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1
F. MARTINS
_______
O OFÍCIO DE PRESBÍTERO
http://semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htm
Alécia,
isto é para Você e nossos filhos,
companheiros de fé presbiteriana.
Tenho esplêndido amigo e irmão na fé, e ainda na vocação apostólica grande estímulo, que
escreveu, prefaciando certa literatura que lhe ofertaram, não gostar desta natureza de
escrito — prefácio — "Inúteis". Diz esse amigo.
Discordo.
Não é tão agradável, e não é mesmo cousa de bom tom, e de mediana educação fina,
apresentar a gente a outros amigos e conhecidos os amigos, os colegas, os parentes, os
ilustres?
Pois é isto o que faço nestas linhas rápidas. Tenho imenso gosto e satisfação em dizer ao
leitor ou amigo que este relativamente pequeno volume, uma tese, simplesmente uma tese,
é um tesouro, uma riqueza, um vade-mecum inestimável.
Foi uma das maravilhas que surgiram no inédito e abençoado l.o Congresso de Presbíteros,
na Capital da República, nos meados do ano corrente. Foi a tese maior, mais completa,
mais analítica e mais erudita, no seu campo de pesquisas, que se viu e se ouviu no conclave
magnifico mencionado, ao meu modo de ver.
Quem ler e assimilar bem, e o livrinho é claro, correto e límpido, o conteúdo da tese, ora
em mãos do leitor, terá tudo1 o que precisa saber e aplicar sobre a doutrina e a pragmática
do presbiterato cristão.
O segredo de uma monografia assim tão1 avantajada e vantajosa, útil e prestante, séria e
suave, bem pensada, bem dividida, tecnicamente harmoniosa e espiritualmente edificante e
consoladora, está em dois fatos: a fonte de onde saiu a ideia, que é a Palavra de Deus,
perfeita, divina e autorizada e o autor, joalheiro de raro tino, semeador de senso esperto e
incansado, crente de coração generoso e oficial da Igreja Militante vocacionado mesmo e
de verdade pela graça eficaz.
Conheço esse irmão, que há anos milita em nosso arraial presbiteriano, lá na encantadora
Belo Horizonte, capital de Minas, já como crente, já como ovelha fiel e piedosa que foi do
meu rebanho, por vários anos, no Rio, já como um dos fundadores da famosa 2.a Igreja de
Belo Horizonte, já como veteraníssimo presbítero praticante, também doublé, em várias
circunstâncias, de "pastor-leigo", na falta dos pastores, tantas vezes, realizando com
vivacidade, alegria e fé, as tarefas de um presbiterato afanoso e útil em todos os setores do
Reino.
A tese que aí está perante o nobre leitor é prova cabal do que estou pontificando.
É erudita.
É completa.
É bíblica.
É técnica.
É prática.
É total.
Desejo apenas que o leitor percorra esta monografia útil com simpatia, com fé e no elevado
espírito de servir ao Senhor dos presbíteros fiéis de sua seara militante, no nosso Brasil,
sentinelas firmes e incansáveis, e ainda que Deus abençoe sobremodo esta primorosa obra
e o seu ilustre servo, dela autor abnegado, o qual, eu sei, procurou realizar nestas páginas
elucidativas o máximo do bom para o bem máximo de todos.
Galdino Moreira
FUNÇÃO ADMINISTRATIVA
Administrar é gerir, reger, velar, governar, aplicar, conferir, ministrar, funcionar no sentido
ativo e, não, meramente, como um rei num trono.
Regendo, o presbítero governa, guia, pilota, como se estivesse sozinho com um barco em
pleno mar. Obediência às regras, qualidades pessoais próprias para quem tem de navegar
sem horizonte, virtudes que determinem prudência nos movimentos e coragem na
tormenta, são condições essenciais para o cargo.
Velando, êle cerca o cargo da proteção que merece, exerce a função com perseverança,
dignifica o ofício pelo contato permanente com o Doador de energias, sabedoria e fé. Os
vendavais que o oficio tem enfrentado sugerem ao presbítero uma vigilância insone para
não quebrar a linha mestra dos objetivos de Deus, que criou o cargo.
Pelo exposto vê-se que a função administrativa do presbítero não é assunto que se situe no
espaço, isoladamente, e, nem, tão pouco, no tempo, como criação humana. Isso, a menos
que nos limitemos a reproduzir o que a Constituição da Igreja define como sua
competência nos dias que correm.
O presbítero é discutido. Então, é necessário ver como tem resistido aos vendáveis, se tem
sofrido desfigurações e se tem comprometido sua frutificação. Que a árvore é vetusta, sim,
ÍNDICE
I ......................................................................................................................................... 8
O OFÍCIO DE PRESBÍTERO ........................................................................................... 8
1. DEFINIÇÃO .............................................................................................................. 8
2. NATUREZA E ESSÊNCIA ..................................................................................... 11
3. ATRIBUTOS E PROPRIEDADES .......................................................................... 16
II...................................................................................................................................... 20
HISTÓRIA DO PRESBITERATO .................................................................................. 20
1. ORIGEM BÍBLICA .............................................................................................. 21
2. EVOLUÇÃO BÍBLICA ........................................................................................ 23
3. EVOLUÇÃO DEPOIS DA ERA APOSTÓLICA .................................................. 29
4. ASPECTOS DA HISTÓRIA DO PKESBITERATO EM OUTRAS IGKEJAS ........ 36
5. A LUTA ENTRE O PRESBÍTERO E O BISPO PRELATICO ............................. 39
III. ................................................................................................................................... 44
A VOCAÇÃO E A INVESTIDURA DO PRESBÍTERO ................................................. 44
1. QUALIFICAÇÃO.................................................................................................... 44
2 — ELEIÇÃO ............................................................................................................ 61
3 — POSSE ................................................................................................................. 64
IV .................................................................................................................................... 68
MOTIVAÇÃO DO PBESBITERATO ............................................................................. 68
1 — Razões Materiais .................................................................................................. 68
2 — RAZÕES ESPIRITUAIS...................................................................................... 70
3 — BENEFÍCIOS DO REGIME PRESBITERAL .................................................... 71
a) A REPRESENTAÇÃO PURA .......................................................................... 72
b) O GOVERNO RACIONAL .............................................................................. 74
c) A ORGANIZAÇÃO CONCILIAR .................................................................... 75
d) A DINAMIZAÇÃO DAS FORÇAS ................................................................. 76
V. .................................................................................................................................... 79
DISCRIMINAÇÃO FUNCIONAL .................................................................................. 79
a) FUNÇÕES DO PRESBÍTERO DOCENTE ............................................................. 80
b) FUNÇÕES DO PRESBÍTERO REGENTE.......................................................... 82
VI. O PRESBÍTERO NO BRASIL .................................................................................. 85
1 — Situação Determinada pela Constituição da Igreja ................................................ 85
2. COMPARAÇÃO COM OUTROS CARGOS .......................................................... 89
VII. .................................................................................................................................. 90
CONCLUSÕES ............................................................................................................... 90
VIII. ................................................................................................................................ 93
OBSERVAÇÕES ............................................................................................................ 93
O OFÍCIO DE PRESBÍTERO
1. DEFINIÇÃO
Ofíc:o é, antes de tudo, uma dignidade, um ministério, uma missão, todos em grau acima
do comum. É um mandato com confiança e autoridade. O seu desempenho é um serviço e
não uma obrigação tabelada.
Por ser um serviço difere de cargo, que é somente obrigação. O cargo pode ser uma delega-
ção, mas pode ser, também, uma imposição aplicada por necessidades circunstanciais. O
cargo assemelhasse à gerência de bens alheios; tem carãter dependente e estreita relação
com gestão de negócios. No cargo o ocupante é mero instrumento de regulamentos,
variando a situação conforme as interpretações. É especificamente temporário, com
prémios e sanções. O ocupante do cargo é escolhido por determinação (senão por injunção)
exterior e seu comportamento vincula-se à noção de paga e retribuição, se não objetiva,
pelo menos subjetivamente.
O cargo tem muito do múnus e o ofício nada tem que ver com o estipêndio.
Nas Igrejas Católica Romana e Grego Ortodoxa o ofício é, ademais, uma classe. Seu
ocupante é um dignitário e não um diginificado. É um revestido de dignidade e não um
investido em dignidade.
Presbítero
— homem,
— homem amadurecido, já vivendo a média das idades encontradiças na
comunidade religiosa que o está escolhendo,
— com conhecido conjunto de virtudes e reconhecida capacidade de governo até
da própria família;
— com um trato que inspire acatamento e respeito;
— com aptidão para satisfazer a maioria, se ão a totalidade das exigências e
modalidades do ofício, para o qual, em estando tudo em ordem, é tido como
chamado por Deus e investido pelo Concílio.
A necessidade de compor esse quadro faz pender essas preferências para a anciania.
Nela, a maior probabilidade de reunir a soma de cabedais suficientes. Foi assim no
passado. É a essa altura que se defrontam o presbítero e o ancião. Defron-tam-se,
confundem-se e unificam-se. O ofício é, assim, antigo.
1
Ex. 3:16 e 18
2
Apoc. 14:3
3
Ex. 5:15
4
Números, 11:16,17
Somando-se os diversos fatores da descrição das suas funções com o modelo bíblico acima
retratado, pode-se concluir que o presbítero é:
No Antigo Testamento o ofício é o que mais importa; o resto é consequência deste. Mas
encargos da natureza dos enumerados só cabem no que se chamava de "ancião".
O presbítero viveu e serviu sempre como ancião. É nessa qualidade que S. Pedro se
apresenta como presbítero 19, mostrando sentir-se bem em apresentar-se como detentor do
cargo. Êle era tanto o apóstolo como o presbítero, mas escreve às igrejas invocando uma
autoridade que muito o honra junto à função de apóstolo, assim, igualando-se ao seus
companheiros e presbíteros, nas igrejas.
5
Deut. 1:15
6
Deut. 16:18
7
Deut. 27:1
8
Juizes. 8:16
9
Efes. 4:1
10
Mat. 15:2; Atos 18:8
11
Atos 11:30; 14:23
12
Atos 13:15
13
Luc. 13:14
14
Mat. 26:3
15
Mat. 26:57
16
Atos 6:12
17
Atos 7:1
18
Atos 23:2
19
I* Pedro 5:1/3
O presbítero de agora era o mordomo da Velha Dispensação, por alguns chamada "Igreja
do Velho Testamento"21, o qual exercia o cargo pela inspiração de Deus e por Deus
consagrado22.
2. NATUREZA E ESSÊNCIA
Destarte, devemos olhar o preshiterato com mais respeito e melhor compreensão, porque é,
acima de tudo, uma investidura de natureza espiritual. No presbiterato é preciso reconhecer
interferências divinas. No exercício do cargo deve-se ver Deus executando a mais variada e
a mais edificante tarefa, em favor do rebanho de Cristo.
Por isso é necessário penetrar a fundo na natureza do presbiterato para que se possa
compreendê-lo e, consequentemente, para que se possa exercê-lo dignamente.
1.° — o dom;
2.° — o ofício;
3.° — a classificação.
20
I Pedro 5:2
21
Waiter L. Lingle, D.D., THE PRESBYTERIANS, their hístory and beliefs
22
Núm. 11: 16 e 17
23
James Hasiings DICTIONARY OF THE APOS-TOLIC CHURCH
O dom, que em sentido lato é uma transferência voluntária de algo que se possua ou se
detenha, sem compensação, é, também, um ato de amor, de afeto, e de serviço, prestado
por uma pessoa (o doador) a quem o recebe (o recipiendário). Mas só é ato de amor, de
afeto e de serviço quando praticado sem consideração de nenhuma espécie.
No uso vulgar, o que se dá é um presente24, ou uma recompensa 25, talvez uma reparação
26
, e, até um suborno 27. Em todos os casos, todavia, exceto o último, o dom é um penhor
de amizade, de favor, de boa vontade, de reconhecimento, de cooperação, de inspiração,
Como Deus opera no Seu Reino por meio dos homens e, como essa operação, que é o
ministério da igreja 28, requer o aperfeiçoamento dos obreiros para o progresso do Reino,
Deus colocou-se como Supremo Doador de excelentes graças 29, para que cada um e todos
lavrem cada vez melhor a vinha do Senhor.
O rebanho tem que ser instruído e edificado nas verdades eternas e o dom é, em linguagem
humana, o material a ser gerido de tal forma que os benefícios se comuniquem de maneira
a merecer a aprovação de Deus 30. O presbítero é um mordomo e administra os dons de
Deus, conforme os tiver recebido.
Sem constranger a personalidade dos seus servos, aos quais proporciona meios de ação por
iniciativa própria 31, o Senhor oferece oportunidade de exercício de poderes espirituais e de
pendores pessoais.
Deus chama os obreiros para executarem uma obra por Êle planejada, distribui as
responsabilidades, não as acumulando, mas dividindo-as com a sabedoria própria da
divindade, conforme a enumeração dada por S. Paulo:
"De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja
ela segundo a medida da fé; se é miirsté-rio, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação
ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com libera-
lidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria" 32.
Todos na obra, seja no campo, seja na cidade, distribuídos por setores 33, dirigidos pelo
Espí rito Santo de Deus 34. Uns em serviços mais simples, outros em deveres de maior
significação. Uns a formar os grupoc, agregando os elementos, formando as equipes, com
habilidade, outros só a dirigi-los. Uns aprendendo a trabalhar, outros ensinando a trabalhar
24
Est. 2:18; Mat.-2:11
25
Dan. 5:17
26
Gên. 34:12
27
Deut. 16:19
28
Efes. 4:12
29
Tiago 1:17
30
I Pedro 4:10
31
Mat. 25:14/17
32
Rom. 12:6-8
33
I Cor. 7:7
34
I Cor. 12:14/17
O que parece certo é que Deus, na sua imensa sabedoria, vocaciona para obra determinada;
cada um, ao entrar na vinha, recebe ordem expressa, missão caracterizada até por
espec'alidade dentro da mesma função. É assim que achamos S. Paulo chamado para o
apostolado dos gentios e Pedro para o dos judeus 37. Os setenta da peregrinação 38, o
Senhor os convocou para o anunciado fim de colaborarem no governo da multidão, dizen-
do a Moisés:
O indivíduo tem, todavia, que depender de Deus para, através do Espírito Santo, receber
impulsos de despertamento da vontade e de dinamização dos seus dons. É a que S. Paulo
afirma, quando diz:
"Deus é o que opera e,m vós tanto o querer, como o efetuar, segundo a sua boa vontade"
39
.
Deus, porém, é a fonte de energia esperando o contato. O dom 40 não é uma imposição; é o
tornar proveitosa a disposição íntima e essa é o efeito de outros fatores nos quais Deus
participa através das suas leis. Ao dar-nos Jesus Cristo, o Pai não violentava a vontade do
Filho, mas tornava eficiente a disposição da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade para
operar a redenção do homrm decaído.
EXERCÍCIO
35
Salmo 6:6
36
Salmo 6:6
37
Gál. 2:8
38
Num. 11:17
39
Filip. 2:13
40
João 4:10
41
Tiago 1:17
No ministério toma-se uma parte dos serviços de algué-i para cooperar com ele. É uma
descarga de responsabilidade para quem o nomeia e uma carga para quem recebe.
O ministério de Deus consiste em executar a parte humana do programa de Deus que visa à
redenção do homem42. Deus fêz o plano. O plano compreende muitos serviços. O min:stro
aceita uma parte dos serviços. Aceita para empregar seus dons. Emprega segundo a
quantidade e a qualidade dos dons. Aí, a diversidade de desempenho de um ofício que
conserva, mesmo na variedade, uma única natureza.
Segundo o emprego dos dons no exercício presbiteral, têm sido distinguidas três classes:
A Igreja de Cristo tem experimentado isso mesmo através da sua vida. Contava apenas
48 anos quando enfrentou o problema do rito mosaico; 43 esse fato foi somente o início de
uma série de problemas que tem, infelizmente, juncado os campos de batalha de cadáveres
de irmãos.
João Calvino diz "eram os oficiais", defin:ndo a abrangência da equipe; er^rn todos. A
diversidade de dons e a variedade de serviços não excluíam ninguém. A Igreja,
organizando-se de baixo para c:ma, levou todos os obreiros, sem distinção, à seara do
42
Oséias 12:10
43
Atos 15
44
Atos 21:18/21
45
Tiago 5:14 citado por Calvino em "Institutas"
CLASSIFICAÇÃO
A classificação era o caminho para a racionalização, para a especialização dos serviços, tão
do gosto em nossos dias em matéria administrativa. A uma classe: a palavra, a doutrina, a
interpretação e a pregação 49, com o ensino espiritual público e particular 50, a ministração
das ordenanças 51, que são encargos afins. À outra: o comple-men dessas atividades como
auxílio da primeira 52, a fim de dinamizar a doutrina em serviço, a fim de tirá-la do terreno
da teoria, pró ordem 53, disciplina 54, supervisão 55, administração dos bens da sociedade 56,
alimentando as ovelhas com amor, desprendimento e exemplo (57).
A natureza e as razões do que é atribuído ao primeiro, aquilo que êle deveria realizar para
não falhar à sua missão, a obrigação precípua, normal, não casual nem acidental,
eficientemente elaborati-va da santificação do rebanho, isso é que determinaria a formação
46
Efes. 4:11
47
W.C Taylor, DOUTRINAS
48
I Tim. 5:17/24
49
I Tim. 5:17
50
Atos 20:20/21
51
Mat, 28:19; I Cor. 1:16,17
52
Núm. 11:17
53
I Tim. 3:5
54
I Tim. 5:17
55
Atos 20:17
56
I Pedro 5:1/4
3. ATRIBUTOS E PROPRIEDADES
Atributos
Essa organização é,- também, um testemunho da importância que se atribui aos cargos, os
quais sobem da categoria de simples honras à de funções atuantes na sociedade
eclesiástica.
57
contra a maledicência (tão comum contra os que ocupam posições), não podendo ser
processado senão com o testemunho de duas ou três testemunhas 62. É credor da estima e
da honra dos que o elegem para o ofício, valorizando a escolha que deixa de ser uma
formalidade 63.
Esses, mais alguns privilégios, formam os atributos do presbiterato. Não são produto de
raciocínio, nem interpretação de ocorrências do nosso dia; são pronunciamentos da Palavra
de Deus.
Um ofício que pode apresentar-se com esses sinais distintivos só pode ser de origem
divina.
Propriedades
O presbiterato é cargo para quem quer servir. Insistimos na opinião de que não é só
honraria. Suas funções compreendem encargos difíceis e acumulados, que exigem
dedicação e trabalho constantes e árduos.
58
Esdr. 10:8
59
Atos 15:6
60
Atos 16:4
61
I Tim. 5:1
62
I Tim. 5:19
63
I Tim. 5:17
Josefo, o grande historiador do povo hebreu 65, declara presumir que Terá sentiu de alguma
forma, na Caldeia, a necessidade de sair de Ur, quem sabe, diz êle, para esquecer um filho
que falecera. A narrativa bíblica 66 ignora o caso. No discurso do Capítulo 7 de Atos,
Estêvão assegura que Deus falou a Abrão 67, que já residia em Harã, para fundar uma
nação. O ambiente foi criado por uma emigração, em companhia dos parentes enlutados; a
circunstância foi a vida numa terra estranha, com hábitos e meios diferentes dos caldeus. A
voz é, nessa feita, a do próprio Deus que, em todos os casos, arremata o chamamento
interior por outro exterior, ou outros, visíveis.
Saulo foi chamado em pleno dia, à vista de testemunhas 68 Samuel, uma criança que
pres tava serviços sem significação no Templo, num leito antes de adormecer 69.
Na galeria de obreiros do Reino veríamos uma infinidade de cenas como as descritas, com
aspectos peculiares, mas todas com o mesmo característico comum. Heróis da fé nos dias
de martírio, soldados valentes, reformadores, pregadores, professores, ministros,
missionários, cada um tem a sua história e cada história mais edificante. Ira D. Sankey, o
grande musicista evangélico e missionário, foi chamado por Deus pela voz de Moody que
o convocou dentro de uma repartição pública: "eu te intimo, em nome de Deus, a ir pregar
o Evangelho com a tua voz"!
Cada presbítero integrado na sua função, que esteja exercendo mesmo a administração do
rebanho do Senhor, terá uma experiência a contar, confirmando a sua vocação.
Esses fatores serão, oportunamente, objeto de estudo, tal a sua expressão na vida
presbiteral. Diga-se, porém, desde já, que há prescrições bíblicas que dizem, claramente,
sobre a propriedade, em cada caso. A sua desobediência depõe contra a legitimidade da
vocação e a propriedade do ofício. Acentue-se que a conduta do oficial, se digna, cres-
centemente firme70, sem tropeços e quedas repetidos 71, testemunho abundante até em afli-
64
Is. 22:20
65
"Antiguidades"
66
Gèn. 12
67
Gên. 12:1
68
Atos 9:3/7
69
I Sam. 3:3/15
70
Efes. 4:1
71
II Pedro 1:10
O cargo só fica bem com quem conhece os padrões básicos da doutrina presbiteriana.
Grandes males podem acontecer com quem ignora ou faz restrições, por exemplo, à
doutrina da Soberania Divina. Como ensina às ovelhas aquilo em que sua fé não está
firme?
Um bom desempenho do ofício tem estreita relação com a afinidade entre o presbítero e a
sociedade local. O conhecimento, as relações, a harmonia, a receptividade, possibilitarão
um exercício certo e próprio no cargo, tornando prestante e produtivo o esforço em favor
da vida administrativa da Igreja.
O sistema de vida varia de local para local, principalmente em país como o nosso, em que
não se fundiu uma raça, nem se implantou um sistema a que se possa aplicar o nome de
brasileiro. Há diferenças, também, até de igreja para igreja, dentro da mesma denominação,
como acontece nas grandes cidades. Sem dúvida, a experiência de um local pode ser útil a
outro, mas não é indispensável; indispensável, sim, é um amplo conhecimento do meio,
dos seus planos, dos seus ideais, das suas necessidades e do sistema que tem sido adotado
com êxito.
A noção de cumprimento do dever fala tão alto por si mesmo, que nos dispensamos de
comentá-la.
Por último, o modo de agir da pessoa dirá se ela se ajusta ou não a um presbiterato com
propriedade. Impulsos, gosto reconhecido pelas novidades, desprêso a certas tradições
caras ao meio e à denominação, repulsa a normas modernas na parte propriamente
administrativa da sociedade, e outros requisitos, devem ser investigados antes de se "pôr o
homem no lugar", para não ter, logo depois de o deixar à margem.
porisso, todo cuidado é pouco, para não levarmos as restrições ao excesso. Por outro lado,
certas manifestações defeituosas de caráter afastam o homem do cargo. Elas podem
esconder deficiências de gravidade que destroem o sentido do ideal. A inconstância, por
exemplo; em certas épocas fervor em alto grau, talvez, num vastíssimo deserto. Cuidado!
O Capítulo que agora se encerra mereceu tempo e estudo. Êle é a chave com que se abre a
porta ao homem que deseje calaborar na administração da Igreja de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
II
HISTÓRIA DO PRESBITERATO
O conteúdo do capítulo anterior parece concorrer para se afirmar sem receio que o
presbiterato é instituição divina. Como instituição divina e parte do Plano de Deus, o
presbítero esteve presente e funcionou desde os primeiros capítulos da história dos povos.
Colorações diversas, que as teve e ainda as tem, não afetam o aspecto fundamental do
ofício do presbiterato.
77
Lev. 26:4
78
NATURAL RELIGION
A Igreja que O conserva até nossos dias em acordo com as primeiras notas da história,
despido dos ornatos com que pensaram engrandecê-lo, com a mesma modesta dignidade
mas com a plenitude dos movimentos da sua função, essa igreja é depositária de uma
herança gloriosa. Ê responsável pela conservação de um legado esplêndido que deve trans-
mitir inalterado, na natureza e na essência, administrativa, moral e espiritualmente, às
gerações futuras e jatar-se de assim poder transmiti-lo.
Seria bom que o homem considerasse intocáveis os padrões bíblicos das instituições
divinas. Não deveria ser para importar o que pensamentos irrequietos ou insatisfeitos
sugiram para modificá-los. As correntes modificadoras sempre existiram; mais em umas
épocas e menos em outras. Muitas delas não passam de atestados da insensatez humana,
insinuando a possibilidade de aperfeiçoar o que foi feito por Deus; justificam-se a seu
modo, a pretexto de variação de interpretação, evolução, modernização, e alcançam o seu
auditório; todo orador tem auditório...
Todavia, conservado dentro dos moldes em que primeiro surgiu, o presbiterato nada perdeu
em eficiência, majestade e dignidade. E, — o que é de suma importância, —
permanecendo com as características originais fica inteiramente na Bíblia, podendo
dispensar com facilidade as novas roupagens que os modificadores lhe oferecem mais
como decoração. Compulsemos a Palavra de Deus.
1. ORIGEM BÍBLICA
O ofício é bíblico. A nomenclatura, entretanto, tem variado com o tempo. As funções são
as mesmas, em que pese a mudança do Pacto.
O Antigo Testamento apresenta-o, ora como "ancião", ora como "oficial". O novo
Testamento acrescentou, mais, o "bispo".
O ANCIÃO
O ancião, seja como cargo ou como ofício, existiu antes do Êxodo. O cargo é anterior,
mesmo, ao que tudo indica, ao próprio registro histórico das Sagradas Escrituras. A história
da família hebréia está, inteirinha, nas Sagradas Escrituras, porisso e porque a melhor fonte
de informações sobre o ancião é, mesmo a família hebréia 79, não sairemos dela. Nossas
observações serão, pois, baseadas no Velho Testamento, como única fonte digna de fé. Do
Velho Testamento tomaremos, principalmente, o Pentateuco, mais o livro de Ruth. Depois,
apelaremos para o Talmud judaico com as suas tradições escrupulosamente compiladas,
com o qual formaremos ideias sem menção especial, por que de difícil conferência.
No princípio a posição de ancião não era de escolha. Caía sobre, o indivíduo como uma
decorrência da idade e da condição de patriarca, sobre cujos ombros pesasse a condução de
uma prole.
79
Willysíone Goodsell, Ph. D., "A HISTORY OF MARRIAGE AND FAMILY"
Parece fácil estabelecer a comparação entre esse ancião e o presbítero. Identificamo-lo nas
suas ordens e no seu mister, tanto como na sua conduta perante a congregação do povo. A
Setuaginta, aliás, em caráter único entre as traduções do Antigo Testamento, emprega o
vocábulo presbítero para designar esse ancião das priscas eras.
O nome, todavia, não importa, quando o ofício pode ser assim identificado. E quem pode
discutir diferença?
Se, entretanto, a questão é o nome, então vamos recuar e verificar que o de presbítero é
mais velho do que o cargo, se bem que levando o traço comum do homem mais velho,
disciplinador, condutor e governador. É assim que o encontramos nas origens da família
grega, onde, ao oficial de governo e juiz se acrescentava o sacerdócio 82. Também aqui é o
guia da família e o chefe da tribo helénica. Também aqui o PRESBÍTERO era de idade
provecta e era venerado pela família que lhe tributava respeito e obediência e lhe conferia
autoridade suprema em tudo.
Foi por faltar outra designação que o povo hebreu limitou-se a chamá-lo de ancião, sendo o
ser ancião um privilégio que poucos homens conseguiam nas agruras da vida do seu
tempo. Um exame consciencioso das funções e dos elementos históricos sobre o oficial
leva à única conclusão: o presbítero está no ancião e o ancião está no presbítero. No-te-se
de passagem, que o presbítero era um ancião, mas nem todo ancião era um presbítero; a
função, os cargos e os encargos, os direitos e a autoridade, mais que o título, é que o levam
ao encontro com o presbítero naqueles dias do longínquo passado.
80
Salmo 127:3
81
WMystone Goodsell, Ph. D., obra citada
82
Idem idem
Não só os gregos, mas outros povos adotavam a dignidade presbiteral, com o nome de
ancião, adaptado à sua língua, obviamente. Assim, os moabitas 83 e os midianitas 84,
segundo o próprio testemunho bíblico.
Em suma, o ofício de presbítero não tem nascimento determinável, ninguém sabe quando
apareceu. Ê de origem divina. É bíblico e está na Bíblia em retrato a corpo inteiro 85.
2. EVOLUÇÃO BÍBLICA
As funções
Muito importa a discriminação das funções do antigo ancião, porque é na sua identidade
que nos fundamentamos para a afirmação dos nossos princípios. E estamos felizes porque
temos tudo na Bíblia e, além dela, temos o socorro da História.
Partimos da família hebréia, conforme referência anterior; da família iremos à tribo e daí, à
aldeia e à cidade. A aldeia foi o núcleo na formação nacional. É o que diz Goodsell:
Como a família hebréia era uma organização religiosa, coesa e una, o seu patriarca era
também sacerdote; isso é um fato do tempo, como tantos outros que continuam
acontecendo. As atividades sacerdotais devem ter sido constantes, tal o grande número de
festas ritualísticas, de cerimoniais e de jejuns, segundo os relatos da Escritura, e do Tal-
mud.
A vida pastoril do povo hebreu determinava uma emigração constante. Melhores sítios,
melhores pastagens, melhores aguadas, os faziam mudar frequentemente. Também isso
está no relato bíblico. Não havia, assim, nesse princípio de formação da raça, aglomerações
estacionárias. Diríamos que viviam em "aldeias móveis", cuja estabilização flutuava à
mercê das circunstâncias favoráveis à manutenção do grupo. O trabalho do ancião era
nesse tempo o de cabeça, inclusive nas disputas com tri-, bos adversárias; muito afanosa
era sua vida.
Dada, porém, a fecundidade da mulher hebréia, no que, aliás, o povo via a mão de Deus, e,
celebrada, como era, a procriação, as famílias cresciam constantemente. Surgiu a
dificuldade da remoção dos trastes, dos gados, das crianças e dos dependentes por
deformidades ou incapacidade de sustento próprio. Aí, a razão do aldeamento.
83
Núm. 22:4
84
Núm. 22:7
85
W.H. Roberts, O SISTEMA PRESBITERIANO, trad. Rev. Gutenberg de Campos
86
WÍIlystone 'Goodsell, Ph. D., obra citada
Os serviços
Encontramos, agora, o ancião na disciplina social 88, na corregedoria 89, como deputado do
povo perante o próprio Deus 90, como depositário da fé 91, como fiscal das ordenações do
governo92, etc. Também toma assento no Senado das tribos, ao lado dos chefes, juízes e
reis que presidiam as cortes.
Seus serviços iam além do horizonte local; o ancião integrava a segunda Câmara de
Justiça, composta de 23 juízes. Nela podia sentenciar até à morte.
Também no Grande Sinédrio (ou Senado), ao qual subiam as altas questões de religião, de
direito e do Estado, o ancião falava como Juiz no Corpo dos Setenta, cujo presidente era o
chamado Sumo Sacerdote. Era o Tribunal de última instância e mais que uma Corte de
Apelações; podia proceder como instância especial, como no julgamento e na condenação
de Jesus Cristo 94.
Servir no Sinédrio, a suprema Corte Nacional hebréia, era o mais alto ideal acalentado pelo
cidadão judeu ao encaminhar-se para a velhice. O assento ao lado de um sacerdote nessa
Corte era o mais sonhado prémio de uma vida digna, experimentada nos serviços de outras
naturezas, prestados pelo ancião em qualquer lugar do país.
87
Prov. 31:13/27
88
Deut. 19:11/12
89
Deut. 21:20; 21:22
90
Deut. 29:10
91
Deut. 27:1; Jos. 24:31; I Sam. 16:4
92
Esd. 10:7,8
93
Mat. 9:18; Mares 5:35; Lucas 8:41; Atos 13:35
94
Mat 26;S7; Marcos 14:53; Lucas 22:52, 54,66; João 18:13,24,28
A narrativa bíblica chama-o ora "ancião do povo", ora "ancião dos judeus", outras vezes
"ancião de Israel" e, ainda, simplesmente "ancião". Às vezes aparece sozinho, no singular,
o que dá grande popularidade ao cargo, e, outras vezes é encontrado no plural, indicando
que diversos anciãos estão realizando o mesmo serviço. Também funcionam, em outros
casos, em companhia de escribas, de sacerdotes e de oficiais.
A área das suas atividades era o meio em que habitava; quando em tribunais era a
respectiva jurisdição, — regional ou nacional, — mas nunca como instituição generalizada.
A Bíblia não cogita de formas de governo, nem suas partes, ao tempo em que foram
escritas, tiveram essa cogitação. Ela se limita a descrever as funções necessárias ao bom
andamento da sociedade dos fiéis. A repetição de tais funções em diversas comunidades e
a sua conservação através dos tempos recomenda.ram o cargo do ancião como governador
do povo na esfera religiosa.
Sendo o ancião o presbítero, pode-se, então, afirmar sem erro que a igreja do povo hebreu
era governada por presbíteros antes do Êxodo, no deserto da peregrinação, na época dos
juízes, durante o reino unido e o reino dividido, nos cativeiros e na dispersão, até os nossos
dias. Os judeus, portanto, eram e são presbiterianos na sua forma de governo eclesiástico
95
.
O Oficial
Um exame perfunctório, para não nos aprofundarmos demais, vai indicar que as funções
são as mesmas e o emprego de um ou outro vocábulo depende do gosto, das preferências
do escritor.
Parece que quando o escritor quis esclarecer o tipo do obreiro, para distinguir o clérigo, êle
empregou textualmente "o ofício de sacerdote", ou "o ofício sacerdotal", ou, somente "o
sacerdócio". Muitas passagens lançam luz sobre este ponto de vista 96.
95
Philipp Schaff, DD., IX. Dl, "A Religious Encyclo-paedia or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Praticai
Theology"
96
Ex. 28:1, 3, 4, 41; 29:1, 33; 30:30; Lev. 7:35; Num.3:3, etc.
97
Deut. 16:18
98
Deut. 20:5
99
II Reis 11:18
Há nova disciplina para a vida religiosa e uma nova forma para o culto. A congregação dos
fiéis marcha, ela só em direção a Deus. Transpõe o véu. Nessa marcha, que tem de ser
ordenada, ela é liderada pelo ancião, convertido em presbítero.
Aí, nessa narrativa despida de pretensão, está a génese da Igreja Cristã. E, o que é mais
digno de nota, foi o ancião da antiga sinagoga o presbítero da nova organização, investido
em suas funções 102, sem haver solução de continuidade, A antiga corte local (102)
ressurge no Consistório 103. Transplan-taram-se os mesmos objetivos do oficialato e a mes-
ma autoridade 104. A instituição multimilenar reafirma-se e sem mutilação.
Como o Senhor Jesus não cuidou de estabelecer um sistema de governo específico para sua
Igreja, nada mais natural do que moldarem-se os novos ajuntamentos cristãos à sinagoga
judaica; é o resultado natural da experiência vivida. O Senhor Jesus lançara as bases de
uma organização que de veria destinar-se a servir e não a governar 105. Mas um governo
era indispensável onde multidões se ajuntavam crescentemente. Foi o que se fez, im-
portando o sistema da sinagoga de início, para, logo depois, evoluir com marcas certas da
dispensação da graça.
Com o consistório, uma nova ordem; um novo comando. Não há mais o levita; qualquer
servo de Deus pode ocupar o cargo. Desapareceu a casta sacerdotal; só Jesus é sacerdote e
um sacerdote presente pelo Espírito Santo de Deus. Todo o ajuntamento dos fiéis à
doutrina e aos princípios do Sacerdote opera como sacerdotes, sem exceção, nem mesmo
100
THE PRESBITERIANS, Their History and Beliefs
101
Atos 12:12, I Cor. 1:2
102
Atos 14:23, 15
103
Deut. 19:12, Esd. 10:14, Atos 15:6
104
Davis "A Dictionary of *he Bible"
105
James Moffat "The Presbyterian Churches"
Proliferaram obreiros. Surgiu o profeta; depois o mestre, os quais, reunidos aos apóstolos,
dividiam entre si o trabalho da nova organização que trans bordava de Jerusalém primeiro
e da Judeia depois 107. Os métodos de trabalho começam a sofrer impacto; as funções
começam a sofrer influência dos novos fatores de progresso da nova fé. Também o
oficialato tem de sofrer influências novas e de evoluir. Logo encontramos o pastor, a
juntar-se ao profeta e ao mestre 108. O pastor e o mestre unificam-se 109. Os dons realizam
maravilhas em toda a parte, tais quais os de doutores, milagres, curas, socorros, governo,
línguas etc. 110.
A Igreja consolida-se como o edifício. Jesus Cristo é a pedra angular 111. O edifício assen-
ta-se sobre o profeta e o apóstolo. Com o apostolado a disciplina, e o sacramento. O
profeta é o oficial da palavra, é o pregador da doutrina. Ao profeta cumpre o relatório
apostólico, de experiência incomunicável, mas transmissível aos escolhidos em "batalha
pela fé" 112.
Entretanto, o carisma era para uma época. Era um grandíssimo favor divino para aquela
fase da vida da Igreja de Jesus Cristo. Era uma providência para o tempo. Deus iria
passando ao homem, dentro do programa de Jesus Cristo, o privilégio de participação
pessoal na obra de redenção. Quando a Igreja de Antioquia separa, entre os seus profetas e
doutores, a Barnabé, Simão — Niger, Lúcio e Manaém, para uma expedição missionária
113
quando isso aconteceu, repetimos, parece que a Igreja entrou na fase de transição entre
o carisma e o ministério oficial. Isso se dava lá para o ano 47 A.D.
Ê essa a fase que determinou a conveniência de ordenar as atividades do povo de Deus nas
igrejas. O culto carece de um diretor, se bem que a direção não lhe conferisse direitos
especiais, O diretor é escolhido pela congregação, que não o considera superior aos
membros dela. O diretor "ministra para ela; não ministra por ela", pois cada crente é um
sacerdote e continua sendo. A exemplo da sinagoga, de onde haviam saído, os congregados
adotam um critério de qualificação obediente a diversas normas, prevalecendo a norma
geral de preferir-se um ancião para.dirigir. A congregação cresce e torna-se necessário
106
I Pedro 2:5, 9; Apoc. 1:6; 5:10; 20:6
107
I Cor. 12:28
108
Efes. 4:11
109
Atos 13:1
110
I Cor. 12:28
111
Efes. 2:20
112
Judas 3
113
Atos 13:1/4
Contudo, e de um modo geral, não havia uma direção organizada para as igrejas do Novo
Testamento. Não havia um corpo representativo do grupo; S. Paulo dirije-se em suas cartas
às igrejas e não a oficiais, com qualquer designação. No culto público os homens a quem o
Espírito Santo conferia dons especiais assumiam a direção e os havia em certo número 114.
Mas eram serviçais da ocasião e não uma classe, uma instituição, pelo menos no início.
Eram, ademais, obreiros que colaboravam dessa maneira no local, sem projeção além dos
limites das comunidades a que pertenciam 115.
Obviamente, a repetição de atos e atitudes acaba implantando certa afinidade entre quem
os executa e o serviço executado. Nasce uma certa identificação entre o obreiro e a obra.
Ao fim de certo tempo uma congregação investe certo indivíduo em certa função, porque
já o viu desempenhá-la muitas vezes a contento. Foi assim que os crentes dotados
acabaram ficando identificados com os trabalhos de direção do culto. Não só isso: entre os
que vinham dirigindo, os que melhor- se distinguiam iam recebendo mais constantes e
mais assinalados apelos; nasce aí a liderança. Todo grupo, a seu turno, requer um
coordenador de suas funções. Entre os próprios líderes outros se sobressaíram. A notícia de
Atos 15 dá ideia de como os líderes surgem nas igrejas.
É nessa ocasião que surge, segundo uns autores, o diácono 116. Muitos acreditam que "os
sete" não eram só diáconos; podemos, entretanto, aceitar a opinião da maioria, segundo a
qual 117, nessa ocasião nascia o diaconato.
No grupo dirigente, era aos mais experimentados, mais dedicados e mais santificados que
se conferia a liderança. É assim que encontramos Tiago, o irmão do Senhor, em lugar de
destaque na igreja de Jerusalém, ao que afirmam os estudiosos, à vista de importantes
subsídios 118 e daquele "anunciai isto a Tiago" de S. Pedro 119. O experimentado é o ancião
da Sinagoga, é o presbítero da nova igreja.
Um grupo à parte, não por livre escolha ou vaidade, mas como fruto da homenagem que se
lhe prestava, continuou com características especiais. Eles haviam visto a Jesus. Eram
testemunhas da vida e da obra do Mestre. Eram os apóstolos, a quem a igreja nascente
tributava respeito especial, porque o que eles viram e ouviram só se repetiria no segundo
advento. Fossem quais fossem e quais viessem a ser as novas funções na congregação dos
fiéis, nenhuma delas substituiria o apostolado, porque esse título definia uma condição do
passado.
Em virtude disso, os movimentos locais, com os "casos" tão frequentes nos ajuntamentos
humanos, começaram a surgir e a arena foi o campo de ação do presbiterato. Certas
fórmulas do Velho Testamento e certos privilégios do Pacto das Obras insinuaram-se na
nova dispensação. Já no primeiro século da era cristã houve situações que exigiram
interferência de homens como S. Paulo. O presbiterato iniciou evolução. Já no segundo
século um presbítero era dono de outro título, o de bispo-"che-fe". Até o fim do primeiro
114
I Cor. 12:28; Efes. 4:11; Rom. 12:6/8
115
"Dictionary of Apostolic Church"
116
Atos 6:1
117
Philip Schaff, DD, IX, D, obra citada
118
Atos, 15:3; 21:18
119
Atos 12:17
E a terminologia na língua original dos registros? Ora, sobre esta, os próprios mestres
divergem. O EPISCOPOS servia para um e para outro, tanto designando presbítero como
bispo, como veremos em outra parte deste escorço. S. Pedro, intitulado "o bispo dos
bispos" pelo catolicismo romano, cha-ma-se a si mesmo presbítero em uma de suas cartas
123
. Só emprega EPISCOPOS uma vez 124 e, essa, figurativaente, referindo-se a Jesus
Cristo, o "Pastor e Bispo das nossas almas". Vemos assen tados no primeiro Concílio de
Jerusalém tanto presbíteros como bispos 125, ambos administrando os rebanhos de Cristo
em um mesmo pé de igualdade 126.
Então, para que a diferenciação no ofício ? Para que, se esbarra com o testemunho
histórico e se, antes do bispo, o presbítero era o oficial servindo até de sacerdote? 127. Para
que, enfim, se ao nascer, o bispo provinha de um ofício habilitado a dirigir a igreja e de um
cargo em que ambos cooperaram por tanto tempo? Pode alguém desconhecer que cada
igreja do Novo Testamento tinha seu colégio de presbíteros-bispos? 128.
Foi um triste quadro, efetivamente, esse dos princípios do segundo século, para a Igreja de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Triste, porque marcou o fim da influência direta e edificante
dos apóstolos e triste porque dividiu as águas que nunca mais se juntaram integralmente no
leito antigo 129.
120
Atos 11:30; 20:17
121
I Tim. 3:1/4
122
Tito 1:5/7
123
í Pedro 5:, 2:25
124
I Pedro 5:1
125
Atas 15
126
Dr. Thomas Porter em "Aos Presbíteros, Dispenseiroa de Deus"
127
Gen. 18:19; Jó 1:5
128
Atos 20:17; 28; Filip. 1:1; Tím. 4:14
129
Dr. James Orr, em THE INTERNATIONAL STANDARD BIBLE ENCYCLOPAEDIA
Pensa Dr. J. Orr 132 que o apostolado não era só dos doze, à vista de diversas passagens,
entre as quais aponta a situação de Andrônico e Júnia "os quais se assinalaram entre os
apóstolos" 133 e a maneira de se exprimir quanto à diversidade de dons dando "uns para
apóstolos" 134 De outro modo teria dito S. Paulo "deu os doze para apóstolos", tão claro e
positivo é o estilo de S. Paulo.
O que não padece dúvida é que Jesus Cristo comissionou os apóstolos para testemunhas da
sua ressurreição e não para exercerem governo da Igreja 135. A autoridade deles e o
respeito que lhes devemos tributar resultam de terem tido o privilégio de verem o que
viram 136.
A promoção não somente aumenta a validade dos atos dos promovidos, como abre vagas
na casta inferior, vagas que ensejam novas promoções de outros que ainda estavam
abaixo. Isso era de grande interesse para os que pensavam no sacerdotalis-mo, porque
dava oportunidade a uma escala, a uma sucessão, com a qual a casta se transmitiria no
tempo. A sucessão apostólica seria garantia, não tanto da conservação da salubridade
doutrinária, mas da validade do sacerdócio e da proeminência no governo 137.
O ministro crescia dessa forma, porque na investidura se lhe concedia a inclusão numa
cadeia iniciada pelos apóstolos. O ministério local, até então exercido pelo colégio de
presbíteros, bispos e mestres, cedeu lugar a um oficial dirigente, ao qual se atribuiria a
ministração dos sacramentos. Entorta-se o tronco da bela árvore plantada pelo Senhor
Jesus. Com o novo oficial entram os sacramentos, a ordenação, os rituais e, até, os
paramentos do antigo sacerdote. Aquela graça salvadora, singelamente pregada por Cristo,
começa a sofrer influências demolidoras, que, mais, viriam tirar-lhe a eficácia. O homem
toma o lugar de Jesus Cristo res-surreto. Jesus volta a ser "o Senhor morto"! Todavia, a
palavra PRESBYTEROS não tem associação de sentido com a palavra sacrifício. As escri-
turas registrariam IEREÚS, se quisessem estabelecer essa associação; mas esse vocábulo
não apareceu nem uma vez para nomear o ofício.
O sacerdócio judeu foi instituído por Deus para tipificar Jesus Cristo e com Jesus Cristo,
lògicamente, tinha de se extinguir, como, efetivamente, se extinguiu. Nada de altar 138, a
não ser aquele de que "os que servem ao tabernáculo" não podem participar. Nesse, cada
cristão — sendo um sacerdote — oferece-se em sacrifício de louvor 139 e, todos,
130
I Cor. 1:17
131
I Cor, 9:16
132
Dr. James Orr em ENCYCLOPAEDIA OF RELI-GION AND ETHICS
133
Rom. 16:7
134
Efes, 4:11
135
Mat. 28: 19 e 20
136
J. Hastings, era ENCYCLOPAEDIA QF RELIGION AND ETHICS
137
Dr. James Orr, em ENCYCLOPAEDIA OF RELIGION AND ETHICS
138
Hebr. 13:10
139
Hebr. 13:15
Aí começa a separação entre o ministro e o presbítero. Dela derivam atos e fatos que
compreendem a história da Igreja Cristã. Schaff 142 responsabiliza Clemente de Roma pela
criação da hierarquia no presbiterato. É que, em sua carta aos coríntios, escrita no ano 97
A.D., Clemente invoca a distinção do Velho Testamento, ao que parece, para agradar ao
bispo local e hoje, tantos séculos depois, podemos afirmar que atingiu seu alvo e soprou
um balão que subiu extraordinariamente...
Mas o presbítero continuou a ser presbítero até hoje, ao passo que o bispo iniciou uma
carreira evolutiva inclinada e verticalmente que se estendeu através dos tempos. Um título
empregado pouquíssimas vezes no original do Novo Testamento e empregado, como
dissemos, para satisfazer o gosto dos helenistas, consolidou-se. Consolidou-se e evolveu.
Evolveu tanto, que se tornou necessária uma re-es truturaçao geral do organismo
eclesiástico. Tudo se fêz aos olhos do bispo: nova estruturação, nova interpretação, nova
teologia. Mas quem tudo observou, não o faria sem interesse próprio e o bispo continuou
ganhando terreno.
Nos dias que correm pouco depois desses passos, como se olha o bispo?
Não só isso, mas transforma o cargo no centro de um organ'smo cujas peças não se
movimentam senão em seu derredor e, daí,
Muitos fatores da época cooperaram para que isso assim acontecesse. O próprio curso da
história tornou-se colaborador do bispo monárquico. A guerra entre o imperialismo
romano e o nacionalismo judaico chegava ao fim, no ocaso do século pri meiro, ganhando
140
Apocal. 10:3
141
Rom. 12:1; Hebr. 13:16; II Cor. 9:7; Filip. 4:18
142
Schaff, Dr. Philipp. A RELIGIOUS ENCYCLOPAEDIA OR DICTIONARY OF BIBLICAL, HISTORICAL,
DOCTRINAL AND PRATICAL THEOLOGY
143
James Mofft, em THE PRESBYTERIAN CHUR-CHES
144
PAROIKIA
Agora a estrada é larga e cómoda. O bispo gostou rle trilhá-la e a administração da igreja
fugiu da mão do presbítero; tomou-a o bispo. É claro que havia opiniões divergentes, como
a de Clemente de Roma (97 A.D.) o qual lançara a ideia na carta aos coríntios sem prever
as consequências. Êle não admitia a sucessão apostólica, mas dizia que os presbíteros são
EPISCOPOI, reprovando o ato do seu despojamento. Ainda outras vozes discordantes fo-
ram as de:
— Policarpo, que Irineu diz ter sido bispo de Smirna por nomeação dos apóstolos,
escrevendo à igreja filipense, recomenda obediência aos presbíteros e diáconos,
como a Deus e a Cristo, sem menção do bispo 146;
— Clemente de Alexandria não distingue os ofícios de presbítero e bispo e em seus
escritos sempre menciona "bispo-presbítero" 147;
— S. Jerónimo não reconhece a instituição de sucessores para os apóstolos. Para
êle um concilio de presbíteros governava a igreja do Novo Testamento 148;
— e outros.
Já Inácio de Antioquia não compreendia igrejas cristãs sem bispo. Eram necessários, dizia
êle, para:
Não admira, pois, que se tornasse logo vitorioso o episcopado. Nem é para admirar que o
caudal crescesse, tanto mais pelo motivo exposto da cooperação da marcha da história dos
povos. É comum o fato de certas instituições serem bafejadas por imprevistos da história
da humanidade. Com ou sem razão, os benefícios as tornam estáveis; quem pode evitá-lo?
145
Didache
146
J.C. Simpson em ENCYCLOPAEDIA OF RELIGION AND ETHICS
147
Mac Lean, citado por Dr, James Orr em obra citada
148
Dr. J. Hastings, idem, idem
No ano de 251 da era cristã já se encontravam na Igreja duas ordens uma maior e uma
menor. Na primeira incluíam-se o bispo, o presbítero e o diá cono; enfileiravam-se na
segunda: o sub-diácono, o acólito, o exorcista, o leitor e o porteiro 149.
Do quarto século em diante só o bispo pode ministrar ordem sacra. As palavras "Sumo
Sacerdote", "padre" e "levita", para designarem os presbíteros e os diáconos, em
substituição ao termo bíblico e histórico, são de uso frequente.
O prestígio a que nos referimos linhas atrás seguia no mundo político as ondulações do
progresso das cidades. Assim, a Igreja da cidade de Roma cresceu em número e influência.
Os escravos libertos cederam «lugar a conversos de outras categorias sociais. Já não na
comportam as catacumbas. O testemunho dos mártires do Coliseu havia impressionado
corações melhor postos na grande metrópole mundial. A Igreja de Roma passou a ombrear
em prestígio com as de Alexandria, Jerusalém e Antioquia, mas a de Roma estava
politicamente melhor situada.
No correr dos três primeiros séculos a igreja cristã tornara-se um império invisível,
qualifican-do-a um apologista como "latebrosa et lucifugax natio" ou nação que se esconde
e que foge da luz 150. Mas a situação começa a mudar. A antiga "ecclesia" passa a tomar a
forma da "civitas" da sociedade romana. O clero cristão é inspirado pelo "ordo" e os leigos
assumem o aspecto da "plebs" romana 151.
O número aumenta; nem sempre aumenta a qualidade dos novos crentes. O aspecto
exterior da Igreja vai sofrendo modificações subsequentes ano após ano, século após
século, até que, no século 6.°, o bispo de Roma, animado com as constantes e maiores
vitórias, reservou para si o título latino de "papa" (pai) que até então era aplicado a todos
os demais bispos diocesanos. Em 1076 o pontífice Gregório viria a erigi-lo em "santo
papa".
Deram-se às mil maravilhas Roma e a Igreja que agora só se chamava de cristã. Esta não
absorveu a sociedade romana. Adaptou-se aos seus costumes, acomodou~se aos seus
gostos, deliciou-se com as suas preferências até arquitetônicas.
149
W. Walker em'"HISTÓRIA DA IGREJA CRISTA
150
CRISTIANISMO E CULTURA CLÁSSICA
151
Idem idem
152
Oliveira Lima em HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO
Com Carlos Magno, ao receber a coroa de ferro das mãos do Papa Leão III, no Natal do
ano de 800, na Basílica de S. Pedro, pondo sua espada a serviço do Santo Império ou do
Segundo Império do Ocidente, o bispo estendia, d?ssa forma, o seu manto sobre todo
mundo civilizado. O domínio não era do Segundo Império do Ocidente ou Sacro Império;
era do bispo que atingia seu maior alvo e iria entronizar e destronar reis. O bispo venceu a
grande parada.
Daí passamos aos tempos medievais. O bispo governa um mundo em trevas. Inação física,
indolência mental, superstição grosseira, preguiça generalizada. Dominam o espiscopado
monarcas absolutos, os quais, tiranizam o povo. Qualquer reaçao do pensamento é
aniquilada com crueldade.
Mas, quando uma autoridade absoluta atinge o clímax do seu poderio, ela mesma suscita
reaçao contrária, em consequência dos abusos do lado de cima e do aproveitamento de
descuidos do lado de baixo. Queremos dizer: nenhum governo absoluto é seguro; nenhum
se aguenta por muito tempo. O delírio do poder inspira excessos e a capacidade de sofrer
ao fim de certo tempo incita reações. A tranquilidade de quem pensa poder tudo enseja
revoltas que se aproveitam das inadvertências.
As massas estavam escravas aos senhores feudais. Não havia liberdade nem em fé, nem
em le tras, nem em artes, nem em economia, nem em política. Isso é matéria largamente
versada na História da Civilização. Excusa transportá-la para aqui. Mas o intelecto não se
escraviza totalmente. Pode a força emudecê-lo, mas não abafá-lo. Gritos esparsos,
reprimidos impiedosamente, ecoavam com crescente intensidade. O mosteiro continua a
inquie-tar-se. Surgem aqui e ali, na Europa, certos homens corajosos, senão temerários.
Wyclif, João Huss, no século 15. Assim, outros. Eliminados os rebeldes, não se cataram
todas as sementes da sua rebeldia. Algumas sementes germinaram. O dogma, a hierarquia,
o episcopado, sofreram rudes golpes. Veio o chamado "Grande Cisma". Agrava-se o mal.
Os Concílios já não trabalham em placidez constante. Há efervescência. O Concílio de
Basileia é uma vitória enganosa.
A revolta não se caracterizou como sendo do presbítero; mas ninguém, de bom senso,
negará que a sucessão dos fatos indica que a causa residia no absolutismo do bispo.
Impõem-se, assim, a conclusão lógica: para enfrentar o bispo e sua hierarquia, a Igreja de
Cristo só tem uma força: a do presbítero.
João Calvino é o responsável supremo pela restauração do presbiterato, não é sem motivo
o ódio que se lhe vota até aos nossos dias. Foi ele quem tirou, em 1541, o pó que, em
camadas sucessivas, encobria o presbítero bíblico e histórico. De acordo com as suas
"Ordenances", o presbítero é o coração do sistema instaurado em Genebra. Ainda mais: era
leigo o presbítero e escolhido pelo Conselho. O quadro local compreendia 12 presbíteros,
duis dos quais saíam do Pequeno Conselho, quatro do Conselho dos Sessenta, e seis do
153
ENCYCLOPAEDIA OF RELIGION AND ETHICS
154
Idem, idem
A ideia de João Calvino foi adotada na França, na Escócia.e na Alemanha. Data de 1555 o
primeiro Consistório Francos. Na Escócia foi organizado em 1560, com. as seguintes
características: o presbítero era igual ao ministro, com o qual visitava os enfermos,
examinava candidatos à profissão de fé, integrava a chamada "Sessão de Igreja" (o atual
Conselho) e elegia os seus próprios sucessores. Os ministros presidiam as "Sessões".
I. EVANGÉLICAS
155
Mat. 20:26
Os batistas consideram errada a separação 156 entre pastores e presbíteros em dois ofícios
diferentes, como fazem os presbiterianos e outras denominações calvinistas. "Cremos
numa só ordem no ministério" declara W.C. Taylor, "nenhum bispo é mais do que o pastor
e nenhum presbítero é menos do que o pastor".
Só ao bispo compete:
— admitir membros à comunidade da Igreja, porque só êle pode ministrar a
confirmação da fé dos batizados na infância, através do crisma;
— corrigir os que procedem mal;
— excluir os escandalosos da comunhão;
— conferir as ordens sacras (do diacunato, do presbiterato e do próprio
episcopado);
— presidir todas as reuniões de comunidades da diocese.
156
W. C. Taylor, obra citada
157
Cânones
158
Idem
Tudo isso, para dar forma unilateral à interpretação de passagens das quais se tomarem
isoladamente palavras, como ligar e desligar, perdoar e reter 161. É a velha questão do
divórcio entre o texto e o contexto...
Os Tremedores (Shakers), que são afins dos Quakers, têm presbíteros e presbíteras. O
ofício de presbiterato nesta seita não evangélica não tem repercussão porque os
Tremedores compreendem um pequeno grupo, algo parecido com os espíritas na prática
cultual e que se vai extinguindo. Fundada em Manchester, Inglaterra, em 1760 por Ana
Lee, foi inaugurada nos Estados Unidos da América do Norte em 1780 e é constituída por
um ajuntamento de famílias governadas por um um Conselho de ouatro oficiais, dos quais
dois são presbíteros n duas presbíteras.
Essa excursão em terras estranhas, feita muito rapidamente, serve para indicar o prestígio
do cargo, o qual toma forma e cores as mais variadas mesmo dentro das comunidades
organizadas segundo o modelo bíblico. Diremos, ainda mais, que essa variedade de
conceituações do ofício, todas inspiradas na alta função que êle pode desempenhar na
159
DICTTONARY OF APOSTOUC CHURCH
160
I Pedro 2:5
161
Mat. 18:18; João 20:23
No desenvolvimento dos capítulos anteriores ficou evidenciado que existe uma verdadeira
luta entre o presbítero e o bispo.
Portanto, o título desta divisão é racionalmente lançado; a luta é contra o presbítero e não
é da iniciativa dele.
Ninguém sabe onde, nem quando surgiu, mas é encontrado com o início da história
sagrada. Está no Antigo Testamento e está, por analogia de funções, até no paganismo da
antiguidade, talvez por imitação, senão por deturpação do costume hebreu.
Está com Jesus Cristo, na Dispensação da Graça, embora o Mestre não o mencione
categoricamente e, isso, porque Jesus se dedicou à doutrinação, especialmente dos onze
que viriam a ser o alicerce do edifício cristão no mundo, sem cuidar da organização social
e política da igreja.
Está no período incerto da espectativa do Segundo Advento. A promessa 162 era o arremate
de um período glorioso demais para que aquelas mentes simples, ingénuas e transportadas,
arrebatadas, compreendessem que haveria um compasso de espera. Mas a promessa deixou
o rebanho sem outra preocupação que não a de aguardar o segundo advento; então, nem
comunidade organizada, nem governo. Vendo, aos poucos, que o segundo advento tardaria,
162
Atos 1:11
Timóteo e Tito eram presbíteros, delegados de S. Paulo aqui e acolá. Não foram bispos e
muito menos, diáconos diocesanos, assegura James Mof-fat 167.
O presbítero Pedro é apóstolo e o cargo honra de tal forma o apóstolo que êle prefere
apresen-tar-se mais com o título de presbítero do que com qualquer outro; o mesmo
aconteceu com S. João 168.
S. Paulo está sempre com o presbítero, pois ''governo" (tarefa do presbítero) é parte da no-
menclatura sua ministerial 169. É quo a preocupação do grande apóstolo era contagiar as
equipes que formara, as quais deveriam emular-se em busca de aperfeiçoamento na fé e na
obra, no aprimoramento da vida e dos dons 170 e não em honras e títulos, em saliência e em
posições.
O termo bispo está naquelas ditas cinco vezes no cânon do Novo Testamento.
É nos terrenos contíguos ao Novo Testamento, nas áreas confinantes, mas fora da área
legítima, que o bispo está com uma origem incerta e que continuará a ser incerta se
163
Atos 4:32 e 5:10
164
Atos 20:28; Filip. 1:1; Tim. 3:2; Tito 1 :7 I Pedro 1:25
165
Schaff,'Dr. Philip, obra citada
166
Filip. 1:1; Atos 11:30; 20:17; Tito 1:5
167
James Moffat, obra citada
168
I Pedro 5:1; II João 1; III João 1
169
I Cor. 12:28
170
I Cor. 12:31
O bispo está, com passo rápido e numa escala ascendente, nos tempos tumultuosos dos
séculos segundo e terceiro. Aí, como em todo tempo, está o bispo protegido por
circunstâncias que o eminen-ciam em virtude da facilidade com que, por indefinido, êle se
adapta aos tempos.
O bispo está numa escada que sobe com extrema rapidez. Causas? Muitas, sem dúvida,
entre as quais o partidarismo entre os presbíteros 172. À hipertrofia da autoridade, sucede-se
a marcha da suplantação. O bispo cresce e domina após o fim da era apostólica.
Afastando-se cada vez mais dos rumos bíblicos, o bispo está em seguida na posição do
representante das congregações perante Deus e perante o mundo por delegação própria.
Morria o ministério carismático com a ascenção do bispo. Agora êle é igreja e desempenha
todas as funções de profeta e mestre, assumindo, ademais, as funções do chefe das relações
intereclesiásticas.
Para evitar reflexo prejudicial ao cristianismo no mundo profano, o bispo eitfíi agora, a
evocar-se a condição de árbitro em out-stõps ordinárias. É o iuiz supremo 173.
Se alguma voz se ergue contra o episcopado, é agora abafada pelo tumulto. O presbítero
não está mais em posição de poder falar; está francamente subordinado ao bispo, não
obstante o Livro de Atos nada dizer em referência ã submissão de oficiais, nem mesmo aos
171
DICTIONARY OF APOSTOLIC CHURCH
172
James Moffat, obra citada
173
CRISTIANISMO E CULTURA CLÁSSICA
174
INSTITUTAS
Por outro lado, ninguém encontra no Novo Testamento uma só passagem que mencione a
ordenação de um presbítero para uma igreja ou grupo de igrejas, mas o que se vê é a
ordenação de vários presbíteros 176 (no plural) para uma igreja 177 (no singular).
Portanto, o bispo-chefe, prelático, foi quem se ergueu, à custa do presbítero. Essa ascenção
é marcha unilateral socorrida por circunstância do tempo e não da Palavra de Deus.
Isso não quer dizer que tenhamos ojeriza para com o bispo; basta ser o seu nome bíblico
para que mereça nosso respeito; o que repelimos é a desigualdade entre os ofícios e a
suplantação do presbítero pelo bispo. A um Reitor (anglicano) piedoso e operoso, que
perguntou "Que objeções têm os presbiterianos contra os bispos?" respondeu o Rev. David
Dickson:
Só encontramos o bispo com autoridades humanas, e na condição que êle se arroga. Santo
Inácio, em defesa da supremacia episcopal, supremacia e monarquia episcopal, disse que
"o presbítero é afinado com o bispo, como a corda com a lira". Figura ôca essa da afinação
da lira, mas que serviu, e tem servido para favorecer a absorção. A Didascá-lia conclui,
pondo o bispo no trono, com os presbíteros divididos em dois grupos, um de cada lado. Os
da direita para responderem pela ordem no altar, os da esquerda, pela congregação dos
fiéis. Nada disso tem base no Novo Testamento.
175
Dr. James Hastings, obra citada
176
Tiago 5:14
177
Tito 1:5, "de cidade em cidade" (KATA PÓLIN)
178
David Dickson em THE ELDER AND HIS WORK
1.° presbítero,
2.° presbítero-bispo,
3.° presbítero e bispo,
4.° bispo e presbítero,
5.° bispo local, das igrejas da cidade,
6.° bispo diocesano, de cidades e
7.° bispo metropolitano.
O bispo de Roma beneficiou-se com a involução do governo civil. Isso, mais o génio de
alguns e a ambição de outros, determinaram a posição saliente, já agora entre os próprios
metropolitanos. Diante de poderes civis em decomposição e cercado de instituições que se
desagregavam, cuja lista é algo longa, o bispo de Roma achou o caminho que desejava tri-
lhar para o acesso à primazia no mundo civilizado. O que lhe faltava Constantino, Joviano
e Teodósio completaram. Eis aí o testemunho de um sincero e grande historiador católico
brasileiro: Oliveira Lima 179.
Agora só faltava ao Bispo de Roma (com inicial maiúscula) ser o Chefe Geral dos bispos.
Uma lei do poder civil, que ao bispo de Roma estava submisso por causa da própria
desmoralização, o empossou no glorioso cargo. Atingia-se o alvo mirado havia tantos
séculos!
O Calvinismo veio sacudir-Ihe o pó. Este estudo não teria sentido se não contasse esta
história, para que os sucessores desses oficiais soubessem que sua função não se extingue
com a força, nem se neutraliza inteiramente com o poderio. O legítimo presbiterato está
vivo hoje como sempre; palpita e atua no mundo calvinista, exercendo suas funções dentro
do quadro bíblico e dignificando o cargo com os serviços que caracterizaram o ofício em
todos os tempos.
O bispo-"chefe" não ganhou a partida, apenas, situou-se e entronizou-se numa área à parte.
179
HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO
1. QUALIFICAÇÃO
O presbiterato é uma oficina de trabalho, no qual se é iniciado pelo Espírito Santo. É uma
função na qual se é investido pela vontade de Deusf na qual se deve permanecer para a
glória de Deus, no apascentamento dos rebanhos do Senhor.
A vitalidade de uma igreja local depende da operosidade dos presbíteros, como auxiliares
dos ministros, mais do que do próprio pastor.
"A Igreja existe para servir e não para ser servida", pondera James Moffat 180 e "para
governar e não para ser governada". Serviço e governo são atribuições para as quais Deus
convoca homens que queiram trabalhar, e não homens que desejam receber honrarias do
rebanho.
O presbítero é da igreja e não do pastor, assim como o pastor é da igreja e não de concílio.
O presbítero é da igreja e para a igreja, daí o exato da escolha, em vez da nomeação. Daí,
ainda mais, uma qualificação apropriada a garantir um fiel desempenho da função.
Sem ser honraria, como dissemos, o presbite-rato é, no entanto, uma cargo dignificante.
Assim o entendiam os escoceses, em cujos modelos se orienta o presbiterato moderno
principalmente o das Igrejas brasileiras. Diziam eles:
180
James Moffat, obra citada
O Livro de Ordem da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos declara, entre outras
disposições relativas ao ofício de presbítero, o seguinte:
181
John G. Lorimer (Rev.) THE ELDERSHIP OF THE CHURCH OF SCOTLAND
182
I Cor, 16:19
183
David Dickson, obra citada
184
David Dickson, obra citada
185
I Tim. 3:2-7
Quem tem de impor as mãos, com os ministros, na ordenação, quem precisa influir na vida
da comunidade, quem tem de enfrentar oportunidades e responsabilidades que determinam
a condição de uma igreja, quem tem, muitas vezes, de "ir à frente dos ministros nas
iniciativas e empreendimentos 186" precisa reunir uma certa soma de adje-tivos que o
próprio homem reconhece como necessários e Deus, muito mais.
Vistos os textos bíblicos, mais as observações que temos feito, podemos reunir as
qualificações do candidato ao presbiterato-- em três grupos grandes, dividindo-se, cada um
a seu turno, na seguinte chave:
1.° — o presbítero precisa merecer o RESPEITO da comunidade; para isso precisa ter;
a) santidade, compreendendo Fé
Vida
b) inteligência, constando Compreensão
de Apreensão
Capacidade de Transmissão
I — RESPEITO
186
James Moffat, obra citada
Ao presbítero que deseja desempenhar sua função dignamente, não se permite dúvida
quanto aos princípios da fé presbiteriana e nós temos princípios genuinamente nossos.
Cremos, mesmo, que este assunto precisa ser objeto de consideração da parte das
autoridades superiores da Igreja, porque é frequente a transferência de oficiais, no interior
do país, para outras denominações até não calvinistas. Motivos: os mais ingénuos, como
distâncias, dificuldades de condução, "somos a mesma coisa", etc. Que isso se dê entre
comungantes comuns, aos quais a Igreja Presbiteriana nunca procurou infundir mística
denomi-nacional, vá lá, Entre presbíteros, não. Sua investidura importa na aceitação de
doutrinas muito nossas que não respiram bem os ares, por exemplo, preláticos. A
adaptação ao novo padrão tem aspecto de um repúdio, que é feito inconscientemente, às
vezes.
Por outro lado, o presbítero, assistente do pastor no ministério, tem de ser um homem de
fé. As dificuldades da comunidade, os problemas dos indivíduos e os das sociedades
domésticas, caem com especial intensidade sobre o Conselho local. Os planos de extensão
e a expansão da obra de evangelização e de consolidação do campo, de acomodação e
construção de templos e escolas, de edificação espiritual e de aprimoramento moral,
requerem alta dose de fé, sem a qual nada se pode idear, nem configurar, nem iniciar, nem
concluir. Fé viva, fé calorosa, fé objetiva, fé constante.
187
I Tim. 3:16
188
Tito 2:7,8
Muitas vezes a congregação elege um homem para o presbiterato por inculca. Todavia, os
olhos que antes o viam como irmão do mesmo nível, passam, após a ordenação, a
perscrutar-lhe a vida através dos atos que êle praticar. À autoridade que a congregação lhe
conferiu corresponde de agora em diante uma vigilância insone em torno de sua vida.
"Mostra-me tua fé por tuas obras", eis o desafio que os crentes estão a fazer
constantemente aos presbíteros.
"O homem que deve ser o exemplo para um rebanho", lê-se em AN ESSAY ON THE
OFFICE AND DUTTES OF THE ELDERSHIP (1818) 192", na religião pessoal e familiar,
deve ser caracterizado por:
— piedade habitual,
— devoção doméstica,
— pontualidade no comparecimento às reuniões de culto,
— correção, sem desvio, no comportamento externo.
Quando se introduzem no ofício (do presbiterato) homens que não se distinguem com a
vida acima, ou, quando são, impensadamente, recebidos nele, tais indivíduos rebaixam a
respeitabilidade do cargo, e, embaraçam ao Conselho o exercício dos poderes que, como
uma máquina, deve o Conselho desempenhar para promover o aperfeiçoamento moral do
povo".
189
Tiago 2:17
190
Tiago 2:18
191
Tiago 2:22
192
Burns, Rev. Robert, AN ESSAY OF THE OFFICE AND DUTIES OF ELDERSHIP IN THE CHURCH
OF ENGLAND
193
Tito 2:7
Ao ministério não se pode atribuir o dom da onisciência; nem êle mesmo se arroga esse
dom. Foi para remediar essa situação, para ajudar o ministério, que a Igreja pôs a seu lado
o presbítero. É para amparar-lhe o braço nas lides espirituais, para ajudá-lo na gerência dos
negócios da sociedade civil e para defender as ovelhas dos perigos de todos os lados, que o
presbítero requer grande soma de inteligência, sem o que há desnivelamento, tão preju-
dicial ao trabalho local e ao progresso geral. Ou, então, a estagnação do oficial que,
somente enche a vaga no Conselho.
Todo presbítero deve tomar assento em Concílio, porque é no Concílio que se encontra
inspiração, vendo a obra feita e a obra a fazer. Os acontecimentos mais transcendentais da
denominação se re-fletem no Concílio e os problemas mais cruciais só podem ser
equacionados nos Concílios. O Concílio é o grande mar que recolhe águas cristalinas de
córregos e rios e águas barrentas de torrentes tumultuadas em seu curso. Deve-se sonhar
com o dia em que se instale o regime de rotatividade para a representação das igrejas nos
Concílios, a fim de que todos os presbíteros entrem em relação direta com os quadros
representativos da denominação em todos os setores da administração. Isso só se dará,
entretanto, nos dias em que a escolha do presbítero se fizer levando em conta a capacidade
de compreensão. Que benefício conceder-se a quem não quer compreendê-lo? Como dar
assento em um Concílio a quem não procura conhecer a organização, as funções e os altos
objetivos dos Concílios da Igreja Presbiteriana?
Como bem conhecemos os quadros intelectuais das nosas igrejas de um modo geral, não
será absurdo dizer-se que a escolha — já difícil por causa da necessidade de compreensão
— chegará ao impossível se desejarmos formar um corpo de presbíteros dotados com certa
espécie de cultura. Podemos, entretanto, procurar homens que saibam apreender.
A história de nossa Igreja é outra inspiração. Não que a reputemos como elemento de
interiorização das outras denominações; o presbiteriano nunca manifesta o desejo de
ser mais do que ninguém; somos o que somos independente de comparação com quem
quer que seja; não somos "presunçosos. Mas temos as marcas do martírio, o sinal do
sangue. Temos construído nações. Ignorar isso não recomenda bem a um presbítero,
porque o expõe a erros de conceituação e orientação dos crentes. Mas é preciso de grande
capacidade de apreensão para interpretar essas belezas tão nossas e, apreendidas, tornam-se
elas em elemento de convicção sem secta-tarismo.
Finalmente, para que se faça respeitado deve o presbítero ter o dom de transmitir, que é
outra manifestação comum da inteligência. "Apto para ensinar" recomenda S. Paulo 195.
Naturalmente, o exercício do cargo vai aparelhando o homem para todos esses misteres,
mas só aparelhará o que estiver em condições mentais de evoluir. Segundo pensa o Dr.
Thomas Porter; o presbiterato "é um aprendizado, como se aprende a ser cidadão, a usar
direitos, a viver numa democracia". As lições aprendidas não se destinam a
entesouramento, ao arquivo mental do "de cujus", mas a reproduzir-se em benefício dos
membros da comunidade, transmitidas fiel e cristãmente.
II. ESTIMA
O oficial da Igreja não pode ser um homem distanciado do comum das ovelhas; isto é,
poder, pode, se quiser condenar seu cargo ao fracasso.
Não queremos dizer, obviamente, que o presbítero seja servil ou se rebaixe a excessos que
desfigurem o cargo, comprometa a dignidade do ofício. A firmeza e a decisão de caráter
194
Niesel Whilhelm, em THE THEOLOGY OF JOHN CALVIN
195
1 Tim. 3:2
196
Rev. Robert Burns, obra citada
a) BOM SENSO
A capacidade de julgar é rma essencial manifestação de bom senso. Quem pode viver neste
mundo sem ter de opinar pró ou contra, sem ter de tomar uma posição favorável ou
desfavorável, sem ter de servir de juiz? Julgamos a cada momento, no lar, no emprego, na
sociedade, no clube, na escola, na igreja. Uma multidão de causas nos é proposta
constantemente e desafia a cada passo, nossa aptidão para julgar, após um discernimento
que a' nós, os espirtuais, nos é atribuído com mais propriedade 197. Também nãn podemos
fugir ao dever de censurar 198, de piucessar 199, de conceituar 200 e muito mais nesta linha
de pensamento.
É evidente a necessidade de não se deixar influir o presbítero por fatores que o levem a
julgar sob a influência de motivos secundários como a emoção, o interesse e a ná
informação. Tem de ser um homem dotado com gosto pela investigação, para poder decidir
com acerto.
Um conhecimento maior das leis, das resoluções dos Concílios, das deliberações das
Comissões Especializadas, do consenso geral e da experiência local muito favorece ao que
pensa em proceder com justiça nas posições que precisa assumir conforme o período
antecedente.
Não só isso, mas não é bem qualificado para o presbiterato quem não se conforme em
ouvir. Ouvir muito; ouvir muitas vezes; ouvir tanto quanto a marcha dos acontecimentos
aconselhar; ouvir tanto quanto fôr necessário à formulação de uma ideia exa-ta da situação
em causa. Não há nenhum senso na decisão tomada unilateralmente ou tomada sem a
instrução conveniente e sem a coleta de todos os dados necessários a uma conclusão
natural, racional.
O juiz que muito fala, que revela segredos dos processos a seu cargo, é um fator do
desastres. O presbítero tem que ser discreto. As causas da Igreja de Cristo não podem ser
campo arável por todas as línguas, nem ruminável por todas as mentes. Há fatos cuja
197
I Cor. 2:15
198
I Cor. 4:3
199
Atos 24:6
200
Atos 16:15
O presbítero é juiz de causas santas porque pertencentes à Igreja de Jesus Cristo. Está em
jogo o nome da esposa de Cristo; todo bom senso é pouco em defesa de sua honra!
Em seguida, o presbítero demonstrará ter bom senso se tiver interesse pelo rebanho. Já
dissemos que o presbítero é da igreja, portanto, não é uma máquina a cumprir ordens na
igreja, mas uma peça atuante na agitação da comunidade. Nada mais ilógico do que um
representante distanciado de quem ele representa, um delegado que menospresa o dele-
gante, um ajudante do pastor que só faz o que se lhe manda, sem uma iniciativa própria,
sem uma vibração individual. O presbítero deve palpitar com os membros da congregação
em todas as suas experiências. É através delas que êle sente a temperatura espiritual, o
progresso no conhecimento da Palavra, o grau moral e o zelo evangelístico do povo.
Quando uma igreja está quente espiritualmente, os problemas não serão tão frequentes; os
que surgirem terão solução imediata para que não cheguem a contagiar outros crentes. Há,
também, ardor evangelístico. O ardor evangelístico demonstra aquele espírito de
propaganda das verdades eternas que nasceram antes do presbítero e da formação dos ri-
tuais 201. Sua ausência numa comunidade evangélica é sintoma de doença que atacou,
primeiramente, o Conselho da Igreja; logo, a falta de zelo pelas almas indica ineficiência
no colégio presbiteral.
Quando os presbíteros têm interesse pela comunidade, têm iniciativa e, em acordo com o
pastor, se abalam a grandes empreendimentos, aquecendo a igreja toda, aumentando a
frequência aos serviços religiosos, promovendo entusiasmo pelas boas causas, havendo
grande movimento de visitas — resultado de convites, — há conversões de pecadores. Os
frades celtas, os monjes pregadores da Idade Média, os primeiros reformadores, os
genebrinos, os milicianos jesuítas, os revivalistas (como os irmãos Wesley), os discípulos
de Calvino, usaram o processo do contágio pelo serviço individual, exercendo-o a 100
graus de intensidade e fervor; os resultados das suas arrancadas todos nós bem
conhecemos.
Infelizmente, nenhuma das virtudes anteriores é suficiente, nem o seu conjunto é decisivo,
se operarem pouco ou aos poucos. Ao contrário, os êxitos retumbantes costumam ser
passageiros em seus efeitos. Obra duradoura é a que se faz perseverantemente,
pacientemente, continuadamente.
201
Bispo Episcopal Leon C. Palmer em THE MINISTRY OF LAYMEN
III. REPUTAÇÃO
Ninguém vive vitoriosamente isolado do meio; é o ensino de Jesus Cristo em João 17:15.
O meio pode ser um estímulo, pode ser um desestímulo e pode ser uma hostilidade dura e
cruel. Também pode o meio julgar retamente e pode condenar injustamente. Pode impelir
para a frente, pode estacionar e pode empurrar para trás. Em todos esses casos, porém, há
um meio em um ou outro sentido, determinando êxitos ou fracassos.
Miguel Ângelo era um homem triste, com frequentes acessos de hipocondria que o
levavam à vizinhança do desespero. Viveu nas estreitas relações ções de papas poderosos
de quem recebia tratamento quase de igual para igual 203. Qual é o traço marcante na obra
de Miguel Ângelo em pintura? e em escultura? A majestade bíblica, como no teto da
Capela Sixtina. E quem o orientou nesse sentido? Seu amigo Savonarola, queimado a 23 de
maio de 1498 como um dos precursores da Reforma do Século 17. Com o amigo o artista
aprendeu; aprendeu e gravou em sua arte as verdades impressionantes da Palavra de Deus.
Morto o amigo, Miguel Ângelo escrevia: "sua palavra viva ficará gravada para sempre em
minha alma".
George Frederick Handel, "o mais glorioso biógrafo musical de Jesus" era um ídolo das
massas da Inglaterra e seu aparecimento em público despertava grandes emoções. Ao calor
dessas, êle escreveu as pautas que ainda hoje causam arrepios.
O oficialato da Igreja de Jesus Cristo está aberto exclusivamente a homens limpos. Não
diremos "puros" se bem que esse fosse o ideal; mas, purezas e perfeição, onde encontrar
202
I Tim. 5:17
203
Archer WaLlace em THE RELIGIOUS FAITH OF GREAT MEN
Uma boa reputação interna denota estima, que vem do bom trato, da boa conduta, do
respeito que a pessoa infunde à congregação.
Quem não é boa pessoa fora da igreja não o será na congregação dos santos.
S. Paulo é bem claro quando escreve: "que tenha bom testemunho dos que estão de fora,
para que não caia em afronta" 204.
Os deveres impostos pela vida com Cristo e pela associação com os cristãos são muito
mais sérios do que os necessários para a vida com a sociedade e com o mundo exterior.
Quem não os cumpre, quem os despreza ou os acha indignos de consideração perante o
mundo, como poderá enfrentar os deveres para com a Igreja de Cristo?
"Abençoado é o homem a quem o Senhor não imputa iniquidade e em cujo espírito não há
engano" 205. Esse, sim, será força construtiva no rebanho do Senhor e sua vida será um
dique que impedirá seja a Igreja inundada de pecados e "vindo o inimigo, como uma
corrente de água, o Espírito do Senhor arvorará contra êle uma bandeira" 206.
"Tu que julgas", diria S. Paulo ao presbítero, "tens que ser inexcusável, condenando-te a ti
mesmo naquilo em que julgas o membro da tua Igreja" 207.
Quantos males assaltam a Igreja Presbiteriana do Brasil com oficiais de mau conceito
público! Se o mau conceito é merecido, o homem não serve para o ofício; se imerecido,
porque não o provaria êle, perante seus detratores, antes de receber a ordenação para o
cargo de guardião da fé e da disciplina?
204
I Tim. 3:7
205
Saimo 32:2
206
Isaías 59:19
207
Rom. 2:1, 3
Já dissemos repetidas vezes que o presbiterato é uma oficina de trabalho; não é uma
honraria. Deus convoca homens para realizar tarefas determinadas nos vários setores de
seu Reino e os eleva à categoria de cooperadores no Seu Plano.
O presbiterato é órgão executivo da igreja local e do Presbitério. Aos poderes que lhe
confere a ordenação correspondem deveres que se devem traduzir em ação, movimento,
realizações, atividade contínua e produtiva.
O cabedal do presbítero (o conjunto dos seus instrumentos) consiste naqueles meios ao seu
alcance para cumprir o programa de ajuda ao pastor no ministério e, para cooperar no
Reino de Deus de múltipla forma, seja no governo, na disciplina, no ensino, etc.
Não adotando a Sucessão Apostólica, os presbiterianos vêm realizando sua obra no mundo
com o homem comum, havendo, até, quem repila a expressão "presbítero leigo",
considerando-a uma zombaria. "O ofício é só de presbítero e é um cargo eclesiástico; quem
o atinge deixa de ser leigo" 208. Não tendo clericato, o presbiterianismo crê na
transmissibilidade de ordens sacras a qualquer crente, contanto que esteja habilitado a
recebê-las, qualificado devidamente, para exercer o presbiterato (docente ou regente).
Também não vê classes sociais; é uma igreja democrática em toda parte, no que respeita ao
reconhecimento do direito da congregarão para escolher seus obreiros e determinar, por
meio desses obreiros, a sua política 209.
208
Rev. John G. Lorrimcr, em THE ELDERSHIP OF CHURCH OF SCOTLAND
209
James Moffat, obra citada
É a experiência religiosa que inspira objetivos. O obreiro que quer ser fiel à sua vocação
tem que ter desígnios firmes. Os grandes inventores não recolhem material a esmo, nem
fazem reações sem planos e cálculos.
Um neófito não pode ser presbítero. Um homem que, conhecendo o Evangelho de menino,
tenha passado a maior parte de sua vida sem professar a fé, seria um péssimo presbítero, a
menos que houvesse um milagre com êle. O primeiro é um iniciante e a jornada da vida
com Cristo é longa e de aspecto variado, que não se apreende ao primeiro contato. O
segundo foi indeciso portanto tempo que sua religião parece não ter calor vital. Pode ser
consequência, e, só, de uma convicção mental.
As questões de ordem material têm de ser equacionadas por homens que conhecem a
ordem material; as de ordem doutrinária são cometidas aos ministros, porque esses se
preparam com prolongados estudos para enfrentar os problemas espirituais. Quando o
Conselho enfrenta problemas de manutenção, de expansão, de construção, de ampliação,
de equipamento, o presbítero precisa poder ajuntar àquela advertência de Lucas 14:28 o
conhecimento de leis, regras e normas que possam contribuir para que as resoluções não
sejam vasias de objetividade. Iniciativas? Sim, mas lastreadas com um vasto cabedal de
lições práticas e de observações. Muitos empreendimentos ficam em meio, ou custam um
exagero, por causa da incapacidade dos presbíteros. Outros ficam em planos por falta de
compreensão, por ignorância ou por displicência.
210
Jó 11:5/7; Is. 47:10; Exeq. 28, 17
211
Atos 11:18
212
I Cor. 12:1
213
II Cor. 5:15-17
214
II Tim. 1:12
215
Art. 4º da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil
Ao presbítero que tem consciência de sua vocação divina, ao que goza do respeito da
congregação, da estima dos fiéis e que tem prazer no exercício do presbiterato, bastam as
recomendações de S. Pedro, quando diz:
"Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que também SOU
PRESBÍTERO, com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante
da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus que está
entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; não
por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a
herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho 217.
A sustentação é uma força, constituída de fibras que, como raízes, nascem no contato
pessoal com cada ovelha do rebanho a cujos sentimentos o presbítero deve ser familiar.
A ideia de presbiterato sempre esteve ligada à idade provecta. É que o acumular dos anos
vai formando um património moral que infunde respeito e serve de influência sobre os
outros. Os próprios pagãos constituíam seus conselhos com homens mais idosos. O mesmo
é o que se fazia em Israel 218. Por muitos séculos a idade mínima para a ordenação ao
presbiterato foi de 30 anos. Na Igreja Ma-ronita ainda é assim até hoje. A Igreja Unida
Livre da Escócia (Presbiteriana) adota o mínimo de 21 anos 219. A Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos também estabelece o mínimo de 21 anos. Dr. T. G. Campbell 220,
216
III João 9
217
III João 12
218
Ex. 3:16; 12; 21; Num. 11:16; Josué 7:6; I Sam. 8:4; Jer. 29:1
219
MANUAL OF PRACTICE AND PROCEDURE, 1927
220
Dr. Campbell, T. Graíham, em THE WORK OF THE ELDERSHIP
"A palavra ancião, naturalmente, sugere a ideia de mais idade, e, certamente, onde se
puderem alcançar as outras qualificações, a maturidade, e a sabedoria cristã geralmente
conquistadas com a idade, são mais desejáveis". A Igreja Presbiteriana da Inglaterra,
em decisão tomada em 1921 (atas da Assembleia), recomenda às Congregações que
tenham em mente ã escolha de pesssoas mais velhas para tomarem assento no
Conselho 222. A inclinação da preferência para a juventude pode levar ao caso de se
proceder como os Nestorianos, que ordenam presbíteros até com 18 anos!
Nesse emaranhado de opiniões, não afirmaríamos que só velhos, velhos, mesmo, possam
ser investidos no presbiterato. Ao contrário, o homem marcado pela decrepitude só pode
entrar no presbiterato como honraria. Faltam-lhe, sem sombra de dúvida, as vibrações e as
energias mentais para viver com o rebanho os seus problemas, oferecendo soluções
adequadas e a Igreja de Cristo não se compõe exclusivamente de velhos. Em que braços
descansariam os pastores, com que pés contariam eles para carregarem os cordeirinhos e
levarem as ovelhas às ricas pastagens, se os músculos não têm mais flexibilidade e a
palavra constante é queixa de reumatismo?
O que afirmamos, com convicção própria e observação mais ou menos prolongada, que,
via de regra, os jovens não estão à altura de compreender a dignidade do cargo
biblicamente reservado a pessoas mais idosas e socialmente recomendadas através de
experiências que só a longa vida pode dar.
Outro requisito que considero normal e bíblico é o estado civil de casado. É o que S. Paulo
declara textualmente em Tim. 3:2, quando declara: "convém que seja marido de uma
mulher". Somam-se aí duas qualificações. A primeira, porém, é a de ser marido e a
segunda, ser monógamo, o que êle considerava importante num tempo e numa região da
terra que admitia, como ainda admite, a poligamia. Os "anciãos" do Velho Testamento
eram "patriarcas", chefes de família, casados e com filhos.
Finalmente, o presbítero carece de dons especiais para o convívio com o rebanho. Eis
alguns deles, entre muitos:
a) ser trabalhador — Deus não convoca ociosos para nenhuma função no Seu Reino.
Pode contratar obreiros até na hora undécima 223 mas só assalaria homens que queiram
trabalhar. Hoje, como em todos os tempos, Deus vai muitas vezes procurar capitães de
indústria, líderes de comércio e sábios professores ou hábeis políticos para tremendas
comissões em suas igrejas; mas não vai despertar ã tarde ninguém que prefere a cama ao
arado.
221
Lorrimer, Dr. John G., obra citada
222
THE BOOK OF ORDER OF THE PRESBYTE-RIAN CHURCH OF ENGLAND, 1922
223
Mat. 20:9
Jesus Cristo retirou as mãos de Pedro e André da rede de pescar que estavam atirando ao
mar. Tiago e João descansavam "carregando pedras", pois que reparavam as redes para
voltarem ao mar. Mateus, achou-o o Senhor no difícil encargo de arrecadar impostos para o
governo. Só de Judas nada se sabe quanto à ocupação quando chamado por Jesus; também
não interessa saber se era laborioso o homem que a avareza conduziu ã traição e suicídio.
É preciso entrar nas recamaras das almas para conhecê-las, consolá-las, e alimentá-las. É
preciso conversar, para ouvir, comprender e corrigir. É preciso confraternizar, para amar e
servir.
O cargo é para quem quer servir. Fechado numa concha, descansando num pedestal ou
dormindo num leito, nenhum presbítero faz sua obra.
Quanto mais acessível, mais relacionado e mais comunicável, tanto melhor o homem para
este ofício.
c) Habilidade de trato — A mesma verdade pode ser dita de muitas formas. A Igreja
existe para salvar; quantas vezes, nós, os presbíteros, afastamos candidatos à profissão de
fé, crentes fracos e pessoas interessadas em uma ou outra obra da igreja local, com exagero
de atitudes e infelicidade em expressões.
Ao presbítero não se permite exceder os limites, nem ficar aquém deles, no exame das
questões que lhe forem afetas. Também não se lhe permitem paixões por quaisquer causas,
mas deve ter equilíbrio, ficando com o certo.
No Conselho, nos concílios, nas comissões que lhe forem atribuídas, deve o presbítero
proceder com aquela característica, dada pelo Mestre, do nem mais, nem menos,
quando dizia:: "Seja o vosso falar, sim, sim; não, não" 224.
e) Fidelidade — Calmo, como o fiel da balança, mas firme pró ou contra no julgamento
dos fatos, o presbítero não pode oscilar no depoimento 225, nas contas 226, na contribuição
227
, no lar 228, nas mínimas coisas 229. Quem não é fiel, frauda e defrauda; como ser bom,
assim, no ministério do Senhor? Que confiança pode merecer da parte dos membros de
uma comunidade quem vive torcendo os caminhos?
224
Mat. 5:37
225
Prov. 14.15
226
Mat. 25:31
227
Salmo 66:13
228
I Cor. 7:1-5
229
Lucas 16:10
Ativo nos deveres do cargo; sua inteligência a serviço da igreja, comunicando ao pastor
todas as ocorrências que requeiram intervenção pastoral, tais como: novas famílias, moços
desconhecidos, gente que se muda dentro ou fora da cidade, enfermos, vitoriosos em
esforços pessoais, derrotados na vida. Não se censure o pastor pela falta de visita a um
enfermo, se êle não o soube. É o presbítero que, no trato permanente com o rebanho, deve
conhecer o fato e o comunicar ao pastor. Assim, nos outros casos 230.
g) Prudência — A sabedoria habita com a prudência 231. O prudente não delibera sem
conhecimento prévio, sem o domínio do assunto em litígio 232. O prudente é um homem
que esmaga seus impulsos 233. O prudente só fala na hora própria 234.
O convívio com pessoas de caracteres variados, com padrões espirituais que diferem de
indivíduo para indivíduo, com educações, com culturas, com posições, com condições
sociais, e financeiras de todos os matizes (que assim se constituem as sociedades das
nossas igrejas em toda parte), exige do presbítero muita cautela, muita prudência nos atos e
nas atitudes.
Aquele que governa o rebanho, mais do que os governados no rebanho, e, mais do que os
que governam os Reinos do mundo, precisa pensar só no que é verdadeiro, no que é
honesto, no que é justo, no que é puro, no que é amável, no que é de boa fama. Isso é
prudência 235.
Aquele que trata com os membros da igreja a todas as horas e em todos os lugares, precisa
reter sua língua e falar só aquelas coisas julgadas convenientes 236. O presbítero deve
proscrever a cho-carrice 237.
Finalmente, o presbítero deve, para bem desempenhar o seu cargo, "ser apresentado a
Cristo". "Ter segurado sua mão na do Salvador e Amigo". Ser renascido não da carne, mas
do Espírito Santo; estar convencido de que Cristo está à sua direita e satanás à esquerda.
Saber que seus pecados diários são diariamente removidos pela fé no sangue remidor do
Cordeiro de Deus, deixando que o Seu sangue o lave para o Seu serviço, de tal forma que o
vaso, seja de ouro ou de barro, possa ficar limpo e apropriado para o uso do Mestre 238.
É talhado, bem talhado, completamente talhado para o presbiterato aquele homem que
amar o FILHO DE DEUS, o LIVRO DE DEUS, a CASA DE DEUS, o DIA DE DEUS e o
ESCABELO DE DEUS! Eis tudo quanto é qualificação.
230
Barbour, Dr. G..,em THE ELDER AND HIS WORK
231
Prov. 8:12
232
Prov. 13:16
233
Prov. 16:21
234
Amos 5:13
235
Filip. 4:8
236
Efes. 5:4
237
Efes. 5:4
238
Campbell, Dr. T. G., obra citada
Na era apostólica a escolha dos oficiais se fa zia por eleição, uma vez que cessaram
condições específicas para as investiduras do Velho Testamento, tais como o levitismo, a
integração fatalística entre os membros de uma família, no sacerdócio.
Desta feita não houve indicação de nomes, nem isso é indispensável em todos os casos.
Aqueles que reclamavam a necessidade de homens que fizessem justiça às suas viúvas 242,
que escolhessem quem melhor lhes parecesse a fim de extinguir o motivo e o foco das
reclamações. Cumpria, porém, "escolher varões de boa reputação,cheios do Espírito Santo
e de sabedoria" 243.
Com essa eleição deram-se alguns passos à frente. Entre outros o da relatividade da
escolha. Não tendo havido prévia indicação de nomes era natural que os escolhidos
sofressem um exame da parte dos responsáveis pelos destinos da Igreja. A eleição não
importava na investidura; abria-lhe o caminho, somente. A igreja funcionava como tribunal
239
Atos 1:26
240
Atos 6:2
241
Atos 6:2
242
Atos 6:1
243
Atos 6:3
A ordenação passou à categoria de ato de confirmação no cargo, ato que ficou cometido ao
Concílio local. No exame, antes da eleição, pode ter havido erro; é frequente o erro dos
ajuntamentos humanos na escolha de líderes e condutores. Também na eleição pode ter
havido engano; o nome mais votado pode não ser o da pessoa melhor qualificada e, um
menos votado, que não alcance o suficiente, merecer muito mais. O re-exame, para a or-
denação, parece muito acertado, contanto que o colégio eleitoral seja ouvido novamente, se
os mais votados tiverem de ser recusados. É o direito de veto do Poder Executivo, tão em
uso hoje em dia, para corrigir desacertos, até excesso, e caprichos dos legisladores. Não
adotamos esse sistema, mas que êle é razoável, é.
Outro fato importante a notar-se nesta eleição é a reverência com que os apóstolos se
aproximaram da ordenação;, aproximaram-se orando 245. É que a confirmação no ofício
precisava da unção divina em maior grau. A eleição poderia anular-se; a confirmação, não;
e, convinha se inscrevesse no quadro de oficiais só homens a quem o próprio Deus con-
firmasse. Ainda assim, caba perguntar: teria sido certa a escolha? Quem poderia responder
pela afirmativa ou pela negativa? Mas, tantos passos de exame e oração indicam, pelo
menos, que houve um sincero propósito de acertar. Um bom meio de verificar é o que
sugere João Calvino:
"Para sabermos se Deus escolheu um oficial, temos que ver se foi eleito direito, e se
exerce bem as suas funções" 246.
Uma eleição em que tudo correu normalmente, legal, correta, nos mínimos detalhes é
caminho para se verificar a vontade de Deus. Falta de instrução aos eleitores, convocações
fora das exigências constitucionais, insuficiência dos quorums, lista de presença com
imperfeições e ilegalidades, desordem nos atos da eleição, tumultos, paixões, falta de con-
tato permanente com Deus antes, durante e depois, predileções do Concílio pró ou contra
candidatos, atas ilegais, eis algumas evidências de que o predomínio foi a vontade do
homem. A vontade de Deus nem sempre é a do homem 247. Aos próprios candidatos, se
sentiram o chamado divino, cumpre cooperar para que a vontade do Senhor triunfe, a fim
de serem aprovados por Deus 248.
O "modus exequendi" dos atos eleitorais varia muito. Não cabe aqui a repetição do que
consta da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil. Também não vamos cotejar as
Constituições das Igrejas tais como as americanas, inglesa, etc. Isso não tem relação direta
com a função administrativa do presbítero, assunto que estamos estudando. São atos afins,
mas alheios.
244
Atos 6:5
245
Atos 6:6
246
Níesel Whilhelm obra citada
247
Is. 55:8
248
II Tim. 2:15
Não parece procedente a convicção de que S. Paulo criou uma norma, com os poderes que
concedeu a Tito. No caso de Timóteo cremos não haver dúvida, de vez que a
recomendação é exclusivamente quanto à ordenação, última fase da eleição, pois que
disse:
Ver nisso delegação de poderes para ordenar presbíteros com nomeação, parece forçar um
pouco a verdade.
O caso de Creta, apesar de especial, não foi além da norma; e tem-se a prova no fato de
não ter S. Paulo insistido em nomeação de presbíteros e de não o ter feito em outros
lugares. Pode alguém indicar outro? Ao contrário, o que se vê é S. Paulo presidindo
eleições em Listra, Icônio e Antioquia, pois que o registro escriturístico diz "e ha-vendo-
lhes, por comum acordo, eleito anciãos em cada igreja". Houve eleição, precedida de
entendimentos entre o apóstolo e a assembleia local" 251.
O sistema presbiteriano era o prevalecente em todas as decisões que de opinião geral. Até
as Comissões Missionárias eram constituídas por eleição como a que o Concílio de
Jerusalém enviou, com S. Paulo, a Antioquia 252.
Caso como o de Creta merece maior meditação» já que os tempos e ram tumultosos. o
Evangelho empolgava as massas. Os judeus confundiam o ambiente cristão. Os gregos
sempre irrequietos. Os obreiros eram poucos e as necessidades dos campos obrigavam os
pregadores a pervagar Ásia e Europa em jornadas sem descanso. As nomeações podem ter
sido medidas de emergência, e, quem nos garante que o "estabelecer" de Tito 1:5, tenha
sido investidura por nomeação?
O erudito Rev. Sabattini Lalli comenta: a palavra grega que aparece aí para expressar a
ação de "estabelecer" é KATHÁSTESES. É o primeiro aoris-to singular da segunda pessoa
do subjuntivo ativo do verbo:
Kathístemi
Kathístaou
Kathístanou.
Essas são as três formas de um mosmo verbo. Note-se que a raiz e o radical são o mesmo:
KATHIS, variando, apenas, as terminações: TEMI, TAOU, TA-NOU. Este verbo aparece
em Mateus 24:45, Atos 7:10,27,35, Hebreus 5:1 e 8:3, com o sentido de "constituir",
"constituído". Em Mateus 25:21,23, aparece com o sentido de "colocar", isto é, "pôr era
lugar de privilégio". Em Lucas 12:14,42, aparece com o sentido de "pôr sobre", isto é,
249
Tito 1:5
250
I Tim. 5:22
251
Atos 14:23
252
Atos 15:22
O Dicionário de Bailly dá uma grande lista de significados deste verbo, segundo o uso na
linguagem dos clássicos. O que interessa ao assunto desta tese é a seguinte lista: 1º.
instituir um magistrado ou juiz; 2º. constituir um povo em monarquia; 3º. elevar alguém
ao poder. Mas, note-se, aí não temos método ou processo, e, sim, o fato; simplesmente isto.
O como não aparece no verbo.
Cabe, pois, computar o respeito que devemos ao sentido incerto da palavra, situação em
que, o curial é comparar com outros casos da mesma natureza, além de tomar na devida
conta as circunstâncias históricas e a fase insegura da vida da Igreja de Cristo. Em todos os
demais casos S. Paulo ouvia e mandava ouvir a assembleia dos fiéis. Porque tomar pé num
incidente, já que o que ocorreu em Creta foi um incidente, promovido pela desordem nas
igrejas daquela ilha?
A eleição presbiteriana é a mais certa e a mais bíblica, além de ser a mais racional, à vista
desses fatos.
3 — POSSE
A natureza da posse tem relação estreita com a dignidade do cargo, isto é, quanto mais
elevado, tanto mais formal e solene. A primeira posse ou instalação ocorre depois da
ordenação 253.
A ordenação é, pois, a cerimónia que reveste o presbiterato de alta dignidade, ainda que
vista, somente, pelo aspecto exterior.
Entretanto, não é hábito nosso realizar ato algum com objetivo meramente exterior. Bastam
a simplicidade dos nossos ambientes, despidos de coisas "para ver", e a preocupação
histórica de reunir todos os presbiterianos em torno do único culto imaterial, o culto do
ouvir, para demonstrarem à saciedade que não ordenamos oficiais só para ostentação. Tem
sido um sinal marcante do nosso ritual dirigir, com decência e ordem apelos à mente, à fé e
à experiência, através de atos de culto que se assemelham aos que Jesus realizava nas
sinagogas. Algumas novidades inocentes têm tentado abrir caminho nas hostes
presbiterianas através dos tempos. Algumas conseguiram vingar, porque não conspiravam
contra a forma tradicional do culto presbiteriano, principalmente, o culto calvinista.
Porisso, a ordenação de oficiais é mais para ser vista por dentro do que por fora. E, que
mensagem traz ela? A da consagração divina.
Não é um sacramento para nós; logo não fala ao ordenando e aos assistentes de uma graça
invisível.
As igrejas de governo prelático vêm na ordem uma porção de coisas, tais como: entrada n.
corrente da Sucessão Apostólica, observância da hierarquia ministerial, transmissão de
dons recebidos dos apóstolos, inclusão do ordenando no sacerdócio, vicariedade do
253
Constituição da "Igreja Presbiteriana do Brasil, Arts. 83 d e 109
A ordenação não é sacramento, porque faria recuar sua instituição à Dispenração das
Obras; seria uma volta ao Velho Testamento 255, para estabelecer conflito com o
verdadeiro sacerdócio. Qualquer relação com o velho sacerdócio importa em anular o
sacrifício de Jesus Cristo, o último sacerdote. Que ordem sacra cristã, pode ser essa, então?
"Não é ordem sacra" afirma categoricamente o dr. James Orr 256. É, ao contrário, o sinal de
outros atos como bênção, nomeação 257, consagração 258, separação 259.
"A eficácia dos atos ritualísticos está na graça que veiculam e, não, na prática que sua
execução exige" 260.
Só Cristo garante a salvação com o aval do seu sangue e com o penhor da sua ressurreição.
A imposição das mãos vale tanto quanto a água do batismo, o pão com o vinho da
comunhão. É elemento material, simbólico e não fator de graça. O fundamental, o
vitalizante, é o Espírito Santo, que, só Êle, comunica a graça. João Calvino 261 chama a
imposição das mãos de "oração pactuada", isto é: ordenando e ordenadores, como um só
ser, pelo entrelaçamento das. mãos dos ordenadores sobre a cabeça do primeiro, invocando
de Deus a unção do dom que há no ordenando, conferem-Ihe o Espírito Santo, e, através
disso recebe êle uma graça íntima que o capacita a exercer o cargo com a aprovação do
Alto 262. Não há transmissão de dons, mas consagração do dom ou dos dons do ordenando
com a interferência do Espírito Santo 263. Quem confiou aos preláticos o poder de dar o
Espírito Santo? Onde um texto bíblico para assegurar essa autoridade?
A simples admissão de pessoas ao ministério da Igreja de Cristo não pode sugerir criações
humanas que fujam ao padrão e ao modelo bíblicos. É necessário muito cuidado com o
culto inventado pelos homens! Há constante perigo de erro e precisamos estar alertas,
como depositários de uma herança incorruptível e gloriosa. O erro insinua-se com faci-
lidade. Teodoro supunha que a imposição de mãos, em Timóteo 264, significava a
consagração feita por alguns dos doze; isso não é verdade; só S. Paulo e o presbitério o
fizeram 265. O que daí passar é mera suposição e essas suposições conduzem a caminhos
que se afastam da estrada real. O presbitério aí referido é o conjunto de anciãos (268)
254
João Calvino, em INSTITUTAS
255
Gén. 48:14
256
INTERNATIONAL STANDARD BIBLE ENCY-CLOPAEDIA
257
Mat. 19:8; Marcos 10:16
258
Num. 8:10
259
Atos 6:6
260
Atos 6:6
261
Dr. J. M. Kyle, em COMPÊNDIO DE DOUTRINA E A IGREJA
262
INSTITUTAS
263
Atos 9:17
264
I Tim. 4:14
265
I Tim. 4:14
A questão do sacerdócio já foi bosquejada, mas ainda cabe repetir que por esse caminho
iremos até ao mundo pagão. De que o sacerdócio evolui não padece dúvida. Iniciando
como função do pai 267, foi variando até chegar à de uma família, — a dos levitas; — daí
chegou a ser dignidade sagrada, com poderes de intermediário entre Deus e o homem,
como o encontramos hoje na Igreja Católica Romana, com o vicariato. Só êle expiava e
propiciava 268. A hipertrofia chegou ao ponto de expulsar o homem do altar; como hoje, a
passividade do crente, com uma subjetiva intenção, bastava para assegurar a graça e o
auxílio de Deus.
Onde está a reconciliação com Deus? Qual o limite dessa reconciliação? De quantos
metros a sua profundidade? E que sentido passa a ter Hebreus 2:17? Fomos, ou não,
classificados como sacerdotes? Como entender-se I Pedro 2:5,9, Apocalipse 1:6; 5:10,;
20:6? Como? senão com o sacerdócio universal, aberto a todos os fiéis, em Jesus Cristo?
"Dizendo Novo Concerto, envelheceu o velho. Ora, o que foi tornado velho, e se
envelhece, perto está de acabar" 273.
O Reino Santo somos nós 274, no qual Jesus Cristo nos incluiu 275. A concepção de um
Israel de raça transferiu-se à humanidade toda, aos eleitos de Jesus Cristo; somos o
sacerdócio santo, real e universal. Logo, ver na ordenação o que se deu com os filhos de
Arão, ou, o ordenar reproduzir — como sacramento — o que se fazia no Pacto das Obras, é
vã tentativa de ressuscitar um passado morto, bem morto. É oferecer combate a Jesus Cris-
to, do qual o velho sacerdócio, o extinto, o morto sacerdócio, foi mera prefiguração 276.
A Igreja Presbiteriana está com a razão, porque nem ficou com a ordem do grupo prelático,
nem se alistou com o individualismo exacerbado do Congregacionalismo. Para nós, nem o
bispo diocesano, nem a judicatura independente exercida pelo rebanho, e, sim, o colégio
presbiteral, distinguido o laica-to de clericato, que ambos se completam no presbítero.
266
A.H. Strong em SYSTEMATIC THEOLOGY
267
Wyllistone Goodsell — obra citada
268
Deut. 2:15
269
I Tim. 2:5
270
Hebr. 8:6
271
Hebr. 9:15
272
Hebr. 22:24
273
Hebr. 8:13
274
Êx. 19:6
275
Efes. 2:18
276
João Calvino, em INSTITUTAS
Há quem acuse os presbiterianos de combinar os males dos dois sistemas, sem aproveitar
os seus benefícios. Ora, as acusações. . . "Por seus frutos os conhecereis" 278; no capítulo
próprio, que breve chegará, diremos do que tem feito o presbiteria-nismo para o mundo,
dos frutos que tem dado fartamente. Um fato podemos oferecer desde já à livre
contestação: nosso programa de culto (louvor, leitura sagrada, exposição da Palavra e
oração), feito num púlpito como centro da adoração, nossa disciplina, nosso oficialato,
nosso regime de seleção de valores, são a sinagoga, são uma tradição que não podem fixar
no tempo, nem no cérebro de um homem, nem no ideal de um movimento. A sinagoga era
presbiteriana em organização e governo. Só divergimos dela na propiciação 279.
RITUAL DA POSSE
Não vamos, naturalmente, repetir aqui o que está estabelecido pela Constituição da Igreja
Presbiteriana do Brasil sobre a ordenação. É lei e como lei pode ser ab-rogada, derrogada e
revogada. Assinalemos, entretanto, alguns aspectos interessantes da nossa Lei, que são:
1.° a habilitação,
2.° a definição do ato,
3.° a instalação, e
4.° a destinação.
Ninguém é admitido ao cargo sem eleição regular e legal; o ato é uma imposição de mãos,
com oração "segundo o exemplo apostólico" 280; o exercício do cargo depende da
instalação,, que é posterior à ordenação e, finalmente,, os atos só são válidos quando "se
tratar de entrega ao novo oficial de "um cargo definido" 281. O primeiro é da alçada da
assembleia geral da congregação; os restantes do Conselho local.
Note-se, ainda, que sem distinção de cargos, os ordenandos deverão assumir os mesmos
compromissos, declarar a mesma fé e jurar fidelidade à Igreja Presbiteriana do Brasil 282.
277
ENCYCLOPAEDIA OF RELIGION AND ETHICS
278
Mat. 7:16
279
Rom. 3:24/25; I João 2:2; 4:10
280
Art. 109 § 1.° da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil
281
Idem § 3.° idem
282
Princípios de Liturgia
MOTIVAÇÃO DO PBESBITERATO
1 — Razões Materiais
O presbiterato hoje praticado em nossas igrejas, que é o presbiterato cristão, surgiu no Ato
dos Apóstolos.
Diverge o pensamento dos estudiosos quanto à função dos sete eleitos para enfrentarem o
problema das viúvas dos gregos 283. James Moffat diz: "os chamados diáconos" 284,
procurando dar a entender que não os iguala ao cargo hoje denominado como de diáconos.
Se os considerarmos mais do que diáconos, temos aí, uma eleição que se tornou necessária
para remediar conflito na igreja nascente.
Pouco após, reúne-se o Concílio de Jerusalém, dando assento aos presbíteros 285. Agora
era o conflito no terreno doutrinário que convocava o presbítero a opinar junto com os
ministros.
Nenhuma peça na grande máquina do reino cristão pode ficar parada; nirso, a evidência do
espírito da religião de Jesus Cristo, que não é contemplativa, mas é uma prática vibrante,
um estado dinâmico íntimo em constante ação de crescimento, contágio, e refinamento, de
283
Atos 6:1
284
THE PRESBYTERIAN CHURCHES, James Moffat
285
Atos 15:6
286
Atos 15:6
287
Tiago 5:14
288
Marcos 6:31 | Rom. 15:14
As divergências dos três primeiros séculos não foram preocupações de natureza doutrinária
nem desentendimentos por motivo de interesse. A ati-vidade é que dividiu os crentes.
Além dos problemas externos antes os quais a comunidade tem de se apresentar com
unidade, requerendo, assim um representante idóneo, a Igreja tem causas internas que
reclamam inspiração, instrução, direção, orientação e disciplina. Muitas dessas causas
interessam, simultaneamente, a dois ou mais irmãos, quando não os divide era partidos,
correntes e setores dentro do campo eclesiástico. O presbítero é necessário aqui como um
juiz. No Conselho local tem de julgar e sentenciar, a que preço não cabe aqui mencionar,
mas tem que assim proceder. Nos Concílios, nas comissões conciliares, e nos tribunais,
propriamente ditos, o presbítero é um elemento necessário, não só por imposição legal,
nem pela situação de igualdade com os ministros, mas como o povo leigo de Deus com
assento onde sua ausência poderia ser desastrosa e prejudicial 1.2 nome da Igreja. O
presbítero ali é a multidão dos fiéis falando, participando das decisões, e só o pres-
biterianismo, com seu regime representativo puro,' sem similar nas entidades políticas do
mundo profano, pode realizar isso. No mundo profano o juiz é uma casta, com promoções
até aos mais altos postos, sem elo com a representação popular. No pres-biterianismo, é o
deputado que pode julgar até ministros.
O presbítero é o centro, de onde irradiam ordem, poder, direitos 290. Como d'rigiria
sozinho, o pastor, sem um apoio em autoridade cuja mrlhor credencial é o manar do
próprio rebanho? A autoridade do pastor, como pastor, é só ministerial; como presbítero é
que êle pode arrogar-se poderes de execução na esfera administrativa, de agência, de dele-
gação, declara Kyle 291. E assim é, porque os que administram a igreja, inclusive
legislando, são executores da ordenação de Cristo para o bem do rebanho que, para isso, os
ordenou.
Finalmente, o presbítero é uma necessidade, porque o regime que tem construído nações,
•— o presbiterianismo, — tem nele o fator principal da formulação e da exemplificação do
sistema representativo, que inspirou o republicanismo moderno entre as nações.
289
Dr. J. M. Kyle, obra citada
290
Egbert Watson Smith em THE CREED OK THE PRESBYTERIANS
291
Dr. J. M. Kyle, obra cilada
2 — RAZÕES ESPIRITUAIS
O crente precisa de companhia na vida diária, como a ovelha carece da convivência dos
pastores. O ministro tem a palavra e os sacramentos, sendo natura] que não se lhe exija
muito mais do que isso, que é o centro da vida religiosa evangélica. Assim, o ensino, a
edificação, o estímulo na vida espiritual, têm de ser repartidos entre o ministro e quem
deve receber o lugar de seu assistente, seu acólito. Qual seria o cargo em condições de
encampar as responsabilidades desses misteres tão importantes na vida espiritual da igreja,
senão os presbíteros? Ao ministro, a supervisão; ao presbítero, a execução dirigida.
Pensava João Calvino 292 que a vida da Igreja é ordenada de cima. Jesus Cristo atua por in-
termédio do Espírito Santo, distribuindo os dons. Note-se bem: :"distribuindo", não os
concentrando em castas ou ordens, mas os dá, "uns para apóstolos, outros para profetas,
outros para evangelistas, outros para pastores, outros para doutores" 293. O que Deus almeja
na distribuição dos dons pelo Espírito Santo, é a diluição da tarefa, é a delegação de
poderes, para que um número maior viva com a Igreja e para a Igreja. Ê uma equipe maior
que se aperfeiçoa no ministério cristão, e que promove o aperreio amento dos santos:
edificando, erigindo, construindo, fazendo subir, o corpo místico de Cristo 294. A
universidade da salvação é aplicada, executada, transmitida, consolidada e aperfeiçoada
através da universalidade do ministério.
A Igreja é de Cristo e não dos homens. "Nem um simples indivíduo, nem a sociedade
como um todo, tem qualquer poder controlador da organização da igreja"295. Cristo é o
Senhor de tudo. A pregação é de Cristo; as verdades cuja exposição se faz são de Cristo: as
doutrinas formuladas são de Cristo; o governo é exercido por homens como delegados de
Cristo. O homem é o instrumento que lança, a jorro, a semente cobrindo prados e montes.
Cada crente um semeador, cada oficial um orientador da lavoura de Cristo.
Isso não quer dizer que se imponha o tumulto no serviço. Isso não justifica certas práticas,
diríamos, desordenadas, com barulho, com manifestações coletivas, algo assim como uma
alucinação co-letiva, generalizada, tal como acontece em alguns lugares. Isso não justifica
certas formas de culto, como a dos Tremedores. "Faça-se tudo decentemen-ee e com
ordem"296, é um preceito a que o pres-biterianismo histórico tem dado ênfase especial. A
ordem, no caso, é escala de autoridade, é escolha do campo de ação, é a adequação de
métodos. A ordem presbiteriana é o púlpito como centro espiritual e de instrução, com o
pastor como oficial mais graduado, na conceituação de João Calvino 297 pela faculdade de
ministrar, os sacramentos. Com êle mas abaixo na escala (não na hierarquia, nem na ordem
292
THE THEOLOGY OF CALVIN
293
Efé. 4:11
294
Efé. 4:12
295
THE THEOLOGY OF JOHN CALVIN
296
I Cor. 14:40
297
Obra acima citada
"O puritanismo torna a vida como uma vocação divina" escreveu o grande pensador
católico romano Justin Nixon, no "Atlantic Monthly", em 1927. O presbítero, como base e
edifício do puritanismo, é no Conselho, nos Concílios, no lar e na sociedade a
manifestação da vontade de Deus quando, com vida exemplar, comunica firmeza à
comunidade, entusiasmo à juventude, fervor à maturidade, paciência ã velhice. É a
vocação divina corporificada.
Por último, que motivo maior, do ponto de vista espiritual, para o instituto do presbiterato
de que sua participação no presbitério exaltado, glorificado, junto ao trono do Altíssimo,
como relata o autor do Apocalipse 300 ? O grande vidente contempla o presbítero adorando
o Cordeiro e adorando o Pai. Um tal lugar, conspícuo, na Igreja Ideal é a coroa de uma
obra que é sua tarefa na Igreja Temporal.
E Jesus Cristo, o Senhor nosso e de todos, presente 301 como o Sumo Presbítero, ratificará a
obra do presbiterato, fazendo-a crescer espiritualmente 302, aperfeiçoando, confirmando,
fortificando, consolidando, e fazendo triunfar a Igreja cujo governo Deus dividiu com o
ancião 303.
298
I Cor. 6
299
I Cor. 6:6
300
Apocal. 4:4;5 :8,14;11:16;19;4
301
Mat. 28:20
302
Coloss. 2:2,7,19
303
I Pedro 5:10
304
Lucas 13:9
305
Mat. 21 :41
306
II Cor 9:10
307
Mat. 3:10
308
Mat. 7:18
a) a representação pura,
b) o governo racional,
c) a organização conciliar e
d) a dinamização das energias.
a) A REPRESENTAÇÃO PURA
O sistema chamado representativo tem tido muitas contrafações. Que isso se dê no século,
vá lá; na Igreja de Cristo, entretanto, é para desejar que tal não aconteça.
Somos de Cristo, já o dissemos e reafirmamos 310. Com majestade suprema, Êle reina em
nossas vidas. Mas o Senhor Jesus não violenta nossas consciências, nem exerce seu
governo com absolutismo. Êle nos quer, nos procura, bate à nossa porta 311, mas não força
a entrada. Se o bispo das nossas almas 312 não desce da sua suprema grandeza para
constranger a mais pequena das suas ovelhas, a autoridade absoluta em qualquer matéria, o
constrangimento, as confinaçÕes incondicionais, não têm exemplo no ensinamento e na
vida de Jesus Cristo.
309
Schaff Dr. Philip, obra citada
310
I Cor. 3:21-23
311
Apoc. 3:20
312
I Pedro 2:25
313
Dr. J.M. Kyle obra citada
Que tais deformações de função se operem no mundo profano, como dissemos, vá lá; não o
podemos evitar, nem com isso nos devemos impressionar; "a César o que é de César";
governem-se os grupos civis como desejarem os cidadãos da terra. "A Deus o que é de
Deus"; submeta-se a Igreja aos padrões bíblicos, valorizando o cidadão do Reino muilo
mais do que o valoriza o poder civil. O mal do poder civil, é justamente, a faculdade
(comu-menle utilizada) de coagir, de constranger, conduzindo as massas a seu talante,
segundo os interesses pessoais ou grupais, às vezes inconfessáveis.
O regime presbiteriano não coage; mal permite a persuasão, quando indica mais de um
candidato a qualquer cargo eletivo.
Além disso, o governo presbiteral não se exerce por um indivíduo, um régulo; é exercido
por um colégio de anciãos. Assim foi na Velha Dispensa-çãn: com diversos anciãos nas
cidades, e setenta no Sinédrio, cujo presidente era também chamado da Condutor. Assim
foi na Igreja do Novo Testamento. Ao aproximar-se de Mileto, S. Paulo não reclamou
contato com um Superintendente, ou um Pres-bílero, ou um Sacerdote, mas pediu a
presença dos presbíteros 315. E ao dirigir-lhes a palavra, o Apóstolo fez recomendações que
merecem transcrição;
"— olhai por vós, e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu
bispos" (no plural) 316
Escrevendo aos filipenses S. Paulo saúda a "todos os santos em Cristo Jesus — com os
bispos e diáconos"317. E assim, em muitas outras passagens, claro ou implicitamente o
governo colegiado representativo se encontra na Bíblia.
Conservamos esse sistema de governo tal como era. O que a Bíblia registra não deve sofrer
evolução, se ela mesma não o sancionar; o que a razão recomenda é inalterável pois que o
raciocínio só conduz a um resultado; o que a experiência aprova não deve se expor a
modificações.
João Calvino é o pai da representação popular moderna. Há opiniões contrárias dos que
combatem o homem e sua escola; a intolerância vai ao ponto de o considerarem um ditador
na cidade suiça. Oliveira Lima, historiador brasileiro, católico apostólico romano, defende-
o afirmando que se Genebra viveu sob uma ditadura, acusom-se a época o a oposição dos
314
I Pedro 2:5,9
315
Atos 20:17
316
Atos 20:28
317
Filip. 1:1
b) O GOVERNO RACIONAL
318
M. de Oliveira Lima, obra citada
Aí, uma demonstração; clara e evidente do governo racional que adotamos. A Bíblia não
sustentaria instituições que pecassem contra a razão. Alguma que, por acaso, subsistir
pecando contra a razão (se houver), deve apoiar-se em homem, em trabalho de homem, em
poderio oe homem; na Bíblia, não.
A Igreja Presbiteriana é uma república ideal na instituição. Tanto é assim que a deturpação
dos seus princípios e dos seus métodos não têm resistido ao tempo. Porisso, essa república
ideal continua a ser o que era há milénios.
c) A ORGANIZAÇÃO CONCILIAR
"O presbiterianismo é o nome que pode ser aplicado, em sentido geral, àquela teoria
de igreja que visa a realizar sua unidade visível, através do governo de presbíteros,
clérigos e leigos, tais presbíteros, sendo postos â parte por seus pares com o
consentimento popular, todos de igual nível, e organizados para propósitos de
administração eclesiástica, dentro das cortes da igreja, as quais se erguem umas
acima das outras em escala ascendente, da congregacional à nacional" 320.
Nessa definição o grande teólogo e mestre Dr. Orr engloba todos os aspectos da
organização presbiteriana. Em primeiro lugar está o presbítero; em segundo o Concílio
local, que se pode chamar de Consistório, ou Sessão, ou Classe, ou Conselho. Seu
mecanismo constitucional e funcional é igual ao da assembleia que o elegeu; subordina-se
ao mesmo regime de distribuição de cargos, às mesmas regras de funcionamento, sujeito a
um regimento que carece de aprovação, com o sufrágio universal, com a delegação de
poderes, a prestação de contas, etc.
O Conselho não é um quisto dentro da igreja. Como bem disse o dr. Orr, é um grupo de
crentes separados para operarem no mesmo nível, com organização idêntica, sem
319
Mat. 6:13
320
Dr. James Orr em THE ENCYCLOPAEDIA OF RE-LIGION AND ETHICS
O supremo Concílio é a assembleia geral dos fiéis de todo um país. É a multidão dos que
crêm 322 reunida periodicamente com a representação eleita pelos sínodos. A ela i-ão
atribuídos todos os poderes constitucionais.
O Supremo Concílio é a maior associação dos presbíteros, mas sem poderes proporcionais
à sua magnitude. Queremos dizer que ela é o mais alto Poder da Igreja Presbiteriana em
um país, mas não é um poder absoluto, com autoridade ditatorial. Todas as suas decisões,
em doutrina ou em disciplina, admitem recursos que pedem ser oriundos da mais modesta
igreja, contanto que tramite, legalmente, em tempo hábil, por todos os concílios menores .
'A organização conciliar presbiteriana, ideal na sua graduação, é a fiel interpretação das
Sagradas Escrituras, no que ela prescreve para a função administrativa do presbítero.
Através, dos Livros de Ordem, das Constituições, dos Regulamentos, dos Regimentos e
das Resoluções, os Concílios colocam os presbíteros nos lugares biblicamente apropriados,
em que pesem pequenos senões que a prática vem corrigindo crescentemente.
321
I Tini. 4:14
322
Atos 4:23
Esse quadro, talvez pintado com cores demasiado veementes, mas que tem a marca da
realidade, explica o destino de muitas instituições até no seio da própria Igreja de Cristo.
Por outro lado, quando um pastor pode distribuir incumbências entre os membros do
Conselho, desde o púlpito da igreja até a cerimónias de sepulta-mentos, quando pode
contar com es presbíteros para redigir, ensinar, visitar, exortar, e outros misteres, seu
pastorado é fecundo, e, seus braços escorados são uma prece ininterrupta a Deus pelas
batalhas da comunidade as quais terminam sempre em brilhantes vitórias.
A descoberta de João Calvino nesse sentido foi um grande benefício não só para a Igreja,
mas para o mundo todo. Nações e povos muito devem ao presbítero. Há nomes de
presbíteros mundo a fora inscritos em grandes feitos pelo bem comum. O único ministro
que assinou a Declaração da Independência do povo norte-americano foi um presbiteriano,
logo, um presbítero docente. Seu nome era John Witherspoon e vale a pena ser divulgado
com o fato que o celebrizou 323.
Não somos a única denominação eclesiástica que adota o calvinismo no mundo, mas,
reconheça-se que "amigos e inimigos", simultaneamente, adjudicam à Igreja Presbiteriana
— como coroa de espinhos ou diadema de glória, — a característica de ser a mais
importante representante do credo calvinista" 324.
O sistema calvinista não encoraja o descanso, não tolera os braços cruzados, não poupa o
"lais-sez faire", o "deixa como está para ver em que fica".
323
E. C. Routh, em QUEM SAO ELES?, traduzido por A. Ben Olliver
324
Rev. Egbert Watson Smith, obra citada
E "este velho carvalho não tem a graça flexível nem a maciez sedosa de uma planta de
estufa, mas tem uma majestade superior à graça e uma sublimidade que excede à beleza.
Suas raízes podem ser extremamente contorcidas, mas algumas delas são ricas em sangue
de gloriosas batalhas; algumas se enrolam em pelourinhos de mártires, como Mar-garet
Wilson, na Escócia; algumas escondem-se em células abandonadas e em bibliotecas
solitárias, mas a sua raiz mestra está abraçada à cruz de Cristo" 325.
O caminho trilhado pelo presbiterianismo, após o segundo século da era cristã, e através
dos séculos seguintes, tem sido de ama corrente que brota como uma linda promessa que é
logo engolfada, mas que, após uma estafante passagem subterrânea de muitos quilómetros,
sobe novamente à superfície da terra para enriquecer e fertilizar o solo. Êle voltou e
disseminou-se e à sua disseminação no mundo pode-se anJiear a palavra Diáspora, eis que
em todas as partes do mundo ecoou a voz do presbítero 326.
"o presbítero humilde e modesto que alça o cordeirinho em um dos seus braços e com o
outro ampara o pastor na administração do rebanho, conduzindo o ministro de Deus pelos
caminhos em que êle poderá cumprir as promessas da sua ordenação".
MAS ...
não nos embalemos com o sonho da perfeição. Temos graves defeitos que importa
mencionar. São defeitos do sistema, que o dr. Thomas Porter, muito apropriadamente,
chama de "doenças presbiterianas". Evidentemente não vamos tomar muito tempo com
eles, mas, também, não vamos deixar de os mencionar, a título de advertência. Ei-los:
325
Idem idem
326
Rev. J.M. Ogilvíe em THE PRESBYTERIAN CHURCHES
V.
DISCRIMINAÇÃO FUNCIONAL
Um servidor não deve fazer tudo, nem muito se pode esperar dos generalistas, os homens
chamados "dos sete instrumentos", qua aí estão para a execução de qualquer tarefa. Não
tanto porque o generalista seja um mal totalmente condenável. Há casos em que êle é útil
nos serviços de coordenação no plano, execução e aperfeiçoamento no vertical e na
apuração dos resultados. Em tais casos, todavia, o generalista é uma minoria, isto é, um
para coordenar muitos.
A definição das obrigações, a especialização dos funcionários naquilo que êle pode fazer
com apuro, é o melhor sistema de organização, porque, simultaneamente, confere
autoridade no setor e carrega responsabilidade pela execução.
Além disso, a definição das obrigações marca as fronteiras, prevenindo contra invasões que
são causa de perda de energias, quando não geram conflitos.
Cada função é determinada pelos respectivos dons. Nem todos têm o dom de doutrinar 328,
como nem todos têm o de governar 329. A falta do dom conspira contra a eficiência do
cargo e só se deve respeito a quem demonstra eficiência. Em resumo: cada um no lugar
que lhe compete e, nesse lugar, cada um fazendo-se credor do respeito pelo integral
desempenho de sua tarefa.
Ê a João Calvino, a quem tanto devemos, que vamos creditar a distinção entre presbítero
docente e presbítero regente. Não havia tal distinção na Igreja primitiva; o ministro, o
327
Joel 2:1
328
Hebr. 13:7
329
I Tim. 3:4,5
Pensa Schaff 331 que a inteligência de I Tim. 5:lf é a divisão do trabalho segundo a aptidão
e a prática e, ainda mais, que, embora no ofício se compreendesse o ensino, nem todvs os
anciãos eram chamados a ensinar, senão os que para isso estivessem dotados e
preparados.
O ministério é distinguido nos Atos dos Apóstolos como sendo o "ministério das mesas",
isto é, DIAKONEIN TRAPEZAIS, o "ministério da palavra", DIAKONIA TOÚ LÕGOU.
Ainda que passagens posteriores e a clareza da organização imprimida por S. Paulo não
estabeleçam o fato, essas referências dos Atos parecem indicar alguma diferenciação a que
não podemos ser inteiramente estranhos.
João Calvino pondera, segundo as INSTITUTAS, que o governo da Igreja é para ser
exercido por três ofícios, que eram:
Pode-se concluir, portanto, que a divisão de funções é prática salutar com fundamento
bíblico, podendo, entretanto, variar o modo de a executar, con-servando-se intacta a
estrutura do sistema presbiteriano, pois que é só funcional.
Atendo-nos ao sistema adotado pelo Igreja Presbiteriana do Brasil, vamos passar uma vista
ligeira sobre o mecanismo da função dos cargos.
Como profeta, é o mensageiro de Deus. Cabe-lhe o papel de Arão 332, de interpretar para o
povo aquilo que Deus falou. Assim como o Senhor comunicava a Moisés a sua vontade,
Moisés falava a Arão e Arão transmitia ao Faraó a mensagem interpretada, o presbítero
330
James Hastings, obra citada
331
Philipp Schaff, obra citada
332
Êx. 7:12
Como o profeta da Velha Dispensação, sua mensagem é a vontade de Deus, seja qual fôr o
conteúdo respectivo: instrução, ou edificação, ou exortação, ou consolação 334, ou
repreensão (339), ou de outro qualquer sentido.
Como pastor, o presbítero docente deve imitar Jesus Cristo, dando tudo que fôr necessário
e possível pela ovelha a seu cargo, como Êle chegou a dar a sua própria vida 337.
Além da administração do sacramento, não lhe fazem falta outras funções, além da de
mestre341, sabendo-se, principalmente, que nenhuma outra religião determina necessidade
de saber aquilo em que se crê do que a evangélica A doutrina 342 e as normas de conduta
cristã 343 têm que ser ensinadas ãs ovelhas, principalmente, às que vierem de outros
apriscos e às fracas na fé 344, se o que desejamos como sinal distintivo da vida é o
testemunho.
Ao ministro é que compete dirigir-se ao povo de Deus com autoridade, quando proclama
os ensinamentos da Palavra de Deus. Sem imunidade pessoal, a sua defesa ao proferir
verdades eternas, — nem sempre do agrado do auditório, — é falar com ciência e viver o
que fala, irrepreensivelmente.
Mas, como cremos que todos os crentes têm acesso ao Pai, sem intermediário, a não ser
Jesus Cristo; como cremos que todos têm comunhão di-reta e inevitável com o Cabeça da
Igreja, "o ministério não executa a religião", escreve Lightfoot 345, "em lugar do povo".
333
Lucas 16:29
334
I Cor. 1:3
335
Salmo 23:2
336
Lucas 2:8
337
João 10:11
338
Jer. 3:17; Efa. 4:11
339
I Cor. 9:1
340
I Tim. 2:7
341
Hab 2:9
342
I Tim. 4:6-11
343
II Tim. 2:2; Tito 2:4
344
I Cor. 3:1; Hebr. 5:13; I Pedro 2:2
345
ENCYCLOPAEDIA OF RELIGION AND ETHICS
Ao superintender a igreja, o pastor procede como bispo; quando preside, como presbítero,
no sentido genérico.
Rogando aos crentes que o reconheçam, estimem e amem os seus pastores, S. Paulo parece
inspirado pela responsabilidade que êle antevê, de embaixadores de Deus perantp os féis
346
, de ministros plenipotenciários do Reino 347, de mordomos da Casa de Deus 348 e de
gerente dos negócios da sociedade eclesiástica local 349.
Quem tiver acompanhado este estudo com atenção terá visto que o presbítero regente está
nele desde o princípio. Não fosse quem o fêz um presbítero regente! Todas as vezes em
que houve necessidade, para clareza, separámos as categorias presbiterais, dando a cada
uma delas aquilo, a nosso ver, que lhe pertencesse em honra e encargos. À vista disso,
poderíamos determinar, por exclusão, quais as atribuições do presbítero docente e quais as
que devem ser do presbítero regente. Tornar-se-ia, assim, excusável, esta Secção.
346
II Cor. 8:23
347
I Tim. 4:6
348
Tito 1:7
349
I Tim. 5:17
350
I Tim. 4:12
351
II Tim. 2:22, Tito 3:2
352
I Tim. 4:13,15,16
353
Atos 6:3 | 358 Tito 1:5
3 — HA VANTAGENS NA DIFERENCIAÇÃO?
1.° — ORDEM — Nos ambientes desataviados que costumamos adotar para o nosso culto
e com rituais despidos de ostentação, de pompa litúrgica, que sobraria nas nossas igrejas se
não procurassemos fazer tudo "decentemente e com ordem"?
É necessário ordem no culto, como é indispensável ordem nas coisas 354, ordem no governo
355
, ordem na conceituação dos fatos 356, em tudo, enfim 357, para que tudo que fizermos
seja aceitável a Deus.
2.° — APTIDÃO — Embora seja o mesmo o Espírito Santo que inspira, nem todos têm o
dom de profetizar, nem de ensinar 358. "A manifestação do Espírito é dada a cada um para
o que fôr útil" 359. Convém haver campos de ação separados.
O que se observa no mundo é isso: a seriação dos cargos é útil para o aproveitamento das
aptidões. Nem todos podem ser chefes, mas o jovem que hoje começa como escrevente,
Não há humilhação na diversidade dos graus para quem reconhece que o essencial é ser
atuante no cargo que ocupa, tanto mais que somos, todos (pastores, presbíteros, diáconos,
evangelistas, professores e outros), membros de um só corpo, que é Cristo (370), e
cooperadores de Deus. O indispensável é cumprir a missão com amor, constância e
fidelidade. E, quem se sentir humilhado, não serve.
A Bíblia da tradução chamada "do Rei Tiago" registra Filipenses 4:5 como dizendo: "seja a
vossa moderação notória a todos os homens", ao passo que Almeida diz: "seja a vossa
equidade, etc". O conselho de S. Paulo é melhor expresso no primeiro texto. A
diferenciação entre os cargos dá oportunidade a homens moderados para impedir excessos,
veemências, etc. nos nossos cenáculos.
Entretanto, se o ofício é o mesmo, hoje como ontem, aqui, como em toda parte, é natural
que um regime de pura democracia (sem ser popular) sofra adaptações para ir de encontro
a circunstâncias do tempo e do local, contanto que não passem da superfície.
Direitos
A esses, que são os principais, acrescentam-se todos os demais que sejam inerentes ao
cargo, os quais se possam exercer independentemente de autorização exterior,
reconhecidos pelo Supremo Concílio tácito ou expressamente.
a) condicionais:
Deveres
São de menor importância, a nosso ver, os deveres codificados, porque são lições do senso
comum transformadas em lei, que opera em toda parte, nem sofrendo influência nem
mesmo das latitudes.
1.º — O presbítero tem o dever de ser estudante habitual da Palavra de Deus. A Bíblia é
o estatuto da entidade que ocupa presbíteros. Portanto, êle precisa estar em condições de
falar a qualquer hora sobre seus deveres religiosos tal como o empregado sobre a
companhia a que presta serviços. "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o
meu caminho". A Bíblia deve ser a companheira do Presbítero de dia e de noite 360. O
exemplo de Jesus Cristo não é outro; ao enfrentar dificuldades sérias como a da tentação,
como iniciava êle as suas respostas? "Está escrito"; Êle conhecia as Escrituras de ponta a
ponta.
2.º — O presbítero deve ser assíduo e pontual nos serviços religiosos. Em primeiro lugar,
porque êle tem o dever de ser exemplo para o rebanho. Ilustra bem esse fato uma história
que o dr. T. G. Campbell 361 conta ter escutado no City Temple, em Londres:
360
Salmo 119:105
361
Dr. T. G. Campbell, obra citada
E, sem querer infundir vaidade, termina o Dr. Campbell: "o presbítero que não é modelo
para alguém não pode ser contado na igreja militante".
A assistência aos serviços religiosos só traz benefícios e só honra a quem quer que seja.
Quando perguntaram a W. E. Glad^tone, — o grande estadista e ministro da Rainha
Vitória, da Inglaterra, — que era um verdadeiro crente, se era verdade que ia à Igreja duas
vezes por domingo, respondeu: "Sim; vou duas vezes, e vou até três, quando tenho oportu-
nidade para isso". Há sempre lições novas a aprender na Igreja de Cristo, como dizia o
salmista: "Eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios — até que entrei
no santuário de Deus; então entendi o fim deles"! 362
3.º — o presbítero deve ter um reverência especial, diferente, para com Deus. Não pode
ser o crente comum, mas deve sobressair acima do normal em qualidades. O que se requer,
o que Deus requer, na expressão de S. Paulo é que êle seja "um exemplo dos fiéis" 363 em
tudo de material, de social, de moral e de espiritual. Um exemplo é o que pode ser imitado,
que está fora do objeto em exame e que pode, porisso, ser posto diante dos outros.
O presbítero que não guarda o Dia do Senhor convenientemente, como poderá admoestar o
crente que vai ao cinema, que faz pique-niques, que não se recolhe espiritualmente? Se êle
mesmo vai ao futebol, se assiste a peças teatrais, a representações e a recepções sociais no
Domingo, como exigir dos crentes que o não façam? Quando o Imperador Guilherme I da
Alemanha convidou o grande cantor inglês Harry Lauder para cantar para êle num do-
mingo, a resposta foi negativa. O "direito divino dos reis" sentiu-se ofendido e retrucou
que, quando o rei pede, êle está mandando. O cantor escocês man-teve-se firme e, sem
nenhum medo, respondeu: "O Kaiser é grande, mas Deus é maior". O imperador capitulou.
Seja qual fôr o meio de vida do presbítero, há mensagens especiais para êle na casa de
Deus. Um dos maiores jornalistas ingleses do seu tempo foi W. T. Stead, que pereceu no
naufrágio do "Titanic", em 1910. Dizem que era um génio em entrevistas, que fazia, tanto
com príncipes e governadores, como com as mais rebaixadas madalenas. Era espirituoso,
agudo, sabia separar o trigo do joio, sabia escolher as palavras (como os profetas do
passado), que atingiam corações como setas. Isso aprendera êle na Igreja de Deus, pois era
um devoto apaixonado das reuniões de oração semanais! 364
362
Salmo 73, todo ou versículos 3 e 17
363
Dr. T. G. Campbell, obra citada
364
Dr. T.G. Campbell, obra cilada
Finalmente, 6.º — é dever inelutável dos presbíteros, conhecer todos os membros da sua
comunidade. Como cuidar de ovelhas desconhecidas? Também precisa saber compor
situações, eliminando diferenças entre os membros da comunidade para fomentar a
amizade e a camaradagem geral. Precisa saber servir a todos dentro do possível, até em
auxílio material. Precisa, ainda, entrar em contato com visitantes, para oferecer-lhes um
ambiente amigo na sua igreja, dando a impressão de que a pessoa tem ali uma família que
deseja recebê-lo em seu seio.
Todo aquele que compreende que o cargo existe para apoiar o pastor e servir à Igreja, trilha
todos esses caminhos com gosto e com facilidade.
Se se puser nas mãos de Deus, será um vitorioso, sem embargo das dificuldades.
A estrutura da Igreja Presbiteriana é tão simples que nossos filhos podem dominá-la ainda
na infância.
O símbolo de João Calvino, da sarça que arde e não se consome, inspirada na visão de
Moisés diz da vitalidade ilimitável da Igreja Presbiteriana. Erguida para os Céus tanto na
chama da sarça, como na verticalidade das colunas, está a lição do fim principal do
homem.
O cuidado paternal daqueles que se acolhem à sua sombra é missão do diaconato. Porisso,
a Igreja dignifica-o, porisso a Igreja convoca-o para outros misteres como o da manutenção
financeira, o da ordem no culto e o da influência sobre os crentes para que se conduzam
bem dentro da casa de Deus (art. 53).
Graças a Deus por essa simplicidade na estruturação de um ramo da Igreja de Jesus Cristo
que sem complicações têm contribuído para a felicidade do homem e, em particular, para a
felicidade de cada pessoa que crê em Jesus. Poder funcionar um organismo desses é uma
glória terrena que cada membro masculino de nosas igrejas deve desejar. A função
administrativa de um presbítero, sua parte nesse mecanismo, é uma ação útil, honrosa e
santificante.
VII.
CONCLUSÕES
— o vocábulo "presbítero" designa função de governo religioso e social; com esse sentido
aparece na história mesmo fora dos registros bíblicos;
— Jesus Cristo não cogitou de um sistema de governo específico para sua Igreja; fundou-a
para servir e ser servida, e, não, para governar e ser governada;
— o termo bispo nasceu num tempo determinado e o vocábulo então adotado para
designar o novo cargo foi aplicado pela primeira vez em correspondência para regiões
gregas e a fim de agradar os helenistas;
10
— o bispo era um presbítero como os outros até o fim do primeiro século da era cristã; aí
aparece como superintendente local; no terceiro século já era regional, com direitos e
prerrogativas que se foram hipertrofiando no correr dos tempos, até elevá-lo à categoria de
"Pontifex Maximus";
11
12
— o presbiterato é uma função abrangente na família de Cristo; por delegação divina e por
escolha livre da congregação, o presbítero atua na palavra, no governo, na disciplina, e na
gestão dos bens da comunidade que o elegeu;
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— a fronteira entre as funções dos dois presbíteros só se encontra na igreja local, se bem
que o exercício do ministério, pelo presbítero docente, seja universal, ao passo que as
funções do presbítero regente se limitem ao âmbito da comunidade que o tiver elegido, ou
em delegações dela;
17
— a atuação dos presbíteros regentes nos Concílios não sofre limitação; é igual à dos
presbíteros docentes; o mesmo acontece nos rituais de ordenação, em que ambos podem
fazer a imposição das mãos;
18
— o presbiterato não é uma honraria; é uma oficina de trabalho com Cristo e por Cristo; a
improdutividade é um péssimo exemplo para a congregação;
19
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22
23
Entretanto, praza aos Céus ninguém se envaideça com a investidura; pode haver exagero
na veemência e fluidez nas conclusões.
O que importa é ser verdadeiro como o presbítero Demétrio, fiel como o presbítero Gaio,
um contraste com o presbítero Diótrefes, humilde como o presbítero Pedro, prestante como
o presbítero Áquila e santo como o presbítero João.
VIII.
OBSERVAÇÕES
Com a devida vénia, com todo o desejo de construir, mas com amor à Igreja Presbiteriana
do Brasil e ao sistema presbiteriano, e, em harmonia com as opiniões coletadas, e
expendidas neste estudo, acreditamos como dignos de exame pelos Poderes competentes, o
seguinte:
365
Rev. John B. Lofrimer obra citada
366
idem idem
7.° _ Um bom meio de interessar a todos os presbíteros na obra geral da Igreja seria adotar-
se (como recomendação, já se vê) o regime de rotatividade nas representações isso acabaria
com os "deputados permanentes". . .
E aqui, chegamos ao fim, oferecendo tudo que foi dito a Deus, para a glorificação do santo
nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Quem seja toda a honra, louvor e glória pela
instituição da Igreja Presbiteriana.
Que sobre ela caiam abundantemente as bênção do Senhor, é a oração que fazemos
dizendo com a Salmista: