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FALCAO ALMEIDA, Maurin. A teoria econômica clássica do tributo.

Revista de Direito
Empresarial, Curitiba, v. 9, n. 3, p. 45-67, set./dez., 2012.

“ Este artigo tem o objetivo de descrever a teoria econômica da tributação a partir da


emergência do intervencionismo estatal. Para isso, utiliza como suporte as funções
intervencionistas clássicas do Estado, definidas como alocativa, redistributiva e
estabilizadora. Em consequência, o texto destaca a geração de externalidades
negativas pelo mercado, em função da sua incapacidade ou do seu desinteresse no
fornecimento de bens públicos, o que exige uma ação do Estado no sentido de
remediar essas falhas por meio das externalidades positivas. Em face ainda, da falha
do mercado em promover uma correta redistribuição da riqueza, é que o Estado
intervém no sentido de promover essa redistribuição, de forma horizontal e vertical,
como se verá. ”(p.1).

Esse fichamento vem com o objetivo de abordar os conhecimentos apreendidos do


artigo “A teoria econômica clássica do tributo, que tem como autor o professor Maurin
Almeida Falcao, onde seu artigo foi publicado na Revista de Direito Empresarial, v. 9,
n. 3, p. 45-67.

O ponto principal abordado no mesmo, trata-se do entendimento da teoria econômica


da tributação, movida pela intervenção do Estado no nas práticas tributaristas, com
suas funções que são: alocativa, redistributiva e estabilizadora. O texto trata das
motivações que movem a intervenção estatal nas relações com o mercado.

Para introduzir o texto, cita-se as evoluções do tributo e suas relações nos séculos
XIX e XX, como se ele andasse lado a lado com os acontecimentos relacionados na
época, modificando e evoluindo o seu entendimento na sociedade com o passar do
tempo.

“O tributo como fato político e social acompanhou a evolução histórica das


civilizações, sendo percebido em diferentes formas segundo o poder vigente.
Relacionado desde os seus primórdios com o sistema de dominação, representou
para os indivíduos uma alienação parcial de suas liberdades e de seus bens em face
dos desdobramentos do contratualismo social. Antes, decorria da submissão dos
vencidos, da escravidão e das classes inferiores. Contudo, em certo momento a
evolução política se encarregou de torná-lo um instrumento notável de cidadania e
motor da coesão social. Por isso, à medida da evolução das instituições democráticas,
do Estado, o tributo foi abandonando gradualmente a sua função inicial de provedor
dos cofres públicos para se tornar um elemento importante na estratégia estatal de
intervir no comportamento dos indivíduos, adotando a partir daí uma natureza
extrafiscal. Essa perspectiva resultou no surgimento espontâneo de uma teoria
econômica clássica do tributo. ”(p. 3)

Na introdução, percebe-se que no início da civilização, o tributo possuía


características de subordinação ou submissão a alguém com mais poder ou uma
classe elitizada, em algumas épocas, a antiga escravidão, ou seja, um sistema de
dominação. Mas com o passar, se tornou um instrumento de cidadania, onde os
valores arrecadados serviriam para a prática de serviços aonde melhorariam a
sociedade, trariam benefícios evidentes a todos. A partir daí o tributo adotou uma
natureza extrafiscal, e com isso, a teoria econômica da tributação.

“O Estado age justamente sobre as falhas do mercado, definindo assim, o grau de


intervenção com o intuito de neutralizá-las. Mitchell e Simmons observaram que a
falha do mercado é a justificativa moderna para a ação governamental. Quando os
mercados falham, somente o Estado será capaz de aportar o paliativo necessário à
correção dos desequilíbrios macroeconômicos advindos da má distribuição da riqueza
ou da alocação de recursos. O Estado busca assim a eficiência coletiva onde o
interesse geral tem primazia sobre o interesse individual. [...]. Por isso, o Estado
intervencionista definiu a amplitude de sua atuação por meio das funções alocativa,
redistributiva e estabilizadora, se constituindo no tripé da atuação estatal. “(p. 5)

No primeiro tópico, compreende-se que para que tudo exista, necessita-se do Estado
e do mercado, onde um justificaria o outro. Tendo em vista que o mercado apresenta
inúmeras falhas em suas relações que causam desequilíbrios macroeconômicos
advindos da má distribuição da riqueza ou da alocação de recursos, e quando o
mercado falha, apenas o Estado terá a capacidade para a correção. O mercado
apresenta interesses egoísticos por meio do tributo, sendo assim, a intervenção
estatal serve para instaurar uma sociedade solidária, assegurando a paz social e o
desenvolvimento econômico. Tais ideias, foram impulsionados, também, pelo
momento pós Revolução Industrial, onde os trabalhadores deixaram de serem
tratados como escravo e passaram a ser considerados inevitáveis cidadãos com
direitos e deveres, e não só deveres.

“Ainda que no Século XIX, no momento da passagem do État-gendarme para o


Estado-providência, esta classificação fora delineada de forma cabal, somente a partir
de Musgrave a real dimensão do intervencionismo fiscal estaria assentada
definitivamente. Com efeito, ao sistematizar as funções do Estado, Musgrave
defendeu a busca pela eficiência como forma de anular os fracassos do mercado e o
alcance de uma maior justiça social a partir da redistribuição da renda. Ao sustentar a
validade da terceira função intervencionista, a estabilização macroeconômica,
Musgrave reforçou a pregação keynesianista segundo a qual somente o Estado
poderia promover o crescimento econômico, o emprego e a eliminação dos
desequilíbrios conjunturais. As três funções seriam a pedra angular de um novo
Estado ao impor lhe novas estruturas e instituições. “(p. 10).

No tópico 2, o autor traz a contribuição de Musgrave com seus ideais sobre as funções
clássicas do Estado nas relações tributaristas. A primeira seria a função alocativa, a
qual tem como objetivo o fornecimento de bens públicos com o propósito de remediar
às falhas do mercado por meio da correção das externalidades. A segunda, é a função
de redistribuição que tem a intenção de promover a igualdade pelo tributo e diante do
tributo, concretizando os ideais da grande sociedade solidária. Vale ressaltar um
importante ponto dessa função, onde a noção do Estado predador está voltada para
os interesses do mercado onde muitos o utilizam como forma de acumular riquezas.
Já a terceira função, seria a função de estabilização, a qual está relacionada às
intervenções destinadas a correção dos desequilíbrios macroeconômicos com a
aplicação de estabilizadores automáticos, influenciando dessa maneira, o
comportamento dos agentes econômicos.

“A realidade das condições sociais dos trabalhadores no Século XIX transformaria as


funções típicas do Estado, fato esse assinalado anteriormente por Merrien. Na esteira
desses fatos, a teoria econômica reservaria ao tributo outras funções que levariam à
demonstração categórica de sua importância como fato econômico, político e social.
Essas variáveis estariam na base da teoria econômica do tributo de Musgrave. A partir
de uma abordagem empírica, chegou-se à conclusão sobre o importante
intervencionista papel do Estado em sanar as externalidades produzidas pelo
mercado.
As externalidades negativas, definidas em função de suas causas e efeitos poderiam
ser consideradas, segundo Mitchell e Simmons, como “Um fracasso de ampla
abrangência do mercado resulta do “transbordamento” ou dos custos “externos” de
uma ação privada. Isto é, as atividades de uma ou mais pessoas criam custo para um
terceiro sem a permissão desse e algumas vezes sem o seu conhecimento. ” Dessa
forma, os custos de transbordamento se constituem em externalidades negativas,
situação na qual o custo de uma ação é passado adiante para outros, o que resulta
na perda de bem-estar. “(p. 11-12).

No terceiro ponto do artigo, compreende-se que o mercado acaba gerando “problemas


a terceiros” onde esses não teriam nada a ver com a situação. Ou seja, essas
externalidades gerariam perturbações ao bem-estar de todos, criando assim a
necessidade da intervenção estatal a fim de sanar ou corrigir essas externalidades
negativas.

“Os efeitos da globalização financeira e da mobilidade das bases tributáveis resultam


em um processo denominado de nomadismo fiscal, o qual é responsável por uma
exacerbada concorrência fiscal desleal entre diferentes jurisdições. [...] Piketti lamenta
a falta de uma autoridade supranacional capaz de observar os fluxos entre as diversas
jurisdições e assim, tributar a unidade de capital suplementar atraída por uma
determinada jurisdição. Esse procedimento poderia compensar as perdas de receitas
tributárias. Contudo, trata-se de um mecanismo de correção apropriado, mas irrealista
em face da inexistência de uma autoridade supranacional. ”(p. 14-15).

Deve-se observar também, a criação de externalidades negativas de uma jurisdição


fiscal sobre outras jurisdições. A concorrência fiscal desleal entre as jurisdições é
causada pelo denominado nomadismo fiscal. Essa concorrência, gera diversas
externalidades negativas a sociedade, porém ainda não se tem mecanismos para
combate-la.

“O segundo mecanismo da intervenção estatal, a redistribuição, decorre também das


falhas do mercado conduz espontaneamente a uma desigualdade na distribuição da
renda, contrariando o senso de justiça social, conforme notou Piketti. Por isso, o
Estado age com vistas a impor o seu poder da coação legítima e exigir assim tributos
de seus contribuintes com vistas a redistribuí-lo por meio de prestações sociais.
Contudo, a função de redistribuição do Estado deve observar as questões
relacionadas com a equidade e os fundamentos éticos e políticos para preservar a
igualdade pelo tributo e diante do tributo. ”(p. 15).

O quarto tópico, traz a abordagem da função da redistribuição horizontal e vertical, a


qual também decorre das falhas do mercado, que gera uma grande desigualdade na
distribuição de renda, contrariando a ideia de sociedade solidária. Com isso, o Estado
intervém impondo seu poder de coação exigindo tributos de seus contribuintes, assim
redistribuindo por meio de prestações sociais. Deve-se sempre observar a equidade
e os fundamentos éticos para tal redistribuição. Pode-se resumir, que esse sistema
compreende em ações voltadas para a seguridade e assistência social.

“Inclui-se ainda no rol das possibilidades de ação do Estado, a geração de


mecanismos destinados a assegurar o desenvolvimento onde o tributo tem um papel
essencial. Sterdyniak et al, ao ressaltar a visão dos macroeconomistas sobre o tributo
diante da tributação ótima, definiu que “o tributo deve ser utilizado para remediar os
desequilíbrios macroeconômicos, conjuntais ou estruturais”. Em realidade, a
disponibilização de determinadas infraestruturas ou a concessão de regimes
tributários favoráveis, se constituem em importantes atrativos para os agentes
econômicos. Nessa hipótese, o Estado conta meios para intervir nos meios de
produção, de investimentos, de consumo e trabalho no sentido de anular as
externalidades negativas geradas pelo mercado e que podem comprometer, inclusive,
a própria sobrevivência desse mesmo mercado” (p. 16-17)

No quinto e penúltimo tópico, traz abordagens acerca da função estabilizadora, a fim


de que o tributo remedeie os desiquilíbrios macroeconômicos. Aqui fala-se de
externalidades negativas que comprometem a própria existência do mercado, onde o
Estado intervém nos meios de produção, de investimentos, de consumo e trabalho
para evitar tais problemas.

“ No exemplo clássico formulado por Keynes, a diminuição da receita em período de


recessão leva o Estado a gerar déficits orçamentários com o objetivo de relançar a
economia. Em sentido inverso, o aumento das receitas em período de expansão
econômica, além de favorecer a geração de superávit orçamentário, freia o
aquecimento da economia. A utilização desse mecanismo permite a orientação da
produção, do investimento e do consumo. “(p. 17)
A estabilização do mercado pelo tributo decorre da sua sensibilidade aos efeitos da
conjuntura econômica, ou seja, deve-se ter uma auto-regulação do mercado
econômico e financeiro. Às vezes é preciso diminuir as receitas em momentos difíceis,
para assim relançar a economia, já em outras situações, é preciso aumentar as
aumentar as receitas, freando assim o aquecimento da economia e favorecendo o
superávit orçamentário. Todas essas ações têm como objetivo evitar a diminuição do
consumo, prejudicando a economia.

“Trata-se de um paradoxo do sistema tributário, o dilema entre equidade e eficiência.


Há muito, Adam Smith formulou as quatro regras consideradas imprescindíveis para
o que seria uma tributação ótima (equality, certainty, conveniance and economy), o
que o levou a se debruçar sobre o estudo econômico dos tributos. Se a análise parte
do pressuposto que imposto e eficiência econômica caminham juntos, teria que ser
destacada a neutralidade do primeiro sobre a decisão dos agentes econômicos,
evitando assim distorções que pudessem modificar as decisões sobre a produção, o
investimento e o consumo. Assim, a neutralidade seria a própria negação do
intervencionismo pois exporia as concepções opostas do papel do Estado. “(p. 18-19)

A eficiência é caracterizada pelo rendimento ótimo do tributo ou também, pela sua


eficácia na consecução doso objetivos da política fiscal. Olhando para a equidade
social, vemos que ela é favorecida pelo tributo que decorre da aplicação dos princípios
da grande sociedade solidária e da igualdade pelo tributo. Também, a eficiência
econômica está relacionada com a capacidade do tributo em atingir os objetivos da
política fiscal, seja por meio do incremento da arrecadação ou pela aplicação de
exonerações fiscais. Resumindo, as duas devem caminhar juntas, relacionadas ao
imposto eficaz para que assim se consigam alcançar tais objetivos, para atingir o bem-
estar da sociedade solidária e a manutenção da economia ativa e em boas condições.

Para concluir, compreendemos e absorvemos conhecimentos acerca da teoria


econômica do tributo, a relação entre o Estado e mercado, com as intervenções
estatais e os motivam que as movem, e também as funções do Estado como meio de
coibir as externalidades negativas geradas pelas práticas abusivas do mercado. Tudo
isso, leva a entender que as intervenções estatais se motivam a partir da proteção ao
bem-estar e a manutenção da sociedade solidária.

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