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BRUNA REGINA GOMES BELO

WILLIAN GUSTAVO MOISÉS

TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS I

TOLEDO
2017
O que é tradução?

A palavra traduzir deriva do latim – traducere – e, segundo o dicionário Aurélio,


etimologicamente significa conduzir além, transferir, transladar de uma língua para a
outra, assim, de modo restrito, traduzir significa uma operação de transferência
linguística.
A tradução está ligada a ideia de se trabalhar com textos escritos, transferindo
os signos de uma língua fonte para os signos de uma outra língua, a língua alvo.
Jakobson (1975) define os diferentes tipos de traduções: intralingual,
interlingual e intersemiótica.
- Tradução intralingual: consiste na interpretação dos signos verbais por meio
de outros signos verbais da mesma língua. Um exemplo dessa atividade é quando um
estudante está lendo uma obra clássica da literatura portuguesa e procura uma
tradução mais recente dos termos utilizados pelo autor.
- Tradução interlingual: engloba texto de partida, tradutor e texto de chegada.
É a atividade tradutória realizada de uma língua para a outra – Inglês para o
Português; Língua de Sinais Brasileiras para o Português; etc.
- Tradução intersemioótica: é o tipo de tradução que se realizada pela
passagem de um tipo de signo para outra, de uma plataforma a outra, como a
adaptação de um filme baseado em um livro; um poema em uma música; etc.
Há ainda outros tipos de traduções: automática, simultânea e consecutiva.
- Tradução automática: é a atividade realizada por meios mecânicos, através
de programas ou aplicativos específicos, que não se utilizam da atividade humana
direta para a tradução.
- Tradução simultânea: é a atividade tradutória realizada em tempo real para
a língua alvo. É a atividade desempenhada geralmente em palestras.
- Tradução consecutiva: é o tipo de tradução realizada após algum tempo,
podendo se tomar notas, fazer anotações, utilizando-se de dicionários, aplicativos e
softwares para que posteriormente a tradução seja realizada.
A atividade de tradução proporciona o acesso a diferentes textos em
diferentes línguas, consequentemente a cultura e ao conhecimento, mas nunca se
poderá traduzir em sua essência um texto com toda sua complexidade e exatidão,
assim como Rónai (1987, p. 23) afirma “nunca vai existir uma única tradução ideal de
determinado texto. Haverá muitas traduções boas, mas não a tradução boa de um
original”.

O que é interpretação?

Embora definido que o trabalho de interpretação deva ser realizado através


de línguas orais ou gestuais, a atividade também é referente ao passar um texto
(oral/sinalizado) de uma língua para outra.
Para esse tipo de atividade também são definidos dois tipos de interpretação
– interpretação simultânea e a interpretação consecutiva.
- Interpretação simultânea: Ewandro Magalhães Jr (2007) define interpretação
simultânea como a “atividade em que o intérprete vai repetindo na língua de chegada
cada palavra ou ideia apresentada pelo palestrante na língua de partida”. Essa
atividade requer do intérprete conhecimentos sobre a língua fonte e a língua alvo,
além de uma memória excelente e também de rapidez para acompanhar o ritmo da
palestra.
Interpretação consecutiva: o intérprete escuta trechos do texto a ser traduzido,
eventualmente com o auxílio de notas e em seguida produz um texto com suas
próprias palavras e que não seguem necessariamente as palavras do autor.

Formação do Tradução Intérprete de Língua de Sinais – TILS

O profissional tradutor e intérprete de língua de sinais se deu a partir de


atividades voluntárias, em igrejas e famílias com algum sujeito surdo, assim, um
membro da família que acabava realizando a atividade de interpretação e
comunicação entre o sujeito surdo e o mundo ouvinte.
Com o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais em 2002, pela Lei Nº
10.436, de 24 de abril de 2002, atribuindo à Libras o status de língua oficial do Brasil.
Para o sujeito surdo também se caracterizou a maior visibilidade e necessidade de
tradutores intérpretes de línguas de sinais.
As primeiras iniciativas de formação para o tradutor intérprete foram
realizadas em 1990, principalmente por iniciativa da Federação Nacional de Educação
e Instrução dos Surdos (FENEIS) que ministrava cursos de curta duração que visavam
a ampliação e fluência em Libras.
Com o Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que a figura do profissional
tradutor intérprete é descrita com maior detalhamento de suas atribuições e
exigências para sua formação, especialmente para os campos educacionais, pois é
caracterizado como sendo o profissional responsável pela acessibilidade de sujeitos
surdos aos conteúdos tratados em espaços públicos e educacionais.
O Decreto 5.626, prevê, entre outras ações, um exame nacional – O Prolibras
– que visa avaliar a proficiência em Libras e a capacidade de interpretação de
enunciados desta língua para o Português e vice-versa. Porém esse exame não se
certifica do conhecimento do intérprete sobre a Língua Portuguesa, apenas sua
fluência na Libras, nem de sua competência em diferentes áreas do conhecimento.
Com isso, o Decreto também traz em si a ideia da criação de cursos de Graduação
de Professor de Libras e Tradutores Intérpretes de Libras.
O primeiro curso para atender a necessidade de formar professores e
tradutores intérpretes foi criado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
e visava à formação de professores de Libras, preferencialmente surdos (Curso de
Licenciatura Letras/Libras), organizado na modalidade de ensino a distância. Em
2008, a UFSC passa a oferecer também o Curso de Graduação Letras/Libras
Bacharelado para formação de TILS, também na modalidade de ensino a distância.
Para que o profissional possa atuar em qualquer âmbito social, é necessário
que se conheça a língua fonte e a língua alvo, bem como se tenha contato com a
cultura surda e seja um multiplicador e valorizador da língua. O trabalho de
interpretação não se restringe a um trabalho linguístico, há necessidade de conhecer
seu funcionamento e os diferentes usos da linguagem nas ações humanas.

Ética e Moral

A função de um Tradutor Intérprete de Libras é repassar as informações para


o surdo, seja no ambiente educacional como em aulas e palestras, ou em situações
do dia a dia como em consultas médicas, atendimento em bancos e locais públicos
por exemplo. Essas informações que são passadas pelo emissor, na língua
portuguesa em sua modalidade oral, devem ser traduzidas para a língua de sinais
brasileira, a Libras, pelo intérprete, para que cheguem ao receptor que é o sujeito
surdo.
Essa tradução deve ser feita seguindo fielmente o conteúdo que está sendo
transmitido pelo emissor, sofrendo apenas alterações na estrutura gramatical da
língua portuguesa para a língua de sinais, pois a gramática de cada língua tem sua
particularidade, e a língua deve ser utilizada conforme a sua organização.
O tradutor intérprete, enquanto exerce sua função formalmente, deve ser uma
pessoa neutra, ou seja, não deve expor sua opinião perante os assuntos que estão
sendo trabalhados pelo emissor, mesmo que seja uma opinião a favor do tema tratado,
o intérprete deve apenas traduzir as informações que estão sendo passadas.
Se o tradutor intérprete não concorda com o tema, ou com a forma em que o
tema foi abordado, ele pode, posteriormente em uma conversa informal, expor seu
ponto de vista, sua opinião para o surdo, mas nunca impondo uma maneira certa para
o surdo seguir ou pensar, o intérprete deve deixar que a partir dos dois pontos de
vista, o surdo forme sua própria opinião.
Quando o intérprete está trabalhando em sala de aula, é comum algumas
pessoas leigas no assunto, acharem que o intérprete ajuda o aluno surdo, no sentido
de passar a resposta das atividades e até mesmo da prova, o que é um grande
equívoco, pois essa não é a função desse profissional.
Como já foi dito anteriormente, o intérprete deve mediar o conteúdo para o
surdo conforme o professor faz a explicação aos demais alunos da sala, sem
interferências pessoais ou de cunho especulativo.
Entretanto, se em algum momento o intérprete notar que alguma pessoa
passou uma informação errônea para o surdo, ele pode corrigir esta informação para
que o surdo não seja prejudicado de forma alguma.
O intérprete também se faz presente em outros ambientes e atividades, como
igrejas, palestras, encontros de grupos, mas independentemente do lugar, o intérprete
precisa exercer sua função sem preconceitos e sem falta de ética. E deverá também
estar sempre participando de cursos para aperfeiçoar a Libras, estar sempre em
contato com a língua de sinais e com os surdos para aquisição e conhecimento da
cultura surda.
Todas essas questões éticas e morais do intérprete estão dispostas no código
de Ética do Intérprete de 1992, mas o profissional intérprete deve, não somente seguir
esse código, mas ter as questões éticas e morais como valores para a vida pessoal e
profissional.
Traduções e interpretações formais e informais

Assim como a Língua Portuguesa, a Língua de Sinais também se apresenta


nas modalidades formais e informais. Também há a recorrência de variações
regionais, uso de gírias e expressões idiomáticas, que são específicas da modalidade
informal da língua.
A modalidade informal da língua de sinais é utilizada no dia a dia para
conversas entre surdos ou entre surdos e intérpretes, ou seja, um bate papo entre
amigos, onde só seja necessário fazer-se entender.
A modalidade informal da Libras pode ser utilizada também para a
comunicação com pessoas ouvintes que não conhecem a Libras. E para que haja
comunicação com essas pessoas é necessário que a Libras seja modificada, não
usando apenas sinais, mas também muitos classificadores e as vezes até a mimica
ajuda.
Já a modalidade formal é usada nas escolas, palestras, enfim, qualquer
ambiente onde o intérprete esteja exercendo sua função de traduzir as informações
da língua fonte para a língua alvo, utilizando os sinais, bem como as expressões
faciais e corporais para que a compreensão do surdo seja mais eficaz.
Entretanto, existem alguns surdos que vão para as escolas bilíngues muito
tarde, e ainda não dominam a modalidade formal da língua de sinais, pois usavam
somente a informal. E quando estão na escola com um intérprete usando a
modalidade formal, sentem dificuldades para entender o conteúdo que está sendo
passado.
Nessas situações o intérprete, ao perceber o que está acontecendo, precisa
explicar os sinais que o aluno surdo não conhece, e ajudá-lo a entender a matéria até
que ele domine a modalidade formal da Libras.
A Libras está constantemente se transformando, e é necessário que o
intérprete esteja sempre estudando, fazendo cursos e pesquisando sobre a Libras e
essas mudanças para que esteja atualizado e assim inserido nesse meio surdo e que
possa estar sempre fazendo uma tradução satisfatória, onde o surdo compreenda o
conteúdo e também os sinais utilizados.
REFERÊNCIAS

Introdução aos estudos da tradução. Disponível em: < https://goo.gl/gAvOby >.


Acesso em: 08 abr. 2017.

JESUS, Francislene Cerqueira de; SANTANA, Neemias Gomes; ALMEIDA, Wolney


Gomes. Formação dos tradutores intérpretes da língua de sinais nas regiões sul e
sudoeste da Bahia: dificuldades, caminhos e perspectivas. Disponível em: <
https://goo.gl/vUNsQ9 >. Acesso em: 09 abr. 2017.

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Tradutores e intérpretes de Língua


Brasileira de Sinais: formação e atuação nos espaços educacionais inclusivos.
Disponível em: < https://goo.gl/qzPVJA > Acesso em: 09 abr. 2017.

MACHADO, Ivan. Código de ética do intérprete de Libras e Lei que regulamenta a


profissão. Disponível em: < http://ivanguiainterprete.blogspot.com.br/2013/02/codigo-
de-etica-do-interprete-de-libras.html?m=1 >. Acesso em: 09. Abr. 2017.

SANTO, Igor Rosário. As influências da formalidade e informalidade da Língua


Brasileira de Sinais – Libras para a compreensão do surdo. Disponível em: <
http://interpretesdelibras.blogspot.com.br/2016/03/as-influencias-da-formalidade-
e.html?m=1 >. Acesso em: 09 abr. 2017.

SOUSA, Danielle. Interpretação Libras/Português: uma análise da atuação dos


tradutores/intérpretes de Libras de São Luís. Disponível em: <
http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=16&idart=58 >. Acesso em:
09 abr. 2017.

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