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04/01/2021 [MÚSICA] Entenda as referências de APES**T, novo clipe da Beyoncé e Jay-Z

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[MÚSICA] Entenda as referências de


APES**T, novo clipe da Beyoncé e Jay-Z ASSINE

por Ticiane Vitória · 20 de junho de 2018

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Assim como em Formation, Beyoncé quebrou a internet ao lançar um clipe artisticamente
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impecável e fortemente político. A nova música de Beyoncé e Jay-Z, que estão se apresentando
agora como The Carters, causa tremores já pelo título: Apeshit,  uma gíria americana que

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04/01/2021 [MÚSICA] Entenda as referências de APES**T, novo clipe da Beyoncé e Jay-Z

possui conotação racista e cuja denotação é no sentido de “furioso, louco e/ou selvagem”. Seja
com a intenção de ressigni car a palavra ou ironizar seu sentido, eles literalmente FECHARAM Enviar
O LOUVRE.

Apes**t possui 6:05 minutos, mas arriscamos dizer que a cada 5 segundos você vai se deparar
com várias referências. Não importa quantas vezes você assista ao clipe, sempre vai ter algo
que por algum acaso passou despercebido. O casal  The Carters conseguiu fazer TEXTOS POPULARES
de  Apes**t  uma obra de arte em si, que conversa com o presente, afronta o passado e nos
mostra o futuro por um novo ângulo.

APES**T - THE CARTERS

[OPINIÃO] Podemos admirar a Mulher-Maravilha,


mas não Gal Gadot

Tudo no clipe é simbólico. No início da música temos a Beyoncé cantando “I can’t believe we força do matriarcado e uma grande bagunça
made it” / Eu não acredito que conseguimos” (tradução livre) e já nestes 1:25 minutos de clipe
temos três referências fortíssimas:

1) O casal em uma posição imponente em frente à estátua Vitória de Samotrácia. Trata-se de


uma  escultura da deusa Victória (romanos) ou Nice/Niké (gregos) que representa a vitória,
força e velocidade e que é representada na forma de uma mulher alada. Precisa dizer que é
uma alusão ao poder e representatividade de um casal negro frente à indústria da música?

Quadrinhos eróticos feitos por mulheres:


erotismo para além dos homens

Animes com protagonistas femininas que você


precisa ver!

2) A alusão ao quadro Retrato de Uma Negra (Portrait of a Negress),  talvez seja uma das mais
fortes simbologias do clipe. Isto porque além de ser um dos poucos quadros do Louvre em
que uma pessoa negra é retratada, a obra em si (datada de 1.800) é tida como uma das
primeiras pinturas que se tem conhecimento, na qual uma pessoa negra não é retratada como
uma escrava.

É interessante notar que apesar da ascensão nanceira ser fortemente elucidada pelos dois,
seja na letra ou nas marcas de roupas e joias que usam (e neste caso vemos a Beyoncé de
Versace da cabeça aos pés), há uma preocupação política com o resgate histórico da Killing Stalking: o problema com os shippers

população negra – seja em Apes**t ou, como já vimos, no próprio clipe Formation.

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Uma coisa muito importante também é entender que o lugar de fala da Beyoncé e do Jay-Z é o
PODCAST
de pessoas negras norte-americanas. Ou seja, apesar das questões raciais nos serem comuns,
o contexto socioeconômico-cultural da população negra norte-americana é diferente.

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3) A primeira aparição deles em frente à Grande Es nge de Tanis, que representa a mistura do
poder invencível do leão à majestade  do rei e aparece propositalmente quando o Jay-Z fala:
“this a di erent angle” / “este é um diferente ponto de vista” (tradução livre)

Poderíamos parar por aqui mesmo, nalizando com essa citação que nem precisa de
explicação de tão incrível que é: 

“Gimme my check / Put some respect on my check / Or pay me


in equity, pay me in equity” / Me dê o meu dinheiro / Respeite o
meu dinheiro/ Ou me pague com igualdade, me pague com
igualdade” (tradução livre)

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No entanto, há outras referências que merecem destaque e, por isso, nos sentimos na
obrigação de discutir com vocês mais algumas coisas interessantes que nos chamaram a
atenção.

A decolonização do Louvre
Muita gente não deve estar habituada com o termo “decolonial”, mas não há palavra melhor
para de nir o que representou o a gravação do clipe Apes**t no Louvre, um dos museus mais
prestigiados e carregados de privilégios: predominantemente frequentado por pessoas
brancas e ricas e com um acervo produzido e representado predominantemente por pessoas
brancas e ricas. 

O pensamento decolonial (e não descolonial) parte de uma análise crítica do legado colonial.
Partindo de uma perspectiva sociológica e losó ca, a intenção não é “desfazer o colonial ou
revertê-lo, ou seja, superar o momento colonial pelo momento pós-colonial. A intenção é
provocar um posicionamento contínuo de transgredir e insurgir. O decolonial implica,
portanto, uma luta contínua“.

Por isso, ao ver pessoas negras de diversos tons de pele ocupando aquele espaço e
afrontando o status quo é a mais pura decolonização. Isso cou ainda mais evidente quando
vemos a Beyoncé dançando em frente ao quadro A Coroação de Napoleão  com suas
bailarinas. 

Ao som de “You ain’t on to this (no), don’t think they on to this / Você não é páreo para nós, não
acho que eles sejam páreos para nós” (tradução livre), Beyoncé se sobrepõe ao “grande”
colonizador Napoleão, que no quadro encomendado por ele mesmo antes de sua coroação de
fato, posta-se como se estivesse coroando a si mesmo. No entanto, não percebe que está na
verdade coroando a nossa rainha Beyoncé.

Ênfase às questões raciais

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Como bem disse a lósofa e feminista, Djamila Ribeiro, “[…] quando pessoas negras estão
reivindicando o direito a ter voz, elas estão reivindicando o direito à própria vida“. No caso
de  Apes**t,  é o contraste pungente que fala, ou melhor, que nos grita. O que melhor
simbolizaria a (r)existência do que uma mulher negra e um homem negro arrumando o seu
black power, em frente ao quadro da famosa Mona(LISA)?

Trocadilhos à parte, o quadro da Mona Lisa – ou A Gioconda – é conhecido por representar o
ideal de beleza feminino que se tinha à época na qual ele foi pintado, e no clipe ele é visto em
segundo plano perdendo espaço para pessoas que foram pouco ou mal representadas na
história e na arte, as quais resistiram e resistem às opressões dos padrões de beleza
eurocêntricos, impostos até os dias de hoje.

Quando a Beyoncé se posiciona frente à estátua da Vênus de Milo (a Afrodite dos gregos) –
o símbolo da beleza feminina – com uma roupa que, de certa forma, lhe dá um corpo quase
que de mármore, personi ca em si mesma um outro tipo de beleza possível: a beleza da
mulher negra.

Apes**t causou um efeito imediato em todas nós. Parece que a Beyoncé atingiu um ponto da
carreira no qual ela pode ter nalmente a liberdade de criar músicas que criticam a sociedade,
sem ter medo de sofrer retaliações ou enterrar a sua carreira por isso. Beyoncé e Jay-Z utilizam

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seus privilégios para dar voz às mais diversas demandas do movimento negro americano,
sentindo-se o movimento representado por eles ou não.

Talvez, como de certa forma vemos na letra,  Apes**t  é um presente, um agradecimento a


todos e todas que resistiram para que hoje tivéssemos pessoas negras ocupando espaços de
poder e decolonizando esses espaços. A nal, “Have you ever seen the crowd goin’ apeshit?”

Leia também:

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esquecimento

>> [LIVROS] Em seu livro, Djamila Ribeiro nos mostra a importância do


nosso “lugar de fala”

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medo de buscar a liberdade

A COROAÇÃO DE NAPOLEÃO APES**T APESHIT ARTE BEYONCÉ BRANQUITUDE

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TICIANE VITÓRIA
Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é
coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares,
projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É
viciada em Lego, apaixonada por cção cientí ca/terror/horror,
apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o
nome das pessoas. No mundo real é advogada.

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