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Aula de Harmonia

Análise Harmônica da música Chega de Saudade (Tom Jobim/Vinícius de Moraes)

Basicamente, e muito basicamente mesmo, uma tonalidade maior está relacionada a um


acorde MAIOR NO CENTRO TONAL. Isso quer dizer que, durante todo o desenvolvimento
harmônico de uma canção em tonalidade maior, existe a tendência do retorno a esse centro
tonal. Uma relação que o contexto da canção desenrola em torno desse centro.

Se uma canção está em DÓ maior como exemplo, em uma música tonal autêntica, o acorde C
será sempre a referência. Mas hoje em dia, isso já está tudo muito misturado. Músicas com
intenção modal dentro de contextos tonais, o chamado NEOMODALISMO. Da mesma maneira,
em uma canção em tonalidade menor, o CENTRO TONAL é o acorde Im da tonalidade, como
exemplo: Cm.

Desta forma, o todo o desenvolvimento harmônico da canção, passando por II cadenciais


secundários, acordes diminutos, AEM’s etc… existe uma inclinação ao retorno do acorde do I
grau. O fato é que, uma música em TONALIDADE MAIOR cria SENSAÇÕES diferentes que em
relação a TONALIDADE MENOR.

“TONALIDADE MAIOR: Gera sensação de alegria, vida, vibrante, entusiástica.“

“TONALIDADE MENOR: Gera sensação de sombra, tristeza, melancolia.“

Na canção CHEGA DE SAUDADE, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, há um excelente exemplo


utilizando o contraste – TONALIDADE MAIOR E MENOR:
Relação Tonalidade maior x Tonalidade menor
A canção, a princípio, começa em RÉ MENOR. Há todo o desenvolvimento sobre essa
tonalidade, passando por dominantes secundários, SubV7, acordes diatônicos etc… tendo
como referência o centro tonal RÉ MENOR.

Após um trecho da canção, houve uma modulação para a tonalidade HOMÔNIMA MAIOR, ou
seja, RÉ MAIOR e, nesse sentido, também houve todo o desenrolar na tonalidade maior,
ocorrendo diversas ferramentas que a harmonia oferece.

A canção, portanto, passa por duas tonalidades.

RÉ MENOR
RÉ MAIOR

Esse tipo de modulação entre tonalidades homônimas é muito comum, seja no samba, bossa
nova, sertanejo antigo etc… A canção está em tom maior e MODULA para tom menor e vice-
versa.

MODULAÇÃO PARALELA
Neste caso, houve uma modulação paralela.
“Modulação paralela é quando há mudança de tom para a tonalidade homônima maior ou
menor, “Dó maior – Dó menor”, “Ré menor – Ré maior” etc… Tal modulação é de certa forma
“suave”, isso pelo fato da permanência da mesma nota tônica da tonalidade em questão,
porém, podemos dramaticamente dar uma sensação de “alegria” ou “tristeza” utilizando essa
ferramenta. Vejamos”:

Observe que relatei que “podemos dramaticamente dar uma sensação de alegria ou tristeza
utilizando essa ferramenta”, que é a modulação paralela.
Repare na canção CHEGA DE SAUDADE o que o autor enfatiza na letra da mesma em ambas as
tonalidades:

TONALIDADE RÉ MENOR:

“Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela não pode ser/ Diz‐lhe numa prece que ela regresse,
porque eu não posso mais sofrer”

TONALIDADE RÉ MAIOR:

“Mas, se ela voltar, se ela voltar que coisa linda, que coisa louca, pois há menos peixinhos a
nadar no mar, do que os beijnhos que eu darei na sua boca”

A primeira dá um ar de tristeza, solidão, sua amada se foi e seu profundo sofrimento por isso.

Já a segunda dá um ar de esperança, de alegria e um êxtase de somente pensar na


possibilidade de sua amada regressar.

Respectivamente: TONALIDADE MENOR E TONALIDADE MAIOR.

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