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Análises

Revolução de um homem só: a carreira solo de TAEMIN é um


dos textos fundamentais do pop contemporâneo
01/09/2021 By Caio

Músicos também produzem textos, e música também é narrativa. Na carreira de qualquer músico com
qualquer medida de ambição artística, é possível encontrar histórias, testamentos culturais, sentença
pop expressadas em letras e em videoclipes, que é onde elas se tornam mais óbvias, mas também em
performances ao vivo, escolhas de produção e composição (melodia e harmonia), personalização fashi
Mas fundamental, para os propósitos deste artigo, é notar o plural dessas histórias, testamentos e
sentenças. 

Seja dividindo-as em álbuns ou períodos (como a trilogia das idades de Adele ou os capítulos da
discografia do TXT), a maioria dos artistas contemporâneos conta histórias múltiplas, ainda que
conectadas por uma sensibilidade singular, durante a sua carreira. E com isso não quero dizer só que
narrativas em si se abrem e se fecham – não é só que o Green Day, por exemplo, falou de um grupo de
personagens em American Idiot, e de outro no 21st Century Breakdown -, mas que as intenções do artista se
transformam, e com elas o texto. O texto cultural, o que fica e impacta além da própria obra, o das
entrelinhas.

Dá para contar nos dedos de uma mão os artistas contemporâneos que são capazes de manejar essa
transformação de intenções, natural do próprio amadurecimento do sujeito que produz a arte, de uma
forma que não leve a essas quebras de texto, que não o transforme em plural, em múltiplo. É um jogo
complicado, que exige não só obstinação e talento, mas principalmente visão – porque, para que um te
cultural sobreviva e tenha relevância dessa forma, com uma “cauda longa”, ele precisa ser mais
transformador, mais crucial para o zeitgeist, e (fundamentalmente) mais intrínseco ao artista como pess

Em suma: ter um texto só é coisa de artista que cava mais fundo, sabe mais de si, e sente uma gana maio
se colocar no mundo, usando as partes de si que são capazes de transformá-lo de verdade. Lee Taemin
um desses artistas.

Falando com o corpo

TAEMIN 태민 'Advice' MV
Uma das consequências mais curiosas e bacanas dessa particularidade de TAEMIN é que qualquer pon
de sua carreira solo pode se tornar, com facilidade, um ponto de entrada perfeito para alguém que aind
não conhece a sua obra. Qualquer que seja o momento de TAEMIN que você acesse primeiro, a conexão
imediata e o disparo da narrativa que ele vem construindo com o passar dos anos é inevitável. Se você
começa, é difícil parar.

Para mim, foi “Advice”, lançamento mais recente do cantor, uma culminação de referências e propostas
lançada como um “até logo” astuto pouco antes de TAEMIN se alistar para o serviço militar obrigatório
Coreia do Sul. O MV da faixa tem o momento indelével da cultura pop de 2021, a cena que vai ficar marcad
na memória cultural como definidora dele, a imagem que estaremos discutindo no futuro quando o ass
for este ano.

Cercado de dançarinos vestidos de vermelho e preto, um TAEMIN inteiro de branco levanta o braço dir
até a altura da cabeça, olhando para a câmera em desafio, enquanto seu moletom se ergue para mostra
tatuagens que passou anos escondendo do público e um sports bra. A coreografia, misturando movimen
circulares e sutis (“femininos”) com passos geométricos e rápidos, baseados em ângulos agudos
(“masculinos”), deságua em TAEMIN tirando o boné para revelar seu longo cabelo tingido de loiro nas
pontas, e uma maquiagem de olho pesada e borrada. Ao fundo, ele canta: “Eu vou seguir os meus próprios
conselhos”.

Eu genuinamente acredito, e a história da cultura pop está do meu lado, que com o tempo o sucesso
meteórico de uma ou outra obra de arte passa a contar menos para o quanto ela realmente importa. A
imagens que se imprimem na consciência coletiva não são sempre as que foram mais vistas em sua épo
mas aquelas cuja força expressiva, cuja conexão com o cenário de onde saíram e o cenário mais amplo a
dele, são maiores que as das outras. “Advice”, me parece óbvio, tem essa distinção.
Isso é verdade na primeira vez que qualquer pessoa dá play no MV, mas se torna ainda mais verdade um
vez que essa pessoa conhece a narrativa, o texto, em que ele está incluído. Uma vez que, fisgado pelo
desafio de qualquer obra que seja sua primeira de TAEMIN, você adentra no mundo dele… e,
eventualmente, chega em “Move”.

Lançada em 2017, como faixa título do segundo álbum completo de TAEMIN, “Move” é lembrada como u
grande pulverizadora de regras. No MV, o artista aparece cercado por um corpo de bailarinas inteiram
feminino, uma raridade para artistas homens no k-pop (e na música pop como um todo, sejamos sincer
até hoje. Os passos do refrão estão entre os mais simples, mais sensuais, mais decoráveis, mas também
mais brilhantemente impactantes, da história da indústria – e são seguidos de maneira idêntica tanto
TAEMIN quanto pelas dançarinas.

Assim como acontece em “Advice”, é uma coreografia inteira sobre o contraste entre poses “femininas”
“masculinas”, que deixa de lado a acrobacia por acrobacia e maximiza cada movimento por sua potênc
expressiva. Isso fica ainda mais óbvio no vídeo especial em que TAEMIN apresenta “Move” em um duet
hipnotizante com a dançarina Koharu, os dois oscilando várias vezes, em meros 3 minutos, entre quem
passos mais expansivos e quem está à cargo de trazer sutileza e delicadeza para o quadro.

Não se trata de uma relação de dominador e dominado. “Move”, como tudo o que TAEMIN fez em sua
carreira (ele tem, afinal, um texto), prospera na difusão dos holofotes, na simetria entre ele e seus
bailarinos. Ele está sempre no centro das formações da coreografia, claro, mas os movimentos não estã
ali para servir a ele. Não se trata da criação de um sex symbol, da construção de um ícone que quebra
barreiras de gênero para o deleite do público contemporâneo progressista. Trata-se de dizer algo, de
juntar forças expressivas plurais para inverter um paradigma de maneira muito mais potente do que el
poderia sozinho.

TAEMIN, que em sua atuação no grupo SHINee sempre se focou na dança, ressignificou, em sua trajetó
solo, a função e o uso dela no k-pop. Em comentário em um dos vídeos de performance de “Press Your
Number” no YouTube, um fã define esse aspecto melhor do que eu poderia: “Tudo o que ele faz irradia
arte. Ele poderia estar rebolando ou sarrando no chão, e eu não veria isso como sexual – apenas artíst
lindo”.
Em uma trajetória que buscou dar face ao feminino e ao masculino, e à confusão deliciosa entre eles, co
consciência absurda (uma das marcas do artista, especialmente em suas obras mais recentes, é o olhar
direto para a câmera, traindo um propósito e uma intencionalidade inconfundíveis), TAEMIN encarnou
uma sensualidade, uma sinestesia de corpo e mente, que foge obstinadamente do apelo puramente
sexual.

Sua persona define, por meio da dança, uma angularidade única, nunca mais evidente do que nos figuri
folgados de “Want”; e um sentimentalismo genuíno, como no solo improvisado, e não coreografado, da
suplicante “2 Kids”. Tudo isso dobrado dentro de um mesmo texto de reposicionamento de limites e
barreiras, expressado por meio de imagens exponencialmente mais complexas e maduras.

E pode ser tentador, às vezes, dizer que com TAEMIN é tudo, sempre, sobre a dança – mas a verdade é q
sua arte não termina aqui.

Falando com a música (e com a câmera)

O “arco” musical da carreira de TAEMIN é inextricável, obviamente, de suas expressões visuais – mas o
mais divertido talvez seja identificar como o TAEMIN musical de Move ou Advice sempre esteve, ainda q
talvez em uma versão menos sofisticada, no TAEMIN de Ace, sua estreia solo, lançada em 2014.

Basta olhar para “Pretty Boy”, meditação exploratória do que significa a masculinidade em um context
contemporâneo. Na letra, TAEMIN desafia um “cara durão” a “relaxar os seus ombros tensos” e entende
uma forma diferente de se mover, de existir no mundo. Por cima de um som limpo, divorciado das
influências eletro do k-pop contemporâneo (no melhor estilo que a nossa Sam chamou de “Música do
Taemin™”), ele soa como um jovem George Michael em “Faith” ou “I Want Your Sex”, pedindo que
depositemos nossa confiança em uma forma diferente de popstar.

O que entra em cena nos projetos seguintes, de Press It a Move e Want, é uma preocupação melódica que
ainda não existia no Ace. O uso do agudo “aéreo” (esse é o único adjetivo possível para descrever o tom
voz dele nas notas mais altas) de TAEMIN, e a aparição de baladas mid-tempo que incorporam influência
inesperadas ao seu som elegante (pense na guitarra espanhola de “Day and Night”), criam uma identida
musical muito mais definida, e que se presta muito mais à revolução que ele estava se preparando par
implementar.

Há algo na música de TAEMIN que deve muito ao apelo subversivo e à ênfase na guia emocional que
orientou a fase áurea da carreira de Janet Jackson. Move é o Control dele, mergulhado em proposições
psicossensuais, e a construção melódica das canções do disco reverbera ainda no Want, uma continuaç
espiritual em todos os sentidos – note como o “hot-hot” da faixa título deste último repete e reflete o
“you’ve got-got the rhythm” de “Move”.

O Never Gonna Dance Again é mais difícil de entender apenas como ato musical, porque suas ideias visua
são mais marcantes do que as anteriores do artista. “Criminal” e “Idea” são os MVs mais carregados de
simbolismo da carreira de TAEMIN, em seu abuso de imagens duplicadas, especialmente do próprio
cantor – uma separação de duas personas que parece ter começado a fazer mais sentido para ele confo
a dimensão de seu impacto e importância no mercado coreano e global se tornou mais clara.

O que TAEMIN faz é desdobrar essa separação dentro do texto que já esteve construindo antes. Em me
ao desafio aos conceitos de masculino e feminino, ele inclui também um desafio às normas de uma
indústria (a do entretenimento como um todo, incluindo a ocidental) que desumaniza e desconsidera a
saúde mental daqueles que elege como símbolos, como ídolos. Não é tão difícil, porque desmontar as
duas coisas é uma questão de sobrevivência para quem quer que ouse desafiá-las.

“Me conte sobre sua dor/ Não quero alguém sem sentimentos/ Vou te levar para o paraíso/ Você vai sen
o paraíso”, canta ele em “Heaven”, em um refrão que contém provavelmente a melhor ideia melódica da
carreira solo do cantor. Como em “Advice”, é a proposição de um mundo mais permissivo e sensível com
individualidade de cada um, recebendo expressões radicais de personalidade, desassociadas – ou
conscientes, mas abertamente contraditórias – de expectativas sociais.

Um reino de incerteza
É impossível saber de fato se o TAEMIN que vai voltar do seu alistamento militar dará seguimento ao
mesmo texto singular que construiu com o passar dos anos até Advice, mas parece-me difícil imaginar q
não. Independente das mudanças que ele possa passar pessoalmente, me parece que ele abriu um espa
em sua arte para expressar quem é dentro de um propósito muito intrinsecamente seu, cuja aura é de
puramente imutável.

Excepcionalidade tem dessas: uma vez que você sente o gosto dela na sua boca, não dá para voltar atrá
Abrir mão de um texto de tanto impacto e importância por uma multiplicidade mais superficial, mais
passageira, é uma troca que simplesmente não faz sentido. E por um texto tão transformador quanto o
TAEMIN, vale a pena esperar quase dois anos.

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3 thoughts on “Revolução de um homem só: a carreira


solo de TAEMIN é um dos textos fundamentais do pop
contemporâneo”

Priscilla
02/09/2021 às 6:56 pm

Nossa! Muito bom o texto. Eu sempre falei isso, existem outros cantores solos que amo no kpop,
que cantam demais! que fazem música boa que eu amo; mas o que o Taemin faz é música com
intenção e isso torna ele um artista muito mais interessante para mim. Que me dá muito mais
prazer de acompanhar.

Ah, só uma nota, a mulher que dançou com ele em MOVE se chama Koharu e não Hokaru como
está escrito. <3
Responder

caio 
02/09/2021 às 8:30 pm
Oi, Priscilla! Obrigado demais pelos elogios e pela correção, vou mudar aqui no texto haha
<33
Responder

 Pingback:

Não existe queerbaiting no (k-)pop. Todo (k-)pop é queer.

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