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RELATÓRIO FINAL
INICIAÇÃO CIENTÍFICA:
PIBIC CNPq
Relatório apresentado à
Coordenadoria de Iniciação Científica
e Integração Acadêmica da
Universidade Federal do Paraná por
ocasião da conclusão das atividades
de Iniciação Científica ou Iniciação em
desenvolvimento tecnológico e
Inovação - Edital 2018/2019.
CURITIBA
2019.
1. RESUMO
Além disso, foram realizados estudos de caracterização de uma água bruta coletada em
Araucária-PR, na unidade ETA Industrial da SANEPAR, visando a determinação de parâmetros
operacionais de tratamento. Isso foi realizado visando a posterior integração da ozonização.
2. INTRODUÇÃO
Embora seja empregado na Europa e nos EUA, e possua grande potencial de atuar
conjuntamente na desinfecção, oxidação de compostos inorgânicos e orgânicos, redução de gosto
e odor, remoção de micropoluentes e microfloculação de colóides, a aplicação de ozônio no
tratamento de água não possui exemplos em grande escala no Brasil.
De forma geral, os sistemas de ozonização são compostos por quatro elementos básicos:
gerador de ozônio, sistema de mistura gás-líquido (injeção de ozônio), reator e sistema de
destruição de ozônio. Os reatores são do tipo heterogêneos gás-líquido, onde ocorrem dois
processos simultâneos: 1) transferência de massa (TM) do ozônio da fase gasosa para a fase
líquida; e 2) reação do ozônio dissolvido com matéria orgânica pelas vias direta e/ou indireta
(formação de radicais OH°).
Um dos maiores desafios técnicos de sistemas de ozonização é a obtenção de uma TM
eficiente. Para isso, é fundamental o uso de um sistema de injeção de ozônio que propicie a
formação de bolhas finas e de um reator que proporcione contato adequado entre as fases por um
tempo de detenção hidráulica reduzido.
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1. Uso do Ozônio no tratamento de águas
GOTTSCHALK (2000) relata que o uso de ozonização para tratamentos de águas possui
diversos efeitos colaterais, induzindo efeitos positivos ou negativos para o tratamento e que
devem ser considerados. Os principais usos desse processo são para: desinfecção, remoção de
partículas, oxidação de compostos inorgânicos, oxidação de compostos orgânicos (incluindo
gosto, odor, cor). Na maioria das aplicações em larga escala, os custos com energia e oxigênio
são economicamente decisivos.
3.1.1 Desinfecção
d) redução direta dos níveis de COT por mineralização (pouco aplicável): o processo é
possível porém tem alta demanda de ozônio, tornando-o inviável por motivos econômicos.
O ozônio dissolvido pode seguir duas rotas para reação com a matéria orgânica natural
(MON) presente na água: a reação direta ou a reação indireta, através da produção de radicais
hidroxil (OHo) que então reagem com a MON. Cada rota leva a produtos de oxidação diferentes, e
é controlada por uma cinética.
a) Reação indireta: envolve radicais, sendo portanto uma reação do tipo não-seletiva. É
acelerada por iniciadores (ex. OH-), formando oxidantes secundários como radicais hidroxil (OHo).
Reage imediatamente com solutos, alta taxa de reação (k=108 – 1010M-1.s-1; k = constante de
velocidade da reação). Mecanismo complexo de reação, envolvendo um etapa de inciação, uma
etapa de reações em cadeia e uma etapa de terminação, com uma série de compostos
intermediários.
Reação global para a geração de radicais OHo com iniciador H2O2: 2O3 + H2O2 -> 2OHo + 3O2
Reação global para a geração de radicais OHo com iniciador OH-: 2O3 + OH- + H+ -> 2OHo + 4O2
b) Reação direta: ozônio reage com insaturações presentes na MON, sendo portanto uma
reação do tipo seletiva, com baixa taxa de reação. (k = 1 – 10³ M-1.s-1).
Figura 1– Mecanismo de reação. S = scavenger (terminador), R = produto de reação,
M = micropoluente. (Fonte: GOTTSCHALK, G; et al. Part A, Cap. 2, p. 11)
Em geral, a reação direta ganha importância quando a indireta está inibida. Isso ocorre
quando há ausência de iniciadores do mecanismo de formação de radicais, ou quando há grande
concentração de terminadores de reação. Carbonatos são terminadores típicos.
Para águas residuais (mais próximas da água utilizadas para a pesquisa), os modelos
matemáticos utilizados devem incorporar a influência da hidrodinâmica e da transferência de
massa (TM) do sistema. Condições de operação devem ser escolhidas visando que a TM seja
otimizada, pois ela costuma ser a limitadora do processo. É indicado que os coeficientes de TM
sejam medidos experimentalmente, porque pela complexidade das matrizes a serem tratadas, a
ozonização é altamente dependentes do sistema. Os modelos matemáticos para águas residuais
são simplificados e comumente com validação limitada (GOTTSCHALCK ,2000).
O ozônio é um oxidante forte, e por isso todos os materiais em contato com o gás devem
possuir alta resistência à corrosão. O melhor material para construção dos reatores é o aço
inoxidável, por possuir resistência à corrosão e dar possibilidade de trabalhar em pressões mais
elevadas. Apesar disso, para nível experimental é comum o uso do PVC por ser um material de
baixo custo e com relativa resistência ao ozônio. Contudo, é importante atentar que, mesmo que
de maneira lenta, o PVC é progressivamente atacado pelo ozônio, tornando-se suscetível a
trincas frágeis após determinado tempo de operação. Colunas de bolhas ou reatores tubulares em
geral são facilmente construídos com tubos PVC. Em experimentos de escala laboratorial, é
aconselhável a fase líquida entrar em contato apenas com vidro e/ou aço inoxidável. A tabela 1
traz mais detalhes sobre os materiais resistentes ao ozônio. (GOTTSCHALCK,2000).
Sistemas de ozonização (ver figura 2) são compostos por quatro elementos básicos:
gerador de ozônio, sistema de mistura gás-líquido, reator e sistema de exaustão de ozônio
(GOTTSCHALCK, 2000).
Reatores CSTR são pouco utilizados tanto em escala laboratorial quanto em larga-escala,
devido aos custos do equipamento serem mais elevados (tanto de construção quanto de
operação), apesar de possuir maiores taxas de transferência de massa devido à agitação
mecânica realizada. Reatores do tipo PFR são difíceis de ser atingidos na prática para o sistema
estudado. Porém, é possível a utilização de reatores tubulares com gás e líquido fluindo em co-
corrente, tanto na vertical como na horizontal, como uma adaptação do modelo coluna de bolhas.
(GOTTSCHALCK, 2000). Essa foi a escolha de modelo para o dimensionamento e construção.
1 [1]
− 𝑟𝐴 = . 𝑝𝐴
1 𝐻𝐴 𝐻𝐴
+ +
𝑘𝐴,𝑔 𝑎 𝑘𝐴,𝑙 𝑎𝐸 𝑘𝐶𝐵 𝑓𝑙
A absorção de A proveniente do gás é maior quando a reação ocorre dentro do filme
líquido em relação ao caso de TM sem reação química. O fator de aumento 𝐸 e o número de
Hatta 𝐻𝑎 avaliam esse efeito (ambos adimensionais).
O TM efetivo do sistema se obtém multiplicando diretamente o coeficiente de TM para o
filme líquido por 𝐸 (termo𝑘𝐴,𝑙 𝑎. 𝐸 da eq.1). O número de Hatta permite a obtenção do fator 𝐸, e é
definido pela equação 2 (PERRY,2008):
Se 0,3 < 𝐻𝑎 < 3,0: reação necessita grande área interfacial e grande volume bulk de líquido
Se 𝐻𝑎 > 3,0: Reação necessita de grande área interfacial (etapa lenta é a TM)
PERRY (2008) sugere correlações para 𝐸 e 𝐻𝑎 , sendo que para sistemas de pseudo-
primeira ordem pode ser utilizada a aproximação de que 𝐸 ≅ 𝐻𝑎. PERRY (2008) também sugere
que se o gás tem solubilidade limitada, ele deve ser borbulhado através do reator, e o tempo de
residência para o gás é menor que para o líquido.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Laboratoriais
PAC Al2O3 5
4.1.1 Efeito do pH
A planta piloto (Figura 3) instalada na ETA Tarumã (unidade da SANEPAR) está dividida nas
seguintes unidades básicas com funções definidas:
A. Bomba centrífuga (Weq, modelo w22) para alimentação da unidade piloto com a água
bruta ou água tratada da rede (para limpeza da unidade);
D. Câmara de sedimentação com decantador de alta taxa (V = 0,83 m³) com ponto de
aplicação de cloro na saída da câmara/entrada da unidade de filtração;
E. Unidade de filtração composta por uma primeira camada de carvão (27 cm), seguida por
uma camada de areia (15 cm), pedrisco (4 cm), pedra e um fundo falso;
I. Unidade de tratamento do lodo composta pelo tanque de equalização (V = 0,6 m³) com
ponto de aplicação de polímero e agitação mecânica, tanque adensador (V = 0,47 m³) e
tanque de água clarificada (V = 0,46 m³);
J. Bomba de recalque para retorno da água do tanque de água clarificada para o início da
unidade de tratamento;
Modelo OZVa 7
Vazão nominal de gás 900 L/h
Pressão máxima de entrada 10 bar
Pressão nominal de entrada na operação 2,5 a 3 bar
Pressão de ozônio na saída 0,8 a 2 bar
Tabela 4 – Dados nominais gerador ProMinentOZVa 7 (PROMINENT, 2004).
Parte dos dados utilizados são dados gerais sobre o ozônio (parâmetros termodinâmicos e
moleculares). Outros são dados retirados da ficha de especificação do gerador de ozônio a ser
utilizado na planta piloto. Outros são dados específicos para o modelo coluna de bolhas retirados
de GOTTSCHALK (2000). Ainda, os dados de temperatura e fração de líquido foram estimados.
Foram calculados: fator de aumento, constante de Henry dimensional, pressão parcial de A,
concentração de A, e número de Hatta. Todos os parâmetros e seus valores constam na tabela 8.
MÍNIMO MÁXIMO
Parâmetro Símbolo desempenho desempenho Unidade
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O modelo base escolhido foi de o reator tubular do tipo colunas de bolhas, referenciado em
PERRY (2008) e GOTTSCHALK (2000), devido ao bom custo-benefício da utilização de
tubulações em PVC. Os resultados obtidos foram calculados com faixas dos parâmetros
presentes na literatura (GOTTSCHALK, 2000), resultando na análise dos dois casos extremos: um
reator com o melhor desempenho possível e outro com o pior desempenho possível. Os
resultados obtidos estão relatados na tabela 9.
Mínimo Máximo
Parâmetro Símbolo desempenho desempenho Unidade
Taxa de consumo de A (baseada no
volume do reator) (−𝑟𝐴 ) 0,20 2,86 mol.m-3.s-1
Tempo de retenção do gás tg 88,73 6,11 s
tg 1,48 0,10 min
Volume do gás Vg 15,41 1,06 L
Tempo de retenção do líquido tl 443,66 30,55 s
tl 7,39 0,51 min
Volume do líquido Vl 61,62 4,24 L
Volume do reator Vr 77,03 5,30 L
Fator de segurança f 0,50 0,50 -
Volume do reator corrigido Vr' 115,5 7,96 L
Tabela 9– Resultados do dimensionamento de Volumes e tempos de retenção
É importante ressaltar que existe alta incerteza nas estimativas e dados utilizados, pois
não foram realizados testes com o sistema em estudo. Por esse motivo, foi escolhido como base o
volume calculado para o caso mais pessimista dos dados da literatura, e aplicado sobre ele um
fator de segurança de 50%.
5.2 Determinação da geometria, mecânica e estimativa da perda de carga do reator
Foi tomado como modelo o reator tubular horizontal. Para determinação de sua geometria,
deve-se escolher um diâmetro comercial de tubulações e determinar o comprimento de tubo
necessário para comportar o volume Vr'. O modelo para construção é baseado no reator da figura
8, onde o comprimento total da tubulação é dividida em 4 ramais em paralelo. Com esse modelo,
é possível a construção de um equipamento mais compacto e com uma maior flexibilidade de
aplicação. Para uma mesma vazão de entrada, é possível que essa vazão passe por diferentes
volumes de reator na medida em que mais ou menos ramais estejam ativados. Dessa forma será
possível avaliar o efeito da ozonização para diferentes configurações, e também há maior margem
de trabalho levando em conta as incertezas dos cálculos de dimensionamento.
O cálculo (tabela 10) foi realizado para três diâmetros nominais de tubulação (NBR
5648/99): 75 mm, 85 mm e 110 mm. A tubulação de 110 mm foi a mais adequada em termos da
geometria obtida, além de ser a única em que se obteve valor de L/D próximo da faixa sugerida na
literatura (2 <L/D< 20). (PERRY, 2008) Dessa forma, se obteve como solução um reator com
tubulações de 110mm, e 4 ramais de aproximadamente 4,8m cada um.
a) A água é coletada em diferentes pontos. Isso se dará com a utilização de uma mangueira
de mesma bitola na entrada do equipamento, através de bocal rosqueado. Dessa forma,
de acordo com o posicionamento da mangueira, o reator pode ser utilizado em diferentes
arranjos na planta piloto sem a necessidade de deslocar fisicamente o equipamento. É
interessante a utilização de uma válvula de retenção para evitar o fluxo reverso. É
importante a presença de uma bomba para a sucção da água.
b) A água é encaminhada para o sistema de mistura gás-liquido, e então para o reator. No
caso de uma bomba multifásica, ela já realiza a sucção e também a mistura gás-líquido.
c) A saída do reator é acoplada a um tanque pulmão, onde há a separação das fases líquida
e gasosa. Tanque fechado com uma entrada intermediária, uma saída por cima (gás) e
uma por baixo (líquido).
d) A fase gás é enviada para o sistema de exaustão de gás.
e) Através de mangueira rosqueada, o líquido é conduzido do tanque pulmão até o ponto
desejado da planta piloto.
Para o cálculo da perda de carga, foi desenvolvido o croqui (isométrico) de um layout possível
para o reator (figura 9), com o objetivo de estimar a perda de carga distribuída e em acessórios do
reator. O layout possui as seguintes características principais: 4 ramais, cada ramal com 4
segmentos de 1,2m de comprimento (4x1,2m=4,8m). Há 6 válvulas de controle no sistema (uma
para a saída, uma para entrada, e uma em cada ramal).
O cálculo da perda de carga localizada foi realizado através dos métodos dos
comprimentos equivalentes 𝐾𝑙 e 𝐿𝑒𝑞 , com dados e equações disponíveis em FOX (2018). A perda
de carga total foi calculada através da soma das perdas de carga distribuída e localizada. As
tabelas 11 e 12 demonstram dois resultados possíveis para a perda de carga. Em ambas,
constam as considerações utilizadas em relação à quais são os acidentes e suas quantidades,
estimadas de acordo com o isométrico, e o cálculo da perda de carga total em comprimento
equivalente. A tabela 11 considera a utilização de curvas joelho rosqueadas, que são mais baratas
e oferecem maior perda de carga. A tabela 12 considera a utilização de curvas joelho flangeadas,
que são mais caras e oferecem menor perda de carga. A escolha entre elas deve levar em conta
principalmente a carga da bomba já instalada no sistema e o fator econômico.
Foram utilizados dados da água pura de densidade e viscosidade para estimativa de Reynolds
e obtenção do fator 𝑓. A velocidade de escoamento calculada foi de 0,028m/s. As seções verticais
de tubos (entre dois joelhos) foram desprezadas no cálculo do comprimento total.
100
90
80 TURBIDEZ BRUTA MÉDIA
70 (UNT)
Turbidez (UNT)
60
50
40
30
20
10
0
15 20 25 30 35 40
Concentração Coagulante (mg/L)
100
90
80
70
60
Turbidez (UNT)
50
40
30
20
10
0
15 20 25 30 35 40
Concentração Coagulante (mg/L)
TURBIDEZ BRUTA MÉDIA (UNT) TURBIDEZ RESIDUAL MÉDIA (UNT)
EFICIÊNCIA MÉDIA (DESVIO PADRÃO)
Figura 13 – Processo de coagulação e sedimentação. Efeito da concentração na redução da turbidez da
água bruta. pH do PAC = 6,5.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
DI BERNARDO, L. Métodos e Técnicas de Tratamento de Água. São Carlos: Rima, 2005. 2ed.
FOX, R. W.;et al. Introdução à Mecânica dos Fluidos. Rio de Janeiro: LTC, 2018. 9 ed.
GOTTSCHALK, G; LIBRA J. A.; SAUPE, A. Ozonation of Water and Waste Water. Weinheim:
Wiley-VCH, 2000.
HOWE, K. J.; HAND D. W.; et al. Princípios do Tratamento de Água. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.
LEVENSPIEL, O. Engenharia das Reações Químicas. São Paulo: Edgard-Blüscher, 2000. 3. ed.
PERRY, R. H; GREEN, D. W. Perry’s Chemical Engineers’ Handbook. New York: Mc-Graw Hill,
2008. 8th ed.
Apreciação do orientador
Data e assinatura