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OS ARTIFÍCIOS DE SATANÁS

John Wesley

“Porque não ignoramos as suas maquinações”. II Corintios 2:11

1. Os artifícios, por meio dos quais o sutil deus do mundo trabalha para destruir
os filhos de Deus, – ou, pelo menos, atormentar a quem ele não pode destruir, com o
objetivo de causar perplexidade e impedi-los de correr a corrida que se coloca diante
deles – são numerosos como as estrelas do céu, ou a areia do mar. Mas é sobre um deles
apenas que eu agora me proponho a falar (embora exercitado de várias maneiras), por
meio do qual, ele se esforça para dividir o evangelho contra si mesmo, com uma parte
dele dominando a outra.

2. O reino do céu interior, estabelecido no coração de todo aquele que se arrepende e


crê no evangelho, não é outro, senão a “retidão, e paz, e alegria no Espírito Santo”.
Todo bebê em Cristo sabe que nós somos feitos parceiros desses, no momento em que
cremos em Jesus. Mas estes são apenas os primeiros frutos de seu Espírito; a colheita
ainda não existe. Embora essas bênçãos sejam inconcebivelmente grandes, ainda assim,
nós confiamos ver maiores do que essas. Confiamos amar o Senhor nosso Deus, não
apenas como fazemos agora, com uma fraca, embora sincera, afeição, mas “com todo
nosso coração, com toda nossa mente, com toda nossa alma, e com todas as nossas
forças”. Nós buscamos o poder para “nos regozijarmos, sempre mais, para orarmos,
sem cessar, e em todas as coisas, darmos graças”, sabendo que “esta é a vontade de
Deus em Cristo Jesus, concernente a nós”.

3. Nós esperamos ser “feitos parceiros no amor”, naquele amor que lança fora todo
temor doloroso, e todo desejo; a não ser aquele de glorificá-lo, de amar e servir a ele,
mais e mais. Nós buscamos por tal crescimento no conhecimento experimental e amor a
Deus, nosso Salvador, de maneira a nos capacitar sempre “a caminhar na luz, como ele
está na luz”. Nós acreditamos que toda a mente, “que estava também em Jesus Cristo”,
estará em nós; que poderemos amar todo homem, de maneira a darmos a vida por ele;
de maneira a, através do amor, estarmos livres da ira, e orgulho, e de todo tipo de
afeição indelicada. Nós esperamos sermos “limpos de todos os nossos ídolos”, “de todo
a sujidade”, quer “da carne ou do espírito”; sermos “salvos de toda impureza”,
interior e exterior; sermos “purificados, assim como Ele é puro”.

4. Nós confiamos nas promessas daquele que não pode mentir, de que
certamente virá o tempo, em que nós realizaremos sua abençoada vontade sobre a terra,
em toda a palavra e obra, como ela é feita no céu; quando em todo o nosso modo de
vida, seremos temperados com sal, completamente adequados para ministrarmos a graça
para os ouvintes; quando, quer comamos ou bebamos, ou o que quer que façamos, será
feito para a glória de Deus; quando todas as nossas obras e feitos serão “no nome do
Senhor Jesus, dando graças a Deus, até mesmo o Pai, através dele”.
5. Agora este é o grande conselho de Satanás, destruir a primeira obra de Deus
na alma, ou, pelo menos, impedir seu crescimento, através de nossa expectativa daquela
obra maior. É, portanto, meu presente objetivo:

I. Primeiro, apontar os diversos caminhos, por meio dos quais, ele empreende
isto.

II. Em Segundo Lugar, observar como podemos repelir esses dardos


inflamáveis do diabo; como poderemos nos levantar o mais alto do que ele pretende
pela ocasião de nossa queda.

1. Eu apontarei, em primeiro lugar, os diversos meios, pelos quais, o diabo se


esforça para destruir a primeira obra de Deus na alma, ou, pelo menos, impedir seu
crescimento, através de nossa expectativa daquela obra maior. Ele se esforça para
diminuir nossa alegria no Senhor, pela consideração de nossa própria vileza,
pecaminosidade, indignidade; acrescido a isto, que deve existir uma mudança ainda
mais do que já existe, ou não poderemos ver o Senhor. Se soubéssemos que deveríamos
permanecer como somos, até o dia de nossa morte, nós possivelmente extrairíamos um
tipo de conforto, pobre, por assim dizer, desta necessidade. Mas como sabemos que não
precisamos permanecer neste estado, já que estamos certos de que existe uma mudança
muito maior para vir, e que, exceto se todo o pecado desaparecer nesta vida, não
poderemos ver Deus na glória., -- que o adversário sutil sempre diminui a alegria que
poderíamos, ao contrário, sentir no que já obtivemos, através de uma representação
perversa do que não obtivemos, e da absoluta necessidade de se obter isto. De maneira
que não podemos nos regozijar no que temos, porque existe mais daquilo que não
temos. Não podemos testar corretamente a bondade de Deus, e que tem feito tão grandes
coisas por nós, porque existem muitas coisas maiores que ainda não fizemos.
Igualmente, Deus opera em nós a mais profunda convicção de nossa presente
iniqüidade, e quanto mais veemente desejo, nós sentimos, em nosso coração, da inteira
santidade que ele prometeu, quanto mais somos tentados a pensar superficialmente a
respeito dos dons presentes de Deus, e subestimamos o que já recebemos, por causa
daquilo que não recebemos.

2. Se ele pode prevalecer até ai; se ele pode diminuir nossa alegria, ele logo
atacará nossa paz também. Ele irá sugerir: “Você está adequado para ver a Deus? Ele
tem os olhos muito puros para observar a iniqüidade. Como você pode, então, se
vangloriar, de maneira a imaginar que ele observa você com aprovação?Deus é santo:
Você não. O que de comum tem a luz com a escuridão? Como é possível que você,
impuro como você é, esteja em um estado de aceitação com Deus? Você vê, de fato, a
marca, o prêmio, de seu alto chamado; mas você não vê que ele está tão distante?
Como você se atreve, então, a pensar que todos os seus pecados já estão apagados?
Como pode ser isto, até que você seja trazido para mais perto de Deus, até que você
tenha mais semelhança com Ele?”. Desta forma, ele se esforça, não apenas para abalar
sua paz, mas, até mesmo, para derrubar o próprio alicerce dela; trazer você de volta,
através de níveis inconscientes, ao ponto, de onde você partiu primeiro, até mesmo, na
busca pela justificação pelas obras, ou por sua própria retidão –para fazer, alguma coisa
em você, o alicerce para sua aceitação; ou, pelo menos, necessariamente prévia a ela.

3. Ou, se segurarmos com firmeza, “nenhum homem poderá colocar outro


alicerce, do que o que está colocado, mesmo Jesus Cristo”, e, “eu sou justificado
livremente pela graça de Deus, através da redenção que está em Jesus”; ainda assim,
ele não cessará de instigar: “Mas a árvore é conhecida por seus frutos: E você tem os
frutos da justificação? A mente que havia em Cristo, está em você? Você está morto
para o pecado, e vivo para a retidão? Você se tornou obediente à morte de Cristo, e
conhece o poder de sua ressurreição?”. E, então, comparando os pequenos frutos, nós
sentimos em nossas almas, com a plenitude das promessas, que estaríamos prontos a
concluir: “Certamente, Deus não disse que meus pecados me foram perdoados.
Certamente, eu não recebi a remissão de meus pecados; porque, que porção eu tenho
em meio àqueles que estão santificados?”.

4. Mais especialmente, em tempos de enfermidade e dor, ele irá pressionar isto


com toda sua força “Não é verdade que a palavra Dele não pode mentir, que „sem
santidade, nenhum homem verá a Deus?‟. Mas você não é santo. Você sabe disto muito
bem; você sabe que a santidade é a completa imagem de Deus; e quão longe ela está
acima das suas vistas? Você não pode alcançá-la. Portanto, todo seu trabalho tem sido
em vão. Todas essas coisas, você tem sofrido em vão. Você gastou sua força por nada.
Você ainda está em seus pecados, e deve, portanto, perecer no final”. E, assim, se seus
olhos não estiverem prontamente fixos Nele, que carregou todos os nossos pecados, ele
o trará novamente debaixo daquele “temor da morte”, por meio do qual você esteve,
por tanto tempo, “sujeito à escravidão”, e, por esses meios, prejudicar, se não, destruir
totalmente, sua paz, assim como a alegria no Senhor.

5. Mas sua peça principal de sutileza ainda está por trás. Não contente em
golpear sua paz e alegria, ele irá levar seus esforços ainda mais além: Ele irá igualar seu
ataque contra sua retidão também. Ele irá se esforçar para abalá-la, sim, se for possível,
destruir a santidade que você já recebeu, através da sua própria expectativa de receber
mais, alcançar toda a imagem de Deus.

6. A maneira, como ele empreende isto, pode parcialmente aparecer do que já


tem sido observado. Primeiro, golpeando nossa alegria no Senhor, ele golpeia
igualmente nossa santidade: Uma vez que a alegria no Espírito Santo é um meio
precioso de promover todo temperamento santo; um instrumento escolhido por Deus,
por meio do qual, ele realiza muito de sua obra na alma que crê. E é uma ajuda
considerável, não apenas para a santidade interior, mas também para a santidade
exterior. Ela fortalece nossas mãos a prosseguir na obra da fé, e no trabalho do amor;
corajosamente “lutar a boa luta da fé, e aguarmos firme a vida eterna”. É
especificamente designado por Deus, para ser o equilíbrio, tanto contra os sofrimentos
interiores quanto exteriores; para “erguer as mãos que se abaixam, e confirmar os
joelhos fracos”. Conseqüentemente, o que quer que diminua nossa alegria no Senhor,
proporcionalmente obstrui nossa santidade. E, portanto, na medida em que Satanás
abala nossa alegria, ele impede nossa santidade também.

7. O mesmo efeito irá suceder, se ele puder, por quaisquer meios, tanto destruir
quanto abalar nossa paz. Porque a paz de Deus é outro meio precioso de promover a
imagem de Deus em nós. Dificilmente existe uma ajuda maior para a santidade do que
esta, uma tranqüilidade contínua do espírito, a serenidade de uma mente junto a Deus,
um descanso calmo no sangue de Jesus. E sem isto, dificilmente é possível “crescer na
graça”, e no “conhecimento” vital “de nosso Senhor Jesus Cristo”. Porque todo temor
(exceto o temor terno e filial) congela e entorpece a alma. Ele impede toda a fonte da
vida espiritual, e interrompe todo o movimento do coração em direção a Deus. E, sem
dúvida, por assim dizer, atola a alma, de modo que ela se enterra rapidamente no barro
profundo. Portanto, na mesma proporção que qualquer um desses prevalece, nosso
crescimento na santidade é obstruído.

8. Ao mesmo tempo em que nosso sábio adversário se esforça para tornar nossa
convicção da necessidade do amor perfeito, uma oportunidade de estremecer nossa paz,
através das dúvidas e medos, ele se esforça para enfraquecer, se não, destruir nossa fé.
Na verdade, esses estão inseparavelmente ligados, de maneira que eles devem
permanecer ou caírem juntos. Por quanto tempo a fé subsiste, nós permanecemos em
paz; nossos corações mantêm- se firmes, enquanto acreditam no Senhor. Mas, se nós
abandonamos nossa fé, nossa confiança filial, no Deus amoroso e redentor, nossa paz
chega ao fim; com o próprio alicerce onde ela permaneceu, sendo destruído. E este é o
único alicerce da santidade, assim como da paz; conseqüentemente, o que quer que o
golpeie, golpeia a própria raiz de toda a santidade: Porque sem esta fé, sem a
consciência interior de que Cristo nos amou, e deu a si mesmo por mim, sem a
convicção contínua de que Deus, por causa de Cristo, é misericordioso para comigo, um
pecador, seria impossível que eu pudesse amar a Deus: “Nós O amamos, porque ele
primeiro nos amou”; e na proporção para a força e evidência de nossa convicção de que
ele nos amou, e nos aceitou em seu Filho. E, exceto se amarmos a Deus, é possível que
amemos nosso próximo como a nós mesmos; nem, conseqüentemente, que tenhamos
quaisquer afeições corretas, quer em direção a Deus, ou em direção ao homem.
Evidentemente se segue que, o que quer que enfraqueça nossa fé, deve, no mesmo grau,
obstruir nossa santidade: E este não é apenas o mais eficaz, mas também o mais conciso
meio de destruir toda a santidade; uma vez que não afeta apenas um temperamento
cristão, uma simples graça ou fruto do Espírito, mas, até onde ela tem sucesso, destrói a
própria raiz de toda a obra de Deus.

9. Não é de se admirar, portanto, que o governador da escuridão deste mundo


pudesse aqui depositar toda a sua força. E assim, nós nos certificamos pela experiência.
Porque é muito mais fácil conceber do que é expressar, a violência inexplicável, como
esta tentação é freqüentemente estimulada sobre aqueles que tem fome e sede de
retidão. Quando eles vêem, em uma luz mais forte e clara, de um lado, a maldade
perigosa de seus próprios corações, -- por outro, a santidade sem mácula para a qual eles
são chamados em Jesus Cristo; de um lado, a profundidade da própria corrupção deles,
de sua total alienação de Deus, -- do outro, a altura da glória de Deus, aquela imagem do
Espírito Santo, no qual eles são renovados; existe, muitas vezes, nenhum espírito
restante neles; eles poderiam quase clamar: “Por Deus, isto é impossível!”. Eles estão
prontos a desistir, tanto da fé quanto da esperança; lançar fora aquela mesma confiança,
por meio da qual eles devem conquistar todas as coisas, e fazer todas as coisas, com
Cristo os fortalecendo; em que, “após terem feito a vontade de Deus”, eles deverão
“receber a promessa”.

10. E, se eles “mantiverem firme a confiança imutável deles, do começo até o fim”,
indubitavelmente receberão a promessa de Deus, no tempo e na eternidade. Mas aqui
existe outra armadilha colocada para nossos pés: enquanto sinceramente desejamos
aquela parte da promessa que deve ser cumprida aqui, “pela gloriosa liberdade dos
filhos de Deus”, podemos ser levados, de maneira insensata, da consideração da glória
que deverá ser revelada dali em diante. Nossos olhos podem ser insensivelmente
desviados daquela coroa que o justo Juiz prometeu dar naquele dia “a todos que amam
sua vinda”; e podemos nos afastar da visão daquela herança incorruptível que está
reservada no céu para nós. Mas isto também seria uma perda para nossas almas, e uma
obstrução à nossa santidade. Porque caminhar na visão contínua de nosso objetivo é
uma ajuda necessária para corrermos a corrida que se coloca diante de nós. Foi a
“consideração pela recompensa do premio”, que, no passado, encorajou Moisés
preferivelmente a“sofrer aflição com o povo de Deus, do que desfrutar os prazeres do
pecado por uma tempo; considerando a reprovação de Cristo uma riqueza maior do
que os tesouros do Egito. Mais do que isto, é dito expressamente de alguém maior do
que ele, que “por causa da alegria, colocada diante dele, ele suportou a cruz e
desprezou a vergonha”, até que “se sentou à direita do trono de Deus”. De onde
podemos facilmente concluir, o quanto é mais necessário para nós a visão daquela
alegria diante de nós, para que possamos suportar qualquer que seja a cruz que a
sabedoria de Deus coloca sobre nós, e nos pressionarmos, através da santidade para a
glória.

11. Mas, enquanto estamos tentando alcançar isto, e também aquela gloriosa
liberdade que é prévia a ela, podemos correr o risco de cair em outra armadilha do
diabo, na qual ele trabalha para confundir os filhos de Deus. O nos preocuparmos em
demasia com o amanhã, de maneira a negligenciarmos o aprimoramento do hoje. O
esperarmos, de tal forma, pelo amor perfeito, de modo a não usarmos o que já temos
espalhado em nossos corações. Não existe falta de exemplos daqueles que têm sofrido
grandemente por conta disto. Eles se preocuparam tanto pelo que receberiam dali em
diante, que negligenciarem extremamente o que eles já receberam. Na expectativa de ter
cinco talentos mais, eles enterraram o único talento deles na terra. Pelo menos, não o
melhoraram como deveriam ter feito, para a glória de Deus, e o bem de suas próprias
almas.

12. Desta forma, o sutil adversário de Deus e do homem se esforça para tornar nulo o
conselho de Deus, dividindo o Evangelho contra si mesmo, e fazendo com que uma
parte dele destrua a outra; enquanto a primeira obra de Deus na alma é destruída, pela
expectativa de sua obra perfeita. Nós temos visto diversas maneiras em que ele tenta
isto, removendo, por assim dizer, as fontes de santidade. Mas isto ele igualmente faz
mais diretamente, fazendo daquela abençoada esperança, uma oportunidade de
temperamentos pecaminosos.

13. Assim, quando quer que nosso coração esteja avidamente sedento por todas
as grandes e preciosas promessas; quando ansiamos pela plenitude de Deus, como o
cervo em busca do riacho; quando nossa alma irrompe em desejo ardente: “Por que sua
carruagem está demorando a vir?” -- ele não negligenciará a oportunidade de nos
instigar a murmurar contra Deus. Ele usará de toda sua sabedoria, e toda sua força, se
por acaso, em uma hora descuidada, possamos ser influenciados a nos queixarmos de
nosso Senhor pela demora de sua vinda. Pelo menos, ele trabalhará para estimular
alguns graus de irritação ou impaciência; e, talvez, de inveja daqueles a quem
acreditamos já ter alcançado o prêmio de nosso alto chamado. Ele bem sabe que, dando
oportunidade a alguns desses temperamentos, nós demolimos a própria coisa que
construímos. Seguindo em busca da santidade perfeita, tornamo-nos mais pecaminosos
do que antes. Sim, existe um grande perigo de nosso último estado seja pior do que o
primeiro; como aqueles dos quais o Apóstolo fala nestas terríveis palavras: “Teria sido
melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho da retidão, do que, depois de a
conhecerem, voltarem atrás do mandamento santo, entregue a eles”.

14. E disto, ele espera alcançar outra vantagem, até mesmo produzir um relato
prejudicial do bom caminho. Ele está consciente, de quão poucos são capazes de
distinguir (e de quantos não estão dispostos a assim fazer), entre o uso impróprio, e a
tendência natural de uma doutrina. Esses, portanto, ele continuamente irá misturar, com
respeito à doutrina da Perfeição Cristã, com o objetivo de causar danos às mentes dos
homens descuidados, contra as gloriosas promessas de Deus. E quão freqüentemente;
quão geralmente; eu poderia dizer, quão universalmente, ele tem prevalecido nisto!
Porque, quem existe, que ao observar alguns desses efeitos danosos acidentais desta
doutrina, não conclui imediatamente que esta é sua tendência natural; e não prontamente
clama: “Veja, são esses os frutos (significando os frutos naturais, necessários) de tal
doutrina?”. Não exatamente. Eles são frutos que podem acidentalmente brotar do uso
impróprio de uma grande e preciosa verdade: Mas o uso impróprio desta ou de alguma
outra doutrina bíblica, de modo algum destrói sua utilidade. Nem pode a deslealdade do
homem perverter sua maneira correta, tornar a promessa de Deus sem nenhum efeito.
Não: Que Deus seja verdadeiro, e todo homem um mentiroso. A palavra do Senhor,
deve permanecer. “Fiel é aquele que prometeu: Ele também irá cumprir”. Que nós,
então, não sejamos “removidos da esperança do Evangelho”. Antes, vamos observar,
qual foi a segunda coisa proposta: Como nós podemos repelir esses dados afiados do
diabo: como podemos subir mais e mais alto do que ele pretende para a ocasião de
nossa queda.

II

1. Em Primeiro Lugar, satanás não se esforça para diminuir sua alegria no Senhor,
através da consideração de sua pecaminosidade; acrescido a isto, que sem a santidade
completa e universal, nenhum homem poderá ver ao Senhor? Você pode lançar de volta
este dardo sobre a própria cabeça dele, enquanto, através da graça de Deus, quanto mais
você sente a sua própria vileza, mais você se regozija na esperança certa de que tudo
isto acabará. Enquanto você segura firme esta esperança, todo temperamento
pecaminoso que você sente, embora você o odeie com um ódio perfeito, pode ser um
meio, não de diminuir sua alegria humilde, mas, antes de aumentá-la. “Isto e isto”, você
pode dizer, “deverá igualmente perecer na presença do Senhor. Como cera derretida
no fogo, assim, isto deverá derreter-se diante da face Dele”. Desta forma, quanto maior
é a mudança daquilo que permanece para ser forjado em sua alma, mais você pode
triunfar no Senhor, e regozijar-se no Deus de sua salvação, que já tem feito tão grandes
coisas por você, e irá fazer coisas muito maiores do que essas.

2. Em Segundo Lugar. Quanto mais veementemente ele assalta sua paz com esta
sugestão: “Deus é santo; você não é; você está imensamente distante daquela
santidade, sem a qual você não verá a Deus: Como, então, você pode estar no favor de
Deus? Como você pode fantasiar que você está justificado?”. – toma o mais sincero
cuidado de se segurar nisto: “Não pelas obras de retidão que eu tiver feito, que eu me
encontro Nele; eu sou aceito no Amado; não tendo minha própria retidão (quando o
caso, quer no todo, ou em parte, de nossa justificação diante de Deus), a não ser aquela
que é pela fé em Cristo, a retidão que é de Deus pela fé”. Ó, ata isto em volta de teu
pescoço: Escreve isto, na tábua do teu coração. Usa isto como um bracelete em teu
braço, como adorno da testa, entre teus olhos: “Eu sou justificado livremente pela sua
graça, através da redenção que está em Jesus Cristo”. Valorize e estime, mais e mais,
esta preciosa verdade: “pela graça somos salvos, através da fé”. Admire, mais e mais, a
livre graça de Deus, no amar o mundo de maneira a dar “seu único Filho, para que todo
aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Assim, a consciência da
iniqüidade que você tem, por um lado, e a santidade que você espera, por outro, ambas
contribuem para estabelecer sua paz, e fazê-la fluir como um rio. Assim esta paz deverá
fluir como uma correnteza, a despeito de todas aquelas montanhas de incredulidade, que
deverá se tornar uma planície, quando o Senhor viver para tomar posse completa de seu
coração. Nem a doença, dor, ou aproximação da morte, ocasionará qualquer dúvida ou
medo. Você sabe que um dia, uma hora, um momento com Deus, significa milhares de
anos. Ele não pode ser restringido pelo tempo, em que opera o que quer que permaneça
para ser feito em sua alma. E o tempo de Deus é sempre o melhor tempo. Portanto, não
te preocupes com coisa alguma: Apenas faze teu pedido conhecido junto a Ele, e isto,
não com dúvida e temor, mas com ação de graças; como que previamente seguro, de
que Ele não pode reter de ti o que quer que seja bom.

3. Em Terceiro Lugar: Quanto mais você é tentado a desistir de seu escudo, e lançar
fora sua fé, sua confiança no amor de Deus, mais cuide de segurar firme o que você já
obteve; quanto mais trabalhe para encorajar o dom de Deus que está em você. Nunca
diga esta frase, de maneira descuidada: “Eu tenho „um Advogado com o Pai, Jesus
Cristo, o justo‟; e „ a vida que eu agora vivo, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me
amou e deu a si mesmo por mim‟”. Seja esta tua glória e coroa de regozijo. E cuida que
ninguém tire tua coroa. Segura isto firme: “Eu sei que meu Redentor vive, e deverá
estar no último dia sobre a terra”; e “Eu agora „tenho redenção em seu sangue, até
mesmo o perdão dos pecados‟”. Assim, estando preenchido com toda a paz e alegria em
crer, prossiga, na paz e alegria da fé para a renovação de toda a tua alma, na imagem
Dele que criou a ti! Entretanto, clame continuamente a Deus para que possas ver aquele
prêmio de teu alto chamado, não como satanás o representa, de uma forma terrível, mas
em sua beleza nativa genuína; não como alguma coisa que deve ser, do contrário, tu
deverás ir para o inferno, mas como o que pode ser, para conduzir-te ao céu. Observa
isto como o mais desejável dom que está em todos os depósitos das ricas misericórdias
de Deus. Contemplando-o neste verdadeiro ponto de luz, mais e mais terás fome dele;
toda tua alma estará sedenta de Deus, e desta gloriosa conformidade com seu semblante;
e tendo recebido a boa esperança disto, e a forte consolação, através da graça, não mais
estarás fraco e cansado em tua mente, mas seguirás em frente, até que o obtenhas.

4. No mesmo poder da fé, prossiga para a glória. Na verdade, este é o mesmo


panorama ainda. Deus reuniu desde o começo, perdão, santidade, céu. E porque o
homem os colocaria de lado? Ó, cuidado com isto! Que nenhuma argola da corrente de
ouro seja quebrada: “Deus, por causa de Cristo, perdoou-me. Ele está me renovando
em sua própria imagem. Brevemente, ele me tornará apropriado para si mesmo, e me
levará para estar diante de sua face. Eu, a quem ele justificou, através do sangue de seu
Filho, estando totalmente santificado pelo seu Espírito, rapidamente ascendo para a
„Nova Jerusalém, a cidade do Deus vivo‟. Daqui a pouco tempo, e eu „virei para a
assembléia geral e a igreja do Unigênito, e de Deus, o Juiz de todos, e para Jesus, o
Mediador da Nova Aliança‟. Quão logo essas sombras fugirão, e o dia da eternidade
amanhecerá sobre mim! Quão breve, eu deverei beber do „rio da água da vida, saindo
do trono de Deus e do Cordeiro! Lá todos os servos louvarão a ele, e verão sua face; e
seu nome estará sobre suas testas. E nenhuma noite existirá lá; e eles não terão
necessidade de iluminação, ou da luz do sol. Porque o Senhor Deus os iluminará, e eles
reinarão para todo sempre‟”.

5. E, se você assim “testar da boa palavra, e dos poderes do mundo vindouro”; você
não murmurará contra Deus, pelo fato de ainda não estar “apropriado para a herança
dos santos na luz”. Em vez de lamentar por não estar totalmente livre, você deverá orar
a Deus para livrá-lo. Você deverá dar glórias a Deus, pelo que Ele tem feito, e ter isto
como uma garantia do que ele irá fazer. Você não deverá se voltar contra ele, porque
você ainda não está renovado, mas dar-lhe-á graças, pelo que você deverá ser; e porque
“agora a sua salvação,” de todo o pecado, “está mais perto, do que quando você
acreditou”, pela primeira vez. Em vez de atormentar-se desnecessariamente, porque o
tempo não chegou completamente, você calmamente e silenciosamente, esperará por
ele, sabendo que ele “virá, e sem demora”. Você pode, portanto, mais alegremente
suportar, até o momento, o fardo do pecado que ainda permanece em você, porque ele
não permanecerá sempre. Mais algum tempo, e ele será retirado. Apenas “espera, tu, no
tempo do Senhor”: É forte e coloca tua confiança no Senhor, e “Ele confortará teu
coração!”.

6. E se alguém lhe parecer (até onde o homem pode julgar, mas Deus apenas sonda os
corações) partícipe da esperança deles, já “feito perfeito no amor”; longe de ter inveja
da graça de Deus nele, regozije-se e conforte seu coração. Glorifique a Deus por causa
dele! “Se algum membro for honrado, todos os membros não deverão se regozijar com
ele?”. Antes de sentir ciúme ou pensar mal a respeito dele, louve a Deus pela
consolação! Regozije-se em ter uma prova renovada da fidelidade de Deus, no
cumprimento de suas promessas; e encoraje-se mais para “compreender aquilo pelo
qual você também é compreendido por Jesus Cristo!”.

7. Com esse objetivo, redima o tempo. Aprimore o presente momento. Aproveite cada
oportunidade de crescer na graça, ou fazer o bem. Não permita que o pensamento de
receber mais graça amanhã, torne você negligente hoje. Você tem um talento agora: se
você esperar cinco mais, tanto melhor é aperfeiçoar o que você tem. E quanto mais você
espera receber para o futuro, mais trabalhe para Deus agora. Suficiente para o dia é a
graça dele. Deus está agora derramando seus benefícios sobre você. Agora, confirme-se
como um fiel mordomo da presente graça de Deus. O que quer que aconteça amanhã, dê
toda diligência hoje, para “acrescentar à sua fé, coragem, temperança, paciência, amor
fraternal”, e o temor a Deus, até que você obtenha aquele amor puro e perfeito! Que
essas coisas estejam agora “em você e abundem!”. Não seja indolente ou infrutífero:
“Assim uma entrada será ministrada no reino eterno de nosso Senhor Jesus Cristo!”.

8. Por fim: Se no passado, você usou de maneira imprópria esta abençoada esperança
de ser santo, como Ele é santo, ainda assim, não a jogue fora. Que o abuso cesse, e o
uso permaneça. Use-a agora para a mais abundante glória de Deus, e proveito de sua
própria alma. Na fé constante, na calma tranqüilidade de espírito, na completa
segurança da esperança, regozijando-se, mais e mais, pelo que Deus tem feito, siga em
direção à perfeição! Diariamente, crescendo no conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo, e seguindo em frente, de força em força, em resignação, em paciência, em
gratidão humilde pelo que você já obteve, e pelo que você deverá correr a corrida que se
coloca diante de você, “olhando para Jesus”, até que, através do perfeito amor, você
entre em sua glória!

[Editado por Dave Giles, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com
correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]

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Tradução: Izilda Bella

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