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Fazer um material sobre Blues é um desafio, pois estamos tratando de um estilo que é a
origem da música popular do ocidente, ou seja, é do Blues que estilos como o rock, gospel,
pop e o jazz se originaram e que, por sua vez, destes estilos se originaram muitos outros.
Portanto, quase toda a música popular que temos acesso hoje em dia tem algum elemento de
blues.
O desafio esta no fato de que ao longo de mais de 1 século o blues sofreu inúmeras influências
e tem sido tocado de muitas maneiras diferentes, portanto, existem muitas vertentes dentro
do blues.
O meu objetivo aqui não é fazer um compêndio sobre o estilo, mas sim trazer de forma
objetiva os elementos que aparecem quase que, obrigatoriamente, na maioria das vertentes.
Portanto, os conceitos explanados aqui poderão ser aplicados em qualquer uma das vertentes
do blues.
Também estarei tratando de um numero pequeno de formas porém as formas mais comuns,
de qualquer maneira, formas diferentes de blues vão usar basicamente os mesmos conceitos
de improvisação.
Ao longo da apostila estarei também recomendando várias outras vídeo aulas onde vou
afundo em conceitos que passarei superficialmente nesta aula.
Vemos músicos tocando o blues com elementos bem básicos e outros usando elementos mais
sofisticados. Meu objetivo aqui é apresentar uma boa parte desses elementos sem entrar no
mérito do que seja melhor ou pior pois obviamente é meramente uma questão de escolhas,
portanto o ponto aqui é dar o máximo de possibilidades.
Mantendo o padrão de minhas outras aulas, não me preocuparei em passar licks de blues, até
porque já existe vasto material sobre isso, mas me concentrarei em explicar os conceitos,
escalas, arpejos, linhas cromáticas, harmonia e outros detalhes que considero imprescindíveis.
Mateus Starling
O SURGIMENTO DA FORMA NO BLUES:
Essa forma se estabeleceu logo no inicio do século passado, mas o blues inicialmente
executado pelos escravos americanos do fim do século XIX era basicamente um acorde maior,
sem forma definida de compassos.
O blues era um grito de lamento vindo dos escravos que não tinham qualquer tipo de
formação musical. O blues era muito mais do que uma música e sim um elo espiritual do
homem com Deus.
Passado esse período inicial de apenas um acorde maior e sem forma definida, começou-se a
ouvir a variação harmônica do primeiro grau para o quarto grau e só mais tarde foi
acrescentando o quinto grau.
Existe também o Blues executado sobre acordes menores e por isso eu vou separar o estudo
do blues em:
1- Blues maior
2- Blues menor
São 2 etapas diferentes, apesar de que em ambos os casos seguiremos o padrão harmônico de
12 compassos na forma.
DEFININDO A FORMA HARMÔNICA DO BLUES:
É comum dividirmos a forma das músicas e partes definindo-as como parte A, parte B e parte C
basicamente.
Os Standards de jazz mais tradicionais possuem a forma padrão tipo A A B A, ou seja, se toca a
parte A da música 2 vezes, depois aparece uma nova progressão distinta chamada de B que é
tocada 1 vez e depois voltamos para a parte A.
Parte A (8 compassos)
Parte A (8 compassos) repetição da parte anterior com uma pequena variação no ultimo
compasso que faz a transição para a parte B.
Parte B (8 compassos)
Parte A (8 compassos) repetição da parte A com uma pequena variação nos últimos 2
compassos para fazer o turnaround* final para o começo da música.
OBS: Turnaround é uma progressão que prepara a música para voltar ao começo da forma.
No Blues não temos essa forma padrão tipo AABA, mas teremos apenas 12 compassos que
variam entre o acorde de primeiro, quarto e quinto grau basicamente.
Ex 1:
No exemplo acima percebemos que o acorde de primeiro grau é mantido por 4 compassos.
No quinto compasso tocamos o quarto grau por 2 compassos e depois voltamos para o
primeiro grau no sétimo e oitavo compasso.
Na etapa final do blues, ou seja, no nono compasso, vamos para o quinto grau (primeira vez
que esse acorde aparece). No décimo compasso vamos para o quarto grau e no décimo
primeiro e décimo segundo compasso descansamos novamente no primeiro grau.
EX 2:
No ultimo compasso acrescentamos o quinto grau que visa “preparar” o primeiro grau do
compasso 1.
FORMA DEFINIDA:
Iremos estudar ainda outras variações dentro dessa forma (mantendo 12 compassos, porém
com outras variações harmônicas), principalmente no blues jazz, mas iremos enfatizar a forma
do exemplo 2 para praticarmos a parte de acompanhamento e improvisação dentro do Blues
maior.
ACORDES NO BLUES:
- Trítono
Note que no primeiro acorde eu salto uma das cordas e ela precisa estar sendo abafada pelo
meu dedo 1 para não soar a corda solta.
Gosto mais da primeira sonoridade pois é mais crua e ótimo de executar, tanto para tocar
sozinho quanto com banda.
No exemplo abaixo optei por tocar os acordes mais enxutos, mas você pode usar também o
modelos mais cheios.
O trítono é uma sonoridade característica no acorde dominante, pois é gerado nos intervalos
entre a terça maior e sétima menor do acorde dominante ou então entre a sétima menor do
acorde e a terça maior ascendente.
Observando o exemplo a seguir verificamos que ao tocar o trítono gerado entre a sétima
menor de Dó e a terça maior do mesmo acorde, o trítono do próximo acorde (F7) estará
localizado meio tom abaixo.
Nos acordes abaixo apenas o primeiro esta sendo tocado com baixo na quinta para servir de
direção para os outros. Esse mesmo acorde aparece novamente sendo tocado na quarta corda
no terceiro compasso.
Exercícios:
Toque 2 tipos por compasso dentro da progressão do blues. Abaixo 2 por compasso:
IMPROVISANDO NO BLUES MAIOR:
A escala pentatônica é uma escala de 5 notas usada originalmente sobre acordes menores,
mas o Blues tem como característica usar a penta menor sobre o acorde maior, ou seja, no
acorde de A7 (acorde maior com a sétima menor) usaremos exatamente a escala pentatônica
de A menor. Haverá um confronto entre a terça maior do acorde e a terça menor da escala.
Esse confronto é peculiar ao estilo.
No gráfico abaixo você pode visualizar a escala pentatônica de A menor acrescida da Blue note.
Blue note é a quarta aumentada(#4) e também é uma nota característica no blues. Esta nota
(#4) cria uma linha cromática entre o quarto grau e o quinto (4 #4 5).
Portanto a escala pentatônica de A menor com a blue note terá essa configuração.
T b3 4 #4 5 b7 = A C D D# E G
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Exercício 1: Vamos agora tocar criando temas simples feitos de forma espontânea. Essas temas
vão se tornando melhor com a pratica e também ouvindo o estilo, criando referências através
da audição.
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ARPEJOS DOMINANTES:
Vamos agora aprender 5 modelos dos arpejos dominantes tal como aprendemos 5 modelos
para penta menor. A tônica esta destacado com uma estrela branca.
Recomendo que você veja a minha aula sobre dominantes onde cubro, entre outras coisas, o
estudo em 12 tonalidades nos ciclos de quartas.
Ao colocar os modelos em A7, C7, D7, E7, G7 fica fácil perceber os 5 modelos na mesma
região.
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T b3 3 4 #4 5 b7 = A C C# D D# E G
Portanto temos uma longa linha cromática de C até E, porém tocar a linha cromática
aleatoriamente não faz muito sentido, procure sentir a sonoridade que cada uma dessas notas
produz sobre o acorde dominante.
Como prometi não passar licks, vou dar vários exemplos espontâneos no vídeo para que você
possa ter a referência sonora.
OBS: Quando a forma do blues migrar para o quarto e quinto grau você deve combinar a penta
blues do I7 com o arpejo dominante do acorde momentâneo.
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Baseado no conteúdo aprendido até o momento vamos tocar o blues usando acordes tipo
pianista. Esse sistema também é muito bacana para tocar solo.
Ex1: Sem acompanhamento (usando metrônomo ou não) vamos tocar um blues enfatizando as
mudanças de acorde tocando o acorde novo na cabeça do tempo como exemplificado no
vídeo.
Você pode usar qualquer um dos acordes aprendidos, seja os acordes mais graves (que
funcionam muito bem tocando solo) ou os drops2.
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MODO MIXOLÍDIO APLICADO NO BLUES:
Recomendo que você estude de antemão o modo mixolidio, mas vamos dar uma rápida
pincelada no modo para aplicarmos diretamente no Blues.
Sabendo que o campo harmônico imutavelmente segue a ordem abaixo chegamos a seguinte
conclusão:
Algumas pessoas vão dizer que G7 mixolidio é a escala de Dó maior começando da nota G e
isso é uma verdade apenas relativa.
G7 mixolidio possui todas as notas da escala de Dó maior, isso é uma verdade, porém você
pode executar a escala começando de qualquer nota e não necessariamente da nota G, mas
você pode usar a nota G como referência da tônica.
O raciocínio que eu acho mais adequado é ver o arpejo dominante (4 notas) e mais as outras 3
notas que formam a escala como notas de tensão (nona e décima terceira). A quarta é
conhecida como nota de passagem.
T 2 3 4 5 6 b7
Sublinhei as notas do arpejo para que você possa notar que os graus 2, 4 e 6 estão entre as
notas do arpejo.
OBS: É importante salientar que na forma do Blues cada acorde dominante será tratado
individualmente como um mixolídio distinto.
Exercícios:
Se você não possui uma experiência razoável sobre mixolídios eu proponho o estudo dos
mesmos sobre ciclo de quartas, dessa maneira você aprenderá os 5 modelos e poderá utilizar
em todos os tons. Abaixo os arpejos de C7 nas 5 regiões.
Perceba que o arpejo de C7 (C E G Bb) estão contidos dentro de C mixolidio (C D E F G A Bb).
Exercício 2:
Toque o arpejo dominate e perceba as notas da escala mixolidia sendo acrescentadas a esse
arpejos.
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Estamos entrando agora numa sonoridade mais “sofisticada”, pois usaremos tensões que, até
o presente momento, não foram usadas. São elas: b9, #9, b13 e #11
Esse tipo de sonoridade é muito comum no Blues-jazz e usadas por guitarristas como Robben
Ford, Larry Carlton, Wes Montgomery e etc.
Como já tenho um material especifico sobre a escala menor melodica e os modos gerados da
mesma, aconselho estudar esse material antes de adentrar nessa parte, mas de qualquer
maneira irei abordar o tema mais voltado para o Blues.
Iremos falar especificamente de 2 modos gerados pela escala menor melódica que é o mixo
#11 e a escala alterada.
Primeiramente você precisa aprender os 5 modelos da escala menor melódica ou pelo menos
estar forte em 2 ou 3 deles.
O modo mixo #11 é o quarto grau da escala menor melódica, portanto se temos um acorde F7
iremos pensar na escala de C menor melodica sobre esse acorde que irá gerar as notas de F
mixo #11.
É interessante notar que quando tocamos a escala de C menor melodica sobre o F7 estamos
simplesmente gerando as mesmas notas da escala F mixolidia apenas trocando a quarta justa
do mixolidio normal pela nota #11.
Veja no quadro acima que em vermelho enfatizei a nota que difere um modo do outro.
Exercício 1: Pratique o modo mixo #11 no ciclo de quartas, perceba a leve diferença que tem o
mixolidio aprendido anteriormente e apenas mude a quarta.
Exercício 2: Pratique também pelo ponto de vista da sobreposição da escala menor melodica
sobre o acorde dominante.
Exercício 3: Agora vamos tocar o mixo #11 toda vez que tivemos o acorde de quarto grau no
Blues. No caso aqui no Blues em Dó tocaremos sempre mixo #11 sobre o F7 como consta na
figura abaixo.
Escala alterada:
Agora vamos pensar na escala alterada que será gerada ao tocarmos a escala menor melodica
½ tom acima do acorde dominante em questão. Pensando em G7 iremos tocar a escala de Ab
menor melódica.
As notas geradas por essa escala será: T b9 #9 3 #11 #5 b7 que colocando dentro do acorde de
G alterado será as seguintes notas: G Ab A# B C# D# F
OBS: Note que dentro da escala alterada esta contida a tríade aumentada e a tétrade
aumentada com sétima menor. Veja a tétrade aumentada e acrescente as notas da escala.
Exercício:
2) Na forma do Blues toque a escala alterada unicamente no quinto grau, ou seja, no blues em
Dó unicamente quando a progressão for para o acorde G7.
Na forma acima você pode experimentar tanto a sonoridade da escala mixo #11 quanto da
escala alterada.
Agora vamos analisar uma forma mais “sofisticada” de blues onde temos o uso de acordes tipo
IIm7 V7 e também o turnaround I7 VI(alt) IIm7 V7.
Nessa progressão você pode usar todo o conhecimento de acordes dominantes adquiridos até
o presente momento.
Até o sétimo compasso não tem nada diferente se comparada a progressão anterior do blues,
portanto, vamos experimentar uma mudança no oitavo compasso com um acorde dominante
alterado (dominante secundário) que prepara para o acorde menor de segundo grau (9º
compasso) que gera a progressão IIm7 V7 indo para o I7, que é a progressão mais presente
dentro de temas tradicionais de jazz.
Existe muitas possibilidades para a progressão IIm7 V7 I7 mas nesse momento vamos optar
por usar a escala menor melódica referente ao acorde menor que será a mesma escala usada
sobre o acorde V7. Na pratica, no blues em Dó o IIm7 será o acorde Dm7 e o V7 o acorde G7,
portanto usaremos a escala menor melódica de Dm7 tanto quanto para o G7.
Nos 2 últimos compassos do Blues temos um turnaround bem rápido com 2 acordes em cada
compasso. Nessa ocasião você pode salientar cada acorde individualmente ou então optar por
executar a penta blues do tom, no caso C menor penta com a blue note sobre todo o
turnaround, o que é uma sonoridade bem comum nesse contexto. Salientar a blue note nessa
passagem é importante para captar a vibe da proposta.
Note também que eu deixei em aberto as outras possibilidades, ou seja, você estará livre para
encarar os outros acordes da maneira que achar mais adequada.
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ACORDES COM TENSÃO:
Recomendo que você veja minhas vídeo aulas sobre acordes onde vou mais profundamente
nestes assuntos: “Aulão de acordes” e “Acordes novas possibilidades.”
Anteriormente mostrei 2 possibilidades de acordes, entre eles os modelos com drop2, iremos
agora misturar o conhecimento de drops com outras possibilidades.
A guitarra, por ser um instrumento limitado pelo numero de cordas e pelo uso de apenas uma
das mãos para executar acordes, se comparado ao piano que possibilita executar um acorde
com até 10 notas tocadas simultaneamente, alguns tipos de acordes se consagraram no
instrumento por ter uma forma mais confortável de execução.
A intensão aqui é apenas mostrar algumas possibilidades já que na aula acordes novas
possibilidades eu falo mais profundamente nas inúmeras possibilidades geradas em blocos
quartais, intervalos e famílias.
Você pode usar cada tensão separadamente ou então combina-las de qualquer maneira.
A tensão #11 funciona bem sobre dominantes mixolidios como também sobre dominantes
alterados pois esta contida na escala alterada.
Como os acordes alterados geram muitas tensões, eu destaquei em vermelho cada acorde e
suas respectivas tensões.
3)Acorde menor: tensão 9 e 11
Baseado nas formas do blues que estudamos anteriormente, o único acorde que não tem a
qualidade dominante é o acorde menor.
Veremos agora algumas possibilidade de acordes tipo tétrade menor (T b3 5 b7) acrescidas da
nona e décima primeira que pode ser usada tanto para acordes dóricos como eólios. Na
progressão em questão o acorde menor aparece na função dórica, ou seja, segundo grau da
progressão.
O IVm7 dura 2 compassos e depois volta por mais 2 compassos para o acorde Im7.
No nono compasso aparece o primeiro acorde dominante sem alteração e logo depois um
acorde dominante alterado que resolve no penúltimo compasso no Im7.
Por fim no ultimo compasso aparece novamente o V7(alt) para preparar o acorde Im7
novamente no primeiro compasso.
As escalas usadas serão as seguintes:
Im7 = eólio
IVm7 = dórico
A proposta de exercícios será a mesma do blues anterior, o único conceito novo que estamos
observando é a aparição da escala menor eólia e da dórica.
A escala eólia é a simplesmente a escala menor natural e que tem essa configuração:
T 2 b3 4 5 b6 b7
C D Eb F G Ab Bb
T 2 b3 4 5 6 b7
No blues em Dó menor o acorde que receberá a escala dórica será o Fm, portanto, sobre ele
teremos as seguintes notas:
F G Ab Bb C D Eb
Por termos simplesmente as mesmas notas tanto para Cm eólio quanto para Fm dórico a
principio nos leva a pensar que não precisamos nos preocupar com a mudança entre os 2
acordes, o que de fato é verdade, mas é importante também perceber que cada um desses
acordes possuem características importantes.
Exercício 1: Vamos tocar apenas a pentatônica de Cm com a blues note sobre toda a
progressão do Blues menor e veremos como ela soa.
Exercício 2: Vamos tocar agora a escala de Cm natural sobre toda a progressão e nos acordes
Ab7 e G7(alt) enfatizaremos a penta blues de Cm.
Exercício 3: Vamos tocar o arpejos tríade e tétrade de cada acorde.
Exercício 4: Usaremos agora a escala mixo #11 para o acorde Ab7 e a escala alterada para o
acorde G7(alt)
Exercício 5: Vamos alternar agora o uso de acordes com improvisação com escalas. Para isso
vamos fazer os seguintes exercícios:
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Conclusão:
Cobrimos muitos aspectos do Blues maior e menor. Um material extenso que certamente deve
ser digerido ao longo do tempo.
Muitas possibilidades foram apresentadas, mas sabendo que o estilo obviamente não se limita
ao material que eu apresentei.
O importante é ouvir as referência do estilo e perceber qual o caminho mais interessante para
se seguir dentro deste universo enorme do Blues.
Mateus Starling.
www.mateusstarling.com.br
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