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2º MÓDULO – TÉCNICAS DE LEITURA

O ledor para cegos não precisa possuir dotes extraordinários. Ele não precisa
ter uma voz de locutor de rádio, a potência de um barítono ou a dramaticidade de um
ator. Nada disso. Apenas deve aprender a trabalhar a impostação de sua voz, altura,
ritmo e outras técnicas simples de leitura, que apresentaremos neste Módulo.

ENTONAÇÃO

É a maneira de emitir um som vocal, dando inflexão à fala. A entonação da


leitura de caráter informativo deve ser formal, comunicando os fatos com clareza e
ênfase.

A entonação da leitura de contos, novelas, romances, ficção no geral, não


necessita de efeitos teatrais, mas deve ser feita de modo expressivo, com inflexões na
voz.

ALTURA

A voz deve ser tranquila, de altura média. Não fale muito baixo, porém, não
grite. Só use a voz mais alta se seu ouvinte também tiver deficiência auditiva. Do
contrário, lembre-se de não subir o tom, como algumas pessoas costumam fazer com
deficientes visuais, como se eles também não pudessem ouvir.

Evite lugares abertos e barulhentos, com veículos passando, buzinas, pessoas


passando e conversando, etc.. Isso fará com que você precise ler em voz alta, tornando
o seu trabalho desgastante e podendo dispersar o foco do ouvinte. Escolha um local
calmo, silencioso e sem interrupções.

RITMO

O ritmo diz respeito à velocidade da voz. Não leia em ritmo apressado, como se
quisesse que a leitura chegasse logo ao fim. O ouvinte deve entender suas palavras e
não ter que ficar pedindo que você repita. Ele se sentirá constrangido se tiver que
pedir o tempo todo para que você se repita, e consequentemente não apreciará a sua
leitura.

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O contrário também deve ser evitado: não faça uma leitura por demais
vagarosa. Evite longas pausas e longos silêncios dramáticos, a ponto do ouvinte se
distrair pensando em outras coisas durante sua leitura.

A velocidade deve ser regular. Lembrando que cada pessoa tem um ritmo
diferente, procure se adequar ao ritmo do ouvinte. Ou seja, se ele solicitar que você
leia mais rápido, acelere. Se ele solicitar que diminua a velocidade, desacelere. Você
também pode perceber, com a prática, o perfil de seu ouvinte.

Procure sempre notar se ele está acompanhando a leitura e você também pode
lhe perguntar isso diretamente. Perguntas como “quer que eu leia mais devagar?”,
“Deseja fazer uma pausa?”, “Está acompanhando a história?”, “Deseja que eu repita
algum trecho?” podem ser feitas sem problemas.

OUTRAS DICAS

Leia sem bocejar ou pigarrear o tempo todo.

Desligue seu celular no momento da leitura. E peça que os seus ouvintes


desliguem os seus, a menos que necessitem manter ligados.

Tenha sempre uma garrafa com água, de preferência em temperatura


ambiente. Mas não se interrompa o tempo todo para beber água.

SINAIS GRÁFICOS

Alguns sinais gráficos dão o tom de nossas frases.

Exemplo:

O homem pegou o objeto. (afirmação)

O homem pegou o objeto? (interrogação)

O homem pegou o objeto! (exclamação)

Não é preciso mencionar que estamos usando um ponto final, uma


interrogação e uma exclamação, pois nosso tom de voz já informa isso. Informar cada
sinal desnecessariamente tornaria o texto longo e cansativo.

Também não é necessário informar que estamos usando vírgula, ponto e


vírgula e reticências.

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ASPAS

Já alguns sinais gráficos devem ser citados, porque eles fazem diferença e às
vezes não são possíveis de serem representados apenas com a entonação da voz. Um
exemplo são as aspas.

No texto abaixo percebemos que as palavras entre aspas se referem a uma


citação famosa:

Todos devemos questionar o sentido da existência. “Uma vida não


questionada, não merece ser vivida”, já dizia Platão.

A frase deve ser lida da seguinte forma:

Todos devemos questionar o sentido da existência. [abre aspas] “Uma vida não
questionada, não merece ser vivida” [fecha aspas], já dizia Platão.

Assim o ouvinte não se perde em relação a quando começa e quando termina


as palavras do filósofo. Se o ledor deixa de citar as aspas, ele se confundirá em relação
à extensão e totalidade da citação.

Mesmo que as aspas sejam em torno de uma só palavra, ela deve ser citada,
porque muda o sentido da mesma.

O indivíduo entrou em minha loja e “comprou” muitos regalos para seus


convidados. Tolo eu, de acreditar que veria a cor do dinheiro!

“Comprou” aqui certamente se refere a levar os produtos no crédito, o famoso


fiado, e o dono da loja jamais viu o pagamento. Ou seja, a compra não se efetivou, não
tem o sentido real do verbo comprar. Essa é a riqueza da língua e da linguagem e que
deve ser compreendido pelo ouvinte. Como é apenas uma palavra, pode ser dito
apenas entre aspas:

O indivíduo entrou em minha loja e [entre aspas] “comprou”muitos regalos


para seus convidados. Tolo foi eu de acreditar que veria a cor do dinheiro!

PARÊNTESES

Os parênteses podem seguir a mesma regra.

O governador de Minas Gerais (que na época do fato era Itamar Franco, antes
de ter sido presidente do Brasil) repensou a dívida interna do Estado.

Como pode ser lido:

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O governador de Minas Gerais [abre parênteses] (que na época do fato era
Itamar Franco, antes de ter sido presidente do Brasil) [fecha parênteses] repensou a
dívida interna do Estado.

Ou, se for apenas um nome, expressão ou palavra:

O governador de Minas Gerais [entre parênteses] (Itamar Franco) repensou a


dívida interna do Estado.

TRAVESSÃO

Não deve ser mencionado quando trata da mudança de fala entre


interlocutores.

Pode ser mencionado quando estiver exercendo outra função no texto:

É impossível que eu te esqueça [travessão] — por toda a eternidade.

ITÁLICO E NEGRITO

As palavras em itálico e em negrito também devem ser mencionadas na leitura:

Raul comprou um [em itálico] maledetto fusca azul.

Vamos juntos para [em negrito] Délhi, a capital da Índia.

Quando se tratar de uma frase:

[em Itálico] Um por todos, todos por um! [fim do itálico]

[em negrito] Jamais, em hipotése alguma, pense em desistir! [fim do negrito]

PALAVRAS EM OUTRO IDIOMA

As palavras em outro idioma devem ser lidas em outro idioma, como estão
escritas, e não traduzidas automaticamente. Exemplo:

Ela não teve o know how para fazer a exposição.

Aqui se trata de um estrangeirismo, que é o processo linguístico de


incorporação de uma palavra ou expressão de outro idioma em nossa língua

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portuguesa. Know How é o sinônimo de experiência empresarial; o termo vem do
inglês e significa “saber fazer”, ter capacidade para executar uma tarefa específica.

O ledor deve pronunciar o estrangeirismo e se oferecer para explicá-lo,


conforme seu conhecimento. Se não tiver conhecimento do que se trata, deve
simplesmente ler as palavras, e se não souber lê-las, deve soletrá-las. Quando for
soletrar, avise antes que uma palavra será soletrada.

Sempre que não souber o significado de uma palavra, estrangeira ou não, anote
e pesquise depois. Amplie seu conhecimento para tornar sua leitura mais atrativa e da
próxima vez poder fazê-la com propriedade.

NOTAS DE RODAPÉ

O ideal é que as notas de rodapé sejam mencionadas logo que notificadas no


texto, dando prosseguimento ao raciocínio.

Exemplo:

Logo que anoiteceu, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Bereia 1. [Nota de
rodapé: Bereia foi uma antiga cidade localizada na Macedônia, situada no lado oriental
das Montanhas Vermion, sobre a qual está edificada a atual cidade de Véria, na Grécia.
Fim da nota. Voltando ao texto]. Chegando ali, eles foram à sinagoga judaica. Os
bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem
com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era
assim mesmo. Atos 17:10-11.

GRÁFICOS

Gráficos e ilustrações devem ser descritos para o ouvinte, pois estes


complementam o texto, fornecendo uma explicação para o que foi lido, ou
apresentando elementos necesários para a compreensão do texto.

Gráficos devem ser descritos com atenção, com o detalhamento dos símbolos,
para onde apontam as setas, significado das cores, das hachuras, etc..

No caso de ilustrações, descreva objetivamente e com riquezas de detalhes.

Anuncie quando for iniciar a descrição de um gráfico ou ilustração, e também


quandor for finalizar. “Descrição da ilustração” e “fim da descrição”, para situar o
ouvinte.

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RECURSOS TECNOLÓGICOS

Felizmente temos atualmente a tecnologia para auxiliar em nosso trabalho.


Deficientes isolados por motivos de saúde ou barreiras de distância podem se
beneficiar do trabalho do ledor através da internet, seja em chamadas de vídeo como
em aplicativos que podem reunir grupos. O profissional ledor pode conduzir leituras
em grupos e lives literárias.

Fonte: Conteúdo elaborado por ABBA Cursos©

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