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Análise de Bohemian Rhapsody, versão do grupo vocal: Pentatonix

Verônica Tavares

Bohemian Rhapsody é uma canção composta em 1975 por Freddie Mercury,


tocada pela banda Queen na qual Freddie era vocalista. A canção fez e faz muito
sucesso até hoje, inúmeras bandas e artistas regravaram e hoje em dia
continuam regravando, inclusive um grupo vocal pop chamado “Pentatonix” fez
uma versão em 2017 bem próxima da original, porém utilizando apenas as vozes
e sons emitidos pela boca. Essa análise será feita a partir da versão de
Pentatonix, e em alguns momentos será relacionado com a versão original
tocada pela banda Queen. A escolha por essa canção, veio pelo interesse em
música vocal, pois a música vocal pode ser bem completa, e essa é uma forma
de demonstrar como o uso apenas da voz é capaz de trazer timbres diferentes,
e bem próximos da sensação de música instrumental.

A canção tem uma grande forma, iniciando com uma introdução; seguindo com
o grupo A, Interlúdio; Grupo B; Grupo C; e finaliza com uma coda.

Seção Compassos Tema Tonalidade


Introdução 1 ao 33 Massa vocal Ab
Grupo A 34 ao 92 Verso e tema 1 Ab / Db
Inrerlúdio 93 ao 108 Solo de guitarra Db
Grupo B 109 ao 149 Pequena ópera Inicia em G e finaliza em Ab
Grupo C 150 ao 186 verso rock Db
Coda 187 ao 211 final Db / Eb

Na introdução, contabilizada do compasso 1 até o compasso 33, a tonalidade


é de lá bemol Maior, porém não é estabelecida logo de cara, pois se inicia com
um F7/C e somente no compasso 8 aparece a tônica pela primeira vez. Do
compasso 19 até o 23, surge um motivo harmônico que se repete mais a frente
na canção (do 112 ao 114). A partir do compasso 30 até o fim da introdução
(compasso 33), finaliza na tônica, ressoando em Ab.

A tradução da letra que foi escrita por Freddie Mercury na introdução discorre da
seguinte forma:
Isto é apenas fantasia? Eu não necessito de nenhuma simpatia

Soterrado num deslizamento Porque eu tenho vida fácil, fácil vou

Sem saída da realidade um pouco elevado, pouco baixo

Abra seus olhos De qualquer forma que o vento soprar,

Olhe para o céu e veja não importa realmente, a mim.

Eu sou apenas um menino pobre,

É perceptível que junto com essas dúvidas e reflexões demonstrando angústia,


reflete-se também no som, já que não tem mudanças rítmicas e as notas são
bem exatas, o que cria um clima quase sobrenatural, como ocorre também na
versão original. Do compasso 30 ao 33, a escolha do grupo vocal, foi de criar um
som mais limpo, preciso, utilizando o fonema “dm” (dãm) fechando o “m” em boca
chiusa, mantendo os timbres vocais mais próximos possíveis, o que traz a
sensação de ser um instrumento só, e dessa forma ficar mais próximo do som
de um piano.

No Grupo A, que ocorre do compasso 34 até o 92, acontecem vários momentos


de modulações, de lá bemol para ré bemol e vice e versa, e fica se repetindo, de
lá bemol para ré bemol, e de ré bemol para lá bemol. É onde também aparece o
tema A, do compasso 34 ao 62, com uma modulação no meio desse tema de lá
bemol para ré bemol no compasso 50. O tema cantando por Mitch Grassi:
Nos trechos em Lá bemol, a partir da letra, ele expressa sentimentos de
aceitação e calmaria. Porém nos trechos em Ré bemol, demonstra justamente o
contrário, manifesta desespero, estar sem saída, e sem querer ser punido pelo
que fez. E antes do interlúdio faz uma grande dominante de Ré bemol.

Ab - Mamãe, acabei de matar um homem

Coloquei uma arma contra a sua cabeça

Puxei o gatilho, agora ele está morto,

Mamãe, a vida tinha acabado de começar

Mas agora eu estou acabado e joguei tudo fora

Db - Mamãe, ooo

Não quis fazer você chorar

Se eu não voltar dessa vez então amanhã, Continue, Continue, como se nada realmente
importasse.

Ab - Tarde demais, minha hora chegou,


Sinto arrepios em minha espinha

O corpo doendo o tempo todo

Adeus a todos - eu preciso ir

Deixarei vocês todos para trás e enfrentarei a verdade

Db - Mamãe, ooo - (de qualquer forma que o vento soprar)

Eu não quero morrer

As vezes desejo que eu nunca tivesse nascido

É nesse trecho que entra pela primeira vez a percussão em técnica vocal de
beatbox feito por Kevin Olusola, mais especificamente a partir do compasso 47
até praticamente o final do grupo A. A ênfase que as vozes dão para cada
reflexão durante a canção, vão sempre em conjunto, traduzindo ainda mais a
mensagem expressiva a ser passada, com um som mais sublime nos momentos
de aceitação e calmaria, e um som mais brusco e cheio, nos momentos de
desespero.

Em seguida, ocorre um pequeno interlúdio, que se inicia no compasso 93 e vai


até o compasso 108, no qual o grupo canta com um timbre de emissão mais
anasalado, com intenção de se obter um som mais próximo de uma guitarra,
sendo que o solista principal (Mitch Grassi), utiliza uma espécie de megafone
para ajudar a obter um som mais metálico, já que na canção original esse seria
um trecho de solo de guitarra, e a ideia é soar algo próximo a de uma banda.

Nesse trecho, chega finalmente em ré bemol que nesse momento se torna a


tônica, e que se antecedeu em uma dominante no trecho anterior do grupo A.,
porém termina com algo que pode ser chamado de “ponte modulante” para em
seguida no grupo B chegar em sol maior.

No grupo B, que vai do compasso 109 até o 149, pode ser chamado também
de uma “pequena ópera” pelos timbres vocais mais impostados e conduções de
vozes serem próximos de um estilo de ópera. Há muitas modulações, já iniciando
em sol maior até o compasso 114, seguindo de uma pequena ponte modulante
pra o compasso 117. Do compasso 117 até o compasso 120, ocorre um
contraponto imitativo com a participação de todas as vozes, finalizando numa
pirâmide em Si bemol menor com sétima nos compassos 120 e 122, para depois
cair na tônica desse trecho, em lá bemol maior com muito cromatismo no motivo
melódico no compasso 122 seguindo até o 123. Importante notar, que o tema do
compasso 122 e 123, apareceu no compasso 111 a 112 com pequenas
alterações rítmicas, como podemos comparar abaixo:

O compasso 124, a tônica passa a ser o ré bemol, e segue o trecho com bastante
cromatismo até o compasso 130, a partir do compasso 131 os acordes ficam
circulando em lá bemol até o compasso 138, onde ocorre mais uma pirâmide,
agora em mi com sétima, para seguir com acordes de dominante (lá bemol) e
tônica (ré bemol), e a partir do compasso 146 até o final do grupo B, mantém se
nessa grande dominante, onde só vai resolver no grupo C.

No grupo C, iniciando no compasso 150 até o compasso 186, que também pode
ser chamado de rock por suas características típicas do gênero de rock,
principalmente na versão original (porém importante ressaltar que, na versão do
grupo vocal Pentatonix, apesar do esforço para manter a tradução mais próxima
do original, acaba tento algumas limitações, como nesse trecho do Rock, o som
ficou mais próximo de um rock pop), inicia com a tônica em ré bemol, depois fica
um bom tempo na dominante, e passa por alguns graus de ré bemol. Observe
que no compasso 167 utilizou-se o mesmo motivo que já tinha sido utilizado no
compasso 150:

Em seguida passa por um mi bemol no compasso 170 como quem está soando
como dominante de lá bemol, porém o acorde que vem depois seria de mi maior
soando como dominante do lá maior que aparece logo em seguida. Desde o
compasso 167, há vários momentos com pequenas escalas as vezes
incompletas, que aparecem até o compasso 182. Em alguns momentos tem um
certo reforço da tonalidade de ré bemol, como no compasso 175 e 176 que tem
a dominante em lá bemol, e resolve em ré bemol no compasso 177, finalizando
esse trecho na tônica (ré bemol).

A coda se inicia no compasso 187 e vai até o final da canção no compasso 211.
Segue no campo harmônico de ré bemol, até surgir um acorde de si maior no
compasso 200, seguido de um si bemol maior no compasso 201 com um pedal
em si bemol, que passa a ser a dominante, em alguns momentos aparecem a
subdominante, depois dominante, para finalizar a canção com um longo acorde
de mi bemol maior.

Essa canção tem uma grande complexidade, e essa pequena análise, trouxe
várias dúvidas e questionamentos principalmente quando se tenta somar todas
as vertentes da canção como: letra, sonoridade, forma, timbre, interpretação,
harmonia, etc. Porém essa pequena imersão, possibilitou uma nova visão de
formato de escrita, principalmente se tratando de música popular, todas as
seções são interligadas fazendo total sentido uma com a outra. Junto com a
complexidade, vem uma riqueza de detalhes que realçam a beleza, detalhes
esses que não cansam ao ser escutados, mas faz com que se agarre na escuta
dando muitas vezes impressão de que o tempo de escuta foi menor do que
realmente foi. E o grupo Pentatonix, com todo o respeito pela canção, e ao
mesmo tempo mantendo sua identidade de grupo vocal acapella, fez muito bem
a tradução, trazendo a mesma sensação de descontinuação do tempo.

Referências:

Wikipédia: bohemian Rhapsody, 2021. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Bohemian_Rhapsody. Acesso em: 13 Dez. 2021.

Mercury, FREDDIE. Perfomance por Pentatonix. Transcrição por George Wu. 1


partitura. Disponível para download em:
https://pdfcookie.com/download/bohemian-rhapsody-pentatonix-full-
arrangement-w-lyrics-dvm1d1mdrqvy. Acesso em: 12 Dez. 2021.

Bohemian Rhapsody. Compositor: Freddie Mercury. Performance: Pentatonix.


Baixo: Avi Kapan; Barítono: Scott Hoying; Contratenor: Mitch Grassi; Mezzo
soprano: Kirstie Maldonado; Percussão Beat Box: Kevin Olusola. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ojRj2JK5oCI&list=OLAK5uy_lpcV2kgmfpEU
OAKMoZ3H5vS7bn1yHyjDU&index=2. Acesso em: 21 Dez. 2021.

Bohemian Rhapsody. Compositor: Freddie Mercury. Performance: Queen.


Guitarra e vocal: Brian May; Vocal e piano: Freddie Mercury; Baixo: John
Deacon; Bateria e vocal: Roger Taylor. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=fJ9rUzIMcZQ. Acesso em: 22 Dez. 2021.

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