de acordo com
uma lei universal de liberdade. A minha liberdade tem como limite a sua liberdade, e assim por diante, porque isso é um ato
de razão. A lei universal do direito é desdobrada do imperativo categórico (age com base em uma máxima que possa ter
validade como lei universal). A lei universal do direito é “age externamente de modo que o livre uso do seu arbitrio possa
coexistir com a liberdade de todos de acordo com a lei universal”. Objetivo do direito é permitir que a liberdade se
desenvolva, permitir a maximização da liberdade, permitir que a liberdade inerente ao ser humano se materialize, etc.
Direito é um gesto de liberdade que pressupõe obediência e algum gesto de autonomia. Pressupõe um dever e é um gesto
de razão.

O direito possui 3 direitos. (i) não faça de você mesmo um meio para os outros, mas seja simultaneamente um fim para os
outros. No momento em que decido que agir dessa forma é ruim para mim e universalizo isso, eu me torno um fim para os
demais. (ii) Não se deve prejudicar ninguém mesmo que se possa romper um relacionamento ou fugir. (iii) Pparticipe de
uma condição na qual o que pertence a cada um possa ser assegurado a todos os demais (base direito de propriedade
contratual do Kant). O fundamento do direito é uma ação considerada ruim para todos por todos. Isso é um gesto de
liberdade porque está se tomando essa decisão racionalmente.

Contrato social é um gesto de razão. Abre-se mão da liberdade absoluta e submete-se ao Estado, mas é desejável que
todos o façam. O contrato social é sempre unânime. Qualquer ser humano racionalmente concluiria que a paz é melhor que
a guerra. Conforme haja um progresso das pessoas no sentido de serem mais racionais, a tendência é que cada vez mais
se produza a paz perpétua.

Kant defende a separação de poderes e uma República (modelo mais mais adequada à liberdade), desejável por um ato
racinal. É racionalmente desejável que o poder esteja espalhado e controlado.

Kant entendia que a divergência, o discenso e o confronto de ideias são inerentes ao convívio social e ao ser humano,
devendo ser valorizado. Quanto mais as ideias entram em confronto, mais utiliza-se da razão para deduzir qual ideia é a
melhor. O confronto permite, portanto, um melhor desenvolvimento da razão. o progresso das ideias é dialético. Kant é a
favor do debate, da discussão racional. O progresso se daria a partir do confronto e da disputa.

​HEGEL

Racionalista e idealista. Separa as coisas e a ideia que fazemos delas. Diferente do Kant, entende que a coisa existe, mas
entende que ela só pode ser acessada pela ideia. Hegel busca entender como se dá a formulação de uma ideia verdadeira.
Afirma que há uma relação dialética entre a coisa e a ideia. As frases produzem efeito na realidade, transformam a forma
como as pessoas enxergam o mundo, e quando o mundo se transforma, isso afeta o modo como as ideias são produzidas.
É um processo cíclico entre realidade, materialidade e ideia. Dialética é uma lógica e um método. Para Hegel, parte-se da
ideia em direção à materialidade (diferente de Marx).

Existe o jovem Hegel, de esquerda, progressista, das transformações concretas e da dialética, que defende a Rev.
Francesa. E existe o velho Hegel, de direita, idealista, defensor do Estado totalitário e conservador. Karl Marx era hegeliano
de esquerda. Por essa fase, Hegel é autor base de regimes totalitários, catalogado como autor que defendia o absolutismo.

Hegel era contra a participação popular no espaço público. Defendia o sufrágio, mas porque era importante que as pessoas
acreditassem em sua participação. a prática, as decisões do Estado deveriam ser tomadas por pessoas mais habilitadas.
Visão de espaço público é mais elitizado. Argumento de razão (quem poderia usar melhor).

Hegel possui uma base aristotélica muito forte. Para ele, é extremamente importante a ideia de que existe um homem que
é o zon político. Só se é homem dentro da comunidade. Para ele, a pólis grega era um modelo perfeito, uma totalidade,
uma unidade que representa a cultura, a arte, a política e os valores de um povo (espírito do povo). O espaço público
representa tudo que um povo é em termos estéticos, artísticos, políticos, de costumes, valorativos. Pólis é essa síntese. É
uma unidade ética. Representa tudo que tem de melhor. É lugar de liberdade, igualdade, etc. Essa ideia de que existe uma
perspectiva histórico-cultural na sociedade se arrasta no desdobramento da teoria do Hegel. É esse conceito que depois é
apropriado por uma série de autores que criticam o Hegel como autoritarista, totalitarista.

A base hegeliana é a dialética, uma ideia lógica que pretende entender o desenvolvimento do conteúdo ideal das coisas.
Hegel acha que o que existe é só a coisa como ela é. Pensar um dever ser é sempre tentar forçar a realidade na ideia, o
que é errado. A ideia tem que representar a coisa, mas a coisa não é estática, está permanentemente em tranformação.
Assim, a ideia tb está em transformação permanente. Esse processo se dá por apreensão da realidade, um processo
dialético. Quando a ideia muda, ela afeta a coisa e vice-versa. Esse processo é dialético, de compreensão da realidade,
onde se atribui um conteúdo à realidade, o que ela efetivamente é, e não um dever ser. O movimento nunca termina (elipse)
porque a história nunca cessa de operar. Você nunca pode parar de produzir sentido para as coisas porque sua
transformação nunca para. Teoria do movimento das coisas. Se o movimento da história nunca cessa, então nunca há
ponto em que se afirme a verdade absoluta. Sentido darwiniano. Idealmente, logicamente, hipoteticamente, existe uma
verdade absoluta que totaliza as coisas, um todo, mas para Hegel essa verdade só é possível na lógica, nunca na
realidade. Todo o processo de construção de uma ideia de uma identidade. Se a realidade sempre muda, a dialética
sempre muda, porque o sentido está sendo reproduzido. Não é que a história de um povo acabou. A forma como
concebemos a sociedade vai se transformando. Os valores vão mudando. É o continuum da história. Não houve ruptura
entre modo de produção feudal e capitalista, um se converteu no outro. Tenho que ver como a partir da realidade produzo a
ideia e isso transforma também a realidade. Ideia de transformação histórica.

Defende uma teoria que esse processo de transformação cíclico, elíptico parte de uma universalidade abstrata, para uma
particularidade, para uma universalidade concreta. Abstrata são ideias, direitos abstratos (ex: todos são iguais perante a lei,
liberdade, contrato social, etc.), categorias abstratas sem sujeito. Particularidade é a ideia kantiana (um sujeito autônomo,
individual, pensando o que é moral, o que é justo, certo, errado). A síntese disso é uma universalidade concreta, a ideia de
vida ética, do mundo ético como razão instituída, é a ideia de direito na comunidade. De direitos e normas abstratas eu
tenho sujeitos autonônomos e tenho a síntese, a vida em comunidade, como essa moral se torna implementada
socialmente. A vida ética (em comunidade, compartilhamento de valores) é mais importante que uma vida moral, individual,
abstrata, particular. Noções privadas são formadas a partir de valores já existentes. Não há sujeito abstrato, autônomo
separado da comunidade. Não tem como pensar uma moral fora da sociedade. Linha do Maquiavel, realismo político.

Essa supervalorização da comunidade é uma das críticas que ele faz às teorias contratualistas. Elas pregam o interesse
individual e o colocam como fundamento da sociedade (indivíduos prévios com valores prévios reunidos num pacto de
associação). Mas não existe indivíduo fora da sociedade. A sociedade vem antes. Só existe sujeito porque existe Estado.
Objetivo do Estado não é atingir interesses de igualdade, liberdade, propriedade de cada um, o objetivo é a própria
associação de indivíduos. Estados como locus dos valores comunitários permite a associação, o vínculo de comunidade, a
união. Você só pode ser livre, igual e proprietário dentro de uma comunidade. Ideia de que não existe nada mais
demonstrativo de uma liberdade individual do que produzir coerções, ideias, regras que se apliquem a todos. Vai dizer que
a liberdade negativa e positiva estão corretas. Se a maximização dessas ideias são dentro do Estado, punir alguém que
viole a lei é o gesto de maior demonstração do vínculo e da força da comunidade. A coerção ao descumprimento da regra é
um gesto máximo que demonstra a força do vínculo da comunidade. Toda vez que você resiste, descumpre a lei e o Estado
te reprime, não só por descumprir ou incomodar, mas por um gesto simbólico que mostra que a comunidade como união e
força é superior ao indivíduo.

A categoria mais importante é a eticidade (ciclickhait), valores compartilhados historicamente produzidos, costumes.
Permitem que se denomine um grupo de pessoas uma comunidade. Para Hegel, só existe moral privada dentro do espaço
comum. Só existe moralidade porque há eticidade. Quando alguém está sendo egoísta e pensando no que é certo e errado
para si (elimina fator social), é menos livre. Existem 3 elementos: família (espaço hegemônico onde as pessoas tem
interesses compartilhados, núcleo fechado com mesmos valores, solidariedade orgânica, unidade abstrata particular). Mas
famílias entram num compartilhamento comum, sociedade civil, um espaço de competição, interesses conflitantes,
diferenças. Comunidade política | Sociedade civil é o espaço onde as pessoas trabalham e satisfazem suas necessidades.
Mas para Hegel tb é espaço de individualismo, livre-arbítrio, onde não há os mesmos interesses, predominando relações
antagonísticas, conflituosas. O que permite essa heterogeneidade da sociedade civil com múltiplos interesses se harmonize
numa comunidade é o Estado. Quando fala-se que o Estado é realidade efetiva da ideia ética, é no sentido de ciclickhait,
eticidade, costumes, valores, crenças sociais compartilhadas. É autor conservador, sua teoria parece muito com a do Burke.

Não basta que a lei seja produzida por nós para nós, racional. Deve refletir os costumes, valores, tradições e crenças de
uma comunidade. Separação entre cidadão e burguês. Máxima é exercer liberdade individual mas inserindo ela,
compartilhando ela, permitindo que ela se desenvolva com base em valores coletivos. Vontade geral deve se tornar vontade
privada. Liberdade só é vista se compatibilizar com a liberdade coletiva, com as regras do direito. Só há liberdade individual
dentro da liberdade coletiva. Não existe separação, oposição entre interesses públicos e privados. Os privados estão
dimensionados, condicionados pelos interesses públicos.

Ciclickhait é comportamento ético fundamentado no costume, na tradição e desenvolvido por meio do hábito e da imitação
de acordo com leis objetivas da comunidade. É algo naturalizado. Agimos em conformidade com o direito e nos
preocupamos com o bem-estar que é simultaneamente individual e bem-estar em sua dimensão universal, é o bem estar de
todos pelo meu bem-estar e vice-versa. A eticidade reune a abstração e a vontade particular em um momento de
consciência da liberdade e importância de uma comunidade racional com um Estado.

​TOCQUEVILLE

Vivenciou o contexto da Rev Francesa numa dinâmica mais tardia. Seus avós foram guilhotinados, seus pais foram presos.
Após a entrada de Napoleão, pais foram soltos, participou da constituinte da França. É considerado autor liberal. Teoria foi
sobre como pensar um regime liberal dentro do modelo francês. Se torna contra a gestão de Napoleão, é expulso e sua
carreira política acaba. Sua pauta sempre foi como é possível pensar um processo democrático igualitário que não abra
mão da liberdade. Não é tão óbvio, simples, conciliar igualdade e liberdade. São valores que podem conviver, mas
dificilmente em harmonia. Forma como enxerga democracia não é a mesma de Rousseau. Enxerga a Rev Francesa como
um processo natural, inevitável e fundamental nesse processo de produção de igualdade.

Sua obra mais importante se chama “Democracia na américa”. Vai para os EUA, faz uma pesquisa empírica e a partir disso
escreve essa obra tentando pensar a partir do que viu e propor um modelo de como a democracia na França poderia ser
mais respeitosa com o fundamento da liberdade. Desenvolve nessa obra um tipo ideal de democracia. Observa a
democracia nos EUA, compara com a França, pega elementos gerais comuns. Tipo ideal é um conceito generalizante
pensado a partir do concreto mas para uma categoria aberta.

Democracia permite liberdade e igualdade. Defende, acredita que é preciso encontrar um ponto onde elas pudessem se
maximizar mutuamente. Queria pensar qual é o regime democrático que permite ter o máximo de liberdade e igualdade
coexistindo. Não tem como ter 100% de liberdade e igualdade. Pensa em qual é o modelo ideal que maximiza.

A democracia é para ele um processo inevitável e universal. É quase uma lei natural, algo divino. Ir contra a democracia é ir
contra a vontade de Deus. A democracia nada mais é que uma lei natural de igualdade. É equivalente a um percurso
natural e social que tende à produção cada vez maior de igualdade e liberdade. Inevitavelmente os homens tenderão a
sempre produzir mais igualdade e mais democracia. Tenta pensar que alguns lugares estão com essa situação mais
desenvolvida, outros menos. Quer entender o que tem que ser feito para que esse lugar menos desenvolvido possa cada
vez se desenvolver mais rapidamente. Quando compara modelo democrático francês e norte-americano, diz que vê
democracia nos dois lugares, mas que nos EUA é a mais avançada que existia naquele momento. Diferentes lugares têm
diferentes tempos democráticos e níveis democráticos. O ponto é como entender, pensar e fomentar esse desenvolvimento
democrático, que nada mais é que a produção de uma cada vez maior igualdade.

A igualdade é natural, mas pode levar à servidão ou à liberdade. Pode produzir prosperidade ou miséria. Pode levar às
luzes ou à barbárie. Igualdade é um processo natural e tende cada vez mais a ser produzido. Essa maximização pode
desencadear algo bom ou ruim. Democracia pode se converter em uma tirania da maioria. Não necessariamente mais
igualdade vai produzir mais liberdade. Essa igualdade é inerente e não é só em dimensões econômicas, tem dimensão
cultural tb, um sentimento, uma ideia, um valor. É eu enxergar você como alguém igual a mim. A lei tem uma dimensão
formal. É preciso ter uma dimensão cultural em que as pessoas se vejam, se percebam e se constituam como sociedade a
partir de um valor. Não porque a lei disse, mas porque nós efetivamente nos enxergamos assim. Não basta apenas criar
leis, é necessário um avanço cultural. Isso é inevitável. Trata como se fosse algo inerente ao desenvolvimento histórico.

A democracia é inevitável, universal e diz respeito á produção e à materialização de uma lei de igualdade que
permanentemente se produz e se acresce. Não necessariamente tem mais liberdade. Esse desenvolvimento da democracia
não vem de forma pacífica, está permenentemente sujeito a perigos, como a sociedade de massas (tirania da maioria;
exclusão da diferença). Defende um grande manifesto ao pluralismo e ao direito de auto-determinação dos sujeitos. A
abertura à diferença num âmbito social, comunitário, público. A segunda ameaça é um Estado autoritário. Existe uma
tendência aos interesses privados prevalecerem sobre os públicos na dimensão econômica. Se as pessoas se
desinteressam e abandonam a discussão pública para focar nos interesses privados, alguém precisa assumir as decisões
na esfera pública. Se estamos mais preocupados com privados e abandonamos a coisa pública, o Estado sozinho é quem
vai decidir melhor. Dentro da democracia existe uma ameaça permanente que é a do Estado ficar com poder centralizado e
concentrado e as pessoas simplesmente não participarem das decisões fundamentais do Estado. Participação popular não
é só votar. Faz uma grande defesa da ação política e da atuação cidadã: as pessoas tem que permanentemente estar
engajadas na discussão da coisa pública, influenciando o Estado e participando dos processos de decisão. Toda forma de
centralização política de poder tende a um Estado autoritário. Democracia é participação constante e direta, é vigilância ao
Estado.

Identifica 3 soluções para minimizar essas ameaças: primeira é a atuação política do cidadão, exercício ativo da cidadania
(é autor muito a favor da liberdade de expressão, liberdade de associação, etc, que são fomentadas pela igualdade). As
liberdades permitem as igualdades e elas tb fomentam a liberdade. Segunda solução é instituições que permitam a ação
política, fomentem, produzam descentralização. De separação de poderes até leis que justifiquem mais espaço de
liberdade. Defendia liberdade de cátedra. A escola é parte do Estado. Aparelhos ideológicos do Estado. Terceira solução é
leis e constituição. Numa democracia desejável, tenho que ter direito de me expressar da forma que eu quiser, e é
desejável que haja uma lei que posso usar contra todo mundo que me proibir, incluindo o Estado (liberdade negativa)

A igualdade é um processo natural. A liberdade é produzida. A igualdade pode produzir liberdade ou tirania e servidão. Uma
democracia desejável é igualitária que produza liberdade. Não basta produzir liberdade, é preciso proteger essa conquista.
O preço da liberdade é a eterna vigilância (Tomas Jeferson).

No momento em que tenho direito de me expressar, todos tem, nos tornamos uma sociedade mais livre. Não precisa
concordar com o que uma pessoa diz, mas é preciso reconhecer o direito da outra pessoa de ter sua própria opinião.

JOHN STUART MILL

É utilitarista e liberal. Tentou, no curso de suas obras, juntar o utilitarismo com uma defesa da democracia representativa.
Nunca deixou de levar em consideração um critério utilitarista que seria consequencialista e maximizador de resultados. Fez
com que se perguntasse qual é a utilidade da democracia e do Estado. Democracia é aquele modelo que permite a
maximização da liberdade, dos desenvolvimentos das capacidades individuais. É o modelo onde melhor posso desenvolver
minha capacidade de pensamento e de argumentação. Permite maior felicidade individual porque maximiza casos de
liberdade. Tarefa do Estado é garantir, assegurar essa maximização de liberdade. A função do Estado se torna de não
intervenção (dimensão negativa). O Estado deve permitir e proteger o espaço de liberdade individual e auto-determinação
do sujeito. Fundamento é de maximização das capacidades.

Locke, Kant e Mill são os autores mais importantes para pensar nas bases do Estado liberal. Teoria do Mill da o tom da
discussão sobre liberdades individuais e seus limites.

Autor individualista (não defende uma interpretação organicista). O indivíduo é prévio à sociedade, é condição, e não o
contrário. É o pressuposto da sociedade. Só existe sociedade porque existe indivíduos atuando autonomamente e através
de um consenso se reunindo. Sociedade é uma soma de ações individuais. Pessoas atuam livremente e isso gera
progresso social. A atuação inidividual livre era necessária e desejável. Liberdade é o maior valor. Igualdade só aparece
também na perspectiva como “nós somos igualmente livres”. Nossa igualdade está dimensionada por nossa capacidade de
exercer nossas atividades e interesses individuais de forma igual. Igualdade na liberdade. A função da democracia e do
estado é maximizar as capacidades individuais, a felicidade das pessoas, o espectro de exercício da liberdade. É um dos
primeiros autores que defende a ampliação do sufrágio (para mulheres e classe trabalhadora, operária). Dizia que pessoas
que estavam em condição de mendicância, deficientes físicos, mau-pagador de tributos não poderiam participar. Só existe
maximização da liberdade com participação política ampliada.

Apesar de ser utilitarista (que tende a uma tirania da maioria), percebe tal problema e se preocupa em tentar desenvolver
uma teoria para blindar, evitar, proteger que se desenvolva essa tirania. Cria 2 saídas, soluções para evitar que haja
concentração de poder nas mãos de um grupo: o problema não é que um interesse prevaleça o outro, o problema é a
ausência de paridade de armas na disputa dos interesses. A primeira alternativa é o sistema eleitoral proporcional, que
permite um candidato que teve menos votos do que o outro mas que se torne vereador. Segunda solução é o voto plural
com peso, que significa dizer que alguns votos tinham que ter mais peso que outros. Existem 2 grandes grupos de
interesse, os proprietários e os trabalhadores. Teria que ter um 3o grupo com peso de voto maior para ser fiel na balança.
Esse grupo seria as elites culturais (aristocracia, antiga nobreza, etc.).

Para ele, a preocupação é qual é a utilidade da democracia e do Estado. Quando compara democracia com um modelo
mais absolutista, vê que ela tem maior utilidade porque aumenta a soma da felicidade individual das pessoas, maximiza o
desenvolvimento das capacidades, maximiza o espectro de liberdade. Coloca sempre a atuação do Estado numa
perspectiva de proteger a liberdade do indivíduo, manter o espaço de autonomia individual. Liberdade de eu desenvolver
minhas capacidades, expressar minhas opiniões, etc. Função do estado é maximizar e proteger a liberdade dos indivíduos.
Ponto é permitir que ambas cheguem à maxima potência, e para isso o Estado deve exercer limites. O limite que o Estado
pode instituir é a liberdade do outro. Defende a diversidade, diferença, pluralismo e discenso. Valorizava antagonismos de
opiniões. Valorizava que as pessoas tivessem antagonismos de opiniões. Valorizava que as pessoas não fossem iguais, e
que essa diferença deveria ser respeitada e fomentada. Era contra discurso de normalização, padronização, de produzir
uma hegemonia. Valorizava a heteronomia.
Uma crítica feita à teoria de Mill por alguns autores é que como a teoria é muito centrada no indivíduo, não serve para
defender valores de grupo, identidades grupais, valores de grupos que estão coabitando, discussão multicultural. Seria por
exemplo, dentro do mesmo espaço territorial de Estado, aceitar-se 2 jurisdições diferentes, punições, formas de sancionar,
formas de interpretar o direito, etc. (ex: reconhecer os indígenas no Brasil).

Considerado um dos precursores do discurso anti-paternalista estatal. Indivíduo não tem que prestar conta de suas
escolhas e ações se são exclusivamente do seu interesse. Estado forte não-interventor. Estado mínimo não é Estado fraco.
Existe um limite: punição às ações que gerem danos a outros (ex: ameçem a vida, a liberdade de outro). E se a ideia de
alguém ofende culturalmente aquela sociedade? Alguns autores interpretam a obra de Mill dizendo que quando a ofensa é
cultural, o Estado não deve interferir. Dworkin diz que sim, se há ofensa a valores culturais o Estado deve intervir.
Interpretação peculiar, que diz que se prática individual ofende cultura do Estado, ele deve reprimir. Também diz que uma
vez que a vida e a liberdade são tão relevantes para Mill, se a escolha individual não afeta ninguém mas coloca em risco
minha própria vida, o Estado também deveria ter uma atitude.

Existe uma série de discussões e questões relevantes polêmicas a partir dessas ideias do Mill. O Estado deve punir o gosto
das pessoas? Para Mill, tem que ter o dano. Testemunhas de jeová. Pais que só ensinam teoria criacionista. Consumo de
drogas. Prostituição. Existe uma discussão sobre memória e dimensão privada (ex: vida privada vs biografia). Nunca coloca
discussão sobre o quanto uma ação é atentatória para sua própria dimensão pessoal. Não existe coerção estatal
previamente ao dano.

Para autores liberais, a atuação do estado diz respeito a somente proteger, maximizar e assegurar a liberdade individual. O
Estado para ser democrático não pode silenciar o discenso, deve permitir e fomentar o discenso.

Mill é um típico representante da liberdade dos modernos. Liberdade dos antigos é o modelo aristotélico onde só se é livre,
sujeito dentro de uma comunidade. Para Mill, o sujeito é prévio a tudo, o que importa é a liberdade do indivíduo, liberdade
negativa de não-intervenção, liberdade positiva de auto-determinação.

Defende o Estado despótico para aquelas civilizações bárbaras. Para Europa, república, participação popular, sufrágio para
todos, etc. Para os países colonizados, despotismo, imposição e autoritarismo (são inferiores, não conseguem livremente
utilizar a razão e produzir um debate público relevante). Defendia colonização, dominação sobre os povos (povo livre e
racional x povo bárbaro e ignorante). Era necessário que os valores liberais fossem impostos a força para produzir
desenvolvimento e progresso.

 
 
 
 
 
 
 

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