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INTÉRPRETE DE LÍNGUA

DE SINAIS BRASILEIRA
NA SALA DE AULA

Autoria: Elis Gorett da Silveira Lemos

2ª Edição
Indaial - 2022
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2022

L557i

Lemos, Elis Gorett da Silveira

Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula. / Elis Gorett da Silveira


Lemos – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

111 p.; il.

ISBN Digital 978-65-5646-516-6

1. Intérprete de língua de sinais brasileira – Brasil. II. Centro Universitário


Leonardo da Vinci.

CDD 370

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
REFLEXÕES SOBRE A NATUREZA DO PROCESSO TRADUTÓ-
RIO E DOS ESTUDOS DA TRADUÇÃO........................................... 9

CAPÍTULO 2
TRADUZIR E INTERPRETAR: LIMITES E POSSIBILIDADES NO
CAMPO DA EDUCAÇÃO................................................................ 37

CAPÍTULO 3
AS ESCOLAS E OS PROFISSIONAIS INTÉRPRETES DE LIBRAS:
A INOVAÇÃO NO ÂMBITO DA INTERPRETAÇÃO........................ 73
APRESENTAÇÃO
As diferentes maneiras que o ser humano possui de se comunicar vai para
além da compreensão das línguas orais que fazem uso do canal oral auditivo
para estabelecer uma comunicação. Enquanto as línguas de sinais se projetam
utilizando o espaço, a visualização as mãos e as expressões para estabelecer
uma comunicação com o meio. Contudo, para os surdos usuários da língua
de sinais uma ferramenta humana possui um papel fundamental para que a
compreensão aconteça entre as partes do discurso: o intérprete de língua de
sinais, um profissional que possibilita a transparência e a concreta comunicação
entre surdos e não surdos.

Este livro tem a importante tarefa de trazer a você acadêmico, alguns


conhecimentos acerca desse profissional que deve estar nos mais diversos
espaços sociais e que é fundamental para que a comunicação aconteça de
maneira efetiva, visto que a necessidade da comunidade surda em contar com um
profissional que faça a intermediação no processo comunicativo se tornou cada
vez mais fundamental.

Inicialmente, a atuação desse profissional acontecia na informalidade, ou


seja, pais ou membros da família das pessoas surdas faziam essa função, porém,
com a oficialização da língua Brasileira de Sinais esse profissional se tornou ainda
mais fundamental trazendo a regulamentação da profissão. Sua função é de
interpretar uma determinada língua de sinais para outra língua, ou de uma língua
oralizada para uma língua de sinais. O intérprete de Libras é aquele profissional
que deve dominar as línguas que envolvem o discurso, dominar de maneira plena
e satisfatória, assim como ter conhecimento profundo em estratégias e técnicas
de tradução.

Falaremos dos objetos de tradução, o papel do ato tradutório e as estratégias


que abarcam o ato de interpretar. O universo que envolve o papel do profissional
intérprete de Libras é vasto e extremamente importante. Neste livro vamos abraçar
a responsabilidade de apresentar o que envolve as práticas profissionais de sua
atuação.

Portanto, ao realizar um passeio por este livro, você compreenderá que o


profissional intérprete de Libras possui um papel fundamental na vida do sujeito
com surdez que se comunica através da Libras, empoderado da Lei nº 12.319, de
1º de Setembro de 2010 (BRASIL, 2010) que demarcam suas responsabilidades
e direitos, acabam por tomar posse de seus espaços de atuação, seja na área
educacional ou social.
Desse modo, no Capítulo 1, iremos trazer algumas reflexões sobre a
natureza do processo tradutório e dos estudos da tradução, o conceito do que
é tradução e conceituar processos tradutórios que envolvem a boa prática de
traduzir. Faremos uma discussão acerca dos processos de interpretação e o papel
do profissional tradutor. Vamos buscar entender e refletir o sentido do processo de
tradução, comentando a trajetória dos estudos da tradução discutindo a tarefa do
tradutor e seu ponto de vista enquanto profissional. Por fim, viajaremos através
dos princípios tradutórios no campo profissional que envolvem as práticas do
intérprete de línguas.

Historicamente, o profissional tradutor intérprete de Libras ocupou um espaço


de auxiliador e amigo do surdo, visto que sua função estava ligada a relações
sentimentais como as familiares e religiosas. Esse fato não exime seu dever
de dominar profundamente a língua de sinais e a língua portuguesa, no caso
do tradutor intérprete de Libras, também é possível dominar o inglês, espanhol,
língua de sinais americana – ASL, entre outras para agregar conhecimento e
ampliar se campo de atuação.

Em consonância com esse argumento, no Capítulo 2 trataremos dos limites


e possibilidades no âmbito de traduzir e interpretar em Libras, discutiremos as
diferenças entra a tradução e a interpretação sem deixar de refletir sobre os
aspectos linguísticos culturais e situacionais que envolvem o ato de traduzir e
de interpretar em Libras. Falaremos também do intérprete de Libras enquanto
mediador social e linguístico de uma comunidade minoritária e um breve histórico
educacional de sua trajetória, buscaremos entender seu papel com base na
trajetória histórica de sua formação profissional.

No Capítulo 3, faremos uma breve discussão acerca das escolas e os


profissionais intérpretes de Libras, saberemos quem são os profissionais
envolvidos na educação dos surdos, as diferentes situações enfrentadas por
esses profissionais no âmbito escolar. Vamos apresentar de maneira breve as
estratégias de tradução e de interpretação dentro das situações específicas do
contexto educacional, embasados na ética, responsabilidade e profissionalismo.

Após essa apresentação e sob esse prisma lhe convidamos para iniciar
seus estudos sobre a disciplina de Intérprete de língua de sinais brasileira em
sala de aula – Libras, iremos viajar por uma estrada repleta de curiosidades e
ética. Este livro é um forte aliado na construção de seu conhecimento acerca do
profissional intérprete de Libras, aproveite-o e efetive as leituras complementares
com atenção e responsabilidade, seja cuidadoso e determinado nas atividades de
cada capítulo empodere-se do conteúdo para argumentar com segurança acerca
do profissional responsável pela tradução e interpretação de Libras nos espações
onde a língua de sinais e a educação de surdos seja principal tema discutido.

Vamos começar!
C APÍTULO 1
REFLEXÕES SOBRE A NATUREZA
DO PROCESSO TRADUTÓRIO E DOS
ESTUDOS DA TRADUÇÃO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Entender e refletir sobre o processo tradutório.


 Compreender a trajetória dos estudos da tradução.
 Discutir a tarefa do tradutor do ponto de vista profissional.
 Dialogar com os princípios da tradução.
 Articular os princípios tradutórios no campo profissional.
 Discutir os processos tradutórios e de interpretação.
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

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Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Como acontece o desenvolvimento da tradução e da interpretação são
assuntos que buscaremos tratar nesse livro, esses dois fatos são importantes
para a compreensão do universo que envolve não apenas os surdos, mas
principalmente o profissional que atua diretamente com a língua brasileira de
sinais. Entretanto, é fundamental compreender as diferenças entre tradução e
interpretação para que os processos que envolvem ambos sejam compreendidos
de maneira clara e objetiva.

São diversas diferenças entre os processos de tradução e interpretação,


e as mais fundamentais são aquelas que compreendem o campo operacional,
visto que o tradutor converte um texto escrito em outro texto escrito, e o intérprete
estabelece uma comunicação oral/sinalizada para outra comunicação oral/
sinalizada. Outra diferença é que na tradução é possível refletir sobre o trabalho,
interromper, retomar, consultar livros, fontes de informação, pessoas, outras
versões realizadas para a mesma obra, fazer todo um julgamento e reparo antes
de finalizar o trabalho, até conseguir chegar à melhor forma de expressar a ideia
do autor na língua de partida.

Conhecidas, inicialmente, as particularidades dos campos da tradução e


da interpretação, é necessário, agora, aproximar o foco às especificidades da
tradução. Dois objetivos orientam, especialmente, este capítulo: 1) estudar sobre
o que consiste a tradução, seus processos tradutórios e a tarefa do tradutor, e
destacar estratégias tradutórias mais frequentes, utilizadas por tradutores para
fazer face ao desafio de traduzir um texto da língua de origem para a língua de
chegada. 2) compreender os processos de Interpretação.

No próximo tópico será conceituado tradução.

2 CONCEITOS E TIPOLOGIAS DA
TRADUÇÃO
A tradução não se vê como a obra literária, mergulhada,
por assim dizer, dentro da floresta da língua, mas
fora dela, frente a ela, e sem penetrá-la, ela chama o
original neste único lugar onde, a cada vez, o eco de
sua própria língua pode reproduzir a ressonância de
uma obra da língua estrangeira (Walter Benjamin).

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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Diferentes definições de tradução são encontradas nos materiais disponíveis,


algumas julgam a tradução como atividade entre as línguas, enquanto outras
consideram que o aspecto textual assume um papel mais relevante, já outras,
observam, muito mais o processo comunicativo da atividade.

Essas diferenças entre os conceitos de tradução advêm, de definições que


derivam de concepções diversas do que realmente se compreende pelo ato de
traduzir. Dentre tais definições, Albir (2008) destaca que a tradução como uma
atividade entre línguas, como atividade textual, como ato de comunicação e
como processo. Pensamento que é verdadeiro devido à realidade do fato, porém,
autores como Vinay e Darbelnet (1958 apud ALBIR, 2008, p. 37) buscam refletir
que a definição de tradução é aquela que considera o “passar de uma língua para
outra, de uma língua A para uma língua B, para expressar uma mesma realidade”.

As teorias linguísticas são as que se aproximam dessa definição, porém,


para aprofundar no tema da tradução não são satisfatórias, considerando que
privilegiam apenas o elemento linguístico. Para Nida e Taber (1969; p. 29) a
tradução consiste em reproduzir, mediante uma equivalência natural e exata,
a mensagem de uma língua original para outra língua receptora. É importante
destacar que a tradução não deve ser considerada como um processo de
comparação entre línguas, mas podemos afirmar que esse é um processo que
se relaciona com os processos de compreensão e de expressão na comunicação
monolíngue, visto que “o processo de tradução está mais relacionado com a
operação de compreensão e reexpressão do que de comparação de línguas”
(SELESKOVITCH; LEDERER, 1984, p. 18).

Nesse sentido, Steiner (1975, p. 44) afirma que é um processo de


transformação, interpretativo, hermenêutico: destaca que o modelo esquemático
da tradução é o de uma mensagem vinda de uma língua fonte que passa por uma
língua receptora, assim que tenha sofrido um processo de transformação. Outros
autores também se posicionam próximos a essa definição do caráter textual da
tradução, Catford (1965, p. 39) afirma que “la sustituiciòn de material textual em
uma lengua (LO) por material textual equivalente em outra lengua (LT)”. Apesar
de muito bem descrita percebe- se que a análise de Catford está centrada no
plano da língua, e que para House (1977, p. 38) o caráter da tradução quando
afirma que a ela é uma substituição de um texto na língua de partida por um texto
semântico e pragmaticamente equivalente na língua meta. O autor direciona-se
para os aspectos semânticos e pragmáticos que comportam a tradução.

Sob o ponto de vista de Seleskovitch, Lederer (1984, p. 256) “traduzir significa


transmitir o sentido das mensagens que contém um texto e não converter para
outra língua, a língua em que está formulado”. Reivindicando o caráter textual da
tradução, e insistindo que a tradução é o sentido, afirma ainda que “traduzir é um

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Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

ato de comunicação e não de linguística” (SELESKOVITCH; LEDERER, 1984, p.


256). Para tanto é necessário aproximar o entendimento de que nesse processo
é a determinação do que intencionava-se dizer o emissor da mensagem ou texto
original.

FIGURA 1 – TRADUÇÃO E CULTURA

FONTE: <https://bit.ly/38HPJWP>. Acesso em: 6 maio 2021.

As culturas são diferentes e representam os hábitos de um grupo de


pessoas, as línguas orais culturalmente expressam suas experiências por meio da
transmissão audiovisual, enquanto em todas nas línguas sinalizadas de qualquer
parte do mundo, conforme está ricamente representado na imagem anterior, todos
os conceitos, hábitos e experiências são absorvidos pelo canal visual espacial. É
pelas mãos e pelos olhos que o mundo surdo apreende, interpreta e alcança o
conhecimento necessário para uma vida igualitária no sentido comunicacional em
uma sociedade majoritariamente ouvinte.

Repetidamente ouvimos expressões que se referem,


popularmente, à cultura: “Você tem cultura?”, “Aquela jovem é muito
culta!”, “Ele não tem nenhuma cultura”, ou ainda: “Ele respeita a
cultura de seus avós”. Todas essas, e muitas outras formas de
expressão, referem-se à mesma palavra, porém com significados
diferentes. A cultura pode ser associada a uma ideia de erudição,
cultura como arte, como conhecimentos gerais, como acesso ao
conhecimento. Observando a cultura como acesso, ela se caracteriza
como algo que alguns possuem e outros não. Por outro lado, pode

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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

estar relacionada a uma determinada forma de elaboração simbólica,


através da qual os seres humanos são categorizados.
Sob esta última ótica, a cultura é definida a partir de
características étnicas e sociais de determinados grupos que ao
viverem e conviverem em coletividade constroem significados
específicos para suas vidas. Mesmo que tais resultados não devam
ser usados na homogeneização desse grupo, possibilitam pensar a
capacidade que os grupos humanos possuem de se diferenciarem,
o que é uma de suas características centrais. Nesse viés, a reflexão
sobre cultura conduz a considerações sobre a magnitude da
diversidade humana e, portanto, sobre diferentes visões de mundo
que são construídas por grupos particulares, assim como a maneira
com que tais visões organizam a vida desses grupos.

As questões culturais também fazem parte desse universo de compreensão


do que é traduzir, Campos (1986, p.27-28) chama a atenção para esse fato
quando afirma que “não se traduz, afinal, de uma língua para outra, e sim de uma
cultura para outra; a tradução requer, assim, [...] um repositório de conhecimentos
gerais, de cultura geral, que cada profissional irá [...] ampliando e aperfeiçoando”.

Partindo dessa análise, podemos dizer que a tradução é um ato que


proporciona a comunicação entre as partes e que apresenta um contexto
específico onde a influência sociocultural se faz presente, sinalizamos ainda que
a tradução é vista como transporte cultural, onde a fidelidade e a recepção dela
possuem um grau de importância fundamental

À luz do pensamento de Hatim y Mason (1990; 1995), que apresentam a


tradução é um processo comunicativo que tem lugar em um contexto social,
Herman (1991) se posiciona e compreende a tradução como uma prática
comunicativa e que, portanto, é um tipo de comportamento social.

A tradução tem lugar em uma situação comunicativa e que


os problemas de comunicação podem definir-se como o
que se denomina problemas de “coordenação interpessoais
que representam também os problemas de interação social”
(HERMAN 1991, p.160).

Sabemos que a tradução é sim, um ato entre culturas e que o papel do


tradutor é primordial para que a comunicação se torne efetiva e funcional. Toury
(1981 p. 81) define a tradução como “um ato intrassistêmico de comunicação”.
Para autores como Snell-Hornby (1988) e Hewson e Martin (1991), a tradução é

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Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

um ato transcultural, uma relação entre as culturas envolvidas, na qual o tradutor


é considerado como um operador cultural. Já, para Nord (1988; 1991) a tradução
também é um ato comunicativo, cujo critério fundamental é a funcionalidade.

3 ESTUDOS DA TRADUÇÃO E SEUS


PROCESSOS TRADUTÓRIOS
Percebemos que são diversas as definições acerca da tradução, no âmbito
da tradução, autores discutem sua complexidade e funcionalidade, porém,
compreendemos que não conseguem atender, de forma plena ou isoladamente,
sua multiplicidade, não conseguimos identificar suas características no texto, no
ato comunicacional e na atividade cognitiva, assim, consideramos que a tradução
é um processo de comunicação e, também, de reformulação social.

Albir (2008) apresenta também esse conceito e busca identificar três traços
fundamentais para definir de maneira mais efetiva as características da tradução.
Primeiramente, o autor considera que a tradução tem, sim, uma finalidade
comunicativa, para o destinatário que não tem conhecimento de determinada
língua na qual encontra-se um texto, permitindo a compreensão por meio da
comunicação ativa. Todavia, nesse caso o tradutor deve considerar as intenções
comunicativas presentes e o fato de que cada língua se expressa de maneira
diferenciada em cada cultura, assim é necessário observar as necessidades do
destinatário.

A la hora de reproducir em outra lengua y cultura esse texto,


el traductor debe considerar que no se trata de plasmar la
cobertura linguística sino las intenciones comunicativas que
hay detrás de ella, teniendo em cuenta que cada lengua
las expressa de uma manera diferente y considerando las
necessidades de los destinatários y las características del
cargo (ALBIR, 2008, p. 41).

Todos os elementos que integram a tradução devem fazer parte dessa forma
de comunicação, visto que a finalidade da tradução pode ainda ir ao encontro do
público a que se dirige, por meio dos métodos e soluções diferenciados escolhidos
pelo tradutor.

Em segundo lugar, (Albi, 2008) considera que a tradução não se situa no


plano da língua, mas sim no da fala, sendo que não se traduzem as unidades
isoladamente, de forma descontextualizada: se traduzem os textos. No momento

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da tradução de um texto, deve-se analisar os mecanismos de funcionamento


textual presentes (coerência, coesão e os diferentes tipos de gêneros textuais),
percebendo que esses mecanismos diferem de línguas e culturas.

Em terceiro lugar, o autor considera que não se pode jamais esquecer que
a tradução é a atividade de um sujeito (um tradutor), que necessita de uma
competência específica para traduzir um texto, a qual é chamada de competência
tradutória. A tradução consiste em um complexo processo mental, que se constitui
primeiramente em compreender o sentido que esse transmite e, na sequência,
reformulá-lo com os meios da outra língua.

Percebemos que para essa autora, qualquer definição de tradução tem que
incluir necessariamente essas três caracterizações: texto, ato de comunicação
e a atividade cognitiva de um sujeito. Considera a definição da tradução como
um processo interpretativo e comunicativo que busca a reformulação de um texto
de uma língua para outra, de uma cultura para outra, sempre ligado ao contexto
social e com uma finalidade determinada. Entendemos que esse pensamento é
ação entre textos e não apenas entre línguas, na qual deve-se analisar todos os
mecanismos de atualização textual, não apenas as suas relações internas (de
texto para texto), mas também a importância de observar as relações externas,
com os fatores condicionantes externos:

las coordenadas espaciales y temporales, la importância del


receptor, del encargo y de la finalidade de la traducción, así
como las competências y los processos mentales implicados.
(ALBIR, 2008, p. 41).

A autora defende a importância em integrar esses níveis de análises, assim


como a necessidade de um enfoque integrador dos estudos sobre a tradução que
analise sob a ótica dessas três perspectivas. Devemos considerar também que
a tradução é uma experiência que pode se abrir e se reencontrar na reflexão,
que por sua vez não é considerada a descrição impressionista dos processos
subjetivos do ato de traduzir, e não consideramos ser uma metodologia, mas uma
experiência. “Assim é a tradução: experiência. Experiência das obras e do ser-
obra, das línguas e do ser-língua. Experiência, ao mesmo tempo, dela mesma, da
sua essência” (BERMAN, 2013, p. 23).

Berman (2013) reavalia a tradução a partir de sua visão, após considerar


alguns de seus entendimentos históricos. Chama a atenção para o fato de que a
tradução não é uma subliteratura (definição do século XVI), não é uma subcrítica
(proposição do século XIX), nem tampouco uma linguística ou uma poética
aplicada (como acredita-se no século XX). Defende, antes, que a tradução é o
sujeito e o objeto de um saber próprio: a tradução é tradução-da-letra, do texto
enquanto letra.

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Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

As duas concepções tradicionais e dominantes na tradução literária são a


tradução etnocêntrica e a tradução hipertextual, sendo ambas entendidas como o
modo segundo o qual uma porcentagem impressionante de traduções é feita há
séculos (BERMAN. 2013, p. 39). Muitos tradutores, autores, críticos e estudiosos
da área julgam-nas como conceitos normais de traduzir, consideradas ideais.

3.1 TRADUÇÃO PARA LÍNGUA DE


SINAIS
Ao analisarmos o ponto de vista de Berman, conseguimos refletir como a
cultura ouvinte percebe as normas que são adotadas na tradução para Libras.
O etnocentrismo na tradução de textos do Português para Libras apresenta
fortemente essa característica: na grande maioria das vezes esses textos são
adaptados para a língua visual sem estabelecer relação com a cultura e identidade
surda, ou quando estabelecem o fazem de maneira muito superficial.

Observa-se que em muitos textos traduzidos para Libras seguem-se as


mesmas especificidades da língua oral, e apresentam de forma sutil a dominação
sob a língua do outro, representada pela imposição da língua oral. Tal observação
acontece quando percebemos que um texto traduzido para o Português “escrito
sinalizado” (quando a estrutura da Libras não é a base dessa escrita, mas sim o
Português de forma mascarada em meio aos sinais).

Muitas vezes, esse fato também acontece no momento da tradução por vídeo,
na sinalização realizada de forma simultânea com a oralização de cada palavra e
cada sinal, surgindo o Português sinalizado. Essa imposição na tradução para
Libras revela a dominação e a imposição do Português, oral ou escrito, sendo
possível fazer uma relação com a tradução etnocêntrica citada por Berman.

A tradução hipertextual é uma concepção dos séculos XVII e XVIII, e que


pode parecer ultrapassada por alguns profissionais da tradução. “Remete a
qualquer texto gerado por imitação, paródia, pastiche, adaptação, plágio, ou
qualquer outra espécie de transformação formal, a partir de um outro texto já
existente” (BERMAN, 2013, p. 40).

No período em que esse conceito de tradução foi praticado com maior


frequência, os textos eram “transformados, pela própria vontade, em uma obra
estrangeira”. Permitia-se substituir certas palavras por outras mais convenientes,
suprimir uma passagem “por ser obviamente ridícula demais”.

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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Na Língua de Sinais, textos de diferentes tipos se entrelaçam para que


a tradução aconteça, havendo, ainda, o envolvimento e a interação facial
características dessa modalidade de língua. Contudo, como Albres (2015) alerta,
mesmo com as interações face a face, conforme acontece na língua de sinais, o
tratamento que se dá ao ato de traduzir está relacionado à estrutura linguística
escrita.

Os movimentos que buscam incentivar uma educação bilíngue para os


surdos e as traduções literárias que são realizadas frequentemente, propiciam a
tradução de diferentes obras literárias que estão em português para a Libras.

Buscamos luz no posicionamento de Albres (2015) e corroboro a ideia de que


a tradução está ligada diretamente aos aspectos multifacetados e multimodais da
linguagem humana. Arriscamos afirmar que, em se tratando de língua de sinais,
essa ligação é marcada com maior intensidade. Para tanto, a compreensão de
como se traduz os materiais multimodais pode ser importante para que, a partir
daí, as escolhas se estabeleçam na função tradutória e estratégica do tradutor.

Para Albres (2015), em seu artigo “Tradução intersemiótica de literatura


infanto-juvenil: vivências em sala de aula”, apresenta uma discussão acerca
de quais são as mudanças na construção dos sentidos segundo os textos
apresentados em materiais multimodais. Ainda nessa produção a autora revela
materiais literários para o público infanto-juvenil, analisando episódios de vídeo-
gravação. Os recursos semióticos são utilizados fortemente nas mídias, e

[…] congregar o verbal e o não-verbal em materiais impressos


para crianças e jovens sempre foi algo mais comum que em
outros materiais, em que o visual permanecia praticamente
invisível até começar a ser amplamente explorado pelas
tecnologias computacionais e surgir realçado em diferentes
contextos (FERNANDES, 2013 apud ALBRES, 2015, p. 389).

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Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

FIGURA 2 – TRADUÇÃO LITERÁRIA EM LIBRAS

FONTE: http://www.casaguilhermedealmeida.org.br/revista-
reproducao/ver-noticia.php?id=111. Acesso em: 7 maio 2021.

A Figura 2 nos remete claramente à construção e fortalecimento da tradução


literária em Libras e a sua importância para o desenvolvimento da comunidade
surda e sua relação com as mais diversas literaturas. Toda essa conversa, até o
momento, em busca de percepções que tragam amparo a definição de tradução
foram válidas e com contribuições fundamentais para a construção do conceito
do que entendemos hoje ser a tradução. Também nos revelaram uma linha de
raciocínio notável na área desse campo de pesquisa que são as traduções para o
público surdo. Tais materiais estão mais ligados à área da literatura e fortemente
ao público infanto juvenil, sabemos de traduções de material didático e adaptações
para faixa etária maior, porém ainda com um número não muito expressivo.

O conhecimento que temos é de que os materiais literários disponibilizados


para o público surdo trazem contribuições extremamente positivas, visto que
assumem formas específicas da cultura visual e que favorecem a interação
sujeito-material. A grande maioria das traduções são por meio de vídeos em Libras
e representam a tradução do texto escrito em português ou em outro idioma oral,
essa prática caracteriza um dos diferentes modos dessa interação. Albres (2015,
p. 389) afirma que “as traduções literárias para o público infanto-juvenil, em línguas
de sinais, requerem o uso de interfaces tridimensionais e digitais que contribuam
para a leitura da expressão em sinais por meio do vídeo”. Embora as traduções
com interfaces tridimensionais e digitais eliminem ou minimizem as barreiras de
compreensão literária que se concretizam desde as primeiras fases escolares,
grifo ainda, que para o público adolescente surdo, os materiais disponíveis são

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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

mais reduzidos.

Lemos (2017), em sua dissertação, “ Leitura, Surdez e Inclusão: Tradução


comentada do conto “Vestida de Preto” do Português para língua brasileira de
sinais- Libras”, nos revela diferentes projetos que apresentam materiais bilíngues
e traduzidos para línguas de sinais de diferentes países que contribuem de forma
positiva não apenas com o aprendizado das pessoas surdas acerca de literatura
e suas infinitas possibilidades de relação com o mundo, mas também nos revela
magnitude de traduções para uma língua visual com um público expressivo. A
exemplo da Argentina, com o projeto Video libras Virtuales, em LSA (Língua de
Sinais Argentina) e dos Estados Unidos (através da Universidade Gallaudet), com
o projeto Bilingual Storybook App. Em território nacional contamos com Editora
Arara Azul tem trabalhado fortemente com a tradução cultural de literatura, por
meio de traduções de clássicos para Libras, em parceria com o Ministério da
Educação Brasileiro.

Essas ações garantem de maneira importante materiais bilíngues, traduzidos


para Libras, sua distribuição contribui tanto para o desenvolvimento da pessoa
surda enquanto estudante, mas também na relação do sujeito com o mundo
externo revelando fortes percepções internas que moldam o ser humano. As
escolas públicas com matrículas de alunos surdos se tornam uma forte aliada na
difusão da Libras, assim como para a aprendizagem e a experiência leitora dos
surdos brasileiros.

É importante ter conhecimento de que a análise e as discussões que


envolvem a tradução de literatura para as pessoas com surdez no âmbito nacional,
que é o que estamos alinhando nesse material, cabem sim, principalmente
aos estudiosos da área, obviamente não queremos aqui eximir aos demais da
parcela de responsabilidade. Contudo, é necessário aproximar o olhar com um
direcionamento mais refinado quando falamos de uma investigação do diálogo
que, na literatura não visomotora, que se estabelece na interação entre o texto, as
ilustrações e o design do material, e que na Libras compõe um produto multimodal
(ALBRES, 2015).

Aproximo minha análise a da autora, e exponho ainda que esse objeto de


estudos é complexo, logo, para adquirir uma visão multidisciplinar da tradução,
é fundamental a articulação acentuada com a educação, com a linguística e
tecnologia. Para tanto, os profissionais da tradução Português-Libras devam
sempre estar intimamente apropriados dessas configurações. A tradução
intersemiótica de literatura para adolescentes requer sensibilidade, interesse
e competência por parte dos tradutores Português/Libras. Ainda amparada em
Albres (2015), acredita-se que, ao propor a discussão e a reflexão sobre novas

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Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

formas de linguagens narrativas, meios eletrônicos, realidade virtual, surgem


formas diversas de interação com as obras, sendo elas literárias ou não,
proporcionando um diálogo multimodal e multidisciplinar entre as áreas.

3.2 ALGUMAS ESTRATÉGIAS DE


TRADUÇÃO PARA LIBRAS
O registro escrito sempre foi o meio que acontece a execução da tradução,
historicamente a relação do profissional se dá por meio de práticas escritas, esse
ponto de vista acaba por ignorar outros aspectos que são fundamentais para os
sentidos do sujeito quando está em conexão com a leitura.

Albres (2014; 2015) revela que é fundamental a tradução do Português para


Libras por meio de vídeo, e que o uso de interfaces tridimensionais e digitais,
contribuem significativamente para a leitura da expressão em sinais. O objetivo
maior desses materiais traduzidos por vídeo em Libras é de proporcionar o
aprendizado e o conhecimento para o sujeito surdo, muitas vezes esses materiais
são apresentados juntamente com o material em português, porém, a relação
entre a tradução, leitura e literatura é real e efetiva.

Albres (2014) sugere a criação de critérios para procedimentos de tradução


de literatura infanto-juvenil do Português para a Libras. No trabalho de natureza
analítico-descritiva, “Tradução de literatura infanto-juvenil para língua de sinais:
dialogia e polifonia em questão”, Albres (2014) sugere a criação de critérios para
procedimentos de tradução de literatura infanto-juvenil do português para Libras,
argumenta acerca da tradução, realizada por Neiva de Aquino Albres e Sylvia
Grespan Neves, da obra Guilherme Augusto Araújo Fernandes, de autoria de
Mem Fox.

Do ponto de vista da autora o intérprete que, em minha opinião, também


é o tradutor, não faz a tradução apenas do texto em si, o profissional faz uso
das ilustrações do livro, pelo gênero discursivo e pelo público-alvo em potencial.
Salienta ainda que:

O tradutor/ intérprete, a todo o momento, faz uso de juízo de


valor no processo de interpretação, há valorização do conteúdo
da obra, da relação desse conteúdo com seus valores pessoais
e da sociedade em que vive, como também, há valorização do
público a quem se destina a sua tradução (ALBRES, 2014, p.
1156).

21
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Lemos (2017), em sua dissertação, faz uma breve análise do ponto de vista
da autora e constata que ela identifica a forma como o tradutor constrói os sentidos
sobre o texto-fonte que se apresenta, percebendo também como acontece a
materialização em texto de chegada por meio da sinalização gravada por vídeo.
Concordamos com as ideias postas em sua pesquisa de dissertação quando
ela afirma que “todas essas particularidades da tradução, como juízo de valor,
valorização do conteúdo e do público-alvo necessitam determinados critérios e
escolhas pelo tradutor” (LEMOS, 2017, p. 37).

O uso do espaço pelo tradutor para o processo de geração de sentidos


e os espaços na perspectiva do leitor de texto multimodal são as duas as
categorias que Albres (2014) analisa em sua pesquisa, quando na primeira
categoria, a autora analisou dois momentos de tradução, esses trechos arbitrários
representam a duas páginas do livro, porém, conseguem designar o processo de
geração de sentidos partindo do ponto de vista do texto verbo-visual. Ao analisar
a segunda categoria, optou por uma página do livro que possibilitasse a discussão
da visualização do material digital em língua brasileira de sinais.

Em se tratando do uso de espaço para o processo de geração de sentidos, a


autora que também é profissional-tradutora da área de Libras, optou por exibir os
diferentes espaços em uma intensa discursividade verbo-visual como motivadora
de sua enunciação. Com base em sua pesquisa buscamos luz e também
compreendemos que as tradutoras não leem apenas as palavras do livro, mas
também atribuem sentido, considerando a ilustração, a forma gráfica, bem como o
contexto social em que a leitura se dá (ALBRES, 2014, p. 1160).

Durante a escolha tradutória alguns termos que não constam no texto-fonte


em português, podem ser incluídos quando estão ilustrados no livro, porém, com a
observância de seguir de maneira fiel o contexto, tal alternativa objetiva aproveitar
ao máximo o potencial visual para a construção de sentidos, pois algumas palavras
não possuem de sinal. Critérios como: o uso do corpo, o local de sinalização no
espaço, a apontação e a direção do olhar, são escolhas da tradutora para indicar,
por exemplo, os espaços trabalhados no texto, visto que seu corpo tende para o
lado direito e/ou esquerdo, sempre na perspectiva do sinalizador.

Outro critério observado por Lemos (2017) na pesquisa de Albres (2014), é


que a tradutora para apresentar o discurso dos personagens e suas localizações
optou pela postura na expressão corporal de narrador da história, direcionando o
olhar para o leitor e o uso do espaço mental sub-rogado, o qual acontece quando
o sinalizador incorpora o personagem, situação em que pode assumir o papel
de qualquer pessoa da situação narrada e sinalizar como se fosse ela (LEMOS
2017).

22
Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

As orações curtas, simples e diretas também preponderam em Libras, sendo


comum o sujeito em terceira pessoa no português (ele) e o tradutor alterar o
discurso direto para a primeira pessoa (eu) no processo da tradução, para Albres,
essa estrutura é essencial à enunciação e envolve a incorporação de personagem
na Libras (ALBRES, 2014, p. 1163). Contribuímos com o pensamento da autora
afirmando que em Libras é comum também os movimentos de corpo em direção
para a direita e esquerda, e a direção do olhar para melhor explicitação de qual
personagem enuncia.

Outro trabalho, intitulado “Tradução intersemiótica de


literatura infanto-juvenil: vivências em sala de aula” (2015), de
Neiva Albres, discute e analisa episódios de vídeo- gravações que
focalizam a mediação da professora – mediadora, em contextos de
trabalho de construção dos sentidos em uma atividade de tradução
coletiva de um texto multimodal, assim como a conscientização
da complexidade e da especificidade das escolhas linguísticas e
discursivas envolvidas no processo tradutório.

FONTE: ALBRES, N. “Tradução intersemiótica de literatura infanto-juvenil:


vivências em sala de aula”. Estudos da Tradução e da Interpretação
de Línguas de Sinais, Florianópolis, v. 35, n. 2, 2015.

4 O TRADUTOR E INTÉRPRETE DE
LIBRAS
FIGURA 3 – TILSP – TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS/PORTUGUÊS

FONTE: Acervo pessoal da autora

23
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Algumas pesquisas que abrangem a área da tradução e interpretação de


Libras/ Português vêm contribuindo para as reflexões e discussões sobre o tema,
estudos como o de Santos (2006), Martins (2009), Russo (2009), Jordão (2013),
Santos (2013) e Menezes (2014), apontam a importância e a pertinência do
aprofundamento das questões de formação do profissional tradutor intérprete de
Libras, que é uma profissão que tem ganhado novos moldes ao longo da história,
inclusive, reconhecimento social e legal que ampliam as representações sobre a
atividade e inserção desse profissional em diferentes espaços.

À luz de Santos (2013), buscamos compreensão no panorama das pesquisas


sobre o TILS e em sua análise por categorias que afloram e emergem de teses e
dissertações realizadas desde o final do século XX. Revela que a Educação é a
área primordial dessas pesquisas, mas que não podemos negar a existência de
uma transição e um empoderamento no campo dos Estudos da Tradução.

Na pesquisa, apresenta alguns sinais críticos das pesquisas se tratando de


conflito de identidade, caracterização do papel do intérprete de Libras e trajetórias
formativas, além do fato de que a qualificação dos intérpretes influencia a tradução
e interpretação que realizam, levando a crer que o desenvolvimento profissional é
fundamental (SANTOS, 2013).

A prática do profissional tradutor e intérprete de Libras e de Português (TILPS)


já está legalizada em campo nacional, essa conquista é muito recente, apesar de
haver indícios de sua existência há décadas. As discussões acerca da atuação
desse profissional ganham força intensamente em espaços onde a pessoa com
surdez, usuário de Libras, está presente assumindo um papel importante na
sociedade.

Martins (2009) nos presenteia com sua pesquisa, quando apresenta as


trajetórias de formação do intérprete de Libras, revelando a existência de um
percurso formativo recente e ainda com algumas fragilidades. Concordamos com
a autora quando ela aponta a importância da interação com a comunidade surda
para que se defina a apropriação de saberes científicos nas relações de trabalho
desse profissional, que acontece também no campo religioso.

A formação do profissional tradutor intérprete de Libras, requer que se


contemple “a dimensão discursiva da linguagem, isto é, seu uso concreto, dessa
maneira possibilita reflexões sobre os processos de construção de sentidos a
partir das situações concretas de enunciação’” (ALBRES; NASCIMENTO, 2014, p.
226 apud ALBRES, 2015, p. 392).

24
Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

Santos (2006), realiza um valoroso estudo sobre as identidades do


tradutor-intérprete e em suas análises indica questões como assistencialismo,
voluntariado, formação e profissionalização permeiam na formação e constituição
das identidades desses profissionais que são múltiplas e determinadas a partir de
diferentes elementos, como marcadores culturais e linguísticos.

Outra autora que se debruça sobre o tema e nos traz ricas considerações é
Russo (2009), quando afirma que, enquanto formadora de intérpretes de língua
de sinais, busca sentidos dos discursos dos sujeitos de sua pesquisa durante
percursos de formação e enquanto profissionais atuantes na área. A autora
revela ainda os aspectos relacionados à proficiência da língua em uso, salienta
fortemente a necessidade de apropriar-se de um saber fazer a interpretação,
e que a singularidade dos profissionais e a importância da demonstração de
diversos saberes, técnicas específicas e práticas relacionadas aos contextos
distintos, bem como o pertencimento à comunidade surda, são questões que
devem acompanhar de maneira muito expressiva o pensar do tradutor intérprete
de Libras.

Assim, esse profissional necessita de constante formação para garantir


que seu trabalho aconteça de maneira eficaz, no Decreto 5.626/2005 (BRASIL,
2005), a formação deve seguir por meio de cursos de extensão, graduação
Letras-Libras e/ou em cursos de pós-graduação, organizados em instituições
educacionais. Percebe-se, no entanto, que existe uma carência considerável de
cursos de formação, mesmo com as propostas atuais que estão postas. Albres
(2015) aponta que o contorno didático vivenciado em ambientes escolares
e educacionais que explore os diferentes gêneros textuais e discuta sobre a
multimodalidade envolvida na linguagem contemporânea precisa ser amadurecido
entre os formadores.

Jordão (2013), faz uma rica pesquisa de análise das características da


formação dos intérpretes de Libras do sudeste goiano, evidencia de maneira
muito significativa a formação dos tradutores intérpretes de Libras e os limites e as
possibilidades na atuação a partir dessa formação. Constata que os relacionados
às lacunas na formação, no que se refere à falta de subsídio conceitual acerca
da surdez e da interpretação, assim como ao conhecimento inconsistente que
se pode ter por meio de cursos de curta duração em perspectiva dicionarizada.
Deixa muito claro que o amparo governamental para a formação é essencial,
mas também é fundamental a disposição e interesse para realizar sua formação
e capacitação a partir não somente de cursos, mas também na participação em
eventos e grupos de discussões vistas ao favorecimento e a troca de experiências,
conhecimento na área e aprendizado de novos sinais.

25
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Nesse viés, é importante destacar que no processo de tradução-interpretação


encontram-se as inúmeras responsabilidades do tradutor em relação à obra
que está trabalhando, ele deve se conscientizar da complexidade do processo
tradutório e, também, para fato de que as decisões, escolhas e estratégias de
cada uma de suas ações necessitam ser observadas com prudência ao longo
de todo o processo e essa consciência também se adquire na trajetória de sua
formação.

Fica muito nítido que nas pesquisas que optamos em trazer para a discussão,
todas revelam a necessidade de aprofundamento acerca do conceito de tradução,
e de interpretação, que estão presentes no cotidiano e nas questões culturais,
linguísticas e sociais do profissional tradutor. Entendemos que a tradução cultural
exige maior conhecimento das questões de hábito, da cultura e tradições da língua
em uso, respeitando sempre as suas especificidades. Nas pesquisas citadas,
percebemos que todos os especialistas da área apontam que o profissional
tradutor deve ser comprometido com o produto de seu trabalho e que “o processo
de tradução também requer do profissional a compreensão e a produção de um
novo texto” (ALBRES, 2015, p. 394).

A tradução é uma leitura e uma reescritura, reconhecendo a autoria do


texto traduzido (ARROJO, 2004; VENUTI, 2002 apud ALBRES, 2015, p. 394).
Partindo desse ponto de vista, podemos entender que as vezes em que a
tradução é considerada apenas a cópia ou a reprodução do produto textual é uma
inconsequência, um equívoco, pois as marcas desse trabalho são respostas às
produções diversas do discurso e as relações de sentido são diferenciadas.

Julgamos que sim, a tradução não deve ser percebida como um campo
limitado, mas sim de uma maneira mais ampla: considerando sempre que
o ato de traduzir alcança de maneira profunda e especial as questões dos
sentimentos, culturas e sensações, traduzir para além das palavras contidas no
texto. Corroboramos com Albres (2015, p. 395) quando a autora se aproxima e
faz referência a Sobral (2008, p. 57) reconhecendo que “traduzimos discursos,
no sentido de que as palavras não existem no vazio, elas somente existem e
significam dentro de um contexto específico”.

Sob a luz das considerações desses autores, conseguimos também


perceber que todos esses discursos possuem contexto e intencionalidades de
leituras e interpretações e que as revelações de ordem ideológicas e subjetivas,
vem a contribuir para que questões semióticas e pragmáticas da tradução sejam
consideradas pelo grande campo dos Estudos da Tradução.

26
Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

Se pensarmos na tradução para a Libras, atentamos também para Lemos


(2017), que considera que o campo de estudos da linguagem alcança esse
conceito, pois em suas produções estão associados elementos visuais, ilustrativos
e de design, fazendo com que os textos multimodais sejam vivos e efetivos no
processo, podemos aqui também perceber a amplitude da responsabilidade do
tradutor que necessita corresponder a todas essas situações que se apresentam
fortemente no ato de traduzir.

A capacidade tradutória do profissional vai para além de suas vivências, é


importante que não só o profissional tradutor de todas as línguas, mas aqueles que
trabalham com a Libras devem ser ainda mais cuidadosos na questão da fluência
na leitura das mais diversas linguagens, principalmente no “estudo via gênero com
exemplares de textos autênticos, permeados por imagens, amplamente usados
em nossa sociedade, em diferentes mídias como, por exemplo: internet, revistas,
jornais e televisão; em textos publicitários, informativos e literários” (ALBRES,
2015, p. 395).

A língua de sinais possui características e especificidades completamente


diferentes das línguas orais, e, esse fato não está aqui para discutir ou negar, visto
que são diversos estudos, pesquisas e discussões que apontam e comprovam
esse fato. Para todas as línguas o visual é importante, porém, para a Libras ele
é fundamental, essas especificidades se apresentam de maneira mais intensa
quando estamos falando da tradução, as imagens possibilitam uma visualização
de informações que constroem a significação de sentidos e saberes próprios.
Queremos mais uma vez citar Albres, quando ela faz referência em sua pesquisa à
análise dos textos para além da escrita, conduzindo a uma proposta de discussão
acerca dos estudos intersemióticos.

A autora nos revela que “dentre os tipos de tradução, a tradução intersemiótica


ou transmutação consiste na interpretação de signos verbais por meio de sinais
de sistemas de signos não-verbais” (JAKOBSON, 1972, p. 65 apud ALBRES,
2015, p. 396).

À luz da rica pesquisa da autora, traremos as concepções por ela defendidas


de maneira muito assertiva para esse caderno, visto que, corroboramos com
seu ponto de vista e que também consideramos na tradução intersemiótica a
imagem, que é o sistema de signo não-verbal, enquanto o texto, entendemos
que é o sistema de signo verbal, assentimos também que ambos se completam
e muitas vezes dependem um do outro. Nesse sentido, cabe ressaltar que existe
uma mistura entre diversos tipos de tradução, de múltiplas linguagens, contudo
elas se contrapõem à tradução interlingual (entre línguas) e à tradução intralingual
(diferentes registros da mesma língua), introduzindo sistemas não-verbais como
materializações passíveis de serem traduzidas (ALBRES, 2015, p. 396).

27
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Os textos que possuem características visuais e textuais são também objeto


de estudo e pesquisa na área da tradução de Libras e contemplam uma cadeia
de considerações dos textos que possuem características não-verbais. Katharina
Reiss (1990) é citada por Albres (2015) quando sugere em sua pesquisa o
emprego de termos multimidial, multimodal e multisemiótico para se referir a
textos que possuem características visuais e textuais (SNELL-HORNBY, 2006, p.
84-85).

Quatro tipos de textos que dependem de elementos não verbais são


introduzidos em súmula. A seguir buscamos apresentar a definição conceitual
desses termos do ponto de vista de Albres (2015), e com base na pesquisa de
Reiss (1990).

1. texto multimidial – os textos multimodais envolvem tanto a visão quanto


a audição, podemos citar os trabalhos de cinema, televisão, as legendas e sub/
surtilling. Esse termo em Inglês geralmente é referido como audiovisual, os
mesmos são transmitidos pelos meios de comunicação técnica e/ou eletrônica.
2. texto multimodal – são bem representados em teatro e ópera onde
envolvem os mais diferentes modos de expressão verbal e não-verbal, e
compreendem som e a visão.
3. texto multissemiótico – usa diferentes sistemas de signos gráficos,
verbais e não-verbais, como nos quadrinhos ou anúncios impressos.
4. texto audiomidial: escrito para ser falado, portanto, para atingir o seu
destinatário final por meio da voz humana e não a partir da página impressa.

Ao aproximarmos nosso olhar a essa classificação que é defendida pelas


autoras, percebemos que ainda permanece a ambiguidade entre os termos verbal
e não-verbal. Lemos (2017) concorda com Albres (2015), quando a autora afirma
que há pouco detalhamento do aspecto não-verbal, assim como o corpo de
quem anuncia com gestos e com ambientes e contextos discursivos também é
pouco relacionado. Com a intencionalidade do uso de interfaces tridimensionais
e digitais, é comum materiais híbridos que congreguem diversas linguagens.
(ALBRES, 2015, p. 397).

Corroboramos com o pensamento da autora, salientamos ainda que esses


tipos de textos possibilitam a comunicação por meio de elementos visuais
e textuais e na tradução deles o profissional deve considerar não apenas
os elementos linguísticos, mas lançar mão também de elementos visuais e
elementos gráficos. É importante compreender que a autora faz essa descrição
baseada em materiais impressos (livros). Contudo, se analisarmos, dentre as
escolhas tradutórias para traduzir para Libras, a tradução intersemiotica pode ser
considerada a mais adequada, pois esses elementos são amplamente utilizados.
A Atualidade é a tecnologia, e isso, não temos como nos desvincular, ela está

28
Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

por todos os lugares ao nosso redor sempre, esses materiais digitais como E-
books, tablets e e-readers, são capazes de favorecer a interação numa linguagem
hibrida, e esse fato provoca a ampliação de pesquisas e estudos desse gênero
textual.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desse primeiro capítulo, estudamos questões conceituais
do que é tradução, refletimos sobre a natureza do processo da tradução e da
interpretação, aproximando dos estudos da tradução, trouxemos para o debate
a tarefa do tradutor e algumas de suas escolhas tradutórias que influenciam e
interferem fortemente a compreensão do seu objeto de produção, seja ele escrito
ou por vídeo.

Essa influência deve ser considerada pelo profissional, visto que deve aceitar
o objetivo real da tradução, o público receptor do material traduzido, e os efeitos
dessa influência tradutória na cultura de chegada, o profissional tradutor deve
sensibilizar-se que as palavras lidas no texto fonte fazem parte de um contexto
e de uma situação formativa ou de entretenimento que não podem ser pensadas
isoladamente.

O tradutor profissional é o sujeito que constrói sentido do material que fez


a leitura, sem afastar-se de seu capital linguístico e cultural, o material traduzido
é o objetivo alcançado da tradução e a compreensão carregada de significado
dessa tradução é o intento do profissional tradutor que carrega consigo a
responsabilidade de transmitir o saber de maneira valorosa e eficaz.

Sabemos que existem diferentes definições de tradução nos mais


diversos materiais, artigos e textos disponíveis, o fato é que dentre
essas discussões, algumas julgam a tradução como atividade entre
as línguas, enquanto outras consideram que o aspecto textual
assume um papel mais relevante, já outras, observam, muito mais
o processo comunicativo da atividade. Importante saber que essas
diferenças existentes entre os conceitos de tradução advêm, de
definições que derivam de concepções diversas do que realmente se
compreende pelo ato de traduzir.

29
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

No decorrer do texto encontramos alguns autores que discutem


sabiamente o assunto, para Albir (2008) a tradução como uma
atividade entre línguas, como atividade textual, como ato de
comunicação e como processo.

1 Assinale V para verdadeiro e F para falso de acordo com o


pensamento dos autores como Vinay e Darbelnet (1958 apud
ALBIR, 2008, p. 37).

FONTE: ALBIR, A. H. Traduccíon y Traductología: Introducción


a la Traductología. Madri: Ed. Catedra, 2008.

( ) Entendem que a definição de tradução é aquela que considera


o “passar de uma língua para outra, de uma língua A para uma
língua B, para expressar uma mesma realidade”.
( ) Compreendem que a tradução é em um ato que é inverídico
devido a realidade do fato de traduzir.
( ) Traduzir é o mesmo que passar de uma língua para outra, de
uma língua A para uma língua B, para expressar uma mesma
realidade.
( )Traduzir e Interpretar tem a mesma função de conduzir as
facilidades em compreender determinada língua.

( ) F – F – F – F.
( ) V – V – V – V.
( ) V – F – V – F.
( ) F – V – F – F.

2 A tradução é um ato que proporciona a comunicação entre


as partes e que apresenta um contexto específico onde a
influência sociocultural se faz presente. Sinalizamos ainda
que a tradução é vista como transporte cultural, onde a sua
fidelidade e a recepção possuem um grau de importância
fundamental. À Luz do pensamento de Hatim y Mason
(1990; 1995), que apresentam que a tradução é um processo
comunicativo que tem lugar em um contexto social,
Hermans (1991) se posiciona e compreende a tradução
como uma prática comunicativa e que, portanto, é um tipo
de comportamento social. A tradução tem lugar em uma
situação comunicativa e que os problemas de comunicação
podem definir-se como o que se denomina problemas de
“coordenação interpessoais que representam também os
problemas de interação social” (HERMAN 1991, p. 160). A

30
Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

tradução é um ato entre culturas e que o papel do tradutor


é primordial para que a comunicação se torne efetiva e
funcional. Toury (1981 p. 81) define a tradução de maneira
muito específica.

FONTE: HATIM, B.; MASON, I. (1990/1995) Teoría de la traducción:


una aproximación al discurso. Barcelona: Ariel, 1995.
HERMAN, M. In contexto. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
TOURY, G. Translated Literature: System, Norm, Performance: Toward a TT-Oriented
Approach to Literary Translation. Poetics Today, [s.l.], v. 2, n. 4, p. 9–27, 1981.

Assinale qual a alternativa que compreende o ponto de vista de


Toury (1980):

( ) A tradução é um ato intrassistêmico de comunicação.


( ) A tradução é um ato de culturas mais elevadas.
( ) A tradução é o que conseguimos compreender na leitura de um
texto da mesma língua.
( ) A tradução é um ato de inverdade intralingual.

3 Para autores como Snell-Hornby (1988) e Hewson e Martin


(1991), a tradução é um ato transcultural, uma relação entre as
culturas envolvidas, na qual o tradutor é considerado como
um operador cultural. Já, para Nord (1988; 1991) a tradução
também é um ato comunicativo, cujo critério fundamental é a
funcionalidade.
Albir (2008) apresenta também esse conceito e busca
identificar três traços fundamentais para definir de maneira
mais efetiva as características da tradução.
De acordo com o material estudado, assinale a alternativa(s)
que apresenta de maneira afirmativa os três traços
fundamentais para definir as características da tradução.

FONTE: SNELL-HORNBY, M. Translation Studies: An Integrated


Approach. John Benjamins Publishing, 1988. 163 p.
HEWSON, L.; MARTIN, J. Redefinindo a tradução. A
Abordagem Variacional. Londres: Routledge, 1991.

Assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as Falsas:


( ) O autor considera que a tradução tem, sim, uma finalidade
comunicativa, para o destinatário que não tem conhecimento de
determinada língua na qual encontra-se um texto, permitindo a
compreensão por meio da comunicação ativa. Entretanto, nesse
caso o tradutor deve considerar as intenções comunicativas
presentes e o fato de que cada língua se expressa de maneira

31
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

diferenciada em cada cultura, assim é necessário observar as


necessidades do destinatário. Todos os elementos que integram a
tradução e devem fazer parte dessa forma de comunicação, visto
que a finalidade da tradução pode ainda ir ao encontro do público
a que se dirige, por meio dos métodos e soluções diferenciados
escolhidos pelo tradutor.
( ) O autor defende que a tradução é uma atividade em que o produto
tradutório se faz de acordo apenas com as questões sociais sem
prejuízo à compreensão do ledor.
( ) A tradução não se situa no plano da língua, mas sim no da fala,
sendo que não se traduzem as unidades isoladamente, de
forma descontextualizada: se traduzem os textos. No momento
da tradução de um texto, deve-se analisar os mecanismos
de funcionamento textual presentes (coerência, coesão e os
diferentes tipos de gêneros textuais), percebendo que esses
mecanismos diferem de línguas e culturas.
( ) O autor considera que não se pode jamais esquecer que a
tradução é a atividade de um sujeito (um tradutor), que necessita
de uma competência específica para traduzir um texto, chamada
de competência tradutória. A tradução consiste em um complexo
processo mental, que se constitui primeiramente em compreender
o sentido que ele transmite e, na sequência, reformulá-lo com os
meios da outra língua.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – V – F.
b) ( ) F – V – F – V – V.
c) ( ) F – F – F – V – F.
d) ( ) V – V – V – V – V.

REFERÊNCIAS
ALBIR, A. H. Traduccíon y Traductología: Introducción
a la Traductología. Madri: Ed. Catedra, 2008.

ALBRES, N. de A. Tradução de literatura infanto-juvenil para


linguagem de sinais: dialogia e polifonía em questao. BLA,
Belo Horizonte, v. 14, n. 4, p. 1151-1172, 2014.

32
Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

ALBRES, N. de A. Tradução Intersemiótica de Literatura infanto-


juvenil: vivências em sala de aula. Cadernos de tradução,
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BERMAN, A. A tradução e a letra ou o albergue do


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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

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Capítulo 1 R. SOBRE A N. DO PROCESSO T. E DOS ESTUDOS DA T.

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35
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

36
C APÍTULO 2
TRADUZIR E INTERPRETAR: LIMITES
E POSSIBILIDADES NO CAMPO DA
EDUCAÇÃO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer os limites que envolvem o ato de traduzir e interpretar.


 Compreender as diferenças entre traduzir e interpretar.
 Identificar os aspectos linguísticos, culturais e situacionais que envolvem a
prática de interpretar e traduzir.
 Entender o papel do intérprete como mediador social e linguístico, com base
trajetória histórica da formação profissional.
 Distinguir acerca dos limites e das possibilidades que envolvem a tradução e a
interpretação.
 Aplicar de maneira eficaz a diferença entre o ato de traduzir e interpretar.
 Acrescentar ao ofício do tradutor intérprete o papel de mediador social e
linguístico.
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

38
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Entender o ato de traduzir e interpretar de/para/entre língua de sinais para,
então, compreender os limites e as possibilidades no campo da educação exige,
primeiramente saber que tudo está interligado aos Estudos da Tradução e da
Interpretação de Línguas de Sinais (ETILS). Inúmeras pesquisas se debruçam
sobre esse tema, sendo um novo campo disciplinar emergente, diretamente
vinculado aos Estudos da Tradução (ET), assim como aos Estudos da
Interpretação (EI).

É necessário saber da interdependência e as diferenças existentes entre os


ET e os EI, refletir acerca do objeto de estudo que os ETILS caracterizam ao
envolver uma língua gesto- visual, cabe ressaltar que é um campo extremamente
novo e que está em expansão, apesar de que os ETILS são inexistentes quando
desvinculados desses dois campos disciplinares, logo, a relação de dependência
é de fato inevitável.

No que tange a sua manifestação no ambiente escolar, e os limites possíveis


no campo educacional, os ETILS apontam a construção de um panorama
positivo e específico com crescimento gradativo em território nacional. Sabemos
que muitos são os desafios, mas, as diferentes pesquisas voltadas para o tema
buscam dar suporte e provocar reflexões importantes para o crescimento desse
novo campo de saber.

Compreendemos que os ET e os EI possuem como diferença básica, que


é o seu objeto principal de estudo, que quando o primeiro se detém na tradução
e/ou traduzir, o segundo tem como foco interpretar e ou interpretação, ambos
se caracterizam pela maneira por meio da qual advém a linguística, cognitiva
e operacionalmente, conseguimos compreender, então, que esses campos
disciplinares são justapostos e interdependentes, considerando que sua
coexistência é inevitável, porém são diferentes e singulares quando se trata das
especificidades e de seu objeto de estudo.

2 OS LIMITES E POSSIBILIDADES NO
ATO DE TRADUZIR E INTERPRETAR
EM LÍNGUA DE SINAIS
Se pensarmos em comunicação e interação entre duas ou mais pessoas
usuárias de línguas diferentes sejam elas faladas ou sinalizadas e que nenhuma

39
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

delas tem conhecimento da estrutura linguística e gramatical da língua da outra,


entendemos a necessidade direta da interpretação para que aconteça de fato
o objetivo da interação. Quando falamos em língua de sinais, percebemos que
em todos os espaços existe a necessidade de um profissional que realize essa
interação entre as partes envolvidas, pois as limitações e as possibilidades são
inúmeras.

O espaço escolar se desenha como um lugar que mais exige da demanda


apresentada, os profissionais intérpretes de Libras são um mecanismo linguístico
que garantem essa interação em todos os departamentos, porém, sua maior
atuação ainda é no campo educacional devido à implementação da política de
Educação Inclusiva brasileira, a qual conduziu as matrículas dos alunos com
surdez que, antes frequentavam as escolas especiais de surdos, para escolas
regulares de ensino.

É importante destacar que a Lei 10.436/02, que reconhece a Libras como


meio legal de comunicação e expressão dos surdos, e o Decreto 5626/05 (BRASIL,
2005) que institui a língua brasileira de sinais, como paradigma educacional da
pessoa surda, reconhecendo a Libras como uma das principais conquistas da
evolução integral e da construção sociocultural da comunidade surda. Tanto
a Lei 10.436 como o Decreto 5626, trouxeram importantes conquistas para a
comunidade surda brasileira, especificamente, em relação ao reconhecimento
da Língua Brasileira de Sinais, que traz a necessidade de alguém para mediar a
comunicação entre as partes do processo, essa interação e troca de informação é
amparada e proporcionada pelo profissional tradutor intérprete de Libras, quando
em território nacional.

Apesar da presença desse profissional nas relações comunicativas, muitas


pessoas confundem ainda os termos e conceitos sobre o que é tradução e o que
é interpretação, considerando que se trata de conceitos envolvidos em um mesmo
processo, onde o que os diferencia é algo muito sutil, onde podemos considerar
que toda a tradução é considerada como uma interpretação, enquanto que toda
a interpretação se constituí em uma forma de tradução. Esse fato nos revela a
grande complexidade existente na atuação do profissional tradutor e intérprete.

Essa complexidade já começa na terminologia adotada para fazer a


referência aos profissionais da área da tradução/interpretação de Libras, os
documentos oficiais apresentam diferentes possibilidades para nos referirmos ao
tradutor-intérprete de Libras, sendo comum nos depararmos com várias dessas
possibilidades o ILS – intérprete de Língua de Sinais, e TILSP- Tradutor-intérprete
de Língua de Sinais e Língua Portuguesa, esses são os termos mais comuns
utilizados no meio.

40
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

2.1 CONHECER OS LIMITES QUE


ENVOLVEM O ATO DE TRADUZIR E
INTERPRETAR
Se pensarmos em tradução e interpretação e no seu grau de importância
para a compreensão do conteúdo que está sendo trabalhado, entendemos
que, de certa forma, as duas áreas se complementam e que a mesma função é
preenchida, considerando a transmissão do conteúdo de uma língua para outra,
com os sentidos pretendidos e sem o prejuízo linguístico, fato que inúmeras vezes
acontece, devido à distorção da compreensão no decorrer do percurso tradutório.
Para Lacerda (2014), o mais importante não é a tão conhecida tradução literal,
onde a palavra é o que mais importa, o autor acredita que o sentido que o emissor
oferece no momento em que se expressa na língua de origem, alimenta com
maior veracidade também os sentidos da língua alvo.

Contudo, a tradução e a interpretação também assumem conceitos que


expressam atividades completamente distintas, a tradução tem a função de
transmitir via textos escritos o discurso entre as línguas, e essa característica
proporciona ao tradutor um momento de pesquisa, busca e reflexão dos termos
e palavras mais adequadas para encaixar ao contexto que se apresenta e,
ainda, se por ventura perceba qualquer equívoco consegue ajustar a escrita, a
expressão ou qualquer sentido frasal para melhor compreensão do leitor. Quando
se trata da interpretação, a atividade está diretamente ligada à transmissão de
saberes do discurso de uma língua para outra simultaneamente, no curto espaço
de processar a informação recebida e transmitir quase momentaneamente para
a língua alvo o enunciado, essa agilidade é fundamental para o intérprete, pois
seu raciocínio deve ser ágil o suficiente para a tomada de decisões rápidas, como
transmitir um termo ou sentido sem consulta prévia.

Mesmo com essa informação dos conceitos básicos na língua de sinais


muitas vezes registramos lapsos em relação ao campo conceitual, mas também
na prática dos profissionais que por alguma razão ainda não se apropriaram das
referências, termos e conceitos da área em que atua. É comum encontrarmos
profissionais que julgam que a interpretação em Libras é reprodução de uma
palavra em português que acontece por meio da busca do “nome” para um sinal
desconhecido. Esse ponto de vista é habitual quando o tradutor/intérprete de
Libras está no princípio de sua caminhada, se partimos do viés da aprendizagem
de uma segunda língua, é possível aceitar essa prática como um método de
ensino, porém, não é, da mesma forma, aceitável transferir dessa técnica singular
de ensino de segunda língua para o processo específico da tradução de uma
língua como a Libras.

41
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Os prejuízos na construção do processo de tradução e transferência dos


conceitos de maneira satisfatória ficam deveras prejudicados, visto que a língua
de sinais se organiza estruturalmente com uma gramática diferenciada, sua
modalidade de percepção se estrutura no espaço e não pela produção linear das
línguas orais.

Esse é um dos limites e desafios da tradução da Libras e, também, na


interpretação, visto que a incompreensão das sentenças produzidas é comum
quando se utiliza de “sinal” X como representação direta da “palavra”, ou seja,
fazendo uso da tradução literal. Essas situações prejudicam a compreensão do
discurso e todos os envolvidos que constituem na língua de sinais sua base para
percepção de mundo, acabam com a interação social afetada negativamente.

Muitas situações expressam a exclusão de pessoas surdas e ouvintes,


provocadas pela “incompetência” de trazer a informação em tempo real ao
acontecido. Um caso de fácil compreensão dessa situação é quando dois ouvintes
onde um é fluente em Libras e o outro, sem conhecimento, encontram por acaso
uma pessoa surda usuária de Libras para sua interação social. Se a pessoa que
é fluente travar um momento de diálogo com o surdo, aquele que não possui
conhecimento vai estar excluído do contexto caso a interpretação da fala não
aconteça em tempo real, simultaneamente. O desafio é que mesmo as pessoas
que são fluentes, muitas vezes incapazes de estabelecer a de maneira simultânea
a conversa e a interpretação em Libras para que uma terceira pessoa seja incluída
na conversa. A justificativa nesse caso é que não consegue interpretar ao mesmo
tempo da sinalização do usuário de Libras.

Observamos que a fluência em Libras não garante o conhecimento de


técnicas tradutórias que cumpram de maneira satisfatória o papel de tradutor
intérprete de Libras que é de estabelecer a comunicação e compreensão entre
as partes de um discurso. O fato mais extremo que encontramos nesse tipo de
situação é que ainda prevalece a suposição errônea de que qualquer pessoa com
o conhecimento de Libras e portador de um vocabulário expressivo, também é
capaz de realizar a interpretação de Libras em qualquer contexto.

Inúmeras especificidades estão presentes no ato interpretativo, está para


muito além do fato de dominar determinada língua. Traduzir e interpretar em Libras,
exige o envolvimento com a expressão cultural da comunidade surda, reivindica,
inclusive, depreender a importância da contextualização no processo, assim como
as nuances das estratégias de tradução que assumem a responsabilidade de
levar sentido à fala.

42
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

Muitas situações envolvem a situação interpretativa e/ou tradutória, muito


embora podemos assim classificá-las, não são raras as vezes em que elas
ocorrem de maneira simultânea. Assim, podemos afirmar que, em algumas
situações interpretativas, há também uma questão tradutória, e o inverso também
é verdadeiro, cabe ao profissional estabelecer a compreensão efetiva.

Sabemos que a tradução e a interpretação possuem conceitos muito


bem definidos que são discutidos há décadas por pesquisadores e estudiosos
renomados. Tais conceitos já apresentados anteriormente contêm dificuldades na
própria compreensão do que seja uma ou outra situação, o que ocorre devido à
complexidade envolvida em ambas e, também, a própria semelhança que existe
entre a tradução e a interpretação, assim como pelo fato de uma não ser possível
sem a existência da outra, ou seja, a coexistência é de fato visível. O fragmento a
seguir, reforça e reporta a um desses conceitos, apresentando um esclarecimento
fundamental para a prática do profissional.

A tradução acontece entre textos escritos, o qual o tempo


de execução é maior e as ferramentas envolvidas são de
suporte mecânico: papel, tinta, gravações, vídeos etc. Já a
interpretação é realizada entre textos falados e sinalizados, de
tempo de execução menor e as ferramentas envolvidas são de
suporte evanescentes: espaço, acústico e visual (BARRETO;
BUSTOS 2012, p. 27).

No Português, temos muitas expressões e termos que causam dificuldades


no momento da interpretação para muitos intérpretes, casos típicos como: “tire
seu cavalinho da chuva”, “seus olhos são espelho da alma”, “quem vê cara não vê
coração”, entre outras expressões idiomáticas que muitas vezes não possuem o
mesmo sentido na Libras, e cabe ao tradutor a responsabilidade de fazer escolhas
tradutórias apropriadas que cumpram com a função da tradução, para que a
compreensão aconteça de maneira efetiva. A flexibilidade gramatical da Libras
nos presenteia com uma gama de possibilidades de escolha tradutória que podem
favorecer o profissional. Contudo, é importante perceber como está a capacidade
de levar a compreensão para o público-alvo.

Quando elencamos o público-alvo, não devemos nos ater apenas às pessoas


surdas, visto que os ouvintes não conhecedores da Libras também fazem parte
desse grupo e o conhecimento cultural é fundamental para que a tradução e a
interpretação seja completa e compreendida por esse público. Entretanto, como
saber se o Surdo realmente está compreendendo o que de fato o profissional
está sinalizando? Esse questionamento deve fazer parte diariamente da prática
do profissional, para que busque estratégias com retorno positivo a sua função.

43
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Por vezes algumas situações ocorrem na interpretação que causa inquietação,


como por exemplo, quando apenas é exposto aquilo que foi verbalizado em um
curto espaço de tempo e de maneira posterior, sem que análises e pesquisas
contribuíssem para produzir algum tipo de registro. Outras vezes o intérprete
opta pelo entendimento não apenas da língua, mas observa também o discurso
daquele que faz parte do diálogo e que, de certa maneira, já está familiarizado
com suas questões e elementos culturais. Nesse caso, também podemos dizer
que se trata de uma tradução, visto que ao passar o conteúdo de um discurso de
uma língua para outra a tradução se constitui.

1 Os Estudos da Tradução – ET e os Estudos da


Interpretação – EI, possuem uma diferença básica
quando se trata do objeto principal de estudo, ambos
se caracterizam pela maneira por meio da qual advém a
linguística, cognitiva e operacionalmente. Esses campos
disciplinares são justapostos e interdependentes, porém
sua coexistência é inevitável, são ainda diferentes e
singulares quando se trata das especificidades e de seu
objeto de estudos. De acordo com o conteúdo estudado
até o momento, sobre o objeto de estudos da tradução e
da interpretação, analise as sentenças a seguir:

I- ET se detém à tradução e/ou traduzir, EI tem como foco interpretar


e/ ou interpretação.
II- Traduzir e Interpretar são objetos de estudo da linguística e ambos
possuem basicamente o mesmo papel.
III- ET é o mesmo que traduzir e interpretar, assim como EI é
considerado o mesmo que interpretar e traduzir.
IV- Nenhuma das alternativas anteriores corresponde a verdade.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas a alternativa IV e III são verdadeiras
b) ( ) As alternativas II e I correspondem a verdade
c) ( ) Todas as alternativas estão corretas
d) ( ) Apenas a alternativa I é verdadeira.

2 A Lei 10.436/02 e, o Decreto 5626/05 trouxeram importantes


conquistas para a comunidade surda brasileira
especificamente em relação ao reconhecimento da Língua
Brasileira de Sinais, que garante a presença de alguém para

44
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

mediar a comunicação entre as partes do processo. Essa


interação e troca de informação é amparada e proporcionada
pelo profissional tradutor intérprete de Libras, quando em
território nacional. As terminologias adotadas para fazer a
referência aos profissionais da área da tradução interpretação
de Libras apresentam diferentes possibilidades. Assinale a
alternativa que corresponde as terminologias adotadas para
se referir ao profissional intérprete de Libras:

a) ( ) ILS, TILS, TILSP.


b) ( ) TILSP, IT.
c) ( ) ET, EI.
d) ( ) Apenas ILBS.
e) ( ) Nenhuma das alternativas são verdadeiras.

2.2 ATO TRADUTÓRIO E


INTERPRETATIVO: FAZER DE FATO
OU FAZER DE CONTA?
A profissão de tradutor-intérprete exige conhecimentos para além das
questões de “achismos”. A interpretação e tradução é um produto que requer
compreensão não apenas de vocabulário, mas também de linguística e cultura.
A área em que o profissional atua possui, igualmente, particularidades seja no
religioso, educacional, político, de saúde entre outros.

É importante perceber que existem vários níveis de interpretação, quando


pensamos no nosso público alvo, aquele que consome o serviço de tradução e
interpretação possui diferentes níveis de registro, visto que cada pessoa faz uso da
língua de determinada maneira, se o contato com a língua acontecer de maneira
tardia, supostamente terá maior dificuldade no uso da língua, em contrapartida,
se o contato acontecer em tempo adequado o desenvolvimento de linguagem e
a aprendizagem do código de comunicação acontece com muito mais rapidez e
uma desenvoltura mais efetiva.

Ao estabelecer a compreensão dos níveis interpretativos, é importante saber


que no Brasil existem surdos que são filhos de pais ouvintes e que não têm o
contato com a sua língua natural no período e idade adequados para acontecer
de maneira satisfatória a aquisição e desenvolvimento linguístico, diferente do

45
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

que acontece com as famílias ouvintes, onde a relação com a língua se dá a todo
instante de diferentes maneiras. O fato dos pais serem surdos ou ouvintes reflete
diretamente no desenvolvimento da criança. Para Coll, Marquesi e Palacios
(2004, p. 174)

a porcentagem de surdezes hereditárias situa-se em torno de


30 a 50%, mas não é fácil determinar isso. A principal razão
está em que a maioria das surdezes de origem genética tem
caráter recessivo. Isso supõe que, em muitos casos, a perda
auditiva das crianças surdas com pais ouvintes é genética.

Para Roth e Júnior (2010, p. 17), é fundamental percebermos que apenas


10% das pessoas surdas têm pais surdos. Esse fato influencia fortemente na
socialização e formação educacional do sujeito surdo.

Mais de 90% das crianças surdas que possuem pais ouvintes não conhecem
a língua de sinais (ELEWEKE; RODA, 2000 apud SANTOS, 2009, p. 22); essa
situação acaba por prejudicar o desenvolvimento linguístico da criança, visto que
não há exposição a uma língua de maneira efetiva, resultando na carência de
todos os tipos de informação. Dada essa carência, os problemas e limitações
socioeducativas e psicocognitiva se apresentam durante sua vida. Tal problemática
se agrava quando alguns dos pais não querem que seus filhos aprendam uma
língua sinalizada, em alguns casos é comum ouvir justificativas que afirmam que
a aprendizagem de uma língua de sinais prejudica a capacidade de adquirir a fala
(EMMOREY, 2002; GOLDIN-MEADOW, 2006; MAYBERRY; EICHEN, 1991).

Essa assimilação de prejuízo de linguagem e de comunicação se comprova


diretamente no contexto escolar, no momento da chegada desse aluno ao
espaço, muitas vezes seu primeiro contato com a língua de sinais acontece no
encontro com o intérprete de Libras, momento em que a defasagem linguística
se manifesta de maneira espantosa. O desenvolvimento da linguagem tardia para
as crianças surdas em idade escolar, se comprova em diferentes pesquisas em
território nacional, a quais apontam que a aquisição de linguagem tardia significa
a falta de um código de comunicação provocando a dificuldade na aprendizagem.
Entretanto, é importante compreender que a presença de um intérprete de Libras
ou mediador linguístico que domina a língua de sinais é um fato que acontece
indiferentemente se o surdo tem domínio ou não da Libras, visto que, teoricamente,
já está em idade escolar que se dá a partir dos sete anos.

Considerando, que cada um desses alunos matriculados na escola sem o


domínio de Libras tem uma maneira diferenciada de uso da língua de sinais, uma
das primeiras questões que deve ser analisada pelo profissional intérprete é se
realmente a sua sinalização atinge o objetivo proposto, que é o de estabelecer
uma comunicação efetiva e funcional.

46
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

Para tanto, o profissional intérprete de Libras deve observar três aspectos


fundamentais para saber se realmente a interpretação atinge seu público-alvo.
Primeiramente, é necessário ter o conhecimento do estágio em que está a língua
de sinais do surdo que irá receber o serviço, para então, conseguir estabelecer
uma relação positiva, o segundo aspecto é desenvolver habilidade para saber agir
de acordo com o nível do desenvolvimento linguístico daquele que está recebendo
a interpretação. Não é aconselhável sinalizar com um alto nível de formalidade em
uma turma de surdos com determinada limitação linguística e de vocabulário. Essa
habilidade exige do intérprete de Libras um esforço cognitivo muito expressivo,
visto que necessita saber agir de acordo com o nível de conhecimento do público-
alvo.

Ter a habilidade de perceber em que nível de conhecimento de língua se


encontra a pessoa com surdez, para então, habilmente, sinalizar de maneira
muito mais segura e compreensível. Entretanto, em nível nacional temos muitos
surdos que não acessam a bagagem de conhecimento do nível educacional em
que o surdo se encontra. Percebemos que temos surdos no nível superior que
está com uma bagagem de conhecimento próximo ao nível médio ou até mesmo
fundamental. Nessa situação, o intérprete necessita ter a habilidade de perceber e
fazer a leitura assertiva dos sinais de compreensão ou falta dessa no que tange à
interpretação. O conhecimento e a habilidade estão juntos com o terceiro aspecto
que é a atitude, essas atitudes exigem que o intérprete mude seu comportamento
utilizando determinadas estratégias e adequando os níveis de registro da pessoa
surda. A postura em relação a própria interpretação faz com que o profissional
adquira sensibilidade e empatia, que é necessário para perceber se o surdo está
de fato compreendendo o que o intérprete está sinalizando.

Algumas expressões são sinalizadas pelo surdo quando está recebendo


as informações em sua língua de sinais, elas fazem com que o profissional
perceba se nível de compreensão da língua está de acordo com o esperado,
um profissional que tenha elementos como conhecimento, habilidade e atitude
adquire, supostamente, a capacidade de criar estratégias para perceber se sua
interpretação está de fato sendo compreendida e, em consequência, desenvolve
uma determinada competência extralinguística que está diretamente ligada a
esses três elementos, essa auxilia a traçar caminhos para melhorar sua atuação e
perceber se o surdo está ou não compreendendo a interpretação.

Todo esse processo, está diretamente ligado à cultura surda e à maneira


como o intérprete se relaciona e compreende esse conceito cultural que,
atualmente, vem sendo abordado em diversas pesquisas, isso induz sua
postura e visão profissional. Os estudos culturais das línguas de sinais buscam
identificar crenças, identidades, comportamentos, valores e outros elementos que
estão para além do uso da língua. No momento em que o profissional adquire

47
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

tais conhecimentos acaba por desenvolver uma competência extralinguística


que proporciona a capacidade conhecer, saber lidar e trabalhar com diferentes
públicos. Assim, é necessário que antes de começar a interpretar, o profissional
saiba de fato quem é o público-alvo e em qual nível linguístico ele se encontra no
momento.

Sabemos que existem elementos culturais que estão presentes em uma


língua e não necessariamente estão inseridos em outra. É muitíssimo importante
que a maneira de pensar e agir da pessoa surda seja no individual ou no coletivo
faça parte íntimo do intérprete de Libras. Da mesma forma, é fundamental ter
intimidade com os saberes da língua portuguesa, para que o intérprete ofereça o
serviço de sinalização e de oralização com qualidade.

O conhecimento da cultura e dos elementos extralinguísticos fornece ao


intérprete diferentes escolhas tradutórias que auxiliam na escolha das estratégias
linguísticas que proporcionam alcançar diferentes objetivos direcionando o fazer
tradutório do profissional. Esse direcionamento fornece um determinado resultado,
um retorno positivo ou negativo do público-alvo. As questões extralinguísticas
auxiliam diretamente o profissional a compreender o que está para além da língua
e, consequentemente, refletir acerca do processo de tradução e interpretação.

Entendemos assim, que para o surdo compreender o que o intérprete está


sinalizando, é fundamental que o profissional entenda o processo cultural que a
pessoa surda está inserida, se faz parte de associação, se os pais são surdos ou
ouvintes, se tem contato direto com a Libras, qual o estágio de sinalização, se o
nível de abstração é profundo ou básico. Essas e outras questões atravessam
os níveis de registro da linguagem, visto que quanto maior o contato com a
cultura surda e suas particularidades e quanto mais intimidade com os elementos
extralinguísticos, consequentemente, maior se dará o nível de registro e a
prática da linguagem. Dessa maneira, a compreensão e o entendimento do que
o intérprete está sinalizando acontece da maneira mais efetiva contribuindo na
formação do intérprete de Libras e na constituição do seu fazer profissional.

2.3 O INTÉRPRETE DE LIBRAS:


FORMAÇÃO E CONSTITUIÇÃO
PROFISSIONAL
O intérprete de Libras é uma ferramenta essencial na mediação comunicativa
do público surdo, mas também para o público ouvinte que não tem conhecimento
da língua de sinais. Esse profissional é fundamental que o acesso ao conhecimento

48
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

em todas as áreas aconteça de maneira mais efetiva. Cabe destacar que no âmbito
escolar a presença do intérprete de Libras tem ocorrido com muita frequência,
visto que a demanda de tradução e interpretação cresce proporcionalmente com a
quantidade de matrículas de surdos nos bancos escolares.

Mesmo com o aumento da necessidade do intérprete de Libras em espaços


diversos, é importante lembrar que a constituição desse profissional vem
acontecendo na informalidade. Isso acontece pelo aumento das demandas dos
próprios surdos em suas relações na tentativa de mediar a relação comunicativa
entre os surdos e os ouvintes. O mesmo acontece nos espaços onde a doutrina
religiosa se mostra necessária, esses e outros espaços favorecem de maneira
significativa a aprendizagem e muitas vezes a fluência em Libras, proporcionando
o surgimento de pessoas interessadas em se tornar intérpretes de Libras. Tal
observação revela que a formação desse profissional se desenha conforme as
experiências de interação, assim como nas demandas que surgem em diferentes
contextos. É possível destacar a atuação dos intérpretes no âmbito religioso,
educacional, familiar entre outros momentos em que a comunicação se faz
necessária.

As atuações informais daqueles que assumiam o papel de intérprete de


Libras, provocou um forte movimento em meados da década de 1990, nesse
período houve o disparo das demandas de interpretação em diversas áreas e as
tentativas pela formação específica para esses profissionais começa a fazer parte
dos objetivos de associações e federações simpatizantes do tema que envolvem
a Libras.

A Federação Nacional de Educação e Instrução dos Surdos (FENEIS)


é pioneira em propor cursos de formação rápida a esses profissionais que
apresentam características heterogênicas em sua função e em seu desempenho.
O objetivo principal dessas formações era de ampliar os conhecimentos e a
fluência em Libras, porém, outras questões mais específicas da profissão não
eram abordadas. Os encontros presenciais por meio de seminários, congressos
e cursos com mais de 40 horas, proporcionavam a experiências de dividir
vivências em questões mais pontuais à atuação do profissional intérprete. Essas
trocas começaram a ser desenhadas nos últimos 20 ou 25 anos em encontros
regionais e nacionais, mas, foi no ano de 2008 que as associações regionais de
intérpretes de Libras foram se constituindo e a FEBRAPILS, que é a Federação
Nacional dos Intérpretes de Libras foi criada e com representatividade junto ao
World Association of Sign Language Intérpretes – WASLI (órgão internacional que
representa TILS do mundo todo).

49
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

No âmbito nacional, a Lei nº 10.098, de 2000, (BRASIL, 2000), na perspectiva


da educação inclusiva, orienta claramente a necessidade da presença do
intérprete de Libras no ensino superior, porém existe a limitação de como esse
profissional deveria ser formado. Já no Decreto 5.626 (BRASIL, 2005), surge a
obrigatoriedade desse profissional nos espaços educacionais que têm matriculado
alunos surdos. Toda essa movimentação ocorre com o acolhimento da abordagem
bilíngue para educação de surdos no país, assim como todos os esforços político-
pedagógicos dos movimentos que visam uma qualidade na vida educacional e
social do indivíduo.

Podemos afirmar que a assunção do bilinguismo é um avanço recente na


educação brasileira e que os movimentos sociais e pesquisas passam a fazer
parte das políticas educacionais brasileiras apenas recentemente, em função
da pressão dos movimentos sociais, dos resultados de pesquisas nas áreas da
Linguística entre outras questões que favorecem essa positiva manifestação.

Com toda demanda advinda das escolas e das universidades, não demorou
para que questões judiciais começassem a surgir com objetivo de suprir e atender
as necessidades da comunidade surda. Desse modo as Instituições de Ensino
Superior (IES) também passaram a contratar pessoas que desejavam atuar como
intérprete de Libras, mesmo que sem formação, afinidade e/ou competência
profissional para exercer a função.

Observa- se, que o que mais importava era a presença em sala de aula e
que o sujeito surdo estivesse acolhido em suas necessidades de comunicação,
mesmo que de maneira simplificada ou assistencialista, esse ponto de vista
também estava diretamente ligado aos professores e comunidade escolar. Dessa
forma, os intérpretes de Libras no âmbito nacional foram inseridos nos espaços
escolares sem atenção a sua formação ou competência linguística, resultando
em profissionais sem competência formal e capacidade linguística atuando de
maneira descontrolada em todos os níveis educacionais.

Outra questão muito importante que acontece na educação de surdos e que


interfere na atuação do intérprete de Libras são as limitações linguísticas que o
aluno surdo apresenta para compreender a interpretação em língua de sinais, as
restrições de léxico da área de conhecimento específico na qual está estudando
também contribuem para que a qualidade na atuação seja comprometida, pois
nem tudo que o intérprete traduz em Libras é acessível à pessoa surda, esse fato
acaba gerando problemas no ambiente escolar.

Diante de todo esse contexto em que está envolvido o intérprete de Libras, é


importante conhecer quem é esse profissional que faz a mediação comunicativa
entra surdos e não surdos. Interessa saber qual perfil daqueles que se aproximam

50
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

da profissão para, então, buscar quais ações formativas podem ser adotadas para
qualificar o profissional.

É importante destacar que, atualmente, muitos dos intérpretes fazem algum


tipo de formação em Libras, porém na maioria das vezes não é com o foco
em tradução interpretação. É comum encontrarmos intérpretes de Libras que
realizaram sua formação há mais de oito anos, e que não costuma fazer formação
continuada na área, seja por falta de tempo, dinheiro ou interesse.

O interesse principal das associações de intérpretes e, também, da


comunidade surda brasileira é pela certificação de proficiente em Libras, para que
a exigência da legalidade e a garantia da qualidade na atuação se tornem efetiva,
mesmo sabendo que o perfil desse profissional deve ser definido com muito mais
clareza visto que a necessidade recente desse profissional em diferentes esferas
sociais ainda é um processo.

É muito importante perceber a importância de se ter uma formação de


qualidade para atuar como TILS, além do conhecimento linguístico aprofundado
tanto em Libras como em português. É claro que, a aproximação com a comunidade
surda é um dos aspectos que mais contribuem para que o ato interpretativo
aconteça de maneira mais segura. Entretanto, perceber os diferentes pontos
de vista na perspectiva de conhecimento de mundo, a sábia escolha de léxico
para formular a sinalização e apresentar os conceitos de maneira satisfatória,
são aspectos que garantem ao intérprete postura adequada na sua atuação,
favorecendo a compreensão do aluno surdo e proporcionando uma entrega do
produto interpretativo de qualidade.

Todas essas questões apresentadas e destacadas no decorrer deste capítulo,


apontam para diferentes tipos de consciência profissional que devem fazer
parte do intérprete desde o seu desejo inicial de se inserir na área de tradução
e interpretação de línguas de sinais. Um desses exames de consciência deve
apontar para o tipo de profissional que está se formando e qual a sua postura
diante da responsabilidade social, ter consciência de qual tipo de profissional
intérprete de Libras é, assim como quais características necessitam ser avaliadas
reavaliadas para melhorar o desempenho profissional é de fundamental
importância.

51
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

3 AS DIFERENTES IDENTIDADES
DOS INTÉRPRETES DE LIBRAS
Agora, uma palavra sobre que os tipos de intérpretes e os cursos de formação
de intérpretes de língua de sinais.

As diferenças linguísticas que a comunidade surda usuária de Libras


apresenta em relação à comunidade não surda é percebida intensamente em
todos os contextos, assim não basta simplesmente aceitar tal diferença, mas
respeitar a diversidade linguística que se mostra em todos os aspectos. Dessa
maneira, o profissional intérprete de Libras tem a obrigação de atentar para as
responsabilidades e para o comprometimento no momento que aceita realizar
um trabalho seja ele remunerado ou voluntário, sempre observar os seus
limites tradutórios antes de assumir qualquer função em relação à tradução e
interpretação dos pares linguísticos Libras/ Português.

Do ponto de vista analógico, podemos afirmar que quando o profissional


da tradução e interpretação realiza sua função, ele cria e recria algo novo, essa
criação é oferecida pelas suas mãos, porém é intencionado pelo seu cérebro
quando sinaliza, quando explana situações, dialoga com os pares que possuem
o conhecimento entre as línguas, também quando explica as mais diversas
situações da língua fonte para a língua alvo. Toda essa habilidade é possível
quando o intérprete possui características, estratégias e escolhas responsáveis,
porém a fidelidade e o comprometimento são especificidades indispensáveis em
todos os momentos de atuação do intérprete de Libras.

Muitas são as demandas que se descortinam diante dos intérpretes, muitas


vezes até mesmo diante daqueles que não possuem a formação ou a qualificação
apropriada, dessa maneira manter a reflexão sobre suas condições de realizar
uma autoanálise é fundamental para garantir que o produto de seu trabalho seja
de qualidade.

Tanto para a tradução quanto para a interpretação é indispensável o


profissionalismo, a ética e o comprometimento com a atividade que está se
propondo realizar. É importante que o intérprete realize reflexões e autoavaliações
para perceber que tipo de profissional intérprete está enquanto prática profissional
e a partir dessas discussões chegar a percepções e diagnósticos diferentes que
apontem o caminho para um conhecimento e autoconhecimento em relação a sua
atuação.

52
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

Os cursos de tradutores intérpretes de Libras trazem muitas questões que


trabalham essas discussões acerca das reflexões da prática do profissional.
Nos projetos desses cursos, técnicas de tradução e interpretação ou técnicas
laborais de interpretação de língua de sinais são absolutamente imprescindíveis,
mas também devem observar outras áreas de maneira próxima com vistas a
contemplar outras áreas de conhecimento. De acordo com Russo e Pereira (2005,
p.15):

• Linguística, seja ela geral ou específica da língua de sinais.


• Língua de sinais aplicada à tradução e a interpretação.
• Língua portuguesa aplicada à tradução e interpretação.
• Teoria da tradução (tradutologia).
• Artes dramáticas (expressões corporal, vocal e facial).
• Cuidados laborais (prevenção de lesões, manutenção da musculatura e
articulações exigidas na interpretação, postura, higiene e estética vocal,
relaxamento e alongamento).
• Evolução e constituição da comunidade surda e sociologia geral.
• Psicologia aplicada à interpretação.
• Além de seminários sobre surdocegueira, ética, sinais internacionais
(international signs), legislação que embasa o serviço de interpretação
de língua de sinais e outros assuntos de interesse.

Cabe destacar, que todas essas questões a serem trabalhadas nos cursos
para intérprete de Libras, devem caminhar junto com uma formação continuada
do profissional, por meio de estímulos em palestras, oficinas, encontros com
seus pares e discussões que abordem temáticas afins a áreas de tradução
e interpretação, assim a atualização e o aperfeiçoamento dos profissionais
de interpretação serão permanentes e prósperos. Para Alves (2000, p. 27), a
formação do tradutor e sua qualificação contínua sejam procedimentos essenciais
para o exercício ético e adequado dessa profissão.

Seguindo toda a discussão proposta até aqui, compreendemos que um


intérprete de Libras deve fundamentalmente possuir uma formação de qualidade,
visto que é por meio dela que é possível adquirir subsídios para a tomada de
decisões seguras e fundamentadas em estudos, assim como em vivências com
colegas de profissão. Toda as estratégias do fazer tradutório que o profissional
intérprete assume no ato interpretativo está diretamente relacionada com os
conhecimentos linguísticos, interpessoais que seguem para além, não apenas do
contexto cultural, mas se entrelaçam com os aspectos discursivos que agregam
no decorrer da trajetória profissional.

Oferecer cursos e formação para os tradutores intérpretes de Libras é de


extrema importância, esses devem ser oferecidos em todos os aspectos, é

53
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

importante que abranjam todas as questões que objetivem a capacitação de


qualidade de todos os profissionais. A seriedade dos cursos deve proporcionar
a autoavaliação do profissional e a eliminação de atitudes e posturas daqueles
intérpretes que, sem formação adequada, tomam decisões empiricamente, com
atitudes assistencialistas e paternalistas que se distanciam das práticas de um
profissional crítico e coerente que seja preocupado com o seu aperfeiçoamento e
com a qualidade do produto que entrega ao seu cliente.

Quando tratamos o surdo como cliente que recebe um serviço específico,


não devemos confundir o profissionalismo do intérprete de Libras com omissão ou
frieza, mas também é inadmissível que práticas amadoras, no cunho sentimental
e com despreparo seja exercida e oferecida ao público surdo como se o interpretar
em língua de sinais fosse algo simples.

O intérprete de Libras é um profissional que necessita de uma formação


formal e de qualidade, deve ser dedicado e muito comprometido com a sua
escolha profissional. Para além de todo o processo formal, a fim de constituir-
se em um intérprete de Libras com certificado e horas de capacitação, ser
frequentador de cursos devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação.
Russo e Pereira (2005, p.17) nos presenteiam com três qualidades inerentes de
caráter que também devem fazer parte do perfil desse profissional:

• Autodisciplina: capacidade de administrar seus compromissos, controlar


suas atividades, ser pontual, honrar os trabalhos assumidos, adequar-se
às exigências e especificidades de cada interpretação (local, vestimenta,
postura etc.) sem interferência interna.
• Autocontrola: mantém o distanciamento profissional, especialmente
requerido em situações que existam fortes fatores emocionais que
podem pôr a perder a qualidade do ato tradutório.
• Humildade: devido à superexposição a que frequentemente os intérpretes
de Libras se submetem, é comum que se perca a modéstia. Por
estarmos sempre em destaque, condição inerente ao trabalho, o apelo à
supervalorização do ego e à vaidade é muito forte. Nesse sentido, cabe a
todo intérprete de Libras ter uma atitude em que o que se sobressaia, nos
momentos da atuação, seja realmente a interpretação e não o intérprete,
ter a consciência das próprias limitações, respeitar os diversos níveis de
aprendizagem e atuação dos colegas, tendo consciência que eles não
são estáticos.

54
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

Os participantes do ato tradutório são fundamentais para que o produto


a ser oferecido ao cliente esteja de acordo com suas necessidades. Assim,
podemos afirmar que existem outros fatores que contribuem positivamente
para o desenvolvimento da atividade do profissional, esses fatores qualificam a
performance e asseguram uma tradução e interpretação de qualidade.

• Ter acesso antecipado ao conteúdo da interpretação, principalmente em


situações educacionais e de conferências.
• Respeito ao profissional e aos seus limites físicos, psicológicos e
emocionais.
• Valorização da prestação do serviço com remuneração justa.
• Reconhecimento da participação dos intérpretes para o sucesso de
interações linguísticas e crédito ao seu nome.
• O conhecimento por parte do cliente (pessoas física ou jurídica, surdos
ou ouvintes) do real papel do intérprete, seu limite de atuação, condições
adequadas para o desenvolvimento do seu trabalho, tais como: intervalos
regulares, rodízio entre os intérpretes, espaço físico condizente,
iluminação, entre outros.

O intérprete deve sempre prezar pelo bom andamento de seu trabalho,


reconhecer que tipo de profissional se tornou e se está de acordo com as regras
inerentes a sua profissão, sua atuação deve contemplar as principais habilidades
requeridas na interpretação de língua de sinais, do ponto de vista de Russo e
Pereira (2005, p. 19), essas habilidades são definidas da seguinte maneira:

• Posicionamento: postura do corpo assumida no momento da


interpretação.
• Deslocamento: localização espacial dos interlocutores e objetos em
língua de sinais.
• Memória de curto prazo (ou memória de trabalho): utilizada para guardar
as informações em um pequeno período, sendo processada e utilizada
quase que instantaneamente.
• Expressão facial e corporal: são os equivalentes à entonação da voz e
comunicam emoções, intensidade, foco, além de serem elementos da
gramática da língua de sinais.
• Raciocínio rápido e agilidade mental: são absolutamente necessários
na interpretação simultânea, no momento de procurar sinônimos,
equivalentes e variantes de palavras, sinais e estruturas.
• Improvisação: capacidade de solucionar possíveis problemas tanto de
logística quanto do processo de interpretação, sem preparo prévio.
• Trabalho em equipe: trabalhar em harmonia e eficiência com um ou mais
colegas, incluindo o serviço de apoio.

55
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

• Atenção e concentração: são habilidades de fixar e manter a mente


focada em alguma informação.
• Percepção visual e auditiva: acuidade na capacidade de recepção das
línguas envolvidas como na leitura e soletração manual, bem como na
discriminação dos sons relevantes no discurso.
• Prosódia e expressividade oral: entonação, ritmo e pausas.
• Motricidade fina e percepção cinestésica: clareza e definição na
execução de alguns parâmetros gramaticais da língua de sinais, tais
como, configuração de mão, movimentos, locação e espaço;
• Além de um ótimo conhecimento linguístico das línguas envolvidas
(língua de sinais e língua oral).

Todas as habilidades citadas e, igualmente, aquelas que não foram aqui


registradas, são empregadas em diferentes dinâmicas nos cursos de formação
e de qualificação do intérprete de Libras, e visam o desenvolvimento de técnicas
que instrumentalizam o profissional para exercer sua função adequadamente.
Contudo, de nada adianta toda essa formação qualificada se o intérprete de
Libras não tem o hábito de realizar uma autoanálise de como está se comportando
enquanto profissional. Como está sua atuação frente às demandas recebidas e
aceitas. Para tanto, é fundamental que reconheça qual é o seu tipo de intérprete?
Essa discussão é o que propomos a seguir com o objetivo de reconhecermos
que existem diferentes tipos de profissionais, já considerando que o ponto de
partida pode ser diferente, porém, o ponto de chegada é o mesmo, o produto é a
comunicação efetiva e de qualidade.

3 Os cursos de tradutores intérpretes de Libras trazem muitas


questões que trabalham diferentes discussões acerca
das reflexões da prática do profissional. Nos projetos
desses cursos, técnicas de tradução e interpretação ou
técnicas laborais de interpretação de língua de sinais,
são absolutamente imprescindíveis, mas também devem
observar outras áreas de maneira próxima com vistas a
contemplar outras áreas de conhecimento.
Russo e Pereira (2005, p. 15), defendem algumas áreas de
conhecimento que devem estar presentes nos cursos de
formação de tradutor intérprete para valorizar a categoria.
Analise as sentenças a seguir:

FONTE: RUSSO, A.; PEREIRA, M. C. P. Tradução e Interpretação


de Língua de Sinais. Técnicas e Dinâmicas para cursos. Porto
Alegre: Editora Centro Educacional Cultura Surda. 2005.

56
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

I- Linguística, seja ela geral ou específica da língua de sinais,


Língua de sinais aplicada à tradução e à interpretação, Língua
portuguesa aplicada à tradução e à interpretação, Teoria da
tradução (tradutologia) não fazem parte das áreas de formação
de acordo com a autora.
II- Somente a área de Artes dramáticas (expressões corporal, vocal
e facial) contemplam a necessidade dos cursos de tradução
interpretação.
III- Cuidados laborais (prevenção de lesões, manutenção da
musculatura e articulações exigidas na interpretação, postura,
higiene e estética vocal, relaxamento e alongamento) não faz
parte das áreas sinalizadas pela autora.
IV- Evolução e constituição da comunidade surda e sociologia
geral, Psicologia aplicada à interpretação, seminários sobre
surdocegueira, ética, sinais internacionais (international signs),
legislação que embasa o serviço de interpretação de língua de
sinais e outros assuntos de interesse. Assim como as áreas
da Linguística, seja ela geral ou específica da língua de sinais,
Língua de sinais aplicada à tradução e à interpretação, Língua
portuguesa aplicada à tradução e à interpretação, Teoria da
tradução (tradutologia), entre outras.

Assinale a alternativa que CORRETA:


a) ( ) A sentença IV está errada.
b) ( ) As sentenças II e IV estão erradas.
c) ( ) A sentença I está correta.
d) ( ) Todas as sentenças estão erradas.
e) ( ) A sentença IV é a mais completa de todas.

4 ALGUMAS REFLEXÕES E
AUTOANÁLISES SOBRE O TIPO DE
INTÉRPRETE QUE SOU E QUAL TIPO
EU QUERO SER
Ao realizar uma percepção de seu trabalho, postura e atitude faz com que o
intérprete de Libras analise questões que provocam discussões importantíssimas
acerca de sua atuação. Ao realizar um diagnóstico pessoal do tipo de intérprete que

57
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

de fato representa o profissional se torna capaz de perceber suas características


sejam elas positivas ou negativas, dessa forma é possível direcionar sua postura
profissional para o tipo de intérprete que, de fato, quer se tornar, e com isso
garantir a entrega do seu produto com qualidade.

O professor Evandro Magalhães Junior em seu livro: “Sua majestade o


intérprete: O fascinante mundo da tradução simultânea”, apesar de não ser
uma obra que trate diretamente dos intérpretes de línguas de sinais, ele nos
presenteia com reflexões e ensinamentos importantes. O livro busca apresentar
vários aspectos da profissão de intérprete, apresenta histórias e desafios que, no
decorrer de sua trajetória, enfrenta e vivencia no seu processo, também orienta
aqueles que pretendem ingressar na profissão.

Alguns elementos são processos complicadores para que a entrega do


produto interpretativo não aconteça de maneira satisfatória. O autor analisa que
elementos como a má comunicação, a indiscrição e a falta de tato no lidar com
as pessoas, prejudica o ato interpretativo impedindo que o produto tradutório
aconteça de maneira satisfatória.

No decorrer do livro o autor discorre sobre a postura positiva que o profissional


deve atender para que tenha sucesso na profissão. Orienta acerca da autoanálise
e autorreconhecimento. O pesquisador apresenta, ricamente, diferentes tipos de
intérpretes fazendo uma comparação com os animais. Em uma Live do canal
#TraduzAi no Youtube, há uma discussão muito importante para uma autoanálise
dos profissionais intérpretes de Libras. A base da discussão que direcionou a
Live é o livro do pesquisador Magalhães Júnior que, de maneira extremamente
interessante e didática, apresenta os seis tipos de intérpretes nas línguas orais,
mas que de maneira muito rica os profissionais da Live fazem uma comparação
aos intérpretes de língua de sinais.

• Intérprete Pavão: o perfil desse tipo de intérprete se aproxima da


necessidade de aparecer mais do que a própria língua, está sempre em
busca de atenção para si, não tem compromisso com o processo como
um todo. A característica principal desse profissional é o ego inflado.

• Intérprete Papagaio: é aquele intérprete que só trabalha se tiver apoio


no processo de tradução, na maioria das vezes não se prepara para
a atividade, visto que pensa estar garantido pela presença do apoio.
Sua característica é a mera repetição dos sinais se, muitas vezes não
refletir acerca do sentido contextual, acaba por fazer a repetição do sinal
pela mera repetição sem a análise contextual para realizar escolhas
tradutórias dos sentidos interpretados.

58
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

• Intérprete Pirata: esse é aquele profissional que assume as demandas


e julga saber interpretar qualquer área de conhecimento. Contudo,
possui inúmeras limitações e não tem as habilidades necessárias para
uma boa atuação. Não basta apenas ter como ferramenta a capacidade
de interpretar, mas sim é necessário possuir habilidades inerentes ao
tradutor intérprete de Libras, sendo fundamental ter consciência de suas
limitações para não prejudicar o processo tradutório.

• Intérprete Tubarão: o intérprete Tubarão se caracteriza pela postura de


se julgar o melhor dos intérpretes, costumeiramente assume o máximo
de demanda sozinho e tem o hábito de julgar a atuação do colega sem
estar disponível para auxiliar e ajudar na evolução do outro, mesmo
sendo ele um profissional com muita experiência.

• Intérprete Carpa: é aquele intérprete que atua de maneira mais solitária


em uma única direção, do Português para Libras ou de Libras para o
Português. Esse profissional busca atuar em eventos que tenham maior
visibilidade de sua imagem. Costuma ser individualista e tem grande
dificuldade em trabalhar em equipe.

• Intérprete Golfinho: intérprete golfinho é aquele que sempre trabalha em


grupo, com coletividade e se entrega na atuação, busca minimizar as
dificuldades e limitações dos colegas, visto sua capacidade em perceber
as necessidades e dificuldades do outro. Esse profissional está sempre
disposto a auxiliar e a dividir as tarefas, não assume demandas sozinho,
pelo contrário, se caracteriza pela busca de aliados e parceiros nas
atividades interpretativas.

As características dos diferentes tipos de profissionais remetem à


compreensão da base que alicerça as práticas do intérprete de Libras. Suas
crenças, posturas e atitudes influenciam diretamente em seu ponto de vista em
relação à maneira de aceitar e lidar com as diferentes opiniões, sustentando um
pilar atitudinal em sua prática.

Os quatro pilares da educação de Jacques Delors, podem ser didaticamente


utilizados nas práticas profissionais e de convivência dos intérpretes de Libras,
principalmente em sala de aula, quando o profissional trabalha sozinho e sua
atuação acaba por influenciar totalmente a aprendizagem do aluno surdo. É claro
que em sala de aula o intérprete assume diferentes papéis e, na maioria das
vezes, atua como defensor do direito do surdo em usar sua língua e se comunicar
por meio de uma língua visual.

Aqui podemos fazer uma aplicação dos quatro pilares da educação para a
formação e caminhada do intérprete de Libras.
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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

FIGURA 1 – OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO: ALINHADOS


A PRÁTICA DO INTÉRPRETE DE LIBRAS

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/f8/9d/df/
f89ddfe74f449e12020ea02d23cba9b4.png>. Acesso em: 21 jun. 2021.

• Aprender a conhecer – É necessário tornar verdadeiramente real o


ato de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento
empírico para que seja duradouro, valorizando a curiosidade e a
autonomia. Partindo dessa perspectiva, faz-se necessário pensar o
novo sem menosprezar o que está posto, objetivando reconstruir o
velho e reinventar o pensar. Estamos em constante aprendizagem e
conhecimento de como e qual a melhor maneira de desenvolver sua
prática profissional e entender sua atuação como uma ponte para o
desenvolvimento do sujeito surdo enquanto cidadão.

• Aprender a fazer – Não basta um intérprete de Libras preparar-se com


cuidados, realizando as formações necessárias para a sua atuação e
para se inserir no setor do trabalho. A rápida evolução por que passam
a profissão do tradutor/intérprete pede que o profissional esteja apto a
enfrentar novas situações nas áreas em que pretende atuar, sempre
observar a evolução do espírito cooperativo do trabalho em equipe,
juntamente com a humildade na reelaboração conceitual e nas trocas,

60
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

valores, conhecimentos e vivências necessários ao trabalho com os


pares. É importante ter iniciativa e intuição, gostar de uma certa dose de
adrenalina, mas é fundamental saber comunicar-se e resolver conflitos,
ser flexível nos momentos em que os ânimos se alteram. Esse pilar
envolve uma série de técnicas e sentimentos a serem trabalhados,
relacionando com o fazer do intérprete de Libras, o fazer enquanto
profissional formador de opinião, refletindo as suas práticas profissionais,
assumindo uma condição e postura que condizem com sua profissão.

• Aprender a conviver – Muitas vezes esse é um desafio gigantesco


quando falamos das relações do tradutor intérprete de Libras e seus
pares. Atualmente, praticar a boa convivência é um aprendizado
importantíssimo, por trabalhar a valorização de quem aprende a se
relacionar com os outros, a compreendê-los, a desenvolver a percepção
de interdependência, a administrar conflitos, a participar de projetos
comuns, a ter prazer no esforço comum visando o desenvolvimento do
coletivo. Quanto às atividades do intérprete de Libras devem, sempre que
possível, acontecer em conjunto com seu par, esse pilar nos representa
a convivência com o outro e a prática da boa relação que devemos ter
com o colega que está buscando a entrega de um produto interpretativo
ou tradutório para um público específico.

• Aprender a ser – É importante desenvolver a sensibilidade do profissional


intérprete de Libras, progredir no sentido ético e estético, evoluir
positivamente na responsabilidade pessoal, pensamento autônomo
e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa e crescimento integral
da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem em relação ao
profissional que deseja se tornar precisa ser integral, não descuidar de
nenhuma das potencialidades de cada intérprete, esteja ele em formação
ou que já tenha experiência. Esse pilar nos remete a uma autorreflexão
que deve acompanhar todo o profissional intérprete de Libras, é
importante se perguntar: quem eu quero ser enquanto profissional
intérprete de Libras? Uma reflexão que busca fazer uma autoanalise da
atividade que está sendo realizada e aquela que, de fato, gostaria que
fosse. Renascer dos erros, aprender a perceber seus erros e com eles
buscar sua própria evolução.

Com essa perspectiva dos quatro pilares do conhecimento educacional,


pode-se prever grandes consequências na atuação e formação do intérprete
de Libras. A prática individualizada e com prejuízos ao ensino-aprendizagem do
público-alvo tem sido objeto de preocupação constante dos profissionais que
atuam na área de tradução e interpretação de Libras.

61
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Essas práticas negativas deverão dar lugar à troca de vivências, às boas


relações, à responsabilidade profissional, respeito ao trabalho do colega, ao
espírito de cooperação e humildade. Todas essas discussões foram também
abordadas em uma Live do canal #TraduzAi, de maneira extremamente didática
e inteligente, provocando uma necessidade de refletir as práticas profissionais e
assumir uma postura ética diante das necessidades e demandas que recebe e
venha a aceitar.

Que tipo de intérprete eu sou? E que tipo de intérprete eu quero


ser? Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=kyLc7LeWqCA.

FONTE: <https://www.youtube.com/
watch?v=kyLc7LeWqCA>. Acesso em: 7 jun. 2021.

4 Existem habilidades que o profissional intérprete de Libras


comprometido, ético e de qualidade deve adotar em sua
trajetória formativa. Os cursos de formação de tradutores
intérpretes de Libras empregam dinâmicas diversas que
qualificam o profissional com o desenvolvimento de
técnicas que visam instrumentalizar sua prática e garantir
maior segurança no exercício de sua função. O intérprete
deve sempre prezar pelo bom andamento de seu trabalho,
reconhecer que tipo de profissional se tornou e se está de
acordo com as regras inerentes a sua profissão, sua atuação

62
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

deve contemplar as principais habilidades requeridas na


interpretação de língua de sinais. Russo e Pereira (2005.
p,19), discutem com o leitor retratando em sua pesquisa
algumas das habilidades que devem ser fornecidas pelos
cursos de formação de intérprete de Libras. Diante disso,
classifique V para as sentenças e F para as Falsas:

( ) Posicionamento: postura do corpo assumida no momento


da interpretação; deslocamento: localização espacial dos
interlocutores e objetos em língua de sinais; memória de curto
prazo ( ou memória de trabalho): utilizada para guardar as
informações em um pequeno período, sendo processada e
utilizada quase que instantaneamente.
( ) Expressão facial e corporal: são equivalentes à entonação da
voz e comunicam emoções, intensidade, foco, além de serem
elementos da gramática da língua de sinais; raciocínio rápido e
agilidade mental: são absolutamente necessários na interpretação
simultânea, no momento de procurar sinônimos, equivalentes e
variantes de palavras, sinais e estruturas.
( ) Improvisação: capacidade de solucionar possíveis problemas tanto
de logística quanto do processo de interpretação, sem preparo
prévio; trabalho em equipe: trabalhar em harmonia e eficiência
com um ou mais colegas, incluindo o serviço de apoio; atenção e
concentração: são habilidades de fixar e manter a mente focada
em alguma informação.
( ) Percepção visual e auditiva: acuidade na capacidade de recepção
das línguas envolvidas como na leitura e soletração manual, bem
como na discriminação dos sons relevantes no discurso; prosódia
e expressividade oral: entonação, ritmo e pausas.
( ) Motricidade fina e percepção cinestésica: clareza e definição na
execução de alguns parâmetros gramaticais da língua de sinais,
tais como, configuração de mão, movimentos, locação e espaço;
excelente conhecimento linguístico das línguas envolvidas (língua
de sinais e língua oral).

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRRETA:


a) ( ) F – F – F – F – V.
b) ( ) V – V – V – F – V.
c) ( ) V – V – V – V – V.
d) ( ) F – F – F – F – F.
e) ( ) F – V – F – V – F.

63
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

5 Realizar um comparativo entre o reino animal e o perfil


do intérprete de Libras pode parecer estranho, porém, o
professor e autor Evandro Magalhães Junior em sua obra:
“Sua majestade o intérprete: o fascinante mundo da tradução
simultânea” nos presenteia com questões que cabem
perfeitamente no mundo dos profissionais intérpretes de
Libras. Discutimos no decorrer do material as características
e diferenças desses profissionais e, agora, cabe a você,
caríssimo estudante, fazer uma relação entra o perfil do
intérprete de Libras e o animal que corresponde. Vamos lá?

Assinale a alternativa CORRETA:


( ) Intérprete Golfinho: é aquele que sempre trabalha em grupo,
com coletividade e se entrega na atuação, busca minimizar as
dificuldades e limitações dos colegas, visto sua capacidade
em perceber as necessidades e dificuldades do outro. Esse
profissional, está sempre disposto a auxiliar e a dividir as tarefas,
não assume demandas sozinho, pelo contrário, se caracteriza
pela busca de aliados e parceiros nas atividades interpretativas.
( ) Intérprete Tubarão: é aquele intérprete que atua de maneira mais
solitária em uma única direção, do Português para Libras ou
de Libras para o Português. Esse profissional busca atuar em
eventos que tenham maior visibilidade de sua imagem. Costuma
ser individualista e tem grande dificuldade em trabalhar em
equipe.
( ) Intérprete Golfinho: esse é aquele profissional que assume
as demandas e julga saber interpretar qualquer área de
conhecimento. Contudo, possui inúmeras limitações e não tem
as habilidades necessárias para uma boa atuação. Não basta
apenas ter como ferramenta a capacidade de interpretar, mas sim
é necessário possuir habilidades inerentes ao tradutor intérprete
de Libras, sendo fundamental ter consciência de suas limitações
para não prejudicar o processo tradutório.
( ) Intérprete Carpa: é o tipo de intérprete se aproxima da necessidade
de aparecer mais do que a própria língua, está sempre em busca
de atenção para si, não tem compromisso com o processo como
um todo. A característica principal desse profissional é o ego
inflado.
( ) Intérprete Golfinho: é aquele que sempre trabalha em grupo,
com coletividade e se entrega na atuação, busca minimizar as
dificuldades e limitações dos colegas, visto sua capacidade
em perceber as necessidades e dificuldades do outro. Esse
profissional, está sempre disposto a auxiliar e a dividir as tarefas,

64
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

não assume demandas sozinho, pelo contrário, se caracteriza


pela busca de aliados e parceiros nas atividades interpretativas.
( ) Intérprete Papagaio: se caracteriza pela postura de se julgar o
melhor dos intérpretes, costumeiramente, assume o máximo de
demanda sozinho e tem o hábito de julgar a atuação do colega
sem estar disponível para auxiliar e ajudar na evolução do outro,
mesmo sendo ele um profissional com muita experiência.

Para reflexão: após assistir o vídeo do canal # que discute acerca da postura
e perfil do tradutor intérprete de Libras, sugerimos uma autorreflexão do tipo de
intérprete que você, caro aluno, é nesse momento, qual o perfil de intérprete está
representando quando em atuação? E ainda, qual o perfil de profissional está em
busca de se tornar?

Essa autorreflexão serve para que, cotidianamente, estejamos atentos


às questões que nos rodeiam e que, por vezes, ficamos alheios ou até mesmo
em estado de ignorância para reconhecer os pontos que devemos ajustar em
nossa prática enquanto profissional. Vamos fazer esse importante exercício de
autorreflexão?

LIVRO INTÉRPRETES EDUCACIONAIS

FONTE: Acervo pessoal do autor

65
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

4.1 HABILIDADES E COMPETÊNCIAS


TRADUTÓRIAS
Todas essas questões tratadas anteriormente são de extrema importância
para um trabalho de qualidade do profissional tradutor intérprete de Libras.
Devemos sempre ter a consciência de que o bom senso, o domínio do assunto
a ser interpretado, assim como o extinto de colaboração do trabalho em equipe,
permite que a atuação, e a interação aconteça de maneira mais leve, com muito
mais qualidade do produto a ser entregue ao público-alvo.

As atividades mentais exigidas para a entrega do produto interpretativo


de qualidade são complexas, e algumas habilidades são fundamentais para
a realização dos diferentes tipos de tradução e interpretação. Habilidade e
competência são conceitos inter-relacionados, compreendemos habilidade como
sinônimo de aptidão, desenvoltura e destreza onde é extremamente necessário ter
a capacidade de saber ou de fazer algo. Já a competência se refere à mobilização
de habilidades para empregar na realização de determinada ação, em diferentes
graus.

Perrenoud (2000, p. 19-31.) defende que competência é a faculdade de


mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações
etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações.
Assim, as habilidades cognitivas, ao serem utilizadas no processo de tradução
e interpretação, se manifestam, expressam-se como competências. Tais
competências são determinantes na prática do profissional intérprete de Libras,
para que a entrega do produto aconteça de maneira satisfatória.

4.1.1 Competência linguística


Habilidade de compreender diferentes discursos em línguas diferentes com o
mesmo significado. Um exemplo esclarecedor dessa competência é a situação do
uso das expressões idiomáticas. Essa competência pode se tornar desafiadora em
uma situação interpretativa simultânea. Por isso, quanto melhor for a acuidade do
tradutor intérprete nas duas línguas, melhor será desempenhada a interpretação.

66
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

4.1.2 Competência para transferência


Habilidade em transferir uma linguagem produzida na língua fonte para a
linguagem da língua alvo. Do ponto de vista da Libras, que é uma língua visual
e motora, é possível inferir o uso do rosto, corpo, braços, troncos e espaço na
frente do sinalizador para expressar o discurso. Uma das estratégicas gramaticais
da Libras é a estruturação dessas concepções por meio de rotação do tronco
na incorporação de algum elemento lexical, como o uso do espaço nessa
estruturação.

4.1.3 Competência metodológica


Habilidade no uso perspicaz de diferentes estilos de interpretação, tais como
o uso dos tipos de tradução (simultâneo, consecutivo etc.). Cabe considerarmos
que muitas vezes o profissional intérprete de Libras quando está em uma
interpretação simultânea, necessita esclarecer conceitos específicos do discurso
a ser interpretado e oferecer exemplos na linguagem produzida, ou realizar
diferentes escolhas lexicais para comunicar a mensagem na língua alvo, como
também a capacidade de retransmitir algum dado, caso tenha sido perdido pelo
receptor da informação.

4.1.4 Competência de área


Conhecimento da área em que será realizada a interpretação. Ao aceitar
interpretar um evento, congresso. Seminário ou qualquer demanda em qualquer
área de conhecimento, o intérprete precisa conhecer não apenas o vocabulário,
mas também o que está nas entrelinhas do discurso e a linguagem utilizada nesse
espaço. É importante perceber que, se a demanda advém de uma área social
desconhecida pelo intérprete (justiça, saúde, educação, esporte etc.), ele não
conhecerá os conceitos aferidos na fala do palestrante e resultará na inviabilização
da transferência para a língua alvo e no prejuízo na entrega do produto.

4.1.5 Competência bicultural


É fundamental o conhecimento das culturas envolvidas e como elas se
expressam nas línguas em uso durante o ato tradutório. Tal competência é muito
utilizada quando, por exemplo, na interpretação de piadas, gírias ou expressões

67
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

da língua onde a percepção do sujeito (no caso do surdo, a visão) estrutura toda a
leitura de mundo e compreensão de sujeito.

4.1.6 Competência técnica


São as estratégias tradutórias, ferramentas ou escolhas técnicas
tradutórias que são cuidadosamente utilizadas no momento da execução de
uma interpretação. Se formos analisar uma interpretação simultânea onde o
canal de saída vem de um ouvinte e o de chegada é um surdo, é extremamente
fundamental o posicionamento no campo visual de maneira a ficar claro e objetivo
para o sujeito surdo todos os elementos de linguagem que estão envolvidos no
ato interpretativo, tais como a expressão corporal do palestrante, apontação com
os dedos do palestrante nas ilustrações de algum exemplo e o uso de slides na
apresentação.

Cabe salientar que, quando o locutor for um surdo e a os ouvintes forem a


plateia, a estrutura e organização deve seguir outra forma, a apresentação será
reformulada e a presença do intérprete de Libras sentado à frente do palestrante
é fundamental. Em alguns casos é comum a presença de intérprete de apoio
para um melhor desempenho no momento da articulação dos discursos. Esse
profissional pode estar em ambas as situações tradutórias, seu papel é fornecer
vocabulário oral em forma de sussurro no ouvido do intérprete que está oralizando
o surdo, assim como fornecer vocabulário linguístico de sinais ao profissional que
está atuando na sinalização para o sujeito surdo. O uso de auxílio como blocos de
anotações, gravações, uso de microfones e fones de ouvido, podem ser utilizados
pelo intérprete de apoio quando necessário.

Todas essas questões exigem do profissional tradutor intérprete de Libras


a mobilização de um conjunto de habilidades e competências em forma de
conhecimentos, informações e saberes, que amparam para o enfrentamento
das especificidades tradutórias e interpretativas e promovem segurança em sua
atuação, tornando o trabalho mais completo.

68
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

6 Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto


de recursos cognitivos para solucionar com pertinência
e eficácia uma série de situações. As habilidades
cognitivas quando utilizadas no processo de tradução e
interpretação, expressam-se como competências e são
fundamentais na atuação do profissional intérprete de
Libras. Habilidade e competência são conceitos inter-
relacionados. Compreendemos habilidade como sinônimo
de aptidão, desenvoltura e destreza onde é extremamente
necessário ter a capacidade de saber ou de fazer algo. Já
a competência se refere à mobilização de habilidades para
empregar na realização de determinada ação, em diferentes
graus. De acordo com o material estudado, seis são as
competências linguísticas definidas por Perrenoud 2000, p.
19-31.). A seguir, aponte a opção que apresenta essas seis
competências linguísticas necessárias para um intérprete de
Libras oferecer um produto com qualidade a seu cliente.

FONTE: PERRENOUD, P. Construindo competências. [Entrevista concedida


a] Paola Gentile e Roberta Bencini. Nova Escola, p. 19-31, set. 2000.

a) ( ) Competência linguística, Competência para transferência,


Competência metodológica, Competência de área, Competência
bicultural, Competência técnica.
b) ( ) Competência bicultural, Competência existencial e Competência
técnica.
c ( ) Competência para transferência, Competência para aceitação e
Competência metodológica.
d) ( ) Competência de área , Competência linguística e Competência
de vida.
e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta.

69
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, buscamos trazer a você, acadêmico, conhecimento acerca
dos limites e possibilidades da tradução e interpretação, percebendo as diferenças
entre as duas áreas, porém sempre refletindo sobre os aspectos linguísticos
culturais e situacionais. As particularidades apresentadas no decorrer do capítulo,
buscaram discutir como se dá o papel do intérprete mediador social e linguístico,
objetivando compreender qual o seu papel enquanto profissional da área da
língua de sinais. Ainda consideramos nesse capítulo, reflexões profundas das
responsabilidades que envolvem sua prática, acrescentando ao seu ofício a busca
constante por formação e valorização profissional. As investigações sobre os
assuntos relacionados ao tema apresentado neste capítulo são necessárias para
a formação do intérprete de Libras, sendo assim buscamos contribuir com uma
discussão que pudesse auxiliar tanto os profissionais como aqueles que estão
em busca dessa profissão a compreender as estratégias linguístico-discursivas
utilizadas pelo intérprete de Libras em sua atuação.

Compreendemos que constantemente as sensações de insegurança,


incertezas e medos assolam o cotidiano desse profissional de Libras, mas a
persistência e o foco devem afastar o ímpeto de abandonar aquilo que nos
propusemos a fazer, mesmo com a certeza de que a atividade do intérprete de
Libras não representa uma atividade simples e de fácil atuação.

Em todas as áreas em que atua o profissional deve-se ter clara certeza de


que os conhecimentos específicos são fundamentais para que a sua interpretação
seja apropriada às possibilidades do aluno surdo. A Língua de Sinais representa
a liberdade de expressão e comunicação, visto que é por meio dela que acontece
a organização do pensamento. O constante movimento linguístico constrói
novos sentidos, a partir da interação entre os sujeitos, auxiliando a construção
de maneiras diferenciadas de aprendizagem capaz de atender às necessidades
enunciativas do locutor.

REFERÊNCIAS
ALVES, F.; M., C.; PAGANO, A. Traduzir com Autonomia: estratégias
para o tradutor em formação. São Paulo: Ed. Contexto, 2000.

BARRETO, A.; BUSTOS, O. Teorias de la Traducción/interpretación


en plastilina. Bogotá, Colombia: ANISCOL, 2012.

70
Capítulo 2 T. E I.: LIMITES E P. NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a


Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira
de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de
2000. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
22 dez. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 30 jan. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas


gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 19 dez. 2000. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10436.htm. Acesso em: 4 junho 2021.

BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de


Sinais (LIBRAS) e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, 24 abr. 2002. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10436.htm. Acesso em: 4 jun. 2021.

COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento


psicológico e educação: transtornos de desenvolvimento e
necessidades educativas especiais. Porto Alegre: Artmed, 2004.

EMMOREY, K. Language, cognition, and the brain: insights from signs


language research. London: Lawrence Erlbaum Associates, 2002.

MAGALHÃES JUNIOR, E. Sua majestade o intérprete: O fascinante


mundo da tradução simultânea. [S.l.]: Parábola, 2007.

GOLDIN-MEADOW, S. Talking and thinking with our


hands. Psychological Science, [s.l.], v. 15, n. 1, p. 34-39, 2006.

LACERDA, C. B. F. de. Intérprete de Libras: em atuação na educação


infantil e no ensino fundamental. 6. ed. Porto Alegre. Mediação, 2014.

MAYBERRY, R. I.; EICHEN, E. B. The long-lasting advantage


of learning sign language in childhood: another look at the
critical period for language acquisition. Journal of Memory
and Language, [s.l.], v. 30, n. 4, 486-512, aug. 1991.

PERRENOUD, P. Construindo competências. [Entrevista concedida a]


Paola Gentile e Roberta Bencini. Nova Escola, p. 19-31, set. 2000.

71
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

ROTH, M.; JÚNIOR, A. A. P. A prática pedagógica de professores de uma


escola pública para educação de um aluno surdo. Revista Polidisciplinar
Eletrônica da Faculdade Guariça, Guariça, v. 2, n. 1, jul. 2010.

RUSSO, A.; PEREIRA, M. C. P. Tradução e Interpretação de


Língua de Sinais. Técnicas e Dinâmicas para cursos. Porto
Alegre: Editora Centro Educacional Cultura Surda. 2005.

SANTOS, V. L. C. A opinião de pais ouvintes e filhos surdos sobre


Língua de Sinais. 2009, 122 p. Monografia (Especialização em
Educação Especial) – Faculdade de Santa Helena, Recife, 2009.

72
C APÍTULO 3
AS ESCOLAS E OS PROFISSIONAIS
INTÉRPRETES DE LIBRAS:
A INOVAÇÃO NO ÂMBITO DA
INTERPRETAÇÃO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Apresentar quem são os profissionais envolvidos na educação de Surdos.


 Compreender as diferentes situações que envolvem
o cotidiano dos intérpretes em sala de aula.
 Conhecer escolhas tradutórias que acontecem no âmbito escolar.
 Saber quem é o profissional intérprete de Libras que estamos dialogando.
 Construir um saber acerca do profissional envolvido na
formação do Surdo, discursando com a realidade escolar.
 Saber lidar com as mais diversas situações que se desenham na escola.
 Aprender a aceitar as diferentes escolhas tradutórias
necessárias para a construção do saber.
 Discutir a ética e responsabilidade do tradutor intérprete
na vida social do surdo e de seus pares.
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

74
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Abordar os conhecimentos, a atuação e a importância do Intérprete da Língua
Brasileira de Sinais (Libras) na sala de aula, compreender as diferentes situações
que envolvem o seu cotidiano, os desafios enfrentados nas escolhas tradutórias
que lançam mão de construir um saber efetivo na formação do seu público-alvo,
discursando com a realidade no âmbito escolar é o conteúdo que embasa este
último capítulo. É importante estabelecer como objetivo principal a investigação da
atuação do Intérprete de Libras e considerar seus direitos profissionais, postura e
limites com o aluno surdo.

Cada sujeito possui as suas especificidades e a inclusão escolar deve


atender de maneira igualitária os educandos para que alcancem os conhecimentos
necessários para uma vida social plena e participativa. De acordo com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), n. 9.394/96 especialmente o Capítulo III,
Art. 205 (BRASIL, 1996), podemos perceber que “a educação, direito de todos e
dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração
da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Por esse viés,
nos últimos anos a Federação brasileira busca implementar leis, decretos e
regulamentos que favoreçam a educação para os cidadãos, tornando- a um direito
de todos, sem esquecer da formação dos profissionais envolvidos.

A trajetória educacional do sujeito surdo é acompanhada por três vertentes


metodológicas que embasam e norteiam toda a constituição do surdo enquanto
ator de sua própria história. Nascimento (2018) defende que Oralismo,
Comunicação Total e o Bilinguismo são vertentes que marcam a caminhada da
comunidade surda, corroborando com essa ideia entendemos que tais vertentes
registram um importante papel para o progresso social dos surdos nacionais.
Das três correntes o Bilinguismo é a que ganha destaque e força nas discussões
que envolvem a educação do surdo e, consequentemente, é considerada como
a escolha mais assertiva para o ensino do surdo desde a década de 1980 e
reconhecida legalmente por meio da Lei nº 10.436/2002 (BRASIL, 2002). O
Bilinguismo proporciona um aprendizado pelo Português (escrito) e a Língua
brasileira de sinais (Libras) (natural).

Em todo esse contexto educacional temos alguns profissionais que se


destacam de maneira extremamente importante, os professores de Libras,
professores de disciplinas fluentes em Libras, professor bilíngue, intérpretes de
Libras são alguns citados que atuam no âmbito da educação. De todos esses, o
Intérprete de Libras é o profissional que vamos nos debruçar nesse capítulo, porém

75
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

salientamos a importância de o acadêmico buscar o papel que desempenha cada


um desses profissionais que estão diretamente envolvidos no processo escolar do
sujeito surdo.

2 O INTÉRPRETE DE LIBRAS
EDUCACIONAL E A LEGALIDADE
QUE O AMPARA
A interpretação educacional possibilita que a maioria dos tradutores intérprete
de Libras acessem a prática profissional a partir de um contexto real de atuação,
visto a necessidade extrema desse profissional para garantir que o processo
educacional das crianças surdas ocorra de maneira efetiva. Em meados de 1980
os intérpretes estão presentes no contexto religioso e migram gradativamente
para o âmbito educacional. A partir da declaração de Salamanca em 1994 a língua
de sinais retorna à sala de aula mista (bilíngue), possibilitando que as crianças
surdas acessem o conhecimento formal com a mediação do intérprete de Libras
que possibilita a apropriação de saberes e experiências de maneira coletiva,
respeitando seu papel mediador no trabalho educativo, sem deixar de observar as
condições em que desempenha sua atividade profissional.

Diversas leis, decretos e documentos possibilitam a consolidação e


especificação da atividade do Tradutor Intérprete de Libras – TILSP, de maneira
breve destacaremos algumas para instigar a curiosidade do acadêmico.
Primeiramente, destacamos a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000
(BRASILl, 2000, p. 2), que estabelece normas e critérios para a promoção da
acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Cabe
ressaltar que a referida lei aponta, pela primeira vez, a formação de intérpretes de
Libras e proporciona uma realidade profissional de um grupo de pessoas que, em
sua maioria, até o presente momento atuavam no contexto religioso e familiar de
maneira informal.

Importante destaque também merece a Resolução CNE/CEB nº 2, de 11


de setembro de 2001, que apesar de não tratar especificamente do intérprete
de Libras, institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica, a referida resolução orienta em seu Art. 8º, a postura e organização das
escolas para incluir pessoas com necessidades educacionais diversas. Para que
suas orientações sejam alinhadas, essa Resolução, determina normas referentes
à “[...] atuação de professores-intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis”
(BRASIL, 2001, p. 2). A Lei nº 10.436 de Abril de 2002, reconhece a Libras como
língua e meio legal de comunicação dos surdos no Brasil, quando sancionada

76
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

representou um papel fundamental para que o reconhecimento do profissional


intérprete de Libras acontecesse naturalmente. Alinhado a toda discussão que
está no entorno da língua de sinais e da educação de surdos, o Decreto nº 5.626,
de 22 de dezembro de 2005, surge para regulamentar a Lei nº 10.436/2002,
discutindo diretamente quanto ao intérprete de Libras e de sua formação,
dedicando um capítulo inteiro a questões desse profissional.

A profissão de Intérprete de Libras foi verdadeiramente regulamentada,


apenas quando a Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, foi sancionada, muito
embora o Código Brasileiro de Ocupações (CBO) já previsse, no item “Filólogos,
tradutores, intérpretes e afins”, sob o Código nº 2.614-25 (BRASIL, 2010, p. 385),
os ofícios do intérprete de língua de sinais – guia-intérprete; intérprete de Libras;
tradutor de Libras e tradutor-intérprete de Libras. Com esse amparo a atuação de
TILSP ganhou um conceito legal a efetivação de concursos e processos seletivos
para o cargo específico de intérprete em território nacional, especialmente
para a área educacional, nas diferentes modalidades de ensino, favorecendo a
perspectiva da Educação Especial na perspectiva da Inclusão, e fortalecendo a
Educação Bilíngue para os alunos Surdos.

1 Todas as pessoas têm direito à educação, e o Estado tem


o dever de oferecer, respeitando as suas especificidades e
a inclusão escolar, o atendimento de maneira igualitária a
todos os educandos para que alcancem os conhecimentos
necessários para uma vida social plena e participativa. Sobre
o que defende a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB), 9.394/96 especialmente o capítulo III, Art. 205, assinale
a alternativa CORRETA:

FONTE: BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.


Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado Federal, 20 dez. 1996. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 5 fev. 2022.

( ) A compreensão das diferentes situações que envolvem o seu


cotidiano escolar em relação à inclusão e os desafios enfrentados
pela equipe gestora, devem se manter apenas no ambiente de
sala de aula para dar autonomia ao professor.
( ) As escolhas tradutórias dos intérpretes de Libras devem estar
sempre de acordo, unicamente, com a opinião do professor de
sala, pois ele é quem sabe do conteúdo e o intérprete precisa
estudar o conteúdo para ajudar na realização das aulas.

77
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

( ) “A educação, direito de todos e dever do estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
( ) A inclusão dos alunos é responsabilidade da escola e da família,
única e exclusivamente, pois o Estado precisa cuidar do outras
questões que envolvem a administração particular.

2 No decorrer do capítulo estudamos algumas Leis, Decretos


e documentos que envolvem a atividade do intérprete de
Libras e possibilitam a consolidação e especificação da
profissão. Assinale V para verdadeiro e F para Falso:

( ) Lei nº 10.098/2000.
( ) Decreto 580001/91.
( ) Decreto 5626/2005.
( ) Lei nº 12.319/ 2015.
( ) Lei nº 12.319/ 2010.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


( ) V– V– V– V– V.
( ) F – F – F – F – F.
( ) V– V– V– V– F.
( ) V– F – F – F – F.
( ) V– F– V– F– V.

2.2 O COTIDIANO DOS


INTÉRPRETES EM SALA DE AULA,
COMPREENDENDO AS DIFERENTES
SITUAÇÕES QUE ENVOLVEM A SUA
VIVÊNCIA
O domínio da língua de sinais é de extrema importância para a atuação do
intérprete, porém, as peculiaridades e especificidades que envolvem o âmbito
escolar orientam que outras habilidades devem compor o profissional intérprete, a
competência linguística é talvez a que mais fornece ao profissional a capacidade
de desempenhar suas funções de maneira mais eficaz. Lacerda e Góes (2000),

78
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

nos conduzem a compreender que as funções a serem desempenhadas pelo


tradutor intérprete de Libras vêm sendo ressignificadas, uma vez que seu saber
e seu fazer são perpassados por certas peculiaridades existentes no âmbito da
área educacional e não somente pelo domínio e pela fluência de Libras. Quando
buscamos de fato estabelecer uma compreensão acerca da atuação desse
profissional, desejamos estar à luz de Lacerda e Góes (2002), Quadros (2003),
Tuxi (2009), Martins (2008) e Albres (2015) e somos orientados a perceber que
a função primordial do intérprete de libras educacional é intermediar as relações
estabelecidas entre o sujeito surdo e o não surdo que dividem a mesma sala de
aula ou que estão presentes nesse contexto.

Estabelecer um entendimento real do que um profissional da tradução e


interpretação de Libras realiza em sala muitas vezes é frustrante e cansativo, visto
que inúmeras vezes o papel principal do intérprete de Libras se confunde com o
do professor ou com o de auxiliar de sala (ALBRES 2015, p. 38).

Orientados pelo ponto de vista de Lacerda e Góes (2002), Martins (2008) e


Albres (2015), quando descortinam a verdade e abordam, entre outros aspectos,
a deturpação das relações didático-pedagógicas entre os sujeitos intérprete de
Libras x aluno surdo e, também, intérprete de Libras x professor regente. De
acordo com a linha de raciocínio das autoras, em muitos casos, ocorre uma
transferência da responsabilidade do ensino ao aluno surdo para o intérprete
de Libras. Essa função é do professor regente da turma, porém costumamos
vivenciar tais situações nas escolas. Por outro lado, o intérprete de Libras muitas
vezes deseja apresentar resultados positivos do seu trabalho e acaba assumindo
determinada função junto ao aluno surdo. Essa postura impacta de maneira
negativa a luta da categoria favorecendo para a confusão que se estabelece entre
os atores intérprete de Libras x professor x comunidade surda e ouvinte.

Tal desacordo referente à função do intérprete educacional provoca


dificuldades para o profissional que muitas vezes perde o foco de seu papel
principal, prejudicando sua atuação no desenvolvimento das competências
necessárias para o desempenho eficaz da interpretação. Quadros (2003) e
Tuxi (2009) sugerem a necessidade da valorização do profissional, em editais
de contratação, destacam a importância da formação na área de interpretação
da língua de sinais e discutem a questão da competência linguística,
problematizando ricamente o assunto por um viés comunicativo uma vez que,
para ocorrer intermediação dos conhecimentos no ambiente da escola, é de suma
importância que os intérpretes de Libras possuam competência linguística dos
pares linguísticos Libras/Português e não apenas do ponto de vista da língua de
sinais.

79
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

O intérprete de Libras que atua em ambiente escolar tem um compromisso


direto com a construção individual e social do sujeito surdo considerando que é o
mediador de conhecimento, esse compromisso apresenta novos desdobramentos
na atuação do profissional que é um ator muito importante na organização
escolar, visto que participa dos processos de ensino-aprendizagem de alunos
surdos e, consequentemente, da constituição do sujeito surdo como parte
de uma coletividade e ator de sua própria história. Sob essa ótica, a tradução
e interpretação está articulada de maneira positiva ao professor regente da
turma. Cabe ressaltar, que o intérprete de Libras é o mediador de conhecimento
influenciando a formação do sujeito surdo.

Vygotsky (1983) argumenta que o desenvolvimento humano acontece no


âmbito social, nas relações e situações práticas do cotidiano do sujeito. Defende
que é por meio da mediação social que os indivíduos apreendem o mundo e se
constituem intimamente enquanto parte do coletivo. No processo de mediação
social, tem um papel de destaque, a linguagem, que possui tanto uma função
comunicativa como de constituição das funções psicológicas superiores.
Colocando-se entre a criança e a realidade objetiva, a linguagem possibilita-lhe
interagir com essa realidade no plano simbólico. Esse simbolismo ganha destaque
no âmbito educacional onde o intérprete de Libras está inserido e contribui para a
singularidade do sujeito.

Saviani (2003) destaca que, “[...] o trabalho educativo é o ato de produzir,


direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é
produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2003,
p. 13).

Vygotsky compreendeu outro conceito extremamente importante para analisar


a apropriação de conhecimentos no espaço escolar: a mediação pedagógica, que
remete ao trabalho educativo intencional e planejado, realizado pela escola de
maneira a propiciar a transição do “[...] pensamento aderido a níveis sensíveis,
empíricos, concretos, particularizados da realidade, para níveis cada vez mais
generalizados, abstratos, de abrangência cada vez maior, inseridos em sistemas
de complexidade crescente” (ROCHA, 2000, p. 44). À luz das ideias de Lev
Semiónovich Vygotsky, quando discute acerca da constituição social e histórica
do psiquismo humano, o estudo desenvolvido por Côrtes (2012) indica o papel
crucial da mediação pedagógica no processo de apropriação de conhecimento
pelos estudantes. Na sala de aula, por meio de determinadas práticas sociais,
tanto o professor como os alunos participam ativamente do aprendizado da turma
como um todo. No caso de estudantes surdos que demandam a atuação do
intérprete, esse processo adquire certas peculiaridades, como aponta o estudo de
Lacerda (2000).

80
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

Corroboramos com o argumento dos pensadores, que nos conduzem a


compreender que a escola deve organizar-se como um espaço que possibilita
mediações “qualitativamente diferentes” entre aqueles que nela se inserem. Cada
profissional que está no espaço escolar possui sua função, mas a interação e
troca de conhecimento entre eles é fundamental. Entendemos que o professor,
em seu papel de mediador, deve se interpor entre o aluno e o conhecimento,
desenvolvendo estratégias de ensino-aprendizagem que permitam produzir
transformações psicológicas e a apropriação de conhecimentos por parte do
aluno. Ao falarmos dos atores inseridos na escola, é fundamental problematizar a
atuação do intérprete de Libras, que julgamos ser um profissional que se interpõe
entre o professor, o aluno surdo e o conhecimento, que materializa na interface
entre o Português e a Libras.

É fundamental compreender que a interpretação não é uma mera codificação


que se interpõe em uma combinação de configurações de mão, movimentos
e expressões, a dimensão do conceito de interpretação é para além dessas
limitações que envolvem a codificação e decodificação de informações, perpassa
pelo contexto histórico e social em que os sujeitos estão envoltos, contribuindo
para a sua formação enquanto ser social.

Na tentativa de buscarmos um entendimento do profissional intérprete de


Libras em sala de aula, buscamos elementos para compreender como se dá o
ato interpretativo responsável por garantir o exercício da interrelação social.
Embasados no ponto de vista de Tuxi (2009, p. 13), que nos orienta que a
interpretação se subdivide em consecutiva e simultânea, entendemos que essa
definição amplia as possibilidades de envolvimento na interpretação.

A interpretação simultânea é quando a mensagem fonte


está em andamento e o intérprete acompanha essa fala (ou
sinalização), ou seja, enquanto o interlocutor está falando,
o intérprete interpreta simultaneamente, sem cortes. Na
interpretação consecutiva o intérprete escuta (ou vê) a
mensagem e assim que fecha uma sentença há uma pausa
(TUXI, 2009. p. 13).

As duas linhas de interpretação são utilizadas pelo intérprete educacional,


consideramos que ambas são importantes e valiosas, porém a que mais é
utilizada em sala de aula é a interpretação simultânea, para tanto o intérprete de
Libras deve possuir uma bagagem de léxico afim de garantir a entrega do produto
com qualidade.

O profissional intérprete de Libras que se propõe a realizar uma interpretação


simultânea, que é a mais utilizada em sala de aula, deve ter ciência que esse ato
exige habilidades que vão para além do conhecimento linguístico, considerando

81
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

que ele está relacionado com a destreza de versar as informações da estrutura


linguística de uma língua para outra e ainda ater-se ao fluxo das informações
que continuam a ser transmitidas no decorrer de sua interpretação. A destreza e
aptidão interpretativa caminham ao lado das especificidades existentes na prática
educativa de interpretação do intérprete de Libras.

3 Para atuar como intérprete Libras é necessário ter fluência


em Libras, esse é um ponto fundamental, porém, as
peculiaridades e especificidades que envolvem o âmbito
escolar orientam que outras habilidades devem compor
o profissional intérprete, a competência linguística é
talvez a que mais fornece ao profissional capacidade de
desempenhar sua função de maneira mais eficaz. Lacerda e
Góes (2000), nos conduzem a compreender que as funções
a serem desempenhadas pelo tradutor intérprete de Libras
vêm sendo ressignificadas, uma vez que seu saber e seu
fazer são perpassados por certas peculiaridades existentes
no âmbito área educacional e não somente pelo domínio
e pela fluência de Libras. Quando buscamos de fato
estabelecer uma compreensão acerca da atuação desse
profissional, desejamos estar à luz de Lacerda e Góes (2002),
Quadros (2003), Tuxi (2009), Martins (2008) e Albres (2015)
e somos orientados a perceber que a função do intérprete
de Libras tem suas particularidades. Após leitura do texto,
assinale a alternativa que indica qual é a função primordial
do profissional intérprete de Libras:

FONTE: LACERDA, C. B. F.; GÓES, M. C. R. Surdez: processos


educativos e subjetividade. São Paulo: Editora Lovise, 2000.

( ) Intermediar as relações estabelecidas entre o sujeito surdo e o não


surdo que dividem a mesma sala de aula ou que estão presentes
nesse contexto.
( ) Auxiliar o professor com as atividades de sala de aula para que o
aluno surdo seja incluído.
( ) Copiar as atividades para o aluno surdo, assim ele consegue
acompanhar melhor as aulas.
( ) Manter a ordem e disciplina em sala de aula quando o professor
regente não estiver.

82
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

4 Na tentativa de buscarmos um entendimento do profissional


intérprete de Libras em sala de aula, buscamos elementos
para compreender como se dá o ato interpretativo
responsável por garantir o exercício da interrelação social.
Embasados no ponto de vista de Tuxi (2009, p. 13), que
nos orienta que o ato interpretativo tem uma subdivisão,
entendemos que essa definição amplia as possibilidades de
envolvimento da prática. As duas linhas de interpretação
são utilizadas pelo intérprete educacional, consideramos
que ambas são importantes e valiosas, porém a que mais é
utilizada em sala de aula é a interpretação simultânea, para
tanto o intérprete de Libras deve possuir uma bagagem de
léxico afim de garantir a entrega do produto com qualidade.
Sobre quais são as subdivisões da interpretação empenhada
pelo tradutor intérprete de Libras em sala de aula, de acordo
com o material estudado, assinale a alternativa CORRETA:

( ) A interpretação não têm subdivisões


( ) Interpretação consecutiva e correspondente.
( ) Interpretação intermediária e consecutiva.
( ) Interpretação consecutiva e simultânea.
( ) interpretação simultânea e real.

3 SABER LIDAR COM AS MAIS


DIVERSAS SITUAÇÕES QUE SE
DESENHAM NA ESCOLA
A atuação em sala de aula requer prática e conhecimento, e a formação
do intérprete nesse caso influencia bastante nas escolhas tradutórias que serão
transmitidas no momento interpretativo. Muitos profissionais que trabalham nas
escolas possuem formação para atuar como tradutor intérprete de Libras. Contudo,
percebemos que o número de atuantes na interpretação dentro das escolas sem
a qualificação fundamental e a experiência cultural/linguística necessária entre as
línguas envolvidas, ainda somam consideravelmente e agravam muitas vezes a
relação entre a escola e o intérprete de Libras. Cabe ressaltar também que pela
sua pouca experiência, o profissional tem dificuldades em lidar com as diferentes
situações e vivências que são comuns no espaço escolar, limitando muitas vezes,
por parte da escola, a aceitação desse profissional técnico que possui suas
próprias funções.
83
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Mesmo após toda essa discussão acerca da importância do profissional


intérprete de Libras em sala de aula, ainda percebemos que algumas escolas
têm dificuldade em aceitar um profissional que não tem uma função pedagógica.
Atualmente o intérprete de Libras que atua em escolas deixa de ser mencionado
como um professor, ele agora recebe o titulo que designa sua real função
“intérprete educacional”, situando de maneira positiva o espaço de atuação do
profissional, que pode ser também chamado de intérprete medicinal, jurídico entre
outros, mas sem perder sua função de intérprete.

O intérprete de Libras não possui função pedagógica, não prepara aula, não
fornecem notas aos alunos, não é responsável por lançar registro de avaliação
no diário de classe, ele não é responsável por nenhuma atividade que está
relacionada ao professor regente de turma. Pelo menos quando está no papel
de tradutor intérprete. O que é fundamental esclarecer é que mesmo se um
profissional intérprete de Libras tenha em sua formação uma licenciatura, mesmo
que em alguns casos na rede de ensino sua forma de contratação se dá pelo
cargo de professor na maioria dos estados brasileiros, pois não há outra forma de
contratação, porém, as atribuições são completamente diferentes.

Existe a necessidade urgente das escolas compreenderem que a função do


intérprete é técnica e não pedagógica, logo, devemos ficar atentos às formações
desse cunho no ambiente escolar, pois a ele não se aplica. Quando nesse momento
existir a presença de professores surdos, cabe a uma dupla ou mais intérpretes
de Libras realizarem a interpretação da formação, reunião ou capacitação. Esse
é um momento extremamente importante para o desenvolvimento das atividades
escolares e não cabe ao profissional intérprete de Libras se eximir de sua
responsabilidade.

Outra situação complicada na escola é quando há a ausência de algum


professor, é comum a equipe gestora solicitar ao intérprete de Libras que
substitua o docente. Essa postura é extremamente prejudicial para todos os
envolvidos. O intérprete não pode se responsabilizar por uma turma, e se isso
acontecer é importante ressaltarmos que o aluno surdo que está incluído na
turma é prejudicado diretamente visto que o intérprete está assumindo a função
do docente e ninguém está assumindo a sua na interpretação. Cabe à escola
buscar outra estratégia para suprir a falta do professor. O tempo em que não há
atuação de interpretação deve ser usado para estudo de vocabulário, e conteúdos
que condizem com seus momentos de atuação. A responsabilidade em buscar
uma solução para a falta do professor é unicamente da escola, e ou intérprete de
Libras não deve ser uma escolha.

84
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

Pensando em todas estas questões que discutimos anteriormente, buscamos


orientações para o relacionamento saudável e profissional entre o intérprete e a
escola no livro da Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE, intitulado:
Intérpretes Educacionais de Libras: orientações para prática profissional (SANTA
CATARINA, 2013).

3.1 A ESCOLA OBSERVE QUE


• O intérprete de Libras deverá cumprir a carga horária para a qual foi
contratado, integralmente, na unidade escolar, sendo assim ele não
poderá ser “emprestado” para eventos fora da escola em horário de
trabalho, em nenhuma hipótese. Não tendo aula, o intérprete terá muitas
coisas a estudar referentes aos conteúdos escolares.
• Para melhor andamento da interpretação, quando a escola
organizar eventos a serem realizados em seu espaço, ela deverá se
responsabilizar em fornecer ao intérprete acesso aos materiais, aos
textos, as apresentações, bem como uma conversa com o palestrante
ou ministrante antes da atuação, para que o intérprete de Libras consiga
apropriação do conteúdo de maneira satisfatória (SANTA CATARINA,
2013, p, 27).
• Concordamos que o intérprete é o profissional que muitas vezes fica mais
tempo junto ao aluno surdo, em comparação aos outros profissionais que
atuam na escola. Isso acontece pela especificidade do trabalho e, por
muitas vezes, ser o único que tem fluência na língua de sinais. Entretato,
é importante ressaltar que ao se tratar do rendimento ou aprendizagem
do aluno em reuniões de conselhos ou de professores o intérprete seja
questionado como está acontecendo a aprendizagem e o rendimento do
aluno surdo em sala de aula. Esse tipo de questionamento deve sempre
ser direcionado aos professores de área, da mesma maneira como
acontece com os alunos não surdos.
• São validos os questionamentos dirigidos ao intérprete de Libras
referente ao andamento da interpretação, que podem estar em torno do
conteúdo e temas da disciplina, questionar se o aluno é fluente da língua
de sinais, quais capacitações são necessárias e fundamentais para que
o interprete de Libras qualifique sua atuação, outro discurso que pode
ser direcionado ao intérprete é sobre a viabilidade da Libras e quais
as maneiras mais efetivas para tornar a aula mais condizente com as
especificidades da cultura surda (SANTA CATARINA, 2013, p. 27).
• Sabemos que a escola é um espaço que ocorre reuniões e conselhos
de classe e pedagógicos para o corpo docente, assim, sugerimos
que a equipe gestora reserve um tempo para discutir com o quadro

85
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

de intérpretes uma melhor maneira de viabilizar sua atuação. Essa


estratégia aproxima o quadro de profissionais intérpretes da escola e
do grupo pedagógico e, também, proporciona momentos importantes de
interação entre o grupo. (SANTA CATARINA, 2013, p. 27).
• Outra questão que é muito positiva é quando no início do ano letivo, a
escola organize um momento de conhecimento e relação entre todos
os profissionais que atuaram com o aluno surdo. Essa estratégia é
importante para que o intérprete consiga expor sua função no ensino
dos alunos surdos e, também, discutir sobre questões linguísticas na
estrutura da língua de sinais (SANTA CATARINA, 2013, p. 27).

Essas orientações são apenas uma maneira de situar as escolas sobre


qual o papel principal do intérprete de Libras, entendemos que cada escola
possui sua própria organização e que muitas vezes no decorrer do ano letivo
as situações acontecem e somos atropelados com casos que nos conduzem a
posturas errôneas e que acabam por distorcer a compreensão real do trabalho
do intérprete de Libras. A relação com o professor regular deve ser saudável para
que o andamento das aulas aconteça de maneira muito tranquila e com qualidade
para todas as partes.

O professor regente da sala e o intérprete de Libras devem ser aliados para


que as questões relacionadas ao aluno surdo sejam compreendidas, assim como
as particularidades da estrutura linguística da língua de sinais. Já dialogamos
que o intérprete não é responsável pelo aluno e mesmo estando no quadro de
funcionários da escola sua função é técnica de intermediação das duas línguas
envolvidas (três caso tenha a disciplina de língua estrangeira). A preparação
de aulas, organização de notas e o cuidado com a turma é função do professor
regente.

Sabemos que muitos intérpretes de Libras têm exercido funções que não
são de sua responsabilidade, como por exemplo: copiar a matéria para o aluno
surdo, cuidar da turma na ausência do professor regente, auxiliar na limpeza e
organização da escola, fazer uma lista dos alunos que são desordeiros quando
o professor regente se ausenta da sala para depois repassar a ele, e outras
tantas funções. Não estamos aqui julgando se essas e outras atividades têm
maior ou menor valor do que a função do intérprete de Libras o que estamos
problematizando é que essa não é a função para a qual o intérprete foi contratado.

Conseguir dividir as funções é fundamental para uma relação salutar, é


importante que recorra ao professor regente quando o aluno surdo surge com
alguma dúvida, porém, por minha experiência percebo que, muitos professores
não demonstram preocupação com as especificidades dos alunos surdos, e
quais as estratégias para que ocorra a aprendizagem igualitária em sala de aula.

86
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

Entendemos que é função e dever do professor regente descobrir o caminho para


a aprendizagem efetiva do aluno surdo. Alguns professores ignoram a presença
do aluno surdo, talvez por desconhecer como trabalhar com esse público-alvo,
ou por acreditarem na incapacidade do surdo em compreender os conteúdos
ministrados. Contudo, discordamos dessa postura, considerando que, nas
relações interpessoais, a surdez é um fator que muitas vezes limita o sujeito,
porém, não o impede a capacidade de compreensão de mundo.

3.2 AOS PROFESSORES CABE TER


CONHECIMENTO DE QUE
o Os intérpretes sabem que para a grande maioria de vocês é novidade
ter um aluno surdo em sala de aula, porém é importante lhes dizer que
o conteúdo de sua disciplina quando intermediado por um intérprete de
Libras se torna acessível (SANTA CATARINA, 2013, p. 33).
• Os intérpretes de Libras fazem a interpretação do que você diz, assim
como interpreta para o professor o que o aluno surdo está dizendo;
• O intérprete de Libras não possui formação em todas as áreas de
conhecimento, sendo assim é imprescindível que você, enquanto
professor de sala, antecipe o material, o planejamento e organize horários
para que possam sanar as dúvidas que possam surgir em relação ao
conteúdo (SANTA CATARINA, 2013, p. 27).
• O intérprete de Libras é seu aliado em sala de aula e não uma pessoa
que está vigiando seu trabalho.
• Aconselhamos que, caso tenha alguma dúvida se o aluno surdo
compreendeu ou não o que foi ministrado, você pode se dirigir diretamente
ao aluno, o intérprete fará a interpretação e o aluno responderá.

Essas orientações e aconselhamentos que buscamos à luz da pesquisa


da Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE, no livro intitulado:
intérpretes educacionais de Libras: orientações para prática profissional, são
apenas uma maneira de auxiliar tanto o professor a compreender o papel do
intérprete de Libras, quanto ao próprio intérprete que muitas vezes realiza
funções que não lhe cabem, e acaba por prejudicar seu trabalho e o direito do
surdo de receber as informações de maneira mais eficaz. O bom andamento em
sala de aula acontece com a comunicação, muitas vezes o professor não tem
conhecimento do papel do intérprete de Libras, logo, o diálogo pode sanar essas
dúvidas e a relação com o aluno surdo se torna muito mais tranquila e verdadeira.

87
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

O professor por muitas vezes pode sentir-se desconfortável com a presença


do intérprete em sala de aula, admitem uma postura de indiferença, julgam o
intérprete como um intruso, essa situação só agrava a relação entre as partes.
Segundo Lacerda (2006), o professor regente não pode ignorar a presença do
intérprete em sala de aula, pois o seu trabalho vai além de uma simples tradução,
é através dele que ocorre o elo de comunicação entre professor e aluno surdo e,
desse modo, o processo de ensino-aprendizagem.

O profissional intérprete de Libras possui um papel fundamental na escola,


sua atuação possibilita a obtenção do conhecimento e compreensão dos
conteúdos ministrados pelo professor regente.

É necessário que haja uma mudança de postura por parte


do professor, que também tem o dever, como educador, de
auxiliar o intérprete da Língua de Sinais em suas práticas. Se
o professor não assumir práticas que favoreçam a atuação
do intérprete da Língua de Sinais, consequentemente, a
compreensão do aluno surdo ficará comprometida (LACERDA,
2011, p. 18).

Cabe salientar, que as discussões acerca da relação entre professor e


intérprete de Libras não se esgotam aqui, de fato, é preciso dialogar ainda mais
sobre a compreensão dos conceitos em questão, o que na verdade requer mais
aprofundamento. A saber, que a função do professor é para além do ensino, em
contrapartida o papel do intérprete é fazer a mediação comunicativa no discurso
e interpretar em sala de aula. Sendo assim, é fundamental sempre que o aluno
surdo se reporte ao professor no momento que surgir alguma dúvida que ela
relacionada à aula.

E por falar em aluno surdo, julgamos importante trazer discussões que


alimentem a prática profissional e a postura positiva do intérprete de Libras quando
se trata da relação estabelecida com o aluno surdo que está sendo atendido.

3.3 O INTÉRPRETE E O ALUNO


SURDO NO AMBIENTE ESCOLAR
Para essa discussão começaremos com a palavra “transparência”, que
é o que o profissional intérprete deve estabelecer na relação com o aluno.
Compreendemos que é um grande desafio permanecer ético na relação entre
surdo e intérprete, é indiscutível que todo e qualquer assunto tratado entre
essas partes deve ficar entre elas. Contudo, até então, não é possível fiscalizar
como se dá essa relação em sala de aula, visto que a Libras é uma língua que

88
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

poucas pessoas conhecem e na maioria das vezes os professores, diretores e


funcionários da escola são alheios ao que está sendo transmitido ao aluno surdo,
assim cabe a você, intérprete, ser o próprio fiscal e saber qual a postura mais
adequada para o bom andamento do seu trabalho e saudável relação com o aluno
surdo.

3.4 INTÉRPRETE DE LIBRAS EM SUA


RELAÇÃO COM O ALUNO SURDO
OBSERVE QUE
• Intérprete de Libras o aluno surdo não é seu aluno.
• Converse com o aluno sobre seu trabalho e suas funções, visto que
muitas vezes ele não tem conhecimento de qual a diferença entre você e
o professor da turma.
• Caso o aluno venha de um sistema em que sempre recebeu um
atendimento de assistencialismo, cabe a você esclarecer como será o
atendimento a partir de agora.
• Você não deve cuidar do caderno do aluno, não deve copiar para ele,
não deve fazer nenhuma atividade para o aluno surdo.
• Você não deve responder as dúvidas do aluno sem repassar ao professor,
mesmo que saiba a resposta.
• Nas provas, a postura deve ser ainda mais vigiada, cuidado para não
influenciar a resposta, e fique atento para interpretar fielmente a pergunta
que está descrita na avaliação.
• Sua opinião não deve ser considerada em momento nenhum quando em
sala de aula, guarde sua opinião para você.
• Esteja em sala de aula no horário determinado mesmo que o aluno ainda
não esteja presente,
• Não cabe a você controlar a entrada ou saída do aluno em sala de aula.
• Não é seu papel liberar sua ida ao banheiro ou a qualquer outro espaço
dentro ou fora da escola.
• Não compense a falta de competência interpretativa com o
assistencialismo (SANTA CATARINA, 2013, p. 42).

É importante ressaltar que a ignorância ou o desconhecimento quanto ao seu


papel deixa o intérprete de Libras vulnerável e termina por receber as imposições
da escola prejudicando a todos os envolvidos, sabemos que muitas vezes a
escola também não conhece o papel do intérprete de Libras. Sendo assim, caso
vislumbre seguir essa profissão, primeiramente, tenha muito claro qual é o seu
papel e como deve estabelecer as relações no ambiente de trabalho, tenha

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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

clareza de qual a postura adequada para exercer sua função no espaço escolar
para, então, futuramente, conseguir atuar em qualquer outro espaço sem prejuízo
ou dano.

Estamos cientes de que, em muitos casos, os alunos chegam à escola


com um vocabulário muito básico ou sem nenhum vocabulário de Libras e isso
acarreta a dificuldade do intérprete em realizar a interpretação, pois dependendo
do nível de seu conhecimento em Libras, o aluno poderá não compreender o que
está sendo sinalizado, pelo atraso na aquisição língua e da linguagem. Contudo,
destacamos e orientamos que isso não justifica que o intérprete assuma o papel
do professor e lecione a disciplina da maneira que julga correto para esse aluno,
ou que assuma o papel de professor de Libras para toda turma. Essa é uma
ampla discussão e que não cabe ao intérprete resolver, sua postura deve ser de
informar ao professor que esse aluno não tem conhecimento da Libras e, assim, o
pedagógico e a direção escolar tomarão as providencias necessárias.

Você pode perguntar como, então, fará a interpretação a esse aluno que tem
o vocabulário limitado. Muitas vezes precisamos usar estratégias interpretativas
para sinalizar algum conteúdo que não temos conhecimento específico ou quando
não há sinal para determinada palavra. É comum usarmos recursos visuais
descritivos, classificadores e ou expressões faciais e corporais que nos ajudam
a descrever a situação para o surdo para que ele indique uma forma visual de
criar um sinal para determinada palavra e/ou conceito. É importante evitar as
relações de dependências que existe entre surdos e intérpretes. Muitas vezes o
intérprete depende do surdo, sente-se incomodado quando o surdo deseja trocar
de profissional ou quando são corrigidos em relação a determinado sinal. Sejamos
profissionais! Se realizar seu trabalho com competência e qualidade certamente
você será reconhecido, e o temor de ficar sem aluno surdo para atender será
superado com muitos outros atendimentos.

O importante é deixar muito claro ao aluno surdo que o intérprete não é


responsável pelo seu ensino, ele não vai facilitar suas respostas nas provas ou
atividades que são exigidas pelo professor. Todavia, o bom senso é fundamental,
falamos anteriormente que o intérprete não ensina Libras mesmo quando
o aluno surdo tem limitações de vocabulário, mas, nos casos em que o aluno
possui apenas sinais caseiros, combinados com os familiares, é aceitável que o
intérprete introduza gradualmente os sinais de Libras, substituindo pelos sinais
básicos durante a sua interpretação. essa atitude é diferente de ensinar Libras
como se fosse uma aula paralela a do professor regente, a introdução dos sinais
de Libras pode acontecer quando escolhemos a estratégia de recursos visuais,
quando apontamos e ou classificamos um conceito ou palavra.

90
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

Essas estratégias podem inclusive ser discutidas com os colegas intérpretes


da escola, caso tenha, do contrário, os grupos de estudos de intérpretes podem
auxiliar com essas questões, pois a troca de experiências e o diálogo com seus
pares enriquece e qualifica o trabalho, favorecendo a segurança e a eficácia
da sinalização. A relação positiva com seus pares é muito importante para o
fortalecimento da categoria, porém temos consciência de que muitas vezes as
disputas e concorrências acontecem nesse meio, e é sobre isso que precisamos
conversar, sem mágoas, sejamos profissionais!

Vamos falar dos intérpretes e seus pares. Vamos discutir a nossa relação
abertamente e de maneira madura?

3.5 O INTÉRPRETE DE LIBRAS


E SEUS PARES NO AMBIENTE
ESCOLAR
Receber apoio de outro colega durante a interpretação é um
exercício de humildade e confiança, bem como uma técnica
de atenção e concentração que se aprende só com a prática
(SANTA CATARINA, 2013, p. 45).

O conhecimento é algo maravilhoso e que deve ser dividido para ser


multiplicado, ter fluência em Libras é o mínimo que se espera daquele que é
intérprete de Libras. Não se admite um profissional com carência de vocabulário,
limitação nas competências e sem nenhuma estratégia linguística para atuar como
tal. A fluência em Libras é a chave principal para a formação de um profissional
capacitado e competente, aliado a outras questões que já discutimos no decorrer
desse caderno. Quem nunca ficou com dúvida durante uma interpretação? quem
nunca precisou reorganizar a sentença para compreender melhor e interpretar
com mais segurança? Cotidianamente, somos confrontados em nosso trabalho
com situações de desconhecimento ou falta de vocabulário para concluir uma
ideia. Contudo, é importante lembrar que em língua de sinais é possível fazer uso
de descrições imagéticas que são os classificadores para sanar as dificuldades,
assim como recorrer aos sinais icônicos que são aqueles que seu sinal representa
o conceito real. Claro que um conhecimento profundo na língua materna
possibilita fazer uso de sinônimos sem com isso prejudicar a entrega do produto
interpretativo (SANTA CATARINA, 2013, p. 46).

No ambiente escolar são muitas particularidades que exigem que o intérprete


de Libras tenha uma postura adequada para com seu trabalho, mas também com
seu colega de profissão. Vamos passar as discussões que abrangem esse tema.

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INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

• Cumpra seu papel, intérprete em sala de aula e nos eventos da escola.


• Faça o apoio ao seu colega no momento em ele estiver atuando.
• Seja ético e profissional.
• Não apresente expressões de discordância das escolhas tradutórias que
ele lançou mão para interpretar.
• Não fique de conversa ou cochichos no momento que seu colega estiver
atuando, ao invés disso, fique atento para o caso de ele precisar de
apoio.
• Seja humilde, você não é o melhor e único intérprete do mundo, pode
até ser que na escola tenha destaque, mas com certeza vai encontrar
alguém que lhe supere.
• Vai acontecer um evento, você se comprometeu a trabalhar, então vá e
trabalhe. Não desista quase no horário marcado para início.
• Caso não possa comparecer, busque avisar a equipe com antecedência
e busque alguém para lhe substituir.
• Sabemos que é difícil resistir aos holofotes que ficam sobre a cadeira do
intérprete e sua imagem, porém, lembre- se seja discreto sempre.
• Não seja fofoqueiro, não se envolva em intrigas e conversinhas, intérprete
a aula, isso.
• Não faça leituras particulares para fazer em sala quando o aluno surdo
estiver fazendo atividades, ele pode precisar da interpretação de algum
conceito, esteja atento.
• Não tente diminuir o trabalho do colega.
• Respeite o tempo de troca quando está em evento e trabalhando em
duplas, não faça de conta que se esqueceu de trocar ou se perdeu no
horário.

É importante ressaltar que você não é um intérprete de pessoas, mas sim de


línguas, assim, cabe a você interpretar tudo que está sendo dito para que o aluno
surdo consiga acompanhar. A escola é um lugar de conhecimento e aprendizagem
seja um profissional exemplar dentro do seu papel.

Entretanto, devemos sempre lembrar que cada profissional dentro da escola


possui sua própria função e o intérprete é um desses profissionais que está ali,
presente para desempenhar sua função de maneira séria, eficaz e comprometida.
Dessa maneira é importante sabermos quem é o profissional intérprete de
Libras que está na escola e como sua atuação influencia não apenas na vida do
aluno surdo, mas também em toda a estrutura da escola. Discutimos até aqui
especificidades e relacionamentos do intérprete de Libras e os atores que estão
inseridos na escola, falamos do intérprete e o aluno, e o professor, e a escola
e seus pares, porém, não dialogamos o intérprete e a relação que estabelece

92
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

com ele mesmo enquanto profissional. Vamos falar de nós, de nossas escolhas,
nossas frustrações e inquietações. É hora que fazer o exercício do espelho, “eu
comigo mesmo”, vamos falar da gente?

Antes, gostaria de deixar uma indicação de excelente leitura, com ricas


pesquisas para aumentar seu conhecimento.

Boa leitura

LIBRAS E SUA TRADUÇÃO EM PESQUISA

FONTE: <https://bit.ly/39R0fez>. Acesso em: 8 fev. 2022.

93
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

5 Orientados pelo ponto de vista de Lacerda e Góes (2002),


Martins (2008) e Albres (2015), quando descortinam a
verdade e abordam, entre outros aspectos, a deturpação das
relações didático-pedagógicas entre os sujeitos intérprete
de Libras x aluno surdo e, também, intérprete de Libras
x professor regente. De acordo com a linha de raciocínio
das autoras, em muitos casos, ocorre uma transferência
da responsabilidade do ensino ao aluno surdo para o
intérprete de Libras. Essa função é do professor regente
da turma, porém costumamos vivenciar tais situações
nas escolas. Por outro lado, o intérprete de Libras muitas
vezes deseja apresentar resultados positivos do seu
trabalho e acaba assumindo determinada função junto ao
aluno surdo. Essa postura impacta de maneira negativa
a luta da categoria, favorecendo a confusão que se
estabelece entre os atores intérprete de Libras x professor
x comunidade surda e ouvinte. Tal desacordo referente à
função do intérprete educacional provoca dificuldades no
profissional que muitas vezes perde o foco de seu papel
principal, prejudicando sua atuação no desenvolvimento
das competências necessárias para o desempenho eficaz
da interpretação. Quadros (2003) e Tuxi (2009) sugerem a
necessidade da valorização do profissional, em editais de
contratação, destacam a importância da formação na área
de interpretação da língua de sinais e discutem a questão
da competência linguística, problematizando ricamente o
assunto por um viés comunicativo uma vez que, para ocorrer
intermediação dos conhecimentos no ambiente da escola, é
de suma importância que os intérpretes de Libras possuam
competência linguística dos pares linguísticos Libras/
Português e não apenas do ponto de vista da língua de
sinais. De acordo com o material estudado, leia as questões
a seguir e assinale V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) A interpretação simultânea é quando a mensagem fonte


está em andamento e o intérprete acompanha essa fala (ou
sinalização), ou seja, enquanto o interlocutor está falando, o
intérprete interpreta simultaneamente, sem cortes. Enquanto na

94
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

interpretação consecutiva o intérprete escuta (ou vê) a mensagem


e assim que fecha uma sentença há uma pausa (TUXI, 2009, p.
13).
( ) O profissional intérprete de Libras que se propõe a realizar uma
interpretação simultânea, que é a mais utilizada em sala de aula,
deve ter ciência que esse ato exige habilidades que vão para
além do conhecimento linguístico, considerando que ele está
relacionado com a destreza de versar as informações da estrutura
linguística de uma língua para outra e ainda ater-se ao fluxo das
informações que continuam a ser transmitidas no decorrer de
sua interpretação, a destreza e aptidão interpretativa caminham
ao lado das especificidades existentes na prática educativa de
interpretação do interprete de Libras.
( ) É fundamental compreender que a interpretação não é uma
mera codificação que se interpõe em uma combinação de
configurações de mão, movimentos e expressões, a dimensão
do conceito de interpretação é para além dessas limitações que
envolvem a codificação e decodificação de informações, perpassa
pelo contexto histórico e social em que os sujeitos estão envoltos,
contribuindo para a sua formação enquanto ser social.
( ) O intérprete de Libras que atua em ambiente escolar tem um
compromisso direto com a construção individual e social do
sujeito surdo considerando que é o mediador de conhecimento,
esse compromisso apresenta novos desdobramentos na
atuação do profissional que é um ator muito importante na
organização escolar, visto que participa dos processos de ensino-
aprendizagem de alunos surdos e, consequentemente, da
constituição do sujeito surdo como parte de uma coletividade e
ator de sua própria história.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – F – F – F.
b) ( ) V– F – F – F.
c) ( ) V– V– V– F.
d) ( ) V– V– V– V.
e) ( ) F – F – F – V.

95
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

4 QUEM É O PROFISSIONAL
INTÉRPRETE DE LIBRAS QUE
ESTAMOS PROBLEMATIZANDO NO
AMBIENTE ESCOLAR? QUAL O SEU
PAPEL DENTRO DA SALA DE AULA?
Estamos falando de um profissional responsável, compromissado com
a entrega do produto ao qual se dispôs a realizar. Estamos falando de um
profissional que influencia no desenvolvimento individual e social de um sujeito
que tem o direito de receber o melhor serviço, problematizamos igualmente
a atuação e atitude do profissional intérprete de Libras que a muito tempo está
em atuação em diversos ambientes sociais e, para tanto, entendemos que o
profissional deve, obrigatoriamente, dominar a língua falada do país e possuir
a qualificação necessária para desempenhar a função de Intérprete de maneira
satisfatória (BRASIL, 2004), interpretando, então, da língua de sinais para a
língua falada ou vice-versa. Quando nos referimos à qualidade da entrega
do produto interpretativo, é importante perceber que a formação do Tradutor
intérprete de Libras é destacada no Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005,
dispondo claramente a necessidade da formação profissional para atuar na área
da tradução e interpretação da língua brasileira de sinais no Brasil.

Capítulo V Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de


Libras –Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso
superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em
Libras – Língua Portuguesa.
Art. 18. (...) a formação de tradutor e intérprete de Libras –
Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por
meio de:
· I – cursos de educação profissional;
· II – cursos de extensão universitária; e
· III – cursos de formação continuada promovidos por
instituições de ensino superior e instituições credenciadas por
secretarias de educação.
Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de
Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil
representativas da comunidade surda, desde que o certificado
seja convalidado (...) (BRASIL, 2005).

As orientações ditadas pelo decreto devem ser cumpridas por aqueles


que pretendem tornar-se um profissional intérprete, porém, a prática, a postura, a
imparcialidade entre outras questões são fundamentais que o intérprete de Libras
observe e siga fielmente para que seu trabalho se torne eficaz e o aluno surdo
não seja prejudicado. Assim, cabe também ao profissional intérprete realizar a

96
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

interpretação da língua falada para a língua sinalizada e vice-versa observando os


seguintes preceitos éticos:

• confiabilidade (sigilo profissional);


• imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir como opiniões
próprias);
• discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento
durante a atuação);
• distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são
separados); fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não
pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de
algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi
dito)” (BRASIL, 2004, p. 28).

Mesmo com essas orientações, algumas dificuldades surgem no ambiente da


escola. Sabemos que muitos intérpretes possuem vínculos com alunos surdos ou
com as famílias fora do horário escolar e, por esse motivo, é importante ficarmos
atentos para que a relação não seja prejudicada, para que não haja a interferência
tanto de um lado quanto de outro lado, tanto dentro como fora dos espaços
escolares. As interferências podem enfraquecer a luta pelo reconhecimento
e respeito profissional, desse modo, acreditamos que algumas ponderações
por parte do intérprete de Libras são fundamentais para que as relações sejam
saudáveis.

4.1 COLEGA INTÉRPRETE DE LIBRAS


OBSERVE QUE
Neste tópico, queremos trazer reflexões que, enquanto profissionais
de tradução e interpretação de Libras nos provocam a pensar nas relações
construídas entre os espaços educacionais família e o intérprete.

• É possível que você tenha uma relação saudável com os surdos e


seus familiares, nada impede que sejas solidário ou voluntário, quando
assim julgar necessário. Muitas vezes a família solicita ao intérprete que
converse sobre determinado assunto com o surdo por ser a única pessoa
que tem fluência em Libras. Em outra ocasião, o intérprete é solicitado a
acompanhar ao médico entre outras situações muito comuns no cotidiano
do intérprete de Libras. Contudo, é importante estabelecer um limite de
profissionalismo adequado para que não venha a ser confundido com um
amigo em todas as ocasiões. Nesses casos, é importante uma conversa

97
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

com o surdo e com a família, momento em que deve se esclarecer a


diferença entre o atendimento voluntario e o atendimento profissional.
Estabelecer o bom senso e o equilíbrio entre as situações é fundamental
para todos os que desejam realizar as duas maneiras de trabalho. O
respeito pela escolha do colega deve se manter, teremos os que querem
fazer um trabalho mais voluntário, e aqueles que desejam e têm o direito
de receber valores pela sua atuação, porém o equilíbrio é fundamental.
Caro colega intérprete, você consegue estabelecer esse equilíbrio
saudável? Se a resposta for sim, então siga sua escola, porém, se não
está seguro quanto a isso, lembre- se que um coletivo de intérpretes
pode ser prejudicado caso sua postura não seja adequada. Pense nisso!
• As demandas externas a escola, podem ser atendidas, desde que não
seja em horário de trabalho e sempre em duplas.
• Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade
absoluta.
• Lembre-se de solicitar auxílio ao professor (é um direito e dever seu),
para o esclarecimento de conceitos da disciplina, isso irá garantir a
qualidade da sua atuação durante as aulas.
• Quando fizer a oralização do Português para Libras, jamais antecipe o
pensamento do surdo, mesmo que você saiba o que ele irá falar, jamais
se coloque na posição de professor e nunca tente explicar de maneira
mais fácil o conteúdo. Esse papel não é seu.
• A confidencialidade é uma marca extremamente fundamental nessa
profissão, ser ético é indiscutível, o intérprete deve manter-se neutro em
qualquer situação de interpretação, jamais comente absolutamente nada
a respeito do que foi interpretado, em qualquer situação, a menos que os
envolvidos autorizem.
• Colega intérprete, você não é o professor da disciplina se mantenha na
condição a qual foi contratado.
• Garanta a qualidade da interpretação, não aceite fazer longos períodos
de sinalização sem pausas e sem o apoio de uma dupla, caso não
observe essas questões sua performance será prejudicada e a qualidade
do produto de entrega que é a interpretação será ineficaz, sem contar os
problemas de saúde que poderás adquirir.
• Não faça fofocas e não se envolva em nenhuma intriga, não fale mal
dos colegas tão pouco dos professores que interpretares as aulas, seja
extremamente discreto.
• Não se exponha negativamente para não expor toda a categoria.

Caro colega intérprete, não vá para além de sua função, interprete com
responsabilidade e competência, busque se qualificar e se manter informado da
sintaxe e semântica da língua de sinais. Participe de seminários e congressos,
faça cursos, se atualize sempre, isso vai lhe proporcionar mais segurança e

98
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

qualidade na atuação. Todas essas considerações que pontuamos anteriormente


não se esgotam, sempre terá algo a ser acrescentado, então fique atento a
sua postura e busque a autocritica e autoavaliação todos os dias. Essa é uma
profissão que apesar de estar presente na comunidade surda desde sempre, está
também em diferentes contextos, e visto de diversas maneiras. A regulamentação
aconteceu a menos de duas décadas e essa conquista forneceu aos intérpretes
de Libras a possibilidade de legalizar sua atuação e ser reconhecido pelo seu
belíssimo e fundamental trabalho. Vamos garantir essa conquista em nossas
mãos de maneira responsável e compromissada, com ética e profissionalismo?
Vamos começar conhecendo na íntegra a Lei que regulamenta a profissão de
intérprete de Libras, a nossa profissão!

LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010.

Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira


de Sinais – LIBRAS.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso


Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e


Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar


interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou
consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da
Língua Portuguesa.

Art. 3º (VETADO)

Art. 4º A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras –


Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:

I- cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os


credenciou;

II- cursos de extensão universitária; e

99
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

III- cursos de formação continuada promovidos por instituições


de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de
Educação.

Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode


ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da
comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma
das instituições referidas no inciso III.

Art. 5º Até o dia 22 de dezembro de 2015, a União, diretamente ou


por intermédio de credenciadas, promoverá, anualmente, exame
nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras –
Língua Portuguesa.

Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e


Interpretação de Libras – Língua Portuguesa deve ser realizado
por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função,
constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes
de Libras de instituições de educação superior.

Art. 6º São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas


competências:

I- efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos,


surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras
para a língua oral e vice-versa;

II- interpretar, em Língua Brasileira de Sinais – Língua Portuguesa,


as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas
instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de
forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;

III- atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino


e nos concursos públicos;

IV- atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim


das instituições de ensino e repartições públicas; e

V- prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos


administrativos ou policiais.

100
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico,


zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa
humana e à cultura do surdo e, em especial:

I- pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da


informação recebida;

II- pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso,


idade, sexo ou orientação sexual ou gênero;

III- pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber


traduzir;

IV- pela postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar


por causa do exercício profissional;

V- pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é


um direito social, independentemente da condição social e econômica
daqueles que dele necessitem;

VI- pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda.

Art. 8º (VETADO)

Art. 9º (VETADO)

Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 1º de setembro de 2010; 189º da Independência e 122º da


República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Fernando Haddad
Carlos Lupi
Paulo de Tarso Vanucchi

FONTE: BRASIL. Lei Nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão


de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, DF: Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2 set. 2010. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm. Acesso em: 27 out. 2021.

101
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

5 ÉTICA: DOCUMENTOS QUE


ORIENTAM A POSTURA E
RESPONSABILIDADE DO TRADUTOR
INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS
A ética é [uma] daquelas coisas que todo mundo sabe o que
são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém
pergunta. Tradicionalmente ela é entendida como um estudo
ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até
teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas
(VALLS, 1994. p. 7).

No decorrer de todo esse capítulo buscamos apresentar questões de postura


e responsabilidades que cabem ao profissional intérprete de Libras. Esse livro
como um todo tem o objetivo de fornecer algumas orientações para nortear
os profissionais que estão envolvidos na educação de surdos, aos intérpretes,
pretende ser um apoio um rumo a ser considerado. Sabemos que as discussões
aqui apresentadas partem da concepção da autora e que possivelmente
receberam releituras por parte dos leitores acadêmicos, e isso deve acontecer
naturalmente. Lembrem- se, sejamos autoavaliadores de nosso desempenho e
maduros com as críticas que recebemos.

Algumas dificuldades surgem diariamente no trabalho do intérprete, e essas


inquietações, inclusive no ambiente escolar, suscitaram a criação de manuais e
documentos que orientam a conduta desse profissional, o Código de Ética é um
desses documentos que é importante conhecer e saber do que se trata. Por esse
motivo optamos por trazer com brevidade essa discussão, porém, cabe informar
que a leitura e reflexão desses documentos tem muita importância para adquirir
conduta adequada frente às situações de trabalho do intérprete.

Na Live Transmitida em 22 de junho de 2021, o canal do TraduzAi discutiu


questões importantes sobre a ética do intérprete de Libras. Deixamos a seguir o
link de acesso para que acesse e se curta todas as informações e discussões que
são apresentadas.

102
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

LIVE TRADUZAI

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=7Bzb3UDqDZY>. Acesso em: 8 fev. 2022.

A profissão de intérprete de línguas de sinais, infelizmente, ainda é vista em


uma práxis baseada no empirismo, seu reconhecimento aconteceu a pouco tempo
e o saber fazer foi acontecendo no cotidiano, assim o Código de Ética vem a ser
um documento convencionado entre os seus pares, observando os princípios,
e normas de condutas para assegurar a realização de seu trabalho e lutar por
reconhecimento de direitos.

No livro “Libras e sua tradução em pesquisa” que foi organizado


cuidadosamente por Albres (2017), somos presenteados com diversas pesquisas
que enriquece nosso conhecimento. Dentre elas destacamos as discussões que
o autor Wharlley dos Santos apresenta com riqueza de informações diversas
entidades no âmbito nacional que com o passar do tempo buscaram colaborar
com o trabalho do intérprete de Libras e nortear suas práticas. Santos (2017)
evidencia que na esfera federal:

temos a FEBRAPILS (Federação Brasileira das Associações


dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes
de Língua de Sinais), na esfera estadual, das diversas que
foram criadas, podemos citar APILSEMG (Associação dos
Profissionais Intérpretes de Língua de Sinais do Estado de
Minas Gerais), APILSBESP (Associação dos Profissionais
Intérpretes e Guias Intérpretes da Língua de Sinais Brasileira
do Estado de São Paulo) e tantas outras que seguem o mesmo

103
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

padrão de formatação e ideias de luta, vinculadas e filiadas à


FEBRAPILS construindo uma rede de articulação nacional dos
TILS (SANTOS, 2017 apud ALBRES, 2017, p. 93).

Não apenas essas instituições marcaram a luta no apoio à profissionalização


do intérprete, normalizar a conduta ética em tempos em que as associações
ainda não exerciam suas atividades no formato que estão atualmente, coube a
FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos) exerceu um
papel normatizando as regras e condutas dos intérpretes de língua de sinais em
território nacional.

Ao total, no Brasil, temos nove associações que representam a categoria


profissional dos Tradutores Intérpretes de Libras:

• ACATILS – Associação Catarinense de Tradutores e Intérpretes de


Língua de Sinais;
• AGILS – Associação Gaúcha de Intérprete de Língua de Sinais;
• APILCE – Associação dos Profissionais Intérpretes e Tradutores de
Libras;
• APILDF – Associação dos Profissionais Tradutores/Intérpretes de Língua
Brasileira de Sinais do Distrito Federal e Entorno.
• APILES – Associação dos Profissionais Intérpretes de LIBRAS do
Espírito Santo;
• APILRJ – Associação dos Profissionais Tradutores/Intérpretes de Língua
Brasileira de Sinais do Rio de Janeiro;
• APILSBESP – Associação dos Profissionais Intérpretes e Guias
Intérpretes da Língua de Sinais Brasileira do Estado de São Paulo;
• APILSEMG – Associação dos Profissionais Intérpretes da Língua de
Sinais do Estado de Minas Gerais;
• APTILS – Associação dos Paranaenses de Tradutores Intérpretes e Guia
Intérpretes de Língua de Sinais.

Santos (2017) apud ALBRES, 2017) afirma que das várias associações
criadas na esfera estadual, a APILSEMG tem por desafio buscar a união,
valorização e reconhecimento dessa categoria, conforme palavras do site da
referida associação.

Em âmbito federal, temos a FEBRAPILS (Federação Brasileira das


Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de
Língua de Sinais) que é a somatória de todas as associações estaduais que
representam essa categoria. Algumas delas elaboraram Códigos de Conduta
Ética para nortear as ações profissionais de seus associados.

104
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

Acesse o Código de Ética do Intérprete de Libras em: http://


portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf.

FONTE: Acervo pessoal da autora

Em meados de 1992 o primeiro “Código de Conduta Ética dos TILS” brasileiros


foi apresentado norteando a prática de um profissional que já estava há muito no
mercado. Apenas no ano de 2004, esse mesmo Código foi publicado em larga
escala pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) intitulado como: “O tradutor e
intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa” (QUADROS, 2004),
o objetivo maior foi de orientar, nortear e disseminar melhores formas de atuação
para os intérpretes brasileiros.

a fim de difundir melhores práticas para os TILS na atuação em


âmbito nacional. A partir da prática local, as associações de
cada estado acabaram por perceber a necessidade de também
criar Códigos de Conduta Ética para embasar a atuação de seus
associados em âmbito estadual, de igual forma a FEBRAPILS,
entidade máxima de representação desses profissionais,
também pautou e normatizou a atuação em âmbito nacional
com a publicação do seu Código de Conduta Ética (SANTOS
2017 p.94).

Esse documento é extremamente importante para o profissional intérprete de


Libras para embasar sua atuação enquanto profissional intérprete. Concordamos
com Santos, quando ele afirma que:

105
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

a análise do código se faz necessária ao que tange verificar


congruências e discrepâncias na redação desses e a quais
visões sobre a Tradução/Interpretação estão por detrás dessas
palavras que subjazem os documentos (SANTOS, 2017 apud
ALBRES p. 94).

Muitos intérpretes ansiavam por um documento para nortear sua atuação


profissional, porém, não tem regras, mas sim conduz a maneira ideal e adequada
para a profissão. Cabe ressaltar que não temos o que é estatizado como Código
de Ética, pois não temos conselhos Regionais, ou Federais, não há uma instituição
que fiscalize o trabalho desse profissional, visto que o Artigo 8º da Lei 12.319,
vetou a possibilidade de fiscalização. Temos, então, entidades representativas que
apresentam documentos que norteiam e não fiscalizam a conduta com base em
valores que são considerados ideais para o profissional intérprete de Libras, mas
não indica o que está certo ou errado. Contudo, todos esses Códigos de Conduta
Ética são documentos que tratam de confidencialidade, fidelidade e neutralidade
que consideramos ser conceitos fundamentais para a atuação do intérprete de
Libras.

Toda essa discussão tem por finalidade levar uma reflexão a respeito não
apenas da postura do profissional, mas também da atuação do Intérprete de
Libras na sala de aula e em outros espaços que atua, apresentando a importância
desse ofício. Objetiva também estimular diversas pessoas para despertar o
interesse de buscar conhecimento sobre esta área, sem descuidar da fundamental
necessidade da formação qualificada.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos questionamentos e inquietações permanecem na conclusão desse
livro, inúmeros assuntos que gostaríamos de tratar e trazer à luz para discussão,
porém, é impossível abranger todos os títulos desse universo do profissional
intérprete de Libras. É importante ressaltar que no ambiente escolar, a tradução
e a interpretação se entrelaçam com os processos de ensino-aprendizagem,
comuns a esse universo, tal situação confere à ação do intérprete de Libras
especificidades que necessitam de enfoque mais aguçado com vistas à maior
discussão e atenção por parte dos sistemas de ensino, pesquisadores e, também,
o próprio profissional, de maneira a possibilitar a realização de novos estudos
que viabilizem um olhar diferenciado de sua atuação. Ressignificar e repensar a
formação do profissional intérprete de Libras e sua função na escola junto a todos
os atores que circulam nesse espaço, é fundamental para que as relações sejam
de troca e crescimento das partes.

106
Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

Compreendemos, no decorrer desse capítulo, que o Intérprete de Libras atua


como mediador entre o aluno surdo e o professor, que sua função em sala de aula
é traduzir da Língua Portuguesa para a Língua de Sinais, ou vice e versa. Estar
sempre atento no momento de transferir o conteúdo sem descuidar a atenção
das possíveis dúvidas e questionamentos do aluno surdo ao professor, visando
sempre a participação do aluno em todos os contextos.

Quanto a sua postura e comportamento, o intérprete de Libras deve ter em


mente que ele não é o professor da turma a qual está interpretando, e jamais deve
interpor nas situações pedagógicas.

Após a leitura e a investigação que buscamos no decorrer destas linhas,


constatamos que a presença do profissional Intérprete de Libras na área da
Educação, mais especificamente em sala de aula, é fundamental e indispensável,
para a participação do aluno surdo no processo de ensino- aprendizagem, tendo
em vista que a sua inclusão será efetiva se conseguir se comunicar e expressar
suas ideias e ponto de vista.

No entanto, cabe ressaltar que, apenas a presença do intérprete não é o


suficiente para uma total transformação. Faz se necessário o envolvimento da
comunidade escolar no processo, garantindo a efetividade do ato inclusivo.
Outro aspecto importante é um ambiente salutar e favorável para efetivar a
aprendizagem, assim o aluno surdo poderá desenvolver suas potencialidades,
habilidades, competências e sua criatividade, assim como acontece com todos os
alunos da escola.

Fomentar debates e discussões acerca da formação continuada para


os profissionais da educação na perspectiva da inclusão, bem como, erguer a
bandeira da importância da capacitação do intérprete de Libras, são fundamentais
para a efetiva relação com as especificidades da pessoa com surdez.

Objetivamos no decorrer dessas linhas apresentar uma obra de orientação


aos acadêmicos desta disciplina e que, certamente, possuem curiosidades a
respeito da profissão de intérprete de Libras em sala de aula.

Entretanto, afirma-se também que este material objetiva contribuir para


a difusão de nossas atribuições enquanto profissionais, buscando esclarecer
as reais funções a nós intérpretes dispendidas. Digo nós, pois sou Tradutora e
Intérprete de Libras e, assim como para você caro acadêmico, esse livro provocou
em mim reflexões acerca de minha atuação.

107
INTÉrPrETE DE LÍNGuA DE SiNAiS BrASiLEirA NA SALA DE AuLA

Diferentes concepções e experiências envolvem a profissão do intérprete


de Libras, temos ciência de que os Códigos de Conduta Ética e os documentos
que orientam a postura desse profissional, possivelmente, não são contemplados
inteiramente em sua multiplicidade e demandas, porém, os valores neles expostos
podem e devem ser discutidos e considerados.

Certamente, a luta pelo reconhecimento profissional faz parte de todas essas


questões principalmente pelo reflexo que tem não apenas no ambiente escolar,
mas também na vida dos alunos surdos que recebem uma interpretação de
qualidade por meio de um profissional satisfeito e seguro de sua atuação.

Muitas ações têm ocorrido em território nacional no que tange conquistas


de cunho legal, assim como pesquisas que valorizam o trabalho dos tradutores
intérpretes de Libras não apenas nas escolas, mas em todos os ambientes em
que trabalha e em todas as áreas em que atua.

Acreditamos que a busca por excelência na prática aliada ao empoderamento


teórico favorece o conhecimento acerca do papel do intérprete e, em consequência,
esclarece a todos os atores envolvidos na educação de surdos, quem somos e
qual a nossa verdadeira função.

Dessa maneira, encerramos este trabalho com muitas inquietações, com o


desejo de realizar novas pesquisas com propostas intencionadas pelos ansiosos
e pela luta dos intérpretes de Libras que seguem estudando e atentos as
especificidades de nossa profissão, para então garantir respeito e condições de
trabalho dignas, sem deixar de lado a seriedade, qualidade e profissionalismo e a
postura ética que a profissão exige.

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Capítulo 3 AS ESCOLAS E OS P. I. DE LIBRAS: A I. NO ÂMBITO DA I.

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