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Artistas de destaque
Lasar Segall, um expressionista (1891-1957)
Segall nasceu na Lituânia em 1891 e estudou pintura em
Berlim, na rigorosa Academia Imperial de Artes de Berlim. Foi
afastado da academia em 1909 por expor na Secessão Livre, em
que recebeu o prêmio Max Liebermann em um período no qual sua
obra esteve fortemente influenciada pelo impressionismo. Depois da
expulsão, ele se mudou para Desdém, onde frequentou a Academia
de Belas-Artes de lá como aluno-mestre, antes de vir para o Brasil
em 1913.
No Brasil, Segall expôs seus trabalhos em São Paulo e
Campinas. As suas telas do período mostravam claramente a
influência do Expressionismo, em especial do grupo Die Brücke (A
Ponte). Após as exposições, Segall voltou para a Alemanha. Seu
trabalho nesse período apresentava formas angulosas e cores
intensas e procurava expressar os sofrimentos do ser humano.
A pintura dessa paulista, nascida em 1889, certamente foi o estopim para o Modernismo brasileiro e para
os acontecimentos da Semana de 1922. Em 1917, uma exposição de seus trabalhos causou polêmica na sociedade
paulista provinciana, que atacou com veemência o trabalho vanguardista da pintora. Um cruel artigo de Monteiro
Lobato comparava o trabalho de Anita “aos desenhos dos internos dos manicômios”. Isso provocou risos,
devoluções de obras e bilhetinhos ofensivos à artista.
A publicação no jornal O Estado de São Paulo criticava as extravagâncias de Picasso e seus companheiros.
O escritor ofendia Anita, mas esperava também atingir os modernistas, companheiros da pintora. Foi uma reação
inesperada, que espantou até os que conheciam o destempero do escritor, e inexplicável, pois sua editora, havia
pouco tempo, publicara um livro do modernista Oswald de Andrade, cuja capa fora desenhada justamente por Anita
Malfatti.
Anita era filha de pai italiano e mãe americana, nasceu com um defeito congênito na mão direita, o que a
tornou uma falsa canhota (ela costumava cobrir a mão deformada com um lenço colorido). Porém, sua limitação
física nunca a afugentou, pelo contrário, sempre a desafiou a superar seus medos e alcançar ideais. Ainda era
menina quando decidiu tornar-se pintora e, em 1912, mudou-se para Berlim, a fim de estudar cores com o artista
Lovis Corinth. Em 1915, a pintora mudou-se novamente, dessa vez para Nova York, onde ingressou na escola que
mais desejava, a Independent School of Art.
Na escola Independent, Anita desenvolveu sua linha de trabalho característica, que apresenta influências
do Fauvismo, do Expressionismo e do Cubismo. Nesse ambiente de liberdade e inspiração, a artista explorou as
influências expressionistas adquiridas durante seu aprendizado
anterior na Alemanha.
Tanto nas paisagens quanto nos retratos, a cor é o principal
instrumento da jovem Anita Malfatti. A obra O homem de sete cores
revela essa preocupação intensa, e tal técnica também produziu
grandes telas, como A boba. Em obras como A estudante russa, A
ventania e A onda, a paisagem local é representada como uma força
selvagem, agressiva e dinâmica, e o uso da deformação expressa
certa inquietação do olhar humano diante da natureza. Nessas
obras, assim como em Uma estudante, Anita revelou o seu interesse
em retratar o estado psicológico dos seus modelos. Fez uso de certa
deformação moderada, fugindo dos modelos clássicos.
Voltou ao Brasil, em 1917, para a desastrosa estreia da Arte
Moderna brasileira. Após a exposição, Anita viveu um clima de
sofrimento. Até mesmo o seu tio, que financiou seus estudos no
exterior, voltou-se contra ela e tentou destruir seus quadros com golpes de bengala. A artista resistiu às críticas
desfavoráveis de Monteiro Lobato, e essa resistência representou um marco na briga entre os artistas inovadores
contra o academicismo vigente. Muitos artistas passaram a se unir à pintora e a declarar apoio a seu estilo e suas
obras.
Anita apresentou seus trabalhos novamente na Semana de 1922 e, um ano depois, viajou para Paris. A
partir desse marco, sua obra começou a mudar, utilizava cores menos vibrantes, e suas formas se tornaram mais
simplificadas. Em 1928, retornou a São Paulo, onde participou de alguns eventos com os demais modernistas. Já
na década seguinte, sua participação nos meios artísticos se mostrava muito mais discreta, com retratos que não
demonstravam mais as deformações vanguardistas de anteriormente.
Conforme foi envelhecendo, a pintora foi se afastando cada vez mais das brigas envolvendo os movimentos
modernistas e acadêmicos. Apesar de ter sido cobrada pela falta de envolvimento, Anita preferiu adotar uma arte
que fosse simples e de fácil acesso a todos, o que não agradava aos seus antigos colegas de Modernismo. Nos
anos de 1950, isolou-se em seu sítio e tomou a liberdade de pintar ao seu modo até a sua morte, em 1964.
Em 1920, o artista retornou a São Paulo, e logo seu trabalho foi descoberto
por um grupo de modernistas, que ficou maravilhado com as suas esculturas. Em
pouquíssimo tempo, Victor Brecheret foi celebrado como um gênio de espírito
nativista. No mesmo ano, ganhou um concurso internacional de maquetes para a
construção de uma grande escultura. O projeto inscrito foi o Monumento às
Bandeiras, que foi iniciado em 1923 e concluído apenas em 1953.
Foi nessa fase que alguns
colecionadores norte-americanos
“descobriram” sua escultura e lhe
encomendaram algumas obras. Dentre
eles, está Madame Blair, que foi procurá-lo
em seu ateliê, quando esteve no Brasil,
para retratar sua filha e arrematou várias de
suas obras. Ela conheceu seus trabalhos
em Paris, comprou muitos deles e os doou a
diversas cidades norte-americanas, contribuindo para sua dispersão na
região. Madame Blair também adquiriu obras dos artistas da vanguarda
europeia ainda em Paris, como Picasso, Braque, Matisse, Léger e todo o
primeiro time dos vanguardistas. Anos depois, precisou voltar aos Estados
Unidos e perdeu toda a sua fortuna, mas uma exposição bem-sucedida de suas obras adquiridas permitiu que
mantivesse sua classe social. Madame Blair era marquesa e chamada de rainha do açúcar em Honolulu,
devido às suas grandes propriedades.
Ainda nessa mesma época, Brecheret criou Fauno, uma escultura simplificada, comparada a
outras já confeccionadas por outros artistas, que representaram tal figura de forma mais realista. O
personagem da mitologia romana está sentado em uma rocha, com o corpo inclinado e as pernas
dobradas. Essa temática não era comum aos modernistas, mas Brecheret parece apresentar um exemplo
da maneira como observava o meio e como sofria sua influência, pois era um pesquisador no Velho
Mundo. Parecia examinar, de um lado, modos de trabalhar e conceber a escultura e, de outro, a temática
desenvolvida no período.
Em 1921, o artista ganhou uma bolsa de estudos de cinco anos em Paris. O benefício é estendido
por quase quinze anos, com vindas esporádicas para o Brasil para realizar exposições. Na Europa,
Brecheret se destacou intensamente, participando de diversas exposições importantes e convivendo com
grandes nomes da época, como Fernand Léger e Picasso. Em 1932, tornou-se cavaleiro da Escola de Paris, por
sua obra O Grupo.
Nos anos de 1930, dedicou-se intensamente à vida artística do Brasil e, quando retornou definitivamente
para o país, venceu outro prêmio para elaboração de monumento público, dessa vez em homenagem a Duque de
Caxias. Na década de 1940, seu trabalho começou a ganhar um toque mais indígena e primitivo, e o
amadurecimento é caracterizado pelo acabamento rústico das peças e pelas composições orgânicas quase
abstratas.
Brecheret foi consagrado como melhor escultor da I Bienal de São Paulo, em 1951, e, após a sua morte,
em 1955, a IV edição do evento dedicou a ele uma sala especial.
Artistas de destaque
Di Cavalcanti (1897-1955)
Carioca nascido em 1897, Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e
Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti, foi um artista autodidata e um dos
grandes pioneiros da Arte Moderna no Brasil.
Começou seus trabalhos com arte fazendo caricaturas e tinha como
inspiração o estilo art nouveau. A primeira publicação de uma caricatura sua ocorreu
em 1914, no Rio de Janeiro. Logo em seguida, o artista se mudou para São Paulo
no intuito de terminar o curso de Direito. Em São Paulo, produziu caricaturas para
uma série de revistas, sob o apelido de “Urbano”. Em 1918, passou a frequentar o
ateliê do pintor George Elpons e se juntou a um grupo de jovens artistas e
intelectuais. Nesse grupo, Di Cavalcanti conheceu figuras como Oswald de Andrade,
Anita Malfatti, entre outros.
Em 1920, o artista iniciou a produção de suas próprias pinturas e, em 1921,
começou a organizar o que seria a Semana de Arte Moderna de 1922. Um ano
depois do alvoroço do evento de 1922, Di Cavalcanti viajou para Paris, cidade onde
morou até vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Suas obras sempre se mostraram sensuais e oníricas (sonhos, fantasias), com um
traço solto e um desenho evidente, que antecede a pintura. Suas telas apresentavam
influências do Cubismo e do muralismo mexicano. Seus temas pareciam inesgotáveis e podiam variar desde uma
análise do Rio de Janeiro noturno, carregada de sátira, até a pintura social que evidencia o povo de maneira inocente
e pura.
Di Cavalcanti foi um pesquisador das obras impressionistas, dos fauvistas, dos cubistas e as do pós-guerra.
Foi, também, um grande observador direto do submundo. Demonstrava tal olhar em suas obras e desenhos, nos
quais existe uma descrição realista dos bares, figuras volumétricas, com mãos e pés pequenos, cenas burguesas,
em interiores e nas ruas, cenas de circo, nus e prostíbulos. Essas temáticas eram fortemente exibidas nas obras de
artistas vanguardistas. Com isso, encontrou uma temática em que tratava, de forma direta, um realismo “liberado”,
conforme a sensibilidade e estilização própria, cheio de fantasias. Di Cavalcanti não queria se sentir amarrado a
qualquer teoria estética que pudesse restringi-lo.
Experimentou materiais e traços: realizou um Rosto de mulher, pincelado de modo espontâneo; testou o
desenho de traços finos, limpos e reduzidos, mais comum na Escola de Paris, como em Mulher nua, sentada.
Também tentou cores, como em Duas mulheres. Experimentando técnicas e materiais, ele procurava captar
diretamente a realidade à sua volta.
Villa-Lobos
O compositor Heitor Villa-Lobos ficou extremamente conhecido por suas obras, que criaram um divisor de
águas definitivo na música brasileira. Nascido em 1887, Villa-Lobos estudou no Mosteiro de São Bento, onde
costumava se juntar aos grupos de choro, tocando violão. Após terminar os estudos básicos, saiu em um período
de viagens pelo Norte e Nordeste brasileiro, com o intuito de descobrir e aprender mais sobre a música brasileira.
Em 1915, Villa-Lobos realizou seu primeiro concerto com composições próprias. Apesar das críticas negativas, que
o consideraram “moderno demais”, o compositor acabou recebendo mais convites para se apresentar em São Paulo
e Rio de Janeiro e rapidamente ganhou notoriedade.
Os concertos de Villa-Lobos chegaram a Buenos Aires em 1919, e, três anos depois, o compositor foi uma
das principais atrações da Semana de Arte Moderna de 1922. Depois das polêmicas apresentações no Teatro
Municipal de São Paulo, o compositor viajou para Paris, onde apresentou sua música, que foi muito bem recebida
pela Europa. Villa-Lobos retornou para o Brasil no final de 1924, mas logo regressou à Paris, em 1927, para realizar
novos concertos. Essa segunda viagem lhe rendeu grande prestígio internacional, sendo considerado um dos mais
importantes compositores da América Latina.
Os movimentos que se seguiram à Semana de Arte Moderna queriam reconstruir a cultura brasileira sobre
a base de temas nacionalistas, valorizando as origens do Brasil, indo incitando uma revisão crítica a respeito do
nosso passado histórico das tradições. Eles acreditavam que criando uma arte que tivesse legitimamente uma
“alma” brasileira eliminariam o sentimento de que o brasileiro e um eterno colonizado, dependente de valores ditados
pelos estrangeiros.
Após o evento da Semana de Arte Moderna foram lançadas diversas obras, revistas, publicações e
manifestos no cenário intelectual, que traziam uma investigação mais aprofundada, e, em certos aspectos, radical,
sobre as novas formas de expressão e o potencial de seu conteúdo. Dois exemplos marcantes dessas publicações
são a revista Klaxon e a revista Antropofágica, ambas foram lançadas com o intuito de propagar as ideias
modernistas apresentadas durante a Semana de 1922, espaço para os novos artistas darem continuidade aos seus
trabalhos.
As modernistas ideias eram disseminadas pelas publicações e inspiravam diversos artistas, grupos e
movimentos culturais. Os trabalhos dos artistas e grupos se caracterizavam pela valorização da cultura brasileira
desvinculadas da representação acadêmica. Os movimentos culturais representavam tendências ideológicas
distintas, separadas em duas correntes de pensamento nacionalista, de um lado, o Pau-Brasil e o Antropofágico e,
de outro, o Verde-amarelíssimo e suas escolas, como a Escola da Anta.
Movimentos culturais pós-Semana de 1922
Pau-Brasil
O movimento nativista Pau-Brasil começou com a publicação do Manifesto da poesia Pau-Brasil, escrito por
Oswald de Andrade e publicado no Correio da manhã, em 18 de março de 1924. O movimento, líder pelo próprio
Oswald e por Tarsila do Amaral, defendia a proposta de uma arte baseada na realidade e nas características
culturais do brasileiro. A arte seria desenvolvida com base na revisão crítica do passado histórico e cultural do país
utilizando-se das linguagens europeias de vanguarda. O artista deveria valorizar as riquezas da realidade e cultura
nacionais, com o intuito de despertar um sentimento patriótico, de retomar a consciência do povo.
Um dos grandes avanços estéticos desse período foi a busca de fontes brasileiras, formalizadas pela
problemática existente nos contrastes entre o campo e a cidade, o atraso e o progresso. Os trabalhos desse período
apresentam a dualidade da paisagem brasileira: as igrejas barrocas e a religiosidade popular contrastando com a
modernidade das pontes ferroviárias ou, com o progresso, representado pelos postes de energia elétrica. O quadro
Estrada de ferro Central do Brasil é o mais icônico do movimento, mesclando a herança dos cenários tradicionais
das fazendas e o avanço das cidades modernas, colocando lado a lado a rigidez das construções e da ferrovia com
as formas orgânicas da vegetação tropical.
Antropofagia
Assim como nos rituais antropofágicos de certos grupos de índios brasileiros,
nos quais eles se alimentam de seus inimigos com a intenção de absorver suas
forças, Oswald de Andrade propõe em seu movimento a degustação simbólica da
cultura estrangeira colonizadora, a fim de superar a civilização patriarcal e capitalista,
transcendendo suas normas rígidas no plano social e os recalques impostos no plano
psicológico. O nome e a decisão de criar o movimento vieram depois que Tarsila do
Amaral, em janeiro de 1928, presenteou Oswald com o quadro Abaporu, cujo o nome
tradução livre significa “homem que come homem” ou “antropófago”.
Depois de uma conversa entre Oswald de Andrade e Raul Bopp foi fundado
o Clube de Antropofagia, junto com o número inaugural da Revista Antropofagia, que
trazia o Manifesto Antropófago.
O movimento surgiu como uma nova etapa do nacionalismo do Pau-Brasil. A
revista teve Oswald de Andrade como seu principal idealizador e foi publicada entre
maio de 1928 e agosto de 1929, com dezesseis edições que podem ser divididas em
duas fases ou “dentições” – como seus organizadores preferiam. A primeira fase teve dez
edições, foram dirigidas por Alcântara Machado e gerenciadas por Raul Bopp, além
de contarem com o apoio de Oswald. A revista reuniu nomes como Mário de Andrade
e Plínio Salgado, que posteriormente se tornaram inimigos literários e políticos. A
segunda fase da Revista Antropofágica foi veiculada pelo Diário de São Paulo,
conduzida ainda por Oswald de Andrade e oficialmente dirigida por Raul Bopp e
Jaime Adour da Câmara. Essa segunda “dentição” ficou conhecida pela maior
oposição ideológica a outros movimentos contemporâneos, como o Verde-
amarelíssimo e a Escola da Anta, e o rompimento com grandes colaboradores, como
Mário de Andrade e Carlos Drummond. O último número da revista foi publicado em
primeiro de agosto de 1929, o seu fim foi ocasionado por uma série de desavenças,
além do forte teor crítico dos textos, ataques verbais e um enfrentamento direto da
Igreja Católica. As polêmicas levantadas pela publicação estavam levando os leitores
a devolverem o jornal em sinal de protesto. Em seu fim, a revista contava com a
colaboração de escritores como Oswaldo Costa e Patrícia Galvão e pintores como
Tarsila do Amaral e Cícero Dias.
Verde-amarelísmo
O movimento Verde-amarelista surgiu como resposta ao movimento do Pau-Brasil e seu “nacionalismo
afrancesado”. O movimento foi liderado por Plínio Salgado e teve como principal objetivo propor um nacionalismo
que fosse puro, primitivo e que não apresentasse qualquer tipo de influência estrangeira. Os membros dessa escola
estavam muito mais atrelados a questões literárias e defendiam um nacionalismo exacerbado e ufanista, idolatravam
a língua tupi e tinham fortes tendências nazistas e fascistas.