Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
http://www.uem.br/acta
ISSN printed: 1679-7361
ISSN on-line: 1807-8656
Doi: 10.4025/actascihumansoc.v36i2.23626
Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade do Grande Rio, Rua da Lapa, 86, 20021-180, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brasil. *Autor para correspondência. E-mail: contato@laboratoriocriativo.art.br
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 36, n. 2, p. 207-216, July-Dec., 2014
208 Thiollent e Colette
constituídas em torno das especificidades de classe em sala de aula. Esse método se aplica também à
social, etnia, gênero, sexualidade, região, religião, capacitação docente.
profissões etc. Essa diversidade pode se situar em Entretanto, sua viabilidade tem sido maior em
vários níveis: iniciativas avulsas, ou elaboradas em função de
- o das pessoas e grupos diferenciados; determinados públicos, do que nos tipos de ensino
- o dos comportamentos e formas de expressão, formal, estritamente regulamentados ou
símbolos, culturas, idiomas minoritários; padronizados por exigências institucionais
- O dos conhecimentos (relacionados com previamente definidas. E sua adoção de forma
diferentes paradigmas) e saberes eruditos e abrangente implica
populares, experiências profissionais etc. [...] uma escolha de sociedade na qual o
No contexto da globalização ocorre um fato determinismo da ciência e a determinação política
contraditório: de um lado, as minorias podem deixam de se excluir mutuamente. Ao contrário, a
encontrar canais de difusão de suas ideias com mais pesquisa-ação tenta assumir suas divergências em
facilidade, por outro, a mídia e os modos de gestão um equilíbrio continuamente renovado (EL
impõem uma crescente uniformização. A ANDALOUSSI, 2004, p. 138).
diversidade cultural tende a ser reduzida pela Os princípios da pesquisa-ação predispõem os
padronização e pela mercantilização da cultura e da participantes ao reconhecimento da diversidade, já
educação. As culturas locais e regionais acabam que eles estão diretamente envolvidos na preparação
sendo marginalizadas. Em reação à redução da e na concretização de sua própria formação,
diversidade cultural, diferentes ações podem ser escolhendo tanto o conteúdo como os
desencadeadas. procedimentos. E, complementando, El Andaloussi
Apesar de, atualmente, a educação configurar-se (2004, p. 139) diz que
como uma área de atividades rica em aplicações de
pesquisa-ação no Brasil (THIOLLENT, 2013), com [...] a implicação do ator na pesquisa e do
pesquisador na ação leva, obrigatoriamente, a uma
o neoliberalismo a partir dos anos 80,
reorganização social, com redistribuição dos papéis,
[...] a educação tem sido crescentemente, e de das funções e do sentimento de responsabilidade no
maneira similar ao que acontece nos Estados desenvolvimento da educação e, por isso mesmo, no
Unidos, concebida como um grande e promissor da cidade.
negócio. [...] pessoas e instituições ganhando muito
dinheiro com a venda de kits educacionais [...] Nessa perspectiva, da pesquisa-ação na formação
rotulados como ‘construtivistas’ ou o que estiver e no trabalho docente que busca assegurar a
mais em moda no momento (ZEICHNER; DINIZ- participação e a diversidade cultural pela via da
PEREIRA, 2005, p. 67, grifo dos autores). educação, inicialmente, apresentamos um breve
Nesse contexto, a pesquisa-ação pode contribuir panorama sobre essa metodologia, composto da
para elucidar as ações e suas condições de sucesso, introdução e do tópico: ‘Origens e desenvolvimento
assessorando os grupos interessados na luta contra a da pesquisa-ação’. Em seguida, traça-se uma
homogeneização, contra as discriminações e a favor perspectiva alternativa, com ênfase em suas
da liberdade de expressão. Sem dúvida, existem contribuições para um movimento contra-
várias concepções filosóficas e várias possibilidades hegemônico: ‘Alternativa metodológica e práticas
técnicas para atuar nesse sentido, mas aqui universitárias emancipatórias’; ‘Contraposição ao
privilegiamos a concepção e as práticas da pesquisa- modelo neoliberal’; ‘Poder de afirmação’. Nos
ação que já possuem uma longa tradição na área últimos tópicos, salientam-se as especificidades
educacional e em diferentes países (EL educacionais: ‘Pesquisa-ação em educação’; ‘Ação
ANDALOUSSI, 2004; MCKERNAN, 2009; Educacional’; ‘Docente-pesquisador’; ‘Pesquisa-ação
MORIN, 2010). e formação dos professores’. Finalizamos com a
A pesquisa-ação acoplada à ação pedagógica já conclusão ‘Para renovar a pesquisa-ação’.
existe nos níveis fundamental, médio, superior e,
mais ainda, nas modalidades de formação destinadas Origens e desenvolvimento da pesquisa-ação
a grupos específicos, levando em conta aspectos A pesquisa-ação tem sua origem na abordagem
como: classe social, etnia, gênero, profissões, proposta nos EUA, na década de 1940, como ‘Action
trabalho, campo/cidade, níveis de renda, exclusão, Research’ em psicologia social, por Kurt Lewin
faixas etárias, saúde, meio ambiente etc. Procura-se, (1890-1947). Tal proposta conheceu grande
cada vez mais, trazê-la como proposta de trabalho desenvolvimento nas décadas seguintes na Grã-
pedagógico completo, interagindo com o currículo Bretanha e nos países escandinavos. Nas áreas de
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 36, n. 2, p. 207-216, July-Dec., 2014
Pesquisa-ação, formação de professores e diversidade 209
organização e educação, tem sido utilizada numa [...] a escolha do assunto, os métodos e as hipóteses
perspectiva de reconstrução e de adaptação no que o pesquisador elabora no início só podem
contexto do pós-guerra. Por sua vez, a pesquisa compor um anteprojeto que, uma vez negociado
com os atores, pode tomar um rumo bem diferente
participante cresceu a partir da década de 1960,
(2004, p. 137).
principalmente na América Latina, na educação
popular, sob a influência de Paulo Freire, Carlos Quanto aos ‘tipos e graus de participação’ nos
Rodrigues Brandão e outros. Mais tarde, na década projetos, de acordo com a tipologia de Henri
de 1980, no plano internacional, houve um trabalho Desroche, o nível de participação no processo de
de aproximação e convergência em particular sob a pesquisa-ação não é sempre igual, pode variar entre
influência de Orlando Fals Borda, que cunhou o oito graus distribuídos em três dimensões:
termo Participatory Action Research, - hoje - explicação, aplicação e implicação. A combinação das
prevalecente em muitos organismos de educação e ponderações nas três dimensões estabelece níveis de
planejamento social ou ambiental. participação que oscilam entre o máximo,
Atualmente, a pesquisa-ação e a pesquisa caracterizando a pesquisa-ação integral, e o mínimo
participante existem de forma diversificada, com qualificado de ‘ocasional’ (DESROCHE, 2006). A
várias tendências e tipos de proposta bastante participação na pesquisa não é vista, então, como
distantes, ou até divergentes, mas há também muita característica definida, como se fosse de tipo ‘é’ ou
proximidade, ou tentativas de aproximação. Por ‘não é’. É uma propriedade mutável que pode ter
vezes, a marcação das diferenças aparece por meio de diversas formas e intensidades. Pode ir crescendo ao
adjetivos, assim, temos: longo do projeto, o que é desejável, ou decrescendo,
Pesquisa-ação clássica, derivada da psicologia o que é preocupante.
social de Kurt Lewin (1946, 1965); A pesquisa-ação integral, tal como é concebida
Pesquisa-ação educacional, na tradição de L. por Morin (2004), é coordenada de modo a propiciar
Stenhouse (1998) e J. Elliott (1990, 1993); um entendimento entre os pesquisadores e os
Pesquisa participante (de tradição latino- demais participantes. No início, há um contrato
americana, com Paulo Freire (1979, 1981) e Carlos formal ou informal estabelecido entre as partes, a
R. Brandão (1981 ); respeito dos objetivos e dos procedimentos da
Pesquisa-ação participante (convergência pesquisa-ação. A participação é assegurada como na
desenhada por Orlando Fals Borda (1984, 1988); tipologia de Desroche em três aspectos: explicação,
Pesquisa-ação cooperativa, na linha de Henri aplicação e implicação. Por sua vez, a mudança
Desroche (2006); desejável é definida pelo conjunto dos participantes.
Pesquisa-ação integral e sistêmica, elaborada por O discurso é apropriado pelos diversos
André Morin (2004); interlocutores no sentido de estabelecer uma
Pesquisa-ação existencial, proposta por René linguagem comum podendo chegar ao consenso.
Barbier (2002); Finalmente, a ação é planejada em seus aspectos
Pesquisa-ação e pesquisa participante segundo a estratégicos e táticos, alcançando resultados que
concepção de Reason e Bradbury (2001), com serão analisados e avaliados. Assim, contrato,
experiências em vários contextos sociais, ambientais, participação, mudança, discurso e ação constituem
comunitários; cinco princípios fundamentais da pesquisa-ação
Pesquisa-ação colaborativa em educação, integral. Posteriormente, o autor acrescentou outros
apresentada por Kenneth M. Zeichner (2008). princípios para dotar a pesquisa-ação de uma
As diferenças que existem entre as escolas ou dimensão sistêmica (MORIN, 2004).
Quanto aos ‘quadros de referência das ciências
tendências, em geral, correspondem a diferenças
sociais e humanas’, o método pode ser inserido em
culturais ou linguísticas entre partes do mundo. A
certas perspectivas filosóficas. Isso não quer dizer
nosso ver, é preciso respeitar essas diferenças, mas é
que a pesquisa-ação se confunda com a discussão
também possível superá-las. Diante dos atuais filosófica, pois seu objetivo não é a reflexão filosófica
desafios educacionais, os partidários da pesquisa- em si, trata-se apenas de encontrar no quadro de
ação e da pesquisa participante deveriam deixar de referência associado à filosofia, uma orientação
lado suas eventuais divergências e trabalhar de modo teórica para conduzir a pesquisa e a construção de
coordenado, para conceber propostas aplicáveis em significações ancoradas na observação e na ação.
situações reais, enfrentando os problemas de modo Entre as tendências filosóficas mais solicitadas,
participativo com os interessados. Inclusive, porque, encontram-se: abordagem histórico-crítica; teoria da
ao se adotar o caminho da pesquisa-ação, como El práxis; teoria crítica; teoria da ação comunicativa;
Andaloussi afirma, marxismo humanista; fenomenologia;
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 36, n. 2, p. 207-216, July-Dec., 2014
210 Thiollent e Colette
sociais, letras, pedagogia, comunicação etc. Como O objetivo da aprendizagem escolar não será mais a
produzir de modo criativo? estocagem de conteúdos [...] estes terão função
Geração de conteúdo com base em ações instrumental e deixarão de ser um fim em si mesmo,
passarão a ser eleitos a partir das necessidades
empreendidas a título de experimentação em
individuais e não a partir do princípio arbitrário
situações reais. Como tirar os ensinamentos da
vigente de que todos devem aprender as mesmas
experiência? coisas [...] a aprendizagem deverá ser caminho para
Importância do ensino presencial, com vivências autonomia, como Piaget muitas vezes ressaltou
e ações concebidas e planejadas coletivamente. Com (BECKER, 2005, p. 33).
aproximar as pessoas?
Tipos de argumentação e deliberações para Tornar o docente um pesquisador em suas
estabelecer consenso em decisões ou ações de atividades cotidianas requer uma série de condições
interesse coletivo. Como tomar decisões? sociais, culturais e institucionais que nem sempre
Uso de matérias jornalísticas para a apreensão existem na prática. Por exemplo, um professor de
crítica de problemas de atualidade (em política, ensino médio mal remunerado que, para se
economia, meio ambiente, saúde etc.). Como sustentar, dá aulas em três escolas diferentes, como é
conectar informações concretas com teorias? comum no Brasil, não terá tempo para estruturar sua
Em suma, para ser efetiva, a ação pedagógica docência com base na pesquisa-ação. Não terá
precisa de uma sistematização das experiências e tempo e nem disposição para efetivamente se
conhecimentos que gerou. Tal sistematização está envolver na ação pedagógica, o que dificilmente
também relacionada a um longo processo de ocorre em tais condições. Mas, como afirmou El
avaliação a partir do qual é possível propor novas Andaloussi (2004, p. 142), ao referir-se a professores
mudanças e melhorias. em países em desenvolvimento com experiências
pregressas pautadas na reprodução de conteúdos,
Docente-pesquisador queremos crer que se
Na abordagem de pesquisa-ação, o docente [...] os educadores se conscientizam sobre a
desempenha um papel de pesquisador sobre: o incompatibilidade de seus objetivos e dos meios que
conteúdo do ensino; o grupo; a didática; a utilizam, refletem, então, como pesquisadores,
acerca da construção de novos produtos pedagógicos
comunicação; a melhoria da aprendizagem dos
para reduzir esta incompatibilidade
estudantes; os valores da educação; e o ambiente em
que esta ocorre. O professor-pesquisador tem e, também, sobre a transformação desta realidade
autonomia. Seu ensino está embasado em pesquisa e que restringe por tantas vias a sua prática
não em conhecimentos prontos, codificados em profissional.
material de instrução. Mesmo sendo a sexta economia do mundo,
Professores e alunos não são consumidores de lamentavelmente, nosso país ainda aparece no 88º
conhecimento, são produtores dialogando por meio lugar na classificação mundial da educação e apenas
da pesquisa, com cooperação ou colaboração, a seu 2% dos estudantes quer seguir a carreira de professor
alcance por meio de interações, observações, leitura (BECKER, 2013), o que põe em evidencia a
e reflexão. A participação nas diferentes fases do necessidade de políticas adequadas a uma educação
processo de articulação entre pesquisa e ação e a apropriada.
negociação de cada uma das ações coloca os atores- Todavia, vale lembrar Freire (2011), quando
afirma que a estrutura que se transforma não é
educandos e o pesquisador-educador em uma
sujeito de sua transformação e que, no
situação de formação em que uns aprendem com os
desenvolvimento, o ponto de decisão se encontra no
outros (EL ANDALOUSSI, 2004).
ser que se transforma, apontando para a importância
Isso requer forte motivação e implicação por
de contribuições no terreno das práticas pedagógicas
parte dos professores. Significa o professor dos educadores e da concepção de aprendizagem
abandonar o conceito dominante, de que o como pesquisa-ação educacional que acolhe, valoriza
conhecimento é algo que pode ser transferido da e busca assegurar a participação e a diversidade
cabeça do professor para a cabeça do aluno, e cultural.
assumir o ‘ensino’ como um ato interativo, criativo e
inventivo. Implica o reconhecimento de que cada Pesquisa e formação de professores
aluno tem a sua própria maneira de processar o Mesmo sem referência explícita à pesquisa-ação,
conhecimento adquirido e deve ser tratado como vários autores consideram que a formação de
um indivíduo inteligente e capaz de pensar por si professores se relaciona diretamente com a pesquisa,
próprio. pois uma formação adequada requer o profundo
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 36, n. 2, p. 207-216, July-Dec., 2014
214 Thiollent e Colette
conhecimento das situações sociais em que os prática cotidiana [...] se a docência acredita [...] que
professores atuam (ANDRÉ, 2011; MEKSENAS, todas as experiências do sujeito pouco interferem em
2011). A adoção da metodologia só acentua a suas capacidades cognitivas, estará pondo limites
profundos ao desenvolvimento cognitivo do sujeito.
importância a ser atribuída à função de pesquisa no
processo de formação docente, já que essa No processo educacional voltado para mudanças,
perspectiva requer que os próprios professores se Freire (1981) considera três dimensões da
tornem, em parte, pesquisadores. aprendizagem: a dimensão cognitiva - aprendizagem
No contexto escolar, a pesquisa-ação pode de novos conteúdos e informações; a dimensão das
abranger níveis médio e fundamental, em projetos habilidades - desenvolvimento de competências
integrando docentes, pesquisadores de nível superior práticas; e a dimensão das atitudes -
e, também, extensionistas. As atividades comportamentos fundamentais à aplicação de
desenvolvidas nesse quadro abrangem trocas de conhecimentos transmitidos e habilidades
saberes, sistematização de experiências em sala de desenvolvidas e aos relacionamentos daí decorrentes.
aula, liberdade de expressão por parte dos docentes e Nesse sentido, a formação docente deve promover o
alunos, usando diários, jornais, blogs etc. Em seu desenvolvimento de competências que, para além da
conjunto, a capacitação de professores e a atenção ao currículo, levem o docente a desenvolver
aprendizagem promovida por projetos de pesquisa- práticas e relacionamentos condizentes com uma
ação são orientadas por valores de transformação perspectiva emancipadora de sua atividade
social e de melhoria do ensino (ZEICHNER; profissional, assim como dos indivíduos, dos grupos,
DINIZ-PEREIRA, 2008). Mas, no Brasil, a comunidades e contextos de sua atuação.
formação docente dominante tem se concentrado Com a pesquisa-ação educacional, as três
[...] em cursos de preparação inicial, geralmente dimensões da aprendizagem de Paulo Freire se dão
baseados em modelos de racionalidade técnica e, de forma integrada, pela articulação entre pesquisa e
quando existentes, os programas de formação ação. Desenvolver tais dimensões e competências
continuada são normalmente centrados em cursos implica, necessariamente, situá-las face à realidade
teóricos e de curta duração (ZEICHNER; DINIZ- em que estão inseridos os sujeitos envolvidos no
PEREIRA, 2005, p. 67). processo educativo, contribuir para que estes se
Em relação ao movimento internacional de percebam como objetos e sujeitos de mudança e para
pesquisa-ação em educação, Zeichner e Diniz- que venham situar sua atuação profissional como
Pereira (2005) analisam que, nas décadas de 1980 e atuação na sociedade, o que pressupõe a integração
1990, correspondeu a um reconhecimento de que os do próprio desenvolvimento e sustentação a uma
contribuição para com o desenvolvimento da
profissionais produzem teorias que os ajudam a
sociedade.
tomar decisões no contexto da prática e, ainda, que
O projeto de pesquisa-ação pode existir em
serviu como repúdio a reformas de cima para baixo,
diversos formatos e seguindo diferentes fases. O
que concebem os profissionais apenas como
grupo responsável por um projeto pode estruturá-lo
participantes passivos. Por outro lado, os autores
da seguinte maneira: (1) estudos teóricos e
referem-se à heterogeneidade do movimento, com
metodológicos, revisão de bibliografia; (2) oficinas
distintas aplicações da pesquisa-ação, compromissos
com participação de professores em formação;
políticos e ideológicos diversos e variadas (3) interpretação e avaliação dos resultados obtidos
concepções sobre aprendizado dos docentes e em (2) à luz de (1), gerando ensinamentos que serão
aprendizado dos estudantes. Alertam que, apesar de testados em sala de aula. Neste formato, uma
muita evidência na literatura, com relatos e primeira etapa deve alavancar a reflexão
depoimentos que defendem a metodologia para a epistemológica do professor em formação, quanto ao
melhoria da formação profissional, em alguns casos a entendimento de que o conhecimento não é
pesquisa-ação “[...] pode dar maior legitimidade a passivamente recebido, mas ativamente construído
práticas educacionais que reforçam e fomentam pelo sujeito cognoscente e que a função da cognição
iniquidades sociais [...]” (ZEICHNER; DINIZ- é adaptativa e serve à organização do mundo da
PEREIRA, 2005, p. 70). experiência (GLASERSFELD, 1996).
Pautado na concepção epistemológica piagetiana, Num processo coletivo e individual, deve
direcionada para o construtivismo interacionista, ocorrer interação entre os sujeitos da pesquisa-ação e
Becker (2013, p. 66-67) defende: entre cada sujeito e os conteúdos propostos. A
[...] o princípio, de forte incidência prática, de que a pesquisa deve constituir-se como espaço aberto à
teoria professada pelo docente, não importa se de troca de pontos de vista e experiências dos
forma inconsciente, estabelece limitações à sua participantes e à negociação das ações de forma que
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 36, n. 2, p. 207-216, July-Dec., 2014
Pesquisa-ação, formação de professores e diversidade 215
BECKER, F. Um divisor de águas. Coleção Memória MORIN, A. Pesquisa-ação integral e sistêmica. Rio
da Pedagogia, v. 1, n. 1, p. 24-33, 2005. de Janeiro: DP&A, 2004.
BRANDÃO, C. R. Pesquisa Participante. São Paulo: MORIN, A.; GADOUA, G.; POTVIN, G. Saber,
Brasiliense, 1981. ciência, ação. São Paulo: Cortez, 2007.
DEL REY, A. La tzannie de lévaluation. Paris: La PINTO, J. B. Pesquisa-ação: detalhamento de sua
Découverte, 2013. sequência. Recife: Sudene/Pnud, 1989.
DESROCHE, H. Pesquisa-ação dos projetos de autores REASON, P.; BRADBURY, H. Handbook of action
aos projetos de atores e vice-versa. In: THIOLLENT, M. research: participative inquiry and practice. Three Oaks:
(Org.). Pesquisa-ação e projeto cooperativo na Sage, 2001.
perspectiva de Henri Desroche. São Carlos: Edufscar, SANTOMÉ, J. T. A educação em tempos de
2006. p. 33-68. neoliberalismo. Porto Alegre: Artmed, 2003.
EL ANDALOUSSI, K. Pesquisas-ações. Ciência, SANTOS, B. S. A universidade do século XXI. Para
desenvolvimento, democracia. São Carlos: Edufscar, 2004. uma reforma democrática e emancipatória da
ELLIOTT, J. El cambio educativo desde la Universidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
investigación-acción. Madri: Morata, 1993. STENHOUSE, L. La investigación como base de la
ELLIOTT, J. La investigación-acción en educación. enseñanza. Colección Pedagogia, La pedagogia hoy,
Madri: Morata, 1990. 4ª ed. Madri: Morata, 1998.
FALS BORDA, O. Knowledge and people power. THIOLLENT, M. A educação permanente segundo
New Delhi: Indian Social Institute, 1988. Henri Desroche. Pro-Posições, v. 23, n. 3, p. 239-243,
FALS BORDA, O. Participatory action research. 2012.
Development: Seeds of Change, n. 2, p. 18-20, 1984. THIOLLENT, M. Action research and participatory
FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e research. An overview. International Journal of Action
Terra, 1981. Research, v. 7, n. 2, p. 160-174, 2011.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz THIOLLENT, M. Fundamentos e desafios da pesquisa-
e Terra, 2011. ação: contribuições na produção de conhecimentos
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e interdisciplinares. In: TOLEDO, R. F. (Org). A
Terra, 1979. pesquisa-ação na interface da educação, saúde e
ambiente: princípios, desafios e experiências
GAJARDO, M. Pesquisa participante na América
interdisciplinares. São Paulo: AnnaBlume/Fapesp, 2013.
Latina. São Paulo: Brasiliense, 1986.
p. 19-39.
GAULEJAC, V. Gestão como doença social. São Paulo:
TOLEDO, R. F. A pesquisa-ação na interface da
Ideias e Letras, 2007.
educação, saúde e ambiente: princípios, desafios e
GLASERSFELD, E. V. Construtivismo radical. Uma experiências interdisciplinares. São Paulo:
forma de conhecer e aprender. Lisboa: Instituto Piaget, AnnaBlume/Fapesp, 2013.
1996.
ZEICHNER, K. M.; DINIZ-PERRREIRA, J. E. A
LAGO, D. Henri Desroche, théoricien de pesquisa na formação e no trabalho docente. Belo
l´éducation permanente. Paris: Don Bosco, 2011. Horizonte: Autêntica, 2008.
LEWIN, K. Action research and minority ZEICHNER, K. M.; DINIZ-PEREIRA, J. E. Pesquisa
problems. Journal of Social Issues, n. 2, p. 34-36, 1946. dos educadores e formação docente voltada para a
LEWIN, K. Teoria do Campo em Ciência Social. São transformação social. Cadernos de Pesquisa, v. 35,
Paulo: Pioneira, 1965. n. 125, p. 63-8, 2005.
MCKERNAN, J. Currículo e imaginação. Teoria do
processo, pedagogia e pesquisa-ação. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
Received on May 1, 2014.
MEKSENAS, P. Pesquisa social e ação pedagógica.
Accepted on August 20, 2014.
Conceitos, métodos e práticas. 2. ed. São Paulo: Loyola,
2011.
MORIN, A. Cheminer ensemble dans la réalité
complexe. La recherche-action intégrale et systémique License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative
Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction
(RAIS). Paris: L´Harmattan, 2010. in any medium, provided the original work is properly cited.
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 36, n. 2, p. 207-216, July-Dec., 2014