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Projeto de Pesquisa
Abril/2019
TERRITÓRIOS DE INFÂNCIA -
INTERAÇÃO CORPO/ESPAÇO NA ANÁLISE DO MOVIMENTO EXPRESSIVO
INTRODUÇÃO
Os espaços institucionalmente aceitos e reconhecidos como os lugares da infância
são a escola e a família. Apartadas da movimentação urbana, esses espaços de visibilidade
infantil servem de confinamento ao se pensar a cidade como local de violência, abandono
e perigos. Fora da escola e de casa, os shoppings apresentam-se como espaços de lazer
nos quais as famílias contribuem, em grande parte, para uma cultura de consumo, muito
mais que experimentações artísticas e culturais. Muitos espaços públicos disponíveis não
o são de fato, uma vez que depende do que o adulto compra e pode, assim, oferecer à
criança.
Os espaços de ocupação infantil serão mote para refletir e problematizar o
movimento e a expressão artística da criança, com foco nas relações estabelecidas com o
outro e na percepção do mundo que a cerca. Dessa forma, perceber esses espaços
enquanto lugares de encontro e reconhecimento das experiências vividas, recairá na
análise dos aspectos da corporeidade e das implicações do movimento expressivo
percebido e sentido nos espaços cotidianos de convívio.
O movimento faz parte da apropriação artística do homem desde os primórdios da
humanidade, pinturas rupestres já destacavam ou faziam referências à relação com o
movimento corporal nas práticas de subsistência e nas celebrações. Na evolução histórica
e social a relação do corpo na construção da sua identidade cultural encontra significados
a partir de conceitos e pré-conceitos difundidos a respeito do próprio significado de corpo.
Perceber as implicações da interação corpo, espaço e movimento vai exigir uma
análise liminar da evolução e difusão dos modos como o corpo é percebido e representado
nos seus elementos essenciais. A partir desse ponto será possível construir uma análise
dos processos de um corpo cênico compreendido em sua corporeidade e nas interlocuções
com os sujeitos.
Apoiando-se em conceitos como o de dança educativa da abordagem de Rudolf
Laban, que percebe a aprendizagem e o desenvolvimento infantil a partir do movimento
do corpo e sua interação com o espaço e ainda, considerando métodos artísticos como o
art in situ e site specific, concebidos e ou dedicados ao local em que uma obra artística se
realiza, a investigação vai buscar um fazer artístico nos espaços urbanos onde as crianças
interagem pela expressividade da dança.
O movimento e a dança no espaço escolar, que comumente é dissociado do fazer
artístico, pode ganhar novos contornos pela análise da diversidade de manifestações
culturais nesse contexto e ampliar as perspectivas estéticas e espaciais do movimento,
enquanto canal para a expressividade criativa. Ao interagir artisticamente, dentro e fora
da escola, a criança poderá se desenvolver e ampliar aspectos significativos da sua
corporeidade.
JUSTIFICATIVA
A criança, em seus territórios e espaços de convívio tem sido cada vez mais, objeto
de interesse em pesquisas, estudos acadêmicos e na criação de políticas sociais que
promovam qualidade de vida. As cidades crescem e com elas o número de habitantes. A
quantidade de crianças e adolescentes no Distrito Federal passa de 700 mil.1 A relação
desses sujeitos nos espaços urbanos expandidos e em constante transformação é tema de
estudos cada vez mais frequentes. Mobilidade, educação e desenvolvimento de ações para
uma vida saudável são preocupações que merecem destaque.
Na educação, encontram-se inúmeros estudos concentrados na compreensão das
fases da infância para desenvolvimento de práticas inovadoras de aprendizagem. No
campo da arte, os territórios da infância também estão atraindo atenção e olhares de
professores e pesquisadores.
Se a arte tem papel fundamental na aprendizagem, o desafio é encontrar caminhos,
para além das metodologias, que favoreçam um encontro com a arte e com a
expressividade criadora em todas as etapas de ensino. Analisar os espaços da infância
dessa forma, pode abarcar percepções e práticas focadas no corpo em desenvolvimento,
para compreensão da corporeidade e do movimento criativo que a criança pode
desenvolver.
A escola e a família são os territórios institucionalizados para abrigo e cuidado,
nos quais as crianças, em tese, deveriam estar protegidas. Os espaços urbanos, para além
dos espaços de aprendizagem, preconizam a não visibilidade dos corpos infantis nas
REVISÃO DE LITERATURA
Se, desde os primeiros instantes de vida a criança é inserida numa cultura e numa
história cujo “mundo mediado pelas relações sociais é um grande universo de
aprendizagem” (WIGGERS, 2005. p. 60), colocá-la como protagonista é uma forma de
valorização dos registros de sua existência para que seu corpo seja percebido no
movimento e na expressividade.
“...é nos lugares que se forma a experiência humana, que ela se acumula, é
compartilhada, e que seu sentido é elaborado, assimilado, negociado. É nos
lugares, e graças aos lugares, que os desejos se desenvolvem, ganham forma,
alimentados pela esperança de realizarem-se”. (FALKEMBACH, 2012. p.
103).
Territórios de Infância
O cotidiano da infância em relações espaciais estabelecidas é tema de investigação
para a compreensão da realidade das fronteiras sociais e culturais percebidas em contextos
diversos. A construção da identidade da criança é percebida na lógica dessa organização
social na qual se pode dialogar em torno dos espaços e territórios em que a construção da
identidade da criança se define. (LOPES e VASCONCELLOS, 2006)
A busca pela compreensão dos territórios da infância dos autores acima, destaca
uma preocupação social na relação dos sujeitos em espaços diferenciados e nos quais se
apoia a subjetividade infantil na interação com a coletividade, que se apresenta como uma
necessidade psicológica e até mesmo, biológica. O objetivo é compreender a infância
como um artefato social.
Nos espaços e territórios da infância, a arte aponta caminhos para uma reflexão
dos processos de criação do corpo cênico que se desenvolve na relação espacial com o
outro e por que não, na movimentação expressiva de dançar, seja em espaços
institucionalizados ou até mesmo nos espaços urbanos não convencionais para essa
prática.
METODOLOGIA
Tipo de Pesquisa
A natureza da pesquisa sobre corpo e movimento no espaço será qualitativa, pois
considerará, assim Menezes e Silva (2005), a relação entre a realidade objetiva e a
subjetividade do sujeito pelo vínculo indissociável existente na sua interação com o
mundo. Nessa perspectiva, os resultados obtidos serão traduzidos e interpretados pela
atribuição de significados percebidos no processo de investigação e descritos pelo ponto
de vista do pesquisador.
Local e Sujeitos da Pesquisa
A pesquisa será realizada com um grupo de crianças (até 12 anos) de uma escola
da periferia do distrito federal. Os espaços para além da escola, com os quais as crianças
poderão ter contato, serão definidos entre aqueles que oferecem atividades voltadas à
dança para crianças, como o Centro de Dança de Brasília dentre outros.
A cidade à qual pertence o grupo de crianças e outros espaços urbanos, serão
percebidos como lugares de interação para o movimento expressivo e serão definidos de
acordo com o desenvolvimento da pesquisa, que pretende mapear ações e espaços da
cidade nos quais a dança é percebida na perspectiva do movimento criativo e expressivo
da criança.
Instrumentos Metodológicos
Para análise dos dados serão realizadas oficinas de dança educativa, entrevistas,
questionários, visitas a espaços públicos (artísticos e culturais), técnicas, como a de
grupos focais, para que dados e insights sejam mais acessíveis pela interação grupal em
tempos e espaços delimitados e para que a pluralidade de ideias possa ser captada da
melhor forma.
Outro instrumento a ser utilizado é o diário de bordo, cujas anotações nele
registradas destacarão as percepções, anseios, memórias e ações compartilhadas nos
espaços da pesquisa. Os critérios para o registro surgirão a partir dos saberes e ideias
pontuados ao longo da pesquisa. Para Machado (2002), esse tipo de organização do diário
de bordo facilita o envolvimento do pesquisador, que vai se deter mais atentamente aos
detalhes e vai refletir sobre os desdobramentos da investigação. Essa autora destaca ainda
que o registro da experiência vivida, se relacionará com as escolhas metodológicas por
meio do fazer. As imagens e vídeos vão completar as anotações e percepções da
investigação.
PLANO DE TRABALHO
O plano de trabalho para desenvolvimento da pesquisa prevê as etapas abaixo, que
serão alinhadas com as orientações e a organização estabelecida no Programa de Pós-
Graduação de Artes Cênicas:
CRONOGRAMA
ANO 1
Período Atividades
Mar/Mai Levantamento e revisão da bibliografia
Jun/Ago Levantamento e revisão da bibliografia
Set/Dez Aprofundamento teórico para delimitação dos objetivos
ANO 2
Período Atividades
Mar/Mai Discussão teórica para levantamento das fontes de coleta de dados
Jun/Ago Levantamento das fontes de coleta de dados
Set/Dez Determinação das categorias de análise dos dados
ANO 3
Mar/Mai Coleta de dados
Jun/Ago Coleta de dados
Set/Dez Análise da coleta de dados
ANO 4
Período Atividades
Mar/Mai Análise da coleta de dados
Jun/Ago Redação do trabalho
Set/Dez Revisão/Entrega/Defesa
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Fernanda de Souza. Que dança é essa? Uma proposta para educação
infantil. São Paulo: Summus, 2016.
FALKEMBACH, Maria Fonseca. Quem Disse que não tem Espaço para a Dança na
Escola? In: FERREIRA, Taís. FALKEMBACH, Maria Fonseca. Teator e Dança nos
Anos Iniciais. Porto Alegre: Mediação, 2012.
GUARATO, Rafael. Da vida à Cena: a rua como espaço de dança. In: ROCHA, Thereza.
(Org.) Deixa a Rua me Levar. Instituto Festival de Dança de Joinville. Joinville: Nova
Letra, 2015.
GRANDO, Beleni Saléte. Corpo, Educação e Cultura: as práticas corporais e a
construção da identidade. In: GRANDO, Beleni Saléte. (Org.) Corpo educação e cultura:
maneiras de ser. Juí - RS: Unijuí, 2009.