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Capítulo 1

Uma visão geral da tradução

Prof.Ms. Viviane Barbosa Caldeira Damacena

Viviane Barbosa Caldeira Damacena é graduada em Letras Português/Inglês pela


Universidade de Uberaba, pós-graduada em Educação Especial pela mesma
instituição. Mestre em Letras pelo programa Profletras pela Universidade Federal do
Triângulo Mineiro - UFTM, e atualmente é doutoranda pelo programa Estudos
Linguísticos da Universidade de Uberlândia - UFU. É professora de língua portuguesa,
intérprete de Libras e professora de língua portuguesa como L2 para surdos, tendo
experiência ministrando cursos de capacitação para professores, sobre língua
portuguesa, aquisição de língua materna e língua não materna, além de ter
experiência em produção de materiais didáticos.

As principais teorias de tradução

Traduzir é um trabalho complexo e que envolve não apenas passar um texto


de uma língua para outra. Traduzir envolve uma série de teorias, escolhas,
percepções que precisam ser analisadas de forma concisa pelo tradutor.
Em um primeiro momento, é necessário entender que há diferença entre
traduzir e interpretar. A grosso modo, interpretar, de acordo com o Dicionário Online
de Português, é “fazer a tradução oral de um idioma para outro”, enquanto que traduzir
é o ato de “passar um texto de uma para outra língua”. De modo geral, a interpretação
é realizada de uma língua oral para outra enquanto que a tradução trabalha com a
língua escrita. Sobral (2019) afirma que “hoje se estuda tradução preponderantemente
como atividade que cria conhecimentos ao tornar textos de uma dada cultura
acessíveis a leitores de outras, com suas distintas valorações.” (p. 02)
Tendo esta distinção em mente, esta unidade abordará questões sobre a
tradução e o papel do tradutor, considerando as principais teorias sobre tradução,
conversando, inclusive, sobre traduções intermodais, como acontecem em relação à
Libras e as línguas orais.
Segala e Quadros (2015), ressaltam que que
“Jakobson (1959) distingue três tipos de tradução:
1 - Tradução intralingual ou reformulação, a interpretação da
língua para mesma língua ( por exemplo, o texto de adulto para
texto infantil ).
2 - Tradução interlingual ou tradução propriamente dita, que é
definida como a interpretação de uma língua para outra; ou seja,
uma interpretação de signos verbais de uma língua para outra.
3- Tradução intersemiótica ou transmutação que é definida como
a interpretação de um sistema de código para outro por meio de
signos de sistemas não-verbais.” (p.358)

Considerando essas três definições de tradução propostas por Jakobson,


considera-se, ao trabalhar com a tradução em Libras, uma tradução intersemiótica,
pois lida-se com a língua escrita e a língua de sinais.

O tradutor, ao realizar uma tradução, primeiramente precisa considerar seu


papel neste momento, além de considerar o papel do autor e do texto fonte. O seu
posicionamento irá definir o tipo de abordagem que irá se apoiar para que, assim,
possa escolher o tipo de tradução que irá realizar. Ao receber o texto em que irá
trabalhar, o profissional, em um primeiro momento, considera o papel desempenhado
tanto pelo autor quanto pelo texto fonte. O texto é visto como um objeto comunicador?
Tem intenção de esclarecer algo? É um texto literário ou acadêmico? Qual o papel do
autor? O autor possibilita abertura para adaptações? Qual o principal objetivo do autor
ao produzir o texto fonte?
Esses questionamentos possibilitam ao tradutor perceber qual a melhor
abordagem ao realizar a tradução, porém, após realizar esses questionamentos, o
tradutor também precisa considerar o seu papel durante o ato tradutório e, assim,
surgem novos questionamentos. Qual o papel do tradutor? O tradutor tem liberdade
nas escolhas lexicais a serem realizadas? O tradutor tem liberdade ao considerar a
cultura do leitor final? O tradutor tem a liberdade de adaptar o texto para melhor
satisfazer o seu objetivo comunicativo?
Todos esses questionamentos também fazem parte da preparação do
profissional, para que, ao respondê-los, possa, também, considerar e escolher a
melhor teoria e a melhor concepção de tradução para a realização do seu trabalho.
Exemplificando considerando as principais teorias da tradução que serão
abordadas mais detalhadamente nas próximas notas de aula:

1 - Considerações sobre a Teoria Estruturalista.

Com a Teoria Estruturalista, o tradutor realiza um trabalho voltado para a


fidelidade ao texto fonte, considerando o seu papel apenas como o de passar o texto
para outra língua, considerando as estruturas gramaticais e linguísticas da língua alvo.
Rodrigues (1990) afirma que, nesta teoria, “considera-se que o texto é portador de
significados dados pelo autor, e que um tradutor deve resgatá-los, reduzindo ao
mínimo sua intromissão, neutralizando-se.” (p.122)
O tradutor segue uma linha tradicionalista, não considerando o trabalho social
e cultural que o texto exerce. Nesta perspectiva, o tradutor precisa dominar as duas
línguas, de forma a estruturar o texto final o mais fidedigno possível ao texto fonte.

2 - Teoria Funcionalista

Ao escolher a Teoria Funcionalista, o profissional rompe com a tradução


tradicionalista e passa a considerar o texto como objeto comunicativo e resultado da
interação social, Nesta perspectiva, o tradutor considera como o centro da tradução a
mensagem que o autor deseja passar, além de considerar, também, a cultura e a
sociedade em que o leitor final está inserido. Para que o texto possa cumprir com seu
papel comunicativo, o tradutor tem a liberdade de adaptar o texto, considerando todo
o contexto em que vive o leitor final, conforme Polchiopek el al., (2012, p.22) “Noções
como equivalência, processo tradutório, fidelidade ao texto-fonte ou competência
tradutória são, segundo a ótica funcionalista, questionados e reconstruídos sob uma
nova perspectiva: a do leitor-final, seja ele leitor do texto-fonte ou do texto traduzido.”

3 - Tradução intermodal

A tradução intermodal não é, necessariamente, uma teoria. Considera-se uma


tradução intermodal quando a modalidade das línguas envolvidas se modificam, isto
é, quando se traduz de uma língua escrita para uma língua sinalizada, por exemplo.
Assim, todo texto escrito que é sinalizado passa por uma tradução intermodal.

Considerações finais

Assim, pode-se perceber que o processo de tradução e o papel do tradutor vão


além de apenas transpor um texto de uma língua para outra. O tradutor desempenha
um papel essencial que pode ou não possibilitar o entendimento do leitor final,
podendo, inclusive, prejudicar todo o processo de tradução caso suas escolhas
tradutórias não sejam sensatas com o objetivo proposto pelo autor, podendo, assim,
proporcionar um trabalho que cumpra com o objetivo comunicativo do texto fonte.
Considerando os diversos contextos, o tradutor trabalha para que o leitor final
tenha acesso ao texto fonte em toda a sua complexidade, sem descumprir com o
objetivo do autor, mas ao mesmo tempo tendo a liberdade de se adaptar considerando
a multiculturalidade que envolve todo o processo tradutório.

Referência Bibliográfica
POLCHIOPEK, S.A.; ZILPSER, M.E.; COSTA, M.J.R.D. Tradução como ação
comunicativa: a perspectiva do funcionalismo nos estudos da tradução. Tradução &
Comunicação. Revista Brasileira de Tradutores. nº 24, 2012

RODRIGUES, C.C. Tradução: teorias e contrastes. Alfa, São Paulo. n. 34, 1990, p.
121-128

SOBRAL, A; Da valorização intralinguística à transposição tradutória: uma perspectiva


bakhtiniana. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, Número Especial, 2019.

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