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Karen Geovana Reis

Posso dizer que a minha relação com a tradução começou principalmente com essa
disciplina. Eu já tinha um entendimento bem superficial do assunto, mas nunca estive no
lugar de aprendizado. No começo percebi que era muito difícil me distanciar do texto de
partida, queria traduzir cada palavra fielmente, às vezes mesmo que não fizesse muito
sentido, afinal se o propósito era traduzir, na minha percepção deveria ser dessa forma.
Mas a prática me mostrou algo diferente: existem diversos aspectos que envolvem
uma tradução e, nesse caso, os conceitos de estrangeirização e domesticação são dois deles.
Acho difícil dizer qual é mais utilizado, principalmente a estrangeirização porque na maioria
das traduções que fizemos na disciplina, o intuito não me pareceu levar o leitor para o autor
especificamente, mas sim traduzir de forma que o leitor possa entender o que está sendo
traduzido, muitas vezes trazendo referências da nossa língua e até mesmo “abrasileirando” o
texto.
Posso dizer que nessa minha breve vivência com a tradução, percebi que em algumas
situações específicas o apagamento do estrangeirismos carrega uma certa preocupação — às
vezes quase involuntária — de que o leitor compreenda todas as referências do texto, que
tudo seja adaptado para a nossa língua. Mas, em contrapartida, penso em quantas vezes não
foi necessário que fizéssemos uma busca ao encontrar uma palavra que não é familiar? como
o nome de uma árvore, por exemplo. Acredito que a pesquisa também faz parte da leitura,
principalmente ao lermos um texto que originalmente não é da nossa língua materna e contém
referências de tempo e espaço.
Nesse sentido, penso que em determinadas situações cabe ao tradutor manter certos
aspectos do texto de partida, principalmente quando não há grande impacto na compreensão
do que está sendo traduzido. É difícil dizer genericamente quando e como aplicar um
conceito ou outro, cada tradução tem seus objetivos específicos e é isso que deve ser levado
em consideração. Quando o meu grupo traduziu The Night Came Slowly, por exemplo,
tentamos o máximo possível manter o ritmo do texto fonte e toda sua descrição visual, mas
foi praticamente inevitável em alguns momentos apagar o estrangeirismos e distanciar o leitor
da obra de partida e, consequentemente, do autor.
No entanto, se tivéssemos tentado manter o estrangeirismo, teria sido necessário tratar
a tradução de forma diferente para que se assemelhasse ao texto original. Segundo
Schleiermacher (2007) se mesmo em línguas diferentes, as palavras se corresponderem em
conceito, expressão de sentido e modo de articulação, então poderia dizer que toda tradução,
com exceção dos efeitos do acento e do ritmo, o leitor estrangeiro estaria na mesma situação
frente ao autor e sua obra que o nativo.
Mas essa ideia me traz uma dúvida. Não estaria, talvez, o leitor estrangeiro de
qualquer forma frente à tradução? Entendo que a intenção de manter o estrangeirismos seja
de proporcionar o acesso ao estrangeiro e transmitir a mesma ideia que o leitor nativo teve,
mas a diferença que existe entre as línguas e que variam de infinitas formas talvez não
permita que, mesmo uma palavra ou sentença tenha o mesmo significado quando traduzido, o
leitor estrangeiro consiga ter a mesma impressão que o leitor nativo teve ao ler o texto em sua
língua nativa.
Levando isso em consideração, a fala de Schleiermacher (2007, p. 238) em que ele diz
que “cada homem está sob o poder da língua que ele fala; ele e seu pensamento são um
produto dela. Ele não pode pensar com total determinação nada que esteja fora dos limites da
sua língua.” somente enfatiza, para mim, que existe uma certa dificuldade em dar a mesma
impressão a leitores de diferentes idiomas. No entanto, isso não significa que o tradutor não
possa se colocar entre o autor e o leitor e transmitir uma impressão equivalente em sua língua
materna.

REFERÊNCIAS

SCHLEIERMACHER, Friedrich E. D. Sobre os diferentes métodos de traduzir. Tradução:


Celso Braida. Rio Grande do Norte: Princípios, 2007.

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