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Educação Física em Revista | 2017 | vol.

11 | nº 3
ARTIGO ORIGINAL

“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual


apesar (ou à luz) da sociedade excludente

"THE LOOK THAT DOES NOT MEET": bodily projection of the visually
impaired despite (or illuminated) the exclusionary society

Autores: FREITAS, R. F.¹; ROCHA, A. M.²


Instituições/Formação dos autores: 1- Graduado em Direito, pós-graduando em Direito
Constitucional pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Mestrando em Educação.
2 – Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Mestre e
Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e pós-doutorado em
História pela Faculdade de Letras/Universidade de Lisboa – FLUL.
Resumo: Corpo parece, de início, algo óbvio, tangível e sensível. As práticas corporais, por sua vez, quando
são apreendidas sistematicamente e instaladas no ramo científico (da Educação Física, sobretudo) recebem
valoração específica, constituem universo de sentido e significado. Mas, o que não é tão naturalizado e, contudo,
passa a fazer parte do imaginário real no ensino dito “includente” é a assimilação, por sujeitos diferentes, da
sua carne – pertença inafastável da pessoa. Como um estudante (jovem ou adulto) com diversidade funcional
na visão “enxerga” a entidade que o torna visível para os outros? Através de análise bibliográfica e aporte
fenomenológico, procurou-se compreender o tempo-espaço do corpo “não-visível” na interface saber-viver
intrinsecamente ligada à dualidade sujeito-objeto. Pretende-se, também, elaborar um produto educacional
(cartilha) capaz de fornecer, conforme didática conveniente, substrato prático ao labor educativo cuja fonte se
pretende acessível. Não se trata da constante (e pouco original) revisão normativo-pedagógica que destaca o
déficit e procura “investir” nos conceitos e termos próprios dos doutrinadores em Ensino Especial. Antes, tem
a proposta hoje revelada, por justificativa a necessária reflexão quanto à autoimagem do indivíduo deficiente
visual no mundo, compartilhando dificuldades e possibilidades em razão, ou por causa, da coletividade (colegas
de classe, professores, concidadãos).

Palavras chaves: Corpo. Autoimagem. Deficiência Visual. Inclusão.

Abstract: Body seems, at first, something obvious, tangible and sensitive. The corporal practices, in turn,
when they are systematically apprehended and installed in the scientific branch (of Physical Education, above
all) receive specific valuation, constitute a universe of meaning and meaning. But what is not so naturalized and
yet becomes part of the real imagery in the so-called "inclusive" teaching is the assimilation, by different
subjects, of its flesh - the person's unaffordable belonging. How does a student (young or adult) with functional
diversity in vision "see" the entity that makes it visible to others? Through bibliographical analysis and
phenomenological contributions, we sought to understand the time-space of the "non-visible" body in the
knowledge-living interface intrinsically linked to the subject-object duality. It is also intended to produce an
educational product (booklet) capable of providing, according to convenient didactics, practical substrate to the
educational work whose source is intended to be accessible. It is not the constant (and unpublished) normative-
pedagogical revision that highlights the deficit and seeks to "invest" in the concepts and terms proper to the
doctrines in Special Education. First of all, the proposal today has revealed, by justification, the necessary
reflection on the self-image of the visually impaired individual in the world, sharing difficulties and possibilit ies
because of, or because of, the community (classmates, teachers, fellow citizens).

Keywords: Body. Self image. Visual impairment. Inclusion.

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente

A visão, sentido menor para os homens da Idade Média,


e mesmo do Renascimento, é chamada a uma fortuna
crescente no curso dos séculos porvires. Sentido da
distância ela é tornada o sentido-chave da Modernidade,
porquanto autoriza a comunicação, deixando os
interlocutores sobre sua reserva.” (LE BRETON, 2011,
p. 64)

Recorte Metodológico-Filosófico (advertência!) – por uma redescoberta introspectiva


do “eu-no-mundo” por enxergar
O trabalho a ser desenvolvido pretende constituir uma produção científica,
com revisão em textos anteriormente publicados, método predominante direcionado à
fenomenologia1 na análise dos entendimentos acerca da matéria investigada e estruturação
qualitativa2 , com abordagem sócio-histórica, quanto à espécie de construção elucidativa.
Embora os símbolos hermenêuticos como desenhos dinâmicos do mundo, não
cabe separar absolutamente as categorias resultantes da compreensão educacional, quais
sejam, a) empírico-analíticas; b) fenomenológico-hermenêuticas e c) crítico-dialéticas. Em
relativa ousadia, localiza-se no empreendimento descritivo de uma realidade subjetiva
objetivada somente enquanto interpretação o viés formador desta obra. Fundamentalme nte,
o experimentar do mundo será princípio (embora questionado) a marcar intersubjetivas falas,

1
Um estudo recente (MIRANDA, 2016) utilizou, noutro jaez, o método fenomenológico para explicar
a inserção de um adolescente cego congênito nas aulas de Educação Física. A inclusão, naquele lócus,
é reivindicada como aceitação do diferente por suas especificidades e necessidades, permanecendo o
“problema” nas carências (extrínsecas e intrínsecas) do ensinar pedagógico. Em nosso sentir, o
epicentro das inadequações reside, por outro lado, no enquadramento “de fora” (olhar distanciado ou
“despersonalização seletiva”), apesar dos recortes nas falas e gestos emanados do sujeito analisado
que, apenas por frestas nas paredes acadêmicas converte seu protagonismo pessoal no desfrute
“concreto” da verdade existencialmente revelada. Uma epistemologia “de dentro”, escrita, lida e
vivida pelos reificados “deficitários” é a opção desnudada cá entre nós.
2
Sobre pesquisa do tipo qualitativo, destacam-se as características seguintes: “1- a fonte direta de
dados é o ambiente natural; apesar de equipamentos usados, há um peso importante das anotações
pessoais; 2- é descritiva; os dados colhidos são em forma de palavras ou imagens e não de números;
3- interessa-se mais pelo processo do que propriamente pelos resultados obtidos; 4 - tendem a
analisar os seus dados de forma indutiva; as abstrações são construídas à medida que os dados
particulares vão se agrupando; 5- o significado é importante; ouvem-se diferentes vozes para se
entender melhor uma questão educativa”. (SOUZA, 2001, p. 36)

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comunicando uma elucidação teórica que recebe, é bem verdade, do idealismo seu
intencional mundo consciente (SOUZA, 2001). O objeto real, por não ser delimitado com
antecedência, é sintetizado como ser-no-mundo e vida substituída pelas situações, valores,
“fundo cotidiano” concretizado. Assim, o objeto de estudo aqui se confunde com seu(s)
potencial(is) sujeito(s). Convergem vontade autoral, técnicas, teorias e saber histórico -
educacional não quantificável.
Partindo de conjecturas afins à revolução científica, um renascimento da
doutrina kantiana, abre caminho à divulgação, em círculos não fechados. O nome
“fenomenológico” é uma fatalidade, pois não implica na imortalidade dos fenômenos “como
são”, antes, procura mostrar correspondências entre os relativismos da filosofia moderna –
naturalismos, psicologismos, veracidades. “O número das verdades filosóficas é infinito, e,
em princípio, podem ser encontradas sempre novas verdades, sem que estas sejam deduzidas
logicamente a partir das verdades já conhecidas.” (STEIN, 2018, p. 218, itálico
acrescentado) A intuição terá de ser anti-dedutiva, sem número de axiomas em cadeia
conforme as leis matemáticas. Não há indução também, pois não seria necessário iluminar
algo a partir de outro ideal percebido antes. De certo modo, o fenomenólogo trata com ênfase
sui generis o mundo da vida.
A escolha dos instrumentos metodológicos é explicada pela natureza do
assunto a ser debatido, que reforçará pontos controvertidos, todavia sérios, no progresso
desenvolvimentista pós-moderno e supostamente inclusivo. Lança-se mão,
consequentemente, conforme mencionado, de pesquisa bibliográfica, tentando obter
resultados confiáveis sem apelar, contudo, à pressão de autoridade recorrente na causalidade
entre escrita e reiteração do já-dito, porquanto os textos lidos são parciais (fração do todo) e
susceptíveis de novas interpretações, sujeitos à evolução dos conceitos, disponibilidade de
novas informações (a cada dia surgem descobrimentos e resultados empíricos desde todo o
planeta) e perspectivas socialmente aceitas ou moralmente reprováveis, que permitem
entender o deficiente visual (bem como sua corpórea figura) como sujeito excepcional
(‘fenomênico’), carente das ferramentas técnicas “especiais” para avançar na própria
educação.
A escolha metodológica, ressalte-se, parte do seguinte pressuposto: o
conhecimento objetivo acerca das tensões envolvendo o jogo simbólico de relações entre o
humano e sua face materializada não é possível sem olhar subjetivado, reduzindo o objeto a

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uma perspectiva fragmentada. “Na crescente aproximação da estrutura do fenômeno, a
consciência se alarga, adquire novas formas de significar, estabelecendo novas conexões.”
(GONÇALVES, 1997, p. 10) Como a fenomenologia não requer fixidez nos modos
contemplativo-transformativos de compreensão, sendo esta a base de interrogação sobre o
Ser e o Outro, parece razoável concluir que resta ausente qualquer hipótese predeterminada
situada na explicação (prova) dos argumentos esboçados. Sem adotar unanimidade teórica,
respeitando a epoché (suspensão do juízo axiológico), construiu-se multifacetada “linha
doutrinária” acerca dos elementos centralizadores da produção em desenvolvimento, a saber,
o trinômio Corpo-Cegueira-Educação seguindo (pré)definições, todavia, ao mesmo tempo,
no foro aberto nutrido mediante probabilidades livres, encontros “casuais” com instantes sob
suspeição, verdadeiros para o locutor e virtualmente críticos nas vozes dos
interlocutores/leitores.
Não quer surgir, aqui, uma fenomenologia pura, segundo proposição na obra
de Edimundo Husserl (citado por CARROCCIO, 2018). Antes, há multipolar perspectiva.
Interagem, juntos, o mundo propriamente dito e o mundo unificado das ideias (proposições).
“Questa interazione permette la costituzione del mondo unico e medesimo per tutti, del
‘mondo propriamente detto’.” (CARROCCIO, 2018, p. 292) Os fenômenos exigem,
obviamente, interpretações mais ou menos conflitantes, impelindo, sem voluntarismo, o
curso relativizante das coisas, uma “volta às primícias infantis” no senso despojado do si-
mesmo psicofísico.
O caráter do mundo vivo (mundo-da-vida ou Lebenswelt) roga por atenção3
nas ciências humanas, incluídas a Pedagogia e a encarnação educacional transdisciplinar. O
“retorno às coisas mesmas”, pois, é primordial, sempre retomando e revisitando o universo
anterior ao conhecimento. Quando não se tem a elucidação fechada do objeto (ou natureza),
radicalmente (“puxando pela raiz”) a fenomenologia “sabe” conforme os signos e símbolos
compreendidos, momentâneos e dinâmicos. As ideias percebem-se, destacadas no cenário
que o homem engendra. Nessa “massa sensível” – corporal, espiritual e coletiva – a
familiaridade desde a consciência exprime legado reapreendido sem inclinação

3
A filósofa italiana, doutoranda pela Universidade “Tor Vergata” de Roma, menciona a
complexidade envolta na leitura da vida pelos meios disponíveis, oferecidos como fontes do intelecto:
“Anche il passaggio alla posizione fenomenologica mantiene una difficoltà nella comprensione della
vita in quanto sorgente costitutiva del mondo stesso: Idee I infatti non scava nella sedimentazione di
senso che costituisce il mondo psicofisico.” (CARROCCIO, 2018, p. 296, itálico acrescentado)

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excessivamente procedimental. Os temas educacionais que não são otimizados em
soteriologia unem frações de textos e tessituras divisíveis, esfaceladas medidas teóricas
(referenciais) “vestidas” como luva pelo(a) elaborador(a) didático(a), construtor(a) do
próprio percurso. Só assim, negando arbitrariedades e despindo-se do academicis mo
hermético, sublinhar liberdade é pensável.
Expressão contundente do projeto husserliano por detrás das reduções
filosófico-descritivas, as “razões” e “paisagens” da consciência assumem, neste estudo,
retórica inevitavelmente abarcada no inventário aberto das “técnicas corpóreas”
descentralizadas (usos pré-meditados que fazemos de nossa estrutura animal como, entre
outros, comer, andar, nadar,...) traduzidas como “meios” pelos estudiosos fisiologistas e
contrabalançadas na transcendência kantiana (o homem como fim na paz perpétua dos
semelhantes) a priori antinômica. A primeira forma do idealismo transcendental ipso facto,
pela intencionalidade montará o fenômeno. (MOURA, 1989) Congênito à decisão que
perscruta o sentido último das subjetivas realidades transitórias, o sentido criador do parecer
(à luz de comentadores externos) é diagnóstico parcial, mesmo nas antípodas do “sintoma
revisionista” das teses que passam a ser defendidas, refutadas e reassinaladas como unidades
doadoras de sensação (sentido). Todavia, fenomenologia não vai se imiscuir com as
demandas do rendimento nem formar litis consortium facultativo. Ela é, sumariame nte,
manto intuitivo, luz resignada em camadas sobrepostas que vão do núcleo incandescente,
morto e duro (últimas consequências) à crosta resfriada, ululante do bios. Para Husserl, o
mundo não é apenas para mim, mas sai de mim, conforme as Meditações Cartesianas. Então,
antes de ouvir a voz dos “envolvidos” por enquanto indeterminados, afloram níveis mais
elementares e flexíveis do diálogo com a semiótica das inclinações. (BELLO, 2006) O
pesquisador é apanhado na armadilha do convencer-se e, só então, aberto à enxurrada de
variáveis, saberá aderir a mecanismos certos, porque estabilizados, de julgamento hipotético-
resolutivo (verdades em condição fiável “até que” algo ou alguém sofra mutação).
Com o empreendimento de suscitar a direção que a autonominação “corpo,
diversidade funcional visual e formação pessoal”, tripé visto em teorias, leituras e
desencantamentos, a contribuição do presente trabalho deve ser, como requer a modalidade
de formação continuada acadêmico-profissionalizante4 , elaboração de material (impresso e

4
Este texto é fruto mais desenvolvido de um projeto investigativo apresentado e aprovado (em 2018),
para ingresso no curso de pós-graduação stricto sensu (Mestrado) em Educação da Universidade

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digital) que permita organizar possíveis superações do modelo biologicista da cegueira.
Reconhecendo os limites epistemológicos e a natureza sem prioridade idêntica na ortodoxia
dos cultores educacionais, salvo raras exceções, distanciamo- nos das recorrentes pesquisas
coletivas (pesquisa-ação, pesquisa participante, dinâmicas em grupo) empíricas 5 ,
investigamos o sentido não-independente de um objeto que, talvez, não esteja contido no
vivido à primeira vista, mas parece redesenhar satisfatoriamente uma necessidade reprimida
– a de muitos “invisíveis” serem conhecidos e remetidos a iluminação (Beleuchtung). Devem
surgir inúmeros pensamentos contra afirmações enfáticas soadas como desconcertantes,
porém, o concreto realismo está na construção em uma vida de sua filosofia. Em instantes
porvires, confrontando os resultados dessa pretensa reviravolta conceitual a seus
destinatários – deficientes visuais e videntes imersos na análise dos primeiros –, deseja-se
continuar o trabalho, com a prática itinerante de oitiva, testemunho e reedição tópica.
É importante mostrar a distinção entre Ontologia e Fenomenologia, diluindo
confusões. “Ela”, a Ontologia, “se define como um conhecimento de objetos”, louvando o
artefato puro e simples (Gegenstand schlechthin), “enquanto a fenomenologia está
interessada não em saber como são as coisas mas sim em elucidar como opera a consciência
de coisa.” Seu campo de trabalho não é formado pelas regiões objetivas da sabedoria
científica. (MOURA, 1989, p. 23)
As bases convencionais de ciência cristalizada não seguram hodiernamente a
dinâmica fenomênica. Nas palavras de Moura (1989, p. 31): “A fenomenologia não herda da
ciência nem a problemática nem os métodos; não se trata para ela de descrever um conteúdo
sobre o qual a ciência também se debruçaria e, por sua radicalidade, ela deverá abandonar a
“racionalidade” da ciência”, lançando mão de novas racionalidades, sensíveis e anti-
dogmáticas, “erigindo-se em disciplina autônoma e exterior ao universo da teoria”

Regional do Cariri - URCA. Atualizações subsidiaram, hoje (janeiro/2019), conclusões parciais a


serem minudenciadas no texto/relatório final (tese dissertativa) e, complementarmente, no retorno
social que os recursos educativos (material didático por elaborar) sugerem.
5
O apego da fenomenologia clássica ao empirismo é, hoje, contestada. A certeza que a presença e a
conclusão dão ao observador move aparências que, nem sempre, vão ao encontro das “coisas-
mesmas”. Contra o posicionamento desta obra, leia-se: “É em função dessa preocupação que o
empirismo é visto como louvável, enquanto ele foi metodologicamente radical e abandonou os
“ídolos” da tradição, retornando dos discursos à coisa mesma.” (MOURA, 1989, p. 20) A querela
erigiu celeuma infindável entre os fenomenólogos que, por não ser propósito nosso, deixaremos
passar sem mais delongas. Se a ciência das singularidades for meramente um a priori, nela restará
incrustado o positivismo atrasado (Auguste Comte)!

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normatizada verticalmente.

Introduzindo o debate propriamente dito


O que a deficiência visual trouxe ao seio do grupo humanidade foi incômodo.
Extremamente interpretativa, a “não-visão” é, por vezes, posicionada como entidade
definidora do sujeito. Trata-se de uma dificuldade atribuída ao próprio sujeito, ou melhor,
sua natureza corporal imperfeita. Por isso, nos diferentes setores culturais, o “defeituoso” é
subespécie, às vezes preservado, noutros momentos, rechaçado. Trata-se ele da negação
social contra a dominação humana sobre os limites que conferem sentido ao processo
diferenciador.
Desde o título, o objeto a ser investigado agora é um empreendime nto
complexo. Ligar conceitos profundos – Preconceito, Anormalidade trazida pela relativa
ausência sensorial e Corpo “educado” no realizável da autoimagem – sem minimizá- los nem
normatizá- los segundo tradição enciclopédica possibilita (re)descoberta de representações
subjetivas quase insuspeitas, firmemente ocultadas pela encarnação dos juízos valorados
externamente (suposta objetivação regulamentadora do “quem”). Aqui está, além da vontade
de saber (Foucault) acerca das vicissitudes, o espírito do pesquisador presente. Sofrer e viver
como não-vidente, ser formado como símbolo e apreender as coisas sólidas, enfim, existir
apesar dos rótulos que a cegueira (ou baixa visão) traz é parte substancial das interrogaçõ es
e tentativas responsáveis de suposições a serem desveladas.
Este projeto investigativo quer trazer à discussão acadêmica um tema por
vezes pouco familiar: o interagir dos cegos e “portadores” de baixa visão na seara
educacional, investindo no corpóreo autoproclamar das vivências escolares e extraclasse.
Não se trata da constante (e pouco inédita) revisão normativo-pedagógica que destaca o
déficit e procura neutralizá-lo, recomendando uso indiscriminado dos termos (jargão)
próprios dos especialistas em ensino especial. Antes, tem por leitmotif a necessária reflexão
quanto à imagem que o indivíduo (deficiente visual no mundo, compartilhando dificuldades
e possibilidades) tem de si e do outro em razão da coletividade (colegas, professores,
concidadãos).
Outra motivação para a análise é o tímido conteúdo presente na literatura –
pois estabelecer um ‘norte’ condutor parece transcender paradigmas há muito solidificados
– cujo escopo é, com ênfase na dicotomia compensação-retração de sentidos, buscar

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“explicações plausíveis” para o que não pode ser feito (a limitação como impedime nto
subjetivo). Esse teor repetido e validado nos comunicados científicos e fóruns deliberativos,
mesmo sendo útil, não deve, segundo pretende-se ratificar ao longo da pesquisa, significar
uma via inalterável para o desenvolvimento pessoal de quem “enxerga” sem visão. A
cognição possui caminhos múltiplos e estes, bem como as inteligências, merecem
ponderação.
Ao longo deste artigo, o deficiente visual é protagonista de suas imagens
construídas ao longo da história. Forçosamente, compreender os diversos contrastes e
confrontos entre o hoje ilustrado “corpo-máquina” (Descartes) e seu dono passa por
recodificar experiências lidas no sistema motriz e na intuição dos supostos “excluídos ”.
Assim, mesclar processos de segregação/integração com repertório performático do ente
físico que nos dá um rosto (Le Breton) opera vias cambiantes do sentido. Com resgate
histórico (limitado pela natureza deste trabalho e das fontes disponíveis, como sói acontecer
em molduras críticas), se joga uma “pá de ritos” na lacuna dos registros sobre ser humano
“mais fraco”, supersticiosamente invalidado, estigmatizado, abandonado, menosprezado e,
no fim, eliminado física ou simbolicamente.
O Imaginário pedagógico da inclusão no meio prático das tarefas
institucionalizadas ou livres resgata, sem rechaçar muitos trabalhos já escritos (pois a
bibliografia é pródiga em recentes postulações acerca da educação inclusiva), amparo na
realidade. Sem os discursos apaixonados, é difícil colmatar lesões ao direito de estar-junto.
Sem súplicas de pais, professores e interessados na direta mediação entre Mundo e Eu, não
avançaria o curso dos melhores “enquadramentos” na escola e, sobretudo, fora dela. Porém,
defendendo a ênfase nos obrigatórios parâmetros legais e atitudinais, artificializa-se o saber
e o fazer docentes, aniquila-se uma característica discente primordial: o inconformado senso
de transformar as coisas vigentes em algo revitalizado, sempre no frescor das jovens ideias a
serem convertidas em inventividade. O contato com o diferente é patamar de acesso e
semente da prudência nos ambientes que se pretendem formativos, democráticos nos anseios
emancipatórios.
Em seguida, aborda-se como a subjacente relação entre o meio e o organis mo
privado do pleno nexo sensorial repercute na consignação de “práticas” ou técnicas de acesso
à forma física da espessura individual. Assim, trataremos do viés contemporâneo capaz de
opor eficiência e deficiência num antagonismo justificado graças à prevalência das restrições

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julgadas mediante simulações biomédicas indicativas do potencial (“até onde pode ir”) quem
não está, na acepção naturalizada, à altura dos normais. A categoria “normalidade” ostenta
padrões validados socialmente como estigmas – castigos, sanção penal, retribuição – hoje
intermitentes.

A Ideia de Imagens Pessoais e Coletivas nas Práticas Corporais Inclusivas


A sociedade diz quem somos em grande medida. Ela nos limita, ordena gestos,
impõe sanções e barreiras. (ABBERLEY, 1987) Nesse espaço interrelacional do viver
coletivo, o corpo e as corporalidades se entrecruzam na solenidade do mundo privado e na
praça dos costumes. Parece inescapável a ideia de fôlego imagético nos exercícios “normais ”
da vida e na intervenção midiática sobre os corpos. A configuração pós-moderna da reposição
orgânica, no meio histórico dos valores falados (“a desmemoria do corpo”) tem muito a ver
com exclusão (negação) e inclusão (acéptica objetividade do autocontrole de si e do controle
dos demais pela moral física coercitiva). “O corpo, lugar do inapreensível cujo domínio deve
ser assegurado.” (LE BRETON, 2011, p. 14)
A escola, lugar do treinamento espiritual, mental e performático para o (a)
jovem, mostra, também, sua face ambiciosa de modelar figuras para serem levadas à
aceitação alheia. Talvez por meio desta crença precoce, tenhamos de lidar com tantas visões
e missões sobre o “fronteiriço” espectro do pertencimento às formas (geométricas e carnais)
que resistem a pedagogias arraigadas no tradicional podar dos gênios e mostrar que o direito
de cada um começa no fim do dos seus semelhantes. Realmente, produzidos foram instintos
despedaçados e sem aviso prévio, falta à matriz antropológica seu vetusto conteúdo
funcionalista. “O corpo é uma construção simbólica, não uma realidade em si.” (LE
BRETON, 2011, p. 18) De prisão da alma platônica, o corpo passa a ser suplício nostálgico
que guardamos desde o nascimento, fardo temível. Fatalmente, a educação será refratária dos
discursos mais efervescentes quanto à natureza imperfeita dos seres (infantes) em formação
(como se, antes das carteiras enfileiradas não houvesse sujeito intrafamiliar!). É nessa
(de)formação, para muitos, que a diferença converte-se em obstáculo.
O “luto” antecipado pela debilidade do filho/aluno, mesmo a ternura excessiva
da superproteção moderna e o tendente dissabor adulto pelas conquistas não obtidas com os
músculos da juventude encontraram, já, impulso nos psi (psicoterapeutas, psicólogos,
psicanalistas, etc). O corpo é produto psicofísico, signo culturalmente transformado e

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submerso na lógica consumista. Do modelo único, responsável pela aniquilação aparentes
desvios, passa a ciência e o sucesso biotecnológico profano a requerer um modelo
homogêneo provisório, nunca satisfativo, mas no qual todos devem fazer seu máximo esforço
contemplativo e ingressam na “corrida pela beleza” narcísica. “É o avanço do individualis mo
ocidental que vai pouco a pouco permitir discernir, segundo um modo dualista, o homem de
seu corpo, não em uma perspectiva diretamente religiosa, mas no plano profano.” (LE
BRETON, 2011, p. 60) De cosméticos, cirurgias plásticas, nutrientes e energias investida –
pan-estética nômade – vivem as práticas corporais, mesmo aquelas ligadas à natural
existência. E, graças à transmutação do homem e sua máquina estrutural complexa, fala-se,
com relativo charme, em “adaptações” no esculpir material da figura (quem) individual, a
crescer como as frondosas árvores do mais longevo carvalho. Quimera legatária do eterno
desejo em estar presente e persistir, mas sem a corruptibilidade do sangue e da carne fraca.
Desde muito cedo o imaginário precarizador das estabilidades no ciclo existencial (gestação,
aprendizado, maturidade, degeneração e morte) é localizado nas residências e nos ambientes
urbanos e rurais, apanágio da TV, da internet e do frio engendrar medicalizado, aprendido
como fruto tecnocientífico e ostentado para convencimento – independentemente da idade –
higiênico.
A proteção da saúde plena, sinalizada à luz do mítico bem-estar integra l,
mostra quão romântica é a natureza das práticas esportivas ou arriscadas (alpinismo, jogos
da sorte telúrica) a notificar rastros possibilitados ritualmente no desafio de chegar a portos
nunca antes navegados. Uma síndrome das novas realizações, mostrar-se rápido, sobranceiro,
viril e magnificente acima dos competidores que, ilustrativamente, ficarão jogados às feras.
Uma hierarquia surge entre presenças célebres e medíocres “imitadores” mortais dos super-
heróis (no cinema de ficção salvífica a miragem revolucionária do poderoso bom moço,
conquistando sua donzela igualmente maravilhosa, preenche vazios mais facilmente, se
compararmos a outras telas) dignos da glória. O autômato, paulatinamente, deixa de ser
máscara para entrar no mundo dos homens, da representação à personalização dos
“jogadores”.
A humanidade, em peso e número, testemunha sua rápida dissociação,
neoclassificação não restrita ao nome social dado pela classe, antes, pulverizada segundo
engenhos genéticos, uso de aparelhagens e suporte químico do processo comportamental que
gira tanto em torno dos entes separados (pessoas) quanto de seus maiores continge ntes

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
(nações).
A globalização e os cibermundos tornam dispensáveis e supérfluas quaisquer
verdades gélidas, cristalizadas. A moda dá as cartas no jogo desigual em que atletas (homem
e robô) são confundidos com duas metades fugidias desde os legendários titãs (e titãnides).
As concepções monistas de cultura corporal, recorrendo a intersecções remontadas sobre
técnicas e movimentos, triplamente recebem influências transdisciplinares ao largo do
“unidimensional total” – sociocultural, biológico e psicométrico.
O corpus (termo em latim para “corpo), outrora morada do espírito imanente,
terá seu fim mesmo que as etnias não se conformem. É nesse aspecto que a saúde, o bem
viver, a “boa forma” dão à complexidade do esforço em se programar no humano uma inédita
estranheza. As guerras medicinais em virtual obra ortomolegular, nivelando índices
substanciais, são tentativas de regenerar progressivamente a mitologia olímpica- mítica
(artífices do capital simbólico na imagem vitoriosa e suada do campeão) sem associá-la à
futura corrupção carnal. Corporalidades bioculturais vêm e vão na onda da cartesiana
projeção maquinaria em processo de consumo, combustão lenta (radicais livres) e
mecanização (super-prótese6 desde os fármacos vitaminados até órgãos metálicos). As
tecnologias, nesta linha – da metamorfose incorporada ao toque físico – delineiam fase
líquida (“modernidade líquida”, em Zygmunt Bauman e dezenas dos seus estudos
sociológicos) descobrem segredos da intrepidez hierarquicamente necessária para reduzir,
globalizando a solidez, ao menor nível possível o calcanhar de Aquiles (ponto fraco de
alguém). As identidades fortes, homens e mulheres, deixam supor que seria lógico almejar
símbolos reais e naturais padronizados, flexíveis e aceitos majoritariamente, despojados dos
signos “cheios”, fora dos limites representativos sonhados (pelos outros, claro). O cinema,
acima da meta noutros juízos, faz evocar, na base quantitativa do aquecimento supracultura l,
mundialização dos referenciais. “Captar o calor artificial de um acontecimento morto para
aquecer o corpo morto do social.” (BAUDRILARD, 1991, p. 69) Moribunda ambiguidade
fantasmática choca os soberanos, racializados, funcionalizados, generalizados no estereótipo,
criando barreiras fictícias a ligações (distinções) entre “coisas” consumíveis e “pessoas” em
dignidade provisória (constitucionalmente gravada) realimentada pela remodelagem mútua
dos indivíduos e seus convictos fluxos evolutivos.

6
Como leciona Jean Baudrilard (1991, p. 123, itálico acrescentado): “De todas as próteses que
marcam a história do corpo, o duplo é sem dúvida a mais antiga.”

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 49


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
As ciências sempre foram, e continuam sendo, reflexos de pressões éticas e
estéticas. Na Educação Física, nas Pedagogias “especiais”, por outro lado, toda postura e todo
movimento permanecem adstritos ao objeto (aluno, atleta etc) do qual hão de ser filtradas.
“Aqui começa uma antietnologia que nunca mais acabará e da qual Jaulin, Castañeda,
Clastres constituem alguns testemunhos. [...] a evolução lógica de uma ciência é de se
distanciar cada vez mais do seu objeto até passar sem ele: [...]” (BAUDRILARD, 1991, p.
15) Reproduzir conhecimentos, traços imitando gestos alheios, é “ponta do iceberg”, pois a
montanha de gelo acomodatório se coloca no lugar de “cubo mágico” a ser movimentado,
deslocado e remontado às vezes longe do conforto na revisão amorfa do ser/estar objetivo
que é alvo de miscigenação intersubjetiva na atualidade.
O duplo7 do homem é ele nos medos e anseios subconscientemente
percebidos, obedientes/desobedientes, bons/maus. Critério de aceitação, habilidade,
popularidade e manifestação adjetiva. As qualidades controladas na educação das novas
gerações foram, desde há muito, e continua sendo, objeto de preocupação e confugura m a
busca, nas escolas da saúde e da nacionalista mudança civilizadora. Uma segunda natureza
disciplinadora, corolária do ministério higiênico regular, impõe, aos jovens, competição,
lapidação das virtudes. Coesão social e biopolítica entrelaçavam-se, traduzidas na herança
militar da simetria devotada às posturas dirigidas normativamente.
As surpreendentes heterotopias do espaço-tempo orientado na instrução física,
além de metódica argumentação legal, intervém nos hábitos “normais” de biometria, eugenia
e valorização das neófitas culturas corporais de energia, sagacidade, improviso curricular,
construção do novo homem obediente, viril, laborioso e ciente do seu lugar adestrado. A
brasilidade omissa, codificada na moralização e repreensão das pulsões tornou-se dispositivo
encarcerador do alter ego. “Qual o estatuto deste corpo vivente, que não parece mais
pertencer ao mundo dos vivos?” (AGAMBEN, 2007, p. 104) O treinamento é sacrifício que
purifica e glorifica, pelo cansaço carnal, o espírito atlético efêmero e fungível dos povos
ocidentais. Manipular as limitações para superar os concorrentes tem sido catexe libid ina l
(paixão) do pódio.

7
“[...] o duplo [...] é uma figura imaginária que, como a alma, a sombra, a imagem no espelho
persegue o sujeito como o seu outro, que faz com que seja ao mesmo tempo ele próprio e nunca se
pareça consigo, que o persegue como uma morte subtil e sempre conjurada.” (BAUDRILARD,
1991, p. 123, itálico acrescentado).

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 50


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
Métodos nacionais disputaram, no Brasil, que adotou, até 1912 o modelo
alemão de trabalho ginástico e, após, ligou-se ao aparelhamento pedagógico francês,
hibridizado, na adaptação tropical, com as escolas do caráter sueca, militar e, recentemente,
crítico-dialógica, o hegemônico papel de corroboração. Tratavam o homem como
universalidade a ser lapidada mediante o combate aos vícios, o melhoramento da espécie e a
manutenção saudável dos homens fortes e produtivos, dóceis ao capitalismo. Simplifica ndo,
os tratamentos metódicos podem ser identificados nas suas próprias origens existencia is,
cenas de momentos patrióticos ou utilitários conforme as ideologias dos países-centros.
Eis o quadro sistemático de 03 (três) estratégias europeias no ensino de
práticas físicas, movimento e ginástica:
Alemanha Suécia França
Pode-se dizer que ocorreu a O idealizador da ginástic a O movimento francês, assim
disciplinarização curricular (futura Educação Física) na como seus contemporâneos,
da ginástica, o que está na Suécia foi Per Henrick Ling. tenta suprir necessidades
origem da concepção da O mérito de sua escola militares. Fontes dessa base
Educação Física como reside na divisão das atitudinal são os escritos
disciplina curricular. Guths funções implicadas em 4 filosóficos de Rousseau,
Muths, no seu manual partes: “a pedagógica : Pestalozzi e Dèmeny. O
teórico-prático, (1793) voltada a submeter o corpo à foco deste método (ou tipo
ensinava que a atividade sua vontade, de maneira a de formação) é a utilidade e
atlética do corpo devia ser educativa e social; a a eficiência de cada
buscar à saúde, a beleza, a militar: a arte das armas, movimento. O ato de jogar,
agilidade e a construção da com objetivo de preparação correr, saltar não poderia ser
personalidade. “Este militar; a médica: voltada mero capricho. Segundo
método, alavancado por para atividades terapêuticas; Marinho (1978), citado por
Jahn, também ficou e a estética: preocupada com Herbst, Ogliari e Waltrick
conhecido como ginástica de a graça do corpo” (s-d, s-p), Georges Hebert,
aparelhos, caracterizado (MARINHO, 1978, p. 180 codificou em um
pelas atividades ao ar livre, apud HERBST, OGLIARI e procedimento os
instruções militares e muitas WALTRICK, s-d, s-p). A movimentos aplicados de
inovações técnicas e formação do bom cidadão, Amoros, professor espanhol.
metodológicas nos operário comportado e Seus fundamentos pregavam
exercícios artísticos de solo indivíduo sem vícios é a obrigações tais como:
e, também, na utilização de razão última que se institui destinar diariamente a
aparelhos, que são: cavalo, no treinamento desde a tenra cultura do corpo; produzir
argolas, barras fixas, barras idade até o período maduro sobre o organismo efeitos
paralelas.“ (HERBST, do ser humano. No Brasil bem definidos; desenvolve r
OGLIARI e WALTRICK, s- adotou-se parcela capacidades e habilidade s
d, s-p) significativa de tal ideário. através de treinamento s
naturais, onde cita, caminha r
rápido, pular, trepar, lançar
objetos, defesa.. “Segundo o
autor, Hebert preocupa-se já

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 51


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
naquela época em planejar a
sessão de exercícios,
enfatizando cuidados com
aspectos relacionados, a
idade do executante; sua
constituição física; seu grau
de treinamento; o grau de
dificuldade dos exercícios; o
resultado que se pretende
atingir; e os pontos fracos
que se pretende atingir.”

Em arremate, destaque-se que as correntes de pensamento indicadas acima


não representam únicas teorias aceitas, em grau maior ou menor, pelas academias e
instituições, tanto militares quanto educacionais, no mundo. Autores em diferentes latitudes
participaram da assimilação técnica da Educação Física na busca por seu êxito disciplinar
(científico, governamental) e, por não restarem essenciais à temática deste texto, deixaram
de ser citados. Os estilos, constituídos em amostra de tecido maior, resultam isentos da
simplicidade incluir/integrar/excluir. Não era a preocupação de seus desenvolvimentos o
aspecto “dificuldades” do grupo heterogêneo, pelo que, na utilização e filiação, revela-se o
docente ou treinador, além dos aconselhamentos e miraculosos “orgulhos” estratégicos, em
preditor dos potenciais a serem, por vezes difundidos e noutras instâncias escondidos.

Esboço histórico da “corporeidade” deficiente visual


De longa data, a deficiência é construída socialmente como estigma que
marcará, ao longo do tempo, culturas. Segregar, temer, preconceber e discriminar foram
ordens naturalísticas da “proteção” majoritária. Mais tade, institucionaliza-se, integra-se e,
na derradeira atualidade, inclui-se o outro. O ciclo – da morte inevitável à reabilitação
aceitável – providenciou, para os grupos de deficientes (mentais, físico-motores, auditivos,
visuais) mais ou menos compreendidos no bojo comum da “dessemelhança”, próximas
trajetórias.
Mas, entender os faltos de visão como ícones negativos sobremaneira
“punidos” teologicamente na sua imundície mendicante (religare é vedado ao cego de
nascença) e, novamente, imersos no mundo obscuro vazado graças à diabólica tensão mítica
da cidade arruinada moderna. Não sem razão, as Escrituras Hebraico-Aramaicas (“velho
testamento”), fundo judaico-cristão por séculos dominante, reza: “De modo que Davi disse

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 52


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
naquele dia: “Aquele que golpear os jebuseus estabeleça contato por meio do túnel de água
tanto com os coxos como com os cegos que são odiosos para a alma de Davi!” Por isso é que
se diz: “O cego e o coxo não entrarão na casa [ou Templo].””8 O cego, sim, em primeiro
lugar; depois o aleijado e um séquito de monstros desformes afastados dos levitas. As
tradições do estudo (“Talmude”) saem pouco desta fragilização. Também o Corão islâmico
submetia à grandiosidade divina a meditação sobre diferenças (Al An’am [O Gado], 6ª
surata). Os bois e os humanos hão de jactar-se na sanidade, uma vez que, os acometidos pelo
desencaminhamento (cegueira) deste mundo estarão também assim no porvir. (Al Isrá [O
Caminho Noturno], 17ª surata, v. 72). As fases primitivas das civilizações ocidentais
segmentaram um espectro muito limitado, sob a égide da liderança que decidia acerca da vida
e da morte.
Na Roma antiga, a lei das XII tábuas autorizava que se eliminassem os
sujeitos ao paterfamilias (marcados por “capacidade diminuída”).
A filosofia da eugenia jônica, posteriormente cientificizada, guarda aí seu
nobre jugo filológico – “bem nascer” para explorar toda sorte de vigor. O itinerário formativo
na Grécia antiga incluirá treinamentos fortemente ligados à superação do reino terrestre, com
Platão aludindo a potência do músculo – da república às leis- enquanto superior império
desembocado nos grandiosos jogos, colossal epicentro da vida prazerosa na polis, negação
dos maus tropeços. Vencer é o que importaria nas disputas motoras por cultivos egoístas
sofísticos articulados na futilidade das resistências fisiológicas. “O conceito que Calicles tem
da natureza do homem, e que serve de base à sua teoria do direito do mais forte, baseia-se na
equiparação do bom ao que é agradável, e dá prazer.” (JAEGER, 1995, p. 671)
Citaríamos paráfrases de incontáveis narrações sagradas se fôssemos
trabalhar,com fervor, as origens do indutivo horror pela fealdade invisível, todavia, é bastante
trazer a lume que, nas mesmas feições dos antigos, medievais e, até medida generosa,
renascentistas quiseram “curar” a nascença prejudicial, em papeis quase sempre introduzidos
com o imaginário do repetitivo cego – ele era (e é) bode expiatório não imolado totalmente.
“O cego bem adaptado à sua cegueira deveria ser ‘toca-em-tudo’. Mas essa maneira de agir

8 O idioma original da passagem transmitirá sentido pulsante de indignação contra a retumbante


indignidade, concernente a oferta sacrificial, do não-perfeito, repulsivo lembrete do pecado adâmico.
“‫ֹל ַ ָּו ֵַּ ִֶּ ָּוַַו י אְֹּיִוַ לַכ ־ וֶכ נַוַדדִ רָּד שנֹּר ֶה ָּורִוָּ יב ־ ִרַֹּו ֶה ִָּ ִבִָּּיב ־ ִרַֹּו ֶםּנָּצַּו ִריָּיֶו י ִ ֻסבָּי ֶילַה ־ לִכ הֶהַֹּ םֶמַּב דִ רָּד רֶמאֹּיַו‬
ֹּ ַֹּּ‫”׃ והֶםִ ְי ָּ ־ ַֹּכ י ִס‬.

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 53


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
não é social. [...] se quiser ser aceito, o cego deve conformar-se aos modelos de
comportamentos considerados como normais pela sociedade.” (HENRI, 1958, p. 375 apud
LE BRETON, 2011, pp. 214, 215) A mística desgraça nos corpos frequentemente sabedores
da vergonha histórica haverá de mesclar-se com o disfarce idealizado naqueles hábitos
pensados umbrais da essência mesma – música, previsão, antevisão das barreiras tratadas
mediante fundamentos de perversidade em mutilação (“fazer só o que é esperado”) e
fragmentação (enquadramento, ora do abandono mortificante, ora da repressão velada).
A moral, nos séculos XVII, XVIII e XIX consolidava manuais de
entretenimento literato para generalizar as aparências (riscar com sovelas uma letra do
alfabeto latino em relevo). Depois, liderados por Louis Braille, os jovens da escola parisiense
depositária das vítimas em infortúnio, dispostos a transformar uma metodologia castrense em
seu mundo imagético, mostraram a tessitura desde as pontas dos seus dedos. Aquilo que o
olho não enxergava restou suprido pela institucional (apesar de resistências) manipulação
(pegar com a mão) do registro, o que dava à interface mente-corpo uma flagrância íntima.
O preço dos excepcionais é cobrado, hoje, na sutileza das práticas
integracionistas fingidas, arremedo de inclusão cujo único rigor é economizar. Escolas de
educação peculiar são fechadas e os (as) jovens desvalidos por sociedades hedonistas viram
algo como zumbis anormais, servindo como moldes fracassados, indesejáveis. O século XX
– onde igualdade cede espaço à reprodutibilidade do megavariado – minimiza espaços
geográficos e passa a questionar contingências. O restritivo migra, encampado no semblante
até então, viaja rumo ao sistema coletivo urbano, sujo e bagunçado das localidades.
O problema, até as primeiras décadas dos anos 2000, larga na frente da
benevolência caritativa, operando tecnologias, conhecimentos pouco isolados, em rede veloz
que remove a culpabilidade tanto dos responsáveis pelas pessoas “deficientes” quanto destas.
Agora, juntar dispõe principalmente o desenvolvimento mútuo em função de resgate à
maneira romântica do you make me whole (você me completa). Garantir os direitos das
minorias, por longas eras isoladas, urge na qualidade retroalimentada de liberdade sufragada
em regimes democráticos rotulados sem distinção de raça, compleição física, sexo, etc 9 . O

9
Veja o art. 5, caput, da Constituição brasileira de 1988.

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 54


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
conceito legal de deficiência10 exibe a funcionalização, melhor ainda, utilitarismo seguindo
duas coisas tecnicamente separadas – incapacidade para o trabalho/invalidez e limitação
física. Trata-se de ambígua incerteza nas lacunas que, na sentença do magistrado, virão a ser
copiosamente proclamadas – não menção ao autismo é clássico exemplo demandado ante
tribunais e referendado nos laudos médicos.
A OMS (Organização Mundial da Saúde), imbuída do seu propagandístico
viés filantrópico, apesar da inegável autoridade que tem, é uma de tantas conjecturas
convencionais, nunca unânimes.
Antes de prosseguir, pertinente se faz a elaboração esquemática de uma
diferença nada trivial, a saber, o hiato entre dois acontecimentos, a “deficiência” e a
“incapacitação”, melhor seria falar em impedimento para determinadas ações. Em dois
modelos paradoxais o hermeneuta perceberá, curiosamente, o giro linguístico (linguistic
turn), bem como a dança simbólica dos postulados léxicos.
Inspiração para elaboração da moldura, infra, veio das reflexões costuradas
em Behrisch (2018).
Modelo Social (UPIAS, Modelo da Afirmação
1976 apud BEHRISCH, (CAMERON, 2014 apud
2018) BEHRISCH, 2018)
Deficiência Ausência ou perda Diferenças físicas,
acentuada de parte ou de sensoriais, emocionais e
todo um membro, órgão ou cognitivas, divergência em
função corporal. relação às normas
culturalmente valorizadas da
corporalidade, a serem
admitidas e respeitadas em
seus próprios termos para a
consumação de uma
sociedade plural.
Incapacidade Desvantagem ou restrição Um perfil subjetivo e social
no exercício de atividades, é que, simultaneame nte,
causada por defeito corporal invalida a posição dos
grave e permanente, que indivíduos com deficiência e
limita substancialmente o valida integralmente a
potencial físico da pessoa e, posição daqueles
portanto, a exclui das considerados normais.
atividades sociais rotineiras.

10
Impetrado no decreto federal n. 3.298/1999, art. 3, inc. I: “toda perda ou anormalidade de uma
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho
de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano.”

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 55


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente

Discutir reconhecimento e afirmação de um cenário cultural entrou em uma


segunda fase – orgulho defensável na luta pela garantia da igualdade. São o estruturalis mo
social e a apreciação moral da deficiência – como manifestação do pecado ou superável efeito
do risco – violações críticas de limites. A interpretação do modelo social, como se nota, é
faceta política da minoria.
Diametralmente colidente em face do sistema competente versus
incompetente, autocategorização derivada da identidade social presume fortes indícios para
o acoplamento estrutural da deficiência genérica e, particularmente, para a invisualidade –
neologismo conglobante desde olhar em formato de vulto nítido pela neblina ofuscado até
ablepsia total. Não se pode esconder a constelação sociopolítica trazida no cuidado e na
medicina das faltas. Para questionar se, exatamente, os antitípicos indicadores baseados em
visibilidade e invisibilidade são resultados das pressões e limitações (des)construídas ao
longo do “esquecimento” arquetípico, lança-se mão da introspecção. (vide o artigo de
HUGHES e PATERSON, 1997 e o livro de DENIS, 1980).
A definição de deficiência visual é plurissignificativa, supera o clássico fulcro
bidimensional reiterado em numerosas pesquisas– (1) cegueira e (2) baixa visão – tido, neste
texto, como simplista reducionismo nitidamente discriminatório. Nem sempre a querela é
radical, ver e não ver ziguezagueiam juntos no fronteiriço “ver pouco”, mas quanto? A
correta esmigalhadura conceptual fixará, na classificação de Natalie Barraga (1985 apud
LINDAO e RODRÍGUEZ, s-d, p. 5), um quadro sinóptico abaixo desenhado:
CEGOS São aqueles que percebem apenas
luminosidade sem vultos ou,
diferentemente, que não apresentam
sensibilidade nos olhos. Na educação,
aprendem através do sistema Braille e não
conseguem utilizar a visão para extrair dos
objetos uma cognição intelectual, embora a
percepção de luz auxilie nos processos de
orientação e mobilidade.
QUASE-CEGOS Têm maior potencial visual, notando
luminosidade, vultos, contrastes e algumas
cores.
PESSOAS COM BAIXA VISÃO Têm visão subnormal profunda com pouco
resíduo sensorial, reconhecendo palavras e
objetos a poucos centímetros.
AMBLIOPES São os que necessitam, devido às

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
complicações no desempenho escolar, de
iluminação e materiais adaptados, recursos
ópticos e diversas tecnologias assistivas.

Quaisquer gradações taxadas sob rubrica “incapacidade de ver bem”


artificializam e normatizam as razões sociais de nocividade, fraqueza. O preconceito –
doutrina dogmática intransigente – torna o diferente um anormal axiologicamente infer ior,
daí o inválido residir nas legislações previdenciárias até nossos dias, só para citar o caso
emblemático do dever-ser jurídico. Os estigmas abomináveis, culpados, tirânicos, tribais,
raciais, etc dissecam proximidades, focando na lesão exposta pelo outro o sintoma da
monstruosidade distante. Solidariedade mecânica dos indivíduos como minúsculos nichos
privados, levados indiferentes pela cronologia, cede oxigenação à orgânica imposição
(contrato) conveniente para certos mentores potentes da projeção social. Os homens, como
tijolos, serão diferenciados e, inevitavelmente, surgem defeitos na fabricação (educação,
nascimento, ferida) de muitas peças, mantidas apartadas biologicamente como lembrete do
trágico. Trágico é diversidade funcional, ameaça sem precedentes. O “ceguinho” cresce
simbolicamente como negação de si mesmo, ele é na família um objeto arquivado vivendo
sua ignominiosa presença, superprotegido e vulnerabilizador. Não por acaso se fala,
frequentemente, em “peso” dos inúteis e animais que valem mais do que muita gente (o
filósofo Tom Regan escrupulosamente prefere o reino externo ao refugo antropológico).
Afinal, mudou pouquíssima coisa, durante milênios, na percepção leiga do deficiente visual.
A Corte de D. Pedro II em suas iniciativas reformadoras do ensino, trata a
Educação Física sem emancipá- la, ela é uma parte impositiva do programa escolar e engessa
o currículo. 160 anos passados (1858-2018), alegam-se desmotivação em preparo reduzido
para tornar excluídos do campo (ou quadra) os (as) alunos(as) considerados(as) sem perfil
desportivo, inaptos para integrar a seleta turma que saboreia as atividades do ”lazer”
(lúdicas). Que a passividade e a fraqueza ligada à dificuldade de ver é preconceito se
comprova após constatar-se presença de universitários com diversidade funcional óptica
(MARQUES e REIS, 2018).
Há possibilidades efetivas, embora dificultadas pelas características
específicas de cada um, de se contar uma história diferente.
[...] o acadêmico fez uma breve apresentação de sua deficiência. W.F.S
nasceu com baixa visão [...]. quando ele completou 15 anos de idade foi
quando ocorreu a perda total da visão por causa de uma catarata [...]. A

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
partir de então, o mesmo passou por um momento de depressão. [...] W.F.S
foi perdendo o sentido de viver e disse que com 16 anos começou a praticar
atletismo e futebol de 5 e foi campeão em algumas competições. Assim, o
entrevistado se questionou: “poxa se uma pessoa cega pode praticar esporte
por que ela não pode cursar educação física numa universidade? Foi ai que
surgiu esse sonho de ser um professor de educação física”. (MARQUES e
REIS, 2018, p. 367)

Finda a Segunda Guerra Mundial, explodem as reabilitações de soldados


feridos (entre eles os cegos) e habilitação (estimulação precoce, atividades da vida diária)
para quem nasceu com a peja ou infectou-se cedo com sequelas de enfermidades incuráve is
ou de tratamento atrasado à época. Estudos empíricos sugerem que a formação de
autoconceitos é mais instável para pessoas com deficiência. O debate sobre a “identidade
deficiente” reside em formas coletivas que lidam, na Psicologia da Readmissão social, com
holísticos processamentos ativos, emocionais, sobretudo cognitivos. Apreender implicações
familiares e biográficas (eventos críticos da vida) podem comprometer a visão dos eventos e
desorganizar a visão do mundo nas transações estatutárias (como o matrimônio e o parto)
pelas quais indubitavelmente o fluído existencial circula. Há uma supervalorização do
inaudito terror perante formas de se querer e se fazer taxadas, forçosamente medicalizadas
pelos tutores do sujeito de direitos limitados, retrato quase-completo da antropologia
mórbida. Não obstante os avanços até a primeira metade do século XX, sintomatologia paira
sobre o modelo biopsicossocial dos problemas de desempenho pessoais. Ora, “[...] a
deficiência tornou-se cada vez mais behaviorista, sociológica e teórica, incluindo níveis
(Budde, 1988; Ludde & Strubreither, 2015).” (BEHRISCH, 2018, p. 4) O corpo cego é
cabeça de Jano amarrada psicologicamente no comprometimento, afetado pela tristeza
melancólica da subdisciplina transversal da manipulação exclusiva mente sofrível, suposição
dos não-deficientes. Diferentemente das uniformizações que reivindicam uma “visualidade ”
mística, quase tântrica, para o ente (PORTO, 2002), é certo que a modernidade trouxe, ipso
facto, uma descorporalização do homem (GONÇALVES, 1997, p. 17), mormente, do Homo
caecus11 . “Não queremos a deficiência”, ela vai contra a natureza (assim como os gêmeos
são deterioração obliterada em certas tribos africanas) tranquila das coisas. “O modelo trágico
pessoal é a expressão cultural do modelo médico individual e se materializa através da

11
Em latim, curiosamente, a palavra “caecus” designa tanto o cego quanto aquele que está “sem
saída” ou encurralado por algo intransponível. No imaginário popular e na ficção distópica (Platão
no Livro VII da REPÚBLICA e Saramago em Ensaio sobre a Cegueira testificam), é falto de lucidez
quem não vê.

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 58


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
reciclagem de mensagens disciplinadoras, enquanto a o desgaste passa a ser valorizado como
mancha do infortúnio.” (CAMERON, 2014, p. 117 apud BEHRISCH, 2018, p. 7) Seu
incômodo – a eterna dependência – nem é o principal pedregulho nos calçados de viabilidade
plena (gozo e fruição hedonista), mas a constante lembrança da possível queda inafastá ve l
dos pesadelos – e sonhos – obscuros, indizíveis no fechamento monástico da cadeia, imitação
da caverna12 .
Passadas 7 décadas, federações autônomas fazem migrar, da periferia ao
centro, o desportista “paciente”. Como sói acontecer nos progressos instrutivos, os debates
sistematizam diretrizes repartidas, focadas no eminente cindir teórico-prático. Nas atividades
práticas, o entrozamento é difícil para o não-concreto. O jovem deficiente visual sentirá maior
peso em submeter-se às gestuais reproduções – imitação do outro – segmentadas em
treinamento e resposta precisa ao técnico servir burocrático do esquema disciplinar.
As incapacidades alegadas ensejam quebra do senso comum. São mitologias
profundas, criadas à imagem do medo vidente – da vilania negra [o pirata sem um olho] à
benevolência ingênua [obediente] – que genitores e mestres, enlutados pelo sepulcro do
filho/pupilo “perdido”, forjam para o bloqueio, involuntário, de alternativas à negação do
defectológico (MARQUES e REIS, 2018) O atestado de fracasso, frequentemente emitido
quando o neonato é “viciado” por sua condição objetiva (ser visualmente improvido),
significa mediar subdesenvolvimento, interdito possessório da vida existenc ia l,
peremptoriamente lesão sem reversibilidade.
Como se fosse vergonhoso – e as notícias rotineiras na imprensa, com
manchetes sensacionalistas velam isso – um “inválido” bem-sucedido no mundo dos
“válidos” frustrados profissional, acadêmica e/ou afetivamente, um cego (ou quase-cego) é
criatura híbrida. “Ou ele é considerado como incapaz ou é visto como alguém extraordinár io
que supera todas as suas “impossibilidades” para tornar-se uma pessoa com autonomia,
quando na realidade, a pessoa com deficiência é um ser humano que se adaptou às condições
[...] impostas”. (ROCHA, 2018, p. 26) Aqui fica cândida a reorganização sensorial a exigir
caminhos mais equânimes para recreação, jogos, em suma, Educação Corporal do homem
com diversidade funcional visual.

12
Victor Hugo, profetizando, retrata loucamente a simbiose que o interior solitário lamentará sem
deixar de antever a proximidade (por isso Quasimodo aventura-se em busca do amor cigano) da
indiferença. (em Notre-Dame de Paris, 1831).

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 59


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
Receitas prontas seriam modismos reducionistas. É na construção que se
medem as quantidades e se adquirem matérias-primas suficientes. Na mesma maneira, é com
o espírito fecundo do aceitar sem reservas discriminatórias, historicamente sutis ou
inconfundíveis na aspereza, que se naturalizam respeito e altruísmo – no esporte, na escola,
na conjuntura vindoura da companhia humana megadiversa.

CONCLUSÃO PROVISÓRIA: O duplo grau de representação – vidente/não vidente


no imaginário pedagógico contemporâneo
Os Estados organizaram-se, no auge da crise feudal, com escopo de garantir
uma soberania, um povo identificado com seu território. Antes, porém, a tutela de proteção
(‘contrato social’) exibiu cláusulas menos arraigadas, flexíveis.
Sobre as populações com deficiência, o período quase integral da história foi
inglório (vide tópico supra). Era comum, nos grandes impérios da antiguidade, serem mortos
ou expostos às feras os recém-nascidos que apresentavam anormalias ou aparência incomum.
O tempo, porém, serviu como maquinador das intenções piedosas. Citar a Idade Moderna
Iluminista é instrutivo – foi nessa época que os cegos, aleijados, surdos e débeis passaram a
“sobreviver por afeto humanitário”, mas, até depois de se profissionalizarem, já nos séculos
XVIII, XIX e XX, não se tornaram preeminentes absolutos das próprias escolhas.
A trajetória do indivíduo com deficiência é marcada por preconceitos e
lutas em favor do direito à cidadania, de acordo com cada cultura dentro
das Sociedades. Na história da humanidade, a imagem que muitos
deficientes carregavam era a imagem de deformação do corpo e da mente.
Tal imagem denunciava a imperfeição humana (FERNANDES, 2011).
(MORAIS, 2017, p. 10)
A luz, sinônimo festivo de alegria, brotaria das “janelas” oculares para o
horizonte, ocaso das tristes trevas. Paralelamente, noutro continente, o não-desempenho
convencional do olho vago, a saber, sua especialidade, era subsumida do caráter mágico que
tinham os cegos13 . Visão além do físico, oponível ao aberrante, mexe com imaginários.
Nações organizadas, somente na década inaugural do século XXI, apesar das tratativas
antecedentes, iniciaram o que há de se nominar “libertação” dos diferentes. Desde recentes
mudanças legislativas na órbita internacional, a cidadania estendeu-se, alcançando quem
outrora fora reputado inválido. Talvez sejam os deficientes visuais, dentre todos os outros,

13
Passagem atribuída a Cícero menciona o ato de flagelo que levou Demócrito, filósofo grego, a “se
cegar” em nome do amor à sabedoria (filosofia).

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
os menos favorecidos na aferição de potencialidades e os mais vitimados pela negação
social14 .
“Melhorar a qualidade de vida e a inclusão de pessoas com deficiência visual
é um desafio.” Passos continua: “As pessoas têm direito à educação e participação na
sociedade, o estado brasileiro ratificou em 2008 a Convenção Internacional sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo, assinado em Nova York, em 2007”.
(2017, p. 12) A autora descreve deficiência como característica de um “[...] individuo incapaz
em função do seu meio, logo encontrando diversas dificuldades do acesso aos serviços que
outras pessoas não possuem”. (PASSOS, 2017, p. 12) Sem embargo, as disfunções são
inegáveis, contudo, o polo de tensão não deve permanecer na personalidade das deficiênc ias,
antes, no grande número de obstáculos, mormente circunstanciais e atitudinais, que os outros
(“normais”) impõem. “É errado ver na deficiência somente a deficiência. Com isso, não se
quer dizer que não existam conhecimentos específicos à educação das pessoas cegas; no
entanto, os conhecimentos e as aprendizagens especiais devem estar juntas da educação e da
aprendizagem comum.” (LEAL, 2013, p. 148)
O preconceito alheio é uma questão psicológica, a ser enfrentada como
superação das fragilidades humanas. (BENITO, GONZÁLEZ e VEIGA (coords), 2003) A
corpórea figura da “anormalidade” pode restar, também, valorada na falta de hábitos
saudáveis priorizados por cuidados estéticos e assunção do corpo apto a fazer atividades
físicas. (ERNST e NASÁRIO, 2011) É na superação dos limites que residem oportunidades
para o êxito na vida privada e social conforme identificação do “eu” e discipliname nto
simbólico existencial.
Existem métodos para locomoção e exercício de tarefas quotidianas aplicáve is
a indivíduos sem visão completa, recursos fundamentais para a autonomia e emancipaçã o
pessoais. “As técnicas de Orientação e Mobilidade proporcionam ao cego autonomia na
realização de suas atividades diárias, sendo uma área da educação especial destinada à
reabilitação social e à educação das pessoas com deficiência visual.” (ASSIS, 2018, p. 44)
Contudo, esse avanço é seguido por um retorno à “medicalização” (deficiência como

14 Em virtude do elevado número, segundo estatísticas. É admirável que milhões de homens, mulheres e crianças
fiquem relegados ao segundo plano numa democracia continental, como o Brasil. “Através dos dados da
Fundação Dorina Nowill para cegos, cerca de 45,6 milhõ es de brasileiros se declaram ter algum tipo de
deficiência, isso seria equivalente a 23,9% da população do Brasil. São pessoas com dificuldade de enxergar,
ouvir, locomover-se ou alguma deficiência física ou mental. Dentre todas as deficiências, a mais de clarada foi
a visual com 3,5% da população.” (PASSOS, 2017, p. 13, itálico acrescentado).

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
enfermidade) e à “romantização” (deficiente como coitadinho) gerado no seio dos raciocínios
preconceituosos (ainda) consagrados no imaginário popular.
Felizmente, o ciclo se tem encerrado. Estudantes com necessidades
educacionais especiais chegaram ao mundo do ensino superior, o desporto paraolímp ico
recebe cobertura midiática, produtos e serviços “adaptados” passam a compor o catálogo de
estabelecimentos comerciais. Ora, a luta árdua pelo direito à diferença rende frutos dignos.
(MÁRQUEZ-RAMÍREZ, 2015; MORAIS, 2017) A instrução é marco do útil
desenvolvimento e mútua colaboração para videntes, cegos e portadores de visão subnormal.
A educação inclusiva diz respeito à formação da mente, através dos
treinamentos e da habilitação profissional. Engloba, também, a oferta de articuladas políticas
em favor da acessibilidade. O corpo e a percepção (autoimagem) do deficiente visual se
complementam. (DIAS, 2010)
Logo, a principal inclusão é social15 .
As responsabilidades e desejos das pessoas com diversidade funcional16 não
são, implicitamente, menos significativas que as dos outros cidadãos, suas “necessidades”
são, em apertada síntese, levar uma vida saudável e coexistir em harmonia consigo e com o
mundo. A leitura de personalidades, limites inerentes a qualquer sujeito e distinções
peculiares representa diversidade delegada à totalidade dos seres humanos. O atendime nto
processa, ao invés de obrigatoriedade, compromisso com o próximo.
Intervenções nos parâmetros curriculares e na adaptação de materia is
esbarram no problemático senso compreensivo dos professores (FIGUEIREDO e KATO,
2015). Refletir acerca das lacunas no aprendizado de deficientes visuais equivale a interrogar
sobre o mau preparo docente no tratamento igualitário dispensável à classe discente.
Entretanto, a voz participativa de ambos – mestres e estudantes – parece não ser ouvida no
mesmo patamar, os lugares de fala acham-se deslocados. Assim, surge a necessidade de
resgate, rompimento com o tradicional discurso autorizado e reconhecimento das partes
constitutivas incluídas no todo escolas (intra e extramuros).

15
Série de contexturas que, no entender de Morais (2017, p. 15) é “processo de ajuste mútuo, onde
cabe à pessoa com deficiência manifestar-se com relação a seus desejos e necessidades e à sociedade,
a implementação dos ajustes e providências necessárias que a ela possibilitem o acesso e a
convivência no espaço comum, não segregado (ARANHA, 2001, p.19 apud FERNANDES, 2011,
p.141.”
16
O termo “diversidade funcional” foi cunhado em 2004.

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
Conviver com as diferenças, eis o caminho (SILVA, 2004; RAMOS, 2007;
BRAGANÇA e PARKER (orgs), 2009; FIDELIS, MANRICH e NUNES, 2017).
Não bastará, como muito se propala, teorizar sobre a compensação em
defectologia, como se uma falta de visão, audição ou pleno intelecto repercutisse no
aprimoramento, obrigatório e simultâneo, de outra faceta sensorial. Qualquer prejuízo
orgânico serviria de incentivo ao melhor proveito das remanescentes tarefas corporais.
Extrapolada é a plasticidade, consagrando o mito do sobreviver solitário não atrelado,
necessariamente, a correções materializadas, contudo centrado fortemente em reminiscênc ias
seletivas. Dá o perfil social mais relevo à quantificação de experiências, voltando ao
empirismo, em detrimento do cuidado e, mesmo, da autonomia para se construírem os
próprios caminhos sem expectativas previamente mapeadas na privação do sentido que
haverá de ser imediatamente regenerado em outra parte da carne. (NUEMBERG, 2008)
Rememorando o lúdico invento do fogo mensageiro, castigado eternamente, pensar que o
fígado prometeico, devorado à noite pelo abutre, fosse convertido em outra coisa na manhã
seguinte é supor, também, que mais vale a perda temporária do órgão, sendo a parte lesada
substituída por outra coisa, uma degenerescência em troca da ambiciosa reformulação.
Porém, quem não tiver o mitológico pedaço glandular – valentia, valor – tampouco é
merecedor da magia resgatadora, sofrendo a pena do abutre (morte sem possuir-se
totalmente, ou conhecer-se pela razão sensível, socraticamente).
Uma verificação mais densa permite explorar critérios ainda pouco
trabalhados, em virtude do contexto segregador, que não podem ser isolados. Talvez os
prognósticos de incapacidade – relativa e absoluta – em face da normalidade organizada na
vinculação não fiquem restritos à subtração, como pensava Vigotski17 . A compreensão
sociogenética (dos pais, professores, “cuidadores”) de aprendizagem é discutida ricamente,

17
Citado por Nuemberg (2008, p. 309) nas seguintes passagens: “Jamás obtendremos por el método
de resta la psicología de niño ciego, si la psicología del vidente restamos la percepción visual y todo
lo que está vinculado a ella. Exactamente del mismo modo, el niño sordo no es un niño normal menos
el oído y el lenguaje. (...) Así como el niño en cada etapa del desarrollo, em cada una de su fases
presenta uma peculiaridad cuantitativa, uma estructura específica del organismo y de la personalidad,
de igual manera el niño deficiente presenta un tipo de desarrollo cualitativamente distinto, peculiar
(Vygotski, 1997a, p. 12).”
“El niño ciego o sordo puede lograr en el desarrollo lo mismo que el normal, pero los niños con
defecto lo logran de distinto modo, por un camino distinto, con otros medios, y para el pedagogo es
importante conocer la peculiaridad del camino por el cual debe conducir al niño (Vygotski, 1997a, p.
17).”

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
mas sua massificação massificada redimensionou os papeis subjetivos. O biológico no social,
penetrando a carga histórica das unidades linguísticas, qualificadas segundo estruturas do
desenvolvimento psicofisiológico reificado nas ancestrais dimensões solipsísticas. Quando
distingue o bielorrusso deficiência primária da secundária (a primeira é biológica baseada
nos no cérebro, em genes, e a segunda, social, fundada em interações) permite,
acertadamente, filtrar o universalmente aceito como “peja, defeito” e o culturalme nte
infringido problema orgânico da incompletude. Se é no próprio funcionamento das pessoas
que está o erro natural de limitar (malformação), estar-se-á transfundindo, indiretamente, a
culpa do meio para uma vítima que adaptará seu particular fardo às pessoas consideradas
normais. As consequências de não-pertença e falibilidade, se forem trazidas à baila, correm
sério risco de transformar razões egoístas (maximização da homogeneidade) em política
aceitável (a cura pela negação do que é incongruente). Evidentemente, seriam necessários
dados empíricos para sustentar tais colocações, algo que exigirá profundidade e coleta
sistemática de dados e novas informações. A favor de Vigotsky, cabe referir sua adesão ao
tipo educacional integracionista, visto que, para o autor, as crianças deficientes devem ser
levadas a aprender sem artificiais seguranças emocionais, técnicas e lugares excessivame nte
“aconchegantes” oponíveis à vida real. Sem dúvidas, o trauma do convívio é inerente ao
romper do isolamento solitário, forjando mentes e homens dirigidos pelo e para o mundo
factual, caótico, inseguro. Não obstante a utopia idealizada no mundo respeitador das
diversidades, seria preferível que os pequenos “jardins” do acolhimento especial (no sentido
de personalizado, multi- inteligente) viessem, algum dia, a formar regra – pois hoje são raras
exceções. Não que a vida largue sua dureza em busca do puro néctar, todavia que os homens
ganhem leniência em outreidade. Por enquanto, vale sustentar que toda descoberta
(“verdade”) é provisória, na pedagogia ou em qualquer ciência, tornando anacrônicos os
argumentos propulsores da supremacia estilística e ritual dos cultores amplame nte
mencionados na forma de autoridades legendárias, conhecedores invulgares. Por expressivas
que venham a ser as contribuições do cientista, estas não revestem absolutismo dogmático
(“verdade”) e, se repetidas acriticamente, perdem coesão.
O saber lança mão de plataformas fisiológico-sensoriais, também e
principalmente insurgindo tessituras das interações sociais. Maximizar a importância de um
elemento em prejuízo dos restantes convalida suspeitas sem ratificação.
É questionável, portanto, a noção, tão repetida nos manuais sobre a
intervenção na deficiência visual (Dias, 1998; Rocha, 1987; Scholl, 1983),

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 64


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
de que 80% de nosso conhecimento se baseiam na visão. Na realidade, o
conhecimento não é mero produto dos órgãos sensoriais, embora estes
possibilitem vias de acesso ao mundo. O conhecimento resulta de um
processo de apropriação que se realiza nas/pelas relações sociais.
(NUEMBERG, 2008, p. 311)
[...] De acordo com Kozulin (1990), “Lo que el niño com visión intacta
capta mediante un acto perceptivo inmediato el niño ciego lo entiende
mediante la imaginación y la actividad combinatoria de la mente” (p. 194).
(NUEMBERG, 2008, p. 313)
Na mesma linha, é oportuno transcrever os excertos:
Assim, a capacidade de ver não corresponde ao potencial de visão.
Enxergamos o mundo através do corpo, através das inscrições que advêm
do Outro, da mediação que este possibilita entre nós, os objetos e as
pessoas, através da linguagem. Nossa visão é sempre proporcionada pelo
Outro. Certamente não estamos propondo que se possa ter visão sem
condições orgânicas para isso, mas querendo demonstrar que a visibilidade
das coisas não se reduz ao aspecto oftalmológico propriamente dito, mas a
uma apropriação delas perpassada por uma história pessoal, que se articula
desde o desejo do Outro, fundador do sujeito. Ilustremos isso com a clínica:
(BALESTRIN, 2001, p. 2)
Nó de tendências ou de forças podemos pensar como aquilo que é a
constituição da subjetividade e que permeia toda a questão de se poder
pensar um olhar virtual no cego. É um desprender-se do biológico, do corpo
Real, para pensar numa totalidade de corpo que olha, num intrincamento
pulsional que erotiza o corpo para contemplar um virtual olhar, para trazer
a potência implícita naquilo que a linguagem pode produzir num corpo. O
olhar de que falamos não é um olhar mágico; não é uma miragem, uma
mirada. (BALESTRIN, 2001, p. 31)
À medida que o tom inclusivo das representações sociais cria situações
propícias, orientações além da técnica estabelecerão processo de independência, com
habilitação (ou reabilitação) para a vida autossuficiente, graças a capacitação e ruptura da
superproteção, que é adversidade vencida com o suporte motivacional e material
correspondente a necessidades paulatinas. Os conceitos “doença”, “deficiência” e
“incapacidade são controversos. O nível de comprometimento mistura-se à opressão social
das modelagens “supremas” que contrastam com as minorias “trágicas” dos deficientes a sere
(re)instalado na separação entre dominância “habilitada” e inferioridade dos exprobrados.
Resta salientar, no traço do alhures mencionado, que, para fins
integradores/inclusivos substanciais, TODAS as circunstâncias “especiais” – cegueira, baixa
visão, surdez, etc – fazem parte da multiplicidade humana, não podem ser rotuladas e
classificadas fora do próprio resultado: a heterogeneidade. Ninguém é menos capaz de
reivindicar e trilhar seu caminho quando lhe são facultados respeito, espaço e
desenvolvimento salutar, condicionando superação de barreiras e valorização dos potenciais,
apesar dos limites.

FREITAS, R. F.; ROCHA, A. 65


“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
apesar (ou à luz) da sociedade excludente
Iniciativas pioneiras no âmbito das organizações privadas18 , dos entes
públicos e das universidades autorizam nova concepção benéfica das transformações
ocorridas Exemplo dessa modificação gradual no pensamento, sob ótica acadêmica, é o
Núcleo de Acessibilidade19 – NUARC, vinculado à Universidade Regional do Cariri-URCA,
em funcionamento desde 2016. Trata-se de órgão responsável por acolher e facilitar a
adaptação dos currículos e programas de graduação e pós-graduação ao grande número de
estudantes matriculados nos cursos e que apresentam demandas específicas. Pouco a pouco,
a tantas vezes declarada emancipação do diferente sai das páginas legais e finca raízes no
cotidiano dos milhões de deficientes – visuais, auditivos, intelectuais, múltiplos – e, por
extensão, de cada um, nas suas particularidades e sensibilidades.

CONCLUSÃO

Variados fatores internos e externos exercem influência nos meios pelos quais o
organismo ajusta suas funções para melhor adaptação ao meio ambiente no qual está inserido.
Pode-se enfatizar que fatores reguladores externos decorrentes do estilo de vida
contemporâneo influenciam de maneira acentuada no mecanismo biológico. Sob este prisma,
notou-se que o exercício físico é importante na regulação dos ritmos circadianos, por afetar

18
São inúmeros os centros especializados no Brasil e no exterior, que subsistem, lidando com poucos
recursos técnicos e financiamento limitado. Na Venezuela, país que enfrenta severa crise econômica,
a comoção com uma jovem cega assegurou providências capazes de beneficiar deficientes visuais na
cidade de Turén, município com aproximadamente 70.000 habitantes localizado no estado
Portuguesa. “El equipo de trabajo de la Fundación ‘Sueños Especiales de Bolívar’ (FUNDASEB) fue
conformado en el mes de junio del año 2017 por la profesora Nayibe Urbina, jefa del Municipio
Escolar Integrado Turén, con personal adscrito a otras instituciones. Para el momento las
instalaciones destinadas a la fundación estaban siendo reparadas por lo que todo el equipo se une a
estas labores con el propósito de agilizar el proceso. Una vez terminada las reparaciones nos
tomamos un descanso durante el mes de agosto, incorporándonos a las instalaciones el día lunes 18
de septiembre del mismo año.” (CIEGOSVENEZUELA.COM, 2018, itálico acrescentado)
19
“O Núcleo de Acessibilidade tem proposta inclusiva, tendo em vista o considerável número de
alunos com matrícula regular de deficientes físicos, visuais e auditivos, sendo somente em 2015, 27
alunos. O objetivo principal é promover uma universidade mais inclusiva, que possibilite duas
práticas a condições de acesso, permanência e participação do aluno com deficiência. A meta é
promover também a participação de docentes e discentes em busca da promoção de acessibilidade
dentro da Universidade, favorecendo aos universitários, a garantia de cursar as disciplinas em
igualdade de condição, acesso e possibilidade com os demais estudantes”. (UNIVERSIDADE
REGIONAL DO CARIRI, 2016)

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apesar (ou à luz) da sociedade excludente
a expressão dos genes CLOCK no músculo esquelético. Assim, pode-se dizer que o exercício
físico é um estimulo ao organismo que contribue para sua regulação tanto em animais quanto
em seres humanos e que atua na regulação dos genes relógio. Por outro lado, é fundame nta l
que sejam feitos mais estudos relacionados ao referido assunto, a fim de trazer luz à
comunidade científica sobre a crescente importância de se buscar alternativas para amortecer
os principais problemas de saúde oriundos do modo de vida da sociedade por meio do
exercício físico e seus efeitos sobre a expressão gênica.

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“O OLHAR QUE NÃO ME ALCANÇA”: projeção corpórea do deficiente visual
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