A música em questão, composta por Tom Jobim no ano de 1972, tem um
caráter subjetivo universal, versos que aparentam falar de tudo e, ao mesmo tempo, nos dão a sensação de não estarem falando “nada com nada”. Cabendo assim, diversas possíveis interpretações da obra. Analisando atenciosamente, podemos encontrar por toda ela, palavras e expressões, como: “fim do caminho; pouco sozinho; morte, tombo da ribanceira; fim da ladeira; fim da canseira; fundo do poço”... Mostrando-nos uma depreciação da vida por parte do autor, expressa na música. Explicada por uma certa crise na carreira, que o compositor enfrentava na época, seu envolvimento com a bebida, e uma possível depressão. Além do cunho pessimista, “Águas de Março” contraria isso em muitos versos. Alguns exemplos são: “é a vida, é o sol”, presente ainda na primeira estrofe; “festa da cumeeira”, “luz da manhã”, “promessa de vida no teu coração”. Esse contraste no primeiro aspecto apresentado nos trás a sensação de “altos e baixos”, algo comum e presente na vida de todos os indivíduos, e que possa ter sido, também uma estratégia por parte do compositor para abranger e cativar maior quantidade de pessoas, para assim, vencer a crise na venda de seus discos. “Águas de Março” tem, quem sabe, o seu “mistério profundo”, ou tenta falar desse mistério que é a vida, que hora estamos bem, e em “festa”, noutra, estamos pensando que é o “fim” (palavra bastante repetida na música), até mesmo pensando no fim, reféns de depressões. Mas as águas de março fecham um ciclo, uma fase e se inicia outro, pois após “a noite” (1ª estrofe, verso 4), “é o dia” (6ª estrofe, verso 3).