Você está na página 1de 58

1

CAPÍTULO

SENTIDO, TEXTO E
LINGUAGENS
Competências

c C1, C2, C3 e C4

Habilidades

c H5, H7, H8, H9, H15, H17, H21 e H25

K
OC
ST
TER
UT
/SH
OM
.C
EL
PIX
W
RA
O QUE É LINGUAGEM?
Você já pensou como cada um de nós consegue traduzir o que sente? Escolhemos códigos
dos mais diferentes tipos para, de alguma forma, “dizer”. Usamos o próprio corpo, a arte e a palavra
escrita ou falada nos diversos idiomas para manifestar nossos pensamentos, sentimentos e desejos.
A organização de todos esses sinais constitui o universo das diferentes linguagens.
Podemos definir a linguagem como um conjunto organizado de símbolos ou signos que veicula
mensagens. Quando esses sinais têm como base a palavra, escrita ou falada, estamos diante de uma
linguagem verbal. Desprovida de palavras, a linguagem é não verbal.
É importante lembrar, entretanto, que os dois tipos de linguagem podem conviver no mesmo
ato de comunicação, o que é bem frequente. Enquanto o professor ensina aos alunos, por exemplo,
falando e escrevendo no quadro, está usando a linguagem verbal, mas geralmente isso acontece ao
mesmo tempo em que ele se vale de gestos e sinais que não contêm palavras.
Outra importante característica dos processos de comunicação é o dinamismo. Uma pessoa
pode receber uma mensagem ao mesmo tempo em que está enviando outra como resposta. No
exemplo da aula sendo ministrada pelo professor, ele é o emissor da mensagem durante a aula, mas
quando um dos estudantes faz o gesto de mover a cabeça, demostrando ter entendido e concorda-
do, o aluno é quem envia a mensagem e o professor passa a ser o receptor.
Se esse processo de transmissão de mensagens é tão amplo em ações cotidianas, imagine
quando consideramos todas as modalidades artísticas e de expressão corporal. O universo de lin-
guagens e possibilidades de expressão envolvidas na literatura, na pintura, na música, na fotografia,
na escultura, na dança nos torna mais capazes de dimensionar a abrangência envolvida no
estudo das Linguagens e suas tecnologias.
Vamos tomar a dança como um exemplo de linguagem. Você já ouviu falar no
carimbó? Este é o nome de uma dança de roda típica do Pará. A palavra carimbó
tem origem na palavra da língua tupi korimbó (que significa “pau furado”) e faz
referência ao curimbó, principal instrumento musical utilizado nessa dança.
O instrumento é um tipo de tambor, feito com um tronco escavado de

ENS
forma manual, com interior oco.

ULSAR IMAG
Esta dança foi trazida ao Brasil por escravos africanos e foram in-
corporadas influências da cultura indígena e europeia. Os trabalhadores
dançavam carimbó no final do dia após uma longa jornada de trabalho.

R DINIZ/P
As letras das músicas relatam histórias do cotidiano e os movimentos da

C E SA
dança, algumas vezes, imitam movimentos de animais, como é o caso da
dança do peru (ou carimbó do peru).

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


É interessante notar que as vestimentas dos dançarinos do carimbó
também comunicam, ou seja, a roupa também transmite uma mensagem, em
conjunto com a dança. As mulheres usam saias coloridas, volumosas e rodadas,
com o objetivo de gerar um efeito visual nos movimentos de giro da dança. Tanto
homens quanto mulheres dançam descalços, e as mulheres usam colares, pulseiras e
flores no cabelo.
Por ser uma dança tão presente na Região Norte do Brasil, o carimbó foi declarado Patri- Casal dançando o carimbó.
mônio Cultural Imaterial do Brasil em 2014. No ano seguinte, a dança recebeu o título de Patrimônio Pirapora do Bom Jesus (SP), 2019.
Cultural do Brasil pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Além K
OC
do carimbó, há outras danças bem brasileiras, como o afoxé, o bumba meu boi, a capoeira,
T
RS E

o frevo, o samba, a congada, entre muitas outras.


N/SHUTT

Diversas expressões combinam linguagem verbal (fala ou escrita) com linguagem


SIG

não verbal (gestos, movimentos, expressões faciais, cores), como o teatro, a televisão e
DE
A

N
até mesmo a internet. No universo digital, temos acesso a uma infinidade de recur- NI

sos de imagem, texto, vídeo e interatividade entre diversas mídias.


E o que dizer da linguagem que foi desenvolvida na própria internet? Você
já conhece as diferentes abreviações que fazemos nas mensagens de texto, por
exemplo: “vc”, “tmb” e até mesmo os novos jeitos de escrever sem acento palavras
que são acentuadas, como “neh”. O objetivo desse tipo de escrita é priorizar a instantaneidade da Os emojis fazem parte do vocabulário
conversa. Ainda há os emojis – aquelas figurinhas que representam emoções, para que não preci- no mundo digital.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 9


ANDREY_POPOV/SHUTTERSTOCK
semos escrever o que sentimos (basta enviar uma
imagem que já comunicamos o que queremos dizer).
Emoji é a junção de dois termos em japonês que sig-
nificam “imagem” e “letra”.
Ainda estudando as diversas formas de lingua-
gem humana, não podemos deixar de falar da Lín-
gua Brasileira de Sinais (Libras). Toda língua de sinais
(também conhecida como língua gestual) utiliza
gestos e sinais em substituição às línguas de sons ou
oral que conhecemos, como o português, o inglês,
o alemão, o chinês. O objetivo da língua de sinais
é possibilitar que as pessoas surdas possam se co-
municar entre si e com não surdos que conheçam
a língua de sinais.
A Língua Brasileira de Sinais não é só um con-
junto de gestos e mímicas, mas uma língua que
apresenta léxico (conjunto de palavras de uma lín-
gua para que seus usuários possam se comunicar) e
gramática próprios. Ela foi reconhecida oficialmente
pela Lei no 10 436, de 24 de abril de 2002.
A comunicação feita por meio da
Língua Brasileira de Sinais utiliza as
mãos, os movimentos dos braços, da COMUNICAÇÃO EM LÍNGUA INGLESA
cabeça e expressões faciais.
Você já parou para pensar que o mundo todo fala inglês? Ou pelo menos tenta! Isso se
deve ao fato de a língua inglesa ter ganhado cada vez mais espaço, desde meados do século
XIX, época da expansão do Império Britânico, nos mais variados contextos: cultural, político e,
principalmente, econômico.
É por esse motivo que cada vez mais pessoas es-
TIERNEYMJ/SHUTTERSTOCK

tudam a língua inglesa para se inserir:


▶ no mundo do trabalho (quem é que não conhece al-
guém que passou por uma entrevista profissional em
inglês ou que utiliza o idioma em reuniões na empresa?);
▶ no mundo do entretenimento (quantas das nossas
opções culturais não são veiculadas em inglês? Pense
em filmes, seriados, jogos e músicas!);
▶ no mundo da política e das Relações Internacionais
(encontros promovidos por organizações e governan-
tes do mundo inteiro utilizam o inglês como língua
comum para a comunicação);
▶ no universo do lazer (vai viajar para um país estrangeiro?
Provavelmente utilizará o inglês para se comunicar).
A língua inglesa tem predominância nos mais
variados contextos da comunicação humana. Quem
quer ter um bom emprego, avançar nos estudos e ser
um cidadão global não pode deixar de estudar inglês.
Por isso, vamos focar o estudo desse idioma em nosso
No mundo globalizado, a língua inglesa material de Linguagens e suas Tecnologias.
é a mais utilizada para a comunicação E assim como qualquer outra língua, os falantes da língua inglesa utilizam linguagem verbal e
entre povos dos mais variados países. não verbal para se comunicarem. Neste começo de capítulo, estudamos as diversas formas pelas
quais a linguagem é expressa. Vimos que a comunicação pode ocorrer em sua forma verbal ou
não verbal. Vamos, agora, ler dois textos, escritos em língua inglesa, que abordam a comunicação
não verbal e a manifestação da linguagem artística.

10 O ser humano gera e é gerado por linguagens


Em relação ao text I, mais adiante, faça as atividades a seguir.
H25 1. Escolha a definição correspondente às palavras a seguir:
a) ( ) toolbox I. moldar, modelar
b) ( ) evolved II. campo minado
c) ( ) understandably III. objetivo, propósito de alguma coisa
d) ( ) intent IV. alguma coisa que é desenvolvida
e) ( ) shape V. caixa de ferramentas
f ) ( ) minefield VI. algo que é feito de forma compreensível

H5 2. Sabemos que a linguagem verbal (em suas formas oral e escrita) é considerada uma
importante forma de expressão para o ser humano. No entanto, a linguagem não verbal
(gestos, sinais, desenhos) também “diz muito” em diversas situações. Observe a sala de aula
e os colegas: o que é comunicado por meio da linguagem não verbal?

Text I

The Power of Mindful1 Nonverbal Communication GLOSSARY


If you were an electrician or a carpenter, you would have a toolbox full of the tools 1. Mindful:

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


you need to do your job. You might have a favorite tool, but that would not stop you from consciente.
making use of the full array2 of your other tools. 2. Array:
When it comes to communication, we often tend to rely3 on language at the expense variedade.
of the rest of our communication toolbox. 3. To rely:
Language is one of the main traits that sets human beings apart. Yet, we communicate contar com, confiar.
with one another in other
IGORZD/SHUTTERSTOCK

ways as well such as tone


of voice, facial expression,
eye contact, and posture.
Evolved leaders are
not only aware of these
other means of
communication but also
they use nonverbal tools
mindfully and deliberately Nossos gestos, a maneira como
to reinforce their message. gesticulamos, mexendo as mãos ou
balançando os pés ao ouvir algo,
This lifts the value of your por exemplo, assim como a postura
communication and your corporal, são formas de comunicação
value as a leader. não verbal e que podem também
transmitir uma informação.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 11


If our nonverbal communication is not aligned4 with our spoken words, then our
message will be mixed or muddled5, and it will not resonate6 at all. Our message will be
lost in translation.
What we are missing out on in such cases, says author Nick Morgan, is a kind of
“second conversation,” one governed at both ends in a way that is largely unconscious.
This makes sense when you consider that our unconscious minds can process as many as
11 million bits of information per second, while our conscious minds are limited to 40
bits. Understandably, we instinctively delegate a great deal of information-processing to
our unconscious.
How can we take ownership7 over a process that seems to occur beneath the surface8
of our awareness9? In his book Power Cues, Morgan argues that with practice we can
move some of that second conversation out of the dark and into the light.
We must first become aware of how we inhabit10 space and how we show up,
especially at the most critical times. At a client meeting, do we slouch11 or look down
at our laptop? During a presentation, do we stand with our hands behind our back or
crossed in front?
This second unconscious conversation does more than merely reinforce our conscious
conversation. Sometimes, it is the conversation – the arena where hearts and minds are
won or lost. For example, Researchers at MIT have found that the success of a venture
capital pitch12 can be accurately predicted by tracking nonverbal signaling.
Once we become more aware of our characteristic gestures and body language,
Morgan says, we can then go about aligning13 our nonverbal signaling with our spoken
message. This starts with clarity of intent.
We think we know exactly what we want from a given meeting or presentation. In
reality, however, our minds are often a jumble14 of emotions and random15 thoughts. If
we take the time to hone16 in on the essence of our intention, then it is more likely to play
itself out through our gestures, intonation, and facial expression. For example, going into
a meeting with top-level managers to explain a corporate restructuring, you might sum
up your intent in a single word, such as reassurance17.
This inside-out approach proceeds from emotion to gesture. Gesture sometimes
anticipates and even shapes emotion and thought. We can choose to begin there and work
outside-in. With practice, we can learn to be more conscious of certain gestures and
nonverbal cues18 and, therefore, their effect on other and ourselves.
[...]
Nonverbal communication does not need to be a minefield, but rather it can be
a gold mine. Be mindful of it and embrace it. You will see your presence and influence
grow.
BEHESHTI, Naz. 2018. Forbes. Adaptado. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/nazbeheshti/2018/09/20/
beyond-language-the-power-of-mindful-nonverbal-communication/#279421891501>. Acesso em: 31 out. 2019.

GLOSSARY
4. Aligned: 9. Awareness: 14. Jumble:
alinhado, em sintonia. percepção, noção. mistura.
5. Muddled: 10. To inhabit: 15. Random:
confuso, bagunçado. preencher. aleatório.
6. To resonate: 11. To slouch: 16. To hone:
fazer sentido. relaxar, ter má postura. aprimorar, aperfeiçoar.
7. Ownership: 12. Venture capital 17. Reassurance:
posse. apresentação para possíveis investidores. tranquilização, conforto.
8. Surface: 13. To align: 18. Cues:
superfície. alinhar. sinal, dica.

12 O ser humano gera e é gerado por linguagens


Text II

STEFANOT/AGæNCIA/SHUTTERSTOCK
Antes de ler o text II, faça a atividade a seguir.
1. Escolha a definição correspondente às palavras a seguir: H25
a) ( ) worldwide I. lendário, que se assemelha a uma lenda
b) ( ) legendary II. evoluir
c) ( ) meaningful III. abordagem
d) ( ) evolve IV. mundial, que acontece no mundo inteiro Arte de rua em um muro de Nova York,
Graffiti art in Harlem, NYC, 2013.
e) ( ) approach V. que tem um significado, significativo
f) ( ) new comers VI. que apresenta uma renovação
g) ( ) renewal VII. alguém que inicia, começa algo; iniciante

From Style Writing to Art: A Street Art History


How did it all start? Where did this worldwide movement originated? How come a
movement emerged so rapidly and largely? At the dawn1 of the twenty-first century a new
movement was born…
In the late 60s, graffiti arrived in New York City, after an introduction on the
Philadelphia side. Whatever the legend, no one really knows if it happened in a deliberate
effort or as a spontaneous occurrence, but it seems it all started in Manhattan’s Washington
Heights section. Originating from the upper west side of Manhattan, most of the early
writers used to add to their name a number reflecting the street they actually lived on, as
in TAKI 183 or TRACY 168.
Graffiti writers from the other boroughs2 also appeared quickly, such as LEE 163
from the Bronx, and FRIENDLY FREDDIE from Brooklyn.
Quickly such as STAY HIGH 149 brought the whole thing up, adding a key element:
style. To the usual writing one would add ornaments like stars, crowns, arrows and even
characters that would soon become legendary and meaningful.
Soon all the NYC trains are painted from top-to-bottom in a raging3 war for style
recognition. [...]
[...]
At the wake of the 90s suddenly the movement evolves. New types of signature
appear. Writing then abstraction, and now concept. The message becomes the mean […]

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


By the time we reach the early 80s, Graffiti is being labeled as Urban Art. And its
illegal and clandestine aspects are inspiring a great number of artists. A light and humor-
-tinted approach appears in paintings, along with very new and interesting techniques,
like stencils4.
Street Art covers an extreme variety of techniques, allowing5 new approaches that go
well beyond traditional graffiti and spray paint. At the turn6 of the twenty-first century
new comers like JR take the street as the largest gallery in the world. [...]
After 40 years the movement shines by its constant renewal. Each signature is unique
and a new quest7. [...]
ARTS AND CULTURE. Adaptado. Disponível em: <https://artsandculture.google.com/exhibit/QRmI8Mw8>.
Acesso em: 31 out. 2019.

GLOSSARY
1. Dawn: 3. Raging: 5. Allowing: 7. Quest:
amanhecer, começo. furioso. permitir. busca.
2. Borough: 4. Stencil: 6. The turn:
bairro, distrito. estêncil, técnica de estampa. virada.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 13


PARA CONSTRUIR
1 O primeiro texto, que trata da comunicação não verbal, compara a língua a uma caixa de ferramentas. Explique como o autor do
texto estabelece essa relação.
H25

2 De acordo com o primeiro texto, quais são os aspectos considerados importantes quanto à comunicação não verbal no ambiente
de trabalho, especialmente para funcionários que ocupam cargo de liderança?
H25

3 Considere as seguintes ideias apresentadas no texto sobre a comunicação não verbal.


H25 I. A abordagem de dentro para fora vai da emoção para o gesto.
II. Às vezes, o gesto antecipa e, até mesmo, molda a emoção e o pensamento.
III. Não há como trabalharmos gestos primeiro e depois emoções e pensamentos.
IV. Com a prática, podemos aprender a ser mais conscientes dos gestos e sinais não verbais.
Sobre as afirmações que você acabou de ler, é correto dizer que:
a) Apenas as afirmações I e II são corretas.
b) A afirmação III é incorreta.
c) Apenas as afirmações II e IV são corretas.
d) A afirmação IV é incorreta.

4 O segundo texto, From style writing to art: a street art history, apresenta uma breve história sobre a arte de rua nos Estados Unidos.
Qual é a principal inovação que o artista Stay High 149 acrescentou à arte de rua norte-americana desde o início, nos anos de 1960?
H25

14 O ser humano gera e é gerado por linguagens


5 Quais eram as principais características do grafite no início dos anos 1980?
H25

FAÇA VOCÊ MESMO


1 Sobre a arte urbana, faça o que se pede a seguir.
H7 a) Pesquise como era a percepção sobre a arte urbana na década de 1980, no Brasil ou no mundo. Anote suas descobertas.

b) Agora é a hora de ver a sua cidade com um olhar diferente. Aproveite um passeio de fim de semana com os amigos ou com a
família e observe as expressões de arte urbana que existem na sua cidade ou no seu bairro. Você consegue ver alguma coisa
que não tinha reparado antes ou que, mesmo já conhecendo, não sabia de que se tratava de arte urbana? Tire fotos, anote
suas impressões e compartilhe com a classe. Caso sua cidade não tenha exemplos dessa forma de arte, busque exemplos de
outros lugares de seu estado ou região.
c) Agora, converse com os colegas e o professor: qual é a percepção de vocês sobre a arte urbana? Quais são os significados
dessa expressão artística no mundo atual?
2 Depois de fazer uma pesquisa in loco, ou seja, no lugar em que você mora, agora é a hora de pesquisar na internet. Qual é sua
expressão artística favorita? Você curte pintura, música, dança, teatro, cinema, histórias em quadrinhos, literatura? Pense em sua
H15

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


forma de arte preferida e pesquise em sites (na língua inglesa) sobre eles. Você pode utilizar textos ou vídeos como referência.
H21 Como as manifestações artísticas são descritas? Quais são os aspectos mais destacados sobre dança ou pintura, por exemplo?
Compartilhe sua pesquisa com os colegas.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 15


ARTE E EXPRESSÃO

FOLHAPRESS
Ao se apropriar de um modo de expressão e de ele-
mentos capazes de compor uma linguagem, o artista diz o
que sente e pensa, para alcançar a beleza de alguma forma.
No entanto, as obras por meio das quais os artistas se ex-
pressam são fruto de um contexto maior, condicionadas
por um momento histórico, pelo modo como as pessoas
se relacionam e pelo meio cultural de que são parte.
Por essa razão, o processo de leitura de uma obra de
arte não pressupõe apenas o conhecimento do código que
o artista usou. Até mesmo um especialista em determina-
da técnica de expressão, como um musicista ou um pintor,
é incapaz de traduzir o que uma obra quer dizer se ele não
conhece o contexto em que o autor do trabalho viveu.
Fora de contexto, por exemplo, movimentos artísticos
como “O passinho dos malocas”, retratado nesta página,
no Grande Recife, seriam impossíveis de se compreender.

No estilo brega-funk os passos


combinados se comunicam com o
espectador, por meio da linguagem PARA AMPLIAR
gestual associada à musical. Na
imagem, grupo Magnatas do

PAINTING/ALAMY STOCK PHOTO


Por possibilitar múltiplas lei-
Passinho S.A., em Recife, PE, 2019. turas, a interpretação de uma
obra de arte varia de pessoa
para pessoa. Os pontos de vista
de cada um são determinados
também pelo universo de cren-
ças e experiências individuais.
Por isso, uma música pode soar
mais triste para uns do que para
outros; um quadro parece forte
para determinado espectador e
nada diz para outro.

A jangada da Medusa (1818-1819).


Tela de Théodore Gericault, produzida
no início do século XIX, período em
que se inicia o Romantismo europeu.
Tinta a óleo, 4,91 m x 7,16 m.

TURSUNBAEV RUSLAN/SHUTTERSTOCK

A arte abstrata constitui um campo aberto para diferentes interpretações.

16 O ser humano gera e é gerado por linguagens


O ser humano reinventa seu meio GLOSSÁRIO
Estudamos que as linguagens são importantes ferramentas para todos, artistas ou não. Enquanto Planta baixa:
os artistas as utilizam para se expressar, visando à estética, um mesmo sistema de sinais pode ser em- representação gráfica de uma cons-
pregado de forma mais utilitária e prática. Por exemplo, na literatura as palavras alcançam um efeito de trução em que cada ambiente é vis-
sentido muito diferente do impacto que produzem em um relatório técnico. to de cima, sem o teto.
Para certos profissionais, o domínio de linguagens diversas facilita consideravelmen-
te os processos de seus trabalhos. Imagine como seria difícil um arquiteto explicar uma

BARDOCZ PETER/SHUTTERSTOCK
planta baixa a um leigo ou um economista não poder se valer de gráficos e tabelas para
compreender ou mesmo ilustrar as oscilações do mercado financeiro.

Educação Física: equilíbrio entre corpo e mente


Como aconteceu com as demais áreas do conhecimento, as reflexões acerca do
ensino e do aprendizado da Educação Física evoluíram, de modo que, diferentemente
do que acontecia há algumas décadas, essa disciplina não mais se resume à prática de
esportes competitivos ou exercícios físicos. Atualmente, o maior objetivo dos educadores
é desenvolver o corpo como um todo, ao mesmo tempo em que despertam nos alunos
uma consciência do ser humano integral, capaz de conseguir equilíbrio entre o corpo e
a mente. Atualmente a Educação Física traz importantes considerações sobre a cultura
do movimento corporal em consonância com o desenvolvimento e a construção de
saberes e estabelece, em muitos aspectos educacionais, ligação com diversas áreas do
conhecimento. Exemplo de planta baixa.
Nesse sentido, o estudo das linguagens contempla também essa área, pois o corpo
humano é um organismo de comunicação, que emite e recebe informações. Essa comunicação pode
ser constatada em partidas esportivas e nas atividades em que o corpo expressa sentimentos e emoções,
como na apresentação de peças teatrais, espetáculos de dança, nas modalidades de artes marciais e de
ginástica rítmica e em muitas outras expressões e práticas sociais e culturais.
Essa visão da Educação Física é de fundamental importância na atualidade. O desenvolvimento PARA AMPLIAR
das tecnologias de informação, o advento das redes sociais, o intenso uso da internet, o acesso a
celulares e jogos têm levado as pessoas, em especial os mais jovens, ao sedentarismo e ocasiona Filme Ela (Her).
problemas como a obesidade e distúrbios psíquicos, como ansiedade e depressão. Nesse contexto, Direção de Spike Jonze, Estados
a Educação Física surge como um contraponto. Unidos, 2013. ( 126 min.).
Por meio da consciência do próprio corpo, as pessoas se preparam para as interações sociais. Na realidade em que vivemos,
Por mais que o mundo virtual seduza por sua praticidade e rapidez, ele pode conduzir as pessoas a a tecnologia, por vezes, parece
um isolamento que tem se tornado nocivo. afastar em vez de aproximar

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


PIXEL-SHOT/SHUTTERSTOCK

O contato direto com outras pessoas não pessoas que preferem a reali-
pode ser substituído pelas tecnologias, pois vive- dade virtual. É do que trata esse
filme: um homem se apaixona
mos em um mundo em que a companhia de ou-
pela voz de uma mulher criada
tros indivíduos é indispensável. No ambiente pro- por um aplicativo.
fissional, por exemplo, as empresas cada vez mais

SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO
insistem na importância do trabalho em equipe.
No entanto, a inteligência para gerenciar
conflitos extrapola o ambiente de trabalho. Sa-
ber ler no corpo do outro as reações que pos-
sibilitam uma ou outra abordagem nos torna
preparados para a empatia, o respeito e o con-
vívio mais harmonioso com outras pessoas. Não
conseguimos desenvolver essa habilidade, porém,
mantendo-nos isolados ou com um aplicativo no
smartphone. Ela passa pela consciência das pró-
prias reações, o conhecimento do próprio ser –
feito de corpo e mente. Assim, é possível enten-
A prática de Yoga é uma das possibilidades que
contribui para a conexão do ser humano com sua der no outro o que ele diz ou por que meio diz,
essência, trabalhando aspectos do corpo e da mente. falando ou gesticulando de muitas formas.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 17


PARA CONSTRUIR
1 Observe as imagens com atenção.
H9
GLOSSÁRIO

ARQUIVO DA EDITORA
Retrô:
é um termo que está relacio-
nado ao passado, ou seja, algo
que remete a um objeto, roupa
ou estilo de vida desatualizado,
mas que volta a estar na moda.
Disponível em: <www.significa-
dos.com.br/retro/>.
Acesso em: 17 nov. 2017.

É fácil perceber que os quadros mostram como se pode modelar um “pote retrô de vinil”. Caso não houvesse figuras, quais
informações precisariam aparecer por escrito?

2 (Unicamp-SP) Nesta propaganda, há uma interessante articulação entre palavras e imagens.


H5
REPRODU‚ÌO

H9

Indique uma característica atribuída pela propaganda ao produto anunciado. Justifique.

18 O ser humano gera e é gerado por linguagens


3 (Unicamp-SP) Jogos de imagens e palavras são característicos da linguagem de história em quadrinhos. Alguns desses jogos po-
dem remeter a domínios específicos da linguagem a que temos acesso em nosso cotidiano, tais como a linguagem dos médicos,
H5 a linguagem dos economistas, a linguagem dos locutores de futebol, a linguagem dos surfistas, entre outras. É o que ocorre na tira
de Laerte.
H9

LAERTE
Levando em consideração as relações entre imagens e palavras, identifique um momento de humor na tira e explique como é
produzido.

4 (UFU-MG)

H5 UFU 2015

H8

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


O anúncio publicitário, produzido por uma revista para divulgar seus blogs, dialoga com outro texto. Considerando essa
informação,
a) indique que texto é esse e explique o processo de intertextualidade que se estabelece entre ele e o anúncio publicitário.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 19


b) explique de que maneira a linguagem não verbal do anúncio publicitário contribui com o diálogo estabelecido entre os
dois textos.

5 (Unicamp-SP)
H5
Canção é tudo aquilo que se canta com inflexão melódica (ou entoativa) e letra. Há um “artesanato” específico
H7 para privilegiar ora a força entoativa da palavra ora a forma musical; nem só poesia nem só música. Um dos equívocos
dos nossos dias é justamente dizer que a canção tende a acabar porque vem perdendo terreno para o rap! Ora, nada é
H8 mais radical como canção do que uma fala que conserva a entoação crua. A fala no rap é entoada com certa regulari-
dade rítmica, o que a torna diferente de uma falausual. Apesar de convivermos hoje “com uma diversidade cancional
jamais vista”, prevalece na mídia, nos meios cultural e musical “a opinião uniforme de que estamos mergulhados num
‘lixo’ de produção viciada e desinteressante”. Vivemos uma descentralização, com eventos musicais ricos e variados,
“e a força do talento desses novos cancionistas também não diminuiu”.
O rap serve-se da entoação quase pura, para transmitir informações verbais, normalmente intensas, sem perder
os traços musicais da linguagem da canção. Seu formato, menos música mais fala, é ideal para se fazer pronunciamen-
tos, manifestações, revelações, denúncias etc., sem que se abandone a seara cancional. Podemos dizer que o trabalho
musical, no rap, é para restabelecer as balizas sonoras do canto, mas nunca para perder a concretude da linguagem
oral ou conter a crueza e o peso de seus significados pessoais e sociais. Atenuar a musicalização é reconhecer que as
melodias cantadas comportam figuras entoativas (modos de dizer) que precisam ser reveladas por suas letras.
(Adaptado de Luiz Tatit. Artigos disponíveis em: <http://www.luiztatit.com.br/artigos/artigo?id=29/
Cancionistas-Invis%C3%ADveis.html e http://www.scielo.br/pdf/rieb/n59/0020-3874-rieb-59-00369.pdf>. Acesso em: 31 out. 2019.)

A partir da leitura dos textos anteriores,


a) aponte dois argumentos de Luiz Tatit que defendem a ideia de que o rap é um tipo de canção.

b) cite duas características, apresentadas nos textos, que corroboram que o rap é uma forma ideal de “canção de protesto”.

20 O ser humano gera e é gerado por linguagens


FAÇA VOCÊ MESMO
1 (UFGO) Observe:
H5

GREENPEACE
H9

A imagem reproduzida aqui é de uma campanha publicitária de uma organização não governamental, Greenpeace, e retrata
uma das cenas de seca ocorrida na Amazônia em 2005. Explique como o efeito de sentido pretendido por essa campanha
atinge o leitor.

2 O teatro é uma atividade artística muito rica, entre outros motivos porque os atores se comunicam não apenas pelas palavras,
mas pelos gestos e, às vezes, até dança, como acontece nas peças musicais. Depois de estudar a pluralidade de linguagens, esse
H15
é o momento de pôr em prática o que foi aprendido. Montem uma equipe, escolham o trecho de um livro, um poema, a letra
de uma canção, uma composição musical sem letra, uma fotografia, um quadro, um desenho e montem uma apresentação em
que sejam utilizadas linguagem verbal e não verbal.
O objetivo deve ser o de compor uma cena em que as linguagens se complementem na transmissão da mensagem preten-
dida. Por isso, é importante ler atentamente o texto que será tomado como referência, e dar uma interpretação pessoal para
o conteúdo.
Vocês podem unir representação dramática, declamação, música, dança, projeção de imagens. Enfim, podem usar quantas e

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


quaisquer linguagens que queiram para transmitir o que desejam. Para isso, é importante definir a intenção e o público que
pretendem alcançar. Depois de tudo pronto, agendem com o professor o dia de fazer as apresentações.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 21


3 No começo do capítulo, falamos brevemente sobre a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Você já conhece o alfabeto em
Libras? Pesquise na internet ou com os seus colegas e aprenda a soletrar seu nome em Libras. Aproveite para pesquisar algu-
H15
mas frases básicas na linguagem de sinais, como “Bom dia”, “Tudo bem?” e “Obrigado”. Compartilhe com os colegas o que você
H17 aprendeu!

22 O ser humano gera e é gerado por linguagens


O SIGNO LINGUÍSTICO
Palavras ao vento
Marisa Monte/Moraes Moreira
Ando por aí querendo te encontrar Deixo a tristeza e trago a esperança em seu
Em cada esquina paro em cada olhar lugar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu Que o nosso amor pra sempre viva .
lugar Minha dádiva
Que o nosso amor pra sempre viva Quero poder jurar que essa paixão jamais
Minha dádiva
será
Quero poder jurar que essa paixão jamais
Palavras apenas
será
Palavras apenas Palavras pequenas
Palavras pequenas Palavras momentos
Palavras Palavras, palavras
Ando por aí querendo te encontrar Palavras, palavras
Em cada esquina paro em cada olhar Palavras ao vento
MONTE, Marisa; MOREIRA, Moraes. Palavras ao vento. Intérprete: Cássia Eller.
Com você. meu mundo ficaria completo. Universal Music Group, 1999.

Como já vimos até aqui, o universo de linguagens compreende uma diversidade enorme de có-
digos. Ao longo deste curso, vamos estudar as linguagens em geral, já que não existe uma modalidade
melhor que outra. Entretanto, a fim de facilitar nossa abordagem, vamos começar a investigação pela
análise da linguagem verbal.
Diariamente, somos expostos a muitas situações de comunicação em casa, na escola, no traba-
lho, nas atividades extracurriculares e nos diferentes grupos sociais em que estamos inseridos. Nessas
situações, devemos demonstrar habilidades ao falar, ao nos movimentar, ao escrever, ao interagir.
Partimos de uma unidade básica de expressão nos textos verbais: a palavra. É por meio dela
que organizamos nosso pensamento e traduzimos o que pensamos e sentimos. Embora toda palavra
tenha uma história, uma origem etimológica, seu uso é arbitrário, nem sempre é clara a relação entre
a palavra e aquilo que representa.
Na letra da canção que você acabou de ler, Palavras ao vento, o poder de significação dos vocá-
bulos é ilustrado. Note que, nos versos finais, os compositores sugerem a limitação das palavras para tra-

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


duzir um sentimento e nos fazem pensar que, em dadas situações, palavras são desprovidas de sentido.
(...) Quero poder jurar que essa paixão Palavras momentos
PARA AMPLIAR
jamais será Palavras, palavras

IMAGEM FILMES/
DIVULGAÇÃO
Palavras apenas Palavras, palavras
Palavras pequenas Palavras ao vento.

Isso nos faz pensar sobre os dois aspectos constitutivos das palavras em geral: o significante e
o significado. Significante é a camada física, material da palavra (os sons e as letras); já o significado
é a imagem mental a que o som e as letras nos remetem.
Quando isso acontece, ou seja, quando a palavra tem esses dois aspectos, adquire status de
signo linguístico. Veja um exemplo:

Na palavra Veja o filme


SOL, temos um significante S-O-L (/s//o/w/) O físico. Direção de Philipp Stölzl,
Alemanha, 2013. (119 min.).
e um significado (ideia) O filme trata da importância do
registro escrito. As descobertas
de um jovem médico mudariam
Concluímos, assim, que nem todas as palavras são signos para todas as pessoas. Alguém que para sempre a prática médica em
não conheça o significado de determinada palavra e a ouça de outra pessoa não terá ideia do que todo o mundo.
o vocábulo representa.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 23


História da escrita

PETER SOBOLEV/SHUTTERSTOCK
A modalidade oral precede a escrita, tanto que aquela condiciona esta:
a língua falada é tomada como referência para o registro escrito de um idioma.
Porém, considerando que o estudo da língua escrita e da literatura será enfati-
zado neste percurso, vamos conhecer um pouco da história do registro escrito.
Enquanto a fala surgiu de forma mais instintiva no ser humano, a es-
crita partiu de um planejamento, da consciência de nossos antepassados,
que sentiram a necessidade de registrar fatos e ideias. Nos primórdios, esses
registros se davam nas paredes das cavernas e retratavam o encontro com
animais ferozes, o combate, o perigo.
Escrita cuneiforme.
Nesses tempos remotos, surgiu, então, uma invenção que mudaria o
modo de produzir conhecimento, contar histórias e a forma como olhamos

PAOLO GALLO
para nossa existência: a escrita.
Estudos indicam que uma escrita mais elaborada foi invenção dos sumé-
rios, por volta de 4000 a.C. A chamada escrita cuneiforme teria se espalhado
por toda a Mesopotâmia, sendo adotada por vários povos, como os babilônicos
e os assírios. Mais tarde, por volta de 3000 a.C., os egípcios desenvolveriam outra
importante forma escrita, os hieróglifos.
Essas duas primeiras formas de escrever têm origem pictográfica, ou seja,
constituíam-se de sinais semelhantes aos objetos que designavam. Com o tem-
po, esses sinais foram se transformando, sendo estilizados e empregados de
forma mais abstrata, e se distanciaram das imagens que representavam.
Hieróglifos.
IMPORTANTE
Vamos viajar um pouco no tempo para falar de algo importante
CLAUDIO DIVIZIA/SHUTTERSTOCK

para a história da escrita. Você já ouviu falar da Pedra de Rose-


ta? Pois saiba que ela é uma “pedra no meio do caminho” das
mais famosas. Trata-se de um fragmento de bloco que pesa
cerca de uma tonelada, com quase 1,20 m de altura, 77 cm de
largura e 30 cm de profundidade. Chama-se Pedra de Roseta por-
que foi encontrada na cidade de Roseta, no Egito, pelo exército
do imperador francês Napoleão Bonaparte, no ano de 1799. A
pedra tem uma mensagem escrita em três línguas: hieróglifos
egípcios, demótico (língua popular falada no Egito antigo) e
grego. O texto é um decreto, escrito provavelmente no ano de
196 a.C., feito pelo faraó da época, Ptolomeu V, e sua importância
reside no fato de que, com este registro escrito, é que se come-
çou a entender os significados dos hieróglifos, graças ao traba-
lho do linguista francês Jean-François Champollion, que compa-
rou as três línguas do texto e conseguiu transcrever o decreto.
A partir de seu trabalho, outros documentos do Egito Antigo pude-
ram ser compreendidos, e o entendimento sobre a história egíp-
cia foi ampliado. Atualmente, a Pedra de Roseta está em exposição
no Museu Britânico, em Londres, Inglaterra. É possível fazer uma
visita virtual em 3D ao museu para observar a pedra sem sair de
casa. Basta acessar o link: <https://sketchfab.com/3d-models/the-
rosetta-stone-1e03509704a3490e99a173e53b93e282>.
Pedra de Roseta Adaptado de: Revista Galileu, 2018. Conheça a Pedra de Roseta, que mudou a história da arqueologia.
exposta no Museu Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2018/07/conheca-pedra-de-roseta-
Britânico, em que-mudou-historia-da-arqueologia.html>. Acesso em: 14 dez. 2019.
Londres.

24 O ser humano gera e é gerado por linguagens


BSIP SA/ALAMY STOCK PHOTO
O alfabeto é uma consequência desse processo de constante desenvolvimento. Os fenícios
foram os primeiros a desenvolver um alfabeto fonético (ligado aos sons). Isso aconteceu por volta
de 1200 a.C., tendo sido o ancestral dos alfabetos como conhecemos atualmente.
É importante lembrar que há outros sistemas de escrita. Comuns no mundo oriental, os
ideogramas são a unidade básica da escrita. Trata-se de sinais que representam ideias, embora
também possam ser empregados para se referir a sons. As línguas japonesa e chinesa são exemplos
desse tipo de escrita.

PARA AMPLIAR
Você já viu a imagem ao lado? Sabe o que ela significa? Ideogramas chineses.

TATA DONETS/
SHUTTERSTOCK
Trata-se do ideograma sankofa, que simboliza a sabedoria de
aprender com o passado para a construção do futuro.
O sankofa faz parte de um conjunto de ideogramas dos povos
acã, da África ocidental, chamado adinkra. Eles são uma forma de
escrita, e cada ideograma adinkra expressa uma ideia complexa,
um proverbio.
Para conhecer outros símbolos adinkra e seus significados, acesse o site do Instituto de Pes-
quisa e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro): http://ipeafro.org.br/acervo-digital/imagens/adinkra/.
Acesso em: 24 ago. 2021.

PARA CONSTRUIR
1 Observe a tirinha.
H5

LINIERS /FOTOARENA

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


Depois de ler os quadrinhos com atenção, responda às perguntas a seguir.
a) O humor dos quadrinhos se concentra, especialmente, no fato de o pássaro e o cachorro terem interpretado determinada
palavra de maneiras diferentes. Qual é essa palavra e quais foram as interpretações de cada um deles?

b) Considerando a interpretação que o cão fez da fala do pássaro no primeiro quadrinho, explique qual foi o raciocínio dele
para emitir sua explicação no segundo quadrinho.

c) O fato de personagens diferentes interpretarem de maneiras distintas uma mesma palavra (um mesmo conjunto de sons)
diz muito a respeito do sistema de linguagem escrita que empregamos. A que conclusões se pode chegar sobre as palavras?

O ser humano gera e é gerado por linguagens 25


2 (Enem)

H5

ENEM 2018
H9
Garrafa PET vazia tem valor líquido e certo: reciclada vira
tecido, madeira sintética ou plástico novo de novo. Separar
o lixo facilita o trabalho dos catadores e aumenta o material
aproveitado, principalmente se você limpar as embalagens por
dentro, retirando toda a sujeira antes de descartá-las. Mude de
atitude. Assim você ajuda a gerar renda para quem precisa e
poupa recursos naturais.
SEPARE O LIXO E ACERTE NA LATA
Disponível em: www.separeolixo.gov.br Acesso em: 4 de dez. 2017 (adaptado).

Nessa campanha, a principal estratégia para convencer o leitor a fazer a reciclagem do lixo é a utilização da linguagem não
verbal como argumento para
a) reaproveitamento de material.
b) facilidade na separação do lixo.
c) melhoria da condição do catador.
d) preservação de recursos naturais.
e) geração de renda para o trabalhador.
3 (Enem)
H5
No ano de 1985 aconteceu um acidente muito grave em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, perto da aldeia gua-
rani de Sapukai. Choveu muito e as águas pluviais provocaram deslizamentos de terras das encostas da Serra do Mar,
destruindo o Laboratório de Radioecologia da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, construída em 1970 num
lugar que os índios tupinambás, há mais de 500 anos, chamavam de Itaorna. O prejuízo foi calculado na época em
8 bilhões de cruzeiros. Os engenheiros responsáveis pela construção da usina nuclear não sabiam que o nome dado
pelos índios continha informação sobre a estrutura do solo, minado pelas águas da chuva. Só descobriram que Itaorna,
em língua tupinambá, quer dizer ‘pedra podre’, depois do acidente.
FREIRE, J. R. B. Disponível em: <www.taquiprati.com.br>. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado).

Considerando-se a história da ocupação na região de Angra dos Reis mencionada no texto, os fenômenos naturais que a atin-
giram poderiam ter sido previstos e suas consequências minimizadas se
a) o acervo linguístico indígena fosse conhecido e valorizado.
b) as línguas indígenas brasileiras tivessem sido substituídas pela língua geral.
c) o conhecimento acadêmico tivesse sido priorizado pelos engenheiros.
d) a língua tupinambá tivesse palavras adequadas para descrever o solo.
e) o laboratório tivesse sido construído de acordo com as leis ambientais vigentes na época.

4 (Enem)
H5 TEXTO I

H8 Criatividade em publicidade: teorias e reflexões


Resumo: O presente artigo aborda uma questão primordial na publicidade: a criatividade. Apesar de aclamada
pelos departamentos de criação das agências, devemos ter a consciência de que nem todo anúncio é, de fato, criativo.
A partir do resgate teórico, no qual os conceitos são tratados à luz da publicidade, busca-se estabelecer a compreensão
dos temas. Para elucidar tais questões, é analisada uma campanha impressa da marca XXXX. As reflexões apontam que
a publicidade criativa é essencialmente simples e apresenta uma releitura do cotidiano.
DEPEXE, S. D. Travessias: Pesquisas em Educação. Cultura, Linguagem e Artes, n. 2, 2008.

26 O ser humano gera e é gerado por linguagens


TEXTO II

ENEM 2017
Homenagem ao Dia das Mães 2012. Disponível em: <www.comunicacao.com>. Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado)

Os dois textos apresentados versam sobre o tema criatividade. O Texto I é um resumo de caráter científico e o Texto II, uma
homenagem promovida por um site de publicidade. De que maneira o Texto II exemplifica o conceito de criatividade em pu-
blicidade apresentado no Texto l?
a) Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus filhos.
b) Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu trabalho de criar os filhos.
c) Explorando a polissemia do termo “criação”.
d) Recorrendo a uma estrutura linguística simples.
e) Utilizando recursos gráficos diversificados.

5 (Enem)

H5
Declaração de amor
H8 Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. [...] A língua portuguesa
é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira
capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma
frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo em minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que
escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofun-
dada. O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda e também não pudesse escrever, e me perguntassem
a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas, como não nasci muda e pude escrever,
tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter apren-
dido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.
LISPECTOR, C. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro Rocco, 1999 (adaptado).

O trecho em que Clarice Lispector declara seu amor pela língua portuguesa, acentuando seu caráter patrimonial e sua capaci-
dade de renovação, é:
a) “A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve.”
b) “Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita.”
c) “Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.”
d) “Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada.”
e) “Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.”

O ser humano gera e é gerado por linguagens 27


6 (Enem)

ENEM 2018
H5

H9

Disponível em: www.facebook.com/omeusegredinho. Acesso em 9 dez. 2017 (adaptado).

Essa imagem ilustra a reação dos celíacos (pessoas sensíveis ao glúten) ao ler rótulos de alimentos sem glúten. Essas reações
indicam que, em geral, os rótulos desses produtos
a) trazem informações explícitas sobre a presença do glúten.
b) oferecem várias opções de sabor para esses consumidores.
c) classificam o produto como adequado para o consumidor celíaco.
d) influenciam o consumo de alimentos especiais para esses consumidores.
e) variam na forma de apresentação de informações relevantes para esse público.

7 (Enem)
H5
As narrativas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de transmissão oral (sejam as histórias
H7 verdadeiras dos seus antepassados, dos fatos e guerras recentes ou antigos; sejam as histórias de ficção, como aquelas
da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da América do Sul” (o que
exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos,
sejam alfabéticos (como a escrita do português), sejam ideogramáticos (como a escrita dos chineses) ou outros.
Somente nas sociedades indígenas com estratificação social (ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas
e os maias, é que surgiu algum tipo de escrita. A história da escrita parece mesmo mostrar claramente isso: que ela
surge e se desenvolve – em qualquer das formas – apenas em sociedades estratificadas (sumérios, egípcios, chineses,
gregos etc.). O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas
garantiram a conservação e continuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das
narrativas que sua tradição criou, através da transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmitiram e se
desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que domesticaram plantas silvestres e,
muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras
mais (e também as desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades diferen-
tes em toda a América).
D’ANGELIS, W. R. Hist—rias dos ’ndios l‡ em casa: narrativas indígenas e tradição oral popular no Brasil.
Disponível em: <www.portalkaingang.org>. Acesso em: 5 dez. 2012.

A escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes objetivos. O fragmento aponta que, nas sociedades indígenas
brasileiras, a oralidade possibilitou
a) a conservação e a valorização dos grupos detentores de certos saberes.
b) a preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos.
c) a manutenção e a reprodução dos modelos estratificados de organização social.
d) a restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades.
e) o reconhecimento e a legitimação da importância da fala como meio de comunicação.

28 O ser humano gera e é gerado por linguagens


8 Todos sabem da importância que tem a escrita para a humanidade – desde sua utilidade em registrar fatos e acontecimen-
tos, leis, tradições e as mais diversas atividades sociais, até a sua relevância para estimular novas formas de organização e
H5
expressão do pensamento.
Uma invenção importantíssima para a humanidade foi a da máquina de impressão tipográfica feita pelo alemão Johann
Gutenberg no século XV. Leia o texto a seguir, que explica resumidamente essa invenção.

Durante milênios a escrita restringia-se a modos de réplica muito limitados, como as tabuinhas com escrita cunei-
forme dos povos sumérios, os papiros egípcios, os ideogramas chineses, entre outras variadas formas de reprodução,
cujo acesso era restrito a pequenos grupos de pessoas, geralmente escribas. Apenas com a invenção de
Gutenberg a propagação de livros, como a Bíblia – o primeiro dos livros inteiros publicados pela técnica da imprensa
–, passou a ficar intensa. Isso se dava, fundamentalmente, em razão da facilidade que havia na reprodução dos textos.
Não era necessário copiar à mão palavra por palavra como se fazia até então. Fazia-se um molde com os caracteres
móveis e, a partir dele, imprimiam-se quantas cópias o estoque de tinta à base de óleo suportasse. O nome que passou
a ser dado ao conjunto de papéis impressos em caracteres móveis foi códice, do latim codex.
INVENÇÃO DA IMPRENSA. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/invencao-imprensa.htm>. Acesso em: dez. 2019.

Com base no que você já sabe sobre a importância da escrita e da reprodução do texto, possibilitada pela invenção da impres-
são tipográfica, demonstre seu entendimento, em uma breve redação, do significado que tem a distribuição de informações em
larga escala para a construção do conhecimento.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

O ser humano gera e é gerado por linguagens 29


FAÇA VOCÊ MESMO
1 (Fuvest-SP) Examine o anúncio e leia o texto. 2 Faça uma pesquisa na internet: busque em sites de pesqui-
sa a obra Isto não é um cachimbo (Ceci n'est pas une Pipe, em
H5 H5 francês), do artista surrealista belga René Magritte. Depois

FUVEST 2019
de observar a obra, que relação você consegue estabelecer
H8 H15
entre o significante da pintura (aquilo que está retratado e
H9 1
H escrito) e o significado (aquilo que entendemos, o que nos
2
faz remeter a algo que conhecemos)? Compartilhe suas im-
pressões com os colegas e, juntos, produzam um texto que
sintetize o entendimento que tiveram da obra.

MinistŽrio Pœblico do Trabalho

Art. 149 Reduzir alguém a condição análoga à de


escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições de-
gradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída
com o empregador ou preposto: Pena – reclusão, de
dois a oito anos, e multa, além da pena corresponden-
te à violência.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/2003/L10.803.htm>.

a) Explique a relação de sentido entre os trechos (I) “Escra-


vidão no Brasil não é analogia” e (II) “Reduzir alguém a
condição análoga à de escravo”.

b) Qual a relação entre o uso da imagem sobre um fundo


escuro e o texto do anúncio?

30 O ser humano gera e é gerado por linguagens


ORIGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA
Estima-se que sejam mais de 270 milhões de falantes do português em todo o planeta. Como
podemos ver no mapa, a língua portuguesa é o idioma oficial nos seguintes países: Brasil, Cabo Verde,
Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor Leste, além de, claro, Portugal.
Em Macau (aproximadamente 670 mil habitantes), na China, e na Guiné Equatorial (aproximada-
mente 930 mil habitantes), o português convive com outros idiomas oficiais.

Países onde se fala a língua portuguesa e quantidade de falantes por país

LAB212
Portugal
10,5 milhões

Cabo Verde
415 mil

Timor Leste
800 mil
Guiné-Bissau
1,4 milhão

São Tomé Moçambique


e Príncipe 18,8 milhões
182 mil
Brasil Angola
185 milhões 10,9 milhões
Adaptado de: Países onde se fala a língua portuguesa e quantidade de falantes por país. Countrymeters.
Disponível em: <https://countrymeters.info/pt/Sao_Tome_and_Principe>. Acesso em: 4 jan. 2020.

O português, como sabemos, é uma língua neolatina, ou seja, tem origem no latim, idioma
falado pelos conquistadores da região da Península Ibérica, onde se situa o atual território português.
Enquanto as pessoas cultas falavam o chamado latim clássico, normatizado pela gramática e, por-
tanto, de acordo com a escrita, as camadas mais populares usavam o latim vulgar, mais coloquial

YUI/SHUTTERSTOCK

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


e menos rígido em relação às normas. Foi dessa versão que surgiu o português que hoje falamos.
Entretanto, a formação de um idioma pressupõe outras contribuições, pois não se mantém exata-
mente como surgiu. Para entendermos essa construção, é preciso saber um pouco mais da história.
O primeiro desembarque romano na Península Ibérica ocorreu por volta do ano 219 a.C. Porém,
a região foi constantemente invadida por povos considerados “bárbaros” (não romanos). Mesmo
com a expansão do Império Romano no século III d.C., as invasões continuavam. A cada nova invasão,
destruía-se a organização política e administrativa dos romanos. No entanto, domínio político não é
o mesmo que domínio cultural. A língua dos dominadores ia sofrendo alterações à medida que eles
iam convivendo com o povo submetido.
Assim, povos como os germânicos também contribuíram para dar contornos à nova língua
que se formava a partir do latim vulgar. No século VIII, por exemplo, os árabes foram outro povo
que contribuiu para essa constituição linguística, especialmente no que se refere ao aspecto lexical.
O domínio muçulmano durou séculos, variando de acordo com a região, mais concentrado no sul
da península. No norte refugiavam-se os cristãos, que, descontentes, organizaram o que se chamou
a “luta da reconquista”, que seria a retomada dos territórios ocupados pelos árabes. Com a expulsão
dos árabes, o idioma falado no Condado da Galiza, ao norte, foi se estendendo para o sul e se con-
solidando também no Condado Portucalense, que deu origem a Portugal. Emblema do Império Romano. A sigla
Provavelmente a oficialização da língua portuguesa aconteceu por volta do século XIII. Docu- inscrita no brasão SPQR vem do latim
Senatus Populus Que Romanus, que em
mentos importantes atestam isso, como o assinado por D. Dinis, rei de Portugal, decretando que o português significa: o Senado e o Povo
português seria empregado nos papéis administrativos do reino em lugar do latim. Romano.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 31


Estima-se que o português tenha surgido entre os séculos IX e XII. Existem documentos escri-
tos em português datados do século XIII, como o Testamento de Afonso II. Foi nesse século que
D. Dinis, rei de Portugal, oficializou o português como a língua que deveria ser usada em todos os
documentos administrativos do reino, em detrimento do latim. Passa, assim, a haver um português
historicamente documentado.
A partir de então, é possível acompanhar a evolução do idioma. Parte de um português arcaico,
em que se inclui o galego-português, e passa pelo português moderno, do século XV até o início do
século XVII, quando começa a versão contemporânea dos dias atuais.
Com a expansão marítima, a língua portuguesa é levada às colônias, entre elas o Brasil. Foi assim
que, em abril de 1500, começa nossa história como falantes deste que está entre os dez idiomas mais
falados no mundo.
Finalmente, é importante ressaltar que, da mesma forma que o português falado em Portugal foi
se construindo ao longo da história, o mesmo se deu com o do Brasil. As línguas indígenas se enfraque-
ceram (muitas, inclusive, desapareceram) com a catequização imposta pelos jesuítas portugueses. O
mesmo ocorreu com as línguas faladas pelos escravizados de diversas regiões do continente africano,
vítimas do tráfico que aqui vigorou do século XVI ao XIX, e com as línguas dos imigrantes que aqui
chegaram ao longo da história. Influências de todas essas línguas determinaram o nosso falar.
O mais interessante de tudo isso é que esse processo não terminou. A língua é viva e vai se
transformando e se refazendo a cada dia.

A EXPANSÃO DO USO DA LÍNGUA INGLESA


Acabamos de estudar as origens da língua portuguesa. Muito interessante, não é mesmo?
Mas você conhece a história da língua inglesa? Se não conhece, prepare-se para descobrir coisas
que você nem tinha imaginado sobre o inglês, como... calma, nada de spoiler, ok? Vamos ler os
textos I e II a seguir para aprender um pouco sobre como a influência do inglês vem crescendo
ao longo dos anos.

Text I
Antes de ler o texto, faça as atividades a seguir:
1. Você conhece as origens da língua inglesa? Por que você acredita que é importante estudar
inglês atualmente? Converse com os colegas e com o professor. Anote as suas ideias a seguir.

2. Escolha a definição correspondente às palavras a seguir:


a) ( ) scholars I. palavras emprestadas de outra língua
b) ( ) loanwords II. colocar uma coisa no lugar de outra, substituir
c) ( ) ancestry III. absorver algo
d) ( ) replace IV. algo ancestral, de antiga linhagem
e) ( ) readily V. algo que foi entendido
f) ( ) absorb VI. estudiosos, intelectuais, acadêmicos
g) ( ) understood VII. maneira de fazer algo rapidamente, prontamente

32 O ser humano gera e é gerado por linguagens


Five Events that Shaped the History of English GLOSSARY
Philip Durkin, Principal Etymologist at the Oxford English Dictionary, chooses five 1. Settlement:
events that shaped the English Language. ocupação.
2. To pinpoint:
The Anglo-Saxon Settlement1
detalhar.
It's never easy to pinpoint2 exactly when a specific language began, but in the case 3. Fairly:
of English we can at least say that there is little sense in speaking of the English language razoavelmente.
as a separate entity before the Anglo-Saxons came to Britain. Little is known of this period 4. Underlying:
with any certainty, but we do know that Germanic invaders came and settled in Britain subjacente.
from the north-western coastline of continental Europe in the fifth and sixth centuries. 5. Norsemen:
The invaders all spoke a language that was Germanic (related to what emerged as Dutch, nórdicos.
Frisian, German and the Scandinavian languages, and to Gothic), but we'll probably never 6. To borrow:
know how different their speech was from that of their continental neighbours. However pegar emprestado.
it is fairly3 certain that many of the settlers would have spoken in exactly the same way 7. Resemblances:
as some of their north European neighbours, and that not all of the settlers would have semelhança.
spoken in the same way. 8. Upheaval:
The reason that we know so little about the linguistic situation in this period is reviravolta.
because we do not have much in the way of written records from any of the Germanic 9. To witness:
languages of north-western Europe until several centuries later. When Old English writings testemunhar.
begin to appear in the seventh, eighth, and ninth centuries there is a good deal of regional 10. Inflectional:
variation, but not substantially more than that found in later periods. This was the flexional.
language that Alfred the Great referred to as ‘English’ in the ninth century.
The Celts were already resident in Britain when the Anglo-Saxons arrived, but there
are few obvious traces of their language in English today. Some scholars have suggested
that the Celtic tongue might have had an underlying4 influence on the grammatical
development of English, particularly in some parts of the country, but this is highly
speculative. The number of loanwords known for certain to have entered Old English from
this source is very small.
The Scandinavian Settlements
The next invaders were the Norsemen5. From the middle of the ninth century large
numbers of Norse invaders settled in Britain, particularly in northern and eastern areas,
and in the eleventh century the whole of England had a Danish king, Canute. The distinct
North Germanic speech of the Norsemen had great influence on English, most obviously
seen in the words that English has borrowed6 from this source. These include some very
basic words such as take and even grammatical words such as they. The common Germanic

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


base of the two languages meant that there were still many similarities between Old
English and the language of the invaders. Some words, for example give, perhaps show a
kind of hybridization with some spellings going back to Old English and others being
Norse in origin. However, the resemblances7 between the two languages are so great that
in many cases it is impossible to be sure of the exact ancestry of a particular word or
spelling. However, much of the influence of Norse, including the vast majority of the
loanwords, does not appear in written English until after the next great historical and
cultural upheaval8, the Norman Conquest.
1066 and after
The centuries after the Norman Conquest witnessed9 enormous changes in the
English language. In the course of what is called the Middle English period, the fairly rich
inflectional10 system of Old English broke down. It was replaced by what is broadly
speaking, the same system English has today, which unlike Old English makes very little
use of distinctive word endings in the grammar of the language. The vocabulary of English
also changed enormously, with tremendous numbers of borrowings from French and
Latin, in addition to the Scandinavian loanwords already mentioned, which were slowly
starting to appear in the written language. Old English, like German today, showed a
tendency to find native equivalents for foreign words and phrases (although both Old

O ser humano gera e é gerado por linguagens 33


GLOSSARY English and modern German show plenty of loanwords), whereas Middle English acquired
the habit that modern English retains today of readily accommodating foreign words.
11. To flick:
Trilingualism in English, French, and Latin was common in the worlds of business and
folhear.
12. Steady:
the professions, with words crossing over from one language to another with ease. You
only have to flick11 through the etymologies of any English dictionary to get an impression
estável.
13. Widely: of the huge number of words entering English from French and Latin during the later
largamente, amplamente.
medieval period. This trend was set to continue into the early modern period with the
14. Amongst: explosion of interest in the writings of the ancient world.
entre, no meio de. Standardization
15. Iacking: The late medieval and early modern periods saw a fairly steady12 process of
sem, deficiente (de algo). standardization in English south of the Scottish border. The written and spoken language of
16. Spread: London continued to evolve and gradually began to have a greater influence in the country
expansão, difusão. at large. For most of the Middle English period a dialect was simply what was spoken in a
17. Throughout: particular area, which would normally be more or less represented in writing – although
por todo(a). where and from whom the writer had learnt how to write were also important. It was only
18. Onwards: when the broadly London standard began to dominate, especially through the new technology
em diante. of printing, that the other regional varieties of the language began to be seen as different in
kind. As the London standard became used more widely13, especially in more formal contexts
and particularly amongst14 the more elevated members of society, the other regional varieties
came to be stigmatized, as lacking15 social prestige and indicating a lack of education.
In the same period a series of changes also occurred in English pronunciation (though
not uniformly in all dialects), which go under the collective name of the Great Vowel Shift.
These were purely linguistic ‘sound changes’ which occur in every language in every
period of history.
Colonization and Globalization
During the medieval and early modern periods the influence of English spread16
throughout17 the British Isles, and from the early seventeenth century onwards18 its
influence began to be felt throughout the world. The complex processes of exploration,
colonization and overseas trade that characterized Britain’s external relations for several
centuries led to significant change in English. Words were absorbed from all over the
world, often via the languages of other trading and imperial nations such as Spain, Portugal
and the Netherlands. At the same time, new varieties of English emerged, each with their
own nuances of vocabulary and grammar and their own distinct pronunciations. More
recently still, English has become a lingua franca, a global language, regularly used and
understood by many nations for whom English is not their first language. The eventual
effects on the English language of both of these developments can only be guessed at today,
but there can be little doubt that they will be as important as anything that has happened
to English in the past sixteen hundred years.
FIVE Events that Shaped the History of English. Lexico.
Disponível em: <https://www.lexico.com/en/grammar/the-history-of-english>. Acesso em: nov. 2019.

Text II
Antes de ler o texto, faça a atividade a seguir.
1. Escolha a definição correspondente às palavras a seguir:
a) ( ) recognize I. preocupação
b) ( ) earlier II. reconhecer
c) ( ) overwhelmed III. de forma desajeitada
d) ( ) clumsily IV. mais cedo, antes
e) ( ) concern V. embora, ainda que, mesmo que
f) ( ) though VI. sobrecarregado

34 O ser humano gera e é gerado por linguagens


So English is Taking Over the Globe. So What. GLOSSARY
When its president proposed last month to ban1 English words like “helicopter,” 1. To ban:
“chat” and “pizza”, Iran became the latest2 country to try to fight the spread of English as vetar, proibir.
a de facto global language. 2. Latest:
But with interest in English around the world growing stronger, not weaker — último, mais recente.
stoked3 by American cultural influences and advertising, the increasing numbers of young 3. Stoked:
people in developing countries and the spread of the Internet, among other factors — alimentado, estimulado.
4. To embrace:
there are some linguists and others who say: why fight it? Instead, the argument goes,
acolher, aceitar.
English, particularly the simpler form of the language used by most nonnative speakers,
5. Tide:
should be embraced4.
maré, onda.
“It’s a lost cause to try to fight against the tide5,” said Jacques Lévy, who studies 6. To acknowledge:
globalism at the Swiss Federal Institute of Technology in Lausanne and is a native French- reconhecer, admitir.
-speaker. English, he added, is just the latest in a line of global tongues. “It could have 7. Retired:
been another language; it was Greek, then Latin, French, now it is English.” aposentado.
In a report for the British Council, a government body that promotes English culture 8. Grating:
around the world, the linguist David Graddol cites figures saying that 500 million to a irritante.
billion people speak English now, as either a first or second language. 9. To aim:
Under a plan he calls the World English Project, countries would recognize the almejar, mirar.
advantage of English as a global tool and introduce English instruction earlier in schools. 10. To convey:
As a result, he writes, there could be “two billion new speakers of English within a decade.” expressar, transmitir.
11. To deal:
But the danger is that proper English will be overwhelmed by the English of nonnative
lidar.
speakers, he acknowledged6. “This is not English as we have known it, and have taught
it in the past as a foreign language,” he wrote. “It is a new phenomenon, and if it represents
any kind of triumph it is probably not a cause of celebration by native speakers.” [...]
Jean-Paul Nerrière, a retired7 vice president of I.B.M., calls his proposal Globish. It
uses a limited vocabulary of 1,500 words, taken from the Voice of America, among other
sources, which can be put together clumsily to express more complicated thoughts. Little
concern is given to the complexities of grammar, and he proposes that speakers of Globish
say the same thing in different ways to make up for difficulties in pronunciation.
The typical conversation in Globish could be grating8 to a native speaker, but get the
job done between, say, a Kenyan and a Korean trying to navigate a business deal or asking
for help at the airport check-in. For nephew, there is “son of my brother/sister”; kitchen
is “room in which you cook your food”; chat is “speak casually to each other.” Pizza is

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


pizza, however, since Globish considers it to be an international term, like taxi or police.
“Globish is not a language, it will never have a literature, it does not aim9 at
conveying10 a culture, values,” Mr. Nerrière wrote in an e-mail message. “Globish is just
a tool, practical, efficient, limited on purpose.” [...]
As the world learns to deal11 with the domination of English, whether through
Globish or the more-intensive language training proposed by the British Council report, it
is native English speakers who could be in need of extra preparation. Though English
fluency can seem like the key to the kingdom today, in the future, if there are two billion
people who can speak English, the English speaker without knowledge of another
language will be at a disadvantage.
Mr. Lévy, who reviewed Globish for an online journal, said he liked its idea of
reminding native English speakers that they cannot assume that the entire world is as
fluent as they are. “The global English world is not a world where Anglophone people
speak the same as they would at home,” he said. “We have to force native English speakers
to limit the use of these tools.”
COHENAUG, Noam, 2006. The New York Times. Disponível em: <https://www.nytimes.com/
2006/08/06/weekinreview/06cohen.html?mtrref=www.google.com&assetType=REGIWALL>.
Acesso em: nov. 2019.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 35


PARA CONSTRUIR
1 Como a história da língua inglesa é contada no text I?
H25

2 De acordo com o text I, quais as principais características da época da dominação normanda em território inglês que contribuíram
para a formação e evolução da língua inglesa na época?
H25

3 No text I, temos a ideia de loanwords (palavras emprestadas de outras línguas). Quando temos palavras em uma língua que são
muito parecidas com palavras existentes em outras línguas, ocorre o que se chama de cognato. Por exemplo: em inglês, a palavra
H25
“organization” lembra muito a palavra “organização”, em português – e elas compartilham o mesmo significado. Releia o texto e
transcreva os cognatos que encontrar no primeiro parágrafo.

4 Considere como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações sobre a expansão da língua inglesa retiradas do text II:
H25 a) ( ) O Irã foi um dos últimos países a desistirem de tentar lutar para que a língua inglesa não se tornasse uma língua global
de fato.
b) ( ) A influência cultural dos Estados Unidos é um dos fatores que contribuem para aumentar o interesse pela língua inglesa
no mundo.
c) ( ) A internet não figura entre os fatores que influenciam o aumento do interesse das pessoas pela língua inglesa.
d) ( ) A língua inglesa, em especial a vertente usada pela maioria das pessoas que não têm o inglês como língua nativa, deve
ser abandonada.
e) ( ) Assim como o grego, o latim, o francês foram línguas globais um dia, hoje essa posição é ocupada pelo inglês.
5 No text II, Jean-Paul Nerrière aborda a questão do “Globish”. Descreva a que se refere esse termo.
H25

36 O ser humano gera e é gerado por linguagens


FAÇA VOCÊ MESMO
1 Os dois textos aqui trabalhados mencionam a língua inglesa como sendo uma “língua franca”. Você já ouviu essa expressão an-
tes? O que significa? Se ainda não a conhece, pesquise rapidamente na internet (em textos e vídeos) e discuta com os colegas
H21
quais são as razões mais relevantes para que o inglês seja considerado como a língua franca atual.

2 Leia o texto a seguir, que trata do Dia da Língua Inglesa. Depois, responda a algumas perguntas sobre ele.
H25
What is English Language Day?
English Language Day was first celebrated in 2010, alongside1 Arabic Language Day, Chinese Language Day, French
Language Day, Russian Language Day and Spanish Language Day. These are the six official languages of the United Nations,
and each has a special day, designed to raise awareness2 of the history, culture and achievements3 of these languages.
Why is English Language Day celebrated on 23 April?

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


This day was chosen because it is thought to be Shakespeare's birthday, and the anniversary of his death. As well
as being the English language's most famous playwright4, Shakespeare also had a huge impact on modern-day English.
At the time he was writing, in the 16th and 17th centuries, the English language was going through a lot of changes and
Shakespeare's creativity with language meant he contributed hundreds of new words and phrases that are still used
today. For example, the words 'gossip', 'fashionable' and 'lonely' were all first used by Shakespeare. He also invented
phrases like 'break the ice', 'all our yesterdays', 'faint-hearted' and 'love is blind'. Can you guess what they mean?
The origins of English
The story of the English language began in the fifth century when Germanic tribes invaded Celtic-speaking Britain
and brought their languages with them. Later, Scandinavian Vikings invaded and settled5 with their languages too.
In 1066 William I, from modern-day France, became king, and Norman-French became the language of the courts
and official activity. People couldn’t understand each other at first, because the lower classes continued to use English
while the upper classes spoke French, but gradually French began to influence English. An estimated 45 per cent of
all English words have a French origin. By Shakespeare's time, Modern English had developed, printing had been
invented and people had to start to agree on 'correct' spelling and vocabulary.

GLOSSARY
1. Alongside: 2. Traise awareness: 3. Achievement: 4. Playwright:
ao lado de. conscientizar, sensibilizar. conquista. dramaturgo.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 37


The spread of English
The spread of English all over the world has an ugly history but a rich and vibrant present. During the European
colonial period, several European countries, including England, competed to expand their empires. They stole land,
labour and resources from people across Africa, Asia, the Americas and Oceania. By the time former British colonies
began to gain independence in the mid-20th century, English had become established6 in their institutions. Many
brilliant writers from diverse places across Africa, the Caribbean and Asia had started writing in English, telling their
stories of oppression. People from all over the world were using English to talk and write about justice, equality,
freedom and identity from their own perspectives. The different varieties of English created through this history of
migration and colonisation are known as World Englishes.
International English
More than 1.75 billion people speak English worldwide7 – that's around 1 in 4 people around the world. English
is being used more and more as a way for two speakers with different first languages to communicate with each other, as
a 'lingua franca'. For many people, the need to

ARNIKA GANTEN/SHUTTERSTOCK
communicate is much more important than the need to
sound like a native speaker. As a result, language use is
starting to change. For example, speakers might not use
'a' or 'the' in front of nouns, or they might make
uncountable nouns plural and say 'informations',
'furnitures' or 'co-operations'.
Are these variations mistakes? Or part of the natural
evolution of different Englishes? 'International English'
refers to the English that is used and developed by everyone
in the world, and doesn't just belong to native speakers.
There is a lot of debate about whether International English
should be standardised8 and, if so, how. What do you
think? If you're reading this, English is your language too.
Placa no município de Vitória (ES).
Com a globalização e a expansão do turismo internacional, o inglês tem BRITISH COUNCIL, 2019. Disponível em: <https://learnenglish.
sido usado cada vez mais como língua franca. britishcouncil.org/magazine/english-language-day>. Acesso em: nov. 2019.

GLOSSARY
5. To settle: 6. Established: 7. Worldwide: 8. To standardise:
assentar, ocupar. estabelecido, firmado. mundial. padronizar.

Além da língua inglesa, outras cinco línguas oficiais das Nações Unidas recebem um dia especial para sua comemoração. Qual
é o objetivo dessas datas comemorativas?

3 Faça uma breve pesquisa na internet e marque quais das seguintes frases e/ou expressões, traduzidas para o português, são de
autoria de William Shakespeare.
H25
( ) “O que está feito está feito”.
( ) “Conhece-te a ti mesmo”.
( ) “Quebrar o gelo”.
( ) “O amor é cego”.
( ) “Só sei que nada sei”.
( ) “Penso, logo existo”.
( ) “Aconteça o que acontecer”.

38 O ser humano gera e é gerado por linguagens


4 De acordo com o texto, qual é a importância do dramaturgo William Shakespeare para a língua inglesa?
H25

5 De acordo com o texto, o que se pode afirmar sobre o uso do inglês como língua franca?
H25 a) A necessidade de se comunicar é mais importante do que a necessidade de parecer um falante nativo.
b) Um terço da população mundial utiliza o inglês como língua franca.
c) O uso cada vez maior do inglês não está afetando a língua.
d) As pessoas continuam a fazer o uso correto de estruturas, como os substantivos incontáveis, que nunca vão para o plural.

6 O que é o "inglês internacional" segundo o texto?


H25 a) É um dos termos usados para designar o inglês como "língua franca".
b) É a variante da língua inglesa que os nativos utilizam quando se comunicam com não nativos da língua.
c) Refere-se ao inglês que é usado e desenvolvido por todas as pessoas do mundo, não apenas pelos nativos do idioma.
d) É a forma padronizada de inglês que existe hoje no mundo globalizado.

TEXTOS LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS


À medida que conhecemos a origem da nossa língua, vamos também nos preparando para
outras reflexões que envolvem estudo das linguagens, como o uso artístico do idioma. Nesse caso,
estamos falando da literatura.
Grosso modo, podemos dizer que a literatura é a arte da palavra. Assim como a música se vale
dos sons e a pintura das linhas do traçado e das cores, a literatura diz por meio das palavras.
Ora, o fazer artístico tem um pressuposto estético. A linguagem literária também tem um caráter
estético, de elegância, com diferentes características, como um vocabulário selecionado e geralmente
certo rigor com relação às normas prescritas pela gramática. É claro que nem tudo o que se escreve PARA AMPLIAR
tem como objetivo a beleza. Na maior parte das vezes, é bem provável que escrevamos apenas para
nos comunicar. A linguagem literária também nos
desperta sentimentos e de refle-
Muitos podem pensar que apenas os poemas são textos literários, mas essa sentença não é
xões sobre determinados assuntos.
verdadeira. Isso significaria dizer que romances, contos e crônicas, ou seja, todos os textos escritos
Muitos autores contemporâneos
em prosa (em parágrafos) e não em versos não visam também à beleza.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


tem usado a linguagem da poesia
Há bons exemplos de textos não literários: notícias, textos técnicos, relatórios, editoriais. Por para promover discussões sobre
outro lado, são textos literários: poemas, contos, crônicas, romances, novelas, letras de canções. temas importantes do universo
Para melhor esclarecer essas diferenças, observe o quadro comparativo que caracteriza os dois atual, como as desigualdades so-
tipos de textos. cioeconômicas, raciais e de gênero,
entre outros temas. Que tal conhe-
cer alguns desses autores? Veja as
TEXTOS LITERÁRIOS TEXTOS NÃO LITERÁRIOS indicações de livros a seguir.
Visam à beleza. Visam à comunicação. Flores de Alvenaria, de Sérgio
Vaz. São Paulo: Global, 2016.
São subjetivos. São objetivos. Fundador da Cooperativa Cultural
da Periferia (Cooperifa), em São
Usam linguagem figurada. Usam linguagem precisa. Paulo, Sergio Vaz inspira sua poe-
sia na experiência de vida nas pe-
Caracterizam-se pela inexatidão. Caracterizam-se pela exatidão. riferias urbanas.
São feitos para impressionar (agradar ou não). São feitos para informar. Tudo nela brilha e queima, de
Ryane Leão. São Paulo: Planeta,
Permitem múltiplas interpretações. Permitem apenas uma interpretação. 2017. As poesias de Ryane Leão
refletem a sua atuação em defesa
Têm sentido conotativo. Têm sentido denotativo. das mulheres negras, como ela.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 39


Veja a seguir trechos de dois textos com abordagens de aspectos de textos literários e de textos
não literários e que tratam do mesmo assunto: tecnologia. Leia-os com atenção e tente distinguir
um do outro.

Texto I

Tecnologia
Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gen-
te olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos
desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que
você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa.
Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao
modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse
ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhu-
ma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como
aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você
o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz “Errado”. Não diz “Burro”, mas
está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim,
para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e
meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.” “O burro errou!” [...]
Veríssimo, Luis Fernando. Tecnologia. Pensador. Disponível em:
<https://www.pensador.com/textos_de_luis_fernando_verissimo/>. Acesso em: nov. 2019.

Texto II

[...] Contrariando prognósticos de que a tecnologia apenas ajudaria a multiplicar


informações e o círculo de amizades, muitas crianças e adolescentes nunca estiveram
tão desconectados do mundo. Parecem hipnotizados por seus aparelhos móveis, per-
dendo a vontade de estudar, de brincar ao ar livre e até de conversar entre si e com os
familiares, sem intermediação das telas. [...] Segundo estudiosos, muitos jovens já apre-
sentam sintomas de vício em eletrônicos, como a queda no rendimento escolar, a insô-
nia e o nervosismo sem causa aparente.
[...] “A internet está se transformando em arma perigosa contra os meninos”, afirma
a pediatra Evelyn Eisenstein, de São Paulo, que assina o livro Vivendo esse mundo di-
gital, em parceria com o professor da USP Cristiano Nabuco.
Segundo ela, os jovens dão sinais da dependência da tecnologia. “Se a criança co-
meça a ficar isolada ou apática, tem queda no rendimento escolar ou muda repentina-
mente de humor, é melhor ligar o botão de alerta”, diz a pediatra, que recomenda
equilibrar as horas de computador com as de esporte e lazer ao ar livre. [...]
MACEDO, Jorge. Exagero de tecnologia deixa crianças e adolescentes desconectados do mundo real.
Estado de Minas. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/05/25/
interna_gerais,532336/exagero-de-tecnologia-deixa-criancas-e-adolescentes-desconectados-do-mundo-real.shtml>.
Acesso em: nov. 2019.

Naturalmente, você deve ter concluído que há diferenças entre um texto e outro. Embora
ambos tratem do uso do computador, podemos dizer que têm sobre o leitor o mesmo impacto?
Algum deles pode ser considerado literário? Qual? Por quê?
Considerando os diferentes tipos de leitor, é possível deduzir que muitos podem se iden-
tificar com uma ou outra abordagem, mas isso nos autoriza a dizer que um texto é melhor do
que outro?

40 O ser humano gera e é gerado por linguagens


PARA CONSTRUIR
Leia o texto a seguir para responder à questão seguinte.

IRINA ALEXANDROVNA/SHUTTERSTOCK
História da fotografia artística
A fotografia oficialmente surgiu no século XIX, embora seja com-
provado que a sua história começa na Idade Antiga. Da sua invenção
oficial até hoje, a fotografia como forma de arte ainda é questionada.
Em meados de 1840, a fotografia era vista apenas como uma téc-
nica de documentação. Entretanto, surgiram aqueles que discordavam
com tal limitação e começaram a misturar a arte com a fotografia.
Considerado o pai da fotografia artística, Oscar Gustav Rejlander
(1813-1875) foi um dos primeiros a expor o seu trabalho fotográfico ao
lado de pinturas e esculturas artísticas.
A foto nomeada como “Os dois caminhos da vida” foi o resultado da
composição de 30 negativos, e fez tanto sucesso que foi comprada pela Rainha Victoria.
Entretanto, foi o movimento pictorialista que abriu os olhos do mundo para a arte fotográfica. O pictorialismo se
espalhou pela França, Estados Unidos e Inglaterra entre 1890 e 1920, defendendo a fotografia como expressão de arte.
Um dos grandes nomes do movimento foi Alfred Stieglitz (1864-1946), conhecido por atuar como fotógrafo e
editor do principal periódico sobre fotografia da época, o Camera Work.
Com sua influência, Stieglitz levou a fotografia à discussão e se transformou em um dos principais representantes
do pictorialismo.
O pós-modernismo dos anos 60 abriu um espaço ainda maior para a fotografia artística, permitindo que ela
fosse finalmente considerada como uma forma de expressão e representação cultural.
FOTOGRAFIA artística: dicas para fotos com arte e emoção. Fotografia Mais.
Disponível em: <https://fotografiamais.com.br/fotografia-artistica/>. Acesso em: nov. 2019.

1 Considerando as características dos textos literários e não literários, como você classificaria o texto lido? Por quê?
H7

H8

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


FAÇA VOCÊ MESMO
1 O texto analisado na seção anterior é um trecho de uma postagem publicada em um site especializado. Como sabemos, a fotogra-
H9 fia constitui também uma linguagem que pode transmitir informações isoladamente ou aparecer associada à linguagem verbal,
H5 como acontece em jornais e revistas. Assim, por ser também um texto (não verbal), ela pode ser artística ou não. Tendo em vista
H15 as características do texto literário (artístico) e não literário (informativo), sua tarefa será escolher um tema e expressá-lo por meio
H7 de, ao menos, duas fotos diferentes: uma que tenha um caráter informativo e outra subjetiva (criativa). No sentido de reforçar as
H21 diferenças entre as imagens, use legendas. Para fundamentar teoricamente seu trabalho, faça uma pesquisa sobre o assunto.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 41


UMA LITERATURA LUSÓFONA
Antes de partirmos para o estudo da literatura luso-brasileira, precisamos lembrar que toda arte,
como expressão de um povo, está diretamente relacionada ao contexto histórico-sócio-político-cultural
de uma nação.
Observe o quadro a seguir, que dá um panorama da literatura lusófona.

Quadro Literatura Brasileira

Escola literária/ Contexto


Era Características Autores e obras
século (ano) histórico-sociocultural
Cartas de Pero Vaz de Caminha; Pero de
Quinhentismo ou
Textos informativos (cartas); crônicas de viagens; literatura Magalhães Gândavo; Pero Lopes de Sousa;
Literatura de “Achamento” do Brasil;
de catequese; descritivismo; primeiros autos, poemas e Gabriel Soares e Poemas de padre José
informação Catequese dos indígenas
canções (em geral de temas religiosos) de Anchieta; padre Manuel da Nóbrega;
Século XVI
Fernão Cardim e frei Vicente de Salvador
Ciclo da cana-de-açúcar; Modelos literários luso-espanhóis; dualismo; oposição
Seiscentismo ou início da colonização; entre Deus e o homem; textos rebuscados; exagero;
padre Antônio Vieira e Gregório de Matos
Barroco publicação de emoção desequilibrada; antíteses; paradoxos; simbologia;
Guerra (o Boca de inferno)
Século XVII (1601) Prosopopeia, de Bento sensorialismo; efemeridade; cultismo (culto da forma/
Teixeira descrição); conceptismo (jogo de ideias/argumentação)
Sinais de brasilidade nos textos; retomada de valores
clássicos; fuga da cidade e da sociedade, bucolismo; lugar
Setecentismo/ Ciclo do ouro; Inconfidên- Poemas de Cláudio Manuel da Costa:
ameno e simples para se viver; uso de pseudônimos de
Arcadismo/ cia Mineira; publicação de Tomás Antônio Gonzaga; Alvarenga
pastores gregos; superficialidade dos sentimentos;
Neoclassicismo Obras poéticas, de Cláudio Peixoto: Silva Alvarenga; Basílio da Gama
poetas-pastores em busca de equilíbrio; afastamento do
Século XVIII (1768) Manuel da Costa e frei José de Santa Rita Durão
exagero e do supérfluo; simplicidade na temática e na
forma; carpe diem; antropocentrismo; poesia épica
Poesia: Gonçalves Dias, Álvares de
Era Colonial Nacionalismo; indianismo; ¨mal do século”;
Azevedo; Casemiro de Abreu; Fagundes
ultrarromantismo; condoreirismo; lutas sociais;
Brasil pós-independência; Varela; Junqueira Freire; Castro Alves;
predomínio da emoção sobre a razão; subjetivismo; evasão
Romantismo publicação de Suspiros Sousândrade.
(sonho, imaginação, memória); liberdade formal;
Século XIX (1836) poéticos e saudades, de Prosa: José de Alencar; Joaquim Manuel
idealização; religiosidade; popularização da literatura;
Gonçalves de Magalhães de Macedo; Visconde de Taunay; Bernardo
surgimento dos romances; folhetins; egocentrismo;
Guimarães; Flanklin Távora; Manuel
valorização da natureza; noturnidade
Antônio de Almeida
Observação da realidade; racionalismo; objetividade;
preocupação com o momento presente; descritivismo;
universalismo; crítica à burguesia; análise psicológica;
Publicação de Memórias
Realismo linguagem culta; denotação; crítica da realidade; Prosa (contos e romances):
póstumas de Brás Cubas,
Século XIX (1881) narrativa lenta; triângulos amorosos; desvalorização do Machado de Assis
de Machado de Assis
amor em nome de interesses pessoais; materialismo;
análise psicológica das personagens (esféricas);
romance documental
Negativismo; patologias sociais; determinismo; Prosa (romances): Aluísio Azevedo;
Naturalismo Publicação de O mulato, foco nas classes sociais populares; estética do feio; Raul Pompeia; Inglês de Sousa;
Século XIX (1881) de Aluísio Azevedo animalização; cientificismo; hereditariedade; romance; Adolfo Caminha; Domingos Olímpio;
tese experimental Manuel de Oliveira Paiva

42 O ser humano gera e é gerado por linguagens


Quadro Literatura Brasileira

Escola literária/ Contexto


Era Características Autores e obras
século (ano) histórico-sociocultural
“Arte pela arte”; valorização da forma; racionalismo;
equilíbrio; descritivismo; aproximação com artes Poesia: Olavo Bilac; Raimundo Correia;
Parnasianismo Publicação de Fanfarras,
plásticas (escultura, ourivesaria...); temas históricos; Alberto de Oliveira (a tríade parnasiana);
Século XIX (1882) de Teófilo Dias
mimesis (imitação de modelos clássicos); Vicente de Carvalho
sonetos; denotação
Retomada de valores românticos (sentimentalismo,
negativismo, pessimismo, religiosidade); simbologia;
conotação; musicalidade; sensorialismo (sinestesias);
Simbolismo Publicação de Missal e Poesia: Cruz e Sousa; Alphonsus de
misticismo; sonho; vocabulário litúrgico; imagens
Século XIX (1893) Broquéis, de Cruz e Sousa Guimaraens; Pedro Kilkerry
vagas, imprecisas e indefinidas; exploração do
universo interior do ser humano; temáticas da
loucura e da morte
Denúncia de problemas brasileiros; misto de
Prosa: Euclides da Cunha; Lima Barreto;
Pré-modernismo Publicação de Os sertões, linguagem conservadora e coloquial; presença
Monteiro Lobato; Graça Aranha
Século XX (1902) de Euclides da Cunha de determinismo; apresentação de dois Brasis:
Era Nacional Poesia: Augusto dos Anjos
um desenvolvido e outro esquecido
Mário de Andrade; Oswald de Andrade;
Manuel Bandeira; Antônio de Alcântara
Machado; Guilherme de Almeida,
“Ver com olhos livres” (lema); combate ao passadis- Raul Bopp; Cassiano Ricardo; Plínio
mo; busca do novo; liberdade de forma e conteúdo; Salgado; Carlos Drummond de Andrade;
uso do verso livre; linguagem coloquial; irreverência; Cecília Meireles; Vinicius de Moraes;
Modernismo e ataque à burguesia; pesquisa; nacionalismo; humor; Murilo Mendes; Jorge de Lima; Augusto
Pós-modernismo Semana de Arte Moderna paródias; poema-pílula; poema-piada; linguagem Frederico Schmidt; José Américo
Século XX (1922) cinematográfica; linguagem concisa, telegráfica; de Almeida; Rachel de Queiroz; Jorge
luta social; denúncia; experimentalismo; Amado; José Lins do Rego; Graciliano

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


regionalismo; poesia concreta; romance psicológico; Ramos; Érico Veríssimo; João Cabral de
prosa de introspecção Melo Neto; Guimarães Rosa;
Clarice Lispector; Augusto de Campos;
Haroldo de Campos; Décio Pignatari;
Mário Chamie

Quadro Literatura Portuguesa

Escola literária/ Contexto


Era Características Autores e obras
século (ano) histórico-sociocultural
Trovadorismo Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga da
Idade Média; Cantigas (textos cantados ou declamados
Século XII Guarvaia, de Paio Soares de Taveirós; cantigas
teocentrismo; feudalismo ao som de músicas)
(1189 ou 1198) de D. Dinis (o Rei Trovador)

Era Medieval Início da crônica histórica


Humanismo em Portugal; nomeação Poesia palaciana (sem acompanhamento musical); Fernão Lopes; Teatro (autos e farsas de
Século XV de Fernão Lopes como transição entre o medievalismo e o Renascimento Gil Vicente; Cancioneiro geral, organizado
(1418 ou 1434) cronista-mor do reino (teocentrismo e antropocentrismo) por Garcia de Resende)
de Portugal

O ser humano gera e é gerado por linguagens 43


Quadro Literatura Brasileira

Escola literária/ Contexto


Era Características Autores e obras
século (ano) histórico-sociocultural
Renascimento; Reforma Protestante
Medida nova (versos decassílabos); sonetos;
Classicismo (ou (crise na Igreja Católica); retomada
platonismo amoroso; objetividade; universalismo; Sonetos de Luís Vaz de Camões e Sá de
Quinhentismo) dos modelos clássicos; volta do poeta
equilíbrio; busca da beleza e da perfeição; Miranda; Os Lusíadas, de Camões
Século XVI (1527) Sá de Miranda da Itália; introdução
antropocentrismo
das normas clássicas em Portugal
Morte de Camões; unificação da
Oposição de ideias; fé versus razão; dualismo;
Península Ibérica (Portugal sob o
Barroco (ou rebuscamento formal; desequilíbrio emocional; uso Poemas e sermões de padre Antônio
Era Clássica domínio espanhol); declínio das
Seiscentismo) extremo de antíteses e paradoxos; efemeridade; Vieira; padre Manuel Bernardes;
Grandes Navegações; Contrarreforma:
Século XVI (1580) religiosidade; cultismo (culto da forma) e sóror Mariana Alcoforado
fortalecimento da Companhia
conceptismo (jogo de ideias)
de Jesus
Arcadismo Retomada de valores clássicos; bucolismo; uso de Poemas (especialmente sonetos)
(Neoclassicismo pseudônimos de pastores gregos; equilíbrio; fuga da de Manuel Maria Barbosa du Bocage;
Fundação da Arcádia Lusitana
ou Setecentismo) vida cotidiana; eliminação dos exageros; simplicida- Filinto Elísio; Correia Garção;
Século XVII (1756) de; carpe diem; mitologia; antropocentrismo Marquesa de Alorna
frei Luís de Sousa e Viagens na minha
terra, de Almeida Garrett; Eurico, o
Predomínio da emoção sobre a razão; evasão da
presbítero, de Alexandre Herculano;
realidade; “mal do século”; liberdade formal; ideali-
Romantismo Publicação do poema épico Camões, Amor de perdição, de Camilo Castelo
zação; medievalismo; religiosidade; ultrassentimen-
Século XIX (1825) de Almeida Garrett Branco; poemas de Soares de Passos;
talismo; popularização da literatura; surgimento do
Campo de flores, de João de Deus; As
romance; egocentrismo; valorização da natureza
pupilas do Senhor Reitor e A morgadinha
dos canaviais, de Júlio Dinis
Naturalismo: foco voltado para as camadas mais
populares; patologias sociais; animalização (zoomor- Naturalismo: O crime do padre Amaro,
fismo); determinismo; negativismo exacerbado de Eça de Queirós.
Realismo: fidelidade ao real; verossimilhança; des-
Questão Coimbrã; conferências do
Naturalismo/ critivismo minucioso; universalismo; uso da razão; Realismo: O primo Basílio, Os Maias,
Cassino lisbonense; publicação do
Realismo crítica social contra a burguesia; análise psicológica; A cidade e as serras, A ilustre casa de
romance O crime do padre Amaro,
Século XIX (1865) linguagem culta e sem exageros; predomínio da Ramires, de Eça de Queirós; poemas
de Eça de Queirós
denotação; ausência de idealizações; narrativa lenta; de Antero de Quental, Cesário Verde,
triângulo amoroso; desvalorização do amor em Guerra Junqueiro, Gomes Leal,
Era nome de interesses pessoais; materialismo; poesia João Penha
Romântica combativa e engajada
Retomada dos valores românticos (sentimentalismo,
negativismo, pessimismo, religiosidade); simbo-
logia; predomínio da conotação; sensorialismo Oaristos, de Eugênio de Castro;
Simbolismo Publicação da obra Oaristos,
(uso de sinestesias); misticismo exagerado; sonho; Clepsidra, de Camilo Pessanha;
Século XIX (1890) de Eugênio de Castro
fantasia; vocabulário exótico; musicalidade; imagens Torres, de Antônio Nobre
enevoadas; exploração do universo interior; temática
da loucura e da morte; liberdade formal
Fernando Pessoa e seus heterônimos;
Mário de Sá Carneiro; Luís de Montalvor;
Nacionalismo; combate ao passadismo; procura de
José Régio; Miguel Torga; Ferreira de
originalidade na “literatura viva”; proposta
Castro; Alves Redol; Fernando Namora;
neorrealista de enfoque social; combatividade
Modernismo Virgílio Ferreira; Castro Soromenho:
Publicação da revista Orpheu e busca de reformas na vida portuguesa;
Século XX (1915) Carlos de Oliveira; Agustina Bessa-Luiz;
existencialismo; surrealismo; análise psicológica;
Mário Casariny de Vasconcelos; David
linguagem cinematográfica; experimentalismo
Mourão-Ferreira; Sophia de Mello
linguístico; valorização do conto e do teatro
Breyner Andresen; Branquinho
da Fonseca

44 O ser humano gera e é gerado por linguagens


A poesia trovadoresca
A literatura portuguesa tem início com o Trovadorismo no século XII. Os documentos dessa
época são muito deteriorados, por isso há imprecisão acerca de seu início. A data provável, entretanto,
é 1189 ou 1198, ano da autoria da Cantiga da Ribeirinha, também conhecida como Cantiga da Guar-
vaia, de autoria de Paio Soares de Taveirós. Também pela precariedade dos registros, há dúvida sobre o
término dessa escola. Provavelmente, estendeu-se até o início do século XV, por volta de 1418 (1434).
Por ter surgido em plena Idade Média, o Trovado-

NIDAY PICTURE LIBRARY / ALAMY STOCK PHOTO


rismo sofreu influência da chamada “Idade das Trevas”.
Sob a perspectiva da cultura medieval, Deus era o cen-
tro do universo (teocentrismo). Isso justificava o poder
do clero, que equivalia ao da nobreza, em uma socieda-
de sem mobilidade e estratificada. Assim, a condição de
servilismo, tanto espiritual quanto social, deu origem à
característica mais marcante da poesia medieval: a vas-
salagem amorosa. O homem (trovador) se colocava
diante da mulher como um sofredor, já que a dama
lhe era inatingível.
O nome Trovadorismo vem de trovador (cantor),
já que as produções literárias desse período se consti-
tuem de cantigas, poemas cantados ou acompanha-
dos de instrumentos musicais da época, como a flau-
ta, a viola e o alaúde. Com base no conteúdo desses
textos, é possível classificar as cantigas em dois tipos
O cavaleiro e a dama em cena
básicos: lírico-amorosas, subdivididas em de amor e de medieval na ilustração de Codex
amigo, e satíricas, de escárnio e de maldizer. Manesse (século XIII).

Conheça o texto a seguir:

Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha1 No mundo ninguém se assemelha a mim
mentre me for’ como me vai, enquanto a vida continuar como vai,
ca ja moiro por vós – e ai! porque morro por vós, e ai!
mia senhor branca e vermelha, Minha senhora alva de pele rosada,
Queredes que vos retraia quereis que vos retrate
quando vos vi em saia2! quando eu vos vi sem manto.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


Mao dia me levantei, Maldito dia que me levantei
que vos enton non vi fea! e não vos vi feia

E, mia senhor, des aquel di’, ai! E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
me foi a mi muin mal, tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Paai e vós, filha de Don Paio
Moniz, e ben vos semelha Moniz, e bem vos parece
d’haver eu por vós guarvaia3, de ter eu por vós guarvaia
pois eu, mia senhor, d’alfaia pois eu, minha senhora, como presente
nunca de vós ouve nem ei nunca de vós recebera algo
valía d’ua correa. mesmo que de ínfimo valor
TAVEIRÓS, Paio Soares de. Cantiga da Ribeirinha. In: SPINA, Segismundo. Presen•a da literatura portuguesa:
era medieval. 4. ed. São Paulo: Difel, 1971.

GLOSSÁRIO
1. Parelha: 2. Saia: 3. Guarvaia:
semelhante. roupa íntima. roupa luxuosa.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 45


IMPORTANTE
A compilação das cantigas trovadorescas se deu em fascículos conhecidos como Cancioneiros.
São três os mais importantes, que reúnem as mais expressivas obras desse período inicial da
literatura portuguesa:

ART COLLECTION 2/ALAMY STOCK PHOTO


▶ Cancioneiro da Ajuda: é o mais antigo, e reúne
310 cantigas (na maioria de amor). Foi elaborado
em fins do século XIII ou início do século XIV, du-
rante o reinado de Afonso III. Atualmente, encon-
tra-se na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa.

▶ Cancioneiro da Vaticana: foi organizado no sé-


culo XIV e apresenta 1205 cantigas de amor e de
amigo de diversos autores, entre eles D. Dinis (o
rei trovador). Atualmente se encontra na Bibliote-
ca do Vaticano (ou Biblioteca Vaticana).

▶ Cancioneiro da Biblioteca Nacional: ficou co-


nhecido como Colocci-Brancuti (nome dos antigos
donos “italianos”) e é o mais completo dos cancio-
neiros, com 1647 cantigas de todos os gêneros.
Pergaminho Vindel (século XIII), manuscrito Foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa
com cantigas de amigo, de Martim Codaz. no século XX.

As cantigas lírico-amorosas
As cantigas lírico-amorosas são um exemplo de como eram as relações afetivas na Idade Média.
Em certa medida, essas cantigas mimetizam o papel do homem e da mulher em uma sociedade
em que não havia mobilidade social. Conhecer essa literatura é, portanto, um bom começo para
entender o passado, sempre com o pressuposto de ir traduzindo o presente.

Cantigas de amor
De origem provençal, as cantigas de amor são mais elaboradas que as demais, de origem ibérica.
Entre os séculos XI e XIII, na região da Provença, sul da França, surgiu o “amor cortês”, que influenciaria
as produções feitas em Portugal, cujo mais famoso trovador foi D. Dinis (chamado de “o rei trovador”).
O ambiente é sempre o palácio, e o trovador
ICOM IMAGES/ALAMY STOCK PHOTO

GLOSSçRIO canta os pesares de um amor não correspondido.


O homem é um coitado1 que se humilha diante
1. Coitado:
da amada, como um vassalo2. Por essa razão, ele se
o sofrimento amoroso (coitado: em
galego-português, adjetivo que sig-
remete a ela tratando-a por “mia senhor” (minha
nificava “apaixonado”, “sofrido”). senhora, que manda em mim) ou “mia dona”.
2. Vassalo: Trata-se de um típico amor platônico, impossí-
conceito existente na idade média vel de se realizar. A mulher amada é de classe social
correlacionado ao feudalismo. De- superior ou mesmo casada, o que justifica o trata-
signa indivíduo que se submetia às mento cerimonioso e cortês.
ordens de um soberano. Em geral o
vassalo pedia um beneficio ao no-
Por ser idealizada, essa mulher é perfeita, já que
bre e, em troca, jurava fidelidade e inatingível. O amor é sublimado, o que justifica o
submissão. forte lirismo dessas produções. O sentimento é tão
intenso e gera tanto sofrimento que é comum o
travador desejar a morte como saída para aniquilar
a própria dor.
Estruturalmente, essas cantigas podem ou não
apresentar refrão, estratégia para se alcançar maior
musicalidade. As que não apresentam esse recurso
Cena medieval que mimetiza a cantiga de
amor. Ilustração do Codex Manesse. Conde são chamadas “cantigas de maestria”.
Konrad von Kirchberg, entre 1305 e 1340.

46 O ser humano gera e é gerado por linguagens


Exemplo de cantiga de amor analisada: GLOSSÁRIO
A mia senhor que eu por mal de mi pero5 mi tod'este mal faz sofrer, 1. Er:
vi e por mal daquestes olhos meus des que a nom vi, nom ar vi pesar de novo (voltar a).
e por que muitas vezes maldezi d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar. 2. Al:
mi e o mund'e muitas vezes Deus, A por que mi quer este coraçom
(em frases negativas): mais nada.
des que a nom vi, nom er1 vi pesar 3. Nembrar:
sair de seu logar, e por que já
d'al2, ca nunca me d'al pudi nembrar3. moir'e perdi o sem6 e a razom,
lembrar.
4. Mi medês:
A que mi faz querer mal mi medês4 pero m'este mal fez e mais fará,
a mim mesmo.
e quantos amigos soía haver des que a nom vi, nom ar vi pesar 5. Pero:
e de[s]asperar de Deus, que mi pês, d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
embora, ainda que.
D. DINIS. Cantigas medievais galego-portuguesas. Disponível em: 6. Sem:
<https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=527&pv=sim>. Acesso em: nov. 2019.
senso, razão, juízo.

Neste texto, podemos identificar algumas das marcas que caracterizam as cantigas de amor. O amor
cortês e a vassalagem amorosa estão presentes. A amada ocupa todos os pensamentos do trovador, que
a ama platonicamente. Na primeira estrofe, ele lembra que a viu como um mal e que por isso chegou a
maldizer o mundo e até a Deus. Na segunda, ele diz que ela o fez querer mal a si mesmo e a todos os seus
amigos, desesperando-se perante Deus. Na terceira, admite ficar desnorteado, o coração sai do lugar e
ele perde a razão.
Estruturalmente, percebemos o emprego do refrão (repetição do trecho final de cada estrofe).

WIKIMEDIA COMMONS
Cantigas de amigo
A cantiga de amigo é também lírico-amorosa. O termo “amigo”, neste caso, significa
amante, namorado (note que tem o mesmo radical de “amor").
Esse tipo de cantiga tem origem popular, na própria Península Ibérica, e, em tese, é
anterior às cantigas de amor. Entretanto, por não serem escritas, essas cantigas só foram
registradas depois que as cantigas provençais apareceram, o que despertou o interesse
documental dessa arte.
Nessa versão, o eu lírico é feminino. O trovador se põe no lugar da mulher, que recla-
ma a ausência do amigo, que está longe, muitas vezes, em batalhas pelo “senhor” a quem
serve. Sofrendo com a solidão, a jovem, muitas vezes camponesa, reclama da ausência do
amado às irmãs, à mãe, às amigas, a Deus e até mesmo à natureza.
O tom da narrativa é, portanto, confessional. Já o amor não é idealizado como nas

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


cantigas de amor, havendo, inclusive, certa insinuação do amor físico no emprego de
determinadas construções.
No que se refere à estruturação do texto, a presença do refrão e do paralelismo é
frequente. Essas repetições simétricas dão ao texto um tom de simplicidade contunden-
te. O vocabulário também é muito simples. Por outro lado, há uma variação considerável
de temas, o que faz com que as cantigas de amigo se Na Idade Média, as mulheres não
FLHC 85/ALAMY STOCK PHOTO

classifiquem em diferentes tipos. sabiam ler nem escrever. A elas cabiam


apenas afazeres domésticos. Pensão
▶ Albas (alvas ou serenas): tratam de episódios de Alimentos; Taccuinum Sanitatis,
Casanatense, século XIV.
ocorridos pela manhã.
▶ Barcarolas (ou marinhas): trazem situações
relacionadas com o mar, um rio ou um lago.
▶ Bailias (ou bailadas): tratam de danças ou bailes.
▶ Pastorelas: referem-se a um pastor ou uma pas-
tora e seus diálogos.
▶ Romarias: tratam de peregrinações feitas pela Nas cantigas de amigo, a natureza
donzela e sua mãe aos santuários. tem papel de destaque. Colheita
de repolho; Taccuinum Sanitatis,
▶ Tensões: enfocam cenas de diálogos. século XV.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 47


GLOSSÁRIO Exemplo de cantiga de amigo:

1. Velida: Ai Deus, a vó'lo digo: Foi-s'el mui sem meu grado3


bela, formosa. foi s'ora o meu amigo; e nom sei eu mandado4;
2. End’ora: e se o verei, velida1? e se o verei, velida?
disso, daí.
Quem m'end'ora2 soubesse Que fremosa que sejo5,
3. Sem meu grado:
verdad'e mi dissesse morrendo com desejo;
contra a minha vontade.
e se o verei, velida? e se o verei, velida?
4. Mandado:
COELHO, João Soares. Cantigas medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <https://cantigas.fcsh.unl.pt/
notícia, mensagem. cantiga.asp?cdcant=710&pv=sim>. Acesso em: nov. 2019.
5. Sejo (verbo ser):
estar, permanecer, com um sentido
de imobilidade. Nesta cantiga, evidencia-se a simplicidade da composição. Note a presença do refrão ao final
de cada estrofe e a linguagem mais simples quando comparada à da cantiga de amor.
Quanto à temática, observamos a donzela se queixando da ausência do amigo, que partiu e a
deixou sozinha, sem notícias. Observe, na última estrofe, o tom erótico no 10 o verso, em que ela se
diz “morrendo de desejo”.
Nota geral: O amigo partiu e a donzela, sem notícias e morrendo de desejo, não sabe se o
voltará a ver.

Distinção entre as cantigas lírico-amorosas


Cantigas de amor Cantigas de amigo
Origem: provençal Origem: ibérica
Eu lírico: masculino Eu lírico feminino
Amor cortês: vassalagem amorosa Tom confessional (conversa com a mãe, as irmãs, as amigas,
Coita: sofrimento amoroso a natureza)
Linguagem cerimoniosa A natureza é cenário
Amor platônico (idealizado) Insinuação do amor físico

As cantigas satíricas
As cantigas satíricas têm valor documental, pois mostram a vida política no passado medieval.
A linguagem que prevalece é irônica, sem muita formalidade, e chega a ser obscena, já que a intenção
era ridicularizar direta ou indiretamente toda a sociedade, especialmente aqueles que detinham o
poder da época: a nobreza e o clero. É, assim, uma literatura que denuncia os escândalos e a hipocrisia
de políticos e religiosos.

Cantigas de escárnio
Eram produções em que prevalecia a crítica indireta. A linguagem, composta de passagens
ambíguas e expressões irônicas, era usada para satirizar alguém, sem identificá-lo claramente.

Ai dona fea, fostes-vos queixar


que vos nunca louv’en[o] meu cantar;
GLOSSÁRIO
mais ora quero fazer um cantar
1. Loar: em que vos loarei todavia;
louvar. e vedes como vos quero loar1:
2. Coraçom: dona fea, velha e sandia!
vontade.
Dona fea se deus mi perdom
3. Razom:
pois havedes [a]tam gram coraçom2
razão, assunto (de uma cantiga) e
forma específica de o abordar.
que vos eu loe, em esta razom3
4. Loaçom: vos quero já loar todavia,
louvor.
e vedes qual será a loaçom:4
dona fea velha e sandia!

48 O ser humano gera e é gerado por linguagens


Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea velha e sandia!
GUILHADE, João Garcia de. Cantigas medievais galego-portuguesas. Disponível em:
<https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1520&pv=sim>. Acesso em: nov. 2019.

Nesta que é uma das mais famosas cantigas de escárnio, o trovador faz uma paródia das cantigas
de amor. Uma senhora que se queixa por nunca ter sido elogiada em uma cantiga de amor recebe
essa “atenção”, mas sendo motivo de uma cantiga de escárnio. Note que o trovador a chama de feia,
velha e sandia (louca), sem, entretanto, dizer de quem se trata.
Nas cantigas de escárnio, a sátira é indireta.
Cantigas de maldizer

THE PICTURE ART COLLECTION/ALAMY STOCK PHOTO


Nesta modalidade, a sátira
adquire contornos de uma crítica
muito mais direta e agressiva.
A intenção de ridicularizar
e ofender a pessoa focalizada
é flagrante. O tom de deboche
também está presente, mas a lin-
guagem pode conter, inclusive, pa-
lavras de baixo calão e grosserias.
Não há preocupação de preservar
a identidade da pessoa atacada,
tanto que, em geral, seu nome é
revelado.

Maria do Grave, grav'é de saber


porque vos chamam Maria do Grave,
Ca5 vós nom sodes grave de foder,
e pero sodes de foder mui grave;
e quer', em gram conhocença, dizer:

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


sem leterad'ou trobador seer,
nom pod'homem departir este grave.
Mais eu sei bem trobar e bem leer
e quer'assi departir este grave:
vós nom sodes grav'em pedir haver6
por vosso con', e vós sodes grave,
a quem vos fode muito, de foder;
e por aquesto7 se dev'entender
porque vos chamam Maria do Grave.
GLOSSÁRIO
E pois8 vos assi departi este grave,
tenho-m'end'ora por mais trobador; 5. Ca:
e bem vos juro, par Nostro Senhor, pois, porque.
que nunca eu achei [molher] tam grave 6. Haver (subst.):
come Maria – e já o provei – haveres, bens, dinheiro.
do Grav'; e nunca pois molher achei 7. Aquesto:
que a mi fosse de foder tam grave. isto.
COELHO, João Soares. Cantigas medievais galego-portuguesas. Disponível em: <https://cantigas.fcsh.unl.pt/ 8. Pois:
cantiga.asp?cdcant=1440&tr=4&pv=sim>. Acesso em: nov. 2019. depois.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 49


ART COLLECTION/ALAMY STOCK PHOTO
Note que, nesta cantiga, o nome a
quem se dirige o trovador está expresso:
Maria do Grave. Apesar do vocabulário
chulo de algumas passagens, marca des-
se gênero, é interessante notar como o
autor brinca com os vários sentidos do
sobrenome da mulher aqui ridiculariza-
da: “Grave”. Normalmente empregado
nas cantigas de amor, no sentido de “di-
fícil”, esse adjetivo, aqui, é empregado no
sentido irônico, uma vez que, aos olhos
do trovador, ela não era nada resistente a
assédios, mas “custosa”, por ser cara. Note
também como o autor se vangloria de ser
um trovador culto e letrado por conseguir
departir, ou seja, explicar o tal nome.
Nas cantigas de maldizer, a linguagem é direta, e chega a conter palavras de baixo calão.

Diferenças e semelhanças entre as cantigas satíricas

Cantigas de escárnio Cantigas de maldizer

Gênero: satírico Gênero: satírico


Origem: provençal Origem: provençal
Ironia Ironia
Ambiguidades Linguagem mais ofensiva, chula
Crítica indireta Crítica direta

PARA CONSTRUIR
1 (Mackenzie-SP)
H7
Mar (fragmento)
H8 A primeira vez que vi o mar eu não estava sozinho. Estava no meio de um bando enorme de meninos. Nós tínha-
mos viajado para ver o mar. No meio de nós havia apenas um menino que já o tinha visto. Ele nos contava que havia
três espécies de mar: o mar mesmo, a maré, que é menor que o mar, e a marola, que é menor que a maré. Logo a
gente fazia ideia de um lago enorme e duas lagoas. Mas o menino explicava que não. O mar entrava pela maré e a maré
entrava pela marola. A marola vinha e voltava. A maré enchia e vazava. O mar às vezes tinha espuma e às vezes não
tinha. Isso perturbava ainda mais a imagem. Três lagoas mexendo, esvaziando e enchendo, com uns rios no meio, às
vezes uma porção de espumas, tudo isso muito salgado, azul, com ventos.
Rubem Braga

Mar Portugu•s
Ó mar salgado, quanto do teu sal Valeu a pena? Tudo vale a pena
São lágrimas de Portugal! Se a alma não é pequena.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quem quer passar além do Bojador
Quantos filhos em vão rezaram! Tem que passar além da dor.
Quantas noivas ficaram por casar Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Para que fosses nosso, ó mar! Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa

50 O ser humano gera e é gerado por linguagens


Ondas do mar de Vigo
Ondas do mar de Vigo, Se vistes meu amigo,
se vistes meu amigo? o por que eu sospiro?
e ai Deus, se verrá cedo? e ai Deus, se verrá cedo?

Ondas do mar levado, Se vistes meu amado,


se vistes meu amado? o por que hei gram coidado?
e ai Deus, se verrá cedo? e ai Deus, se verrá cedo?
Obs.: verrá: virá
Martim Codax

Pode-se afirmar que pertence ao mesmo tipo de poema trovadoresco de “Ondas do mar de Vigo” APENAS a alternativa:
a) Dona fea, nunca vos eu loei/en meu trobar, pero muito trobei;/mais ora já un bon cantar farei,/en que vos loarei toda via;/e
direi-vos como vos loarei:/dona fea, velha e sandia! (Joan Garcia de Guilhade)
b) Quer’eu en maneira provençal/fazer agora un cantar d’amor/e querrei muit’i loar mia senhor, a que prez nem fremusura non
fal,/nem bondade, e mais vos direi en: tanto fez Deus comprida de ben/que mais que todas las do mundo val. (D. Dinis)
c) A melhor dona que eu nunca vi,/per bõa fé, nem que oí dizer,/ e a que Deus fez melhor parecer,/mia senhor est, e senhor das
que vi,/ de mui bom preço e de mui bom sem,/per bõa fé, e de tod’outro bem, de quant’eu nunca doutra dona oí. (Fernão
Garcia Esgaravunha)
d) Quantos ham gram coita d’amor/eno mundo, qual hoj’eu hei,/ querriam morrer, eu o sei,/e haveriam en sabor;/mais, men-
tr’eu vos vir, mia senhor,/ sempre m’eu querria viver/ e atender e atender. (João Garcia de Guilhade)
e) Que coita tamanha ei a sofrer,/por amar amigu’e non o ver!/E pousarei sô lo avelanal. (Nuno Fernandes Torneol)

2 (IFSP) Assinale a alternativa correta no que se refere às cantigas de amor trovadorescas.


H7 a) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino lamenta a ausência da mulher amada, que lhe é indiferente e que, por mais que
seja vista por ele como superior, pertence às classes populares.
H8 b) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino manifesta insistentemente a coita, isto é, o sofrimento de amor, repleto de im-
pulsos eróticos que lhe laceram o corpo e que conferem aos poemas uma aura sardônica.
c) Nas cantigas de amor, o eu lírico feminino manifesta a falta que sente do amigo – isto é, do homem amado – invocando-o
por meio de composições de matriz popular que se caracterizam por construções paralelísticas.
d) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino confessa a coita, isto é, o sofrimento amoroso por uma dama que lhe é inaces-
sível devido à diferença social que existe entre ele e ela.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


e) Nas cantigas de amor, a distância social existente entre o eu lírico masculino e a mulher amada a quem ele se dirige permite
entrever que já grassava na sociedade portuguesa a ascensão social pelo trabalho.

3 (UEG-GO)
H7
Senhora, que bem pareceis! Por quanto tenho penado
Se de mim vos recordásseis seja eu recompensado
que do mal que me fazeis vendo-vos só um instante.
me fizésseis correção,
quem dera, senhora, então De vossa grande beleza
que eu vos visse e agradasse. da qual esperei um dia
grande bem e alegria,
Ó formosura sem falha só me vem mal e tristeza.
que nunca um homem viu tanto Sendo-me a mágoa sobeja,
para o meu mal e meu quebranto! deixai que ao menos vos veja
Senhora, que Deus vos valha! no ano, o espaço de um dia.
Rei D. Dinis
CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego-portugueses. Seleção, introdução, notas e adaptação de Natália Correia.
2. ed. Lisboa: Estampa, 1978. p. 253.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 51


Quem te viu, quem te v•
Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala Hoje o samba saiu procurando você
Você era a favorita onde eu era mestre-sala Quem te viu, quem te vê
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua Quem jamais a esquece não pode reconhecer
[...]
Chico Buarque

A cantiga do rei D. Dinis, adaptada por Natália Correia, e a canção de Chico Buarque de Holanda expressam a seguinte caracte-
rística trovadoresca:
a) a vassalagem do trovador diante da mulher amada que se encontra distante.
b) a idealização da mulher como símbolo de um amor profundo e universal.
c) a personificação do samba como um ser que busca a plenitude amorosa.
d) a possibilidade de realização afetiva do trovador em razão de estar próximo da pessoa amada.

4 (ESPM-SP) O amor cortês foi um gênero praticado desde os trovadores medievais europeus. Nele a devoção masculina por uma
figura feminina inacessível foi uma atitude constante. A opção cujos versos confirmam o exposto é:
H7
a)
Eras na vida a pomba predileta
(...) Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, – a inspiração, – a pátria,
O porvir de teu pai!
(Fagundes Varela)

b)
Carnais, sejam carnais tantos desejos,
Carnais sejam carnais tantos anseios,
Palpitações e frêmitos e enleios
Das harpas da emoção tantos arpejos...
(Cruz e Sousa)

c)
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
(Álvares de Azevedo)

d)
Em teu louvor, Senhora, estes meus versos
E a minha Alma aos teus pés para cantar-te,
E os meus olhos mortais, em dor imersos,
Para seguir-lhe o vulto em toda a parte.
(Alphonsus de Guimaraens)

e)
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
(Manuel Bandeira)

52 O ser humano gera e é gerado por linguagens


5 (UEG-GO)

IFSP 2014
H7

www.delcampe.net

Podemos associar corretamente essa pintura ao:


a) Trovadorismo, pois os artistas compunham e cantavam para os integrantes da Corte cantigas sobre as façanhas dos cavalei-
ros medievais.
b) Trovadorismo, pois as cantigas líricas e satíricas, escritas em versos, eram cantadas pelos artistas ao som de instrumentos de
corda.
c) Humanismo, visto que as personagens do teatro de Gil Vicente, como os trovadores e os jograis, eram em sua maioria nobres
e constituíam a elite da época.
d) Classicismo, pois os temas presentes nas cantigas líricas e satíricas vêm das narrativas da mitologia greco-latina.
e) Classicismo, visto que Camões inspirou-se, para escrever Os Lus’adas, nas cantigas trovadorescas que narravam as aventuras
dos navegantes portugueses.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


FAÇA VOCÊ MESMO
Textos para as próximas duas questões:

Sedia la fremosa seu sirgo torcendo


Estêvão Coelho
Sedia la fremosa seu sirgo torcendo, – Par Deus de Cruz, dona, sey que avedes
Sa voz manselinha fremoso dizendo Amor muy coytado que tan ben dizedes
Cantigas d'amigo. Cantigas d'amigo.

Sedia la fremosa seu sirgo lavrando, Par Deus de Cruz, dona, sey que andades
Sa voz manselinha fremoso cantando D'amor muy coytada que tan ben cantades
Cantigas d'amigo. Cantigas d'amigo.

– Avuytor comestes, que adevinhades.


(Cantiga nº. 321 – CANC. DA VATICANA.)

O ser humano gera e é gerado por linguagens 53


Estava a formosa seu fio torcendo
(paráfrase de Cleonice Berardinelli)
Estava a formosa seu fio torcendo, – Por Jesus, senhora, vejo que sofreis
Sua voz harmoniosa, suave dizendo De amor infeliz, pois tão bem dizeis
Cantigas de amigo. Cantigas de amigo.

Estava a formosa sentada, bordando, Por Jesus, senhora, eu vejo que andais
Sua voz harmoniosa, suave cantando Com penas de amor, pois tão bem cantais
Cantigas de amigo. Cantigas de amigo.

– Abutre comeste, pois que adivinhais.


(In BERARDINELLI, Cleonice. Cantigas de trovadores medievais em português moderno. Rio de Janeiro: Organ. Simões, 1953, p. 58-59.)

1 (Vunesp) Considerando-se que o último verso da cantiga caracteriza um diálogo entre personagens; considerando-se que a pa-
lavra "abutre" grafava-se "avuytor", em português arcaico; e considerando-se que, de acordo com a tradição popular da época,
H5 era possível fazer previsões e descobrir o que estava oculto, comendo carne de abutre, mediante estas três considerações:
H7 a) Identifique o personagem que se expressa em discurso direto, no último verso do poema.

H8

b) Interprete o significado do último verso, no contexto do poema.

2 (Vunesp) O paralelismo é um dos recursos estilísticos mais comuns na poesia lírico-amorosa trovadoresca. Consiste na ênfase
de uma ideia central, às vezes repetindo expressões idênticas, palavra por palavra, em séries de estrofes paralelas. A partir destas
H5 observações, releia o texto de Estêvão Coelho e responda:
H7 a) O poema se estrutura em quantas séries de estrofes paralelas? Identifique-as.

H8

54 O ser humano gera e é gerado por linguagens


b) Que ideias centrais são enfatizadas em cada série paralela?

PROSA MEDIEVAL
No século XIV, em Portugal, começa a prosa trovadoresca. Por terem se tornado muito longas
e mais difíceis de ser memorizadas, as canções de gesta passaram a ser escritas em prosa. Surgiram
daí as novelas de cavalaria, que narravam com emoção e encantamento as aventuras vividas por
heróis de capa e espada.

IMPORTANTE
▶ Canções de gesta: do francês chansons de geste = feitos históricos; eram a reunião de poemas
épicos de origem francesa, que floresceram entre os séculos XI e XIII.
Eram longos textos em verso que celebravam fatos históricos, em geral referindo-se às proezas
de Carlos Magno (século VIII). Declamadas em jograis, eram acompanhadas por um instrumento
de corda, como a viola.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


Muito provavelmente por serem escritas em prosa, as novelas de cavalaria tiveram boa aceitação
no período medieval, e a produção desse gênero foi agrupada em ciclos, nomeados de acordo com
o tema tratado, a origem e os heróis focalizados.
São eles:
▶ ciclo clássico: trata de temas latinos e gregos, como a Guerra de Troia, Ulisses e as aventuras
de Alexandre, o Grande, adaptados para a Idade Média;
▶ ciclo carolíngio ou francês: aborda Carlos Magno e os doze pares (cavaleiros) da França;
▶ ciclo arturiano ou bretão: trata dos feitos do rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda.

IMPORTANTE
Além dos três ciclos mencionados, fala-se do ciclo Amadis de Gaula (ou do Amadises), que se
iniciou pela novela de mesmo nome e que deu origem a outras doze. Até onde se sabe, essa
novela foi escrita em Portugal, mas não se conhece o autor, detalhe que a reveste de mistério e
fascínio para pesquisadores e interessados em geral.
O ciclo Amadis de Gaula foi o mais importante e o único desenvolvido em solo lusitano. No sé-
culo XII, três novelas foram traduzidas em Portugal: A demanda do Santo Graal (a novela de maior
destaque de todos os ciclos), História de Merlin, José de Arimateia e Tristão e Isolda.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 55


DIVULGAÇÃO
Vale lembrar que a prosa medieval não se restringiu às novelas de cavalaria. Além delas, outros
textos foram produzidos. De acordo com o contexto histórico-cultural da época, podemos dividir
os textos do período em:
▶ nobiliários ou livros de linhagem: volumes que relatavam as histórias das famílias nobres
portuguesas, estabelecendo as árvores genealógicas. Estes textos tinham a finalidade de
estreitar laços entre as famílias da nobreza, servindo-lhes de alguma forma.
▶ hagiografias: do grego hagios (santo) e grafia (escrita), contavam as histórias dos santos da
igreja. Escritas em latim (as primeiras), tinham pouco valor literário, e destacavam o com-
portamento edificante dos mártires católicos, que deveriam ser vistos como modelos aos
fiéis que aspiravam a uma vida regrada pela moral cristã.
▶ cronicões: relatos romanceados de acontecimentos históricos e sociais em ordem cronológica.

OS MANUSCRITOS ILUSTRADOS

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/


COLABORADOR/GETTY IMAGES
A atmosfera medieval e os aspectos
místicos que envolvem as narrativas
sobre o rei Arthur, da Inglaterra, geraram
inúmeras produções do cinema, como
o filme Arthur & Merlin, de 2015
(100 min.), que estreou no Brasil em 2016.

Manuscrito Chegada de Carlos VII à


Bastilha, em 1418. A tomada de Paris,
por Martial d'Auvergne, do livro Vigílias
de Carlos VII, Paris, França, século XV.

Você sabe o que são manuscritos iluminados?


A coleção de Obras Raras do Arquivo Nacional possui exemplares de manuscritos
iluminados, do século XV. Você sabe o que são manuscritos iluminados?
THE PICTURE ART COLLECTION/ALAMY STOCK PHOTO

A produção de livros antes da invenção da imprensa, no século XV, era um processo


demorado, que envolvia várias etapas, tradicionalmente realizado em mosteiros. A primei-
ra fase consistia na confecção do suporte da escrita – o pergaminho, material obtido a
partir do tratamento da pele de animais como o carneiro. O enregramento, segunda etapa
do processo, destinava-se a traçar as linhas que serviriam como guias para a escrita, a ser
meticulosamente elaborada por monges que se especializavam na tarefa da caligrafia.
Outros dedicavam-se a desenhar as letras iniciais dos capítulos, chamadas de capitais
ornamentadas, quando contêm apenas decorações, ou capitais historiadas, quando contêm
figuras relacionadas ao texto. Já os miniaturistas encarregavam-se das ilustrações que
adornam os trechos não escritos das páginas, e os iluminadores, da decoração com ouro
ou prata, conhecida como iluminura.
Nesse período em que o livro era um objeto raro e, portanto, caro, e no qual o mo-
nopólio da cultura escrita pertencia ao clérigo católico, a posse de um livro era sinal de
distinção social.
Os manuscritos iluminados podiam tratar de temas históricos, literários ou litúrgicos.
Nesse último caso, continham os ofícios do rito católico ou preces para uso individual.
A ilustração da Bíblia de Toledo é um É nessa categoria que se enquadram os Manuscritos Iluminados do Arquivo Nacional.
exemplo de manuscrito ilustrado. [...]
ASCOM. Você sabe o que são manuscritos iluminados? Arquivo Nacional. Disponível em:
<http://www.arquivonacional.gov.br/br/ultimas-noticias/
981-voce-sabe-o-que-sao-manuscritos-iluminados>. Acesso em: nov. 2019.

56 O ser humano gera e é gerado por linguagens


O RENASCIMENTO – IDEIAS E ARTISTAS
Como já sabemos, a arte se manifesta por meio de várias linguagens. Por essa razão, durante todo
este curso, ela será objeto de nossa atenção.
Já vimos que, na Idade Média, diversos artistas se valeram da música, das ilustrações e da literatura
para expressar seus sentimentos e suas emoções, traduzindo, a seu modo, o meio e o momento em que
viviam. Agora, vamos tratar de um momento de transição entre o medievalismo e a Idade Moderna:
o Renascimento.
O Renascimento foi um dos movimentos culturais de maior importância na história do con-
tinente europeu. Estendeu-se por séculos, aproximadamente de 1300 a 1650. Note que a chegada
dos europeus ao Brasil e à América ocorreu nessa época.
O nome “Renascimento” faz alusão a uma superação da “Idade das Trevas”, expressão pela qual
a Idade Média ficou conhecida por causa da grande influência da religião no cotidiano das pessoas.
No período medieval, Deus deveria ser o foco de todos os pensamentos, e os ensinamentos da Bíblia
não podiam ser questionados. Já no Renascimento, foi como se o ser humano ressurgisse, nascendo
pela segunda vez para um momento em que ele seria o centro das atenções. Assim, essa visão an-
tropocêntrica fazia surgir o Humanismo.
No sentido de se afastar do modo de interpretar o mundo imposto pela religião, houve uma
busca incessante por outras explicações além das divinas e bíblicas. Isso fomentou o interesse pelo
desenvolvimento das ciências. As realizações no campo das artes refletiam também essa tendência,
o que explica, por exemplo, a retomada de modelos clássicos (greco-latinos).
Assim, o ideal do Humanismo e, por extensão, do próprio Renascimento era a valorização do ser
humano e da natureza em detrimento do divino e do sobrenatural, tão caros à Idade Média. A arte se
fundamentava na mimesis, ou seja, imitava a natureza e tentava expressar ao máximo a perfeição humana.
Já no fim da Idade Média predominava uma tendência de interpretação científica do mundo.
Isso influenciou pintores e escultores. Surgiram inovações, como os estudos de perspectiva, com
base em princípios matemáticos e geométricos, técnicas como as de sombreamento, que conferiram
mais realismo às obras em um jogo de contrastes que reforçava a sugestão de volume dos corpos.
Além disso, o estilo pessoal do artista foi valorizado. Vale lembrar que, durante a Idade Média, os
reis e a Igreja impunham que os artistas (pintores, escultores) ficassem no anonimato e as produções não
eram “assinadas”. Com o Renascimento, no contexto de enaltecimento do ser humano, isso se alterou.

KWIRRY/SHUTTERSTOCK
Confirmava-se a existência do artista como o concebemos atualmente: um criador individual e autônomo
que expressa seus desejos, seus sentimentos e suas ideias nas obras, em geral, em busca da beleza.

PARA AMPLIAR
No Renascimento, houve uma retomada dos valores estéticos da Antiguidade grega, que viam na pro-

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


porção o ideal de beleza e perfeição. No século XIX, esses valores foram mais uma vez retomados e
serviram de inspiração para a criação da calistenia - do grego kallos (beleza) e sthenos (força) -, um tipo
de treinamento que usa apenas o peso do corpo e os movimentos musculares para trabalhar a força e a
resistência. Os agachamentos, barras e flexões de braço são exemplos de exercícios da calistenia.

Botticelli: a linha que sugere ritmo e graça


Sandro Botticelli (1445-1510) é considerado um dos artistas que melhor expressou, por meio
de seus traços, suavidade e graça nas figuras que pintou. Buscando expressar seu ideal de beleza,
encontrava inspiração tanto nas temáticas da Antiguidade grega como na tradição cristã.
Segundo o próprio Botticelli, a beleza se associava ao ideal cristão da graça de Deus. Assim, as
figuras humanas em seus trabalhos são belíssimas, ainda que melancólicas, uma vez que, por serem O homem vitruviano (1492), de Leonardo
humanas, teriam perdido o dom divino. da Vinci: um estudo das proporções
Sua obra mais famosa é o Nascimento de Vênus, que recupera um tema da mitologia greco- humanas. Tinta; 35 cm x 26 cm.
-romana da Antiguidade.
O Nascimento de Vênus representa um dos mitos mais clássicos e mais poéticos. Vênus, a
deusa do amor dos romanos, está ao centro, ladeada pelo Vento Oeste e por uma Hora (ninfa) que
a acompanha. As linhas alongadas e alvas transmitem pureza e equilíbrio.
Segundo a mitologia greco-romana, Vênus nasceu de uma história trágica. Urano (o Céu) e Gaia
(a Terra) se uniram para dar origem aos primeiros seres humanos. Mas Cronos (o Tempo) castrou o
pai com uma foice e jogou seus genitais no oceano. Da espuma do mar, então, nasceu Vênus.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 57


PARA AMPLIAR
O Nascimento de Vênus, uma das obras mais famosas do Renascimento, é geralmente relembra-
da em campanhas publicitárias ou mesmo releituras. Mudando o contexto de produção, suporte
e função social (intencionalidade), temos um discurso que se impõe sobre outro, num típico caso
de interdiscursividade. . No exemplo a seguir, o intuito do cartunista Maurício de Sousa foi subs-
tituir as figuras míticas originais para introduzir as crianças e jovens ao mundo da arte clássica.

INCAMERASTOCK/ALAMY STOCK PHOTO


O Nascimento de Vênus, c. 1484, de Sandro Botticelli. Têmpera sobre tela,
172, 5 cm x 278,5 cm. Galleria degli Uffizzi, Florença.

© MAURICIO DE SOUSA/MAURICIO DE
Recriação da obra renascentista O Nascimento de Vênus no quadro SOUSA EDITORA LTDA

Mônica no nascimento de Vênus (1992), de Maurício de Souza.

Leonardo da Vinci: a busca pelo conhecimento científico e pela


beleza artística
Leonardo da Vinci (1452-1519) nasceu em uma cidade próxima a Florença, na atual Itália. Seu
espírito inquieto e sagaz o levou a pesquisar e trabalhar em diversas áreas do conhecimento humano.
O artista se interessava por questões urbanísticas, interesse que foi mais acentuado no perío-
do em que viveu em Milão, por volta de 1482, quando criou um projeto para a cidade. Tratava-se
de uma rede de canais que seria usada tanto para o abastecimento de água como para o escoa-
mento do esgoto. Dotado também de inteligência espacial, Da Vinci previu ruas alinhadas, praças
e jardins públicos.

58 O ser humano gera e é gerado por linguagens


KWIRRY/SHUTTERSTOCK

JANAKA DHARMASENA/SHUTTERSTOCK
Estudos de Leonardo da Vinci sobre a construção de Dispositivo hidrotécnico para transporte de Leonardo da Vinci, estudo do braço, ombro e
‡gua (1480-1482). Pena, tinta e tinta indiana, 291 mm x 400 mm. pescoço humano (1510-1511).

Por volta de 1500, o artista dedicou-se aos estudos de óptica, perspectiva e anatomia. A versati-
lidade e a inteligência o levaram a produzir desenhos e anotações acerca das proporções dos animais,
plantas de edifícios e engenhos mecânicos notáveis e de grande importância para estudos posteriores.
A anatomia humana foi outra área do conhecimento sobre a qual Leonardo da Vinci se de-
bruçou. Isso justifica o realismo de suas obras que reproduzem o corpo humano. Sua obra-prima
exemplifica bem essa grande habilidade: a Mona Lisa.
Mesmo sendo uma das obras mais visitadas no Museu do Louvre, em Paris, muitos turistas per-
dem precioso tempo de contemplação da obra mais famosa e intrigante de Da Vinci ao se mostrar
mais preocupados em tirar selfies.
Também conhecida como Gioconda, a Mona Lisa (1503) é, sem dúvida, a mais famosa pintura de
Da Vinci. Além da perfeição das formas, o mais instigante é seu sorriso enigmático, que, ao longo de sécu-
los, tem chamado a atenção de observadores no mundo
WORLD HISTORY ARCHIVE / ALAMY STOCK PHOTO

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


todo. A ambiguidade na expressão no riso dessa mulher
nos leva mesmo a duvidar se ela, de fato, está sorrindo.
Mas essa imprecisão na interpretação da emoção talvez
tenha sido intenção do artista ao fazer o público refletir
sobre a complexidade da alma humana. Podemos saber
com certeza o que sentem as pessoas quando expressam
seus sentimentos rindo ou chorando?
Além disso, merece destaque o efeito de pro-
fundidade e luminosidade que o artista consegue. A
SIRA ANAMWONG/AGÊNCIA/SHUTTERSTOCK
impressão de profundidade é dada pelos contornos
cada vez menos nítidos (das montanhas e da água ao
fundo) quando nos distanciamos do primeiro plano
da pintura.
A nitidez dos contornos da fisionomia feminina
contrasta com a imprecisão dos traços e das cores da
paisagem ao fundo. As mãos, o colo e a pele do rosto
apresentam uma luminosidade que também se contra-
Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, 1503. Óleo põe às roupas escuras. Esses componentes confirmam Turistas diante da Mona Lisa, no Museu
sobre painel de madeira; 77 cm x 53 cm. seus estudos e ratificam a genialidade do pintor. do Louvre, em Paris, França, 2015.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 59


GURB101088/SHUTTERSTOCK
Michelangelo: a genialidade a serviço da expressão da digni-
dade humana
Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (1475-1564) nasceu em Caprese, na provín-
cia de Arezzo, perto de Florença, atual Itália, e principiou nas artes ainda muito jovem. Com
apenas 13 anos, começou a estudar pintura e, com 17, concluiu a primeira escultura: Madona
da escada.
Nessa época, logo após entrar em contato com os estudos de Platão, incorporou em suas
obras o ideal grego de beleza defendido pelo filósofo: o equilíbrio das formas. Tal característica
foi transposta para suas pinturas e esculturas e acabou se tornando sua marca registrada. Pela
grande veracidade, seus personagens nus (como Davi) causaram tanta polêmica que chegaram
a ser ameaçados de destruição pela Igreja.
De 1508 a 1512, Michelangelo trabalhou na pintura do teto da Capela Sistina (Vaticano).
Essa obra retrata número significativo de passagens da Bíblia, como A criação do homem e
O juízo final.
Nesse afresco, Deus, cercado de anjos, é representado como um senhor de barba e cabelos
brancos, conforme a Igreja Católica o identificava na época do Renascimento. Note que, apesar de
idoso, seu corpo é vigoroso e de formas bem definidas, o que se confirma na definição da muscula-
tura do braço que se estende para alcançar Adão. Este, por sua vez, é representado por um homem
de corpo forte e harmonioso, conforme o ideal de beleza: as formas em perfeito equilíbrio.
Davi (1501), de Michelangelo, um dos

JURATEBUIVIENE/AGÊNCIA/SHUTTERSTOCK
trabalhos mais monumentais do artista,
chegou a ser ameaçado de destruição
pelo papa Paulo IV (1501-1504).

Teto da Capela Sistina (1508-1512),


visão ampliada. 40 m x 14 m.

LEGACY1995/AGÊNCIA/SHUTTERSTOCK

Cena de A criação do homem (1508 - 1515),


de Michelangelo, na Capela Sistina do Vaticano.
Afresco; 280 cm x 570 cm.

60 O ser humano gera e é gerado por linguagens


PARA CONSTRUIR
1 (UFJF/Pism-MG) Leia atentamente os documentos a seguir:
H7 Documento 1

UFJF 2018
A última ceia de Leonardo Da Vinci, em seu esquema gráfico indicador do
ponto de fuga e linhas do horizonte. Disponível em: <https://goo.gl/2kvRg7>.

Documento 2

UFJF 2018

Fotografia de Sabastião Salgado, no Projeto Outras AmŽricas (1977 - 1983)

Documento 3

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


“Foi no Renascimento que se sistematizou uma forma de representar o espaço real e tridimensional (realidade)
partindo de uma abstração matemática que ficou conhecida como perspectiva. Na Renascença, quase toda pintura
obedecia a esse método de representação. A perspectiva era um expediente geométrico que produzia a ilusão da reali-
dade, mostrando os objetos no espaço em suas posições e tamanhos corretos. A perspectiva capta os fatos visuais e os
estabiliza, transformando o ponto fixo de um observador para o qual o mundo todo converge.”
Disponível em: https://goo.gl/814GFE

Ao comparar os três documentos apresentados, é CORRETO afirmar que:


a) Os pintores do Renascimento desconheciam as correlações possíveis entre a Geometria e a produção artística.
b) A busca da tridimensionalidade realista foi a tônica da arte usada na construção de Igrejas durante a Idade Média, aspecto
perpetuado pela Renascença.
c) A técnica da perspectiva inventada no Renascimento encontra-se ainda presente em recursos atuais de produção de ima-
gens, tais como a fotografia e o cinema.
d) Durante a Renascença, a fotografia era uma técnica disseminada enquanto recurso voltado à representação de lugares, pes-
soas e paisagens.
e) As técnicas utilizadas na pintura de tipo renascentista originaram-se na América e expandiram-se para a Itália e França após
o século XIV.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 61


2 (UFU-MG) A pintura e a escrita em latim eram práticas das elites artísticas e intelectuais indígenas no processo de conquista e coloni-
zação da América. O estudo de tais práticas permite, assim, analisar aspectos da participação dessas elites naquele período histórico.
H5
Texto 1
H7
Na metade do século XVI, um pintor nativo mexicano, batizado Juan Gerson, criou um extraordinário ciclo de
pinturas para a igreja franciscana de Tecamachalco, no atual estado de Puebla. O ciclo representa os eventos bíblicos
do Apocalipse, no formato oval, pintados em papel amate, tradicionalmente usado pelos mexicas.
PERRY, Richard. Mexico’s fortress monasteries. Espadana, 1993. Trecho disponível em:
<http://www.colonial-mexico.com/PueblaTlaxcala/apocalypse.html, com acesso em 05/07/2012>.
Acesso em: 3 jul, 2012 (adaptado).

Texto 2

Os espanhóis, assustados de ver os progressos da adoção da escrita em latim entre os índios, escreviam já na
década de 1540: “Os índios têm escritores tão bons e tão numerosos que não sei dizer o número deles, e esses escri-
tores redigem cartas que os colocam a par de todos os negócios do país de um mar a outro, o que antes da Conquista
era coisa impossível.”
GRUZINSKI, Serge. O Renascimento ameríndio. In: NOVAES, Adauto.
A outra margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 294 (adaptado).

UFU 2012

Juan Gerson - Os Cavaleiros do Apocalipse 1952 - papel Amate

As informações sobre as práticas artísticas e intelectuais da elite indígena no processo de conquista e colonização da América
evidenciam
a) a mistura de elementos artísticos e culturais da tradição indígena e da cultura ocidental na sociedade colonial em construção.
b) a dificuldade espanhola em impedir o acesso à formação acadêmica e artística dos índios que se projetaram no cenário
artístico europeu.
c) o poder da Igreja de destruir a cultura e a religião indígenas no processo de cristianização e ocidentalização da América.
d) o potencial civilizador europeu, que permitiu retirar da barbárie e do paganismo populações até então isoladas da civilização.

62 O ser humano gera e é gerado por linguagens


FAÇA VOCÊ MESMO
1 (Fuvest-SP) Leia os textos para fazer sua redação.
H5
As obras de arte assumem a função da representação da cultura de um povo desde os tempos mais remotos da
H15 história das civilizações. É através delas que o ser humano transmite uma ideia ou expressão sensível. Contudo
algumas obras de arte fogem do conceito de retratação do belo e do sensível, parecendo terem sido feitas para cho-
car e causar polêmicas.
A principal obra do escultor inglês contemporâneo Marc Quinn é uma réplica de sua cabeça feita com cerca de
4,5 litros de seu próprio sangue – extraído ao longo de cinco meses. Uma peça nova é feita a cada cinco anos, e elas
ficam armazenadas em um recipiente de refrigeração especialmente desenvolvido para elas.
http://gente.ig.com.br/cultura. Adaptado.

Graças aos seus três urubus, a obra “Bandeira Branca” é o acontecimento mais movimentado da 29ª Bienal [2010].
No dia da abertura, manifestantes de ONGs de proteção aos animais se posicionaram diante da instalação segurando
cartazes com dizeres que pediam a libertação das aves. Chegaram a ser confundidos com a própria obra. “Me entris-
tece o fato de que apenas os animais estejam sendo ressaltados. Espalharam informações erradas sobre como os urubus
estão sendo tratados”, lamenta Nuno Ramos. Na obra, os urubus estão cercados por uma rede de proteção e têm como
poleiro várias caixas de som que, de tempos em tempos, tocam uma tradicional marchinha de carnaval. As aves tinham
a permanência na Bienal autorizada pelo próprio Ibama, que, depois, voltou atrás, alegando que as instalações estavam
inapropriadas para a manutenção dos animais. Denúncias e proibições à parte, a obra de Nuno Ramos ganha sentido
e fundamentação apenas na presença dos animais. Sem eles, a obra perde seu estatuto artístico e vira mero cenário, já
que os animais são seus principais atores.
IstoÉ. 08/10/2010. Adaptado.

A exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, realizada desde 15 de agosto no San-
tander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada após protestos em redes sociais. A mostra ficaria em cartaz até 8 de
outubro, mas o espaço cultural cedeu às pressões de internautas. A seleção contava com 270 obras que tratavam de
questões de gênero e diferença. Os trabalhos, em diferentes formatos, abordam a temática sexual de formas distintas,
por vezes abstratas, noutras, mais explícitas. São assinados por 85 artistas, como Adriana Varejão, Candido Portinari,
Ligia Clark, Yuri Firmesa e Leonilson.
Folha de S.Paulo. 10/09/2017. Adaptado.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição “Queermuseu – Cartografias da
diferença na Arte Brasileira”.
Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição “Queermuseu” desrespeitavam
símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar
inclusão e reflexão positiva, perdeu seu propósito maior, que é elevar a condição humana.
Por essa razão, decidimos encerrar a mostra neste domingo, 10/09. Garantimos, no entanto, que seguimos com-
prometidos com a promoção do debate sobre diversidade e outros grandes temas contemporâneos.
https://www.facebook.com/SantanderCUltural/posts. Adaptado.

A arte é um exercício contínuo de transgressão, principalmente a partir das vanguardas do começo do século 20.
Isso dá a ela uma importância social muito grande porque, ao transgredir, ela aponta para novos caminhos e para
soluções que ainda não tínhamos imaginado para problemas que muitas vezes sequer conhecíamos. A seleção dos
trabalhos dos artistas para a próxima edição do festival [Videobrasil], por exemplo, me fez ver que os artistas estão
muito antenados com as diversas crises que estamos vivendo e oferecem uma visão inovadora para o nosso cotidiano
e acho que isso é um bom exemplo.
Solange Farkas. https://www.nexojornal.com.br.

O ser humano gera e é gerado por linguagens 63


Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação
em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema:
Devem existir limites para a arte?

EVERETT HISTORICAL/SHUTTERSTOCK
2 Você já imaginou “mergulhar” nas obras de Leonardo da Vinci? A megaexposição “Leonardo
da Vinci – 500 anos de um gênio”, promovida pelo Museu da Imagem e do Som (MIS), em
H7
São Paulo, em 2019, proporciona ao visitante uma experiência imersiva nas obras do autor
H1 renascentista. A sua tarefa, tendo ou não visitado a exposição pessoalmente, é pesquisar na
5
internet sobre ela. Tente identificar as obras expostas, o que as tornam classificadas como
H 2 1 renascentistas, quais são as principais características do artista em cada uma. Após a pesquisa,
produza um texto que tenha por objetivo explicar não só como a exposição funciona, mas
também um pouco de Da Vinci e sua obra.

Gravura de Cosimo Colombini


(d. 1812). Leonardo da Vinci é
considerado um dos maiores artistas
de todos os tempos.

64 O ser humano gera e é gerado por linguagens


VOCÊ É O AUTOR

OMNART/SHUTTERSTOCK
Neste capítulo, abordamos muitos assuntos rela-
cionados à linguagem. Uma das principais discussões
foi a questão da linguagem verbal e não verbal. Você já
parou para pensar que estamos sempre cercados de lin-
guagem não verbal, que nos diz o que fazer e o que não
fazer? Especialmente no mundo do trabalho, há uma
infinidade de placas, sinais e códigos que comunicam
mensagens e instruções para organizar o dia a dia em
um escritório ou em uma fábrica. O sinal que indica a existência de internet
Sua tarefa aqui é fazer uma investigação a fim de sem fio em uma localidade.
identificar a linguagem não verbal em uma empresa e compreender o que ela significa. É você quem
escolhe onde pesquisar: vale uma indústria na sua cidade, uma padaria, um mercado, até mesmo uma
oficina mecânica. O importante é procurar por linguagem não verbal no local. Que tal tirar fotos e
filmar, se tiver permissão para isso, para compartilhar em sala de aula?
Depois de fazer a pesquisa e coletar os dados necessários, produza um relatório com a descrição
dos elementos de linguagem não verbal encontrados e seus respectivos significados. Reflita também
sobre a importância dessa linguagem nos locais pesquisados. Mãos à obra!

O ser humano gera e é gerado por linguagens 65

Você também pode gostar