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Luto para que todo ABS tenha um WC. e não para que todo WO tenha um OK. mas pra
que todo o QG tenha HP toda a PM, PF, BG, BHC, LSD, CBF, OB, RJ, FMI, PCB, MPB e
CHICO, O, MST, SOS! [...]
É com essa montagem, talvez? De siglas vocalizadas em ritmo de Hip Hop que,
extraídas de ouvido, se tornam incompreensíveis em certo ponto, o modo como as produtoras
do vídeo CEP 20000 escolheram para iniciar a produção audiovisual comemorativa dos 10
anos de existência do Centro de Experimentação Poética 20000. O CEP, como é conhecido,
se estabeleceu como sarau multimídia desde agosto de 1990. Localizado na cidade do Rio
Janeiro, foi desenvolvido, a princípio, por Guilherme Zarvos e pelo poeta Chacal, conhecido
por ter feito parte, na década de 70, do fenômeno poético e cultural conhecido como “poesia
marginal brasileira”.
Para conversarmos sobre a produção audiovisual que envolve meu trabalho de pesquisa
com o CEP, coloco em questão o vídeo produzido pela BL Productions no ano de 2000. Esta
produção foi distribuída pela revista Trip, acompanhada de um CD com músicas e poemas
falados que haviam sido apresentados no sarau até então.
O vídeo apresenta o CEP com imagens que surgem em velocidade agitada e
descontínua, enquanto que a palavra segue o mesmo fluxo, flutuante. É interessante como a
imagem no vídeo ganha força, pois é pela imagem e não pela palavra que algumas
informações são dadas ao espectador a princípio. Há uma confluência de passos, vozes, ruas,
placas, batuques, palco e platéia em direção ao espaço que será apresentado.
Desafio-me a pensar em como os autores do vídeo, ao apropriar-se da maneira como
eles mesmos vêem e pensam o CEP 20000, usaram os processos de montagem para trazer à
tona ressonâncias de suas percepções individuais. Ao longo desta produção, há uma narrativa
com imagens sem nexo entre si, que parece buscar relacionar os acontecimentos que
configuram o sarau a uma máquina turbinada pela deformidade feita nas palavras, nos sons,
nos movimentos corporais, nas atitudes despadronizadas e no pensamento fora domínio da
razão.
Até onde esta montagem, os cortes, a escolha estética pela alta velocidade em que se
passam os quadros é produtora de realidade? Talvez o vídeo tenha resolvido esta questão
Referências
DELEUZE, G. Del clichê ao hecho pictórico. In: DELEUZE, Gilles. Pintura, El concepto de
diagrama. Buenos Aires: Cactus, 2007. p. 49-88.
SEMETSKY, I. Experience. In: PARR, Adrian (org.). The Deleuze Dictionary. Edinburgh:
Edinburgh University Press, 2010. p. 91-93