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A velocidade ideal
Para começo de conversa, não existe uma velocidade-padrão para falar. Você irá falar
mais rápido ou devagar dependendo da sua capacidade de respiração, da sua emoção, da
maneira como pronuncia as palavras, do tipo de sentimento que pretende transmitir com a
mensagem.
Se você tem o hábito de falar depressa e se sente desconfortável quando tenta falar
mais devagar, porque o pensamento não flui com a mesma facilidade, continue com sua
velocidade, mas aprimore e desenvolva alguns recursos que serão importantes para
melhorar a qualidade da sua comunicação:
Pronuncie melhor as palavras. Melhorando a dicção, mesmo que você continue
falando rápido, as pessoas entenderão com mais facilidade suas palavras.
Um bom exercício para melhorar a dicção é pôr um obstáculo na boca (pode ser o
dedo indicador dobrado, voltado com as costas para a boca e preso entre os dentes) e ler um
texto, procurando articular as palavras da maneira mais compreensível que puder. Cuidado -
prenda o obstáculo com os dentes, sem fazer força, apenas o suficiente para que não
escape.
É importante que faça o exercício diariamente, durante uns três ou quatro minutos,
lendo qualquer tipo de texto. Aproveite o jornal que está acostumado a ler para fazer o
exercício logo pela manhã. Atenção para a naturalidade: a pronúncia correta das palavras
deve ocorrer naturalmente, sem que as pessoas percebam esforço de sua parte. Esse
cuidado é tão importante que vou dar um conselho direto: enquanto não tiver desenvolvido
uma boa dicção, prefira pronunciar as palavras de maneira defeituosa a dizê-las
corretamente mas de forma tão artificial que as pessoas percebam seu esforço.
Faça pausa no final do pensamento. Ao concluir o raciocínio, faça pausa para
permitir que os ouvintes percebam bem o sentido da mensagem e reflitam sobre o que você
acabou de falar.
Aprenda a repetir as informações mais importantes. Procure repetir as informações
que sejam relevantes usando palavras diferentes como se estivesse passando uma nova
mensagem. Assim, não demonstrará que se trata de uma repetição e as pessoas terão mais
chances de compreendê-lo.
Falando com boa dicção, usando a pausa de maneira adequada e repetindo as
informações mais importantes, você que fala depressa poderá transformar essa
característica num estilo positivo de comunicação. Se, ao contrário, você costuma falar muito
devagar, e não se sente muito bem quando procura falar mais rápido, continue falando da
mesma maneira, mas procure aprimorar alguns recursos que irão ajudá-lo a tornar sua
comunicação mais eficiente:
Olhe para os ouvintes durante as pausas. Ao concluir o pensamento, enquanto faz
a pausa, continue a olhar para os ouvintes para não deixar quebrar a linha que prende você
à platéia. Ao continuar olhando para as pessoas durante a pausa é como se você estivesse
repetindo em silêncio o que acabou de dizer.
Use a inflexão de voz correta para a pausa. Ao concluir o pensamento, pronuncie
as palavras com a inflexão de voz apropriada, para demonstrar que encerrou o raciocínio.
Algumas pessoas que falam devagar costumam usar a inflexão de voz de encerramento
quando ainda estão no meio da frase, ou de continuidade quando estão encerrando. Essa
atitude se constitui num grave defeito de comunicação que atrapalha a compreensão dos
ouvintes e os desestimula a continuar prestando atenção.
Volte a falar com mais ênfase. Depois das pausas mais prolongadas habitue-se a
voltar a falar com mais energia, dando ênfase às primeiras palavras para demonstrar que
naqueles instantes de silêncio você estava refletindo, optando pela melhor seqüência das
idéias, e não que havia ficado em silêncio porque estava com dificuldade para encontrar as
palavras.
Elimine o ããã, ããã nas pausas. Cuidado com esses ruídos desagradáveis, muito
comuns principalmente nas pessoas que falam muito devagar. Aprenda a ter paciência e
esperar em silêncio que as palavras apareçam. Esses sons surgem porque nosso
pensamento é muito mais rápido do que as palavras. Assim, já sabemos o que vamos dizer,
mas as palavras ainda não apareceram para identificar esse pensamento e usamos o ããã
como que dizendo "Eu sei o que quero falar, mas as palavras ainda não apareceram - o que
quero dizer é ããã". Por isso, resista e fique em silêncio até que a palavra surja. Com o tempo
você notará, satisfeito, que o ruído começa a desaparecer. Tenho alunos que apresentam
resultado excepcional, pois, assim que são alertados sobre a presença desse ruído na sua
comunicação, imediatamente passam a vigiar a maneira de falar e conseguem já nas
próximas frases fazer as pausas em completo silêncio. Nem sempre é assim, mas poderá
ocorrer com você também.
Mantendo a comunicação visual com os ouvintes durante as pausas, usando a
inflexão de voz apropriada ao encerrar o pensamento para fazer a pausa, voltando a falar
com mais ênfase após as pausas mais prolongadas, e permanecendo em silêncio enquanto
aguarda a palavra que irá corporificar o pensamento, você irá transformar sua característica
de falar devagar num estilo positivo de comunicação.
Ângelo Majorana, em sua obra A teoria da eloqüência, defende tanto quem fala rápido,
como quem fala devagar:
"Em boa verdade, há tantas razões para falar depressa como para discorrer
lentamente. A velocidade agrada, geralmente, ao público, porque se lhe apresenta como
espelho de uma consciência segura das suas convicções: parece a expressão imediata de
um espírito sincero e, ao mesmo tempo, uma brilhante manifestação de sólidas qualidades
intelectuais.
Pelo contrário, a lentidão é útil, não só porque permite saborear, ponto por ponto, as
partes apreciáveis do discurso, mas também porque parece que - servindo-se o discurso,
pouco a pouco, aos auditores - se convidam estes, mais franca e eficazmente, a colaborar
com o orador, fazendo-lhe pesar cada palavra com balanças de precisão."
Durma bem
Há dois fatores que considero fundamentais para o bom resultado de uma
apresentação: a qualidade do som e uma boa noite de sono.
Se você tiver de fazer uma apresentação importante procure descansar bem à noite,
para que a voz esteja em boas condições no dia seguinte. Quando não dormimos bem a voz
fica frágil, sem vida e não permite que a comunicação seja disposta e envolvente. Esse é um
fator tão importante nas minhas apresentações que ao chegar à cidade onde vou fazer a
palestra, sempre que posso, dirijo-me ao hotel e durmo o tempo que for possível. Às vezes
uma ou duas horas de sono têm um poderoso efeito para o resultado da apresentação. Acate
meu conselho - se você não dormiu o tempo suficiente, ao chegar à cidade aonde vai se
apresentar, nada de ficar cirandolando sem rumo, visitando lugares desnecessariamente. Se
estiver acompanhado de alguém, deixe que a pessoa fique à vontade e vá para onde
desejar. Entretanto, passe a acompanhá-la somente depois da palestra. Sua voz vai lhe
agradecer por esse cuidado.
Alimentação adequada
Sabe aquele muco que fica atormentando a garganta e o obriga a pigarrear? Ele
ocorre principalmente por causa da ingestão de alimentos derivados do leite. Por isso, até
três horas antes de falar evite esse tipo de alimentação.
O diafragma é um músculo localizado embaixo dos pulmões e extremamente
importante no processo da respiração para falar. Sua movimentação é prejudicada quando
há presença de alimentos muito gordurosos, ou feitos com temperos muito fortes. Por isso,
evite também esses alimentos para que a respiração funcione de maneira mais livre.
A salinha VIP é um local propício para o envenenamento da voz. Nesse local você irá
encontrar uma garrafa de café e de chá, normalmente feitos bem cedinho e que resistem
bravamente até o momento em que você irá se apresentar. Enquanto você aguarda sua hora
de falar, vai tomando um cafezinho aqui, um chazinho ali, e nem percebe que essas bebidas,
tão presentes no nosso dia-a-dia, podem contribuir para aumentar a acidez e iniciar um
desagradável refluxo gastresofágico que irá lembrá-lo durante toda a apresentação dos
alimentos que ingeriu nas últimas três horas. Se estiver acostumado a tomar café ou chá, vá
em frente, mas não exagere.
Evite também água com gás, muito gelada, e refrigerantes.
Os fonoaudiólogos recomendam sucos de laranja ou de limão, que produzem maior
salivação, frutas mais consistentes como pêras e maçãs, e chás de frutas e ervas mornos.
Professor, mas eu gosto de tomar "umazinha" de vez em quando. Posso tomar uma
dose só para dar uma calibrada e me deixar mais esperto para falar?
Cuidado. Um dia você toma uma dose para dar uma calibrada, depois vai precisar de
duas, e chega o dia em que não vai conseguir falar se não tomar alguma bebida alcoólica.
Se quiser tomar uma bebida dê preferência ao vinho tinto - e só uma taça. Evite tomar uísque
e cerveja, pois, além de tornar a mucosa das cordas vocais mais rígida, fará com que a voz
fique pastosa.
Um santo exercício
Se você quiser fazer um bom exercício para melhorar a fala, leia poesias em voz alta.
O verso e a melodia da poesia irão contribuir para melhorar a cadência e o ritmo da fala e
tornar sua comunicação mais agradável. Além disso, você irá aperfeiçoar a dicção, melhorar
a respiração e aprenderá alguns versos que poderão ser usados com sucesso para ilustrar e
dar mais colorido as suas apresentações.
Reinaldo Polito
Revista Vencer nº 54