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ENSAIOS

DO

MALEFICENCE

LORD AHRIMAN

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ÍNDICE

1. Algumas palavras iniciais


2. O que é ambivalência
3. Gnose satânica
4. Controle da mente
5. Arquitetura da crença e método da dúvida
6. Celebração da vida
7. Síntese do Satanismo
8. Estar fluxo
9. A questão do livre-arbítrio
10. Androginia
11. Uma incursão na morte
12. Lei da reciprocidade
13. Ontologia de Satan
14. Sentimento de culpa
15. A arte de enxugar
16. As duas autocríticas
17. As 9 leis da magia
18. Auto-amor
19. Bioarte
20. Conexão local
21. Estrada noturna
22. O arquétipo de Satan
23. Odioísmo
24. A próxima etapa da evolução humana
25. Satanismo e Nazismo
26. A chave do Diabo
27. Amálgama da mente
28. Negativismo positivo
29. Ética satânica
30. O infernauta
31. Difusão do Satanismo
32. Imaginação, faca de dois gumes
33. Luta é a lei da vida
34. O leão e o cordeiro
35. O segredo do riso

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36. Perguntas plurívocas
37. Saber é poder
38. Seja você mesmo?
39. Cobaia humana
40. 2 = 1
41. O bastão e o tambor
42. Representação da realidade
43. Vadoma
44. Amor incondicional, a suprema aberração
45. Teatro e magia
46. Desejo e vontade
47. Design inteligente?
48. Elegia da loucura
49. O tal do exorcismo
50. Medo, o overclock natural
51. Desequilíbrio harmonioso
52. O número zero
53. Em sintonia com Satan
54. O estudo da Vitimologia
55. O que você acha?
56. O signo da serpente
57. O pacto com o Diabo
58. Uma taça de blasfêmia
59. Transgredir para vencer
60. Um toque de misantropia
61. O pai da mentira
62. A função do inimigo
63. O masoquismo esclarecido
64. Um rascunho acerca do “arkhé”
65. Consumo, logo existo
66. Você prefere Jeová ou Satan?

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1 – Algumas palavras iniciais

Este é o meu segundo livro. O primeiro foi o


Satanomicon, com que procurei tratar dos
aspectos mais básicos da doutrina satânica. Se
você está iniciando os seus estudos, sugiro que
comece com aquele.

Uma das críticas que recebi foi o fato de não


seguir estritamente o Satanismo Moderno, mas
eu me pergunto desde quando LaVey deteve a
patente do Satanismo. Assim, é curial a
discordância em alguns quesitos, certamente o
livro será útil para quem possua mente aberta.

Eu fujo da divisão entre Satanismo Moderno e


Tradicional. Defendo a liberdade de pensamento
e opinião para o satanista, bem como luto pela
unicidade da doutrina. Caso contrário, vai se
recair no problema do Cristianismo, com
milhares de seitas. Devemos evitar o mesmo
erro.

Agradeço a todos os irmãos, que sempre me


apoiaram, menção ao Reverendo Morbitvs pela
formatação do texto Em sintonia com Satan.

Além do moto Lord Ahriman, usei durante alguns


anos o de Maleficence, em que participei de
várias listas de discussão na web. Grande parte
do material aqui é provindo dos extintos blogs
em que usei esse último moto, com algumas
melhorias e acréscimos.

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Deixo o meu email para eventual contato,
normalmente sou solícito e educado nas minhas
respostas.

Louvado seja Satan!

Lord Ahriman

bodenegro@confrariadodiabo.com

Em 18.02.2011.

2 – O que é ambivalência

O tronco abraâmico representado pela tríade


judaísmo-cristianismo-islamismo prega o
maniqueísmo, vale dizer, a um bem absoluto se
contrapõe um mal absoluto. A partir daí, tudo
que não se amolda aos padrões dessas
instituições seculares e sedentárias torna-se
demoníaco.

Num instante de reflexão, não pode haver um


absoluto, pois simplesmente engoliria tudo, sem
nada mais restar. Segundo Lao Tzu, a única
coisa absoluta é a mudança.

Bem e mal são termos subjetivos e relativos,


dependem da época, do lugar, do contexto social
e da pessoa que os interpreta. Comer carne é
considerado mal para um vegetariano, mas um

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carnívoro considerará um bem. Até uma questão
como a morte, vista como maligna por muitos, é
fonte de sustento para os floristas, coveiros,
padres e quem mais lucra com o defunto.

Para um americano louro e alto, um pigmeu


seria considerado feio; mas o mesmo americano
também não seria nada bonito para um pigmeu;
ambos os sintagmas diferem entre si. O que é
modelo para um, não pode ser para outro.

Quem estudou Física, sabe que um movimento


depende do referencial. Se uma lâmpada cair do
teto de um ônibus em movimento, ela terá como
trajetória uma linha reta para o passageiro deste
veículo, mas quem estiver parado num poste, do
lado de fora, verá um arco de parábola.

A gnose satânica precisa passar necessariamente


pela ambivalência. Bem e mal são trabalhados
num mesmo contexto, daí a importância do
estudo da Sombra junguiana, assunto que
abordarei num futuro post.

Quero dizer que o ser humano atualmente está


dividido, cindido, numa parte que gosta, que
revela à sociedade, e outra parte reprimida,
oculta. Enquanto esta divisão esquizofrênica
permanecer, o autoconhecimento e a auto-
superação jamais poderão acontecer. É
necessário que o ser humano se aceite, com
consciência, vontade e responsabilidade,
livrando-se de uma vez por todas dos dogmas,
crenças e preconceitos que trabalham para
destruir o seu fluxo e naturalidade.

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De acordo com o analista Erich Neumann, "O
Self fica escondido na Sombra; ela é a guardiã
dos portais, a guardiã de entrada. O caminho
para o Self é através dela; por trás do aspecto
escuro que ela representa está o aspecto da
totalidade, e é só fazendo amizade com a
Sombra que ganhamos a amizade do Self". Só
lembrando, para quem não está familiarizado
com esta linguagem, que o Self é o ser humano
em plena divinitude ou, ao menos, totalmente
integrado.

3 – Gnose satânica

Independentemente das escolas satânicas,


algumas coisas são comuns a todas elas. A
pergunta é: o que busca o satanista? Bem,
inicialmente, a assumpção total do seu ser. Para
tanto, o satanista busca liberdade, emancipação,
autonomia, independência e individualidade.

Longe do arcabouço construído pela ignorância


secular, é necessário reconstruir o próprio ser,
adquirindo conhecimento e eliminando os
entraves que impedem a superação humana.
Alguém já disse que conhecimento é poder. Na
verdade, afirmo que o próprio livre-arbítrio é
dependente do conhecimento. Uma pessoa
ignorante não é livre, é um escravo. Do mesmo
modo, não adiante adquirir cultura sem
empregá-la, seria adquirir ouro e viver como um
mendigo.

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Uma fórmula do Satanismo Laveyano é que "o
homem é seu próprio deus". A própria Bíblia
também discorre, nos Salmos 82:6, que o mito
de Jesus teria mencionado: "Eu disse: 'Vós sois
deuses; vós sois todos filhos do Altíssimo."
Entrementes, essa fórmula é ainda um potencial,
potencial que pode se desenvolver na gnose, no
fator transpessoal, no samadhi, mais conhecido
como iluminação.

Na verdade, o homem é um animal que dorme e


um deus que sonha.

4 – Controle da mente

Hermes Trismegistos diz que "O Todo é Mente; o


Universo é mental". Há um estudo que todas as
coisas, inclusive o ser humano, nada mais são do
que um holograma da mente cósmica. Uma
simples parede é um pensamento.

Assim, é necessário enfocar o aspecto de que a


mente humana é similar à mente universal, vale
dizer, são ambas da mesma natureza. A
diferença entre uma e outra reside na qualidade
da consciência. Estabelecer uma ponte entre
ambas é o segredo. É questão de sintonia.

O corpo é um pensamento, projeção mental da


própria pessoa. É fácil observar que os
problemas emocionais do indivíduo acabam
desaguando no corpo como doenças. Ocorre

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assim porque o sentimento é um pensamento
hierarquizado. Mudando a qualidade dos
pensamentos é possível adquirir uma vida
saudável e alegre.

Os pensamentos são entidades vivas, autônomas


e independentes. Então, quando passa um
determinado pensamento na mente de alguém,
normalmente a pessoa acha que é seu, mas há
um imenso campo mental à sua volta. É possível
qualificar, melhorar e estimular a qualidade da
própria mente.

Quem não controla é controlado. A grande chave


do livre-arbítrio está na mente. Quem é senhor
da sua mente é senhor do seu próprio destino.
Assim, é importante que a pessoa escolha quais
pensamentos devem fazer parte do seu cotidiano
e quais devem ser sumariamente descartados. É
preciso, ainda, que sejam mantidos alguns
pensamentos como cães de guarda para evitar o
assédio da própria mente.

Eu sempre levo um pequeno bloco no bolso,


onde anoto não apenas os fatos mais
importantes do cotidiano, mas também insights,
práticas etc. Esse bloco, além de ajudar a
manter o meu diário, também serve para me
tornar cada vez mais autoconsciente. Se a
pessoa presta atenção ao que se passa na sua
mente, fica mais fácil dominá-la. Falo isso por
experiência própria.

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Infelizmente, o homem passa o dia inteiro
distraído, perdido em mil processos
inconscientes, automatizados. O indivíduo pode
questionar: "Quando estou dirigindo ou
cozinhando, estou consciente!" Respondo que
não, respondo que está dormindo. Existem
pensamentos prontos e acabados para que a
pessoa faça as tarefas sem sequer se dar conta
das mesmas. Exemplo notório: a pessoa apanha
um cigarro do maço, leva-o à boca, traga
algumas vezes e, de repente, leva um susto,
porque sequer notou que estava fumando.

Finalmente, há as seguintes conclusões: a


primeira é que, sem uma investigação completa
de si mesmo, não há autoconhecimento; a
segunda é que a seleção, o uso e o controle dos
pensamentos é peça-chave ou mola-mestra na
senda da transformação humana; a terceira é
que a atenção é o braço da consciência; a quarta
é que a consciência é algo que, quanto mais se
usa, mais se ganha.

5 – Arquitetura da crença e método da dúvida

O segredo da fé reside num paradoxo. O


buscador sabe que a fé é um engodo, uma
fraude, mas camadas mais profundas da mente
não percebem a diferença. A mente aceita
trabalhar perfeitamente com o campo onírico.

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Assim, na magia, o binômio crença + fervor
serve perfeitamente como respaldo mágico, ou
seja, vai funcionar, ainda que o magista saiba
que empregou um artifício. Os artifícios sempre
funcionam...

A crença também é importante em dois


aspectos: o primeiro é a auto-confiança (a
crença em si mesmo), que é baseada na
experiência pessoal, no empirismo, e deve ter
suporte na razão; o segundo é como modus
operandi para pôr-se em sintonia com uma
inteligência extrafísica, como Satan.

Assim, são três funções importantes da fé ou


crença.

Entrementes, a crença não resolve na busca do


conhecimento; pior, atrapalha. Se uma pessoa
baseia-se apenas na fé, vai se aguilhoar em
dogmas absurdos e aceitar, por verdade, fatos
que não passariam pelo crivo mais simples da
dúvida.

Se a pessoa almeja a verdade, a fé não serve,


pois leva a pessoa a aceitar passivamente aquilo
que não pode questionar. Muitas crianças
aceitam a existência de Papai Noel, mas ele só
existe no quimérico.

Outro fato: O questionamento não é método,


mas a dúvida é.

O questionamento não é método, porque alguém


pode questionar a existência do sol, que é uma
verdade evidente (com a licença do pleonasmo),

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aceita mesmo sem precisar de demonstração.
Tal questionamento recairia simplesmente no
ridículo.

A dúvida serve, porque, mesmo na ciência, faz


rever seus próprios conceitos. Antigamente,
acreditava-se que a inércia era o estado natural
dos corpos; atualmente, a ciência aceita que
esse estado natural é o movimento, até uma
molécula do corpo vibra. A dúvida abre imensos
portais. Amanhã pode surgir um fato científico
ainda mais elaborado. Quero enfatizar que a
certeza não traz nada de novo, é de fato a
dúvida que abre imensos portais.

Além disso, a dúvida possui um caráter


existencialista, uma vez que faz o ser humano
questionar (agora sim!) as razões mais íntimas
da sua existência, eliminar todas as tralhas, até
só restar o modelo ultimal do momento
presente(sabendo que tudo é mutável, até o que
achamos ser uma “verdade definitiva”).

Agora, por que a pessoa prefere usar o termo


"questionamento" ao invés de "dúvida"? Porque
o vocábulo dúvida aparenta (na realidade, não
é?) ser totalmente anti-religioso. A palavra
questionamento é mais branda ou mais aceita
nos círculos exotéricos.

No entanto, a ciência sempre foi anti-religiosa,


porque precisou se insurgir contra todos os
dogmas que sempre atravancaram o progresso
humano.

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6 – Celebração da vida

As religiões milenares e seus desdobramentos


assentam-se na abstinência e na repressão,
fundamentando a idéia de culpa. O Satanismo
propõe a liberação de qualquer sentimento de
culpa e a celebração da vida num hedonismo
responsável.

As pessoas investem seu tempo inteiro em


apenas um pequeno e único momento da sua
vida, que é o do seu falecimento. É aquela
história do ponto negro no papel branco. É um
investimento absurdo porque a idéia de um
Inferno pós-morte sempre apavora.

Na realidade eu criei uma espécie de koan:

Se tudo terminar com a morte, qual é o


problema?
Se tudo continuar com a morte, qual é o
problema?

O problema sempre estará com o próprio ser


humano. Se ele for para o Paraíso, conseguirá
criar um Inferno lá, porque ele levará como
bagagem a si mesmo; não existe bem e mal fora
do ser humano. A interpretação dos fatos é que
direciona toda sua energia para a angústia ou
para o prazer de viver.

Mesmo a idéia de um Inferno eterno é


totalmente desproporcional e absurda para o que
seria apenas uma vida de pecado. Só serve para
revelar um deus rancoroso, vingativo e
prepotente, que nunca perdoaria sua própria

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criação. No entanto, esse investimento é
altamente lucrativo para o clero e atenta
tremendamente contra o próprio livre-arbítrio
que alegam pregar.

O Satanismo diz para o ser humano: Viva o aqui


e agora! Ninguém sabe realmente o que haverá
depois da vida, mas a vida é o maior presente
cósmico, assim não deve ser desperdiçada
através de mitos irresponsáveis.

O hedonismo responsável significa a pessoa fluir


em êxtase pela vida, com total consciência.
Assim, não aponta para a mera e exclusiva
satisfação do ego, mas o pleno florescimento do
seu próprio ser.

7 – Síntese do Satanismo

1. O Satanismo é uma religião e uma anti-


religião. É religião porque trata da
reconexão do ser humano com a sua
essência divina; é anti-religião porque
combate as instituições seculares
baseadas nos dogmas, crenças e
preconceitos.

2. O Satanismo propõe um hedonismo com


base na consciência e na
responsabilidade. Assim, a mais ampla
liberdade assenta-se perfeitamente com o

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gozo carnal e o fator transcendente do
ser humano.

3. O Satanismo propõe um novo modelo de


gnose, a partir da aceitação da Sombra
no ser humano, vale dizer, o
conhecimento do lado reprimido, negado,
cindido e, por fim, a luz que surge das
trevas, o próprio Self.

4. O Satanismo propõe o homem como uma


deidade, assim o ser humano assume
total responsabilidade por seus fracassos
e vitórias, sem delegá-la a entes
metafísicos extrojetados num Céu ou
Inferno longínquos.

5. O Satanismo propõe também o homem


como outro animal. A assumpção da sua
própria natureza também desvela sua
divindade. O respeito pela Natureza
significa o respeito por si-mesmo. O
contrário implica doenças e cataclismos
naturais.

6. O Satanismo evita toda sorte de atos


estúpidos e criminais. Como religião só
possui sentido na busca do
autoconhecimento e da auto-superação,
na qualificação plena do ser, e não na
estupidez e na violência gratuita.

7. O Satanismo entende que a vida é o


maior presente cósmico. Portanto, as
preocupações existencialistas e
humanistas devem voltar-se para a
plenificação do momento presente e

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celebração da vida, não meramente com
o cadáver podre sobre o esquife.

8. O Satanismo assenta-se na ambivalência.


Não recusa nenhuma polaridade, aceita
tudo, entende que tudo pode ser usado,
que nenhum pólo é absoluto, mas contém
parcela do seu oposto. Toda árvore
projeta sua sombra.

9. O Satanismo é vítima de preconceito de


todas as religiões. No entanto, despreza
quaisquer tipos de preconceito: cor, raça,
credo, posição social e sexo.

10. O Satanismo não alicia as pessoas num


plano de salvação, mas convida o ser
humano a assumir o controle da sua
própria vida, ao invés de deixar a moral,
a religião, a política e a mídia fazerem-no
em seu lugar.

8 – Estar em fluxo

A grande maioria das pessoas é artificial, vale


dizer, faz as coisas mecanicamente, até mesmo
estupidamente. Por isso, o dito que se rodeia a
fonte, mas não se entra na fonte.

O ser é expressão. Expressão fluida não se


relaciona com o mecanicismo. Os
condicionamentos são úteis em inúmeras etapas
da vida, reconheço, mas na quase totalidade das

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vezes só serve para postar o ser humano num
sono confortável... e inconsciente!

Por outro lado, quando a pessoa se liga


realmente em atividades imensamente
prazerosas pode adentrar no “estado de fluxo”.
Esse estado é puro êxtase e, ao contrário do que
se pensa, é muito fácil de ser alcançado, ouso
mesmo dizer que você já o sentiu algumas
vezes. Apenas não sabia o que era.

Quando se pega “jacaré” numa praia, quando se


escreve algo muito legal, quando participa de um
jogo de cartas ou até mesmo quando se prepara
um jantar, em quaisquer desses momentos é
possível sentir a energia deliciosa do êxtase. Não
é algo relegado apenas a um “nirvana”
impossível de ser alcançado. É algo que, com
consciência e algum trabalho, pode ser
conseguido no dia-a-dia. Eu possuo algumas
atividades que me proporcionam esse êxtase.

Nessa altura, você vai me perguntar: “O que


preciso fazer para entrar em estado de fluxo?”
Respondo contundentemente que você deve
fazer aquilo que simplesmente adora fazer. Você
vai se tornar embriagado da própria consciência,
se é que é correto chamar assim, e não das
drogas usuais. Como sempre digo, “sucesso é a
sua senda”.

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9 – A questão do livre-arbítrio

É importante tratar a questão do livre-arbítrio


porque resume o próprio ciclo da existência
humana na face da Terra. O livre-arbítrio vem
atormentando os pensadores ao longo dos
milênios. De modo simples, foi enunciado pelo
vigário francês François Rabelais, no século XVI,
que, ao imaginar a Abadia de Thelema, asseriu
como única lei:

Faze o que tu queres.

O livre-arbítrio é a maior lei cósmica. Sem o


livre-arbítrio até o amor deixa de existir. O amor
depende do livre-arbítrio. Haverá, por acaso,
amor sem direito de escolha?

O maior erro na questão do livre-arbítrio, tanto


dos defensores quanto dos detratores da idéia, é
achar que se trata de algo pronto e acabado.
Vamos partir da idéia de que o livre-arbítrio é a
capacidade de tomar decisões por si mesmo.

Obviamente, no seio das religiões abraâmicas


não existe o livre-arbítrio pela mera razão de
que a segunda opção é o Inferno. É o mesmo
que alguém dizer ao seu filho: "Olha, você pode
pegar o bolo que está na geladeira, mas - se o
fizer - levará uma surra." Na verdade, não há
escolha. Este tipo de "livre-arbítrio" é
fraudulento.

Assim, a religião cria uma falsa idéia de livre-


arbítrio para mostrar ao crente que ele precisa
tomar a decisão "certa" para ir a um local

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prazeroso, enquanto na própria vida ele poderia
alcançar esse mesmo prazer se resolvesse ir à
luta e viver sob os seus próprios desígnios.
Deste modo, não é que o livre-arbítrio não
exista, mas, como uma sombra da própria
religião, almejou em se tornar algo absoluto,
enquanto o livre-arbítrio é relativo.

O livre-arbítrio não pode ser algo definitivo, e


sim algo que deva ser conquistado e
reconquistado constantemente. Eu tenho livre-
arbítrio para dirigir um automóvel, porque sei
dirigir. No entanto, eu não possuo o livre-arbítrio
para pilotar um avião, porque não sei pilotar,
não conheço a técnica de vôo. Entrementes, se
freqüentar uma escola de pilotagem e adquirir o
brevê, posso perfeitamente pilotar o avião.
Assim, pode-se notar que o livre-arbítrio
depende de conhecimento. Mas não só.

Um louco ou um bêbado pode pilotar um avião,


mesmo tendo o brevê? Claro que não! Mesmo
que ambos dominassem a técnica, ainda faltaria
a consciência e a responsabilidade, que sempre
andam de mãos dadas. O louco ou o bêbado
poderia perfeitamente subir e voar com o avião e
acabar atirando a aeronave na primeira
montanha que surgisse à sua frente.

A grande importância do livre-arbítrio surge do


autoconhecimento, quando a pessoa decifra
completamente o enigma da sua real essência e,
destarte, pode fluir plenamente o seu ser na
mais ampla e irrestrita liberdade.

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Outro detalhe é que livre-arbítrio, segundo a
posição que adoto, também não se confunde
com a liberdade. O livre-arbítrio seria psíquico,
como vimos, enquanto a liberdade seria física.
Uma pessoa presa pode possuir o livre-arbítrio,
mas não tem liberdade. Um louco pode ter
liberdade, mas não ter livre-arbítrio, ser incapaz
de tomar decisões por si mesmo.

10 - Androginia

A pessoa possui um corpo de homem ou de


mulher, mas ouso dizer que, em essência, é
andrógino, ou seja, comunga de ambos os
sexos.

Adão seria o andrógino por excelência. A religião


se engana ao dizer que retirou uma costela de
Adão, na realidade foi um útero, senão como
poderia ter surgido Eva?

Quero dizer que qualquer ser vivo possui ambas


as energias, masculina e feminina, circulando
dentro de si. Mesmo que prepondere o Yang ou o
Ying, o outro também existirá. Por esse motivo,
o Tei Gi (aquele símbolo do Tao) sempre contém
a parcela do seu oposto em si.

É importante esse tema, porque normalmente a


pessoa só se dedica a uma determinada
“polarização”, o que serve para desequilibrar e
fragilizar imensamente a pessoa. Adotar uma

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atividade ou prática que seria considerada do
sexo oposto serve como equilibrante, ou seja,
para que a pessoa entre no ritmo natural da
vida.

Exemplo. João resolve praticar corte e costura,


atividade que seria tipicamente feminina. Ao
invés de o tornar extremamente feminino, serve
para dar vazão natural à energia Ying e, com
isso, a própria energia Yang também se
fortalece.

Obviamente, os machistas se ressentirão com


essa idéia, mas eu sempre desconfio que algo há
de errado com o machista empedernido. Acho
que se ele soubesse que no fundo é um
andrógino, possivelmente se suicidaria.

11 – Uma incursão na morte

O fundamento maior de todas as religiões


deveria ser o autoconhecimento e a auto-
superação, todavia fundou-se no problema da
morte. Se fosse provado que a morte não existe,
a grande maioria dos religiosos fanáticos iriam
simplesmente viver a sua vida, sem se importar
com regras morais.

O satanista simplesmente vive a sua vida. Se


não houver vida após a morte, não estará
perdendo a sua vida por causa de dogmas
inúteis. Se houver vida após a morte, é muito

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provável que continue o seu caminho noutro
lugar, com um novo aprendizado.

Para evitar esta idéia natural, as religiões


criaram a paranóia da danação eterna.
Esta invenção só serve para explorar as pessoas
de mente fraca e enriquecer o clero, que é quem
lucra com esse negócio.

A morte á altamente democrática: ela aceita a


todos. Não importa se o indivíduo é bonito ou
feio, rico ou pobre, cidadão ou marginal, ela vai
abraçar a todos por igual. Além disso, a morte é
um resumo da vida. Normalmente, a forma
como alguém morre revela o próprio modo por
que ela viveu.

No entanto, a morte é uma ilusão. Algumas


pessoas ressuscitaram e contaram um caso
semelhante, que passaram por um túnel, e
viram seu corpo logo abaixo. Um cético poderia
argumentar que isto foi uma ilusão provocada
por alguma química do cérebro. Todavia,
inúmeros casos semelhantes provam que não é.

Como o Cosmos interage por símbolos e


parábolas, algumas questões são passíveis de
serem resolvidas. A tumba é similar ao útero, o
signo é o mesmo, pois o portal que dá acesso à
morte é o mesmo que dá acesso à vida.

Se os pais não ensinam birras a uma criança, de


onde surgem tais trejeitos? É sabido que do
nada, nada surge. Portanto, a melhor explicação
é que ela traz essa birra como herança de

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alguma vida passada. Em miúdos, ela aprendeu
ANTES desta vida.

Enfim, existe também a problemática da viagem


astral. O voador sabe que os portais da matéria
não são a fronteira final. Então, a grande lição
que se pode tirar da morte nada mais é do que a
plena valorização da vida.

12 – Lei da reciprocidade

Alguém comentou comigo que o Satanismo é


uma via sinistra, porque promove a vingança ao
invés de promover a compaixão. Na verdade, o
Satanismo promove a indulgência consigo
mesmo e para aqueles que a merecem, sem se
preocupar com os ingratos.

O Cristianismo ensina que, se a pessoa levar um


tapa, deve oferecer também a outra face. Esse é
o cúmulo da desmoralização humana e ninguém,
mesmo o cristão mais fervoroso, comete uma
estultice deste tipo.

Uma interpretação no meio exotérico é que a


"outra face" seria a face de Lúcifer, a da
vingança. No entanto, é uma hipocrisia defender
um dogma que ninguém, em sã consciência, vai
seguir.

O vocábulo "vingança" é carregado de denotação


pejorativa, realmente possui um cunho sinistro,

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maléfico, contudo a vingança é algo natural. Se
você leva um tapa e responde com outro,
simplesmente é seu instinto de sobrevivência
zelando pela integridade do seu ser.

Em linhas simples, você está apenas se


defendendo.

Esta é a razão da existência das artes marciais:


Ensinarem a pessoa, se possível, a evitar um
confronto, mas nunca fugir covardemente de
um, dando a resposta na exata medida que se
fizer necessária.

O Satanismo propõe a lei da reciprocidade, ou


seja, "trate-me como gostaria de ser tratado".
Assim, o próprio satanista busca ser cortês e
cordial com os outros em primeiro lugar, busca
dar o exemplo, afim de que também seja tratado
do mesmo modo.

Infelizmente, conceitos como carma e pecado


afastam o ser humano do seu fluxo natural, ao
postularem castigos ou recompensas futuras. Na
verdade, dogma e pecado são o pano de frente;
o pano de fundo é o sentimento de culpa que
realmente alicerça tais conceitos.

O sentimento de culpa é que traz o "retorno", a


carga perniciosa para si mesmo, portanto o
satanista simplesmente o evita sob que forma
apareça. Se reconhece que errou, o satanista
não cometerá o mesmo erro novamente, sem
que seja necessário se afligir e pedir perdão
pelos seus pecados.

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Em miúdos, o sentimento de culpa é fútil e
perigoso.

Carma e pecado são conceitos antinaturais; a lei


da reciprocidade é totalmente natural, ou seja,
de conformidade com a natureza.

13 – Ontologia de Satan

Há milênios se discute acerca da real natureza


de Satan. Meu propósito ao escrever estas linhas
é apenas traçar alguns rabiscos, longe a minha
pretensão de dar um contorno definitivo ao
assunto.

Inicialmente, o termo Satan, segundo estudos


das ordens iniciáticas, seria oriundo de Set, o
mais antigo e poderoso dos deuses egípcios, que
simbolizava o princípio da "consciência isolada
no ser humano". Satan viria de Set Hen, que
significa "majestade de Set".

A forma do diabo com chifres e cascos de bode


viria do deus Pan, que representava toda a
antítese do que o Cristianismo pregava. Era um
deus musical, irreverente, namorador,
amedrontador e brincalhão.

Na mistura do nome de Set com a forma do deus


Pan surgiu o Satan mosaico que, durante 2000
anos, apavorou os cristãos com a tentação do
pecado e a conseqüente danação eterna.

25
No entanto, Satan é a grande fórmula da
iluminação humana. Das trevas surge a luz. A
ontologia acerca do Príncipe das Trevas precisa
necessariamente passar através da gnose pela
via da Sombra.

Muito se discute se Satan é uma deidade, um


símbolo ou uma energia negra da natureza,
dependendo da escola e orientação do buscador.
Uma coisa é certa: Satan é um arquétipo,
porque se trata de uma estrutura profunda e
inata da psique.

O Satanismo laveyano veio dar uma base sólida


e social ao obscurantismo com que cercava
qualquer idéia relacionada ao Diabo (Diabo,
segundo uma corrente, pode ser relacionado
também como o duplo no ser humano e assim, a
fórmula “o dual no uno”, que será tratada no
momento adequado).

Para conseguir aceitação pública, LaVey usou a


fórmula de Charles Baudelaire, "a melhor
estratégia do Diabo é nos convencer de que não
existe". Assim, transformou a idéia de Satan
num símbolo de rebeldia, antinomia e
inconformismo (perfeitamente aceitável) e
associou-o, ontologicamente, a uma energia
negra da natureza.

Entrementes, eu questiono: essa energia negra é


amental? Se for amental, é apenas energia como
a eletricidade ou o magnetismo. Acho essa idéia
muito pueril. A maioria dos satanistas modernos
vê atualmente Satan como um símbolo, mas isso
não explica também a transpessoalidade, que é

26
fator aceito cientificamente e conhecido como
samadhi, nirvana, contato com o sagrado
anjo/demônio guardião, em miúdos, o estado de
supraconsciência ou êxtase místico, o famoso
“godhead”.

Outro problema: Segundo Hermes Trismegistos,


"O Todo é Mente, o Universo é Mental". Essa
fórmula é de primacial importância e não
conseguiu ser refutada nesses milênios de sua
criação. E quem é o Todo? Pan, Baphomet, Tao,
Satan, seja lá o nome que se queira lhe dar.

Obviamente, em qualquer situação, o que o


satanista quer é o contato com Satan. Assim, o
primeiro cuidado que deve ter é descartar
completamente qualquer associação com a larva
representada pelo diabo cristão, que aparece
nesses filmes tipo O Exorcista. Para desconectar
disso, basta ter em mente que Satan é originário
do deus Set egípcio, portanto anterior ao
Cristianismo.

Ouso afirmar que Satan é uma


inteligência/consciência cósmica, representado
por inúmeros signos, entre eles o logos de
Baphomet. Observe que a representação de
Eliphas Levi aponta o sol e a lua, ou melhor, o
bem e o mal em si, e a dualidade é ilusória, a
dualidade abarcaria o uno em si, ou seja, a
fórmula é 2 = 1.

Em outras palavras, essa inteligência vem se


manifestando em várias épocas e locais, como o
Ahriman persa, que é também uma deidade

27
criadora, ou Susa-no-o, que é a equivalência
nipônica de Set no xintoísmo.

14 – Sentimento de culpa

Por uma questão de justiça, todas as religiões


criaram um castigo para os erros cometidos por
seus adeptos. Assim, as religiões abraâmicas
usam o conceito de pecado, os hindus e os
espíritas usam o conceito de carma e os
wiccanos usam o conceito de lei tríplice.

Entretanto, a vida não é mecanicista, e sim


holística. Não é mera questão de causa e efeito,
ou lei de Deus ou da Natureza, caso contrário
tudo seria adaptado aos padrões dessas
religiões, tudo seria arrumado e perfeito, mas
isso não acontece. Cada vez mais impera o
contrário do que é desejável.

A vida nunca foi justa, e sim arguta. Quem o


ilustre leitor acha que vai vencer uma contenda,
o mais justo ou o mais arguto?

Examinando o cerne da questão, o pano de


fundo é o sentimento de culpa. Este sentimento
nefasto é que alavanca o "retorno" nas três
modalidades citadas (pecado, carma e lei
tríplice). Como se sabe, a intensificação do
sentimento é uma das chaves da magia.

28
Se a pessoa não alimentar sentimento de culpa,
não haverá retorno algum, por mais injusta que
essa idéia possa parecer. É por isso que nunca
acontece nada com muitas pessoas “odiosas”.
Por outro lado, se alguém nutre o sentimento de
culpa, mesmo sendo “inocente”, não se livrará
também de possíveis mazelas, advindas dessa
carga perniciosa.

Esta é a razão por que inúmeros criminosos


estão sempre livres, à margem da lei. Este é o
motivo por que várias pessoas sofrem doenças e
acidentes sem merecimento algum.
Simplesmente por causa da ausência ou
presença da culpa.

Obviamente, o Satanista não alimenta este


sentimento estúpido. A correção de um erro não
necessita de um padre, pastor, rabino, ulemá,
guia ou similar, nem alimentar uma máquina
cíclica e viciada que acomoda o idiota a repetir e
repetir sempre o mesmo erro. Afinal, basta rezar
e estará salvo.

15 – A arte de enxugar

O ser humano é um bicho completamente


entulhado, ou seja, vive sobrecarregado de lixo.
O segredo é valorizar justamente que é útil – e
descartar o inútil!

29
Normalmente uma pessoa possui inúmeros
problemas e sempre arruma mais. No entanto,
se enxugar os problemas pequenos, os grandes
se diluem, tendem mesmo a desaparecer. Assim,
é importante construir o hábito de eliminar os
problemas à medida que forem surgindo. Há um
dito oriental que o maior problema do mundo era
facilmente resolvido quando pequeno!

No Satanismo os problemas são sempre bem


vindos, na medida em que possam se tornar
coadjuvantes no processo de superação humana.
Na língua chinesa, a palavra “crise” é sinônima
de oportunidade. Para ser sincero, adversidades
e chances andam sempre de mãos dadas.

Por outro lado, outros fatores, como os desejos e


os impulsos podem também ser enxugados, de
modo a valorar a vida do ser humano. O ideal é
auferir auto-suficiência. Ser auto-suficiente é um
prêmio, a ser conseguido por Si-mesmo através
de muito esforço.

16 – As duas autocríticas

Estava lendo um livro sobre “pensamento


positivo” e deparei com a seguinte frase: “Não
hesite em interromper a autocrítica; não se pode
estar em harmonia odiando-se.”

30
Essa frase importa em um terrível equívoco.

A melhor prova de auto-estima consiste


justamente em exercer a autocrítica.

Inicialmente, é preciso distinguir a crítica como


um fim em si mesma da crítica com vista à auto-
superação. A primeira realmente é funesta; a
segunda é altamente salutar. Assim, a frase do
livro é correta pela metade.

A primeira faz parte do processo de auto-


sabotagem e costuma ser impingida pelo sistema
pútrido que pulula por aí.

A segunda é necessária. Deve ser completa e


honesta, com base num verdadeiro inventário de
Si-mesmo. Esse tipo de crítica é que permite o
câmbio daquilo que é pernicioso para aquilo que
é altamente salutar e produtivo.

Portanto, quanto ao segundo tipo, a autocrítica é


irmã da auto-estima.

17 – As 9 leis da magia

1. A magia é, essencialmente, um misto de


postura mental consolidada com carga
emocional intensificada.

31
2. A magia necessita de que o ser se
envolva totalmente no objetivo. Não
adianta realizar um ritual, se os demais
aspectos do ser atuam em sentido
contrário.

3. Uma fé inabalável no sucesso é a metade


do caminho andado, a outra metade
reside na receptividade.

4. A maior armadilha na magia consiste em


pedir algo impossível. Troque o
impossível pelo improvável, e não terá
dificuldade alguma. Insistir no impossível
só serve para desgastar as energias e
eliminar a autoconfiança.

5. A sensação é a lâmpada de Aladim. Tudo


que pedir através da sensação será
atendido, nada será impossível.

6. Se pensar no desejável, será atendido,


mais cedo ou mais tarde; se pensar no
indesejável, será atendido, mais cedo ou
mais tarde; portanto escolha sempre o
desejável.

32
7. Sofrendo a influência da angústia, aceite-
a e mude o padrão mental para trabalhar
para Si. Nunca reprima a energia, caso
contrário ocorrerá o pior.

8. Use a imaginação dirigida para conseguir


o quer. Tudo que pode ser imaginado
pode ser concretizado.

9. Faça um inventário constante do seu ser.


Sem auto-conhecimento, não há auto-
superação alguma.

18 – Auto-amor

Inicialmente, é de se perguntar porque não


estou usando as palavras amor-próprio ou auto-
estima, ao invés de auto-amor. A razão é muito
simples. Amor próprio pode se confundir
também com aquela postura enraizada, tipo
“Você mexeu com o meu amor próprio!”, neste
caso a pessoa fica presa a um padrão mental
nocivo. Auto-estima é melhor, mas inferior à
idéia de auto-amor.

33
Sendo auto-amor um neologismo, significa justa
e literalmente o que representa. Amor por Si-
mesmo. Amor por Si-mesmo traz, em seu bojo,
auto-respeito e autoconsciência. Nesse sentido,
a pessoa realmente transborda de amor sem
recair nos equívocos do narcisismo e da
egolatria.

No entanto, é muito raro o auto-amor. Por acaso


você conhece alguém que dedique ao menos
alguns minutos por dia a se acariciar? Por acaso
você conhece alguém que dedique alguns
minutos a conversar afetuosamente consigo
mesmo? É raro encontrar alguém assim...

Como a pessoa pretende amar a Si-mesmo se


não se dedica o mínimo afeto?

Cito o exemplo da meditação. Na maioria das


vezes, o ser humano está angustiado e quer
fugir da sua lástima emocional. Não é o auto-
amor que o faz optar pela meditação (ou outra
prática qualquer), mas sua busca é movida pela
fragilidade psíquica.

A razão de o auto-amor ser raro assenta-se no


próprio sistema sócio-religioso constituído, pela
auto-negação, repressão, abstinência, que prega
justamente leis contrárias à plena fruição do ser,
como uma afronta à vida como um todo.

É muito simples você, que sempre anda muito


apressado e atarefado, se dedicar parte do seu
banho a uma manifestação de carinho ou alguns

34
minutos antes de dormir a conversar
afetuosamente consigo.

Assim, o auto-amor sempre foi raro, pelo menos


até agora.

19 – Bioarte

Um artista australiano, Stelios Arcadiou, criou


imensa polêmica ao implantar uma orelha no
próprio braço. Esse tipo de criação despertou
diversas reações, não só do meio acadêmico,
quanto do público em geral.

Pedindo auxílio à Wikipédia, a “bioarte é uma


prática artística na qual o meio é matéria viva e
as ‘obras de arte’ são produzidas em laboratórios
ou ateliês de artistas e designers; em resumo, é
‘arte inspirada na biologia’. A ferramenta é a
biotecnologia, a qual inclui tecnologias como
engenharia genética e clonagem. A bioarte é
considerada pela maioria de seus praticantes
como estando estrictamente limitada a ‘formas

35
vivas’, embora exista alguma discussão quanto a
inteireza deste critério e os estágios nos quais a
matéria pode ser considerada viva ou vivente.
Por conta de não haver ainda significado
codificado da bioarte, o meio e/ou gênero ainda
estão por ser definidos. Os materiais usados
pelos bioartistas são células, moléculas de DNA e
tecidos vivos. Imiscuir-se com formas vivas e
praticar biologia desperta questões éticas,
sociais e estéticas.”

A bio-arte é muito interessante. Trata-se de uma


atividade corajosa, não é como simplesmente
desenhar uma tatuagem, é necessária operação
e pode mexer com o próprio organismo, criando
a rejeição da parte implantada. Assim, o
exemplo da orelha colocado no braço como
forma de uma bio-escultura.

O que poderia ser considerado uma bio-arte é


justamente a redesignação do sexo na pessoa
que não está satisfeita com o atual. Em miúdos,
a mudança de sexo da pessoa. Esse tipo de
operação já é aceita na sociedade, inclusive feita
pelo SUS, e o sistema jurídico altera o nome
próprio da pessoa, de João para Maria.

Através de engenharia genética passa a ser


possível a obtenção de materiais orgânicos
sintéticos. O que é isso? Todo mundo já viu
aquela fotografia da orelha no corpo do rato. No
entanto, eu sei que será possível, no futuro, a
criação, através de material orgânico do próprio

36
indivíduo, um olho na nuca, por exemplo. Algo
desse tipo seria tremendamente útil numa
profissão perigosa.

Há alguns deboches em relação à bioarte.


Alguém disse “se quer aparecer, porque não põe
um pinto na testa?” ou “há gente que fala pelos
cotovelos, nada mais justo em ter uma orelha
por perto...”

O Satanismo apóia totalmente a bioarte, pela


simples razão de que o homem, pela sua
natureza, foi feito para ir além dos seus próprios
limites.

20 – Conexão local

Certa vez estava comparando o nosso cérebro a


um aparelho celular. A função dele é essa
mesma, captar ondas mentais, assim como o
aparelho celular capta ondas de
telecomunicação.

Andando no tráfego, o primeiro carro que tem


uma dificuldade qualquer e prende o trânsito
leva inúmeros motoristas a buzinar
freneticamente como se estivessem sendo
ofendidos gravemente.

37
Trata-se, na pior das hipóteses, de uma conexão
local.

Como a pessoa almeja conectar-se a padrões


mentais superiores, se ainda estão presos a
picuinhas que não levam a nada, a não ser à
sabotagem do próprio ser?

Antes que alguém me acuse de estar dando uma


de moralista (mesmo porque repudio qualquer
postura moral), apenas chamo a atenção para o
fato de, na busca pela superação humana, o
primeiro passo reside justamente em elidir
padrões mentais perniciosos. Os câmbios são
essenciais.

Um fato relatado por um conhecido. Ricardo


tinha impulsividade crônica. Quando abria a
porta do elevador, o fazia com uma certa
violência. A mulher, mais calma, disse “em
qualquer momento, você vai dar uma pancada
numa criança”. Ricardo processou a observação
da esposa, notou que realmente era impulsivo e
lutou contra este hábito obstinado. Um dia,
estava no banheiro do shopping urinando,
quando acabou veio aquele impulso irresistível
de se virar rapidamente, mas se controlou e se
virou devagar. Estava justamente passando um
idoso de muletas, que, com o provável impacto,
iria direto ao chão.

Assim, a vigilância e o câmbio dos próprios


pensamentos e emoções, principalmente desses

38
impulsos nefastos, faz parte da jornada do ser
humano em busca de uma qualidade superior de
vida.

Aí pode rolar uma conexão internacional...

21 – Estrada noturna

Jung definiu a Sombra de um modo bem


simples, ao dizer, em 1945, que ela é a “coisa
que uma pessoa não tem o desejo de ser”. Este
conceito, entretanto, desvela não apenas o lado
mais primal ou primitivo do ser humano (no
sentido animal mesmo), como também tudo
aquilo que o ego reprime desde a mais tenra
infância, de modo a tornar o ser humano
“apresentável” à sociedade.

Essa postura seria ideal, principalmente nos


padrões maniqueístas, porque, ao descartar tudo
que é considerado “negativo”, a pessoa sempre
seria o seu lado melhor, de modo a se encaixar
no modelo “perfeito” da moral e da religião.

No entanto, assumir tal postura é o mesmo de


tentar manter perpetuamente a mão esquerda
dentro do bolso. Vai criar inúmeros conflitos,
alguns realmente graves, porque, em algum
momento, vai irromper de forma intensa e
perniciosa.

39
Quero dizer que a própria idéia de direito
inexiste sem a de esquerdo, assim como a de
baixo sem a de alto, e assim por diante.
Enquanto o maniqueísmo deseja eliminar um dos
pólos, na ambivalência (defendida pelo
Satanismo) almeja-se trabalhar com ambos.

Observe que, em determinados momentos, até


mesmo o pólo oposto, no caso o ego, pretende
ser eliminado, o que é um absurdo. Na verdade,
sempre se tenta eliminar um dos pólos no
maniqueísmo, porque é uma via destrutiva. Por
que esse ódio contra o ego, se ele é o nosso
cartão de visitas social? O problema não é o ego,
mas o ego doente, que ocorre na egolatria, fruto
de padrões repressivos do passado.

A mudança de paradigma, quando a pessoa


aceita esse “lado negativo”, busca conhecê-lo e
trabalhá-lo com ele, converte a Sombra não
numa inimiga, mas numa espécie de “estrada
noturna” que pode ir sendo iluminada com o
farol da sua consciência. A pessoa passa a se
conhecer por inteira, aspectos “negativos”
transformam-se em “positivos”, dons não
aflorados são desenvolvidos, atos falhos são
eliminados etc. etc. etc.

Nos estudos de Jung, uma das coisas mais


importantes é resumida na frase lapidar de que
“é a Sombra que realmente nos torna humanos”.

40
22 – O arquétipo de Satan

O universo não é físico, por mais que aparente


ser. O universo é psíquico. O que significa isso?
Significa que contém em si a totalidade dos
processos psíquicos, tanto em nível consciente
quanto inconsciente. Da manifestação desses
processos é que surgem todas as formas e todos
os símbolos.

Na tentativa de definir o que seja arquétipo, a


Wikipédia assere que, “na psicologia analítica,
significa a forma imaterial à qual os fenômenos
psíquicos tendem a se moldar. C. G. Jung usou o
termo para se referir aos modelos inatos que
servem de matriz para o desenvolvimento da
psique”.

Essa idéia é importante, porque a psique é


desvelada justamente pelos arquétipos. Entre os
arquétipos há um que é imensamente castrador
de um lado, representado pela idéia totêmica do
deus cristão como uma trindade. Esse arquétipo,
criado pela psique coletiva, volta-se contra seus
adeptos como um lobo que devora seus próprios
filhos.

Um arquétipo completamente diferente, com


índole libertária, hedonista, humanista e,
principalmente, adversária de todo sistema
constituído para negar o ser humano; um
arquétipo que não baseia-se exclusivamente na
luz cega, mas principalmente nas trevas que

41
permeiam e sustentam todo o universo; um
arquétipo que se desvela como um padrão de
estruturação que não é totalmente representável
em si mesmo, mas torna-se evidente através de
suas manifestações. Esse arquétipo recebe,
entre inúmeros outros nomes, o de Satan.

A noção do arquétipo como estrutura psicológica


inata é importante e serve como divisor de
águas. Satan não é meramente um símbolo ou
energia negra da natureza, mas uma
inteligência-consciência na qual é possível haver
uma sintonia pelo buscador.

Nesse sentido, os satanistas laveyanos afirmam


solenemente que realizar Satan em Si-mesmo
nada mais é do que realizar o seu próprio eu
individual, aceitando-se por completo. Nesse
sentido, haveria a apoteose ou a autodeificação.

Em linhas simples, uma sintonia fina como uma


estação de rádio, onde o rito e o mito podem
perfeitamente se encontrar neste ou noutro nível
de realidade a expressão máxima do Self, com o
perdão do pleonasmo.

23 - Odioísmo

Muitas pessoas me questionam acerca de o


Satanismo ser um culto ao ódio. Sendo Jeová a

42
personificação do bem absoluto e Satan a
personificação do mal absoluto, nada mais
razoável do que aceitar essa assertiva. Para
incrementar ainda mais essa assertiva,
conjuntos como Deicide, com músicas tipo Kill
The Christian, são responsáveis por essa
apologia imatura.

Eu simplesmente pergunto: Se se trata de mero


culto ao ódio, porque não simplesmente chamá-
lo de Odioísmo, ao invés de Satanismo?

Volto a questionar: Se meus pais são católicos,


meus parentes são espíritas, meus amigos são
budistas, vou arranjar uma guerra contra todos
por causa das minhas convicções religiosas?

Entendo que, por a religião ser diretamente


vinculada à intimidade do buscador, somente ele
saberá o MELHOR caminho para si. Em qualquer
caso, sempre deveria haver a tolerância e ser
evitado o preconceito, afim de que não sejam
repetidos os mesmos erros perpetrados no
passado pelas religiões instituídas.

Agora, todas as religiões merecem críticas e, se


determinada religião, mesmo o Satanismo, não
aceita passar pelo crivo da dúvida e do
questionamento, então algo está profundamente
errado.

Assim, o Satanismo, como religião da Sombra,


precisa se livrar da irracionalidade, da ignorância
e da inconsciência. O Satanismo, ao não ser nem

43
bom, nem mau, lida também com o ódio de
forma correta. O melhor modo é justamente
transformar o ódio num aliado e não numa mera
agressividade e violência gratuita.

24 – A próxima etapa da evolução humana

Estava me perguntando qual seria a próxima


etapa da evolução humana, porque alguns
doutos afirmam peremptoriamente que seria a
angélica, ou seja, o ser humano iria evoluir até o
ponto de se transformar num anjo. Achei meio
estranha essa assertiva e vou contestá-la.

Na verdade, o ser humano está se


transformando num vegetal.

Socialmente, as cidades estão virando núcleos


imensos de shoppings, ou seja, toda a vida
social está girando em torno desses imensos
edifícios comerciais, com centros médicos,
faculdades etc. Assim, o homem mal precisará
sair de casa. Ele vai se fixar radicalmente como
uma planta.

Fisicamente, a pessoa torna-se cada vez mais


plugada nos aparelhos televisores e nos
computadores. Essa idéia lembra a situação dos
seres humanos e das máquinas no filme Matrix.
Parece realmente que toda a humanidade está

44
alimentando as máquinas. Assim, cada vez mais
se assenta o sedentarismo.

Psiquicamente, o ensino, que realmente poderia


vir a libertar o ser humano de toda essa cadeia,
tornou-se obsoleto, fragmentado, enlatado e
sucateado. Não se ensina mais a pensar, apenas
são dispostos mecanismos padronizados de mera
interação. As universidades não formam mais
pensadores, tão-somente técnicos. Apenas uma
meia dúzia de pessoas ainda conseguem pensar.
A mente tornou-se engessada.

Portanto, é fácil concluir que o bicho homem,


longe de alcançar a escala angélica, como
pressupõem por aí, na realidade está finalmente
dando um passo definitivo no seu ciclo de
evolução, para se tornar o mais completo
vegetal.

25 – Satanismo e Nazismo

Inicialmente, é necessário enfatizar que qualquer


doutrina, por pior que seja, sempre vai possuir
fórmulas “boas”, caso contrário não arruma
nenhum adepto. No caso do Nazismo, uma
excelente fórmula é “força através da alegria”, já
mencionada por LaVey.

45
No entanto, o Satanismo não pode comungar
com o Nazismo pela simples razão de que
existem diferenças ontológicas gritantes entre
ambos. Como existem algumas associações
entre o Nazismo e o Satanismo, estou postando
as razões pelas quais o Satanismo não combina
com o Nazismo.

Por que Satanismo não combina com Nazismo?

1. Porque o Nazismo prega o fortalecimento do


Estado, enquanto o Satanismo prega a
superação do indivíduo.

2. Porque o Nazismo prega o holocausto,


enquanto o Satanismo advoga o amor à vida.

3. Porque o Nazismo necessita de um líder, de


um führer, enquanto no Satanismo o homem é o
seu único mestre.

4. Porque o Nazismo queria ser bom, enquanto o


Satanismo não quer ser bom, nem mal, apenas
natural.

5. Porque o Nazismo é contra a natureza,


enquanto o Satanismo vai além da natureza.

6. Porque o Nazismo possui imenso preconceito


de raça e religião, enquanto o Satanismo repudia
qualquer preconceito.

É só buscar, que acha mais diferenças.

46
26 – A chave do Diabo

Existem dois tipos de riqueza. O primeiro tipo é


formado por ouro, é um tipo de riqueza que
serve exclusivamente como valor ou, se preferir,
moeda de troca.

Há outro tipo de riqueza, que se chama argúcia.


Esse tipo de riqueza vale mais que ouro.

A argúcia é a chave do Diabo. Essa é a moeda


com que o Príncipe das Trevas brinda quem
busca respeitosamente pela Sua gnose.

Do que é formada a argúcia? A argúcia é uma


espécie de somatório entre o conhecimento e a
experiência. Um não se separa do outro. Uma
pessoa arguta é aquela sabe tirar proveito até
mesmo das piores situações. Na verdade, nas
piores situações pode residir as melhores
oportunidades, se a pessoa não for um
pessimista crônico.

Se a pessoa apenas adquire conhecimento, mas


não o põe em prática, é como se trabalhasse
com uma mão só; se a pessoa adquire
experiência, mas não busca o saber, também
ocorre o mesmo. No encontro dos dois, surge
uma espécie de "tertius genus", ou seja, aquele
algo mais chamado argúcia.

Na sociedade, existem pessoas ostentando mil


títulos, mas é apenas isso mesmo que fazem:
colecionar. Um colecionador não se preocupa
tanto com o autoconhecimento e a auto-
superação, mas simplesmente no deleite do

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próprio pavoneamento. Essa é a sua sina e essa
é a sua miséria.

27 – Amálgama da mente

Houve uma competição entre dois lenhadores


famosos, um era jovem e atlético, o outro um
homem idoso. O lenhador mais jovem
simplesmente começou a decepar os troncos de
árvore sem parar. O mais idoso parava de vez
em quando. Ao término do trabalho, o montante
do lenhador idoso era muito superior ao do mais
jovem, que, espantado, quis saber como o outro
pode cortar mais, já que parava de vez em
quando para descansar. O mais idoso apenas
disse: - Eu não parava para descansar, mas
simplesmente para amolar o machado.

Do mesmo modo, há dois tipos de pessoa. A que


usa a sua mente normalmente e a que sempre
busca aprender meios de otimizar a sua mente.
Esse segundo tipo de pessoa está constante
amolando o machado, em miúdos, está num
constante processo de superação humana.

Essa história é crucial, porque a mente existe


para ajudar o ser humano a romper os seus
limites. No entanto, a religião e a política usam
mil e um métodos para criar a psiquiálise, que é

48
o “engessamento” da mente. Assim, as pessoas
desfilam por inúmeros padrões mentais pré-
fabricados, mas raramente pensam. Existe, é
verdade, uma comodidade e conforto criados
pelos sistemas sociais.

No entanto, o homem não existe para viver num


constante conforto. Ele existe para romper com
todos os grilhões que limitam o seu ser. Nesse
sentido, a metáfora do machado pode ser útil
nesse processo.

Quando se fala em controle da mente, a razão é


justamente permitir que o ser humano RE-crie o
seu cosmos. Em outras palavras, toda essa
imensidão física externa nada mais é do que a
projeção do que existe dentro de Si-mesmo.

É necessária essa abordagem, porque, para o ser


humano mudar a sua condição atual - seja ela
qual for - é necessário preliminarmente uma
mudança profunda na psique. O resto vai
acompanhar. Assim, tornar-se cada vez mais
consciente do universo mental possibilita uma
chave para a superação humana, chave essa
proporcionada pelo conhecimento da psique.

Se a pessoa vai acessar um computador é


necessário todo um aprendizado. Depois de
alguma prática, a pessoa vai usá-lo
razoavelmente bem. Então por que não ter o
mesmo cuidado com a própria mente? Por que o
ser humano relega a própria mente a um
constante abandono, de modo a permitir que ela

49
seja controlada por fatores TOTALMENTE
ALHEIOS à sua própria vontade?

O controle dos pensamentos e demais processos


mentais é realmente a primeira etapa do
processo. A segunda etapa é o amálgama dos
sentimentos. Se uma etapa disponibiliza, a outra
fixa; ambas as etapas, numa só, é o grande
segredo. Um pensamento de imensa inteligência
aliado a um sentimento de intensa profundidade
permite o ser humano superar qualquer
limitação.

No entanto, o que se vê por aí é uma balbúrdia


de pensamentos, com sentimentos totalmente
perniciosos.

A partir do momento, em que a pessoa resolve


assumir as rédeas do seu próprio destino, em
algum momento irá perscrutar o amálgama da
mente. É necessário que seja assim.

28 – Negativismo positivo

Quando se trata com a ambivalência, o primeiro


problema que surge é o trabalho com os
opostos. Sem entrar no mérito da ilusão da
dualidade, seria interessante abordar uma
questão conhecida como o "negativismo
positivo", onde a conciliação dos opostos não só
é possível, como necessária.

50
O "negativismo positivo" é um método de
superação por excelência. Se a pessoa se
prepara para o pior, arruma uma base sólida e
excelente para o resto. Tudo que vier passa a
ser lucro. Em miúdos, quem se prepara para o
pior merece realmente receber o melhor.

Se a pessoa sabe que pode perder o emprego,


faz uma poupança e se prepara; caso nada
aconteça, o que é bem provável, a pessoa terá
dinheiro para dispor numa viagem ou na compra
de um bem.

Além disso, o "negativismo positivo" permite


uma qualificação intensa da própria mente. O ser
humano passa por diversas condições negativas,
buscando também tirar o melhor de um fato
pernicioso, o primeiro o aprendizado de uma
valiosa lição.

Por outro lado, a focalização exclusiva no que se


convencionou chamar de "pensamento positivo"
olvida possíveis blecautes no dia-a-dia, porque a
pessoa deixa de lado possíveis acidentes de
percurso. Tudo, ao final, não passa de uma
questão de estratégia.

29 – Ética satânica

Uma vez me perguntaram se havia ética no


Satanismo. A resposta é um contundente SIM. A
questão paira sobre o real significado da

51
palavra ética para o satanista. Antes de adentrar
nesse sentido, é necessário abordar umas
questões correlatas.

O Satanismo posta questões como a moral, a


religião e a política no mesmo patamar, ou seja,
todos eles só servem como um controle externo
sobre o interno. Vale dizer que são métodos de
controle de massa, são completamente
artificializados e perniciosos.

Muito mais importante do que implantar códigos


de conduta mecanizados, seria voltar o ser à sua
fruição, à sua naturalidade, à sua consciência, no
entanto a sociedade possui um imenso pavor,
porque um ser humano consciente não pode
viver à sombra de regras impostas e obsoletas,
ele cria as suas próprias regras. Um ser humano
consciente não segue tradição, segue o seu
próprio ser.

Nesse sentido, o ser consciente, ao criar suas


próprias regras, adentra no que se convencionou
chamar de ÉTICA SATÂNICA, que,
resumidamente, consiste na arte de aprender a
comportar-se bem consigo mesmo. Afinal, você
é a pessoa mais importante do mundo... para
você mesmo.

Assim, volta-se a ética satânica também para a


questão do livre-arbítrio. Se o ser humano busca
uma ética própria, naturalmente, ele busca
também a superação humana. Os seus atos
serão melhores, quiçá socialmente, não porque
uma regra lhe está sendo imposta, e sim porque
o seu ser se tornou mais consciente.

52
Resumidamente, enquanto a moral, a religião e
a política artificializaram o ser humano, negando
sua real natureza, a ética satânica busca o
humanismo e naturalidade do ser humano,
fazendo com que ele caminhe pelos seus
próprios pés.

30 – O infernauta

1. A medida do ser humano é o auto-respeito e a


auto-estima.

2. O universo é onírico. Esta é a razão do


constante câmbio entre a ilusão e a realidade.

3. O caos é a mais perfeita ordem. Perscrutando


o cosmos, é possível observar o supremo
diapasão.

4. O Diabo é o senhor da gnose.

5. A angústia é a chave da superação humana.

6. Não existe a paz, mas existe o ritmo. O ritmo


produz equilíbrio e evolução.

7. O amor é a alquimia universal. No entanto, é


preciso saber usá-lo. Como o fogo pode aquecer
ou pode queimar.

53
8. Saber é poder. O conhecimento destrói o
medo e leva o ser humano à vitória.

9. Não basta ser Si-mesmo; é necessário ir além


de Si-mesmo.

10. Mude a energia e mudará o próprio universo.

11. Em caso de dúvida, releia a bula, que é a


sua própria vida.

31 - Difusão do Satanismo

Há debate nas listas de discussão acerca do


esclarecimento da doutrina satânica. Muitos
satanistas de peso consideram que, pelo fato de
o Satanismo não ser religião de massa, nenhuma
difusão deveria haver. Quem se interessasse
pelo tema que procurasse por conta própria as
informações adequadas, recusam-se mesmo a
prestar qualquer auxílio ao buscador.

Discordo dessa postura, guardadas as devidas


proporções. Se não houvesse nenhuma difusão
do Satanismo, eu jamais teria tomado contacto
com a doutrina há anos atrás. Ainda estaria, com
a licença da gíria, "batendo cabeça" por aí, sem
encontrar um lugar onde pudesse espalhar
minhas asas diabólicas.

54
Por outro lado, a mídia costuma associar os
satanistas a vultos sinistros que sacrificam bebês
para agradar ao Demônio; que se banham em
orgias de sexo, droga e sangue; que queimam
igrejas e violam cemitérios - e muitas outras
estultices.

Assim, a difusão do Satanismo serve para esses


dois propósitos: ajudar o satanista a
encontrar uma base doutrinária e também a
desmistificar a ignorância popular.

Com isso, não pense que o Satanismo é uma via


fácil. O Satanismo é uma via árdua e muito
solitária. É necessário trabalhar arduamente para
romper suas limitações. A estagnação é a grande
doença da vida. Engana-se quem pensa que tudo
vem de graça.

32 - Imaginação, faca de dois gumes

A imaginação é uma das faculdades mais


poderosas do ser humano. Infelizmente, também
é muito mal empregada. Na verdade, a
imaginação perniciosa ou destrutiva é
largamente empregada, quando realmente
poderia ser o contrário.

A razão disso é que o ser humano, ao entender a


realidade através da dor, também faz do
sofrimento o próprio modus operandi do seu ser.
Mesmo sem se dar conta, a pessoa investe em

55
mazelas, busca pelo sentido da vida através do
sofrimento.

Vou repetir. Pode soar meio estranho, mas a


vida só passa a ter sentido através da dor.

Entrementes, o ser humano possui opção de


mudar a qualidade da sua imaginação. Ele pode
optar por usar a imaginação criativamente, ou
melhor, trabalhá-la em prol da superação. O
grande segredo cósmico reside, de fato, no uso
producente dessa imaginação.

Quando Einstein diz que "a imaginação é mais


importante do que o conhecimento", ele incorre
num acerto e num equívoco. O acerto é que
realmente a imaginação é uma das faculdades
mais importantes do ser humano, apesar de
imensamente vilipendiada, olvidada e, inclusive,
trabalhada num sentido de auto-sabotagem. O
equívoco de Einstein é que, ao contrário, o
conhecimento é mais importante do que a
imaginação.

O ser humano deve construir o seu


conhecimento com afinco. Com conhecimento,
sim, ele pode usar a imaginação criativa, de
forma benigna ao próprio ser, não apenas no
cotidiano, enriquecendo-o, como também
magicamente, através de rituais.

A grande resposta da imaginação é que ela pode


transformar a sua vida. O que a pessoa imagina
repetida e convictamente transforma o senso de
realidade, afinal o ser humano é um projetor por

56
excelência, ele recria a si mesmo e ao próprio
cosmos.

33 – Luta é a lei da vida

A maioria das pessoas investe totalmente seu


tempo e seus recursos na busca da conforto. Na
realidade, parece que o conforto é a meta
máxima de realização pessoal. Como um simples
exemplo, a pessoa trabalha a vida inteira na
grande esperança de se aposentar e não fazer
mais nada, a não ser descansar.

No entanto, 90% das pessoas que se aposentam


vêm a falecer no período de 5 anos. Pesquisando
o assunto, minha teoria é que, após ter lutado a
vida inteira, num dado momento simplesmente
cessou a luta e, sem esse estímulo, o organismo
veio a fenecer.

A luta é a lei da vida.

Afirmo que não é o conforto que traz felicidade,


e sim a luta. Sabe aqueles problemas de
palavras-cruzadas que todos adoram? Eles são
estímulos constantes de superação em dose
diminuta. Os problemas reais da vida são
estímulos de superação em dose muito maior,
então por que simplesmente fugir deles ou alijá-
los a segundo plano? A felicidade vem ao se
defrontar corajosamente com as dificuldades,
ainda que não sejam vencidas. O compromisso

57
com as dificuldades, a luta em si, é que traz
felicidade.

Steve Chandler explica algo importante: "O


proprietário reinventa sua personalidade de
modo a manter um compromisso. A vítima
quebra um compromisso de modo a manter sua
personalidade." No entanto, a personalidade não
passa de uma coleção de hábitos enraizados.
Pode-se mesmo dizer que a personalidade é
formada pelas máscaras que usamos no
cotidiano assumindo os papéis de parente,
empregado (ou patrão), cidadão e muitos outros.
Um dos papéis é justamente o de vítima, contra
o qual o Satanismo luta arduamente. É
necessário que o ser humano cambie
constantemente sua personalidade.

Para sair desse enfoque de vítima, é preciso


aceitar a luta como lei da vida, por mais árdua
ou dolorosa que essa idéia possa parecer. Encare
a luta sobre o mesmo prisma dos problemas de
palavras-cruzadas.

A garra realmente pode ajudar. Certa vez, assisti


a um vídeo de uns 15 minutos, na Groelândia
(se não em engano) sobre um coelho e uma
onça. A onça fez o que pôde para capturar o
coelho. Quando chegava próximo o suficiente, o
coelho rolava de um lado para outro na neve, e
burlava a onça. Ao final, observa-se o coelho se
distanciando da onça, que, já cansada, ficou sem
jantar nesse inverno.

58
A própria natureza fez do ciclo de vida uma
imensa cadeia alimentar, onde, novamente, luta
é a lei da vida.

34 – O leão e o cordeiro

Existem algumas diferenças entre o leão e o


cordeiro, semanticamente considerado. A
primeira é que o leão busca sua realização
através do estado meditativo de solitude,
enquanto o cordeiro se compraz em buscar
proteção e aconchego no rebanho.

Nesse sentido, o leão percebeu que a


personalidade, por mais útil que seja, não pode
ser a meta de uma realização pessoal, e sim a
individualidade. Qual a diferença entre ambas? A
personalidade assenta-se nas mil e uma
máscaras, "persona", com que o ser humano
reveste-se no dia-a-dia; a individualidade
assenta-se na busca da essência, do estilo, da
"assinatura" do próprio ser, e exala o doce sabor
do Self.

Esta segunda diferença é importante, porque a


pessoa nunca vai aflorar sua individualidade no
meio do rebanho, pelo contrário, o rebanho
castra e poda a natureza intrínseca do homem,
porque - conforme assere Osho - "A sociedade
quer escravos, não pessoas que sejam
absolutamente dedicadas à liberdade. A

59
sociedade quer escravos porque os interesses
estabelecidos querem obediência.”

Tais interesses são justamente os da moral, os


da religião e os da política e os da mídia.

Uma terceira diferença entre o leão e o cordeiro


é que, levando em conta o aspecto dual e
ilusório de tal terminologia, o leão é sempre
otimista, porque aprendeu a crer em si mesmo,
possui autoconfiança, enquanto o cordeiro é
sempre pessimista, porque deposita sua
confiança na sociedade. Quem confia
primacialmente na sociedade acaba
descambando para o outro extremo.

Finalmente, o leão é sensível, enquanto o


cordeiro é sentimental. A distinção entre
sensibilidade e sentimentalismo assenta-se na
consciência. A sociedade, através de sua mídia,
privilegia o sentimentalismo, de modo a
escravizar o ser humano através do medo, da
vergonha e da culpa. A sensibilidade, ao invés,
libera o ser humano de todas as mazelas
emocionais.

35 – O segredo do riso

O caro leitor pode fazer uma simples


experiência... Entre num templo cristão,
muçulmano, judaico, espírita, budista,
QUALQUER UM, e solte uma gargalhada. Todos

60
os crentes o olharão com imensa reprovação,
porque você estará desrespeitando o templo
deles.

No entanto, eu questiono, que Deus é esse, que


religião é essa, que abomina o riso?

O riso é visto como ofensivo por uma simples e


espantosa razão: O riso é o maior símbolo de
liberdade humana e o maior sintoma de saúde
psíquica. Aliás, na maioria das vezes, ambos
estão interligados. Uma pessoa completamente
feliz, ainda que sofra de alguma doença, está
nesse momento vencendo qualquer mazela física
e comungando com a superação humana.

Uma pessoa completamente livre e feliz não


pode se tornar escrava de nenhuma religião. Ele
venceu todos os dogmas, não dá suporte a
tradições vergastadas pelo tempo.

Por esta mesma razão, escolas de mão


esquerda, como Satanismo, Thelema e Caos
Magick dão uma importância enorme ao riso. Ao
invés das demais, elas vêem o riso como um
ótimo banimento de perniciosidades. Dificilmente
alguma carga nefasta atingirá, por exemplo,
quem está assistindo a um show de humor.

A pessoa que cultua o riso e o prazer é chamada


de hedonista. O satanista é, em linhas simples,
um hedonista e, ainda quando dá uma parcela
de compreensão ao que os maniqueístas
chamam de "mal", ele procura absorver esse
"mal" em um "bem".

61
Somente o próprio ser poderá definir os
parâmetros com que concebe sua própria
felicidade.

36 – Perguntas plurívocas

Uma pergunta é plurívoca quando pode haver


várias abordagens, ou seja, quando várias
respostas fazem parte de um mesmo conjunto.
Tais respostas podem ser analisadas e
superadas, mesmo sem uma conclusão definitiva
sobre o tema. No estudo do Satanismo, pude
perscrutar que determinados questionamentos,
mesmo sem uma resposta precisa, podem
conduzir a respostas que, num conjunto de
visão, superam-se ao se assumir determinada
postura. Citarei os dois maiores exemplos, que
são a MORTE e SATAN.

Na questão da morte, eterno tema de debate nas


listas satânicas, formulei um parecer que tanto
faz haver ou não vida após a morte. Já citei esse
exemplo como koan, mas vale à pena
aprofundá-lo. Se não houver vida após a morte,
não há problema algum, porque não haverá
alguém para reclamar. Se houver vida após a
morte, não há problema algum, porque o ser
continuará a sua jornada em algum determinado
delta tempo e delta espaço. Assim, seja qual for
a possibilidade, a conclusão é a mesma: Não há
problema algum.

62
Portanto, mesmo não havendo uma resposta
conclusiva, o próprio questionamento é
superado.

Esse tipo de reflexão é importante e não deve


levar o ser humano a um estado de inanição em
sua pesquisa. Claro que ele deve sempre buscar
a verdade. O que não deve é se preocupar
excessivamente com algo que não haja uma
resposta conclusiva no momento do seu
questionamento.

A outra questão, embate entre os satanistas


laveyanos e os satanistas tradicionais, reside
justamente na ontologia de Satan. Afinal o que é
Satan? Uma deidade, uma energia negra da
natureza, um mito, um símbolo, um arquétipo?
Seja qual for a conclusão, o mais importante não
é o que Ele é, mas o vínculo que o satanista
possui com ele.

Se o satanista busca se tornar Satan, essa


paixão profunda (que não se confunde com
adoração submissiva, como acontece no tronco
abraâmico em relação ao seu Deus
antropomorfizado), então o próprio elo de
ligação transforma-se em gnose, e o buscador
pode adentrar o portal do conhecimento mais
profundo. É empirismo puro.

Assim, podemos observar uma nova classe de


perguntas que somente pode ser resolvida
através de uma síntese num plano superior de
cognição. Em miúdos, mesmo a pergunta
admitindo uma variedade de respostas, há uma

63
conciliação num patamar mais elevado, capaz de
levar o ser humano à mais completa realização.

37 – Saber é poder

Quando se ouve a frase "querer é poder", cria-se


uma ilusão com base na esperança, na crença.
Para atenuá-la dizem que não basta querer, é
necessário lutar para que o objeto do desejo
aconteça. Há uma certa dose de ingenuidade
nessa idéia.

Se eu quiser pilotar um avião, por mais que eu


"queira" ou que eu "lute" para conseguir essa
façanha, nada mais provocaria do que risos,
porque ele nem sequer levantaria do chão. A
razão pura e simples é que eu não possuo o
conhecimento necessário para tal. A verdade é
que a fórmula "querer é poder", por mais dose
de boa-vontade que o crente possua, é
totalmente falsa.

A real fórmula é "saber é poder". Se eu possuo o


conhecimento acerca da pilotagem de um avião,
certamente poderei empreender uma viagem
com ele, sem muito esforço de minha parte. O
real poder está no conhecimento.

O conhecimento liberta o ser humano dos seus


problemas cotidianos, a partir do momento em
que a pessoa aprende como resolvê-los, sem dar
ouvidos ao entreguismo. Até mesmo as mazelas

64
emocionais, tão costumeiras na sociedade
hodierna, são passíveis de serem resolvidas pelo
conhecimento. O autoconhecimento.

Conhecer a si mesmo é a base de todo


conhecimento, mas quem faz um inventário
"honesto" de Si-mesmo? Quem busca conhecer a
real faceta do seu ser? O autoconhecimento é
sempre doloroso, porque o confronto total
consigo mesmo envolve "partes desagradáveis",
alijadas ao inconsciente. Trazê-las à luz não é
muito fácil, mas sempre necessário. A dor
também liberta.

38 – Seja você mesmo?

Algumas fórmulas vêm sendo consolidadas pelas


centúrias, uma delas é "seja você mesmo!". Para
se ter uma idéia, acabo de fazer uma busca na
página do Google e deu nada mais, nada menos,
do que 11.900.000 resultados para essa
pesquisa.

A questão é que, se você buscar sempre ser


você mesmo, tornar-se-á extremamente
enrijecido. O que alimenta e torna vivo o ser
humano é a possibilidade de mudança. O ser
humano é um animal extremamente adaptável.
A própria personalidade muda constantemente
para fazer face a novos desafios.

65
No entanto, essa fórmula pútrida, arcaica e
vergastada pelo tempo vem sendo mantida e
consolidada, frenando por completo a
individualidade. Essa fórmula despeja todo o
potencial humano no esgoto da auto-ilusão. Essa
fórmula se torna o muro de bloqueio entre o que
o ser É e o que o ser PODE SER. Ela atenta de
forma vil contra o processo de superação
humana.

O ser humano precisa se conhecer para se


superar, não para se manter numa posição
eternamente confortável, mas para buscar novas
soluções, novos rumos, novas lutas em face da
vida. Sim, o ego doente deseja se enrijecer, se
tornar uma pedra. O ego sadio torna-se um
servidor do Self, do Si-mesmo, e aceita ser fluido
como a água, adaptando-se a constante
mudança, a mudança constante, como assere
Lao Tzu.

39 - Cobaia Humana

Estava lendo acerca das experiências dos


laboratórios com os animais e uma idéia me
chamou bastante a atenção. Trata-se do fato de
que o corpo de um rato, sendo diferente do de
um humano, jamais as experiências serão
exatas. Assim, o animal poderia ser poupado.

66
A pergunta que subsiste é: Quem seria a real
cobaia de laboratório, apta a dar um resultado
com bastante precisão? A resposta é
brutalmente simples: O próprio ser humano.

É óbvio que esta assertiva pode levantar


clamores histéricos por parte da religião, da
moral e da política, no entanto há razões
veementes para tal.

Duas espécies de seres humanos poderiam


perfeitamente servir de cobaia. Os próprios
doentes e os presidiários.

Em se tratando dos próprios doentes, eles


poderiam vir a ter, através do experimento, uma
chance real de cura, que, em qualquer outra
hipótese, não teriam. Portanto, não deveria
haver problema ético algum.

Quanto aos presidiários, principalmente nos


países em que existe pena de morte, poderia dar
uma chance de comutar ou atenuar a pena, em
troca de um real benefício à sociedade.

Em ambas as hipóteses, havendo a concordância


do enfermo ou do preso, não há porque negar
algo que seria extremamente útil à sociedade.
Assim, fica a idéia dessa alternativa à cobaia
animal, que não resolve integralmente os
problemas decorrentes dos testes científicos e
não dá opção de escolha alguma ao nosso amigo
animal.

67
Preciso reconhecer que os grandes laboratórios
ficarão imensamente satisfeitos com a minha
idéia.

40 - 2 = 1

A unidade se multiplica na diversidade. Esse é


um dos sentidos do universo, uno no verso, uno
no dual, assim só podemos vislumbrar a
realidade a partir do número 2, por formar os
opostos, o tei gi taoísta, que reúne os contrários
no todo.

Não é que o ternário seja olvidado, a questão é


que, normalmente, o três já deriva do dois,
depois viria o quatro e sucessivamente.
Portanto, por uma questão de reducionismo ou
caráter minimalista, iremos trabalhar com o dois.

Exemplo. Quando se fala da tese, antítese e


síntese, seriam três, não? No meu entender
seriam dois, do trabalho de tese e
antítese surgiria algo distinto, que ANTES não
estava lá. Em outras palavras, a síntese foi
parida de um par anteriormente existente (com

68
o perdão do eco). Essa síntese pode se converter
numa nova tese, depois advirá uma nova
antítese, para finalmente gerar nova síntese.
Uma cadeia contínua e ininterrupta.

A fórmula 2 = 1 é importante, entre outras


razões, para combate ao maniqueísmo
zoroatrista, que se derramou nas religiões
abraâmicas. O que fizeram essas religiões? Elas
opuseram ferrenhamente os opostos. Assim, o
bom se contrapõe ao mau, o bonito se contrapõe
ao feio, o alto se contrapõe ao baixo, e assim por
diante. No entanto, reflita sobre o seguinte:
Quem está à direita do palco acha-se à esquerda
da platéia, e vice-versa.

O Satanismo, ao invés de simplesmente


contrapor os opostos, indaga se é possível
trabalhar com ambos em conjunto. Essa idéia
não é originária do Satanismo Moderno, já
existia no Taoísmo, mas pode muito bem ser
recepcionada pelo Satanismo, uma vez que
TUDO PODE SER ÚTIL. Portanto, em vez do
maniqueísmo, o Satanismo adota a
ambivalência, recepcionando ambos os opostos,
ao invés da doentia fixação numa única
polaridade.

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Algo é bom ou ruim? Se eu colocar algo ruim
para trabalhar ao meu favor não se converte em
algo bom? Se eu colocar algo bom para trabalhar
contra mim não se converte em algo ruim?
Notou como tudo é subjetivo e relativo? Por
conseguinte, o ideal é sempre colocar tudo a seu
favor. Isto também é uma questão de estratégia.

E a nossa fórmula? O número dois também é


uma chave para a unidade. Um exemplo que dei
nas listas de discussão, a seguir. A pessoa diz
que está aprendendo outro idioma: "Look, my
friend, I know to speak two languages". No
entanto, eu questiono: O aparelho fonador não é
o mesmo? Faz alguma diferença chamar o lugar
onde resido de casa ou de home? As construções
frasais são apenas regras.

Se parece fazer pouca diferença essa idéia,


imagine que, a partir do momento em que você
considera casa e home sinônimos, passa a ser
muito mais fácil pensar noutro idioma. Ou
melhor, não há dois idiomas, e sim uma só
língua, malgrado se denominem várias no
planeta, como uma Torre de Babel. Em miúdos,
a divisão entre centenas de idiomas é apenas
didática.

70
Do mesmo modo, a dualidade aparente torna-se
ilusória, entrementes é necessário o labor com
os opostos, pois vive-se em Maya. Desse
conhecimento, a fórmula 2 = 1 passa a ser útil e
importante. A conciliação dos opostos deixa de
ser um paradoxo e se torna plena realidade.

No exemplo humano, o ego versus a sombra


sempre esteve num combate mortal. A partir do
momento em que se tornam aliados o ser
humano começa a desvelar o Self, que é a
totalidade ou, se preferir, a unicidade do próprio
ser. Holístico e integral. 2 = 1.

41 – O bastão e o tambor

No Xamanismo, o uso do bastão e do tambor


pode ser comparado aos números binários 1 e 0,
ou seja, presença de eletricidade e ausência de
eletricidade, positivo e negativo, yang e ying.
Assim, o som só surge quando se une o bastão e
o tambor. Os chamados opostos trabalham em
comunhão.

No Satanismo, eis novamente a ambivalência. O


Satanismo apóia a ambivalência, uma vez que
permite trabalhar com ambas as polaridades.

71
Assim como a eletricidade não funcionaria se os
elétrons fossem descartados, também a fixação
doentia num só pólo, defendida pelo
maniqueísmo, só serve para fracionar a energia
do ser humano. Retire o bastão ou retire o
tambor, retire apenas um deles, e não haverá
nenhum som.

De idêntico modo, o ser humano precisa


auscultar o seu animus ou anima, lado masculino
ou lado feminino, a despeito do gênero
predominante, buscar o seu oposto de modo a
atingir o ser integral. Quem afirma que o homem
é uma metade, ou que a mulher é uma metade,
não percebeu ainda que a polarização num bicho
homem ou num bicho mulher faz parte do
próprio processo de Maya. A polarização carnal
oculta e desvela ao mesmo tempo a natureza
intrínseca da androginia.

A batida do bastão no tambor também se refere


ao maithuna, o ato sexual por excelência. O
amor profundo entre o homem e a mulher é um
amálgama entre dois seres, um som cósmico
permeando o universo. Existem diversas
equações envolvidas, mas salta logo aos olhos a
fórmula 2 = 1, que é a mesma fórmula embutida
na ambivalência, fazendo de dois pólos
aparentemente diversos um único processo.

72
42 - Representação da Realidade

O estudo da realidade vem provocando debates


há milênios, seria algo como a parte querendo
entender o Todo, no entanto algo pode e deve
ser feito. O nosso sistema corpo-mente,
denominado psicossomático, nada mais é do que
um filtro do que se denomina realidade. Assim,
queiramos ou não, trabalhamos sempre com a
representação da realidade, e não com a
realidade em si.

Em miúdos, o nosso corpo é uma máquina de


captar a realidade. Somente é possível
perscrutar o real a partir desse sistema de que
dispomos, assim qualquer representação será
imperfeita, ou melhor, incompleta. Por causa
disso, existe a mente, cuja função é fornecer a
maior proximidade possível com o real.

Obviamente, os nossos sentidos são limitados.


Um cachorro pode perceber a chegada do dono
ao domicílio bem antes de qualquer outro
morador, por ter um sistema de audição e olfato
bem mais apurados do que o bicho homem. O
ser humano, no entanto, desenvolveu melhor a
inteligência.

Na percepção da realidade, há inúmeras ilusões,


o que comprova a falibilidade dos nossos
sentidos. Eis alguns exemplos:

• O planeta parece parado, no entanto gira a


uma velocidade espantosa.

73
• O planeta parece plano, no entanto é
redondo.
• O céu parece azul, mas é negro. O universo
inteiro é negro.
• Um galho reto parece quebrado dentro
d’água.
• Uma casa parece mover-se, quando a pessoa
está num carro em movimento.

Apesar de essas ilusões serem mais simples, a


questão da representação da realidade depende
de apenas cinco sentidos. Se tivéssemos outros
sentidos, a representação seria totalmente
diversa. Não significa que fosse melhor ou pior,
apenas que seria diferente. Entrar em cunho
valorativo também é uma ilusão, principalmente
devido ao fator de compensação.

Um cego não dispõe do sentido precioso da


visão, mas possui o tato e a audição muito mais
desenvolvidos e/ou aflorados,
exemplificativamente pode perceber mais
facilmente o estado emocional de outra pessoa.
Assim, há uma compensação.

Em relação ao nosso cérebro, se fosse captar


todo o campo informacional que chega,
simplesmente ficaríamos loucos, portanto o
cérebro, dentro dessa miríade de informações, o
cérebro seleciona as que realmente são
importantes para a pessoa.

74
Esta é a razão por que, quando ocorre um
determinado fato, várias testemunhas podem
fornecer relatos completamente diferentes do
mesmo. A percepção de cada uma é totalmente
peculiar. Entra muito de relativismo e
subjetivismo no processo.

Do mesmo modo, a própria mente sempre


possuiu como modelo a base mais adiantada da
ciência humana. À época do mecanicismo
incipiente, a mente era associada a uma
engrenagem perfeita. Com o advento de Edison,
a mente passou a ser vista como um circuito
elétrico por excelência. Agora, com a era da
informática, a mente toma por modelo o
computador. Destarte, fala-se em programar a
mente humana, como se fosse um software e o
cérebro fosse o hardware.

Conhecer integralmente a realidade é uma tarefa


impossível, ao menos no estágio atual da nossa
evolução. Nesse sentido, Darwin dizia que “o
engano é a arte da natureza”, enquanto
Heráclito afirmava que “a natureza ama se
esconder”. Fica o questionamento: Será possível
um dia o ser humano perscrutar inteiramente o
real?

O primeiro passo para a representação o mais


acurada possível da realidade é justamente
eliminar por completo os entraves psíquicos,
proporcionados pelos nefastos padrões do
passado.

75
Deste modo, é possível melhorar cada vez mais
a representação do real. Esse é o maior desafio
do bicho homem. Esse é o maior desafio do
bicho homem, pois, enquanto a natureza deu
garras e dentes afiados às feras, deu a
inteligência mais desenvolvida à espécie
humana.

Ou ao menos tentou.

43 - Vadoma

76
Eu possuía essa reportagem da revista National
Geographic ou Planeta, nos idos dos anos 90,
mas, com algumas arrumações aqui em casa,
meus parentes jogaram fora as minhas revistas
e ainda me chamaram de “tralhento”. Confesso
que fiquei muito puto da vida, porque essa
revista era uma das minhas preferidas. Você já
notou algo diferente na foto acima?

Os Vadoma ou Wadoma, conhecidos como o


“povo avestruz”, vivem ao oeste de Zimbabwe,
nos distritos de Urungwe e Sipolilo, no vale do
rio Zambezi. Guarde bem essa informação, pois
eu levei dois meses pesquisando na web, para
reaver esse tema. Eu nunca desisto de um
objetivo e meu esforço foi finalmente
recompensado.

Para ficar mais interessante ainda, os Vadoma


falam chikunda (português) e korekore.

O debate é se o formato dos pés origina-se de


uma aberração ou adaptação. Pessoalmente, me
inclino para a especiação, que é uma forma de
adaptação. De todo modo, é inegável que se
trata de uma mutação genética, mais
precisamente a mutação do cromossomo número
sete. Os membros da tribo possuem o formato
de avestruz nos pés, com apenas dois dedos.

Essa mutação permite, por exemplo, uma


melhor escalada de árvores, por parte dos
nativos dessa tribo.

77
A verdade é que está saindo o maior zaralho
entre os biólogos para explicar isso. A
importância desse tema justamente reside na
controvérsia Criacionismo x Seleção Natural.
Quem você acha que está vencendo o debate?

Se quiser assistir a um vídeo das pessoas da


tribo, vá ao You Tube e digite “vadoma”, está
logo no início lhe aguardando: Vadoma Tribe –
The Ostrich People of Zimbabwe.

44 - Amor incondicional, a suprema aberração

Amor incondicional é a MAIOR aberração que as


religiões divinas já criaram na face da terra. O
que significa o amor incondicional? Significa a
pessoa amar do mesmo modo o seu filho e o
assassino do seu filho, por exemplo.

É um erro muito comum achar que o amor, por


ser uma lei cósmica, é a suprema lei. Essa idéia
tem sido aceita e defendida pelas religiões
“divinas”, sem que houvesse um mínimo de
ponderação e questionamento a esse respeito.

Como participei de várias listas de discussão,


tenho observado um afligir de ânimos e um
completo destempero a esse respeito. Parece
que, à primeira contestação, o mundo inteiro
vem abaixo. A pessoa investe muito em

78
determinadas idéias, por terem uma aura de
santidade, no entanto, por detrás da moita
esconde-se uma verdadeira víbora.

A fórmula estulta “amar a todos como a si


mesmo” é muito anterior ao Cristianismo, vem,
se eu estiver correto, dos Vedas, há 1500 anos
antes da era comum. Primeiro, por que o amor
não é a suprema lei?

Para entrar nessa seara, precisamos verificar


qual é a suprema lei. Eu questiono: Qual é a lei
que permite a livre expressão das estrelas no
Cosmos? Qual é a lei que permite que o homem
escolha uma mulher que ama (e vice-versa) e
comunguem num ato intenso e sublime de
amor? Qual é a lei que permite que eu esteja
escrevendo essas linhas nesse exato momento?

A suprema lei é o LIVRE-ARBÍTRIO. A suprema


lei é o livre-arbítrio, porque permite que eu
selecione quem merece ou não a dádiva do meu
amor. Já imaginou, por exemplo, você fazer sexo
com uma pessoa que não sente a mínima
atração?

A própria fórmula thelêmica, “amor é a lei, amor


sob vontade”, ao mencionar o vocábulo
“vontade”, supõe um livre-arbítrio da pessoa,
sem o qual o amor nunca será fluido,
espontâneo e natural, e sim uma água
estagnada, doentia e mortífera.

79
Em outras palavras, é necessário que o amor se
subordine ao livre-arbítrio, afim de que a pessoa
selecione quem merece o seu amor, o seu
carinho, e quem merece o seu desprezo, o seu
ódio. Odiar um inimigo é tão salutar quanto
amar um ente querido. A própria natureza
sobrevive através desse paradigma. Na
natureza, você não encontra um búfalo
descansando ao lado de uma pantera. Apenas o
ser humano subverte esse processo para pura
manipulação dos mais espertos. O único intuito
de defender essa falácia de amor incondicional é
para uma completa auto-sabotagem do parvo.

Se a pessoa é obrigada a amar a todos como a


Si-mesmo, na realidade cria um padrão mental
altamente pútrido, um verdadeiro grilhão a
escravizar a vítima. Pior do que isso, destrói uma
das maiores capacidades da mente, que é
justamente a capacidade seletiva.

45 - Teatro e Magia

Inicialmente, Bertold Brecht afirma que “todas as


artes contribuem para a maior de todas as artes,
que é a arte de viver”. Guimarães Rosa já dizia
também que “viver é aprender a viver”. Esse
pequeno estudo pretende relacionar a arte do
teatro e da magia. O que é comum a ambos?

80
O teatro é uma arte em que um ator interpreta
uma história, tendo por objetivo apresentar uma
situação e despertar um sentimento no público.
Notou que essa definição adapta-se à própria
dramatização do rito mágico? O que possui o
teatro e a magia a mais, em comum? A
intensificação emocional na própria pessoa, seja
um ator, seja um magista.

Segundo Noeli Karasek, discorrendo sobre o


ator, “Ele empresta suas experiências de vida e
sua memória emocional para criar o
personagem. Ele é ao mesmo tempo instrumento
e intérprete. Para tanto, é necessário que o ator
esteja em constante aperfeiçoamento. O fazer do
ator é “sui generis”, porque é feito com base em
outra criação. Não basta ter um corpo que saiba
andar e falar; é preciso saber “mentir” com
verdade através da criação e representação de
um personagem.”

Um ator vai incorporar uma cena de amor. Para


criar o clima do maior realismo possível, ele
pode se lembrar de um momento da própria vida
em que esteve imensamente envolvido com uma
amante. Ao transpor essa memória emocional
para o personagem, cria-se um elo, um vínculo,
a cena sai perfeita e convence o público.

Em miúdos, o ator cria o vínculo com o


personagem, preferivelmente associando uma
vivência passada, em que sentiu determinada
emoção com intensidade. Reparou que é

81
justamente essa carga emocional o grande
motor da magia, conforme LaVey mencionava?

Dando uma perscrutada na interação entre o


ator e o personagem, pode-se verificar a
tendência em o ator assimilar o próprio
personagem. Tal fato ocorre muitas vezes. Eis
alguns exemplos.

1. Mickey Rourke, que estrelou o filme Um


Rosto Sem Passado, faz um personagem com
rosto deformado e, depois, na vida real,
realmente fica deformado devido a uma
cirurgia plástica mal feita.

2. Fernando Ramos da Silva, que estrelou


Pivete a Lei do Mais Fraco, acabou se
tornando um bandido de verdade e morrendo
num tiroteio com a polícia.

3. Bela Lugosi, o astro do Drácula, passou os


seus últimos dias louco, dormindo num
caixão de defunto como se fosse o próprio
vampiro.

É verdade que esses casos acima são os mais


extremos. Assim, o uso inadequado da memória
emocional possui os seus perigos. Uma possível
solução seria, após o trabalho cênico, usar um
método catártico ou purgativo para quebrar
qualquer associação entre o personagem e o
ator, desvinculando aquele da vida real deste

82
último. Esta é a razão também pela qual após
um rito mágico intenso recomenda-se o uso do
ritual menor do pentagrama ou outro método de
banimento similar e/ou eficiente.

O reverso também é verdadeiro. O ator pode ter


real interesse em assimilar gradativamente o
próprio personagem. Explico melhor. Quem não
se interessaria, por exemplo, em assimilar o
padrão bilionário de um Aristóteles Onassis?
Percebeu que é bem diferente de uma mera
imitação?

Aqui cabe uma ressalva. A fórmula mosaica “seja


você mesmo” pode ser útil como ponto de
partida para o autoconhecimento, mas falta a
segunda fórmula “cambie você mesmo”, afim de
que se dê uma autêntica auto-superação. Caso
contrário, o ser humano se torna sedentarizado,
ao invés de fluido. Por conseguinte, o melhor
não é você querer ser aquilo que já é, mas sim
aquilo que você almeja ser. Isso nada mais é do
que um UPGRADE.

É óbvio que ninguém vai sair por aí meramente


imitando os outros, porque perderia o sentido da
originalidade e naturalidade, mas o sentido do
pecado da inveja é justamente esse mesmo,
você imitar o que há de melhor nas outras
pessoas ou, antes ainda, querer o melhor para
si. Destarte, no exemplo acima, o seu objetivo
real é captar, nesse caso, as mesmas posses
para Si.

83
Agora, transporte tudo isso para a Magia
Manipulativa. Se a pessoa, exemplificativamente,
agir como um ator interpretando um
personagem bilionário não poderia estar atraindo
essa imensa riqueza para Si? Por que não usar
esse tipo de técnica exclusivamente em seu
benefício?

Assim, guardadas as devidas proporções, abre-


se também um portal para a consecução do
objetivo, que é a plena satisfação da vontade do
magista. Como o teatro trabalha com memória
emocional, vale então repetir mais uma vez o
ensinamento de LaVey de que o motor da magia
reside justamente na “intensificação das
emoções”.

46 - Desejo e Vontade

O Satanismo Laveyano defende a plena


satisfação do ego, postura que eu também
adoto, mas com determinadas ressalvas. O ego
para se tornar plenamente satisfeito deve se
transformar num servidor do Self. O que significa
isso?

Se você vai comprar um carro, adquirir o carro é


um desejo, dirigi-lo é vontade. O desejo opera
em nível de ego; vontade opera em nível de Self.
É importante essa distinção, porque o ego é uma
projeção do Self nesse plano dual. Assim, é

84
muito mais importante se reconectar com o Self,
ou seja, restabelecer o eixo ego-Self.

Portanto, a verdadeira satisfação do ego não


ocorre com a busca desenfreada pela realização
dos desejos, mas com enfoque na realização do
Self. Realizando o Self, o ego também se realiza.

Em Thelema, busca-se a consecução sagrada da


“verdadeira vontade”, o que só é possível
perscrutando a divinitude do Self no interior do
ser humano. Como Thelema e Satanismo são
doutrinas co-irmãs, a fórmula de que “o homem
é um deus”, como potencialidade, exercita-se
pela livre expressão do ser humano.

Assim, o ponto focal de qualquer busca resume-


se na busca pelo autoconhecimento e auto-
superação. Nesse sentido, não importa a religião
ou doutrina que a pessoa estuda, se não houver
tal objetivo, tudo se recai no vazio.

47 - Design Inteligente?

Os criacionistas usam a noção de uma entidade


inteligente para explicar a série de eventos,
como a origem do universo, a criação de vida na
Terra e outras questões semelhantes. Se
realmente os criacionistas estivessem corretos, o
projeto teria sido perfeito.

85
No entanto esse projeto é imperfeito.

Em primeiro lugar, basta dar uma perscrutada


no reino animal e pode-se verificar que está
dividido entre devoradores e devorados. Se o
projeto realmente fosse perfeito, todos os
animais poderiam se alimentar exclusivamente
de matéria não-viva, como algum mineral. Que
interesse poderia ter um projetista em criar
seres para se destruírem uns aos outros?

Em segundo lugar, a evolução da espécie até


chegar ao que conhecemos como homo sapiens
não obedeceu a nenhum critério lógico ou
racional, na realidade a evolução foi totalmente
cega, fruto de inúmeras competições
moleculares totalmente desordenadas. Aliás, as
cadeias de DNA estão abarrotadas de lixo inútil.

Em terceiro lugar, o próprio planeta Terra é


composto por imensos desertos e áreas gélidas
e, para piorar, anda numa corda bamba
climática. Em qualquer momento, esse planeta
pode se tornar definitivamente inabitável.

Em quarto lugar, há uma variedade imensa de


animais completamente inúteis na natureza,
apenas para citar o caso dos vírus e insetos, que
qualquer projetista inteligente imediatamente
descartaria.

Citando Christopher Hitchens, que, “por outro


lado, o criacionismo, ou ‘projeto inteligente’ (não
passa de esperteza essa tentativa de rebatizar a

86
si mesmo), não é sequer uma teoria. Em toda a
sua propaganda bem financiada, ela nunca
sequer tentou mostrar como uma única peça do
mundo natural seria mais bem explicada pelo
‘projeto’ do que pela competição evolucionária.”

A seleção natural realmente é mais inteligente


do que os seres humanos, mas essa concessão
não referenda a idéia estulta de um design
inteligente. Na verdade, o design inteligente
possuiu o aspecto arrogante e prepotente de
embutir uma decisão religiosa influenciando a
própria educação, retirando parte da matéria de
Biologia, referente a Charles Darwin, de alguns
currículos escolares estadunidenses.

48 - Elegia da Loucura

A questão da loucura na sociedade tem sido


alijada para debaixo do tapete. Até
recentemente, os loucos eram mantidos isolados
nos manicômios, atualmente o encargo está
sendo devolvido para a família. Como possuo um
parente enfermo mental na minha família,
gostaria de tecer um parecer exclusivamente
pessoal sobre o assunto.

Em primeiro lugar, é óbvio que o Estado não


quer mais se encarregar com os altos custos da
manutenção dos loucos nas dependências das

87
instituições de tratamento mental. Assim, com a
retórica de que o louco estará melhor integrado
à família, o devolve à sua origem. Trata-se da
pior postura possível, vou explicar o porquê.

Um louco vivendo no seio da família nada mais


faz do que sucateá-la, principalmente se se
tratar de uma família com poucos parentes, não
numerosa, pois irá sobrecarregá-la
imensamente. Por que? Porque o louco demanda
atenção e cuidado contínuo. O louco não deixa
ninguém sossegado.

Por outro lado, a família não possui técnica


especializada para lidar com esse tipo de
situação e, mesmo sob orientação psiquiátrica
constante, não vai agüentar infindamente os
distúrbios insanos do doente. Conseqüência
final: a própria família estará doente, mais cedo
ou mais tarde. Na minha família, o parente que
cuidava do louco sobrecarregou o próprio
organismo e veio a falecer poucos anos depois,
em conseqüência de uma doença fatal adquirida
pelo imenso estresse.

Essa é a situação normal.

Numa instituição adequada, “divide-se a bola”,


com a licença da expressão. Os parentes podem
visitar o louco periodicamente, sem causar
maiores transtornos e distúrbios para a própria
família. Essa situação é quase-ideal. Não existe,
ainda, uma solução perfeita para esse tipo de

88
problema, mas vamos aprendendo com o estudo
e a experiência.

Agora que expressei a minha opinião, vou


vinculá-la ao Satanismo.

No estudo do Satanismo, fala-se da Sombra, que


é a parte negada da nossa personalidade,
represada no inconsciente, em prol de um ego
ideal. É importante o estudo da Sombra, sem o
qual carece qualquer abordagem sobre o
autoconhecimento. Sem adentrar nos meandros
teóricos, a Sombra é a grande chave para o
autoconhecimento e a auto-superação.
Pessoalmente, já tive várias experiências
transformadoras com esse tipo de trabalho.

O louco nada mais é do que a Sombra familiar


por excelência. Numa família bem estruturada,
consciente e numerosa, com meios de manter
adequadamente o louco em seu convívio, ele
pode ser de extrema utilidade. Por um lado, o
enfermo ganhará o afeto, a companhia e o
cuidado familiar. Por outro lado, a família
aprenderá com o louco. O louco desvela tudo
que foi reprimido, desfalcado, enviado para
debaixo do tapete do núcleo familiar. Assim, é
uma real possibilidade de crescimento para
todos, ainda que seja uma via difícil e árdua.
Enfatize-se de que não é o caso da quase
totalidade dos grupos familiares. Assim, a
postura do Estado está eivada de erronia.

89
Como o Satanismo também é uma via que
endossa o egoísmo, então manter o louco dentro
de uma residência não é proposta nem
endossada pela doutrina, mas apenas oferece
mais um método de superação, caso seja do
desejo dos parentes procederem dessa forma.
Não se olvide, o Satanismo é sempre a religião
do EU.

No meu caso, outros fatores interagem, então eu


divido a bola, de modo a manter também a
saúde do restante da minha família. Um outro
parente bem próximo teve pressão alta, tipo 20
por 10, sem nenhuma razão aparente, ao lidar
com o doente. Assim, tive de buscar um meio
alternativo. O doente passa alguns dias numa
instituição, e outros dias sob nossos cuidados.
Manteve-se, assim, a estabilidade da minha
família e continuamos a dar amor e cuidado ao
doente, além de contar com o excelente apoio de
uma instituição adequada.

Do mesmo modo, busco também estudar esse


tema de perto. A loucura é um tema fascinante.
Nas sociedades orientais, valoriza-se o louco,
porque ele está numa freqüência diferente da
usual. Explico melhor. Se o “universo humano”
estivesse sintonizado na freqüência de uma
rádio, a loucura estaria noutra freqüência, assim
muito pode ser aprendido. Trata-se de algo como
um toque além da faixa usual de cognição.

90
Em miúdos, o louco adentra o lado desconhecido
do universo.

Muitos loucos são inteligentíssimos, inclusive o


meu parente. Aprendo com ele constantemente,
tenho muito amor, carinho e respeito por ele,
apesar de, às vezes, precisar impor alguns
limites, em prol da própria família. Não há
necessidade de ser agressivo com um louco, é
necessário conhecer um pouco de estratégia. O
uso de uma linha curva, ao invés de uma linha
reta, sempre dá excelentes resultados.

A fórmula é “contorne sempre”.

No meu caso, nunca “bato de frente”, e sim


contorno o problema. Quando a situação é
realmente difícil, eu aguardo pacientemente pela
idéia que sempre virá. O cosmos é psíquico,
existe um mar de idéias (igual ao ar que
respiramos) pululando por aí, a mente é apta a
captar qualquer tipo de idéia, basta ter paciência
e aguardar.

Por fim, a maioria dos núcleos familiares


simplesmente larga o enfermo numa instituição
PAGA, e esquece completamente dele. Essa é a
atitude mais pusilânime de todas.

Enfim, esse ensaio é uma espécie de purgação


ou catarse de um dos meus problemas-
aprendizado, assim fico satisfeito em poder
compartilhá-lo.

91
49 – O tal do exorcismo

O exorcismo, numa definição simples, nada mais


é do que o ritual utilizado por uma pessoa
autorizada, normalmente um clérigo
especializado, para expulsar demônios ou
espíritos malignos de determinada pessoa.

Em outras palavras, a suposta vítima estaria


possuída por determinado demônio, que gritaria
palavrões e palavras de blasfêmia contra o
sacerdote, além de falar outras línguas, como o
latim.

Mas... qual o perfil do suposto possuído?

João é uma pessoa depressiva, alcoólica, de mal


com a vida. Afundado no álcool começa a ouvir
vozes, daí passa a ser possuído. Beltrana é uma
moça tremendamente reprimida, vive
solitariamente, numa fazenda, em dado
momento descobre a existência de um amigo
imaginário e conversa com ele. Pouco tempo
depois, acha-se possuída.

Tais sintomas são fruto de tremenda repressão,


formando uma Sombra altamente doente. É algo
como se tivesse jogado muita lixo na sacola do
inconsciente, num dado momento desse uma
ventania e espalhasse poeira pelos quatro cantos
do aposento.

Michael Cuneo, sociólogo da Universidade


Fordhan, presenciou uma filmagem acerca de

92
um exorcismo “verdadeiro”, e verificou que o
grupo estava sugerindo o paciente como reagir,
e não viu nenhum indício de possessão
demoníaca.

No VI Congresso de Psicopatologia Fundamental,


ocorrido em 2002, conclui-se que “A medicina do
final do século XIX veio a positivar a histeria,
concedendo-lhe o estatuto de patologia, com
nosografia e tratamento específicos (CAZETO,
2001). Freud foi discípulo de Charcot em
Salpêtrière, sendo este um dos responsáveis
pela “dessacralização” da histeria ocorrida no
final do século XIX. Ele identifica nesta uma
síndrome clínica específica, digna de atenção,
tendo, inclusive, mostrado que os casos de
POSSESSÃO, as convulsões, estigmas,
anestesias, etc., eram inteiramente análogos às
síndromes de seus pacientes psiquiátricos.

Veja:
http://www.unicap.br/pathos/vicongresso/anais/
Co22.PDF

É de se questionar: Se você fosse o demônio o


que ganharia afligindo um ser humano?
Simplesmente nada! Essa história é conveniente
e cautelosamente mantida pelo clero cristão com
o escopo de manter as ovelhas dentro do seu
cercado.

Na verdade, a questão do exorcismo é muito


conveniente. O marido batia na mulher porque

93
estava possuído pelo Diabo. O filho que usava
drogas era por influência de Satan. O
masoquista que constantemente se machuca é
obra de um espírito maligno. Assim por diante.
A velha questão de delegar culpa ao demônio, ao
invés de buscar as causas em si mesmo.

Nesse sentido, LaVey, o fundador da Church of


Satan, dizia que “no interior do ser humano há
um demônio que precisa ser exercitado, e não
exorcizado”.

50 - Medo, o overclock natural

O medo é a resposta natural a um perigo real ou


imaginário. O medo é importante, porque
prepara o ser vivo para algo anormal. Se
fôssemos falar em "informatiquês", o medo seria
uma espécie de overclock.

O que é um overclock?

Overclock é um processo que possibilita o


computador rodar numa freqüência mais alta do
que a especificada pelo fabricante. É uma técnica
empregada de modo a otimizar a máquina,
efetuando-se certos ajustes. Obviamente, é um

94
processo que envolve o risco de queima de
alguns componentes e deve ser efetuado por
pessoas especializadas no assunto. Em linhas
bem simples, significa pôr o computador para
rodar acima da sua capacidade normal.

O medo é um overclock natural.

Exemplo. A pessoa vem pela floresta e surge um


leão à sua frente. O medo é instantâneo. O que
acontece? Através do medo, há um aumento de
adrenalina na corrente sangüínea, o que permite
a pessoa fugir ou lutar acima da sua capacidade
trivial. Se não houvesse o medo, a pessoa
estaria completamente indefesa diante do
perigo.

O medo artificial é diferente, ele induz à


completa paralisia, o que permite a escravidão
emocional da vítima. Assim, a pessoa precisa
não só aprender a elidir esse tipo de medo, como
também aprender a lidar com o medo natural.

Em ambos os casos, a chave está na observação


e aceitação do estado emocional, permitindo que
a pessoa interaja sadiamente com o medo.
Como ocorre?

95
Ao perscrutar o medo, vai se tornando cada vez
mais total no ser humano, o que induz a um
apavoramento gradual, cada vez maior, até que,
em dado momento, ele simplesmente some.
Chegando ao seu limite, simplesmente se rompe
como um balão estufado. Lembra a fórmula "os
extremos se tocam": o medo se converte em
coragem. Assim é o processo.

Resumindo, a pessoa, ao mudar o seu padrão, a


sua percepção, também muda o efeito.

Por outro lado, a tendência da maioria das


pessoas é justamente fugir do medo. A fuga
quase sempre segue a rota da inconsciência,
então é muito mais perigosa. Por que é muito
mais perigosa? Não apenar por ignorar ou evitar
deliberadamente o medo, que é algo natural,
mas também por investir energia maciça no
inconsciente, de onde se voltará contra o
incauto.

Nas pessoas inconscientes, o medo pode ser até


fatal. A sociedade induz a massa ao medo
perene. A razão é que, se a pessoa não possuir
alguns limites impostos pelo medo,
simplesmente vai fazer o que lhe der na telha.

96
É assim que se pensa normalmente, no entanto
as conseqüências têm sido justamente as
inversas, as mais nefastas imagináveis, porque
não é possível incentivar impunemente algo
desse teor. Oposto sempre chama oposto.

Diga-se de passagem, há também as pessoas


viciadas em medo, que estão justamente na
outra margem do rio. Esta é razão de existência,
por exemplo, dos esportes radicais.

O medo tem sido usado e abusado pela religião,


pela moral, pela política e pela mídia. O
Satanismo sempre defende um uso produtivo de
tudo aquilo que pode revitalizar o ser humano,
ainda que inicialmente considerado pernicioso. O
medo pode ser usado a seu favor, mas demanda
a mais completa consciência. Destarte, o medo -
por incrível que pareça! - pode se tornar
altamente liberalizante, com efeito contrário ao
desejado pelas camadas sociais, ou seja, o
mesmo efeito da selva, permitindo o ser humano
ir além de Si-mesmo, num overclock natural.

Entrementes, é necessário advertir que também


se trata de uma via de risco. A verdade é que as

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vias de risco confrontam o ser humano com o
melhor de Si. Então, fica por sua conta e risco.

51 - Desequilíbrio harmonioso

A vida é simplesmente uma corda bamba. Ela


parece justa e equilibrada, mas é baseada num
desequilíbrio harmonioso. O que é um
desequilíbrio harmonioso?

Imagine que você está caminhando pela rua. Já


parou para imaginar que, enquanto anda, os pés
vão sucessivamente saindo do chão? É através
desse desequilíbrio que você consegue caminhar.
No entanto, dentro desse desequilíbrio existe
harmonia, caso contrário você simplesmente
cairia no chão.

Outro exemplo. Você resolve estudar algo, como


literatura. À medida que estuda, inúmeras
dúvidas vão surgindo, entrementes são
justamente essas dúvidas que vão fazer você
refletir, pesquisar, questionar, ler livros, visitar
páginas na web etc., afim de que alcance uma

98
compreensão melhor sobre o assunto. Essas
dúvidas formam um desequilíbrio harmonioso.

A vida inteira é baseada nesse desequilíbrio


harmonioso ou, se preferir, numa longa corda
bamba, que sempre você terá de se ajustar e se
adaptar para lograr o merecido sucesso.

Sempre na contra-mão, a religião almeja criar


um equilíbrio perfeito. Trata-se de uma fraude. O
jardim macio e arrumado esconde algo logo
além. Atente para o fato de que o jardim está
cercado pela selva da pior espécie, uma selva
completamente perigosa. Você precisa aprender
a conviver com a realidade em si, e não com a
quimera fatal.

Aprender a viver na selva é aprender algo sobre


a realidade. Aprender a viver no jardim significa
afundar-se na mais completa utopia. Um pode
ser rude, mas é autêntico; o outro é suave, e
completamente mortífero.

99
52 - O Número Zero

Graças a Fibonacci que o número 0 (zero) foi


difundido no Ocidente, na Idade Média. Esse
número foi ignorado pelos romanos, pois eram
um povo imensamente prático e não havia
sentido em contar a "ausência de alguma coisa".
Usavam o termo “nullum” para referir-se à
ausência de quantidade.

Os únicos povos que trabalhavam com o número


zero eram os babilônios, hindus e maias.

Assim, graças a Fibonacci, que divulgou os


algarismos arábicos na Europa, o número zero
pôde ter seu lugar de destaque. Depois,
mostrou-se importante por causa dos números
inteiros, com a entrada dos números negativos,
e, ainda depois, com os números relativos.

Ainda sobre o zero, ele pode ser dividido por


qualquer número e sempre dará como resultado
zero. No entanto, nenhum número pode ser
dividido por zero, porque qualquer operação em
Matemática precisa ser unívoca, ou seja, ter um
e apenas um resultado.

Se dividir um número, por exemplo, 5 por 0, o


resultado será impossível, basta fazer a prova
real. Qual é o número que multiplicado por zero
daria em retorno 5? Nenhum. Se dividir 0 : 0, o
resultado agora será indeterminado, pois
qualquer número multiplicado por zero em
retorno dará zero, ou seja, mais de um
resultado.

100
Assim, ou não dá nenhum resultado ou dá todos
os resultados, contrariando a univocidade da
operação: um e apenas um.

Outro aspecto interessante do zero reside


justamente no fator transpessoal. O número 9,
representativo do ego, multiplicado por qualquer
número (menos o zero) sempre dará 9. O ego
sempre trará de retorno a si, a menos que
interaja com o zero, representativo do Self.
Exemplo: 9 X 3 = 27 = 2 + 7 = 9. O zero, em
qualquer multiplicação sempre dará a Si-mesmo,
o que não ocorre com o 9.

Portanto, é fácil observar, ao menos


numericamente, que o número 9 está a um
passo para o 0. O objetivo do ser humano é
justamente deixar de ser um 9 para se tornar
um 0.

O que não significa se transformar numa


nulidade - e sim se tornar totalmente integrado.

53 - Em Sintonia com Satan

Os satanistas riem daqueles que acreditam que o


satanismo é uma simples inversão do
cristianismo, onde no lugar de adorar ao
decadente Jeová se adora o Diabo. Antes disso,
melhor entendimento teria se comparasse Satan
a uma estação de rádio, seria necessário
estabelecer a freqüência para sintonizar nessa
rádio. Existe um modo muito fácil e muito

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simples para isso. Basta apenas tornar-se Si-
mesmo. Que diabo é isso?

Primeiramente, tornar-se Si-mesmo deveria ser


a tarefa mais espontânea, mais fácil e mais
natural que existe. No entanto, acontece
justamente o contrário. O ser humano se torna
robotizado, artificializado, não-espontâneo, em
prol de uma cultura perniciosa e doentia, que
desvaloriza completamente o EU.

Exemplo. Quantas vezes você não ficou tentado


a mandar o seu chefe para aquele lugar? Se você
agir naturalmente, poderá perder o emprego. Se
agir artificialmente, poderá perder o Eu. O que
fazer? Simplesmente, mantenha o seu emprego
e o seu eu. Fique com raiva, mas direcione a sua
energia de modo inteligente. Você não precisa
mandar o seu chefe para aquele lugar, mas
também não precisa se tornar um pastel.

Tenho observado que as pessoas de energia


forte sempre dominam a situação, mesmo em
momentos de aparente fraqueza, porque, não
apenas são naturais, como também não perdem
a consciência. Manter-se consciente é
fundamental, entre outros fatores, para não se
deixar levar por impulsos idiotas, nem se tornar
servil.

Completando o círculo, voltemos à sintonia da


rádio. Ser natural e manter-se consciente
significa sintonizar o arquétipo de Satan. Usei a
metáfora da rádio por ser a que mais assemelha
à situação. Nesse sentido, as crianças e os
animais são (ou quase) normalmente

102
sintonizados à rádio, como bem mencionou
LaVey ao afirmar que são "magos naturais".

Em nível cósmico, pode-se perscrutar o


arquétipo da submissão e subserviência estúpida
de um lado, e o arquétipo do hedonismo, da
consciência e da liberalidade do outro. Um leva à
profunda negação do Eu; o outro liberta o Eu. O
outro se torna Satan.

Prática: Algaravias para sintonia interna

A técnica da algaravia ou simplesmente


algaravias é uma das muitas formas possíveis
para não perder esta sintonia fina. Foi adaptada
da obra do indiano de Bhagwan Shree Rajneesh
no seu Livro Orange.

Isolado em um ambiente de escuridão profunda


permaneça alguns instantes em silêncio apenas
respirando profundamente até que a noção de
tempo perca o sentido. Então ainda olhos
fechados comece a fazer sons – as chamadas
algaravias. Estes sons não devem sofrer
qualquer censura em seu formato. Durante os
próximos quinze ou vinte minutos, mova-se
totalmente nessa algaravia. Permita tudo para
fora.

Bhagwan Shree Rajneesh demonstrou que a


mente pensa sempre em termos de palavras. Ele
diz: "A algaravia ajuda-o a romper esse padrão
de verbalização contínua. Sem reprimir os
pensamentos, jogue-os fora – na algaravia. Da
mesma maneira, permita, permita que seu corpo
se expresse."

103
É interessante observar que essa técnica possui
um sabor anárquico ao romper com padrões de
linguagem e gestual, permitindo que camadas
mais profundas do próprio ser venham à tona.
Assim, consiste na expressão completa e
irreprimida do próprio ser. A pessoa sentiu
vontade de falar desconexamente, gritar, agitar
as mãos, dar pernada no ar, seja lá o que for,
sinta-se livre para fazê-lo. Aliás, a idéia é essa
mesma, usufruir da mais plena liberdade.

Pessoalmente, realizo a técnica com os olhos


abertos, movimento-me, expresso-me da
maneira que queiro, sem refletir sobre o que
estou fazendo. Apenas observo conscientemente.

A única regra é manter a consciência e a


responsabilidade. Normalmente, essa técnica
não oferece perigo. Serve para desenvolver o
lado primal. Por experiência própria tenho visto
imensos resultados. Enquanto o ser humano
passa a vida toda padronizado, é excelente
poder reconquistar a mais pura bestialidade.

O que a pessoa adquire com isso? Em primeiro


lugar se livra de influências externas ao seu Eu
Verdadeiro e entra em sintonia com essa
realidade profunda que chamamos Satan.
Adquire ainda autoconfiança, magnetismo
pessoal, carisma etc. etc. Em linhas simples,
aumenta o poder pessoal. O ser humano, antes
de mais nada, é um animal. Então nada melhor
do que a reassumpção desse lado animal, tão
olvidado, tão reprimido, tão relegado a um
segundo plano.

104
Por outro lado, essa técnica é altamente
catártica ou purgativa, o que significa que, além
de estar liberando e aflorando dons reprimidos,
também estará eliminando inúmeros bloqueios.
Em miúdos, a pessoa estará desvelando o seu
sátiro, a sua real e profunda natureza, como
bem lembrou Aleister Crowley, citado por
Kenneth Grant. No mesmo sentido, LaVey
afirmou que há um demônio no interior humano
que precisa ser exercitado, e não exorcizado.

Se a pessoa quiser, há inúmeras variantes


possíveis. A pessoa pode assumir a forma de um
animal real ou imaginário. Um lobisomem, por
exemplo, pode ser assumido. Como exemplo, o
filme Highlander. O personagem vivido por Sean
Connery aconselha o personagem vivido por
Christopher Lambert, o próprio Highlander, a
assumir a forma de um búfalo que pastava por
perto. Fazendo assim, o personagem acabou
adquirindo os poderes inerentes a esse animal.

É interessante notar também que esta técnica


pode dar insights do próprio animal. Ao assumir
a forma de uma serpente, a pessoa sente como
o animal rasteja, ataca, se acasala etc. Muito
pode ser perscrutado. A criatividade reside na
própria imaginação e neste sintonia com seu Eu
mais profundo. Num ritual pode ser elaborada
com a postura de um demônio. Nesse sentido, as
técnicas voltadas para adentrar os túneis de
Seth, usadas, por exemplo, na meditação do
tattwa da terra. Para adentrar esses túneis,
conforme dispõe a melhor técnica, deve-se
assumir a postura de um demônio.

105
54 – O estudo da Vitimologia

Vitimologia é o estudo das circunstâncias


passíveis de transformar uma pessoa numa
vítima. Em vários momentos de nossa vida, por
mais cuidadosos que sejamos, posamos de
vítimas. O segredo reside em deixar o estado de
vítima para se tornar proprietário do nosso
próprio ser.

Eis algumas regras que podem ajudar:

1. O proprietário entende que as


dificuldades são coadjuvantes no
processo de superação humana, as
vítimas buscam apenas o constante
conforto.

2. O proprietário está sempre concentrado


nos problemas, a vítima está sempre
atolada nos problemas.

3. O proprietário sempre se sente


confortável com o sucesso; a vítima, ao
deparar com o sucesso, sente que algo
está errado.

4. O proprietário sempre aceita e enfrenta


responsabilidades, a vítima busca sempre
por tranqüilizantes físicos ou psíquicos.

106
5. O proprietário afirma enfaticamente “eu
quero!”, a vítima reclama “eu devo...”

6. O proprietário levanta-se em todo


momento que cai, a vítima relaxa e
dorme.

A escolha entre ser proprietário e vítima é


exclusivamente sua, é o seu pleno direito.

A vitimologia pode também ser entendida


como a arte de deixar de ser uma vítima.

55 - O que você acha?

1. Você acha realmente que uma companhia


farmacêutica vai disponibilizar um remédio
eficaz e barato para a cura de doenças como
câncer ou AIDS, ou manter a pessoa
eternamente dependente de remédios caros,
que apenas prolatam a doença?

2. Você acha realmente que o político eleito vai


algum dia cuidar do interesse do eleitor ou
vai cuidar dos seus próprios interesses e do
empresariado que o elegeu?

3. Você acha realmente que o clero das religiões


se preocupa com a sua salvação ou o

107
interesse maior é manter a eterna mordomia
e poder em cima dos incautos?

4. Você acha realmente que alguma indústria se


preocupa com os danos ambientais ou visa
tão-somente ao lucro exacerbado?

5. Você acha realmente que encontrará alguma


informação essencial e valiosa na mídia, ou
terá de cavoucar muito para chegar a algo
essencial?

6. Você acha realmente que possui domínio


sobre a sua pessoa, faz o que quer, ou é
levado por toda essa máquina social a se
comportar dentro de padrões escravizantes e
alienantes?

Como sempre digo, o objetivo é sempre acordar.

56 - O signo da serpente

Sem namorar os quesitos históricos, anteriores


ao advento da Cristandade, é interessante notar
que o Diabo, no Gênesis, tentou o casal humano
sob a forma de uma serpente. O signo da
serpente é importante, porque, dentre outros
aspectos, enraizou-se completamente no
inconsciente coletivo. Queira ou não, está

108
completamente plugado também na psique
individual.

É curial observar que os símbolos se repetem em


todas as culturas, em todas as épocas,
derramando-se pelas experiências, estilos de
vida, histórias, costumes etc. etc. Em miúdos, o
arquétipo é sempre o mesmo: muda-se a
aparência externa, o fundo permanece o mesmo.
Como exemplo, os deuses cornudos, em todas
as sociedades, tornaram-se símbolo da rebeldia
e contestação. Não seria diferente no
Cristianismo.

Mas... o que representa a serpente? A serpente


possui inúmeros significados, daria para encher
um livro volumoso. Entre os vários significados
citarei alguns para dar a verdadeira
transparência da serpente inserida na Bíblia.

Inicialmente, a serpente é um signo de


conhecimento, na realidade a serpente foi o
primeiro portador do conhecimento, antes Adão
e Eva não sabiam nada de nada, eram apenas
dois animais pastando no jardim do Éden. Daí
ser o famoso archote.

Depois, a serpente também pode ser associada à


energia, nesse sentido convém lembrar a famosa
kundalini, não foi à toa que o sexo se tornou
veementemente negado e condenado. O sexo
sempre foi visto como algo diabólico e apenas
tolerável com fins exclusivos de reprodução

109
humana. Por que? Porque através do ato sexual
o ser humano também se torna um criador.

No entanto, a serpente expressa também o


próprio universo, o oroboro (observe que esse
vocábulo, curiosamente, pode ser lido também
de trás para diante), que morde sua própria
cauda, formando um todo, um ciclo completo.
Nesse sentido, cabeça e cauda, opostos entre si,
encontram-se em harmonia perfeita. Nesse
sentido, lembro a ambivalência satânica em
oposição ao maniqueísmo cristão. Perscrute
também o Tei Gi taoísta.

Por fim, a ascensão da serpente no próprio Éden


como completa rebeldia a um demiurgo
prepotente e irascível, desvelou-se na primordial
coragem de andar com seus próprios pés, ao
invés de prestar adoração a entes externos.
Assim, o homem, pela primeira vez, assume
responsabilidade por Si-mesmo e passa a ser o
único responsável pela sua evolução.

Acima, quatro significados para o signo da


serpente. Muito mais pode e deve ser desvelado.
Quer fazer uma singela metáfora, apenas por
brincadeira? Já imaginou a serpente ser um falo
e a maçã ser uma vulva?

110
57 – O pacto com o Diabo

Inúmeras vezes me perguntam sobre o pacto


com o Diabo. Minha caixa de email sempre ficou
abarrotada com esse tipo de questão.
Inicialmente, a idéia do pacto é oriunda do
Satanismo Gótico, que nada mais é do que uma
paródia do Cristianismo ou, se preferir, uma real
inversão da doutrina cristã.

Se determinada pessoa está em alta dificuldade


financeira ou imensamente apaixonado por outra
pessoa, inicialmente tenta rezar a Jeová para lhe
conceda a respectiva dádiva, quando realmente
deveria ir à luta para conseguir o que quer.
Normalmente, não consegue nada, então pensa
o seguinte “se Deus não me ajudou,
provavelmente o seu inimigo, o Diabo, me
ajudará se eu fizer um pacto”.

Há pessoas ou grupos que dizem deter o


“verdadeiro pacto com Lúcifer” e cobram
caríssimo para fornecê-lo. É necessário
denunciar esse tipo de roubalheira ou
mistificação fajuta!

Se a pessoa se colocar no lugar do Diabo,


pergunte-se qual interesse Ele teria em possuir
uma alma humana. O que Ele ganharia com
isso? Simplesmente NADA!

Além de que o Inferno já deveria estar bem


abarrotado...

111
58 - Uma taça de blasfêmia

Quando a pessoa pensa em termos de blasfêmia,


normalmente significa apenas achincalhar os
cultos abrâamicos. No entanto, parece-me que é
muito mais do que isso. Um ato de blasfêmia
necessita ser um rompimento definitivo com o
segmento do inconsciente coletivo representado
por esses cultos da morte.

Assim, bebo da taça de blasfêmia como uma


completa heresia, afim de que purgue
completamente o meu ser desse câncer
existente no seio da humanidade. Assim, para
mim, a blasfêmia se converte numa verdadeira
bênção por possibilitar o rompimento com
padrões nocivos e obsoletos.

Destarte, a tradição que se converte numa


traição do ser humano necessita realmente ser
purgada. Tradição que inibe o individualismo,
destrói o senso do hedonismo, corrompe por
completo a afirmação de vida, em prol de uma
fábula temperada pelo aço da espada, pela
chama da fogueira e pela pena vil que rascunha
a Cristandade.

Maldita seja a pseudo-autoridade da tradição.


Maldita seja a nódoa que impede a livre e
completa expressão do ser humano. Maldita seja
a fraude santificada que ainda arrasta seu manto
ao redor dos incautos. Perscruto a caveira insana

112
de épocas e o manto sangüinolento se retrai,
incapaz. A verdade, por mais dura que seja,
ainda é a verdade. Bendita seja a dúvida que
traz a verdade. Bendito seja o questionamento
que dissipa as ilusões.

A blasfêmia é um método, um rito mesmo, a


banir por completo o elo de ligação com o
maniqueísmo do passado. Na taça de blasfêmia,
o cristal e o vinho se confundem nos lábios de
quem a sorve tranqüilamente, prestes a
reencontrar o seu próprio eu.

59 – Transgredir para vencer

Se você almeja vencer, precisa aprender a


transgredir. Só vence quem transgride.
Obviamente, o parvo irá pensar que me refiro à
prática de atos criminais, ou seja, à infringência
das leis. Não, é muito mais do que isso.

Um exemplo curial. O poeta acadêmico aprende


que a poesia clássica é formada por rima, ritmo
e metro. Da contestação desse padrão clássico
surgiu a poesia livre. Essa é uma forma de
transgressão. Até o início do século XX, o poeta
cuja obra não se enquadrasse na padronização
clássica não era considerada poesia.

113
Perderíamos o sabor de Carlos Drummond de
Andrade, cuja expressão da poesia livre tenho o
imenso prazer de reproduzir abaixo:

Gastei uma hora pensando um verso


Que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
Inquieto e vivo.
Ele está cá dentro
E não quer sair.
Mas a poesia deste momento
Inunda minha vida inteira.

Outro exemplo conhecido é o do motorista


experiente que, ao entrar numa curva, acelera
levemente, afim de que o carro aufira maior
aderência ao asfalto. Nas auto-escolas é
ensinado justamente o contrário, realizar a
frenagem antes da curva e entrar devagar.

Todas as grandes conquistas do ser humano


surgiram do rompimento de padrões vetustos ou
obsoletos em direção à mais ampla liberdade da
forma e do conteúdo, ainda quando necessário
criar novos padrões, mais avançados.

Outro enfoque da transgressão é justamente


quando a pessoa descobre que determinadas
transgressões não só são aceitas, como
imensamente bem-vindas, quando é o caso de
uma pessoa que transgride no namoro, fazendo

114
certos avanços que, caso não o fizesse, perderia
até mesmo a valiosa oportunidade de algo mais.

Por fim, o Satanismo significa a própria


transgressão, daí, como sempre repito, a
doutrina satânica sempre questionar a si própria.
Afirmo e repito peremptoriamente que tudo
aquilo que não aceita passar pelo crivo da dúvida
não merece a mínima consideração.

60 – Um toque de misantropia

Numa rápida pesquisa na Wikipédia, “Os


misantropos expressam uma antipatia geral para
com a humanidade e a sociedade, mas
geralmente têm relações normais com indivíduos
específicos (familiares, amigos, companheiros,
por exemplo). A misantropia pode ser motivada
por sentimentos de isolamento ou alienação
social, ou simplesmente desprezo pelas
características prevalecentes da
humanidade/sociedade.”

É unânime no Satanismo a rejeição da


mentalidade de rebanho, o que anda lado a lado
com a misantropia. Eu me encaixo perfeitamente
nessa situação. Assim, pretendo expor um pouco
minha estratégia misantropa, que não é muito
difícil de aplicar, pode ser útil a mais alguém.

115
É quase uma regra eu andar na contra-mão da
grande massa.

1. Se todo mundo sai de férias na alta


temporada, eu aproveito para descansar
na baixa temporada. Além de gastar
menos, não me atolo nos
engarrafamentos das estradas e não me
amolo com as imensas muvucas de
pessoas.

2. Se todo mundo vai à praia aos fins-de-


semana, deixo para ir numa segunda-
feira. Os preços despencam, arrumo um
lugar legal para relaxar e evito até
mesmo o perigo de um possível arrastão.

3. Se todo mundo faz compras no


supermercado às 11h ou 18h, com filas
imensas de carrinhos, procuro ir num
horário mais tranqüilo, como de
madrugada, praticamente não há
ninguém.

4. Se todo mundo enfrenta uma casa de


shows lotada para assistir a um grupo de
rock, simplesmente adquiro o DVD e
assisto em casa.

5. Se todo mundo compra a roupa da moda,


deve me achar um bicho meio estranho,
porque me visto como quero, verdade

116
seja dita que busco sempre desaparecer,
às vezes o efeito é inverso.

6. Se todo mundo usa relógio caro e


automóvel último tipo, evito usar relógio
e o meu carro é olhado com desdém.

Dificilmente quebro as regras acima e outras que


esqueci de mencionar. Quando quebro é porque
realmente vale à pena.

Cultivo a arte da invisibilidade sempre que


possível, a não ser nos raros momentos em que
realmente preciso aparecer, deixo de mencionar
aqui por questão de anonimato.

Alguém já disse que a multidão não passa de um


monstro sem cabeça. Existe muito de verdade
nessa afirmação. As massas são completamente
irracionais.

Por outro lado, o satanista é individualista por


excelência, seu próprio mestre. Não pode
coadunar com padrões alheios. Pelo contrário,
preza pelo suave frescor da solitude, apenas dela
abrindo mão pela mais alta necessidade da vida
ou pela presença de seus caros e valiosos
amigos e familiares.

117
61 – O pai da mentira

As hostes "divinas" tem se referido ao Diabo com


o epíteto de O Pai da Mentira, acusando-o de
mentiroso e caluniador, uma vez que se tornou o
"adversário" do sistema constituído, seja na capa
da religião, seja na capa da política, seja em
qualquer sistema que pretenda dominar o bicho
homem. Se há uma ordem prepotente
constituída, as chamas infernais estarão sempre
prontas a devorá-la.

No entanto, tudo deve ser questionado e muitas


vezes reformulado. Por que o Diabo seria O Pai
da Mentira?

O Diabo pode ser considerado o Pai da Mentira


pela simples e espantosa razão de que uma
verdade absoluta não passa de uma mentira.
Mesmo essa minha afirmação já se torna
contraditória. Se eu afirmo que não existe uma
verdade absoluta e estiver correto, então acabo
de criar um paradoxo, pois ao menos essa
afirmação já seria uma verdade. O Reverendo
Óbito do ning Morte Súbita trouxe uma idéia
interessante:

Existem verdades triviais e grandes


verdades. O oposto de uma verdade
trivial é simplesmente falso. O oposto de
uma grande verdade também é
verdadeiro.

118
Ocorre que, ao postular uma verdade, ela já
nasce eivada de mentira. Em algum momento no
futuro precisará ser reformulada, caso contrário
não haverá nenhum progresso, seja em que
seara for. Por exemplo, todo o avanço científico
vem ocorrendo sob a inspiração do Diabo
afrontando os dogmas religiosos. É sabido e
notório que Cristóvão Colombo compareceu ao
Tribunal da Inquisição para explicar como ele
pretendia dar a volta ao Mundo e não cair no
abismo.

A Terra foi considerada plana e o centro do


universo, pelos "sábios" ensinamentos bíblicos. A
ciência aceitava tranqüilamente a teoria da
"geração espontânea", que não tinha o mínimo
embasamento e foi definitivamente descartada.

O Diabo vem desmontando os dogmas religiosos


e os axiomas científicos através dos milênios. No
tocante à religião, cada vez mais os dogmas são
afrontados e se tornam risíveis, pois nunca são
reformulados, dada a arrogância dos acólitos da
"luz branca", ao afirmar que uma "verdade
revelada" jamais pode ser colocada sob
investigação ou debate. A afronta a apenas um
dogma religioso é um grande pecado.

Com a ciência é diferente. A ciência chega até


determinado ponto, empaca e simplesmente
reformula o seu axioma, de modo a se adaptar a
novas circunstâncias. Assim aconteceu com o

119
princípio da inércia, em Aristóteles significava
um "corpo em repouso", depois mudou-se o
paradigma para englobar também um "corpo em
movimento uniforme" (velocidade constante).
Aconteceu também com a Geometria Euclidiana,
ao reformular o postulado de que "por um ponto
exterior a uma reta dada passa apenas uma reta
paralela", criou-se a Geometria de Lobachevsky,
também conhecida como Geometria Hiperbólica,
que, diga-se de passagem, não invalidou o
conhecimento anterior, mas deu um avanço
científico substancial.

Destarte, a ciência possui o que se denomina


uma "humildade satânica", que não se trata
daquela submissão idiota tão conhecida, mas sim
o reconhecimento de uma verdade mais
adequada ao meio a ser empregada e
simplesmente usá-la, por ser de bom alvitre.
Nesse sentido, pode-se chamar o Diabo de O Pai
da Mentira, pois ele é o grande provocador de
toda e qualquer antinomia e o mestre de todos
os debates.

62 – A função do inimigo

A seletividade é uma lei da natureza. A natureza


não é um mero paraíso, ela se sustenta através
de uma imensa cadeia alimentar. Os seres vivos

120
são naturalmente inimigos uns dos outros (e
amigos também!). Se não houvesse essa cadeia
alimentar, não haveria sobrevivência alguma.
Assim, a idéia de um "éden perfeito" trata-se de
uma utopia parasitária.

A sociedade humana é predadora por excelência,


pior do que a própria selva. Não existe NENHUM
setor da vida social em que um ser não esteja
predando e parasitando alguma vítima. Aí surge
a religião com a idéia de "amar ao próximo como
a si mesmo". Percebeu o jogo nefasto?

O inimigo é muito importante. Eis algumas


razões:

• É importante porque a pessoa aprende o


valor da seletividade - amor para quem
merece, não amor pelos ingratos, já dizia
LaVey.

• É importante porque a pessoa descobre


seus próprios pontos fracos - justamente
os que o seu inimigo vai usar sem dó nem
piedade.

• É importante porque a pessoa busca dar o


melhor de si, para combatê-lo pelos
meios adequados - tira energia de onde
normalmente não tiraria, então surge a
auto-superação.

121
• É importante, por fim, porque a pessoa
passa a ter real noção da existência, a
realidade nua e crua, sem as fraudes
santificadas.

Em menção à condescendência, quem é amigo


do seu inimigo, gosta de virar a outra face, não é
amigo de si mesmo, perdeu toda a noção de
valor. Em outras palavras, essa infeliz vítima
atenta contra a própria auto-estima e possui
uma atitude desmoralizante e aviltante para o
próprio ser. Em linhas simples, é totalmente
antinatural.

O fato real e comprovado é que o inimigo nunca


vai ter pena do seu desafeto. Se a pessoa acha
que, por ser boazinha com o inimigo, ele vai
dispensar o mesmo tratamento, está incorrendo
num erro gravíssimo, cujo dano será irreparável.

Por outro lado, a criação artificial de inimigos


também é uma estupidez. A maioria dos litígios
são idiotas e podem ser perfeitamente evitados.
Diluindo-se os pequenos problemas,
normalmente os grandes problemas também se
tornam diluídos, mas não necessariamente.

Finalmente, um inimigo deve ser honrado como


tal. Trata-se de uma simples questão de
merecimento. Se você possui um inimigo,
combata-o veementemente, pois ele não terá a
menor consideração por você. Agora, depende
exclusivamente de cada um tirar o melhor
proveito possível de uma lição a ser aprendida.

122
63 – O masoquismo esclarecido

A questão do masoquismo esclarecido é um dos


de mais difícil entendimento dentro da gnose
satânica. Antes de adentrar nesse tópico, é
mister retornar à idéia de ambivalência, ou seja,
o trabalho consciente e responsável com ambas
as polaridades que permeiam o nosso ser.

"Os opostos - sofrimento e alegria, dor e prazer -


estão unidos, de modo simbólico, no
masoquismo. Assim a vida pode ser
verdadeiramente aceita e até mesmo a dor pode
ser experimentada com alegria. O masoquista,
de modo assombroso e fantástico, enfrenta e
harmoniza os maiores opostos de nossa
existência." Essa lição é tomada de Adolf
Gugenbühl-Craig, um dos maiores analistas
junguianos, a respeito do estudo da Sombra.

Obviamente, ninguém em sã consciência vai sair


por aí fazendo apologia da dor. Por outro lado,
ninguém em sã consciência vai negar que a dor
faz parte da nossa existência. Entender e
transcender a dor é uma questão que vem
desafiando os filósofos há milênios, mas
ninguém se preocupou em aceitar e entender a
dor de modo intrínseco, ou seja, meditativo.

Quando LaVey disse que no altar do Demônio


dor é alegria e alegria e dor, ele realmente teve
um insight a respeito da questão da
ambivalência.

No Satanomicon relato uma experiência com a


dor. Peço licença ao ilustre leitor para repeti-la

123
aqui. Certa vez, senti uma enorme dor de dente,
à época do Carnaval, não tinha meios de
procurar um dentista. Após tentar inúmeras
saídas, inclusive toques de acupuntura, tive um
insight. Resolvi dar forma à dor, imaginei-a
como um monge, conversei com ela, fiz amizade
com ela, convidei-a a permanecer comigo e
assim ficamos em sintonia por alguns minutos,
quando ela simplesmente desapareceu. Alguns
dias depois, de fato procurei um dentista e
resolvi o problema definitivamente.

Esse fato me ensinou que podemos tornar as


trevas do nosso ser uma imensa aliada, ao
aceitá-la, bem antes de conhecer a teoria acerca
da Sombra junguiana.

A dor existencial é a que nos motiva a buscar um


sentido para a existência e para nós mesmos.
Sem essa dor, a pessoa não se preocuparia em
aprender mais. O Cristianismo, ao estatuir a
noção de Céu, fez da virtude o único modus
operandi do ser; assim, elimina completamente
a dor existencial e, com isso, impede que a
pessoa alargue seus horizontes e busque o
grande segredo cósmico no próprio Self.

O masoquismo esclarecido desvela totalmente a


face producente do masoquismo, ou seja, é o
masoquismo consciente, prenhe de gnose
satânica, desafiando o ser humano não a ficar
passivo diante das adversidades, mas aceitar o
negrume do próprio ser como fator de
transcendência.

124
67. 64 – Um rascunho acerca do “arkhé”

Para os pré-socráticos, “arkhé” seria o princípio


presencial em todas as coisas, ou seja, por
intermédio do qual tudo vem a ser. Em miúdos,
seria a substância a partir da qual tudo deriva.

Diógenes de Laércio explicou o sentido do


“arkhé”:

“Todas as coisas são diferenciações de uma


mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é
evidente. Porque se as coisas que são agora
neste mundo - terra, água ar e fogo e as outras
coisas que se manifestam neste mundo -, se
alguma destas coisas fosse diferente de qualquer
outra, diferente em sua natureza própria e se
não permanecesse a mesma coisa em suas
muitas mudanças e diferenciações, então não
poderiam as coisas, de nenhuma maneira,
misturar-se umas as outras, nem fazer bem ou
mal umas as outras, nem a planta poderia brotar
da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa
vir a existência, se todas as coisas não
fossem compostas de modo a serem as mesmas.
Todas as coisas nascem, através de
diferenciações, de uma mesma coisa, ora em
uma forma, ora em outra, retornando sempre a
mesma coisa”

A idéia de “arkhé” entre os filósofos pré-


socráticos nunca foi unânime, cada um

125
apresentando a sua própria visão da substância
primordial.

Para Tales de Mileto, considerado o primeiro


filósofo e um dos sete sábios da Grécia Antiga, o
“arkhé” deve ser identificado com a água. Essa
idéia proveio da doxografia desse filósofo, já que
Tales não deixou nada escrito. Na verdade,
conhecemos o pensamento de Tales por outros
filósofos, como Aristóteles: “Tales diz que o
princípio de todas as coisas é a água, sendo
talvez levado a formar essa opinião por ter
observado que o alimento de todas as coisas é
úmido e que o próprio calor é gerado e
alimentado pela umidade. Ora, aquilo de que se
originam todas as coisas é o princípio delas. Daí
lhe veio essa opinião, e também a de que as
sementes de todas as coisas são naturalmente
úmidas e de ter origem na água a natureza das
coisas úmidas.”

É importante observar também que a água é a


substância primordial da vida, compõe cerca de
70 % do planeta e do ser humano, alguns dos
antigos também diziam que a água sustentava a
terra.

Olavo de Carvalho faz uma correlação


interessante entre o estado de vigília e o estado
onírico, de sonho, ao dizer que, quando a pessoa
dorme, a realidade se “liquefaz”, algo como uma
profunda mudança de estado.

126
Anaximandro de Mileto contesta Tales, dizendo
que a água é fria, assim como o fogo é quente, e
um elemento que permite o seu antagônico não
pode ser a substância primordial de todas as
coisas. Destarte, Anaximandro afirma que o
verdadeiro princípio é o “apeiron”, que significa o
ilimitado, o indeterminado, o infinito, que,
segundo Ubaldo Nicola, é “uma realidade
primigênia e diferenciada, sem limites e sem
fronteiras”. Esse princípio estaria espalhado por
tudo.

Niezsche afirma que Anaximandro dá um salto


metafísico em relação aos demais filósofos pré-
socráticos, pois a idéia do “apeiron” necessitou
de um algo grau de abstração, muito superior a
Tales, se a água nasce e morre, não é imortal,
assim o imortal seria o infinito, o indeterminado.
O apeiron seria algo insurgido embora existente.

Anaxímenes afirma que o princípio de todas as


coisas é o ar. Simplício, na obra Física, explica
que: “Anaxímenes de Mileto, filho de Eurístrates,
companheiro de Anaximandro, afirma também
que uma só é a natureza subjacente, e diz, como
aquele, que é ilimitada, não porém indefinida,
como aquele (diz), mas definida, dizendo que ela
é Ar. Diferencia-se nas substâncias, por
rarefação e condensação. Rarefazendo-se, torna-
se fogo; condensando-se, vento, depois, nuvem,
e ainda mais, água, depois terra, depois pedras,
e as demais coisas provêm destas. Também ele

127
faz eterno o movimento pelo qual se dá a
transformação.”

No sentido físico, o ar se presta a inúmeras


variações, assim o fogo seria ar rarefeito, o ar se
converte em água através da chuva, depois se
transforma em terra. Além disso, num sentido
mais místico, a própria alma seria de ar.

Xenófanes de Cólofon propõe que seja a terra,


afinal tudo que existe começa na terra e volta
para a terra. O próprio fundo do oceano seria
formado por camada de terra. "Pois tudo vem da
terra e na terra tudo finda" (Aécio)

Intuindo acerca da unidade da natureza, abriu


caminho para o discípulo Parmênides de Eléia,
que viria a expor a doutrina da identidade e da
permanência do ser.

Heráclito de Éfeso acreditava que o “arkhé” era o


fogo. "O fogo transforma-se em água, sendo que
uma metade retorna ao céu como vapor e a
outra metade transforma-se em terra.
Sucessivamente, a terra transforma-se em água
e a água, em fogo.”

No entanto, Heráclito, ao contrário de


Parmênides, acreditava no fluxo, na mobilidade
de todas as coisas, “panta rhei” (tudo flui),
atribuindo ao elemento fogo o maior símbolo
desse devir.

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Assim, uma das suas maiores afirmações é que
não é possível se banhar duas vezes no mesmo
rio, porque as águas já serão outras e a própria
pessoa já terá mudado também, física e
psiquicamente.

Pitágoras de Samos afirmou que todas as coisas


são números. Nesse sentido, os números
formariam a própria ordem do universo. O
melhor exemplo é o da música, que nada mais é
do que a harmonia dos números.

Os discípulos de Pitágoras acreditavam que “a


ciência dos números pode explicar cada aspecto
da realidade” e que “o número não é um ente
abstrato, coincide com a matéria e possui
dimensão espacial”.

Empédocles de Agrigento postulou que a


natureza possuía quatro princípios básicos, terra,
ar, fogo e água, no entanto acreditava na
permanência das coisas, ou seja, nada se altera.
Do mesmo modo, postulou também duas forças
como princípios, que seriam o amor, “philotes”, e
o ódio, “neikos”, um princípio associativo e outro
dissociativo.

É interessante observar que tanto o “philotes”


quanto o “neikos” assumiriam a função do outro
elemento. O “philotes”, ao atrair o que lhe é
semelhante, também ajudaria a dissociar-se

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daquilo que não é semelhante, assumindo a
função do “neikos”.

Anaxágoras de Clazomena achava que o


universo inteiro era formado por minúsculas
partículas ou sementes chamadas homeomerias,
que dariam origem à realidade por participação
do “nous” (mente, espírito,
inteligência). Assim, por exemplo, em cada
célula, existe um pouco de tudo do cosmos.

Finalmente, Demócrito de Abdera, na mesma


linha acima, dizia que tudo era constituído de
átomos e de vazio. Ele afirmava que do nada,
nada surge. É interessante notar que Demócrito
foi considerado o mais lógico dos pré-socráticos
e a Química moderna seguiu a linha de raciocínio
dos átomos, e foi além.

Estive questionando acerca do que realmente


mantém o universo e não pude encontrar nada
por uma simples razão, nada existe
universalmente, cada substância, essência ou ser
somente em existe como singularidade.

Nesse sentido, um dos desafios do caminhante


da mão esquerda é justamente romper com os
liames do “universal” e construir a singularidade
própria ou, se preferir, a própria indiviidualidade.
Cheguei a refletir se o “arkhé” não seria a
inteligência, que, em maior ou menor grau,
permeia tudo. Outra idéia bem interessante

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sobre o “arkhé é se não seria o Caos. Essa idéia
também me apraz, é dito que no início era o
caos.

Destarte, mais um questionamento.

65 - Consumo, logo existo

A televisão é a pior praga que já inventaram no


século XX. Somente para ter uma pequena idéia,
a televisão é o veículo em alta escala da mais
completa alienação do ser humano. Em miúdos,
se nos séculos anteriores, as pessoas investiam
nos livros, num real aprendizado, na época atual
ocorre justamente o contrário.

O que se passa na televisão? A grande maioria


dos programas são fúteis, imbecilizantes ou, em
linhas simples, formatadores mentais, pois
levam a pessoa a um estado de completa
hipnose e inanição psíquica. Os programas nada
mais são do que o descanso dos comerciais. Ou
seja, os programas SÓ EXISTEM por causa dos
comerciais.

O que se passa na poltrona? Uma telespectador


completamente vegetalizado. Compra o mais
novo celular, empanturra-se daquela porcaria
gordurosa chamada pipoca, consome
compulsivamente cerveja, endivida-se em
cartões de crédito e financeiras, ouve ruído
escrachado ao invés de música de qualidade.

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O que possui de útil a televisão? NADA. Os
únicos programas educativos ou de entrevistas
importantes passam em horários de madrugada,
quando a maioria das pessoas sequer pode se
dar ao luxo de assisti-los.

Agora, qual a verdadeira função da televisão?


Para que realmente a televisão existe? A
televisão existe para a doutrinação forçada das
pessoas e o incentivo brutal ao consumerismo.

A apologia do consumidor obsessivo, que vive


apenas para alimentar o sistema. Não há nada
demais em vender um produto, a circulação de
riqueza faz parte da própria existência da
sociedade. No entanto, a televisão só existe com
a única finalidade de ESCRAVIDÃO e
ALIENAÇÃO.

Por outro lado, estamos à época da satisfação


imediata. Todo mundo possui o que quiser, pois
os cartões de crédito propiciam que a pessoa
sequer precise de dinheiro para adquirir os
produtos. Se entrar em apuros, tudo pode ser
refinanciado. O que passou a acontecer? As
pessoas se tornaram mais suscetíveis e
impulsivas, não aceitam mais receber um “não”,
ficando logo melindradas e agressivas, ao
mesmo tempo em que agem imediatamente sem
refletir.

Há, de fato, um PODER na aquisição de qualquer


objeto, o cérebro emite endorfina e a pessoa se

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sente extremamente bem, extremamente vivo.
Assim, vale a fórmula “consumo, logo existo”.

66 – Você prefere Jeová ou Satan?

1. Jeová exterminou povos inteiros no Velho


Testamento, pelo simples fato de adorar outros
deuses; Satan nunca exterminou povo algum.

2. Jeová impõe adoração e submissão


degradante, negação de si mesmo, ausência de
auto-estima, repressão e detrói a natureza;
Satan propõe a plena liberdade com consciência
e responsabilidade, a sua única lei é "faze o que
tu queres”.

3. Jeová inspirou o Santo Ofício, Santa


Inquisição, cruzadas, guerras religiosas; Satan
não inspirou nada disso, mas apenas a revolução
silenciosa contra o sistema estabelecido.

4. Todo progresso científico ocorreu com os


gênios afrontando Jeová e sob a constante
provocação de Satan.

5. Sob a égide de Jeová, a sua vida se torna


castrada pela moral doentia, enquanto sob os
auspícios de Satan você pode ter uma vida
plena, gratificada e feliz.

Então, você prefere Jeová ou Satan?

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