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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS NEOLATINAS


DOUTORADO
DISCIPLINA: TEMAS E PROBLEMAS DA TRADUÇÃO AUDIOVISUAL
PROFESSORA: LETÍCIA REBOLLO COUTO
DISCENTE: LEANDRA MACHADO

Sociolinguistics and linguistic variation in audiovisual translation

A presente resenha propõe-se a trazer um panorama de síntese, análise e problematização do


capítulo “Sociolinguistics and linguistic variation in audiovisual translation” do livro “Routledge
Handbook of Audiovisual Translation”, da autora Wai-Ping Yau. Apresentando em um primeiro
momento uma breve síntese focando em três tópicos abordados no texto: socioleto e diglossia, a
tradução audiovisual e a censura e o dialeto. Para finalizar, traremos algumas problematizações
possíveis dentro do capítulo.

Síntese

Yau traz o conceito de socioleto e diglossia, explicando que o primeiro é um dialeto social
fora do padrão, normalmente utilizado para identificar um grupo determinado e o segundo se refere
a uma situação na qual existem dois códigos distintos e com objetivos bem definidos, ou seja, é o
uso das variedades dentro da mesma língua, sendo uma utilizada para situações formais e outra para
situações informais.
Outro ponto importante abordado no texto é de que forma a tradução de diálogos é afetada.
A tradução audiovisual, diferente de outros tipos de tradução, pois vem acompanhada pela imagem
e som, sendo assim, uma modalidade mais desafiadora para o tradutor que precisa estar atento a
diversos detalhes como o sincronismo labial.
A autora cita a análise de Pettit (2005) que diz que “retaining the style of the original
dialogue may prove difficult”. Para Pettit existem três causas que dificultam esse processo. Sendo
elas a sincronização labial, que muitas vezes causa uma mudança no nível de formalidade utilizada
no texto e afeta a coerência do diálogo. Depois a exclusão ou substituição de expressões coloquiais
por expressões mais formais, principalmente nas legendas, e acredito que esse fato se deva também
pela questão do reduzido número de caracteres aos quais o legendador deve ater-se. E, por fim, a
ausência de expressões equivalentes na língua-alvo, que fazem com o que tradutor precise focar no
significado denotativo daquela expressão e com isso perdendo a identidade estilística que aquela
expressão poderia ter na língua-alvo.
Outro tema trazido pela autora é a censura, que de acordo com Rittmayer (2009:6) ‘biggest
problem for translating slang is censorship—either performed willingly by the translator, or
imposed by some outside body’. Logo, a censura quanto ao uso de determinadas expressões, gírias e
até palavrões sendo imposta, normalmente pelas distribuidoras, mas também por “opções
tradutórias” do tradutor pode afetar e muito a recepção daquele texto dublado ou legendado na
língua-alvo, pois o produto original carrega essas gírias, expressões e palavrões com o objetivo de
causar algum impacto, que acaba por ser apagado na tradução por conta da censura.
O dialeto é mais uma questão importante trazida pela autora, visto que nas obras originais
eles possuem um papel de destaque já que, segundo ela, carregam conotações sociais e culturais e
dificilmente o tradutor conseguirá correspondentes na língua-alvo. Sendo assim, o que costuma
acontecer é uma padronização, ou seja, os tradutores optam por utilizar a linguagem padrão, que
também é tratada por Yau no texto como a linguagem de prestígio. Para Sternberg (1981) traduzir o
dialeto por normas padrões é considerado uma ‘homogenizing convention’, ou seja, uma regra que
busca homogeneizar o texto, sem levar em consideração toda a carga semântica que aquele dialeto
carrega na língua de partida.

Análise

Wai- Ping Yau trata da definição de sociolinguística e para que ela serve de forma clara,
tornando o texto de fácil compreensão até para pessoas que não são da área linguística. A autora cita
diversos autores para explicitar alguns dos conceitos utilizados dentro da sociolinguística. São eles:
sincronismo, diacronismo, repertório, variedade e padronização.
Yau começa a discutir questões da tradução audiovisual a partir da perspectiva
sociolinguística utilizando autores da área da tradução. A partir desse momento, ela divide o texto
em temas como: as restrições, a censura, as expressões tabu, o dialeto, o humor e a diglossia.
A autora divide o capítulo em temas que são extremamente importantes para a tradução
audiovisual e afetam diretamente o trabalho do tradutor, tornando o capítulo uma obra de extrema
importância para os profissionais da tradução, pois aborda conceitos técnicos da tradução
audiovisual a partir de um viés sociolinguístico.
Problematização

Ao finalizar a leitura, notei que muitas das questões/ problemas que nós, tradutores
brasileiros, temos são similares a questões de tradutores em todo o mundo. Contudo, diversos
questionamentos também surgem, como: até onde nós tradutores podemos ter controle sobre o texto
que traduzimos? Ou até onde temos consciência das decisões que tomamos ao traduzir?
Acredito que as três causas que afetam o processo tradutórios, citadas pela autora, são
universais para os tradutores audiovisuais, afinal até em línguas mais “próximas” como o português
e o espanhol, há inúmeros problemas relacionados a falta de equivalência para determinadas
expressões e dificuldade para manter o sincronismo labial devido a palavras terminadas com vogais
mais fechadas e na língua-alvo com palavras terminadas em vogais abertas, fazendo com o que o
tradutor precise buscar sinônimos ou mudar a ordem frasal a fim de solucionar o problema.
Ao ler esse capítulo, e inclusive diversos outros textos acadêmicos da área, confirmo ainda
mais que a tradução audiovisual não é simplesmente algo que se aprenda em um curso de três meses
e sem pré-requisitos como acontece no Brasil e em outros países. Vejo uma capitalização na
formação de tradutores audiovisuais e não uma busca real por formar bons tradutores, então como
podemos formar bons tradutores? Quais conhecimentos são imprescindíveis para a formação de um
profissional de tradução?
Para que os tradutores possam refletir sobre seu processo: por que é importante que eles
tenham conhecimento de conceitos da sociolinguística? Até onde a presença da censura é algo
percebido pelos tradutores? Ou será que é algo transmitido de forma tão sutil que os mesmos não
percebem que suas escolhas tradutórias não estão sendo respeitadas? Até onde o resultado final da
tradução e consequentemente da dublagem é percebido pelos espectadores?
Para finalizar, a autora diz que os pesquisadores da tradução (e acredito que os tradutores
também) devem refletir sobre a suposição de que o público não tem conhecimento da língua de
origem e que por isso está à mercê dos tradutores. Acredito que ela levanta essa questão exatamente
porque, nós, tradutores muitas vezes também pensamos assim e não levamos em consideração que o
espectador pode sim ter conhecimento do idioma e se sentir enganado pela tradução. Então, até que
ponto os tradutores devem pensar nos espectadores no momento de traduzir?

Referência:
YAU, Wai-Ping. Sociolinguistics and linguistic variation in audiovisual translation. In: PÉREZ-
GONZÁLES, Luis. (ed.). Routledge Handbook of Audiovisual Translation. London / New York:
Routledge, 2019, p. 281-295.

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