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Sinopse
Joãozinho era um menino amável que adorava ajudar os outros. Por possuir tantas
qualidades, seus pais e avós projetaram nele sonhos e funções. Buscando agradar a todos,
já nem sabia mais a quem atender primeiro. Passou a ter cada vez menos tempo de brincar
e de ser uma criança como qualquer outra. Foi então que uma grande dor de cabeça se
abateu sobre ele. O encontro com a história de Chenrezig, o Buda da Compaixão, trará
para Joãozinho e sua família a chave da sua cura e a redescoberta da infância.
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Joãozinho dos mil dons
Ângela Hofmann
Joãozinho era o único filho de Lúcia e Benjamim. Mesmo não sendo o único neto, todos os
olhares se esticavam para ele. E cuidados também. Foi aprendendo a amar e cuidar, assim como
Quando via um ser passando dificuldade, por mais pequenino que fosse, Joãozinho sentia em
Mas era isso mesmo que ele estava fazendo: prestando atenção nos colegas. Talvez por causa
disso é que tinha muitos amigos. Na sala de aula todos se davam bem com ele, porque ele se dava
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Joãozinho ficava intrigado com aquela nova palavra.
– Compassivo é quem tem “compaixão”. Compaixão é tomar uma atitude para o bem do outro
– respondia a avó.
Vó Lina estava certa. Joãozinho, de pequeno, só tinha o tamanho. Seu coração era enorme, tão
grande que cabiam nele todos os bichinhos e amigos que encontrava. Nele cabia o mundo inteiro.
Mas o pai, a mãe, o avô e a avó esperavam mais daquele pequeno. Queriam que fosse um
Quando alguém perguntava a ele o que queria ser quando crescer, acontecia a maior confusão
na sua cabeça:
E seria sempre o aluno nota dez para que todos ficassem felizes.
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Joãozinho mirava, de vez em quando, na direção dos colegas que brincavam na praça do outro
A resposta não sabia. O fato é que as crianças continuavam lá: saltitando, brincando, jogando
bola, correndo livres, ouvindo e criando histórias. Não entendia a liberdade daqueles meninos. E
Joãozinho ficou muito cansado. Aquele cansaço foi virando uma tristeza. Aquela tristeza
virando uma brabeza. Uma brabeza que foi aumentando, aumentando... Até que se transformou
Os adultos levaram um bruto susto. Nunca tinha ouvido um 'piu', nenhum 'ai' vindo dele.
Mas isso foi apenas o começo. Depois uma grande dor de cabeça se abateu sobre ele.
Lúcia chamou Benjamim e os dois levaram o filho para tudo que foi médico. Examinaram
daqui, examinaram de lá. Os médicos não entendiam o motivo e nem sabiam a cura para tamanha
dor de menino.
– O que poderia estar acontecendo com ele? – toda a família ficava se perguntando.
Quando a dor diminuía conseguia ir à escola. Mas se a dor estava forte, era uma falta em cima
da outra. Numa dessas aliviadas, Joãozinho foi à aula. Era dia de fazer empréstimo de livro na
biblioteca. Lá foi ele. Já estava segurando uma pilha de livros quando, não suportando o peso,
deixou-os despencar. Um deles caiu aberto, revelando uma estranha figura. A imagem era de um
ser que parecia meio humano e meio fantástico. E com muitos, mas muitos braços. E onze
cabeças.
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– Quem será? – perguntou-se – O nome dele é Tchen... Tchen - re - zig. Tchenrezig! E quer
Começou a ler ali mesmo, sentado no chão da biblioteca. Mas não conseguiu terminar. Levou-
o para casa.
No dia seguinte, pediu a seus pais que lhe contassem a história daquele ser fantástico. Naquele
sábado pela manhã, Lúcia o chamou no sofá da sala e o acomodou em seus braços. Benjamim
pegou o livro.
– Pai, eu parei de ler onde diz que Tchenrezig é chamado de “olhos que veem”. Por que será
Tchenrezig é um Buda que consegue ajudar as pessoas exatamente no que elas precisam. Por
isso seu nome quer dizer “olhos que veem”. Um dia Tchenrezig prometeu ao grande Buda
Amitaba que não descansaria enquanto não tivesse ajudado a todos os seres.
Joãozinho começou a imaginar que ele mesmo era Tchenrezig, correndo de um lado para o
E a história seguia...
Houve um momento que Tchenrezig pensou que tinha completado sua tarefa. Porém, quando
olhou ao redor, viu que ainda havia exatamente o mesmo número de seres necessitando de ajuda –
nem mais e nem menos. Percebendo que o sofrimento não havia diminuído, apesar de todo
esforço que fizera, ele sentiu tristeza e desânimo. Pensou consigo mesmo: “Nunca chegará o
Assim, por ter duvidado, Tchenrezig falhou na sua intenção de ajudar os seres. Por quebrar
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sua promessa, sua cabeça rompeu-se e seu corpo dividiu-se em mil pedaços.
– O que está acontecendo, querido? Vamos terminar de contar a história. Espere mais um
pouco.
Os pais arregalaram os olhos quando perceberam a pele do menino rachando. Aliás, não só a
quebrada e os mil pedaços de seu corpo, juntando-os em um só. Agora onze cabeças e mil braços
Lúcia e Benjamim não sabiam por onde começar, mas recolheram com cuidado aqueles cacos
espalhados. Assim como Tchenrezig, Joãozinho foi sendo reconstruído. Agora com onze cabeças e
com tantos braços e dons quanto ele. O menino sentiu-se mais forte do que nunca. Poderia usar
seus mil dons. Mas agora faria apenas o que estivesse a seu alcance. Porém não conseguia se
– Oh... O quê? Hum... – acordou num pulo e procurou: – Onde estão meus mil braços com mil
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Apalpou-se e percebeu a mesma cabeça, tronco, dois braços, duas pernas. Enfim, seu corpo
continuava igual como antes. Não havia explodido. Mas a dor havia sumido.
– Não precisam contar a história de novo, eu escutei tudo. Agora sei que tenho os mil braços
de Tchenrezig.
– Por que você quer mil braços, Joãozinho? – Lúcia e Benjamim olharam o filho bem de
perto. E o abraçaram.
Os pais afrouxaram o abraço. O menino saltou e olhou pela janela. Deixou que a rua lhe
chamasse dessa vez. A praça esperava por ele nos tons de verão e amigos para brincar.
Na praça, bastante espaço para Tchenrezig com seus mil braços. E para Joãozinho dos mil
dons.
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