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LÍNGUA PORTUGUESA

Figuras de Linguagem

Ensino Médio, Série 1º Ano


FIGURAS DE LINGUAGEM

Você já deve ter notado que em muitos textos, sobretudo nos


literários, as escolhas do autor quanto ao uso das palavras, à
forma como elas estão dispostas, às relações que estabelecem
entre si criam certos efeitos de sentido, de forma, de ideia ou de
sonoridade, que podem contribuir para o conjunto do texto,
acrescentando-lhe beleza, humor, ritmo, complexidade ou outra
característica qualquer. Muitos desses efeitos são obtidos
através de estratégias estilísticas, as quais damos o nome de
Figuras de Linguagem .
As figuras de linguagem, muitas vezes, são
utilizadas de tal forma que acabam até mesmo por
marcar o estilo de um autor, como é o caso, por
exemplo, da Ironia, marca registrada de autores
como José Simão e Luis Fernando Veríssimo. A
Aliteração e a Assonância, por sua vez, marcam
as obras de muitos poetas e letristas, como Chico
Buarque. A Paranomásia, por sua vez, é muito
usada, por exemplo, nas letras dos Engenheiros do
Hawaii.
Observem a letra da música:

Parabólica
Ela pára e fica ali parada
Olha-se para nada, Paraná
Fica parecida à paraguaia
Pára-raios em dia de sol para mim
Prenda minha parabólica
Princesinha clarabólica
O pecado mora ao lado
O paraíso... paira no ar
[...]
Prenda minha parabólica
Princesinha clarabólica
Paralelos que se cruzam
Em Belém do Pará
longe, longe, longe (aqui do lado)
Paradoxo: nada nos separa
Eu paro e fico aqui parado
Olho-me para longe
A distância não separabólica
 (Augusto Licks - Humberto Gessinger)
Repare que no decorrer da letra, o termo “para”,
contido no título da música “parabólica”, é
constantemente retomado em usos diversos,
desde o verbo parar (Ela para) e a preposição
para (Olho-me para longe), até o seu uso como
parte de substantivos e adjetivos (paradoxo;
Paraná; parado). Com isso, além de jogar com
os sentidos múltiplos de “para”, o compositor
ainda consegue um interessante efeito sonoro na
sua repetição e retomada, o que colabora muito
para a musicalidade de Parabólica .
 Agora analisem a crônica de José Simão:

Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O braço


armado da gandaia nacional. Rebelião in Rio! Direto do
País da Piada Pronta. Sabe como é o nome daquela cadeia
no Rio com rebelião e fuga? BENFICA! Casa de Custódia
de Benfica. Malfica. A cadeia acabou de ser inaugurada, e
os presos mal ficaram. Rarará! Muda pra Benfuga! E
olha a placa do chargista Kemp na avenida Brasil:
''Velocidade máxima. Balas de fuzil: 110 km. Granadas de
mão: 20 km. Pedras arremessadas: 15 km''. Ultrapassou,
o radar multou. É a RIOLÊNCIA! [...]
Nos engraçados comentários de Simão, sobre o
nome da penitenciária, fica clara toda a sua
irreverência manifestada pela ironia. Outro ponto
hilário do trecho é justamente o seu final, onde o
cronista ironiza os radares, fazendo uma absurda e
engraçada associação com as armas usadas na
violência urbana do Rio de Janeiro, chamada por
ele de “Riolência”. Crítica que se estende às
penitenciárias, não só do RJ, mas também de todo
o país.
 
Agora vamos falar um pouco de cada um dos
tipos de figuras de linguagem que estudaremos
nesta aula, que são as Sonoras e as de Sintaxe.
Para começar, vamos organizá-las nos seguintes
grupos:
Figuras sonoras;
Figuras de sintaxe;
Figuras de palavras;
Figuras de pensamento.
(as duas últimas estudaremos em outro momento)
FIGURAS SONORAS

São aquelas que têm o seu efeito mais evidente


justamente nos sons das palavras ou de parte delas,
podendo ou não envolver diretamente o seu
sentido.
 
 Aliteração – uso repetido de sons consonantais
parecidos, como no exemplo:
A chegada ofuscante de tantas meninas nada
tinha que dever à festa luzida de velas e valsas
e vozes levadas de vento.
(Diogo Avelino. O Baile das Debutantes)

Perceba que nesse exemplo, a repetição sistemática da


consoante “v” torna-se ainda mais interessante por
“imitar” o som do próprio vento citado no trecho.
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Figuras de Linguagem e Efeitos de Sentido

Assonância – uso repetido dos mesmos sons


vocálicos, como no caso de:
E na rala vala deitara e enterrara a bela clara.

Nesse exemplo, fica claro o efeito obtido na frase


pela repetição da vogal “a”. Contudo, fica igualmente
evidente que não há efeito visível do ponto de vista
do sentido.
 Paranomásia – ocorre quando o autor faz uso
de palavras com sons parecidos (parônimas), mas
geralmente com sentidos diferentes. Veja o
exemplo:
Não queria ir embora, embora não
pudesse mais ficar.
Note que na primeira ocorrência da palavra
“embora”, ela tem o sentido de “partir” e na
segunda assume o sentido da conjunção
adversativa “embora”, que é sinônimo de
“contudo”, “todavia” etc...
Onomatopéia – a onomatopéia é uma palavra
criada para imitar o som de alguma ação ou mesmo
de alguma ocorrência. Veja um bom exemplo disso:
...era um tal de potoc, potoc, potoc,
potoc infernal enquanto passavam apressados os
valentes soldados da cavalaria.

No exemplo, fica evidente que a repetição da


palavra “potoc” busca imitar o som que fazem as
patas dos cavalos quando em trote.
 
FIGURAS DE SINTAXE

As figuras de sintaxe são recursos que têm seu


efeito mais evidente na organização sintática do
enunciado, como a omissão de um de seus termos
essenciais ou a inversão de uma ordem direta (e
mais natural) entre seus termos, modificando uma
norma sintática ou o seu uso corrente.
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 Hipérbato: trata-se de uma troca na ordem mais


corrente dos termos de uma oração ou mesmo das
orações de um período composto. Contudo, entre os
gramáticos há certa polêmica sobre como chamar
algumas inversões na organização dos enunciados.
 Bechara, por exemplo, chamaria uma inversão simples
como em chegou a menina (uma inversão de a
menina chegou que enfatizaria a chegada e não a
menina) de antecipação.
 Já Rocha Lima considera que uma anástrofe
(inversão entre o termo regido e o termo regente,
como em do dia os raios fortes os iluminava, em
vez de os raios fortes do dia os iluminava) é
apenas um tipo de hipérbato.
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Pleonasmo: uma das figuras de linguagem mais


conhecidas, trata-se da repetição enfática de um termo ou
uma ideia, reforçando-o no enunciado. É o caso dos
populares subir pra cima (quem sobe, necessariamente
vai pra cima), descer pra baixo (quem desce vai pra
baixo), sair pra fora (quem sai, sai sempre pra fora de
alguma coisa ou lugar), que são vícios de linguagem.
Contudo, há casos nos quais a repetição é mais sutil e até
mesmo “estilística”, por assim dizer. Ex.: sorria um
sorriso nervoso (neste caso, mesmo sendo evidente
que quem sorri, sorri um sorriso, fica claro o efeito de
ênfase que obtém o produtor do enunciado ao explicitar o
termo “sorriso” para poder qualificá-lo como sendo
“nervoso”.
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Polissíndeto: essa figura de linguagem ocorre


quando o autor de um texto opta por repetir
sistematicamente um mesmo conectivo entre
orações ou outros elementos seguidos de um
mesmo período. É o que acontece no exemplo onde
a conjunção aditiva “e” é repetida várias vezes:
De tanta alegria, a menina sorria, e chorava, e
gritava, e corria, e cantava alegres canções.
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Anacoluto: ocorre quando há, dentro de uma


oração ou frase, um termo qualquer que parece
deslocado ou que compromete, de certa maneira, a
compreensão do sentido geral. É muito comum,
sobretudo, na oralidade, quando uma pessoa muda
de opção sobre a construção sintática do enunciado
que fará, ou mesmo em textos escritos que visem
reproduzir este efeito característico da fala. Ex.:
Minha história, tudo besteira pra enganar
os outros
(note que o sujeito “minha história” ficou sem
predicado).
 
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Anáfora: a anáfora é a repetição de uma mesma


palavra ou estrutura no início de frases ou versos
consecutivos em um texto, fazendo o papel de
elemento coesivo.

[...] É como mergulhar no rio e não se molhar/ É


como não morrer de frio no gelo polar/ É ter o
estômago vazio e não almoçar/ É ver o céu se
abrir no estilo e não se animar
(Samuel Rosa/Lelo Zaneti/Chico Amaral. Te ver).
SKANK
UMA ATENÇÃO ESPECIAL AO
ESTUDARMOS A

Silepse: normalmente confundida com


um simples erro (o que nem sempre condiz com
realidade, pois pode ser uma opção expressiva do
autor). A silepse é concordância com a ideia que
uma palavra expressa e não com sua categoria
número/gênero/pessoal. Ela pode ser:
1) De número (singular/plural). Ex.: a dupla era
invencível por que eram muito fortes (“dupla” é
um substantivo singular);
2) De gênero (masculino/feminino). Ex.: Sua
Majestade parece cansado hoje (“Sua
Majestade” é um termo feminino);
3) De pessoa: Os caruaruenses somos muito
forrozeiros (o verbo “somos” deveria estar na
terceira pessoa para concordar com “os
caruaruenses”, mas aparentemente o autor do
enunciado acaba por se incluir).

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